Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Messias dos Reis de Oliveira
Entrevistado por Tereza Ruiz
Nova Resende, 16 de setembro de 2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV059_ Messias dos Reis de Oliveira
Transcrito por A...Continuar leitura
Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Messias dos Reis de Oliveira
Entrevistado por Tereza Ruiz
Nova Resende, 16 de setembro de 2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV059_ Messias dos Reis de Oliveira
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Primeiro, Messias, fala pra gente o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Meu nome é Messias do Reis de Oliveira. Sou nascido em Nova Resende, 29 de novembro de 1975.
P/1 – Agora o nome completo do seu pai, da sua mãe e se você souber a data e o local de nascimento deles também.
R – Sou filho de João André de Oliveira e de Jesuína Conceição de Oliveira.
P/1 – Onde eles nasceram você sabe?
R – Eles nasceram em Nova Resende também.
P/1 – O que os seus pais faziam ou fazem ainda profissionalmente?
R – Meus pais, toda vida, nasceram na roça e foram trabalhadores rurais.
P/1 – E a sua mãe?
R – Trabalhadora rural também.
P/1 – Com o que eles lidam? O que eles cultivam?
R – Sempre a atividade aqui na roça foi o café.
P/1 – Fala um pouquinho pra gente como é que o seu pai e a sua mãe são de jeito, de personalidade.
R – Meu pai é alto, moreno, a minha mãe é baixinha dos olhos azuis.
P/1 – E o jeito deles assim como é que é?
R – Como?
P/1 – Ah, como eles são como pessoa assim.
R – Meu pai é do gênio forte, mas é uma pessoa muito boa, muito humilde, direito. A minha mãe também.
P/1 – Você sabe como é que os seus pais começaram a trabalhar na roça?
R – O meu pai começou a trabalhar na roça ajudando o meu avô. Foi quando ele começou. O ritmo de nós aqui é isso, ele começou ajudando o avô dele carrear, depois eles mexiam com engenho, moía cana, era a atividade naquela época. Depois as coisas aí foram, veio o café, aí começou na agricultura do café.
P/1 – A propriedade que o seu pai trabalhava quando era menor...
R – Era do meu avô. Depois ele foi trabalhando, meu avô deu um pedacinho pra ele trabalhar por conta dele, nisso ele foi conquistando mais, comprou mais um pedaço e formou café. Aí vem vindo até hoje.
P/1 – Qual que é o nome dessa propriedade?
R – Aqui?
P/1 – Essa que o seu pai...
R – Sítio Divisa.
P/1 – Não é essa mesma aqui que a gente tá, não, né?
R – É. É a mesma que a gente tá.
P/1 – Desde o seu avô?
R – Desde o meu avô.
P/1 – Aí vocês foram dividindo a propriedade, é isso? Conta um pouco pra gente.
R – Foi. Aí foi passando, meu avô passou pro meu pai, meu pai trabalhou, conquistou mais um pedaço, comprou do vizinho. Hoje ele já assim, não de escritura, mas já repartiu, passou um pedaço pra cada filho, e trabalhando.
P/1 – Quantos irmãos você tem?
R – Nós somos 11 irmãos.
P/1 – Qual que é o nome dos seus irmãos?
R – O primeiro é Antônio, a segunda é mulher, é Aparecida, Maria Helena, Lurdes, Fátima, Terezinha, depois que sou eu, sou o Messias, Célio, Gilmar, João Carlos e Elisângela, a caçula.
P/1 – Com o que os seus irmãos trabalham, Messias?
R – Trabalham tudo na área rural. Nenhum ficou doutor, nada (riso).
P/1 – E todo mundo com café?
R – Todo mundo com café.
P/1 – Quando você era criança vocês tinham o hábito de consumir café na sua casa? Vocês bebiam café?
R – Tinha. Desde quando nós levantávamos cedo, assim, pra às vezes ajudar o meu pai a tirar um leite, que tirava um leite pro consumo da família, ele levantava cedo, passava um café e repartia com os filhos.
P/1 – E como era preparado o café?
R – Era preparado, assim, tinha um fogão a lenha, era todo o processo. Demorava uma meia hora pra fazer um café.
P/1 – O café que vocês tomavam era o café que vocês mesmos faziam?
R – Era produzido aqui no sítio.
P/1 – E depois torrava, moía? Como era?
R – É. Antigamente socava no pilão, abanava, tirava as cascas, aí moía, torrava numa panela, moía no moinho e aí fazia um coadorzinho assim de um pano de algodão, uma coisa, punha pra coar pra fazer o café.
P/1 – E tomava o dia inteiro o café?
R – Não. Mais era na parte cedo da manhã e mais no meio do dia.
P/1 – E desde pequeno você ajudava o seu pai na roça?
R – Desde pequenininho eu ajudava o meu pai na roça. Desde os sete anos eu lembro de ajudar. Assim, fazia o que podia, sabe?
P/1 – E com o que você ajudava quando era pequeno? O que você fazia pra ajudar?
R – Meu pai de primeiro mexia no cultivo do café, não tinha roçadeira, era tudo manual, aí às vezes eu puxava um cavalo pro meu pai “sorocar” um café, capinar, fazer a capinha. Era essas partes. Catava café de mão, que o restinho que sobrava no chão que caía nós íamos catar.
P/1 – E nessa fase ainda de infância, Messias, como é que era a alimentação na sua casa? O que vocês comiam? Quem que cozinhava?
R – Minha mãe e minhas irmãs cozinhavam, lavavam as roupas, tudo, arrumavam a casa. E nós comíamos antigamente era arroz, feijão, verdura. A carne que mais consumia era uma carne de frango ou de suíno.
P/1 – Vocês produziam onde vocês moravam mesmo?
R – Produzia onde morava.
P/1 – E tinha outras plantações pro consumo além do café?
R – Tinha. Sempre tem. Na roça nós sempre cultivamos mandioca, planta uma bananeira, sempre tem coisa pra... A maioria que produz é na roça mesmo.
P/1 – E na propriedade do seu pai ele tinha outras pessoas trabalhando com ele ou era só a família?
R – Não. Sempre foi só a família mesmo que trabalhou.
P/1 – Fazia tudo entre família.
R – É. Tudo entre família desde pequenininho.
P/1 – E do que você brincava, Messias, quando você era criança? Brincava com quem e do que vocês brincavam?
R – De primeiro, nós éramos quatro irmãos que eram meio de escadinha, modo de falar, o que nós mais brincávamos era jogar bola.
P/1 – Futebol?
R – Futebol. Eu jogava bola nas ladeiras.
P/1 – E onde que jogava? Tinha campo?
R – Não. Fazia uma embaixadinha na beirada, num cantinho do sítio e fincava três paus lá e era ali que era a diversão.
P/1 – Você torcia pra algum time? Você torce pra algum time?
R – Torço pro time do Cruzeiro.
P/1 – Desde pequeno?
R – Desde que eu comecei a ver televisão, eu torço pro Cruzeiro.
P/1 – Você lembra assim por que você começou a torcer pro Cruzeiro, quando que você decidiu que você ia torcer pro Cruzeiro?
R – Eu sempre... É a cor que eu, assim, a cor minha preferida é azul e o Cruzeiro o time é azul aí eu comecei, apanhei gosto pra torcer.
P/1 – E você tem algum jogador preferido assim?
R – Não. Jogador assim preferido não tem, não, é tudo...
P/1 – E a escola? Quantos anos você tinha quando você começou a frequentar a escola?
R – Quando eu entrei na escola eu tinha sete anos. Aos 12 anos eu saí pra trabalhar no sítio.
P/1 – E quais são as primeiras lembranças que você tem da escola? Como é que era essa escola que você frequentou dos sete aos 12, Messias?
R – A escola minha quando eu frequentei era da roça, tinha que ir a pé, passava nas estradas, tinha uns lugares que era trem que passava, corria com medo de boi brabo. E ia na escola. Andava longe pra ir à escola, andava cinco quilômetros pra ir à escola.
P/1 – E como é que era a escola? Era pequena, era grande? A sala era...
R – Não. A escola era pequena. Estudava três classes numa sala só antigamente, não era cada...
P/1 – E você teve alguma professora ou algum professor assim preferido mais marcante?
R – Teve. Eu tive a professora minha da quarta série, a última. Ela gostava de brincar de bola conosco, sabe? Ela era a goleira. Porque nunca assim pra trás as professoras brincavam, mas não, aí ela brincava de bola, repartia, tinha dia que...
P/1 – Ela que foi a preferida? Ela é a professora preferida?
R – É.
P/1 – Como que era o nome dela?
R – Ela é Jorgina.
P/1 – Ela mora aqui na região ainda?
R – Mora em Nova Resende hoje.
P/1 – Então você ainda a vê de vez em quando.
R – Vejo. De vez em quando eu ainda a vejo.
P/1 – E você gostava da escola, Messias?
R – Gostava. Ah, o tempo que eu ia eu gostava.
P/1 – Você lembra se quando você era pequeno você tinha vontade de ter outra profissão quando crescesse? Você pensava nisso: “Quando eu crescer eu vou ser tal coisa”?
R – Eu pensava em ser jogador, mas como era ruim demais (riso). Até cheguei a fazer um curso, mas não passei, aí fiquei no sítio mesmo.
P/1 – Como é que foi esse curso aí? Onde você fez?
R – Eu fiz aqui. Em Nova Resende aí veio um esportivo de Passos pra fazer um peneirão, sabe? Aí eu participei, mas só que não consegui passar, daqui de Nova Resende não passou ninguém. E fizemos também só pra...
P/1 – Aí depois disso já começou...
R – É. Aí eu comecei já na roça mesmo, meu pai me deu pra eu plantar 700 pés de café e aí eu fui trabalhar com o meu pai.
P/1 – Quantos anos você tinha quando o seu pai te deu os pés de café?
R – Eu tinha 12 anos.
P/1 – Mas como é que foi isso? Ele deu uma área da propriedade pra você cuidar? Conta como foi.
R – É. Aí ele me deu uma área da propriedade já plantado o café. Ele fez com todos os filhos isso. Ele dava um pedacinho, aí naquele pedacinho nós fomos trabalhando, fomos segurando e fomos conquistando mais.
P/1 – Então a partir daí você já começou a plantar, cuidar do seu próprio terreninho, né?
R – Do próprio negócio.
P/1 – E aí você ganhava alguma coisa já com essa idade de 12 anos? Recebia algum dinheiro?
R – Não. Nós não recebíamos dinheiro, nós trabalhávamos pro meu pai, era o sustento da família. E na área que ele tinha dado pra nós, nós fomos juntando. Foi uma economia que nós fomos fazendo.
P/1 – Mas você foi guardando alguma coisa?
R – É. Nós fomos guardando, aí quando eu tava com... Foi em 87 que ele me deu, esse café. Quando foi em 90 aí eu plantei mais 2000 com o dinheiro desse na propriedade dele mesmo. Aí por aí em diante depois nós arrendamos mais um pedaço de terra, fomos trabalhando eu e os meus irmãos.
P/1 – Foi crescendo.
R – Foi crescendo.
P/1 – Você lembra a primeira vez que você recebeu alguma coisa em dinheiro da venda do café? A primeira vez que você vendeu o seu próprio café?
R – Lembro.
P/1 – Quando é que foi? Como é que foi isso?
R – Foi em 94 que aí eu recebi, eu colhi na época 30 sacas de café. Eu vendi, eu comprei uma moto pra eu andar, eu tinha 18 anos na época, 19.
P/1 – Foi a primeira coisa que você comprou então com o seu dinheiro?
R – Foi. A primeira coisa que eu comprei com o meu dinheiro foi a moto.
P/1 – E nessa fase assim de adolescência e juventude você saía pra se divertir, Messias?
R – Saí.
P/1 – Tinha festa por aqui? Como é que era?
R – Sempre ia pra cidade, assim, mas ia todo mundo a pé, talvez tinha vezes que ia a cavalo.
P/1 – E o que fazia na cidade?
R – Ia à cidade, sempre tinha festa, ações, assim. Nós nunca fomos de ingerir bebida alcoólica, essas coisas, droga. De primeiro também acho, assim, bebida alcoólica tinha, mas esse negócio de droga nem tinha antigamente, era tudo tranquilo.
P/1 – E essas festas como é que eram? O que tocava? O que tinha nas festas?
R – Era festa de barraca, cantor, sempre tinha aniversário da cidade, sempre teve, fez festa. Tinha época de semana santa, quaresma, era por aí. Rodeio, sempre teve rodeio. Era a diversão que nós tínhamos.
P/1 – Você gostava de ouvir música, de escutar música?
R – Gostava.
P/1 – O que você gostava de música?
R – Ah, eu sempre gostei de Zezé de Camargo.
P/1 – Tem alguma música preferida assim?
R – Tem.
P/1 – Qual que é?
R – Menina Veneno.
P/1 – É a música deles que você mais gosta?
R – É.
P/1 – E nessa época também que ia pras festas e tal, você teve assim um primeiro amor, uma paixão, alguém que tenha marcado?
R – Sempre teve paquera, né?
P/1 – Como é que você conheceu a sua esposa?
R – Ah, ela já era vizinha minha mesmo, toda a vida, assim. Nós, bem dizer, fomos criados juntos, aí foi, depois nós começamos a namorar, de modo que nós éramos conhecidos desde criança mesmo.
P/1 – E quantos anos vocês tinham quando vocês começaram a namorar?
R – Quando eu comecei a namorar ela eu tinha 24 anos.
P/1 – Você pediu em namoro? Como é que foi?
R – Ai, começamos a namorar. Trocamos uns olhares, começou.
P/1 – E aí quando é que vocês decidiram casar?
R – Aí foi passado cinco anos, aí nós decidimos casar.
P/1 – E como é que foi o casamento de vocês?
R – Aí casou.
P/1 – Mas casou na igreja, casou no civil?
R – Não. Eu sou casado só no civil.
P/1 – E teve alguma comemoração
R – Teve. Meus pais fizeram uma festa.
P/1 – Como é que foi a festa de vocês? Conta um pouquinho pra gente.
R – Matou uma criação, um boi, um churrasco, uma janta, sabe? Chamou os amigos e comemorou.
P/1 – Vocês já vieram morar aqui logo que casaram?
R – Não. Na época eu tinha acabado de comprar um sítio. Na época eu fui morar na casa do meu cunhado que tinha mudado pra cidade. Eu morei lá três anos. Minha esposa ficou grávida, nós pegamos e decidimos fazer uma casa. Nós fizemos uma casa aqui e moramos até hoje.
P/1 – Como é que foi quando você descobriu que a sua esposa tava grávida? Como é que ela te contou?
R – Nós estávamos fazendo a colheita do café, ela falou que estava com vontade de comer pão com salame e Fanta, tomar Fanta. Nós pegamos, fomos na cidade, ela falou que não tava sentindo muito bem, foi no doutor, o doutor suspeitou, fez ultrassom, aí tava grávida.
P/1 – E aí como é que você se sentiu, você lembra? Como é que foi receber a notícia?
R – Foi uma alegria, né?
P/1 – Você acompanhou o parto da sua filha quando ela nasceu?
R – Acompanhei.
P/1 – Como é que foi o parto?
R – É emocionante, né? Um pouco meio triste.
P/1 – Tava triste, você falou?
R – Não. É emocionante, assim, mas assim a gente tem dó, né? Fica um pouco com dó.
P/1 – Por que você ficou com dó?
R – Você vê aquela sanguera assim, é ruim.
P/1 – Foi parto normal a sua esposa ou foi cesárea?
R – Não. Foi cesárea.
P/1 – E você lembra como é que você se sentiu quando você viu a sua filha pela primeira vez?
R – Foi uma emoção muito grande.
P/1 – Como é que ela chama?
R – Grazieli.
P/1 – E com quantos anos que ela tá agora, a Grazieli?
R – Sete.
P/1 – Como é que foi ser pai, Messias, mudou alguma coisa na sua vida?
R – Mudou muito. Primeiro, assim, eu era mais agitado, sabe, queria fazer as coisas. Era assim: queria pegar e fazer e acabar rápido e era correndo, aí acalmou o velho.
P/1 – Você ficou mais calmo depois dela?
R – É. Ficou mais calmo.
P/1 – Queria que você falasse um pouquinho pra mim, pra gente que não conhece o dia a dia de um produtor rural de café, queria que você me falasse como é que é o seu cotidiano. Como é que é trabalhar com café?
R – Trabalhar com café nós trabalhamos o ano inteiro, que o café só produz uma vez no ano. Chega nessa época de agosto, setembro até novembro ele dá flor, quando entra o período meio de maio nós começamos a colheita, mas durante o ano nós temos que adubar, tem que carpir, fazer desbrota, então trabalha o ano inteiro ali. Na época da colheita tem que às vezes trabalhar até a noite inteira secando porque você não pode deixar, porque senão o café zanga, não dá uma qualidade boa. Então você tem que... Às vezes é bem difícil.
P/1 – E vocês fazem tudo manual aqui? Como é que é?
R – Não. Antigamente era, hoje é quase tudo maquinário, sabe? É mais pra olhar e...
P/1 – Mesmo a colheita é maquinário hoje em dia?
R – É. Tudo maquinário mesmo. Assim, é manual, mas você não coloca a mão no pé de café mais, que é com maquininha que você apanha. Depois você traz pro terreiro, aí você mexe. Tem hoje aqui em Resende mesmo fizeram uns rodos de mexer pra você mexer o café no terreiro de moto. Depois tem os tratores, depois que vai pra dentro do barracão, aí você não coloca a mão mais, aí é tudo...
P/1 – Que é? Quando vai pro barracão quais são as etapas?
R – Aí você põe ele no secador, o secador é tudo eletrônico. Ele seca, depois você passa ele pra máquina pra limpar, mas é tudo sobre condutor, tipo um robozinho que leva, sabe? Depois beneficia, vem, joga no bag também, é tudo desse jeito, você não precisa ficar pegando aqui e colocando ali. Depois você vai com o trator, pega, coloca no caminhão. Esforço assim na roça, essas coisas ficaram bem mais fácil pra fazer.
P/1 – Aqui na sua propriedade vocês fazem secagem, beneficiamento, tudo? Como é que é?
R – Faço tudo aqui. Aqui nós fazemos tudo.
P/1 – Depois do beneficiamento vai pra onde?
R – Aí nós mandamos pra cooperativa, que ela pega beneficiado, vai nos bags pra lá, lá eles classificam, veem se deu boa qualidade ou não deu. Quando dá uma qualidade boa, vale bem mais, o valor é bem mais alto, aí nós lucramos mais.
P/1 – Qual que é a diferença assim quando a qualidade é melhor ou pior de lucro? Como é que é isso?
R – A qualidade de lucro hoje, quando dá uma qualidade boa, nós lucramos na média de uns 30%; e quando dá uma qualidade ruim aí é pouco lucro, aí o lucro sai quase que, igual o meu pai fala, “mudar cebola”, pegar aqui e colocar ali. Então por isso que você tem que pelejar, contar com o clima bom pra dar a qualidade boa.
P/1 – E pra ter uma qualidade melhor assim, o que você precisa fazer na hora de cultivar o café?
R – Seguir as normas da moda que os agrônomos da cooperativa passam pra nós, fazer tudo direitinho da moda. Deus mandar as chuvas nas horas certas, depois na hora da colheita mandar o sol.
P/1 – Vocês fazem irrigação aqui?
R – Não. Aqui na região aqui em Nova Resende não faz irrigação, porque aqui é uma região muito alta, então aqui não tem represa, não tem nada.
P/1 – Vocês contam com chuva só então?
R – É. Nós contamos só com chuva mesmo.
P/1 – E desde que você começou desde pequenininho, Messias, a mexer com café até hoje mudou muita coisa? O que mudou?
R – Ah, mudou muito, né? Porque antigamente nós não tínhamos carro pra andar, não tínhamos moto, hoje nós temos moto. As casas que morava de primeiro, na casa do meu pai mesmo, era uma casa assim simples, bem simples. Nós não tínhamos piso no chão, não tinha terreiro de cimento igual é hoje pra fazer a secagem do café. Hoje ninguém coloca café na terra mais. Nós não tínhamos trator, então mudou demais mesmo.
P/1 – E o jeito assim de plantar e cuidar do café mudou também?
R – Mudou. O jeito de plantar mudou. Antigamente plantava o café, não colocava adubo, igual hoje tem muitos produtos pra colocar. O café, antigamente você plantava um pé de café você ia na média de cinco, seis anos pra você tirar a primeira colheita. Hoje com três anos você tira. Tem umas que você planta as mudinhas maiores que com dois anos você já faz a primeira colheita. Então hoje mudou demais.
P/1 – E isso aí que você falou agora pra gente aumentou a produtividade?
R – Aumentou a produtividade. Antigamente na minha área mesmo que eu tinha, eu colhia na média de 17 até 20 sacos por hectare. Hoje eu to atingindo a média de 45 sacos por hectare.
P/1 – Qual que é a área que você tem aqui da propriedade? A área cultivada.
R – Eu tenho dez hectares cultivados em café.
P/1 – Atualmente são dez hectares.
R – E através desses dez hectares é tudo que eu tenho hoje.
P/1 – E a cooperativa desde quando que você faz parte da cooperativa, Messias?
R – Desde 2000. Tá fazendo 14 anos que eu sou cooperado.
P/1 – E como é que foi que você decidiu ser cooperado e o que isso mudou na sua vida?
R – Que aí meu pai, antigamente, enquanto eu não era cooperado, nós mandávamos tudo no nome do meu pai, sabe? Eles falaram pro meu pai que tinha que ir colocando os filhos de cooperados pra ir fazendo nome, se uma hora quiser mexer em banco, fazer cartão de produtor. Aí ele foi pondo, sabe? Os filhos foram e ele foi passando. Na época eu não tinha terra, aí ele passou um contrato pra mim, eu entrei, depois que eu comprei as minhas terras. Aí foi por aí diante.
P/1 – O seu pai já era cooperado então?
R – O meu pai já era cooperado.
P/1 – Da Cooxupé?
R – Da Cooxupé.
P/1 – Em que a cooperativa ajuda o produtor?
R – A confiança, né? Que a cooperativa, hoje você ter um café estocado lá é a mesma coisa de você guardar um dinheiro em casa, porque se você precisa de um dinheiro hoje você liga lá, você vende o café, dentro de três, quatro horas o dinheiro tá na tua conta. Então isso dá uma confiança muito grande da cooperativa com o produtor, do produtor lá. E nós compramos os insumos, as coisas pra cuidar do café, nós compramos tudo lá. Nós vamos comprando, não vamos pagando, não. Vai comprando, comprando; na hora que nós colhemos o café, que nós levamos “pra mode” fazer o acerto.
P/1 – E você comentou com a gente que tem os agrônomos da cooperativa que dão orientações, né?
R – É.
P/1 – Que tipo de orientações? Como que eles ajudam o produtor?
R – Vamos supor, se aparece uma doença na lavoura nós vamos lá, aí eles vêm, faz uma análise de folha, faz uma análise da terra, vê o que precisa. Nós vamos e pegamos na cooperativa. E faz isso.
P/1 – A partir do momento que você virou cooperado teve modificações que você fez na sua propriedade por orientação dos agrônomos? Dá um exemplo pra gente.
R – Reformulou inteirinha a propriedade.
P/1 – Dá alguns exemplos pra gente de coisa que mudou.
R – Mudou, porque antigamente mesmo nós usávamos carpir o café, pegava de enxada, carpia. Aí os agrônomos vieram, eles já fizeram o teste, foi comprovado que você cortar a terra não era necessidade. Ao invés de você ajudar a planta você estragava a planta. Veio uma roçadeira que hoje não carpe mais, só roça o café pra não mexer nas raizinhas das plantas. Porque aí nós íamos lá e colocávamos o adubo, nós íamos lá com a enxada e cortava. Então nós perdíamos muito. Hoje não. Não dá erosão na terra, porque aí você não mexe. Então melhorou demais com a ajuda dos agrônomos e da cooperativa.
P/1 – E o Nescafé Plan quando é que você conheceu, Messias? Você lembra quando você ouviu a primeira vez sobre o programa?
R – Já tá fazendo uns cinco anos eu acho mais ou menos que... Até teve uma vez que... Porque eu acho que não foram todos os cooperados que produziram o café que vendeu pra Nescafé, não foram todas as filiais eu acho, ela repassou um bônus da Nescafé, que a Nescafé deu desse café. Agora eles não estão repassando esse bônus mais, eles estão implantando em um curso, porque eles acharam que a necessidade de repassar bônus não é muito democrático, aí eles acham que fazer os cursos, dar as orientações, gastar esse dinheiro nessa parte é um incentivo melhor pro produtor.
P/1 – E como é que são esses cursos?
R – Esses cursos sempre eles fazem, eu mesmo fiz um o ano passado de Administração. Aí vem um professor, são três, quatro dias de curso. Acho que se eu não me engano são oito horas por dia. Aí você vai, depois você recebe o certificado.
P/1 – E o que aprende nesse curso?
R – Uai, aprende! Eu mesmo não fazia a contabilidade pra ver o que você gastou, o que você lucrou. Então hoje eu já anoto tudo, vejo qual área me dá mais lucro, qual que dá menos. Então eu anoto tudinho.
P/1 – E isso traz alguma melhoria ?
R – Traz, porque o que é que acontece hoje? Antigamente antes de eu fazer esses cursos eu achava assim, o adubo, eu to meio apertado, eu vou jogar menos. Não. Então quanto melhor você cuidar do café, mais lucro ele vai te dar. Aí eu cheguei a essa conclusão que quanto mais, tudo que você joga lá, ele vai te dar um lucro daquele pra trás.
P/1 – Hoje o café que você produz vocês vendem pra Nestlé?
R – Vende.
P/1 – Então você falou pra mim que no começo tinha uma bonificação, mas que hoje em dia não.
R – É.
P/1 – Você chegou a receber essa bonificação?
R – Cheguei a receber.
P/1 – E ajuda? Essa bonificação ajudou pra você também na produção?
R – Uai, ajudou, mas eu peguei esse dinheiro na época, não era grande quantidade, era pouco, mas hoje se eu falar pra você eu nem sei o que eu fiz com esse dinheiro, tipo assim. Então eu acho que através dos cursos, eu acho que é uma melhoria melhor.
P/1 – Aqui eles subsidiam muda também? Você planta muda?
R – Planto. Eu tenho um curso de plantação.
P/1 – Mas a muda que você planta aqui tem algum subsídio da Nestlé ou não?
R – Não.
P/1 – Não. É um preço normal que você compra?
R – É o preço normal.
P/1 – Você falou pra gente desse curso da Administração, você fez outros cursos além desse oferecidos?
R – Uma vez eu fiz um curso pra fazer viveiro de café, foi em 2000 que eu fiz esse curso, até eu tenho uns cafés plantados que fui eu mesmo que fiz as mudas. Mas só que aí hoje já vieram essas leis de registrar o viveiro, de fazer tudo certinho, aí me pouparam de fazer. Aí são os viveiristas, sabe? Aí faz e repassa, tipo terceirizou.
P/1 – Você compra de viveirista então?
R – É. Eu compro de viveirista.
P/1 – E a parceria com a Nestlé no Nescafé Plan, você acha que isso é bom pro produtor e por quê?
R – Eu acho que é bom pro produtor porque a Nescafé Plan só compra um café de qualidade e ela investe em qualidade. Então o que eu quero pra mim, eu quero pros outros; então o que eu não quero pra mim eu não quero pros outros. Se é uma coisa boa vamos trabalhar junto e se não for vamos deixar de lado.
P/1 – E você acha que melhorou a qualidade do seu café desde que você tá associado ao Nescafé Plan?
R – Melhorou. Isso através dos cursos. Às vezes tem curso que eu não fiz, mas tem meus irmãos que já fizeram. Cada curso que tem assim, que nós temos a oportunidade vai um, aí aquele passa pros outros.
P/1 – Você lembra mais algum exemplo de alguma coisa que você aprendeu ou um irmão seu aprendeu e te ensinou nesses cursos?
R – Uai, é usar equipamento de segurança. Antigamente assim acontecia muito acidente. Acidente pequeno, mas acabava acontecendo. Hoje não. Hoje através desses cursos... Igual, você vai fazer uma pulverização num café mesmo, você tem que ir equipado, você tem que ir de macacão, colocar máscara, tampar os ouvidos, tudo. Então melhorou muito. Eu acho que através desses cursos não melhora assim na parte financeira, mas como na saúde.
P/1 – E você tem alguma expectativa dessa parceria pro futuro, Messias? Tem alguma coisa que você gostaria ou espera que possa melhorar ou mudar dessa relação com a Nestlé?
R – Sugestão assim no momento eu não tenho, mas quanto mais melhorar pra nós, melhor é.
P/1 – Tá certo. Eu vou encaminhar então para as nossas perguntas finais, vou te fazer duas perguntas para fechar. Queria saber antes se tem alguma coisa que eu não tenha perguntado que você gostaria de falar.
R – Que eu gostaria de falar é que se você perguntasse pra mim hoje se eu sou satisfeito na roça, eu vou falar que sim, mas que eu não vou parar e que eu quero melhorar mais. A vontade é boa!
P/1 – Tá certo. Eu vou perguntar agora quais são os seus sonhos hoje?
R – O meu sonho é estudar a minha filha, dar um futuro bom pra ela. Eu acho que ela vai ficar na roça mesmo assim. É “estudar ela”, até ela fala que quando crescer quer ser agrônoma. Então é estudar minha filha e tocar a vida.
P/1 – Tá certo. E o que você achou de dar essa entrevista?
R – Uai, eu achei importante porque igual aqui em Nova Resende tem mais de dois mil cooperados, eu fui um escolhido entre os três pra fazer essa entrevista, eu sinto homenageado, né?
P/1 – Tá certo, Messias. Muito obrigada, viu? A gente agradece muito.
R – Obrigado vocês.
P/1 – Então encerramos aqui.
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