Projeto Centro de Memória CTBC Telecom
Depoimento de Sandra Maria Paranaíba Souza
Entrevistada por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lúcia da Silva
Uberlândia, 1 de junho de 2001
Código: CTBC_HV062
Realização: Museu da Pessoa
Transcrito por Andréa Afonso
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
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Projeto Centro de Memória CTBC Telecom
Depoimento de Sandra Maria Paranaíba Souza
Entrevistada por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lúcia da Silva
Uberlândia, 1 de junho de 2001
Código: CTBC_HV062
Realização: Museu da Pessoa
Transcrito por Andréa Afonso
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 – Luiz Egypto
P/2 – Norma Lúcia
R – Sandra Maria Paranaíba de Souza
P/1 – Bom dia Sandra, obrigado, vamos começar por aqui. Eu queria, para começar, que você me dissesse o seu nome completo, o local e a data do nascimento.
R – Sandra Maria Paranaíba Souza, nasci em Ituiutaba, 25 de junho de 1957.
P/1 – O nome do seu pai e da sua mãe, por favor?
R – Papai: João Tomás Aquino Vilela, e a mamãe: Terezinha Paranaíba Vilela.
P/1– Qual era a atividade do seu pai?
R – Ele era motorista de caminhão. Depois de uma certa idade, ele teve perua para transportar alunos para faculdades, para escolas.
P/1 – E a sua mãe?
R – Mamãe sempre foi do lar, mas depois de um tempo, continuando nas coisas de casa, ela foi mexer com produtos de beleza, vender. Inclusive, até hoje, ela mexe com isso aí porque ela gosta muito.
P/1 – Você conhecia os seus avós?
R – Só os avós maternos; os paternos não, porque eles tinham falecido.
P/1 – Você saberia dizer o nome deles?
R – Sim. Os maternos: Tomás Paranaíba e Zilda Alves Paranaíba. Os paternos, o mesmo nome do meu pai: João Tomás Aquino Vilela e Julia Paranaíba Vilela.
P/1 – Você tem notícia se os seus avós eram da região deles ou foram para lá?
R – Eles eram lá do Sul de Minas: Três Corações... Inclusive, papai e mamãe eram primos primeiro. Eles vieram de Três Corações, Carmo da Cachoeira, Caxambu... Então todos vieram do Sul de Minas.
P/1 – E por qual motivo, você sabe?
R – Ah, o vovô veio, o pai da minha mãe, veio mexer com fazenda aqui, trabalhar em fazendas de outras pessoas. E o meu pai... o irmão dele veio para montar uma linha chamada jardineira... Então, ele veio para cá e o meu pai veio depois. E os meus avós ficaram lá. Quando o meu pai veio, os pais de papai nunca mudaram. Ficaram lá, nunca vieram para cá, não. E aí, o papai era amigo da mamãe – primo, né –, mas tinham um contato mais distante. Aí, depois se encontraram aqui, ficaram, casaram... Mas todos do Sul de Minas. Depois a família foi vindo, sabe. Então, o pessoal foi ficando aqui e não quis mais voltar para lá não, sabe.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho um irmão: Márcio Paranaíba Vilela.
P/1 – Mais velho?
R – Mais velho do que eu.
P/1 – Sandra, como é que era a sua casa em Ituiutaba?
R – Olha, eu lembro assim: logo depois que o papai comprou uma casinha muito ruinzinha, pequenininha, mas que foi a primeira deles... Nós estivemos morando ali... menor, eu não lembro do local onde eu morava. Mas eles compraram ali para ficar pouco tempo. E ali foi passando, passando, tudo muito difícil, papai era motorista, ficava viajando... E foi devagarzinho juntando, juntando, e ali ficamos mais de quinze anos, para ir juntando, juntando, até ele conseguir construir. Nossa! Graças a Deus, eles conseguiram construir do jeito que eles queriam. Inclusive, até superou porque foi dos dois, esforço dos dois, tanto do papai como da mamãe, para conseguir construir a casa dos dois que a minha mãe mora até hoje. Era o sonho da gente, tudo era para a casa nova. Sabe, a nossa casa era muito ruim, a gente levava uma vida muito difícil mesmo. Nossa! A hora que a gente mudou para a casa nova foi aquele sonho, aquela beleza! E eu tenho muito boas recordações, apesar da casa muito ruim. Mas era bom demais. Tinha um fundo de quintal, tinha mangueira, a gente brincava. Eu tive uma infância assim... – Nossa! boa demais.
P/1 – Você poderia descrever como era essa casa?
R – A minha casa? Ela era muito pequena, era bem afastada, ela tinha uma sala pequena, tudo era cômodo pequeno. E o quarto do meu pai e da minha mãe deixava a porta aberta para ver televisão. Então era assim, a nossa copa era no quarto da mamãe. Então, a gente brincava na cama e ia ver televisão na sala. Depois de muito tempo que comprou televisão, né. Porque, a televisão, a gente comprou depois de muitos anos que já existia televisão. E depois se saía da sala, entrava na cozinha pequena também. Depois, ao lado, tinha um quarto onde eu e meu irmão dormíamos. Depois da cozinha, tinha a copa, pequena também, que a gente ria muito porque ela era bem baixa e o meu pai era muito alto. Então, ele tinha que entrar tomando cuidado para não machucar, né. Depois tinha a porta e tinha a área. O banheiro era depois da copa, era na área, tinha uma lavanderia pequena e um quintal grande, com muitas mangueiras, manga sabrina, bourbon... Ai, que delícia! Brincávamos de casinha. Eu brinquei muito na minha infância, muito mesmo, de boneca, de fazer comida, de aprontar para passear, então... na minha casa e na casa das colegas, que a minha mãe nunca me proibiu de brincar na casa das colegas. E eu era assim, graças a Deus, toda vida eu tive gênio muito bom. Então, as vizinhas, às vezes não deixavam as suas filhas sair, mas, eu, ela deixava brincar na casa das meninas, porque eu não estragava nada, não respondia… Então, a gente brincava muito mesmo, nas vizinhas, com as colegas de aula. Então, na minha infância, eu brinquei demais na minha vida, mas muito boa. Eu tenho recordações boas demais da minha infância.
P/1 – Como era a Ituiutaba dessa época?
R – Era uma cidade calma, tranquila. Ainda é, mas não é do jeito que era. E parece assim: a gente tinha tempo, as pessoas tinham muito tempo de ir na casa dos outros, nas vizinhas, de bater papo. E lá a gente estava junto com a mãe, né. O pai sempre ficava mais quieto em casa, porque chegava à noite, estava viajando. Então era assim: uma cidade gostosa, a gente ficava na porta da rua, brincava na rua, apesar de eu nunca ter sido de brincar de esporte. Esses esportes violentos, essas coisas assim, eu não gostava não. Eu gostava mais era de brincadeira de mulher mesmo, de brincar de fazer comida, de passar pintura, de andar de sapato de salto. Adorava. Toda vida gostei muito de Ituiutaba. Tanto é que eu não saí para estudar fora pelas condições financeiras, porque o meu irmão foi estudar em Belo Horizonte porque ele falava que tinha muita vontade de ser médico. Então, o meu pai fez isto para levar, foi estudar em Belo Horizonte. Mas, lá, ele só malandrou, não estudou. Estudar mesmo ele não estudava nada. Tanto é que, depois fez faculdade, começou a fazer Administração, fez até o segundo ano, parou. Depois foi para Marabá e não quis estudar mais. E eu nunca quis sair. Uma, por causa da situação financeira; outra, porque gostava muito, gosto – o meu pai já faleceu – ... então a gente dava muito certo. Eu pensava assim: “Gente, eu vou sair, eu não vou curtir os meus pais, a vida é tão curta”. Eu penso isso até hoje. Não adianta nada se morar numa cidade... Por exemplo, eu mudar para São Paulo. Bom, eu sou assim, eu respeito a maneira de ser de cada um. Eu mudar para São Paulo para ganhar muito mais, mas cadê a qualidade de vida? Será que quando eu morrer eu vou levar isso tudo? Esse dinheiro que eu tô ganhando lá? Então, eu prefiro ganhar menos, mas levar uma vida melhor, mais gostosa e mais calma. Bom, tem gente que gosta de vida mais agitada, né. Eu gosto da vida mais tranquila. Então, por esse motivo também, eu nunca tive vontade de sair de perto dos meus pais, para curti-los. Tanto é que eu não me arrependo de jeito nenhum porque o meu pai teve câncer e ele morreu... – a hora que se descobriu a doença, foi quatro meses. Então, eu curti o meu pai o tanto que pude curtir, a minha mãe sempre ia até os vizinhos bater papo, conversar com as amigas e eu era a companhia dele. Nós, à noite, sempre que eu podia, eu estava lá vendo televisão e conversando. Porque ele era muito calmo, muito tranquilo. Então, ia me contar caso e às vezes eu nem estava escutando direito o que ele estava falando porque eu estava vendo a
televisão, mas ele achando que eu estava escutando. Ele me perguntava, eu sempre respondia. Então, ele estava sempre conversando comigo. Eu era a companhia dele, era muito apegada a ele.
P/1 – Esse trabalho dele no caminhão, ele ia para muito longe, ele passava muito tempo fora?
R – Olha, no início, ele ia em Belém, ele ia longe. Aí depois, ele foi, foi, até conseguir comprar outro caminhão. Aí, o motorista ia mais longe, para bem mais longe, e ele levava muito café para Uberaba. Inclusive, eu me lembro que ele me levava para passear quando eu era pequena. A gente tinha muitos amigos lá, uma senhora com um senhor que a gente gostava muito e que faziam ele me levar. Então, eu viajava com papai, de caminhão.
P/1 – Como é que era uma viagem de Ituiutaba à Uberaba de caminhão?
R – Nossa! era bom demais, porque ele me
colocava sentada no colo e eu fazia de conta que estava dirigindo o caminhão. E aí, a gente ia, porque ele sempre foi muito calmo, muito tranquilo, nunca teve um acidente na estrada. Toda vida me olhou com muito cuidado, com muito carinho. Então, a hora que eu ia para Uberaba com ele era a minha felicidade. Mas, lógico, eu ia nas minhas férias porque eu nunca matei aula para passear. Eu sempre fui disciplinada, porque eles me ensinaram assim. Então, nas minhas férias, quando havia condições, eu ia com ele para Uberaba para passear.
P/1 – Vamos falar da sua primeira escola, você se lembra da sua primeira escola?
R – Grupo Escolar Professor Ildefonso Mascarenhas da Silva, lá em Ituiutaba. Até hoje tem essa escola, lógico. Agora, em outro local. A gente estudava na parte da tarde. De manhã, era o João Pinheiro e, à tarde, era o Mascarenhas. A gente usava o prédio do João Pinheiro. Então, eu nunca esqueço: era a maior briga na mudança quando saía o João Pinheiro de manhã e entrava o Mascarenhas. Era aquela briga. Os do João Pinheiro falavam: “Mascarenhas, ladrão de lenha!”. E os do Mascarenhas falavam: “João Pinheiro, ladrão de dinheiro!”. Era aquela briga gostosa, sabe. Então, ainda existe essa escola, ainda passo lá, sempre que estou passando pela porta eu ainda me lembro do meu tempo de estudar no Mascarenhas.
P/1 – Tem alguma professora que tenha te marcado?
R – Tem a primeira, né, a dona Clorinda. Inclusive, a dona Clorinda era esposa do seu Valico, que era dono da Etisa, a Etisa que a CTBC comprou, a Empresa Telefônica Ituiutaba S.A. Então, a dona Clorinda foi a minha primeira professora, ela era uma senhora de idade, mulher do seu Valico que, por coincidência, foi o fundador da empresa onde depois eu fui trabalhar.
P/1 – Era muito severa, a dona...
R – Não, era uma pessoa muito boa, não era rígida assim, não. Eu tive muitos outros professores que eu gostei muito mesmo. Não esqueço de nenhum, não esqueço de nenhuma escola, classe... Voltando, eu me lembro direitinho das classes com muitos colegas. Inclusive, o Luciano Jabur, que é daqui de Uberlândia e que foi meu colega de aula lá no Mascarenhas, foi o meu coordenador em Ituiutaba. Agora ele está em Uberlândia. Então, eu tenho muitos colegas que eu me lembro quase todos da minha época de infância. Aí, eu fico muito feliz porque tem muitos e muitos mesmo que estão muito bem. Eu fico muito satisfeita quando eu vejo aqueles colegas que eram coisinhas de nada e estão bem mesmo na vida.
P/1 – Ô Sandra, esse momento da sua primeira escola, da sua primeira meninice, você tinha obrigações em casa, você tinha responsabilidades em casa?
R – Parece que é da pessoa. Toda vida eu sempre fui superorganizada, até em exagero, porque eu acho que a gente até sofre com isso. Até hoje eu sofro. Então, toda a vida eu nunca dei trabalho. Tanto é que a minha mãe fala que não podia ter eu. Ela me teve de teimosa que foi. Quase que uma de nós morreu, porque eu não podia nascer. Então, naquela confusão, uma freira dizia que anjinho não podia morrer, que a minha mãe tinha que morrer. Meu pai estava viajando, aí o meu tio falava que não, que tanto eu como a minha mãe não podíamos morrer. Então, naquela confusão de antigamente, quando as freiras tomavam conta, já que não havia enfermeiras, graças a Deus, para felicidade nossa, as duas fomos salvas. Eu nasci no Hospital São José, em Ituiutaba, era o hospital das freiras. Aí, a minha mãe fala que eu nunca dei trabalho para ela, e o meu irmão – Nossa Senhora! – tudo o que você puder imaginar de custoso, ele foi. Então, toda vida, eu controlando. Graças a Deus, toda vida eu fui esteio. Com a doença do meu pai, eu que fui olhando o problema de internação. Essas coisas todas, a doença todinha eu fui controlando, fui cuidando da casa porque a minha mãe tem problema de depressão. Inclusive, ela trata com um psiquiatra aqui de Uberlândia. Então, ela passou fases horríveis. Quando o meu pai ainda era vivo, era ele que me ajudava. E aí, foi, foi, até que o meu pai faleceu, eu pensei: “Pronto, agora como é que vai ser sozinha?”. Mas, graças a Deus... Aí, com a doença do meu pai, eu controlando a casa, a minha mãe, a doença dele, a gente controlando tudo direitinho, e trabalhando. Mas Deus me deu força demais – Nossa! –, se não fosse ele, eu não dava conta não. A gente deu conta de passar tudo, deu tudo bem. Infelizmente, a única coisa é que ele não está aqui conosco, mas tudo o que eu pude fazer, que falavam que era bom para ele sarar, eu fui atrás. Mas essa doença, infelizmente, não tem cura.
P/1 – Como é que foi a sua trajetória de escola? Então você passa por essa primeira escola, esse grupo, e depois você vai fazer o ginásio...
R – Eu saí do Mascarenhas e fui para o Instituto Marden. Era uma escola particular que a mamãe tinha estudado lá, porque ela ganhou bolsa para estudar lá e, então, ela ganhou para nós estudarmos lá também. Porque ela era muito amiga do dono da escola, que era o doutor Álvaro Brandão de Andrade. Ele gostava muito da mamãe porque ela tinha sido uma aluna muito disciplinada. Por isso fomos eu e o meu irmão estudar lá. Mas o Márcio era custoso demais, ele teve que sair do Marden porque ele aprontava demais lá. Aí, ele teve que estudar no estadual. Eu fiquei lá até me casar. Deixa eu me lembrar como é que era. Era primeira, segunda e terceiras séries, que agora são quinta, sexta e sétima, né. Depois disso, eu gostei demais do Marden, tenho recordações muito boas, o Hino Nacional, eu aprendi no Marden. O doutor Álvaro era muito bom. Depois eu fui para o Estadual, porque aí vai apertando… até para a gente ir ajudando em casa, até por problema de material escolar, essas coisas, eu fiz exame de seleção. Aí, eu fui, o meu irmão já estava no estadual. Aí, eu fui para o estadual, fiz a quarta série, agora no caso é a oitava, fiz primeiro, segundo e terceiro científico.
P/1 – Nesse momento, no ginásio, vem sempre aquele problema: vou fazer Clássico ou vou fazer Normal, vou fazer Científico para Humanas ou para Exatas. Como é que você decidiu isso?
R – Quando eu era pequena, menor, eu era a professora lá da rua. Eu era a mais velha, então eu dava aula para os minhas colegas vizinhas, a gente reunia na casa de uma vizinha. Eu me lembro muito bem, a gente tinha um quadro negro desse tamanho, eu dividia esse quadro para cinco. Era um pedacinho para cada uma porque cada um era de uma idade diferente. Aí, era um corredor lá na casa, a gente punha umas cadeirinhas lá e aí era a sala de aula. Era eu que dava aula – Olha só! Eu era a professora. Agora, dessas cinco tem três que são professoras mesmo (riso). E eu não fui professora e os outros dois também não. Então, eu falava que ia ser professora. Mas, não sei, depois, sei lá, eu estava no estadual e pensava em fazer depois Administração, sabe. Então, eu não tinha mais vontade de ser professora. Então, na hora que eu fui resolver, eu não tive dúvidas de fazer o Científico, não tive aquela coisa: “Ah, o que que eu faço, o que não faço”. E outra coisa também: eu pensava Administração porque eu não queria sair de Ituiutaba, eu tinha vontade de fazer Psicologia, tinha muita vontade de fazer Psicologia. Mas lá não existia o curso... – até que agora tem – e problemas financeiros, para ficar perto deles, porque o meu irmão não estava. Então, eu tinha sempre que estar juntos dos dois. Minha mãe tinha problema de depressão, então eu tinha que estar sempre acompanhando os dois e acompanho até hoje. Mas eu não tive aquele negócio: Ah não, me arrependi, não queria ter feito Científico...Toda vida, graças a Deus, nunca me arrependi das coisas que eu fiz, porque eu nunca fui no embalo. Toda vida pensei: não, é isso mesmo que eu quero. E toda vida eu fiz as coisas bem pé no chão e consciente.
P/1 – E o seu primeiro trabalho, Sandra, qual foi?
R –
Na CTBC. (riso) Foi o seguinte: como eu estava falando, problema financeiro, durante toda a vida foi muito difícil. Então, quando eu ganhava centavinho... Olha só: eu controlava, eu anotava o dia que eu ganhei e o valor. Olha que bobeira! Ninguém nunca ia pegar aquilo, mas eu ficava tão feliz quando eu tinha dinheiro, que eu não ganhava nada, não tinha dinheiro, era difícil... Então, eram os centavinhos que eu ganhava, ganhava do meu pai alguma coisinha assim de dinheiro. Aí, então, toda vida a gente teve muita dificuldade com dinheiro. Mas isso foi trabalhado. Fiz dezoito anos, eu queria fazer faculdade, era difícil para o meu pai pagar também. Aí, eu falei: “Gente, eu tenho de trabalhar também”. Porque em casa, a gente ajudava a mamãe, mas não tinha aquela obrigação e não ganhava nada também. Aí, eu falei: “Agora, tenho que trabalhar”. Mas a CTBC, infelizmente ou felizmente, não sei, era a última empresa que eu queria. Por quê? Porque naquela época a telefonista era um horror. Nossa, tinha uma fama! Os outros falavam, eu nunca tinha ido à CTBC e escutado o que é que os outros falavam. E a Negrinha, no caso, ela já era responsável pela Telefônica na época, quando eu entrei em 1976, na parte de telefonista. Como ela era muito amiga da minha tia, a gente gostava demais, era uma pessoa assim... não existe uma pessoa melhor que ela, humana, boa, boa mesmo. Então, a gente gostava demais da Negrinha. Todo mundo da cidade adorava a Negrinha. Um dia, a Negrinha falou para mim: “Sandra, vamos trabalhar na CTBC?”. Aí, eu não falava para ela que eu não queria trabalhar na CTBC, era para a mamãe que eu falava: “Não, Negrinha, eu vou olhar outra coisa”. Aí, eu não fui. Ela perguntou para a mamãe e a mamãe falou: “Não, Negrinha, ela falou que não quer trabalhar lá porque diz que o pessoal fala que a reputação das meninas..., ela fica preocupada com isso”. Porque a gente, infelizmente tem gente que não liga para isso, mas a minha criação foi essa. Então, a gente se preocupa com essas coisas. Era uma família tradicional na cidade, porque era um pessoal muito querido na cidade. Então, a gente se preocupava com todos esses detalhes. Bobeira, mas a gente se preocupava com esses detalhes. Aí, um dia, a Negrinha falou para mim: “Sandra, tenta trabalhar lá, vamos ver. Você vai trabalhar seis horas, você vai ganhar seiscentos e setenta e poucos...”. Eu não sei se era real, não sei o quê que era na época. A hora que ela falou isso, eu já assustei e falei: “Quanto, Negrinha? Nunca tinha nem ouvido falar desse tanto de dinheiro!”. (risos) Aí, ela falou: “Você vai ganhar seiscentos e setenta e poucos...”. Eu falei: “Ai, Negrinha, nossa, mesmo isso tudo? O que que eu vou fazer com esse tanto de dinheiro?”. Aí, ela falou: “Não... arrumar, você vai arrumar o que fazer”. Aí, eu fui, aí eu fui, fiz o teste, entrei. Tinha que fazer teste para saber se..., tinha aquele detalhe todo, né.
P/1 – Como é que era esse teste?
R – Tinha Português, Matemática, conhecimentos gerais, era escrito, era da parte administrativa, que não tinha nada a ver com a Negrinha. Eu lembro que era a Denar que era responsável pelo escritório. Era super-rígida, superbrava, todo mundo morria de medo dessa Denar. Aí, eu fui fazer o teste, fiz o teste de datilografia, teve tudo isso, o processo correu normal. Aí, foi feita a classificação. Inclusive, não foi só eu que fiz na época, teve mais gente que entrou junto comigo. Aí, comecei, passei nos testes. Acho que esse teste vinha para Uberlândia, que na época era o Departamento Pessoal que chamava. Aí, veio para Uberlândia, passei e comecei a trabalhar.
P/1 – Lá em Ituiutaba?
R – Ituiutaba, de telefonista. Eu entrei na CTBC em 23 de março de 1976, fui registrada em 1 de abril de 1976. Aí, quem trabalhava à noite...Porque aí eu prestei o vestibular e passei em Administração. Passei em Administração e, já estava tudo encaminhado, comecei a trabalhar. E, aí, quem estudava à noite, só trabalhava durante o dia – de manhã ou depois do almoço. Era da seis da manhã ao meio dia ou do meio dia às seis da tarde. Aí, eu tinha condições de trabalhar também um período. E, à noite, a gente só trabalhava nas férias. Então era assim, era tudo controlado: quem estudava à noite só trabalhava durante o dia, e nas férias trocava. E tinha umas que trabalhavam à noite e que não abriam mão, só gostavam de trabalhar à noite porque elas trabalhavam durante o dia para controlar, para ajudar em casa financeiramente. Então, toda vida foi isso. Aí, eu entrei lá, eu vi que não tinha nada do que o povo falava, que era mesmo um absurdo o que o povo falava. Nunca, nunca, vi nada na CTBC que me desagradasse. Então, entrei na CTBC, comecei a trabalhar... Nossa...
P/1 – Como era o ambiente de trabalho ali, como é que era a sala?
R – Era o tráfego, né, onde ficavam as telefonistas, eram onze mesas... Era assim: a gente chegava na porta de lá, aqui era a parede, alí era o PS onde o povo chegava para fazer interurbano. As cabines eram do lado de fora, era lá no 24 mesmo. Agora já construíram o outro prédio. Então, eram onze posições, uma sentada ao lado da outra. Eu lembro que a primeira posição era São Paulo, a segunda posição era além de São Paulo, que era Rio de Janeiro, Belo Horizonte, era a posição mais difícil, porque eram as ligações mais complicadas que existiam. Aí vinha a quinta posição, que eu nunca esqueço que era de Goiás, que eu sempre ficava nessa posição porque eu arrumei amigas lá, de Goiânia, que aí eu entrava no circuito delas e dava um sinalzinho e elas me atendiam pelo circuito delas. Então, eu sempre ficava nessa mesa porque eu conseguia fazer as ligações mais rápido. E aí depois, para lá, ia para Santa Vitória, Capinópolis, era bilhete.
P/1 – Descreve como é que era o processo de completar uma ligação. Quer dizer, eu chegava lá e queria fazer um interurbano, aí como é que você fazia?
R – Não, era assim: era pega, era dois pares de pegas, tinha um para atender o cliente e outro para fazer a ligação. Acho que eram doze. A luzinha chamava... a pessoa chamava no 101, aí a luzinha acendia, tinha as luzinhas que acendiam. Aí, então, nas que estavam desocupadas se colocavam as pegas, virava a chavinha para frente e falava-se “Interurbano” e se atendia o cliente. Aí ele falava: “Quero fazer uma ligação para a cidade tal.”, tinha os bilhetes. Aí, você pegava o bilhete, punha da onde que era, o número do telefone, quem estava falando, para onde ele queria falar, que telefone ele queria falar, com quem. Se ele queria falar com alguém, a ligação era especial e tinha que mandar chamar a pessoa, era mais caro. Se ele queria falar com qualquer pessoa, a pessoa que atendesse falava com ele e começava a correr o tempo. Aí, anotava e falava para ele: “Aguarda que o senhor voltará a ser chamado”. Na linha, ninguém nunca poderia ficar porque não tinha condições. Porque era por ordem de pedido, de solicitação, não podia passar ninguém na frente de ninguém. Então, aí era assim, aí distribuía aquele bilhete, por exemplo, eu pegava lá na mesa sete. Era, por exemplo, para o Rio de Janeiro, aquele bilhete ia passando até chegar na mesa 2, que era da menina do Rio de Janeiro, uma passava para a outra. Porque era só ela que tinha o circuito Belo Horizonte, e ele ficava preso na mesa dela, e ela não tirava para ninguém pegar. Se a gente tentasse pegar, não dava para pegar porque estava preso na mesa dela. Então, às vezes, tinha assim um tanto de bilhete, um em cima do outro, aquele mundo de ligações. Era um circuito para falar longe, além de São Paulo. Então, era ligação por ligação, era um a um. Você rezava para que aqueles que demoravam falassem depressa, para o outro que estava ligando, reclamando que a ligação dele estava demorando.
P/1 – Quanto tempo em média demorava uma ligação?
R – Depende... Como você está falando? O cliente falar?
P/1 – É, é, é...
R – Depende, às vezes ele demorava tipo meia hora ou mais, ou uma hora. Ali, tinha hora que você se desesperava e o cliente só reclamando que estava demorando a ligação dele, mas não se podia derrubar a ligação do outro que estava falando.
P/1 – E como é que você se relacionava com essa pessoa que estava possessa lá do outro lado da linha reclamando que a ligação não saía?
R – A gente explicava que só tinha um circuito e tinha diversas ligações, que ele podia ficar tranquilo que ninguém passava na frente, não existia isso. E tinha também a monitora que ficava olhando a gente, se estava trabalhando, o que estava fazendo, se estava fazendo alguma coisa errada. Mas, graças a Deus, na época eu não tinha problema nenhum e, em cima, assim, tinha uma caixinha, para a gente colocar lá as ligações completadas. Então a monitora vinha e recolhia, porque aquilo tinha que ser codificado, pois cada cidade tinha um código, e tudo era feito manualmente. Eu me lembro que era com caneta vermelha para chamar a atenção. A gente escrevia bilhete, fazia todos os bilhetes com a esferográfica azul. Aí, você fazia o bilhete e, a hora que começava a falar, você colocava a hora que a pessoa pediu, tinha o local de colocar a hora. A hora que se chamava a pessoa: “Senhor Fulano, ligação para tal lugar”. E outra coisa, independente se era criança, se era homem, se era mulher, tudo, senhor e senhora. Se ouvia que era voz de criança, mas se chamava de senhor e senhora. Aí, se falava: “A ligação que o senhor pediu, para tal cidade”. Punha a pessoa na linha e outro já estava esperando. Aí, uma pega com a outra, virava para um lado, falava com um, virava para outro, falava com outro, virava de tudo e deixava os dois falando. Aí, as luzinhas ficavam acesas, para ver se eles estavam falando. A hora que as luzinhas apagavam, quer dizer, acabava... E era assim: a hora que a pessoa começava a falar tinha um relógio, aí se colocava o bilhete lá, batia de cá, era o início. Colocava o bilhete lá, de lado. Quando tinha muita ligação ficava estreladinho de bilhete e você vigiando. Sempre se dava uma olhadinha para saber se a ligação estava tudo bem, se não estava cortando. Acabou de falar, as luzinhas acendiam, acendeu a luzinha, acabou de falar, entrava na linha, rebatia o bilhete de cá. Acabou de falar, você desimpedia as duas pegas para liberar essas pegas para atender outras pessoas. Porque tinha vez que a sua mesa ficava cheinha de pegas, ficava aquela estrela cheinha de coisas, porque era parzinho por parzinho. Então, às vezes, você estava atendendo muita gente, estava tudo ocupado. Às vezes, uma luzinha acendia e você não podia atender porque você estava com todas as pegas ocupadas. Então, a hora que acendia a luzinha, você entrava. Acabou de falar, não tinha ninguém na linha, liberava para as suas pegas ficarem desocupadas e você poder atender o próximo, porque ficava chamando.
P/1 – Não podia tirar os olhos da mesa, então?
R – Não, não podia de jeito nenhum, conversa fiada, de jeito nenhum, não podia não, porque você tinha que estar supervisionando ali. Porque se você brincasse, às vezes a pessoa acabava de falar e o minuto estava correndo e sempre a monitora observando, passava olhando para ver se estava tudo aceso ou apagado. Se estivesse aceso, acabou de falar. Aí, falava quantos minutos a pessoa falou, anotava, colocava lá em cima. Quer dizer, aquela ligação estava prontinha.
P/1 – Para ser processada, para ser cobrada?
R – Aí, ela retirava e, aí também ficavam aquelas pessoas que demoravam e não queriam mais, tinha passado o prazo, elas ligavam dizendo: “Olha, pedi uma ligação para tal lugar e está demorando, não tenho condições de esperar, pode cancelar”. Aí, a gente cancelava o bilhete, ficava misturado com os outros, mas aí a monitora tirava e separava, o que estava cancelado ia para o outro lado.
P/1 – E esses bilhetes eram encaminhados para onde?
R – Aí, vinha aqui para Uberlândia, porque isso aí é o que eles digitavam, digitavam não, o processo que é a para lançar e para cobrar do cliente. Mas era tudo manual. O cliente só conseguia falar local. Inclusive, tinha mesa, a mesa 106, lá que não conseguia falar nem local. De repente, alguém queria falar um outro número dentro da cidade, ligava para nós, a gente interligava um com o outro para falar local. Era semi-automática. Os números automáticos é que conseguiam falar local e pediam interurbano para a gente, o semi-automático não conseguia nem falar local. Tudo dependia da gente.
P/1 – Esse semi-automático era ainda herança da Etisa?
R – Não, era porque precisava de mais linhas e não tinha condições de ampliar a Central. Então, a única alternativa era colocar uma mesinha para atender mais gente que estava precisando de ter telefone e não tinha condições de ampliar essa Central. Então, aí foi feita uma adaptação da mesa de semi-automática. Aqui, em Uberlândia, já teve também, era a 106. Era o 106 e o número do telefone.
P/1 – Você conheceu o seu Alexandrino?
R – Conheci. O seu Alexandrino ia muito em Ituiutaba também. Inclusive, eu fiz Administração, aí ele falou… era em 1979, mas a minha formatura mesmo, de colação de grau, coquetel foi no dia 29 de fevereiro de 1980. E quem estava na presidência na época era o Aureliano Chaves, que o presidente da República estava afastado não sei por quê. E a nossa turma quis chamar o Aureliano como paraninfo. E nós não imaginávamos que ele ia aceitar, e ele aceitou e veio. E nesse intervalo, o pessoal aqui ficou sabendo que o Aureliano ia em Ituiutaba, na nossa formatura. E já estava mais ou menos na época. Aí, eles adiantaram, fizeram alguma coisa para automatizar, para passar para DDD em Ituiutaba. E o seu Alexandrino foi com o doutor Luiz para aproveitar o Aureliano Chaves e passar Ituiutaba para DDD, né? E, quando eu chego na minha formatura, eu fico sabendo que eles iam. E a minha formatura foi a missa, a colação de grau, o coquetel, não teve baile não, tudo no mesmo dia, foi tudo no dia 29 de fevereiro. Aí, eu fiquei sabendo que eles iam, eu não me encontrei com eles, porque aí eu pude ir mais cedo um pouquinho para dar uma aprontada para colação de grau. E o nosso gerente era o Gerônimo Pereira, o nosso gerente regional. Aí, quando estou descendo, alguém me chamou, que estou descendo aí eu vi o doutor Gerônimo falando assim: “Olha lá, é aquela ali, ó”. Aí que eu olho, vejo o seu Alexandrino, o doutor Luiz, tudo lá na minha colação. Aí, eu disse: “Nossa Senhora, esse povo aqui, meu Deus do céu!”. (riso) Aí, nossa, fiquei toda feliz, né? Aí choveu de político lá com o Aureliano Chaves paraninfo. Aí, foi a colação, correu tudo bem, e logo depois tirar retrato, o Homero Santos estava lá, o Públio Chaves, que agora é o prefeito, era o nosso patrono, porque foi nosso professor na Administração, e está lá toda aquela confusão, todo mundo dando parabéns. Aí, eles sumiram. Aí, a minha mãe falou: “Sandra, e o convitinho pro coquetel?”. Aí, eu falei: “Meu Deus do céu, tenho que dar convite para esse povo todo ir pro coquetel, mas cadê eles?”. Sumiram. E, naquela confusão, tudo no mesmo dia, aquela correria. Aí, logo depois de tirar aquele monte de fotografia, tirar com um, tirar com outro, depois daquela confusão danada, tinha o coquetel lá no Ituiutaba Clube. Aí, mamãe falou: “Sandra, você não deu o convite para eles?”. Eu falei: “Mamãe, eu não sei cadê eles. Como que eu vou achar esse povo aqui?”. Naquele mundo de gente, eu disse: “Agora, seja o que Deus quiser. Vamos ver, se eles não estiverem, eu vejo o que é que eu faço”. Aí, eu não chego no Ituiutaba Clube, eles já não estavam lá?! Eles chegaram primeiro do que eu, eles já estavam lá, eles não tiveram problema, eles já estavam lá dentro. (riso).
P/1 – Foi a primeira vez que você encontrou o seu Alexandrino?
R – Não, eu já tinha encontrado ele, porque ele ia lá em Ituiutaba, o doutor Luiz, eles iam muito lá em Ituiutaba. O doutor Luiz ainda... a gente assim gosta demais do doutor Luiz, ele é muito querido na cidade, e eu sei que ele gosta de Ituiutaba também. O pessoal tem muito amor e gosta muito dele. São três pessoas – não é puxar saco não: o seu Alexandrino, doutor Luiz e Mário Grossi. Esses três, para mim… Todo mundo tem defeito, mas eles têm defeitos mas são os profissionais excelentes. Ah, Brasil se tivesse muitos iguais a eles! Aí, eles foram, me chamaram, doutor Gerônimo me chamou, eu fui lá, cumprimentei, agradeci a presença deles, tirei retrato, tenho retrato com eles no meu álbum. Tiramos retrato lá, o seu Alexandrino, o doutor Luiz, o doutor Gerônimo, eu com a minha família toda, com os meus pais.
P/1- E qual a impressão mais forte que você tem do seu Alexandrino?
R – Do seu Alexandrino é o que eu acabei de falar. Se tivesse pelo menos um pouco de seu Alexandrino no Brasil, o Brasil estava bem diferente. Era aquele homem trabalhador, muito, muito inteligente, que não tinha preguiça de nada, que, naquela época muito mais difícil, ele batalhava, ia atrás, via, conseguia. O que está aqui é o seu Alexandrino, você sabe, ele tinha uma máquina de arroz. Tudo começou dele. E graças a Deus que o doutor Luiz é igual a ele: pessoa humana, pessoa boa, mas na hora de ir, se tiver alguma coisa errada, fala, que dá a oportunidade de as pessoas crescerem, uma pessoa que não é egoísta. Ela quer trabalhar para poder progredir, mas também dá oportunidade para quantas e quantas pessoas? Igual eu falei para o doutor Luiz naquela convenção que teve o ano passado. Ele viu aquele tanto de gente ali, tudo associado, tanto de emprego que ele está dando, tanto de gente que está ali, que é o que é graças à empresa. Porque poderia estar em outra empresa também, mas eu tenho certeza que a CTBC dá condições que tem muitas empresas que não têm condições de... que tem muitas empresas que não tem condição, de treinamento e até de qualidade de vida. Então, ele se emocionou que eu falei: “Mas emociona mesmo!”. Porque você vê que tudo ali é graças ao esforço dele e, lógico, com pessoas responsáveis que estão junto com ele trabalhando.
P/1 – Sandra, me diga uma coisa, com essa mudança, que coincidiu com a sua formatura em Administração, você deixa de ter aquele serviço mais precário e passa a ter, enfim, uma ligação mais direta sem ter a intermediação da telefonista, não é? O que que aconteceu?
R – Foi o seguinte: Aí, eu me formei, fui quase quatro anos telefonista. Aí, lá mesmo no Ituiutaba Clube, com a minha formatura, eu era telefonista ainda, aí eles falaram: “Ô Gerônimo, olha aí porque agora ela fez Administração, quem sabe tem uma oportunidade para ela passar para outra parte”. Aí, eu fiz o teste também, foi aquele processo todo e, graças a Deus, passei e passei para a área comercial. Aí, da área comercial, sempre em contato com as pessoas, porque eu tenho um relacionamento muito bom na cidade, tanto é que é Sandra da CTBC, parece que está escrito aqui CTBC. Então, eu sou muito conhecida, gosto demais das pessoas. É delegado, prefeito, essas pessoas que têm relacionamento, formadores de opinião da cidade, eu tenho um relacionamento muito bom com eles, tenho facilidade de como chegar neles, conversar. Então, praticamente, esse pessoal, eu conheço todo mundo da cidade. Então, tive facilidade nisso aí pela minha família, que tem um relacionamento muito bom na cidade, já vinha da família. A empresa me ajudou muito nisso aí porque, quando a gente era telefonista, tinha a parte de pessoal, a gente era muito querida, e pela Negrinha, que era a nossa responsável pelo tráfego, que o pessoal gostava demais, demais dela na cidade, porque ela fazia de tudo para o cliente e olhava o lado da CTBC também. Então, a gente era assim, tudo o que o povo precisava a Negrinha fazia de tudo para conseguir para o cliente e sempre olhando... Tanto é que o doutor Luiz e o seu Alexandrino gostavam demais dela. Infelizmente – eu conheci a Negrinha antes de trabalhar na CTBC, porque ela era muito amiga da minha tia, a gente era muito amiga dela, veio de uma família muito simples também – de trabalhar mesmo com ela, a gente ficou só mais ou menos uns dois, porque aí ela teve um câncer também muito bravo e sofreu e morreu logo. Então, a gente era muito querida na cidade porque o que a gente [fazia o que] podia fazer pelo cliente e sempre olhando os dois lados.
P/1 – Tenta se abstrair um pouco do fato de você ter toda essa envolvência com a família e conta para nós como é que a cidade enxerga a empresa.
R – Hoje?
P/1 – Hoje.
R – Enxerga hoje. Bom, eu sempre discutia uma coisa assim: que a CTBC fazia alguma coisa escondido, não contava para o povo o que é que ela estava fazendo. Sempre a CTBC estava fazendo alguma coisa, mas só nós e a empresa ficávamos sabendo. Agora, não. Ela está – com essa concorrência, né? – mostrando o que realmente ela está fazendo. Então, as pessoas estão começando a ver que a empresa... Às vezes, as pessoas pensam que ela está só sugando para ela. Então, eles agora estão começando a ver que a empresa já está passando isso aí, que ela investe muita coisa. Inclusive, lá em Ituiutaba, ela tem parcerias, ela tem escola adotada. Ultimamente, ela está ajudando... Por exemplo, computador, sabe? Não, ela está ajudando muito e muito assim, fazendo patrocínio. Não é tanto, mas ela tem patrocinado algumas coisas, não é também aberta a qualquer coisa não. Então, eu acho assim: que a empresa o tanto que ela puder falar o que ela está fazendo, melhor ainda, para as pessoas enxergarem que a empresa não está pensando só nela não. Tanto é que com o 21 aí, nós temos que pensar: será que ele está mesmo investindo aqui, será que ele está olhando a região, a Embratel, a Intelig. O 12 não, ele está investindo aqui, ele está ajudando aqui.
P/1 – Você admite que a comunidade reconhece o que ela está fazendo aqui?
R – Está, já está reconhecendo. Lógico, que quanto mais dá, mais quer, mais o cliente quer. Mas a gente está vendo que agora está bem divulgado. Eu acho que tem que divulgar mais ainda o que a empresa faz. Porque, às vezes, ela faz até mais coisas que o povo não fica sabendo. O tanto que puder saber não é querer aparecer, mas mostrar que aquilo ali está sendo investido ali, para as pessoas ficarem sabendo mesmo, reconhecerem o trabalho que a empresa está fazendo. Então, a empresa é muito bem conceituada na cidade, o pessoal gosta... Tanto é que é assim e também os associados fazem por merecer, porque lá em Ituiutaba pelo menos a gente não tem problema. Falou que é funcionário da CTBC, não precisa nem assinar. É verdade mesmo. Eles têm tanta confiança na gente, de comprar alguma coisa, mandam coisas pra gente pra gente comprar, que a gente diz: “Não, não, não”. Porque lá não se pode comprar nada. Quando se vê, a loja está mandando coisa, porque sabe que a CTBC é uma associada ali. Ele faz por merecer, mas pelo menos em Ituiutaba a gente não tem esse problema. A gente tem carta branca, mas tem um detalhe lá que não é bem isso não. Trabalha na CTBC, ganha rio de dinheiro. A imagem deles é essa, mas não é bem isso não. Mas é porque a gente cumpre com os compromissos direitinho. Mas a empresa é muito querida na cidade e é uma empresa idônea, idônea mesmo.
P/1 – Ô Sandra, você fez uma referência ao senhor Mário Grossi, como é que passou por Ituiutaba o processo de reestruturação que foi comandado por ele, como é que isso se refletiu lá em Ituiutaba?
R – Olha, o pessoal aceitou assim, infelizmente a gente queria que ele estivesse mais junto conosco. Ele é uma pessoa que – eu acho isso –, que ele pensa mesmo, é uma pessoa que tem uma visão lá na frente. Se ele não tivesse feito isso como é que nós estaríamos hoje? Então, é o tal de não vale nada a quantidade e sim a qualidade. Ainda bem que ele enxergou a tempo, era aquele mundo de empresa e depois, o que estava essas empresas gerando? Então, ele fez a coisa certinha, todo mundo aceitou, concordou mesmo. Ele é muito querido lá na cidade. Os associados gostam muito dele por essa visão que ele tem, né? Porque a gente tem vontade que todos estejam, a parte de diretoria, tudo o caminho seja esse mesmo. Agora essa parte de mudança, essa reestruturação que teve... lógico que é difícil, toda mudança, a gente acha difícil no início, né? Mas foi aceito plenamente e correu tudo bem. Ainda bem que deu tudo certo.
P/1 – Você está numa posição hoje que é crítica, que é de interface com o cliente, diretamente envolvido com ele. Qual é o segredo dessa relação? Como é que você constrói e faz frutificar essa relação?
R – Eu com o cliente não tem esse negócio de falar assim: “Eu não atendo cliente”. Pela Sandra do CTBC eles ligam para a minha casa à noite, eles ligam na hora do almoço; todo dia eu estou trabalhando, mas eles inventam de ligar para a minha casa à noite, na hora do almoço: “Sabe, eu estou te ligando, não sei se é com você, mas se não for você, você me direciona para o pessoal”. Então, eu toda vida fui muito preocupada de dar o retorno para o cliente. Eu acho assim: tudo o que ele vem atrás de você para perguntar se você não souber, não fala errado não. Fala para ele que você não sabe sobre aquele assunto, mas que você vai olhar e você vai dar o retorno. Ou, se não é com você mesmo, encaminha para a pessoa certa. Eu toda vida tive essa preocupação. Por isso que eu acho que eles vêm muito a mim. Então, às vezes, eles vão, eles falam assim: “Sandra, ó...”. Esses dias eu peguei um cliente que falou: “Sandra, você vai me desculpar, mas eu já olhei com muitas pessoas e o último recurso foi você”. E, graças a Deus, deu certo. Porque aí eu vou atrás, eu pergunto, eu investigo até resolver, eu não deixo cliente sem resposta. Então eu acho assim, a gente tem que se preocupar, muito mesmo com o cliente porque na realidade são eles os nossos patrões. Se ele está te perguntando... é lógico, não é tudo que o cliente quer que você vai poder fazer. Você vai fazer até onde você pode fazer. Você tem que olhar, respeitar as normas da empresa, tudo, tudo. Isso aí, graças a Deus, a gente olha direitinho. Mas você tem que se preocupar com o retorno, porque o cliente, às vezes, vê a falta de interesse da pessoa, quando vai a uma loja. Às vezes, você está até interessado em alguma coisa, mas pela pouca atenção que te é dada, a pessoa perde até a venda. Se você não responder para o cliente, se você não resolver o problema direito, você pode perder esse cliente. Então, eu acho assim: se o cliente chega em qualquer um de nós, é obrigação da gente não deixar o cliente sem resposta, ou você encaminha para a pessoa certa. Mas também não é virar bolinha de gude não. Ou você responde certo, ou você fala para ele que você não sabe, que você vai dar um retorno, mas dar um retorno mesmo, não é mandar para qualquer um não.
P/1 – Você passou por alguma situação que fosse embaraçosa, dramática, complicada, que você conseguiu [resolver]?
R – Ah, é, aqueles clientes, né? Tem cliente lá que ligava, xingava, só faltava bater na gente. Então, você procura saber o que é que é, vai atrás, descobre, resolve. Pronto, aquele cliente fica amigo. Eu tenho diversos clientes lá, como se diz, ainda. Mas é esse cliente que é o melhor, porque se ele está reclamando, se aquele xinga, é porque ele está errado, vamos lá, vamos ver o que é que é. Se resolver o problema do cliente, pronto. Ele é seu mesmo, porque só que agora você vai ser madrinha dele pro resto da vida. Mas, lógico, eu olho muitos detalhes, para não ficar carregando aquilo que não é meu. Aquilo que não é meu, eu direciono e ele entende: “Olha, essa parte não sou eu, não tenho condições de resolver, mas é fulano de tal”, “Olhe para ele, dê atenção, resolva o problema do cliente”. Então, isso aí, tem diversos casos lá que a gente ficou amigo da pessoa, a pessoa entendeu, não estoura mais do jeito que estourava, aquela braveza de querer matar, aquelas coisas. Então, de repente, você fica amigo da pessoa, a pessoa chega nervosa, você diz: “Uai, o que é que foi, você está nervosa?”. Aí, a pessoa já dá uma acalmada, porque eu nunca fui de um cliente brigar e você falar mais alto. Aí é pior.
P/1 – E que tipo de problema é mais frequente, é mais comum nesses momentos em que o cliente fica mais exasperado, fica mais raivoso?
R
– O maior problema é o cliente sentir que foi para a mão de muita gente e que não foi resolvido o problema dele, joga para a mão de um... Isso, ai, a cada hora vai ficando mais nervoso. Então, é o tal de você saber resolver ou encaminhar para a pessoa certa. Isso aí mata qualquer um: É você pedir mil vezes uma coisa só e não ser resolvido. O maior problema é esse. Se o cliente chega e você procura atendê-lo da melhor maneira, seguindo tudo certinho da empresa, e dando satisfação ao cliente, aí não tem ninguém que vá ficar nervoso seguindo esse processo. Agora, quando você fica enrolando, empurrando o cliente com a barriga, cada hora vai ficando mais irritado. Lá o problema é esse: ele sentir que está sendo enrolado, empurrando e não resolvendo o problema dele. Há muitos anos eles falam assim: “Olha, gente, não tem problema no preço...”. Esses dias teve uma cabeleireira que me falou: “Sandra, por que no CTBC não é tudo 12? Olha, eu prefiro que a empresa tenha a coisa um pouquinho mais cara, mas eu prefiro pagar a mais um pouquinho, mas eu sei como é que é o processo de faturamento da empresa. Eu não tenho problema. Por quê que não pode?”.
P/1 – Você falou em relação a quê, com relação a fora da área?
R – É, fora da área de..., agora que a Anatel fez corte, vamos ver se o ano que vem eu já resolvo tudo isso. Então, a pessoa, às vezes, não se preocupa tanto pelo valor. É a qualidade do serviço, aquela responsabilidade, aquele processo todinho. Então, você sabe muito bem. Às vezes você vai comprar uma coisa, as vezes é mais caro, mas será que não vale a pena?
P/1 – Me explica essa postura da Anatel. O que é que é? Embora eu saiba, eu queria que isso ficasse para registro.
R – É porque a ideia era ter em três regiões. Por exemplo, a CTBC fala com o cliente da CTBC; da CTBC, que são quatro estados (Goiás, Minas, São Paulo e Mato Grosso do Sul), então o cliente estando num desses quatro estados, ele estando lá em Paranaíba pode falar em Ituiutaba com 12; e a Região 1 fala somente com 12 na Região 1, a Região 2 com 12... E, por exemplo, a Região 1 não consegue falar com 12 na Região 3, que não é CTBC, que nenhuma cidade é da CTBC. Então, isso aí o cliente achou horrível porque ele já estava acostumado, porque no início de tudo podia falar em qualquer lugar e não tinha problema nenhum com as contas. Agora tem conta de três, por enquanto. Então, o cliente às vezes quer pagar a conta e a conta não chegou, acumula. E na CTBC não, já tem o processo certinho. De vez em quando tem um probleminhas no faturamento, mas isso aí é uma coisa normal, mudança de sistemas, para melhorar, Tudo que é melhorar, dá uma pioradinha para depois pegar o ritmo. Então, o cliente sente isso aí.
P/1 – E na verdade o segredo está em você... ainda que não resolva imediatamente a demanda dele, mas pelo menos faça com que ele entenda que está sendo encaminhado.
R – E também não posso ficar enrolando ele, que estou olhando, que estou olhando, não. Eu sou assim: Às vezes eu faço e não tenho aquele sossego de falar que passei para o outro e acabou, não. Aí, eu dou para o outro, dou um tempinho e ligo para o outro e digo: “E aí aquele negócio do seu fulano de tal está tudo certo, já resolveu com ele?”. “Resolveu.” Aí, quando eu encontro com ele, eu digo: “Ah, Fulano, deu certo para o senhor? Então está joia, está ótimo!”. Então, eu não deixo, mesmo que eu passe a responsabilidade para outra pessoa, eu não me esqueço não. Eu só esqueço a hora que resolveu, aí eu me despreocupo. Mas, antes disso, eu fico ligada naquilo ali. Então, as pessoas às vezes falam que eu sou ansiosa, eu gosto que se resolva o negócio rápido. Esse negócio de ficar enrolando não é comigo não. Eu gosto de resolver o problema do cliente que aí você tira aquilo da cabeça, você tem mais mil coisas com que se preocupar. Por isso eu não gosto desse negócio de ficar jogando. Eu sou assim: tem que operar, tem. Não tem outro recurso, tem que operar? Então, vamos operar e tira isso ali da cabeça. Eu não sou de ficar jogando pra frente. E gosto de resolver antecipadamente. Não gosto nada de última hora.
P/1 – Como é que é o teu cotidiano hoje?
R – A vida na CTBC, não é? É rápida, essa historinha é bem rápida. Entrei na CTBC, fui trabalhando, trabalhando. Graças a Deus, me formei com o salário que eu ganhava na CTBC. Ali, eu consegui comprar carro, porque toda vida eu fui controlada. Pão duro, não, controlada. (riso) Aí, eu comprei terreno, aí fui tendo as minhas coisas, tudo controladinho. Sempre tendo as minhas coisas, mas nada comprando exagerado. Tudo o que eu tenho disso aqui é, graças a Deus, de grãozinho por grãozinho. E nada eu comprei além do que eu ia ganhar. Sempre deixava uma reservinha para não ter perigo. E pondo o dinheiro na poupança, o pouquinho que eu tinha, eu guardava. Aí, foi, foi, foi, arrumei um namorado na CTBC, casei na CTBC, com alguém da CTBC (riso). Isso aí a gente sabe diferenciar, é de outro setor diferente do meu. Lá nós somos colegas.
Lá, não tem nada a ver. Tanto é que tem muita gente que nem sabe que a gente é casado, porque eu sei separar as coisas. Chega lá em casa, a gente separa também, não tem esse negócio de CTBC ficar interferindo. De você não saber onde você está, se está na sua casa ou se está no emprego. A gente sabe separar isso aí muito bem. E a coisa que eu tinha mais vontade na vida era casar, ter meu marido, meu filho, minha casa... E, graças a Deus, eu me sinto realizada. Eu casei, tenho meu filho, tenho um menininho de quatro anos. Nós agora construímos, nós dois. Ele também é uma pessoa muito controlada. Fomos juntando, juntando, construímos, mudamos dia 20 de dezembro agora. Eu olho a minha casa e não acredito que a gente deu conta de construir aquilo ali, porque ficou além das minhas expectativas. Você vai juntando devagarzinho, você vai depositando cem reais, duzentos, cinquenta e vai. Aí, nós demos conta, construímos, não devemos nada. Aí, eu falo assim, me dá vontade de chamar o doutor Luiz e falar: “Doutor Luiz, vem cá. Eu quero levar o senhor ali. Aqui, doutor Luiz, o senhor nem queira saber o tanto que o senhor me faz feliz. Tenho o meu marido, tenho o meu filho, tenho a minha casa. Isso tudo é graças a CTBC”. Eu poderia estar em outra empresa também, assim também, estando realizada, conseguindo as coisas que eu consegui até hoje. Mas, eu não sei, eu tenho aquele amor mesmo pela empresa, aquele amor de gostar mesmo. Não é puxa-saco, é de gostar mesmo, pela empresa, pelo jeito dela. Ela investe profissionalmente, ela te dá oportunidade. Ela te dá oportunidade até para você se relacionar com outras pessoas fora, de você conhecer. Então, profissionalmente, o que eu sei, foi a empresa que me ensinou. E olha que ela me ensinou muito mesmo.
P/1 – Como é que você enxerga o futuro que está esperando essa empresa, com toda a concorrência, com toda a tecnologia da informação, o que você enxerga no horizonte?
R – Olha, é um negócio assim: eu passei por mil etapas na empresa. Aquela época foi muito boa, mas essa época agora também é excelente. Então, eu acho assim, o profissional tem que correr. Agora não é aquela lentidão, aquela calma, aquela tranquilidade não. Então, você tem que correr, você tem que buscar, você tem que procurar, você tem que estar sempre em constante desenvolvimento, para você acompanhar a empresa, porque a empresa toda hora tem que estar mudando. E ela tem que mudar mesmo porque, se ela não mudar, porque, se ela não procurar acompanhar o ritmo em que está o Brasil hoje, ela vai ficar para trás. Ela vai ficar... No ritmo do mundo hoje, nessa era da informática, se você não correr atrás, você não... Agora, eu acho assim, a CTBC, nesse ponto, ela está muito bem preparada. Eu acho que ela se preocupa demais, ela manda os profissionais para o exterior, ela não fica só no Brasil, eles estão distribuídos no mundo todo, estão buscando coisas, estão aperfeiçoando. Então, a CTBC, você pode ver, ela tem mesmo muita coisa. Então, para o mercado, eu acho que ela está bem preparada. Mas não pode acomodar, tem que continuar, tem que correr mesmo. E, isso aí, tem que correr mais e mais. E o pessoal, os associados estão no ritmo, eles procuram acompanhar isso aí, a aceitar as mudanças, a ir atrás, a procurar, a buscar e aprender. Então, eu acho que a empresa está num ritmo bom. Agora, o Brasil também está indo, ele era meio devagar, e eu estou achando assim: tem as coisas que precisam dar uma melhorada, principalmente a política. A nossa política é um horror. Mas, infelizmente, vamos lutando, vamos ver se consegue. Mas o Brasil tem tudo para dar certo: as terras do Brasil são boas demais, o povo do Brasil. Então o Brasil, gente, tem tudo para ser um país muito melhor.
P/1 – Lá em Ituiutaba fora o CTBC, você tem alguma atividade comunitária, você tem clubes, tem lazer?
R – É, tem, a gente é sócio de clube, eu estava falando pra ela que eu gosto de ver vídeo, um cinema bom quando tem. Agora, com o menino pequeno, a gente tem que curtir o filho, que ele ainda está pequeno. Então, já fica o dia todo fora de casa, a vida durante o dia é muito corrida. Então, à noite, eu procuro ficar mais com ele, para acompanhar ele na escola, nas tarefas sou eu que ajudo. Então, a gente procura estar sempre pertinho porque a gente tem que dar um pouco de atenção. Aí, deixa ele passar essa fase, ele já matriculado... Meu marido faz parte da diretoria da Associação Comercial de Ituiutaba, e eles estão tentando levar para a Maçonaria, para o Rotary. Mas eu já falei: “Espera um pouquinho, vamos curtir primeiro, vamos olhar em casa primeiro”. Porque a gente tem que se preocupar com a sua casa. Depois que você deixa filho sozinho, fica uns meninos carentes, revoltados. Adianta você ser o fulano de tal, mas lá dentro da sua casa você não ficar olhando? Você tem que olhar primeiro a sua casa, conciliando, lógico. A gente tem um relacionamento bom na cidade, vai em barzinho. Mas a gente não é muito de sair porque nós dois somos muito caseiros, mas a gente conhece muita gente na cidade, às vezes tem alguma festinha; às vezes vai jantar fora, sabe? E eu sou sócia do clube, vai de vez em quando, quando sobra um tempinho. Viaja, vem aqui passear na casa do irmão dele. Tem esse detalhe aqui, mas de fazer parte de comunidade, assim essas coisas por enquanto eu ainda...
P/1 – Como você classificaria, lá em Ituiutaba, a chamada cultura da qualidade, como é que a qualidade chegou na localidade, como é que ela é aplicada, como é que ela se desenvolveu, como é que o cliente recebe isso?
R – Olha, a gente recebe uma cobrança muito grande, porque qualquer coisinha eles falam assim: “E a ISO 9000?”. Porque em Ituiutaba, a CTBC foi uma das primeirinhas a receber o certificado da ISO 9000. Muita gente não sabia nem o quê que era isso. Então, é uma coisa que é muito boa, auxilia muito o processo de trabalho da gente, mas em parte também tem as cobranças dos clientes.
Qualquer coisinha vem: “Cadê o certificado da ISO 9000?”. Mas tem muita coisa que a gente dá oportunidade para eles, porque não é bem aquilo que eles pensam. Às vezes tem coisas que eles acham que porque você tem o certificado... E não é bem assim, então você explica algumas coisas. Inclusive, a empresa até despertou, sempre falando, falando. Depois disso, tem monte de empresa lá que já está com o certificado. Porque aí, opa, deixa eu ver o quê que é isso, aí vai atrás e também quer. Então, isso ajuda muito a cidade, porque as pessoas se preocupam e isso reflete na cidade.
P/1 – Quais são os seus sonhos, ô Sandra, o quê que você sonha na vida?
R – Eu sou assim, eu sou uma pessoa de família, eu gosto muito da minha família. Então, eu não tenho aquela ambição de ser rica. Eu tenho vontade de ter a minha vida controlada, ter uma vida em que eu não tenha aquela angustia de ficar devendo. Mas também ficar nesse desespero de ficar de ganhar, ganhar, caixão não tem gaveta. Então, eu não sou dessas de me desesperar por causa de dinheiro. Mas eu penso assim: eu nunca penso em parar de trabalhar porque, por exemplo, quando eu tive o meu filho, eu fiquei afastada. Nossa Senhora, você regride! A sua mente dá uma adormecida e parece que você vai ficando burro. Então, você tem que sempre estar trabalhando, porque aí você tem a oportunidade de conhecer pessoas, você tem oportunidade de ver coisas diferentes. E quanto mais você vê, lê e executa, mais a sua mente vai funcionando. Quanto mais você fica quieto, parado, mais você vai ficando preguiçoso, mais ela vai adormecendo. Então, eu tenho vontade assim, eu tenho filho, eu tenho vontade que ele estude... Com esse mercado competitivo do jeito que está, quanto mais ele souber, melhor. O que a gente puder fazer, levar para fazer cursos de línguas, fazer uma faculdade boa. Então, eu penso assim: a minha continuação no meu filho, não eu parar. Eu quero continuar, eu quero fazer um curso de pós-graduação. Por enquanto, eu não fui porque estou investindo no meu marido. Enquanto ele está fazendo, eu tenho que olhar o filho em casa, que eu não quero deixar na mão dos outros. Então, eu quero ainda fazer e não quero parar. Eu já comecei a fazer espanhol. Eu não quero ficar naquele mundinho, quietinha. Eu quero aprender, eu gosto de estar sempre sabendo das coisas novas, do que está acontecendo no Brasil, no mundo, para estar por dentro de tudo isso aí.
P/1 – Sandra, o que você poderia dizer para uma pessoa que fosse começar a trabalhar na CTBC amanhã, um novo associado que está chegando, o que você diria para ela, o que ela vai encontrar, o que ela pode fazer?
R – Olha, eu diria o seguinte: a pessoa tem tudo para crescer ali, vai depender dela. Mas ela tem que pegar todas as oportunidades que surgirem, desde que não machuque as pessoas, não prejudique outros para crescer em cima daquilo ali. Respeitar a opinião das pessoas, respeitar o jeito de cada um, porque eu já aprendi muito isso na empresa. Eu cheguei, eu queria que todo mundo fosse igual a mim, aí eu percebi que cada um é de um jeito. Todo mundo tem erros, todo mundo tem qualidades. Então, eu acho que a pessoa tem que aproveitar o máximo de oportunidades que tiver e não acomodar não. Olhar o lado da empresa, ver o que a empresa está fazendo, fazer por merecer e também não deixar o cliente a ver navios. Você tem que olhar, é a tal da empatia. Lógico, observando os dois lados. Não puxando para um lado e deixando o outro. Você tem que equilibrar tudo.
P/1 – É uma arte, não?
R – É. E mexer com gente é isso, você tem cliente interno e externo. Porque os seus clientes internos estão toda hora lá, precisando de alguma coisa e você tem que controlar. Mas isso aí é a profissão. Cada profissão sempre tem isso, e tem que saber administrar isso aí. Mas é uma empresa, é um grupo que, a pessoa querendo e fazendo por merecer, ela tem tudo para crescer e deslanchar. Eu sou muito feliz, de coração, na empresa que eu trabalho.
P/1 – Que bom.
R – Não é puxa-saco não, é de coração, é de verdade mesmo. Teve a época muito boa, mas agora também é muito boa, que a gente não pode deixar parado, você tem que continuar batalhando, você não pode deixar desperdiçar nada.
P/1 – Há alguma coisa que você gostaria de ter dito e que a gente não tenha te estimulado a dizer?
R – Ai, ai... você vê o tanto que eu converso, né? É só me perguntar que vai... Mas acho que eu já falei. Já falei de escola, do início da minha empresa, da minha casa, da minha família. A minha família não só eu, o meu marido e os meus filhos. Eu tenho um relacionamento muito bom com a família do meu marido, com a minha família também. Então, eu sou uma pessoa assim que não tem esse negócio de acordar chutando cadeira de mau humor, graças a Deus! Eu não tenho isso não, eu nunca tive esse problema. Se eu tiver que falar para você, eu falo, sabe? Às vezes, estou irritada... não agredir assim mas eu não deixo, não engulo não. Se eu estou insatisfeita com alguma coisa… ah!, eu tenho que falar. Eu sou espontânea. O que tenho que falar, eu falo para você, não sou esse negócio de ficar deixando ou de falar encostado... eu não gosto disso, não. Isso às vezes até, a maneira como você passa, as pessoas entendem de outro jeito. Então, o meu jeito de ser, o pessoal acha que estou nervosa, estou falando uma coisa assim que não é bem aquilo que eu estou querendo. A maneira de eu passar não é bem aquela que eu queria, entendeu? Mas por eu ser assim, eu não fico pensando, pensando para falar... eu já falo: “Olha, isso assim, assim, assim...” Aí a pessoa fala: “Ah, mas não é desse jeito!”. Aí vai conversar, mas eu tenho um relacionamento muito bom na empresa, não tenho ninguém que eu esteja de mal, de não ter contato, de ter dificuldade de falar com pessoa. Aqui em Uberlândia conheço muita gente, apesar que muita gente agora já saiu, toda a CTBC, sempre na assistência da cidade tem alguém que eu conheço, em cada cidade.
P/1 – Tá certo. Me diga o que você achou e como é que você se sentiu dando esse depoimento para nós?
R – Ai, ai... A gente se lembra de tanta coisa boa, né? (riso) E que está acontecendo, que aconteceu. Na hora que a menina falou, eu falei: “Olha eu sou assim: gosto de conversar fiado mas fico meio assim... com microfone...”. Mas achei assim: não tem nada de ficar nervoso: “Ai, o que é que eu falo...! Você está falando da sua vida!”. Foi bem gostoso, que a gente fica bem à vontade, se lembra... Lógico que você não vai contar tudo, senão você vai ficar muito tempo, dias e dias aqui, né? Mas a gente fica muito à vontade mesmo. Fiquei feliz porque estava meio apreensiva, achei que ia ficar nervosa, mas é bem descontraído. Eu acho que ninguém vai ter esse problema não, viu? É bem gostoso!
P/1 – Que bom! A gente agradece bastante a gentileza de você ter vindo aqui e essa maravilha de depoimento que você deu para nós.
R – Então, tá. Fico muito feliz com isso e qualquer coisa estou à inteira disposição.
P/1 – Beleza! Muito obrigado!Recolher