Meu nome é Adalberto Sabino, natural de Marília/SP. Nasci em uma família muito pobre, de pais analfabetos. Nasci e morei até meus 15 anos em uma casa de madeira, comprada pelo meu pai, onde nasceram e viveram meus seis irmãos. Nossos vizinhos eram pessoas muito fraternas, que viviam na mesma si...Continuar leitura
Meu nome é Adalberto Sabino, natural de Marília/SP. Nasci em uma família muito pobre, de pais analfabetos. Nasci e morei até meus 15 anos em uma casa de madeira, comprada pelo meu pai, onde nasceram e viveram meus seis irmãos. Nossos vizinhos eram pessoas muito fraternas, que viviam na mesma situação que a nossa. Um bairro de classe baixa, sem saneamento básico, asfalto etc...
Minha família, muito católica, nos levava à missa todos os domingos. Desde criança, tinha o objetivo de ajudar pessoas a não viverem na mesma condição que a minha e de minha família. Estudei em escola pública. Minhas professoras, em especial a do primeiro ano primário, eram muito enérgicas. Tomei muitos “croques” e puxões de orelha dela. O ginásio, cursei no Ginásio Industrial de Marília, também em escola pública, que me deu bagagem para gostar de desenho, dom que tinha, mas estava adormecido. Fui presidente do grêmio da escola e ali percebi que exercia liderança.
Com esta pequena bagagem, a vida me reservou um grande problema: minha mãe faleceu e me vi muito perdido. Mesmo assim, não desisti, e minha primeira percepção foi colocar em prática algo que já trazia dentro de mim. Queria ir para o seminário, porque achei que lá encontraria as respostas para minha ânsia de querer ajudar as pessoas. Ajudado por algumas pessoas, fui para o seminário. Depois de quatro anos, percebi que a Igreja à qual serviria era extremamente elitizada. Decepcionei-me. Esta foi minha primeira lição. Estava terminando o colegial. Saí do seminário e ingressei na UNESP - Assis, no curso de Psicologia.
Após o curso, mais uma vez, estava perdido. Não sabia bem o que fazer. Trabalhei em algumas empresas, mas não me preencheram. Por outro lado tive algumas decepções, porque sou negro e me via barrado em algumas ânsias que não eram preenchidas em função de minha cor. Este problema eu tive que superar, respirando fundo e não me entregando a uma angústia.
Em 1994, veio uma grande transformação. Convidado para trabalhar em uma Fundação de Cultura, tive nas mãos um grande desafio: coordenar uma escola de artesanato, que colocava no mercado cerca de 300 pequenos produtores artesanais por ano. Vendo esta situação, pensei em juntar alguns deles e saber o que gostariam de fazer, já que estavam formados em alguma área do artesanato. Surgiu a idéia de montarmos uma associação de artesãos. Não entendia nada deste segmento. Busquei ajuda nos órgãos públicos do município de Assis, cidade em que estava trabalhando, e nos órgãos estaduais. Em 1996, conseguimos montar e dar início ao nosso trabalho. Dois anos depois já éramos modelo de vivência associativa. Foi quando me convidaram para participar de uma capacitação no Centro Cape de BH. Aprendi muito e percebi que havia algumas pessoas que pensavam da mesma maneira. Porém, esbarrava no egoísmo das pessoas. Elas eram muito individualistas, em função do sistema capitalista em que vivemos. Comecei então a trabalhar nessa questão como facilitador do grupo de Assis. Um ano depois, estendemos esta capacitação para mais sete municípios ao redor.
Hoje trabalhamos com 42 municípios na região do Vale do Paranapanema, onde constituímos o IDESTE - Instituto de Desenvolvimento Territorial. Ele tem como objetivo criar condições de gerar renda, preservação da cultura local e regional, para os quatro mil pequenos produtores artesanais.
Este trabalho mudou completamente minha vida e a vida das pessoas. Trabalho como uma rede para poder atender a todos os 42 municípios envolvidos. Cada município, ou entidade, tem um gestor que se reporta ao Instituto e à comunidade. É a pessoa de ligação. Trabalhamos hoje com o Projeto Mercado Paulista Solidário, que, em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Agrário e as Prefeituras, dá possibilidade para o projeto começar a atingir a auto-sustentabilidade.
A mudança existe a partir do momento em que, metodologicamente, aparelhamos as pessoas do mesmo saber, e que elas pessoas se apropriam e se tornam protagonistas dos objetivos e das atividades.
A medida do crescimento é a medida social, coletiva, expressa no desejo de continuar partilhando comunitariamente seus desejos. O potencial de uma idéia está em saber perder a sua idéia. Se, em alguns momentos, eu ficasse preso em minhas idéias, com certeza não chegaríamos até aqui. O trabalho, no coletivo, é fascinante, porque as idéias são colocadas na roda. Ao final, não é a minha ou a do outro, mas é a nossa.
Percebo hoje que sou um agente de mudança por ter dado estímulo às pessoas, à mudança, e por eu me permitir passar pelo processo de mudança.
Realizamos diversos encontros de capacitação com os pequenos produtores, assim como as feiras onde comercializamos nossos produtos, e é muito bonito ver que, juntos, mudamos um preconceito, somos mais felizes. Nossa individualidade é preservada, porém somos mais fortes quando nos juntamos.
Hoje, todas as entidades que trabalham conosco fazem parte da Economia Solidária, de tal forma, que praticam o comércio justo, ético e solidário.
Hoje nos reconhecemos como cidadãos, porque nossa auto-estima melhorou.
Nosso lema: “Juntos somos mais”.Recolher