Nasci no dia 23 de junho de 1971 em Alpinópolis, Minas Gerais. Tive uma infância tranquila na roça com meus pais, Lázaro e Maria da Conceição, e mais três irmãos. Os dois irmãos mais velhos são homens e se chamam Antônio e Sebastião. Eu e minha irmã Ana Maria somos mais novas sendo que,...Continuar leitura
Nasci no dia 23 de junho de 1971 em Alpinópolis, Minas Gerais. Tive uma infância tranquila na roça com meus pais, Lázaro e Maria da Conceição, e mais três irmãos. Os dois irmãos mais velhos são homens e se chamam Antônio e Sebastião. Eu e minha irmã Ana Maria somos mais novas sendo que, com diferença de cinco anos para a Ana Maria, eu sou a mais nova de todos. Sempre estudei em escola pública, em Alpinópolis, cidadezinha do interior onde não havia muitas opções de trabalho e de estudo. Quando terminei a 8ª série, minha irmã já tinha se formado professora e começou a dar aula na roça. Tudo era muito difícil naquela época e para chegar até a escola onde ela dava aula a opção era pegar carona em cima de um caminhão que transportava leite. Fui algumas vezes com ela e observando-a, mesmo com a pouca idade que tinha, já sabia que não queria aquilo para minha vida. Mas com todas as dificuldades financeiras e sociais daquele tempo eu não tinha nenhuma opção de receber um diploma e tentar algo melhor. Por isso minha irmã me aconselhava a me formar professora também e assim pelo menos teria uma profissão. Então comecei a estudar. Fiz quatro anos de Magistério e mais um ano de Especialização em pré-escola. Nesse tempo encontrei professoras apaixonadas em ensinar e minha irmã sempre me incentivava. Terminei os estudos e meu primeiro trabalho foi em uma creche registrada de secretaria. Lá acabei participando de várias festividades com as crianças. Fantasiava-me de Papai Noel, apresentava teatro para as crianças e gostei muito, mas sempre que via o brilho nos olhos da minha irmã e a sua empolgação ao falar de seus alunos começava a me questionar. Ainda não tinha certeza se era aquilo que eu queria. Comecei então a refletir e decidi que queria estudar mais.
Meu irmão mais velho, o Antônio, saiu com 17 anos de casa para poder estudar e conseguir melhores oportunidades de trabalho. Com a graça de Deus e muita luta ele se saiu bem. Fez um curso técnico de Química e conseguiu emprego no laboratório de uma grande indústria. Inspirando-me na atitude desse meu irmão resolvi fazer faculdade de Química. Lá em casa tudo era resolvido com a minha mãe e então fui falar com ela. Para não dizer não, resolveu jogar a responsabilidade para o meu pai e me disse para falar com ele, na certeza de que eu nunca teria coragem e mesmo se tivesse, ele jamais deixaria afinal, meu pai era muito autoritário, não “dava papo” para filho. Falei com meu pai e esse “falar” com meu pai foi uma das decisões mais difíceis que tomei na minha vida. Em um belo dia chamei meu pai para conversar. Lembro-me como se fosse hoje. O encontrei na rua na cidade e falei que queria conversar. Ele parou, sentou na calçada e falou que eu podia falar. Sentei ali do seu lado e fui logo dizendo: quero estudar mais. Não sei se ele estava na “veia boa” naquele dia só sei que, para espanto de todos, sua resposta me fez até flutuar. Ele respondeu: “olha, cê sabe que não tenho condição de pagar estudo procê, mas o que eu puder fazer eu faço”. A partir daquele dia minhas asas começaram a bater e minhas forças aumentaram. Ninguém mais me segurou. Saí de uma cidadezinha do interior e fui com muita coragem para uma cidade grande onde consegui me formar. Fiz cinco anos de Química Industrial e Licenciatura. Nesse tempo de faculdade o dinheiro era “curto”.
Meu pai pagava a faculdade, mas eu tinha que trabalhar para pagar aluguel e me sustentar. Foi então que surgiu o concurso de professores municipal e eu não pensei duas vezes, fiz e passei. No entanto, aconteceu uma transformação na minha vida. Comecei a dar aula com a orientação da minha irmã, Ana Maria, aquela cujos olhos brilhavam quando contava as histórias de seus alunos. Todas as dificuldades que encontrava pedia conselhos para ela que sempre me dizia: “Faz assim que dá certo!”. Com os obstáculos iniciais sendo vencidos me vi “tomando gosto” pela profissão. E assim terminei a faculdade. Dando aula conseguia, além de me sustentar, pagar minha faculdade.
Estava feliz, independente, e me sentindo realizada. Comecei a namorar um dos meus colegas de sala na faculdade chamado Fernando. Estava amando. Amando o namoro, amando a vida e amando também minha profissão. Casei-me com Fernando e Deus nos concedeu dois filhos lindos e perfeitos, Eduardo e Maria Fernanda. Hoje, com 20 anos de sala de aula, posso dizer com convicção, que nasci para ensinar e também aprender. Saber que posso fazer a diferença na vida de muitas crianças me deixa muito satisfeita e feliz.
Para maior satisfação ainda encontrei no meu caminho, com a graça de Deus, a AJA (Alfabetização de Jovens e Adultos) que também me realiza e completa. Hoje não ensino e aprendo somente com crianças, mas também com jovens e adultos que não tiveram oportunidade de estudar quando pequenos, pois, tinham que trabalhar para ajudar seus pais. Esses jovens e adultos, pela primeira vez em suas vidas abertos para o saber, voltam para a escola todos os dias felizes e satisfeitos. Ver e viver isso é maravilhoso! E assim continuo meu caminhar de vida, pedindo a proteção de Deus. As borboletas trilham seus caminhos em subidas e descidas e, assim como elas, também vou eu...Recolher