Banco do Brasil 200 anos
Depoimento de Paulo José Soares
Entrevistado por Luiz Egito e Marta de Lelis
Brasília, 12 de setembro de 2008
Realização Museu da Pessoa
Código: BB200_TM002
Transcrito por Regina Paula de Souza
Revisado por Patrícia Marques de Souza
P/1 – Boa tarde, Seu Pa...Continuar leitura
Banco do Brasil 200 anos
Depoimento de Paulo José Soares
Entrevistado por Luiz Egito e Marta de Lelis
Brasília, 12 de setembro de 2008
Realização Museu da Pessoa
Código: BB200_TM002
Transcrito por Regina Paula de Souza
Revisado por Patrícia Marques de Souza
P/1 – Boa tarde, Seu Paulo! Muito obrigado por ter aceito o nosso convite. Eu queria que o senhor, por favor, começasse dizendo: o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – É Paulo José Soares, nascido em 06 de dezembro de 1947, em Manhumirim, Minas Gerais.
P – Qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R – José Soares da Silva, que vai completar 90 anos, dia 20 agora, e a minha mãe, Dina Botelho Soares, 82 anos.
P/1 – Qual é a atividade do seu pai?
R – Meu pai era agricultor.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe, professora.
P/1 – O senhor conheceu os seus avós?
R – Eu conheci os meus avós maternos.
P/1 – O senhor lembra o nome deles?
R – Manuel Botelho e Levinda Botelho.
P/1 – Do outro lado, o senhor não chegou a...?
R – Do outro lado, eu sei que o nome deles eram Manuel Soares e Maria Soares, mas eles já eram falecidos.
P/1 – O senhor tem notícia da origem da sua família? Se eram ali da região mesmo ou foram pra lá em algum tempo?
R – É, a família do lado do meu pai, o meu bisavô, que seria o bisavô do meu pai, é português, ele veio ao Brasil e se instalou na região do Rio de Janeiro, mas, principalmente, na região de Itapiruna e, depois, mudou pra essa região de Manhumirim. Do lado da minha mãe, que, também, é bisavó da minha mãe, é, também vieram de Portugal, os seus ascendentes, e vieram para a região do Espírito Santo e, depois, migraram para Mutum, que é uma região, ali, pertinho, também, de Manhumirim, mais ao norte, é, mais ao norte de Manhumirim, mais acima um pouco.
P/1 – Sempre pelas Minas Gerais, né?
R – Minas Gerais!
P/1 – O senhor trabalhava na lavoura com o seu pai?
R – Não, eu não trabalhava especificamente, mas muita atividade que era de ajuda a gente tinha, quer dizer, desde os sete anos. Meu pai plantava café, sempre plantou café, a região, lá, é muito amarrada, então, tinha, a gente fala o bombeiro, que era o quê? Você tinha que levar a água lá em cima pro trabalhador braçal, pra ele tomar água, aí, você acabava de levar uma cumbuca, que a gente falava, você tinha que descer correndo e falar: “Bombeiro! Anda rápido” [riso]. Aí, você subia, tá?
P/1 – O garoto estava com toda a força, né?
R – Tinha nada! Aos sete anos você não tinha força, você tinha aquela exigência de mostrar que você ia, tinha que levar as coisas, aquela força de vontade, como tudo, né?
P/1 – Fora esse trabalho, digamos, no âmbito familiar, qual foi o seu primeiro emprego formal? O seu primeiro trabalho formal?
R – Não, esse é. O primeiro trabalho formal, realmente, eu tive com uns 15 pra 16 anos, eu fui professor, digamos, de recuperação de turma do colégio, tá? É, eram alunos. Naquela época, chamava admissão, que seria quinta série do curso primário, que estava em repetência, então, dava essa recuperação, esse reforço de várias matérias. No colégio, nos períodos de férias, obviamente, né?
P/2 – Em Manhumirim?
R – Em Manhumirim ainda.
P/1 – O senhor foi escolhido, pra isso, por que era bom aluno?
R – Sempre! Fui sempre um aluno bem, como diz, com bons resultados no colégio, em todos os colégios tive bons resultados. Não era, talvez, o mais brilhante, mas tinha sempre uma base bem sólida em termo de conhecimento. E lia muito! Lia bastante.
P/1 – E como foi que o Banco do Brasil apareceu na sua vida?
R – Apareceu pelo seguinte: nós somos uma família de oito irmãos, somos sete vivos, tem um que faleceu, que também, era do banco, e nós morávamos... O meu pai sempre com muita dificuldade, e morava na roça mesmo! Pra poder estudar eu andava todo dia quatro quilômetros a pé, e voltava os quatro. Caminho de roça mesmo! Não era de carro, não era com animal, era a pé mesmo! E nessas idas e vindas, é, e, depois, pra poder estudar, aí, nós mudamos pra rua, eu já estava com uns 17 anos. E tinha sempre alguns alunos e professores que davam aula pra gente, já, no segundo grau e que iriam fazer o concurso pro Banco do Brasil. Tinha um, por exemplo que era de Geografia e Português, mas tinha dificuldade em Matemática, então, eu ia estudar com ele. Eu não podia fazer o concurso, mas ele sabia que eu era bom em Matemática e eu ia explicar pra ele: regra de três, problemas, equação, aquelas coisas. Que eu já tinha um bom conhecimento. E daí, ele falou que ele ia fazer o concurso, então, ele fez o concurso no ano de 1965. Ele fez o concurso, acho, que no mês de junho, por aí e, logo depois, apareceu um outro concurso do Banco do Brasil, em setembro. E nesse, eu pude fazer, porque eu já tinha 17 anos e meio, naquela época. Então, por isso que apareceu na minha vida o concurso.
P/1 – O senhor fez e passou?
R – Fiz e passei. Não, eu fui muito bem classificado. Na região de Minas Gerais eu tinha sido, talvez, um dos primeiros. Mas nesse período, até que se chama ou não se chama, eu fui para Belo Horizonte para fazer o terceiro ano científico. Que existia, pra você poder fazer o vestibular. E como eu era um bom aluno, vamos dizer, eu tinha quase certeza que eu poderia passar. Mas tinha um problema, não conseguia nem meu pai me sustentar lá, por questões financeiras, e eu tinha mais sete irmãos que, também, estavam dependendo, estudando com dificuldades. E a minha mãe era professora, ela quase sustentava a casa, era a minha mãe com o salário dela de professora. E acabou vindo o resultado, e eu fui convocado pra ir trabalhar na cidade de Inhapim, Minas Gerais. E, isso, eu já estava na metade do terceiro ano, em Belo Horizonte. Aí, eu tive que tomar posse, realmente, assim que fui chamado pra poder, é, tanto pra ganhar dinheiro, e é uma belíssima carreira, e quanto ao segundo, evitar uma despesa e poder dar um, conseguir, como diz, é, puxar, até, os irmãos, como aconteceu depois deles me acompanharem pra onde eu fui.
P/1 – E quais foram as sua primeiras responsabilidades no banco?
R – O Banco do Brasil, naquela época, o primeiro trabalho que eu fiz chamava-se investigador de cadastro. Hoje, é uma função que por si só os sistemas já fazem. Então, era você coletar dados do cliente do banco. Quem chegava você pegava os dados dele, aí, ele dizia os bens que ele tinha, então, você, dependendo da localidade, você tinha algumas tabelas que você avaliava o imóvel dele, verificava se ele não tinha alguma restrição, protesto, título. Você obtinha informações verbais de pessoas, e você fazia a ficha cadastral dele, e você atribuía um limite pra ele operar no banco.
P/2 – Hoje, o sistema faz, né?
R – Hoje, o sistema faz isso aí, coletar dados em cartórios, coletar dados em bancos, coletar dados em outros bancos. Até, hoje, o CADIN [Cadastro Informativo de Créditos Não Quitados] faz isso, você junta tudo numa informação só e você tem, lá, a ficha da pessoa. Mas naquela época, você era obrigado a buscar, realmente, a informação em todos os cartórios, imóveis, e saber da vida da pessoa tudo que existia. Aí, logo depois, eu fui trabalhar em outra atividade, fui trabalhar no caixa. E não era o caixa executivo, era caixa de gaiola, tá? O caixa chamava caixa de gaiola, onde a pessoa. Eu trouxe, até, uma coisa que eu tenho de lembrança – eu não sei como é que possa dar um zoom depois aí – Isso, aqui, era a fichinha que você entregava ao cliente na hora que ele entrava no banco. Aí, você entregava...
P/1 – É a chapinha?
R – É a chapinha. Aí, ele entregava um cheque. Pra receber, ele chegava no balcão, entregava o cheque, aí, você anotava no canhoto, em cima do cheque você anotava, lá, fichinha número 44. Aí, o cheque ia transitar por dentro e só chegava no caixa, o caixa pagava ou recebia, nesse intervalo já se verificava, é, assinatura, se tinha fundos, todas os aspectos legais. Hoje, uma só pessoa atende ao mesmo tempo. Da mesma forma servia pra você pagar um título, pra você fazer um depósito. Isso, foi, talvez, um dos meus primeiros trabalhos no banco, foi receber o cliente, recepcionar o cliente pra ser atendido no banco. Então, você ficava, ali, no balcão recebendo o cliente, mas, logo depois, você passou pra essa atividade interna de fazer a parte de cadastro. Aí, foram diversos serviços: carteira rural, que é você fazer cédula, estudar operações de financiamento. Tudo, em cima, obviamente, daquela parte do cadastro.
P/1 – Como é que o senhor resumiria todo esse processo entre a autorização da chapinha, todo esse procedimento de análise de um cadastro, até, esse ponto que nós estamos hoje? Que esses procedimentos, se forem contados para um novo bancário, de hoje, vai parecer uma piada, né? Ele vai achar que está se falando de um mundo que não existe mais, né?
R – Eu vou, até, fazer uma partezinha na história da vida, que, aí, eu acho que dá pra. Vai, como diz, cronologicamente andando. Então, esse trabalho era feito, então, chamava, é, você pegava uma cartolina, é, onde você, é conta de padeiro mesmo, você anotava. Você tinha conta de depósito, 200 reais. Deu um cheque de 50, cheque número tal. Isso, fazia à mão! Era uma cartolina amarela, era à mão que você fazia, e aquilo você guardava dentro dos armários para no outro dia você pegar. Aí, todo dia, no final você somava, via se batia direitinho. E era a mesma coisa essa entrada e saída de dinheiro, você batia com o caixa e etc. então, no banco se falava:
tapa ar de mecanização, que era básica. Aí, depois, vieram as maquininhas
pra você fazer os lançamentos, ao invés de ser à mão você já fazia através de uma maquininha que chamava (bolrus?) naquela época. Aí, depois, vinha a etapa B mesmo, vinha a NCR. Aí, depois, já pros anos de 1970, que eu entrei em 1966, já nos anos de 1973, por aí, que começaram a aparecer as primeiras agências. Eram pouquíssimas agências que eram processadas via computador, mas era somente um listão, você mandava, anotava os documentos no listão, mandava para um centro pra gravar à noite e voltava, no outro dia, aquele listão. E o banco tinha, naquela época, eu digo, até, talvez, 1985, aliás, 1986, o banco tinha pouquíssimos produtos, ele tinha cobrança, ele tinha depósitos, não tinha poupança, ele tinha o fundo de garantia, que era obrigado, e tinha crédito rural. Não tinha mais nada, era isso! Quer dizer, você não tinha bolsa, você não tinha mercado de futuro, você não tinha ouro isso, ouro aquilo. Cartão de crédito! Não existia isso! Então, nos bancos eram pouquíssimos os produtos. Quando nós tivemos a Caixa Econômica é que tinha poupança. O Banco do Brasil foi conseguir a autorização para fazer a poupança em 1986. Então, quando eu vim, aí, logo depois, dez anos que eu estava no Banco do Brasil, em 1974, aí, apareceu o chamado concurso do implantador. O Banco do Brasil tinha dois tipos de pessoas que faziam o concurso pra vir pra direção geral: um era chamado programador e, o outro, implantador. O programador, porque o banco estava começando a fazer os seus sistemas de informática, e o implantador é aquele que vinha. Nós viemos quase todos pra Brasília e, depois, foram abertas algumas regionais. Então, você saía, daqui, pra instalar uma agência, você saía, daqui, pra poder reformular uma agência. Então, se eu saía, daqui, ia para Umaitá no Amazonas, ia pra captar um posto no Pará, ia pra Bahia, Pernambuco. Você viajava o Brasil todo instalando as agências, fazendo reformulação de agências que estavam um caos. Você tinha que fazer essa reformulação como um todo, e você levava experiências que você tinha em outras agências para essa agência. E você, lá, também aprendia algum processo novo que era feito. Aí, você trazia aquele processo pra cá. Aí, dentro dos implantadores, que chamava Implar, aí, você se reunia e fazia uma determinada rotinazinha mais simplificada e passava esse material pra uma outra área que chamava Rotim, que fazia todas as rotinas do banco. Então, quando você saía e mandava, que essa rotina saía por carta circular para todas as dependências do banco. Então, com isso se mantinha o quê? Você saía de uma agência para outra e você conseguia trabalhar, porque os formulários eram os mesmos, a rotina era a mesma. As agências, a parte de engenharia do banco, fez, também, as agências padrões, eram padronizadas. Então, você conseguia sair de uma agência para outra e trabalhar quase que da mesma forma, vamos assim dizer. Alguns, levavam cópia de algumas coisas que faziam na agência para outra. E, também, naquela época, os funcionários, às vezes, eram mais corajosos, porque eles eram obrigados pra subir na carreira. Se ele ficasse na cidade dele ele não tinha condições, e onde estavam aparecendo às agências novas? Era no cerrado, aqui por Goiás, Mato Grosso, para o Amazonas, pro Pará. Então, normalmente, apareciam essas vagas, lá, então, as pessoas concorriam daqui pra lá, pro sul da Bahia, então, as pessoas levavam esse tipo de experiência para essas regiões aí.
P/1 – Foi se disseminando uma cultura, na verdade, né?
R – Foi uma cultura. Então, e tinha muitos funcionários. Que existe, é, você pode encontrar muitas famílias de, até, nortistas que estão no Rio, que estão no sul. E vice-versa, daqui do sul, também, que estão pra lá, que foram na esteira do Banco do Brasil.
P/1 – Quer dizer, garantir uma identidade dentro da diversidade é uma característica típica de um banco social como o Banco do Brasil, na verdade?
R –
Exatamente, típico do Banco do Brasil. É, tinha algumas peculiaridades, porque algum tipo de financiamento ele era numa região e outro na outra. Vamos dizer, numa região você podia financiar milho e, na outra região, você plantava soja, então, era diferente. O café, pra você ter financiamento de gado. O cerrado não era tão explorado como é essa época aí. Então, eu estava falando, desse período, pra você chegar até a automação do banco, né, eu digo, foram todos os bancos. Que os bancos brasileiros tem o melhor sistema de automação do mundo! Então, é isso. Se você quiser fazer um depósito lá na França, dois dias depois o dinheiros está na sua conta. Você dá um cheque, demora vários dias, não é tão rápido igual nós estamos aqui no Brasil, não! Então, a automação, ela ficou muito brecada no Banco do Brasil, principalmente, por causa da reserva que aconteceu na área da informática. Então, a área da informática era dominada por um grupo, principalmente, de militares, e tinha reserva maior. Isso, acabou em 1990, na época do Collor, naquele período de 1990 que começaram todos os produtos eletroeletrônicos. Eles foram obrigados, aliás, foi permitido que se importasse. É, aí, a tecnologia desenvolveu tanto para carros quanto pra televisão, pra liquidificadores. O que você quiser pensar, hoje, tudo entrou informática no meio. Então, o Banco do Brasil, até, a gente pode dizer, até 1990, ele tinha pouquíssimas agências com o listão eletrônico, por quê? Nós tínhamos um computador pequenininho em Recife, um computador pequeno em Salvador, um maiorzinho no Rio de Janeiro, e um maiorzinho em São Paulo, um em Brasília. Londrina tinha um também! Curitiba e Porto Alegre. Então, eram oito CPDs que existiam e, que processavam os serviços de algumas agências ali, então, eram mais. E tinham agências que conseguiam gravar os seus documentos num disquete ou numa outra forma, meio físico. Transportar aquele...ou fita cassete mesmo, transportava aquilo e, lá, era transportado para o computador. Aí, essas agências conseguiam ter, pelo menos, os seus depósitos, que eram mais pesados, no seu computador. Na medida que o tempo foi avançando, aí, vieram, o quê? É você implantar novos sistemas, que foi a folha de pagamento, já foi fundo de garantia, que já foi cobrança. Aí, vieram, depois, os outros produtos, aí, que são os de custódia. Aí, são “n” produtos que começaram a vir pra isso aí.
P/1 – Nessa sua trajetória toda, como é que o senhor enxerga hoje, digamos, o estado da arte da tecnologia do banco? Como é que está o Banco do Brasil, hoje, na comemoração dos 200 anos, como anda a evolução da sua base tecnológica?
R – Eu creio que não é só o Banco do Brasil, eu acho que são vários bancos ou até várias outras atividades que, por serem humanas, por serem cada dia mais velozes, têm a necessidade de você ter mudanças. Nós nos tornamos insaciáveis daquilo que nós queremos. Então, nós começamos, hoje, a receber um celular de uma forma, daqui dois meses, aparece um pouquinho diferente. Você pode saber que daqui há outro tempo, e assim por diante. Então, cada vez que tem um produto a tecnologia começa a se integrar em tudo, começa a se integrar nos aeroportos, ela começa a se integrar dentro do carro, ela começa a se integrar no seu modo de viver, em casa, no seu modo de ver televisão, de celular. Te exige uma velocidade muito grande, que você vai a cada dia. Então, o Banco do Brasil, ele tem muita coisa pronta, está em primeiro lugar. E tem muita coisa por fazer, que a demanda é grande, e angústia as pessoas que estão lá dentro, porque cada dia se fala, assim: “Você tem que fazer isso. Isso é pra amanhã”. “Tem que fazer por quê?”. “Vai sair um decreto, vai mudar isso aqui e a oportunidade é você fazer agora. Se não fizer agora, três ou quatro bancos vão sair com a propaganda na frente que faz isso”. Aí, você gera uma determinada angústia, porque cada vez mais. Daqui à pouco: “Oh, hoje é pela assinatura”. Amanhã, alguém já fala: “Você já tem hoje que é a biometria. Vamos mudar pra isso”. Aí, pra mudar pra isso tem que sair correndo, por quê? Porque se demorar muito pra você começar a dar manutenção no chamado projeto lógico. Aí, você não sai, a hora que você terminar, aquilo, não precisa mais, você precisa de outra situação. É como diz o seguinte: não é a mesma força que trouxe o mundo pra essa situação que vai tirá-lo daqui, tem que ser outra força. Então, se o banco quiser ser diferente, na realidade, ele tem que estar nessas vanguardas, aí, de comunicação, de estruturação. E, felizmente, nós estamos vivendo no Brasil um período aí, que eu digo, até, que desse atual governo, como diz, navegou em céus. Navegou, no bom sentido, de céus de Brigadeiro. Porque nós não tivemos crises sérias mundiais, exceto, talvez, essa que é recente, aí, no mercado americano. Porque, no outro, era frequente: “Vamos fazer isso”. Aí, os bancos saíam atrás, mudando tudo que tinha. “Ah, vamos fazer bloqueio disso. Vamos fazer hoje...”. A taxa, todo dia, mudava de 90 para 80. Os sistemas, as formas de você... os índices! Os indicadores eram mudados constantemente. Aí, você tinha que mudar, todo dia, os seus sistemas. Que não são poucos! Se você pegar somente a parte agrícola, todo mês tinha uma mudança da forma de você calcular juros. Todo mês você tinha que fazer aditivos, cobranças, fórmulas. Então, tinha um universo de mudanças. Que os sistemas, também, eram chamados de queixo duro, eram difíceis de mudar, então, como diz, a tecnologia. E custou, também, ao banco, como os demais bancos, como em várias empresas a ter um impacto tecnológico que suportasse as mudanças de hoje e de amanhã, e para depois. E você só ir fazendo acréscimos, como eu diria, dentro dessa base. Anteriormente, você tinha que fazer: “Eu vou mudar isso aqui tudo”. Você tinha que tirar as máquinas, o prédio aonde você estava, você tinha que, talvez, mudar! Mas é o seguinte, o Banco do Brasil, ele tinha dez centros de processamento de dados. Nós fizemos um trabalho uma vez. Por que que tinham dez centros? Porque as máquinas que rodavam, pra poder rodar, se for centralizado você tinha que ter máquinas, vamos dizer, que, talvez, ocupassem todo esse prédio aqui, aí, mesmo que tivesse essas máquinas, as máquinas que rodassem toda essa parte aqui, aí, você não tinha comunicação! Porque comunicação só veio a ser forte, realmente, agora, no final dos anos 90, com a privatização, que se tornou acessível pra todo brasileiro, pra todos os bancos, canais para poder trabalhar. Mas antes, você não tinha! Então, você trabalhava de uma forma (bet?), que era o seguinte: você pegava os documentos, transportava o documento até um ponto, gravava aquilo e mandava fisicamente o canal dedicado, e você, depois, trabalhava. Eu, por exemplo, trabalhei muitos anos, alguns anos, três anos como coordenador nacional de compensação. Fizemos a compensação de recebimento, compensação nacional. É um produto que não tem no mundo! E nisso, aí, entrou junto, com isso entrou o recolhimento de impostos, tributos, tudo vai caindo pra dentro dessa compensação. Que, hoje, ela está quase que eletrônica! Quer dizer, a modernidade, o meio físico que é transportado, mas o princípio é o mesmo, nós vamos fazer um trabalho em que todos possam participar. E está disponível, e facilita muito a vida do cidadão brasileiro, e todas as práticas comerciais que possam existir aqui. Mas o banco, ele atravessou muito tempo patinando em sermos os últimos nisso aí, por uma das razões que eu falei anteriormente, porque ele tinha uma estrutura muito pequena, ele era muito legalista, vamos dizer, não importavam equipamentos e soluções. E quando veio a liberação da área de informática, a liberação da reserva, acabou a reserva da informática, ele teve uma dificuldade muito grande de se recompor, até, orçamentariamente pra poder bancar isso aí.
P/1 – E hoje, ele está preparado pro futuro?
R – Está preparado, muito preparado.
P/1 – Como é que o senhor vê o futuro desse banco, e o futuro do seu relacionamento com aquilo que importa mais que é o seu cliente?
R – O Banco, ele está, tecnologicamente, muito preparado. Talvez, as pessoas, é, a estrutura ou a forma de que as pessoas estão trabalhando eu vejo com uma determinada dificuldade em dar soluções, é, vamos dizer, administrativa aos processos, ou seja, você tem a tecnologia toda, aqui, preparada. Eu digo, tecnologia de máquinas, você tem pessoas que sabem fazer isso e tudo mais, mas, às vezes, as decisões são tomadas, elas transformam as pessoas. As pessoas que estão nesse processo, como um todo, estão muito robotizadas. Então, quer dizer, tudo que você faz, hoje, os funcionários aprendem: “Eu entendo muito bem o que a máquina está me dizendo ali. O que está saindo”. Mas pra dizer aquilo, lá, foram pessoas que resolveram e colocaram aquela definição. Então, até que você faça essa decodificação ou que você resolva alguma coisa diferente daquela, você, é, vamos dizer, agride o cliente muitas vezes. Você não dá uma solução imediata, humanitária que precise. Nós temos, aí, um exemplo muito claro, aí, que eu trabalho ainda numa parte de assessorias parlamentares para alguns grupos aí. Eu vejo, que uma das maiores reclamações que existem, é o negócio do call center e o help desk. Você reclamar de um produto! A gente julgando, e o outro fazendo pergunta, pergunta, pergunta: “Isso não pode, que a regra é assim”. Acabou! Outra coisa, também, que é o banco com relação ao funcionário, existia, anteriormente, e é onde foi que nos baseamos e trabalhamos bastante nessa parte, era de, como diz, e tivemos uma vida, talvez, até, mais facilitada durante um tempo, que, hoje, não é tão vantajosa como anteriormente, porque houve o seguinte: um achatamento muito grande pra quem entra no banco, hoje, diferente dos outros tempos, tá? Mas isso, aí, o quê é? É questão de mercado, e isso era previsível, porque você tinha bancário que trabalhava no caixa, vamos dizer, de outros bancos: Bradesco e Itaú, que ganhava valor “x”, esse mesmo caixa que fazia essa mesma função ganhava quatro, cinco vezes, então, esse diferencial, ele se aproximou bastante hoje, está se ajustando. Agora, também, o banco copiou os outros bancos, por quê? Ele pegou nas pessoas que estão dirigindo a empresa hoje, então, fizeram uma melhoria salarial que não existia naquela época. Agora, mas a parte da humanização do banco, ela, como diz, tem se buscado isso. Isso eu creio pelo o que está aí! Mas é de forma que ainda não supera alguns requisitos que são impostos ao banco ou pela administração ou pelo próprio governo, os resultados que, anteriormente, eles não eram tão, assim, austeros como são hoje.
P/1 – E como é que o senhor vê o futuro, pessoalmente, e no sentido mesmo de uma instituição que está completando os seus primeiros 200 anos e tem, quer dizer, todos os desafios pela frente, nada está pronto, né?
R – Eu creio o seguinte. Tem uma máxima que fala o seguinte: que você tem que, a primeira função de um administrador de uma empresa pode ser pequena ou grande, no meu modo de ver, e eu fui administrador de outras empresas do banco, depois, eu me aposentei, em que, é, você tem que pensar sempre na sobrevivência da empresa. É o primeiro ponto! Seu lucro é outra coisa. Sobrevivência da empresa é o primeiro! Então, a sobrevivência, no meu modo de ver, pra ela ter os próximos anos e andar, são regras muito bem claras, principalmente, na área de crédito, outra coisa, na área de seus passivos trabalhistas, que o banco é muito complicado, até hoje, ainda na forma de administração de pessoal e, isso, pode repercutir lá pra frente. E muitas vezes não é por culpa do banco, é por culpa de mudanças nas leis que acontecem, e que começam adquirir direitos de coisas que foram, como diz o outro, pra trás que aconteceram. Então, um banco, eu acho que ele tem que pensar muito, é como diz, sempre planejar, estar sempre com um bom farejador olhando o que vai acontecer. Produtos novos e rapidez para lançá-los. É, rapidez no ponto de, como diz, de algum problema que possa existir no rumo que está tomando, atual ou, vamos dizer: “Houve um craque lá na Índia, houve um problema lá em Moscou. Isso vai, vem afetar os ativos do banco?”. Então, ele tem alguma forma nisso, aí, rapidez e tomar as decisões, porque ele sabe que tem que tomar. E outra, eu acho que tem que entrar muito nos mercados novos que estão por aí, principalmente, nos mercados mundiais, desses países que estão, aí, como diz, sendo os (breaks?) da vida. A gente que cuidar disso, aí, da área de exportação. Se ele trabalhou, até hoje, na geração do alimento, que essas são as commodities mais vendidas, hoje, tanto de soja, trigo, carne, frango, porco, o que tiver, então, o segmento que vem, depois, que é você acompanhar a cadeia produtiva toda. Eu acho, no meu modo de ver, é uma área que o banco deveria investir muito, também, que é na área internacional, nesse ponto, aí, de exportação.
P/1 – Tem um caminho de expansão, aí, muito interessante, né?
R – É um caminho de expansão, porque a globalização não pode fugir. Essa área, até a época que eu me aposentei, já vão 13 anos, essa era uma área que ainda não era muito explorada. A gente não têm muitas informações, hoje, dentro do banco, sobre esse ponto, mas é uma área que o banco, eu sei que se dedica, mas eu acho que tem que se dedicar mais, mais e mais.
P/1 – Seu Paulo, o que lhe pareceu dar esse depoimento? O senhor construiu uma história tão detalhada, embora rápida, mas tão detalhada, o que lhe pareceu dar esse depoimento, como é que o senhor se sentiu?
R –
Eu creio que muito interessante, primeiro pela oportunidade de você registrar alguns fatos e outro. Eu, até, gostaria, depois, de acrescentar uns dois ou três ainda, pelo tempo aí. E que você, é, se sente feliz por ser convidado e, talvez, reconhecer que você é um cidadão que ajudou a trabalhar, a fazer essa parte do banco.
P/1 – Um protagonista.
R – É, um protagonista. A outra é, eu estava, até, conversando à pouco, ali, com a Marta, que tem um livro que eu dou pros meus amigos, hoje, que é do Geoffrey, que chama A História do tempo. A História do Mundo! Me desculpe. E que começa, lá, do homem quando desceu das árvores, ele custou a descer, porque tinha medo dos bichos, tá? Aí, vem, até, os tempos de hoje, o que aconteceu. Contando de uma forma bem simplesinha. Então, isso não ficou registrado, conseguiu se registrar isso, talvez, pelas pesquisas, pela parte da geologia, se chegaram a algumas conclusões. Então, isso é bom, saber porquê que aconteceram essas coisas, e o tempo em que aconteceram, tá? Então, eu falei de algum tempo do banco, porque o banco, ele claramente, ele trabalhou num período em que ele acompanhava. As agências, acompanhavam onde foram os ciclos econômicos. Então, a primeira agência do Rio de Janeiro, a segunda agência, porque eu trabalhei na parte, ficou muito tempo na minha mão a parte de criar dependências do banco, tá? Então, eu, até, gostaria de falar. O segundo, que foi o Amazonas, Manaus, que foi o ciclo da borracha. O terceiro, se não me engano, foi Santos, café! O quinto, se não me engano, foi açúcar, foi lá pra Recife. O sexto, foi o cacau, em Salvador. Aí, teve uma lá na – está faltando o nome dela, aqui, agora – na divisa do Brasil com a Bolívia, que tem uma agência, lá, que é a sétima, parece! Então, as agências...
P/1 – Corumbá?
R – Quem que é? Eu não estou. É na divisa mesmo. Então, foram. Se você pegar a esteira econômica, ela é que levou o banco a criar. Então, quer dizer, ele foi sempre um banco que apoiou a parte agrícola, a parte da expansão do Brasil. Pra onde ia, na realidade.
P/2 – A história do Brasil.
R – Acompanhou, exatamente! Ele não ficou, até aquela época, ele não ficou, como diz, dentro de São Paulo e do Rio, não eram os locais onde o banco tinha a maior presença. O Bradesco e o Itaú, é, tinham muito...
P/1 – Não conta, né?
R – Não, ele tinha uma presença muito maior em termos de agências, quer dizer, ele tinha...o dinheiro dava mais com eles, e a presença era pequena. Mas, depois, o banco começou a, como diz, a incomodar. Mas o pouco, a hora em que começou a desmanchar as grandes agências, as mega-agências, como a gente falava, aí, nós fizemos um trabalho para desmanchar essas grandes agências. Tinha agência com 2 mil e 800 funcionários! A agência central de Brasília, aqui, ela tinha mil e 960 funcionários e 55 seções externas, tá? Eu lembro, quando eu estava fazendo esse projeto, aí, você tinha que reduzir as agências, a estrutura, achatar a pirâmide e a quantidade de pessoas. E mudar a forma das pessoas de trabalhar em equipe. Aí, aconteceu uma greve em Belo Horizonte, fui conversar com o gerente: “Eu gostaria de fazer uma visita aí”. Aí, ele: “O que que há?” “Você sabe o que aconteceu na agência no dia da greve? O seu funcionário veio? Quem não veio?”. Ele tinha quase 600 funcionários, você ainda administrava uma agência dessa aí. Aí, foi difícil, ficamos três anos trabalhando pro banco reconhecer que tinha que arrumar uma autonomia pra essas agências grandes explodirem. “Ah, é difícil criar três, quatro agências no mesmo prédio”. Não, era fácil, foi rapidinho. A hora que tomaram a decisão, rapidinho o banco, como diz, aí, você mexe muito com as outras áreas, área de engenharia, área de tecnologia, a área de alçadas, você tem que fazer, têm vários outros processos para você criar uma dependência, o Banco Central e etc. Rapidinho nós fizemos isso, não teve problema! Mas pra você mudar isso aí, porque você tornar, uma coisa que nós falamos, talvez, por alto aí, que seria transformar as suas decisões de uma forma mais rápida. Isso é importante.
P/1 – Essa sua avaliação sobre o papel desempenhado pelo banco, no desenvolvimento do país e tudo mais, é que lhe deu esse caráter de banco social, não é verdade?
R – Correto, deu de banco social, mas ao mesmo tempo, ele exigiu de você o quê? Uma parte social e, também, uma parte lucrativa, porque você tem os acionistas. Então, essa forma híbrida, que chama, até, a economia mista, é que, muitas vezes, confunde as pessoas dentro da própria empresa, que é o que eu estava lhe falando, você vai visar só o lucro, é uma parte, você pode fazer o lucro com o social? Pode! Então, tem que ter essa parte social.
P/2 – E hoje, você acha que está bem equacionado?
R – Eu acho que, até, a parte social, ela pode trabalhar mais um pouco ainda, tá? A gente pode trabalhar mais na parte social. E a parte social não quer dizer que vá fazer doação, é a presença sua ou a forma do administrador, é, ajudar a comunidade ou trabalhar pra comunidade. Ser formado nessa parte de auxiliar, de se doar, também, como cidadão que é muito importante, quer dizer, cada brasileiro. Por exemplo, no Banco do Brasil, ele tem o chamado BB Educar, que eu acho lindo aquilo! Que são “n” comunidades, aí, que os funcionários do Banco do Brasil doavam a noite deles, às vezes, duas, três horas por semana pra poder dar aula. Então, tem esparramado pelo Brasil aí, principalmente, nos lugares mais necessitados aí, e com mais dificuldade. Então, tem isso! Então, a importância que você tem de uma empresa, eu vou perguntar às empresas que tem aí, que desde muitos anos trabalham com isso aí. A Vale do Rio Doce, eu falo com eles há 20 anos, onde ela passa ela vai criando comunidades. Primeira coisa, porque é pra ela ser bem aceita na região, e ela vai pra região, muitas vezes, complicado! Como Carajás e tudo mais; o segundo é preciso integrar aquilo, ali, e outra coisa! Que ela vai mexer no meio ambiente daquela região, ela tem que ter conhecimento e saber o que as pessoas que trabalham nisso aí podem ter. Então, eu acho que é a mesma forma do banco, ele pode ser, realmente, um banco de resultados. Mas o social, são ações que, não necessariamente, envolve você a ir fazer doações e ter, como diz, um prejuízo no seu balanço, uma redução do seu lucro. Eu poderia dizer assim.
P/1 – Então, um banco mais participante, não necessariamente filantrópico, isso não é filantropia, né, é participação, é cidadania, é responsabilidade social.
R – Muito. É a sustentabilidade, que é, talvez, um. E outra, hoje, está começando a ser exigido o seguinte: nos projetos que são feitos, que são financiados pelas empresas, você tem, lá, agora, os sistemas pra medir. Então, isso o banco está começando a exigir nas propostas, quer dizer: “Ah, vai ter agressão no meio ambiente! Tá fora! Está fora a sustentabilidade, por quê? Você tem que preservar”. Se não começar a pensar nisso, aí, daqui algum tempo nós [risos] não podemos pensar em mais nada e nem os nossos filhos, né?
P/1 – Não vai sobrar pros nosso netos. Seu Paulo, muito obrigado pelas suas ricas informações, a gente aprendeu muito com essa sua conversa.
R – Nada! Muito obrigado por essa oportunidade que vocês me deram, aí, de expor alguns pensamentos e algumas coisas de vida. E eu falo, realmente, o seguinte: que eu entrei no banco em 1966 e, depois que me aposentei, ainda o banco me chamou pra dirigir uma empresa de turismo dela, a BBTur [BB Turismo], eu fiquei dois anos. E, depois, eu fui presidente, também, de uma empresa chamada Cobra, é uma empresa de processamento de dados. E foi no período que a empresa teve a maior alta da vida dela, foi na minha administração, felizmente! Mas, também, tive muito apoio de dentro do banco e de fora para poder exercer isso aí. E a minha parte de vida, por exemplo, de aprendizagem, foi dentro do banco. Eu tenho um filho que é bancário do Banco do Brasil, teve que fazer o concurso, lá, ele está com 37 anos e já está na área, também, na área de direção geral, fazendo um bom trabalho, ele tem mestrado. Então, também, deve ao banco todo esse. A minha formação, a minha vinda pra Brasília, ficar em Brasília do que você ter ficado lá no interior, eu acho que eu nunca teria a oportunidade de ter saído de uma cidadezinha pequena e conhecer, como diz, é um mundo pra mim o Brasil, que você acha que conhece, mas é um mundo que a gente está nele aqui, e as pessoas, e conviver num lugar onde as decisões são tomadas, onde você participa dessas decisões dentro do banco. Então, é muito importante o banco pra mim e, creio, que ele tenha sido muito importante, também, para diversas comunidades aí, principalmente, nesse assunto da sustentabilidade e da parte social. Muito obrigado à vocês.
P/1 – Nós é que agradecemos. E foi muito bom ouvi-lo. Muito obrigado.
R – Obrigado à você.Recolher