MCHV_042_ATÍLIO CARLOS DANEZI
Projeto Memórias do Comércio de Ribeirão Preto
Entrevista de Atílio Carlos Danezi
Entrevistado por Claudia Leonor e Daiana Terra
Ribeirão Preto, 23 de março de 2021
Entrevista História de Vida 042
Transcrita por Selma Paiva
P/1- Então, “seu” Atílio, boa tarde, obrigada por ter aceitado o nosso convite de estar aqui com a gente, no nosso estúdio virtual, né? Então, eu vou começar a entrevista. Eu vou pedir pro senhor falar de novo o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R- Eu quero agradecer, né. Como eu lhe disse, eu fico lisonjeado com esse convite, tá? Eu nasci aqui em Ribeirão Preto mesmo, no dia vinte e três de abril de 1948.
P/1- Maravilha. E qual é o nome dos seus pais, “seu” Atílio?
R- Os meus pais já são falecidos. O Alino Danezi e Josefa Defendi Danezi.
P/1- Tah. E, “seu” Atílio, o senhor tem irmãos?
R- Tenho. Vivos, dois. O Antonio Danezi, que era o nome do meu falecido avô, também já é falecido. E vivo ainda, tenho o Sidnei e o Luís Alberto.
P/1- E, “seu” Atílio, Danezi é o que? É italiano? De onde vem a origem da família?
R- É italiano por parte de pai e austríaco por parte de mãe. Minha mãe era de origem austríaca. Meu pai de origem italiana.
P/1- E o senhor sabe, assim, como os seus avós, tataravós, vieram pro Brasil?
R- É, por parte do meu pai, que eu tenho mais conhecimento, é que ele, quando houve o problema da Primeira Guerra Mundial, ele já tinha filhos em idade de servir o Exército, entendeu? Então, ele temerário do que poderia acontecer, ele mudou pro Brasil, entendeu? E aqui ele se fincou. Ele veio ser, aqui, administrador de fazenda. Inclusive, a fazenda que ele administrava, era aqui na Nova Aliança, onde nós temos o shopping hoje, entendeu? Que era, inclusive, uma fazenda de alemães. Depois, ele adquiriu ______ (6:27) pouco melhor economicamente e ele comprou uma fazenda na cidade de Dumont, vizinha nossa aqui, que anteriormente era distrito de Ribeirão Preto. E lá ele fincou, nessa fazenda, entendeu, aglutinou todos os filhos lá com ele. E só o meu pai que permaneceu em Ribeirão Preto. Inclusive, de herança, ainda nós temos um sitiozinho lá nessa cidade de Dumont.
P/1- Era distrito de Ribeirão?
R- Era distrito de Ribeirão Preto. Que nem Bonfim Paulista, entendeu? Distrito de Paranapanema, então e Dumont, depois, se emancipou e se tornou município.
P/1- E o senhor cresceu aonde, “seu” Atílio, assim, que o senhor passou a sua infância, pra adolescência?
R- Foi aqui em Ribeirão Preto mesmo, entendeu? E era aquela história, né? Depois, o avô maternal, ele ficou nessa fazenda Nova Aliança. E o outro foi pra Dumont. Então, o final de semana a gente ficava com os avós maternos, aqui em Ribeirão. E o outro final de semana, a gente ia pro avô paterno, lá no município de Dumont. Então, essa era uma infância muito boa porque, principalmente no Dumont, tínhamos lá _____ (7:45), entendeu? Porque naquela época não tinha trator, entendeu, era tudo na base do arado. Então, todo mundo tinha que ter sua charrete, seu carrinho e seu animal, entendeu? Então foi a infância melhor, foi passada, realmente, nos finais de semana, em Dumont.
P/1- O que que vocês faziam lá, “seu” Atílio?
R- Então, como ele tinha fazenda e tinha uma casa. Até hoje, inclusive, em Dumont, tem uma rua lá que liga até a rodovia que vai pra Pradópolis, com o nome dele, entendeu? Porque ele tinha uma casa ali e tinha a fazenda também, entendeu? Então era muita fruta, porcos, criação de galinhas, entendeu? E tudo isso pra gente que era garotinho, era uma abstração que preenchia, que hoje não existe mais, né? Hoje, que nem você falou do teu filho aí, hoje, as crianças ficam no celular, ficam no computador. Mudou completamente, da água pro vinho, entendeu? Completamente.
P/2- “Seu” Atílio, eu gostaria de perguntar, o senhor falou da infância, né e assim nessa parte mais rural, né, com esse tipo de brincadeira. Tinha alguma brincadeira que você gostava muito, que você brincava com o pessoal, com os seus amiguinhos? Quais eram as brincadeiras mais rotineiras, assim?
R- Então, nós tínhamos o que tinha na cidade. A gente falava bet, na época. Uns falavam bets. Que era você colocar a latinha, jogar a bola e você bater com uma madeira, depois contar os pontos. E, como o terreiro era muito grande, a gente usava pra isso. E tinha também o futebol, né, que esse, principalmente na raça, futebol era brincadeira na infância.
P/2- Que legal. Bacana.
P/1-Ô, “seu” Atílio, e estudos.. Como é que o senhor... Onde o senhor estudou? Eu vou deixar o microfone no mudo, por causa do cachorro. Eu vou tirar.
R- Bom, eu iniciei os meus estudos na Escola _______ (09:55). Eu posso continuar, né?
P/2- Sim. Pode, sim, “seu” Atílio, fica à vontade. Pode continuar.
R- Tá. Na Escola __________ (10:08) fiz o primário. Depois fui pra Associação de Ensino, que na época era o Electro Bonini o dono, que hoje é a nossa Unaerp, entendeu? E nessa época eu comecei a trabalhar, porque eu comecei a trabalhar com treze pra catorze anos, que não tinha, naquela época, restrição quanto à idade. E eu trabalhava num bar ali na General Osório, em frente ao Hotel Brasil, ali. Até tinha a estação da Mogiana, na época, onde é a rodoviária. Então, ali eu já iniciei a minha atividade no comércio. Dali, eu trabalhei uns três anos, mais ou menos, saí pra ser vendedor pracista na época. Eu tinha uma bicicleta. E eu vendia cereais na praça, entendeu, pros atacadistas que tinha, de alimentos, aqui na cidade. Aí eu me alistei no Exército. Mas eu não queria o Exército, porque naquela época, eles estavam mandando pro Mato Grosso, entendeu? O que eu fiz? Corri e fiz um concurso na Aeronáutica, certo? Em 1965 eu fui lá pra me apresentar. E em 1966 eu fiz a incorporação na Academia, que hoje, antes era um destacamento precursor. E hoje é a Academia da Força Aérea de Pirassununga. Lá eu permaneci por aproximadamente oito anos. Casei lá. Já tinha dois filhos. Quando eu resolvi achar que o militarismo, pra mim, a disciplina é muito rígida, né, porque a disciplina militar ela é... se você não obedecer, você sofre consequências, entendeu? O que eu fiz, já com dois filhos? E tinha que morar lá, certo? E eu continuei residindo em Ribeirão Preto. Fazia a viagem toda a semana. Ia pra Pirassununga, ficava aquartelado até na sexta, porque você tinha que responder pernoite a semana toda, que era a chamada, não podia se ausentar. Isso tudo ocorreu na época do regime militar, entendeu? Então, a gente ficava muito em prontidão. E começou aquela história de você ficar aquartelado trinta dias, quarenta dias, sempre mobilizado pra qualquer problema que surgisse, naquela época, entendeu? Aí eu comecei, eu falei com criança pequena... Eu tinha dois filhos pequenos. Aí, o que eu fiz? Eu falei: “Não. Eu vou me licenciar, porque não dá pra ficar aqui, né?”. Eu falei com a minha esposa, eu falei: “Eu vou sair, com a ajuda dos meus pais” entendeu? - que eu tive muita - Falei: “vou tentar a minha vida aí em Ribeirão, que aqui não dá”. Quando eu retornei, que eu saí da Força Aérea em 1974, fevereiro ou março, se eu não me engano, daí uns dois ou três meses, eu criei amizade na feira livre de Ribeirão, que é a feira Ribeirão, que é a mais antiga, tá. Eu não sei nem se vocês querem que eu fale, que a feira em Ribeirão foi iniciada em 1948 pelo decreto do prefeito, entendeu? E depois de seis anos é que ela já foi colocada em atividade. Mas nesse início eu já comecei a trabalhar na feira. Aí o meu pai me ajudou a comprar uma barraca. A barraca, inclusive, era de confecções de roupas feitas. Aí eu iniciei a minha trajetória na feira livre, mais ou menos em julho de 1974, tá? Aí acabei ficando na feira. Daí nasceu mais um outro filho, fiquei com três. E consegui formar todos eles com feira livre. Uma filha é odontóloga, dois advogados. E tem um temporão, que depois de dezoito anos e meio, eu não sei o que a minha esposa arranjou lá, que nós tivemos o caçula, que hoje tem vinte e oito anos e é engenheiro, entendeu? Então, são os quatro filhos, praticamente, que eu formei, trabalhando na feira. Eu sou feirante até hoje, tá? Tenho a minha inscrição, sou um microempresário com CNPJ, tudo direitinho. Só que eu estou afastado, em virtude também de um problema de saúde que a minha esposa teve, que nós sempre trabalhamos juntos tá? E depois, o que aconteceu? Ela teve um probleminha de saúde. Aí começamos a pedir afastamento. Aí veio a pandemia. Então eu continuo feirante, presidente do Sindicato dos Feirantes, tá. Só que eu estou afastado, no momento.
P/1- Maravilha. Ô “seu” Atílio, deixa eu perguntar uma coisa pra senhor: 1974 a feira era um negócio muito forte, né? Assim, tinham poucos supermercados. Como que o senhor caracteriza, assim, as feiras, em geral, desses anos setenta, meados dos anos setenta pros anos oitenta?
R- Então, quando as feiras livres... Elas tinham apenas duas, na época, em Ribeirão. Que era a feira um, que é a mais antiga, que fazia a feira da Avenida Independência, hoje ela faz a Portugal. Depois criou-se a feira dois, que é a que faz na Dois de Julho, lá na Vila Tibério. Depois veio a três, veio a quatro, entendeu? Naquela época, a feira foi criada pra atender pequenos produtores. Porque tinha chácaras ao redor de Ribeirão e eles não tinham um local pra poder efetuar a comercialização dos seus produtos. Então a feira foi, realmente, criada para produtores. Aí você vai perguntar: “Mas espera aí: produtor que eu sei é de hortifrutigranjeiros, né? Aquela parte de hortaliça, ovos, uma série de coisa”. E eu vendia roupa, entendeu? Só que aí foi criado no decreto que regulamenta as feiras, que poderia ter produtos atípicos, que não precisava ser hortifrutigranjeiro, entendeu? Então foi onde eu entrei com confecções, certo? E depois veio calçados, depois veio frios, entendeu? Veio o caldo de cana, muito famoso. Vieram os pasteleiros, entendeu? E a feira, naquela época, era uma atração, principalmente nos finais de semana, que o seu funcionamento iniciou nos finais de semana, tá? O movimento era completamente outro. Não tínhamos essa concorrência de grandes equipamentos que temos hoje. Então, o que acontecia naquela época? Quem ingressava na feira, ele ia até a aposentadoria, entendeu? Por quê? Porque, realmente, você tinha condição de sobrevivência com as vendas que você realizava. Agora, hoje, já está mais apertado. Tanto que a feira um, que é essa que eu estou inscrito, tinha duzentos e trinta bancas, entendeu, ela tinha vários quarteirões. Hoje ela reduziu quase que pela metade. Primeiro, porque os jovens, hoje, não gostam de trabalhar feriado e final de semana, que é o que tem maior movimento. Vão pras baladas, vão pra passeios noturnos deles. Então, os feirantes foram se aposentando, ou foram, entendeu, desistindo. Onde houve essa redução tanto na parte dos antigos terem aposentado, como o declínio no movimento das feiras.
P/1- Mas, assim, eu lembro que era muito comum a gente comprar roupa na feira, né? Tinham poucas lojas também, né?
R- Sim. Então, inclusive, eu vou contar uma passagem: no início, quando eu comecei a trabalhar com confecções, eu vou dizer aqui, tá? Eu trabalhava com miudezas de masculina e feminina. Eu tinha no setor masculino: bermuda, meia, lenço, camiseta. E tinha, na parte feminina, anágua, calcinha, sutiã. E eu, no começo, comecei a trabalhar com o meu irmão, que era o irmão caçula, entendeu? Então, o nosso movimento não era tanto. Quando eu levei a minha esposa pra banca, o movimento foi outro. Porque, normalmente, a frequência de pessoas na feira era de senhoras, entendeu? A presença masculina de compradores na feira era muito pequena, quase nem tinha. E o que aconteceu? Com a minha esposa lá e a venda mais se destinava às senhoras, a facilidade de vender essas roupas íntimas, entendeu, o meu movimento foi parar lá em cima. Então, eu falei: “Mulher, agora você tem que continuar comigo”. E ela continuou, entendeu? Anos e anos. Então, eu senti naquilo o seguinte: “Mulher com mulher se entende, né?”. E a gente tinha uns tipos de calcinhas de tamanhos avantajados, entendeu, onde as pessoas, senhoras, tinham, às vezes, sei lá, não tinham a coragem de chegar ali e adquirir. E quando eu levei a minha esposa, essa venda aumentou assustadoramente. Pra mim foi um sucesso, entendeu?
P/1- Por que que o senhor escolheu esse ramo, “seu” Atílio?
R- Porque, na época, quando eu comecei a visitar, e através do amigo, o ponto era comprado. É comprado até hoje. Quando tem uma feira nova, o município dá a concessão gratuitamente. Mas lá na frente, o feirante que não quer continuar, ele coloca à venda. E até apareceu, realmente, o ______ (19:37) confecção, a única, na época. Foi onde eu falei: “Ou é isso. Ou não é esse”, entendeu? Foi onde eu adquiri a de confecções.
P/1- E como o senhor aprendeu assim, essa coisa do fornecedor, do caixa? Como é que o senhor foi aprendendo, assim, fazendo essa escola da vida?
R- Então, esse amigo que me indicou, certo, ele fazia compras em São Paulo, na Porto Geral, no Brás, na Oriente. E aí, o que aconteceu? Ele me levou a tiracolo, certo? Aí eu comecei. Já tinha, que nem eu falei, já tinha trabalhado em bar, já tinha sido vendedor pracista, entendeu? Quando eu era menor, adolescente. Então, já tinha uma certa experiência. E aquela situação também, né, de você... quem sempre esteve na cabeça do negócio era eu: compras, pagamentos, tudo eu que realizava. A minha esposa só me ajudava na parte de vendas. A minha perua Kombi saía de casa quatro e meia, cinco horas da manhã. Principalmente aos domingos a gente retornava duas e meia, três horas da tarde, porque era o dia que a gente mais vendia, né? Então, a gente aproveitava. Depois, como presidente do sindicato, nós fundamos a feira livre de Sertãozinho, quando o prefeito era o Trigo. E depois, quamdo... em Serrana também nós montamos a feira livre lá, que funciona até hoje. Então, eu fazia e depois comecei a fazer Ribeirão Preto e Sertãozinho. Eu montava uma banca na Avenida Independência. Carregava em casa, a perua, novamente, ia pra Sertãozinho, eu. A esposa ficava na Independência e eu ia pra Sertãozinho. Então, a gente saía de casa quatro horas da manhã e chegava três horas da tarde, aos domingos. Então isso, quer dizer, pra formar os filhos, que tinha diferença de idade. Teve época que de eu ter três na faculdade, entendeu? Você tinha que... não era fácil, na época. A menina, não. A menina foi Unesp, então você só tinha gasto com viagem e moradia, né? Mas os _______ (21:45), na época, estudando junto, fazendo Direito, se não trabalhasse, não formava, entendeu? Então, mais ou menos foi dessa forma que eu fui pra feira e trabalhar com confecções.
P/1- Maravilha. Vamos voltar um pouquinho, eu queria que o senhor falasse dessa época de quando o senhor era mais jovem e trabalhou no bar. Que bar que era? Onde era?
R- O bar. Então, esse bar é ali na General Osório, em frente ao antigo Hotel Brasil, era o Bar São José. Ele funcionou até uns tempos atrás. Hoje eu não sei se funciona. E eu estava explicando, eu acho que foi pra Daiana, que ali onde é a rodoviária hoje, era a estação de trem. Que a linha da estrada de ferro vinha pela Caramuru, desde lá do Hospital Santa Teresa. Então, aquela parte de cima da Avenida Caramuru era estrada de ferro. Quando chegava no Hospital Santa Tereza, ela passava pra parte de baixo da estrada e a parte de cima tinha assim como rodovia, entendeu? Então, a estrada de ferro cruzava a cidade até ali, a estação. E esse bar, o movimento dele dependia da chegada dos trens. Você tinha o trem de passageiro e o pessoal descia ali, entendeu, já vinham querendo beber ou comer e era um bar restaurante, entendeu? Então ali, por ali, eu fiquei mais de três anos. Depois que eu trabalhei como balconista, aí o nosso petisqueiro, tá, que era o… que fazia petisco, o pasteleiro lá, tá, ele teve um problema de saúde. Aí os patrões me colocaram na cozinha. Aí eu comecei a fazer pastel, coxinha, quibe. Aí eu passei a ser pasteleiro, entendeu? Aí eu fiquei mais ou menos um ano como pasteleiro. E depois, quando eu saí, eu fui ser vendedor pracista, que era isso que eu falei: vender cereais dos atacadistas, no comércio estabelecido.
P/1- E quem eram os fregueses no bar, “seu” Atílio?
R- Como?
P/1- Os fregueses, quem que eram?
R- No vendedor pracista?
P/1- No bar.
R- Ah, no bar? Então, eram as pessoas que vinha da Vila Tibério, tá? Porque ali o pessoal se reunia na Praça XV, ali, na Rua Duque de Caxias, General Osório, entendeu? E também tinha o campo do Botafogo ali, o poliesportivo. Tinha futebol ali. E o pessoal que ia, eles transitavam ali. Então, se reuniam tudo no bar, que era o primeiro do bairro, na entrada da cidade. A gente não dava conta do movimento, entendeu? A gente, o movimento lá era muito grande. Inclusive, o dono do bar eram três sócios, entendeu? Três sócios, pra sobreviver de um bar, entendeu, tinha que ter movimento, né? Senão, eles não conseguiriam ter arrecadação suficiente.
P/1- “Seu” Atílio, já que essa é uma entrevista história, caracteriza pra gente: a Vila Tibério é um lugar muito especial, né?
R- Então, a Vila Tibério surgiu quando a Antártica estava no seu auge, quando a Antártica montou ali. Então, normalmente, todos os funcionários da Antártica, pra ficar perto do trabalho, iam construindo e morando ali na Vila Tibério. Então, a Vila Tibério era um bairro, praticamente, de funcionários da cervejaria Antártica. Porque tinha a Antártica e a Paulista ali, né, entendeu? E visto isso, o que que fazia? Pra morar perto do trabalho, praticamente, essas duas empresas, através dos seus funcionários, construíram a Vila Tibério.
P/1- Maravilha. E o Botafogo? Era… O Botafogo de Ribeirão Preto a gente está falando, né?
R- É. Isso. Antes dele, ele o Comercial era na Vila Virgínia, na Avenida Primeiro de Maio, o Costa Coelho. E o Costa Pereira era o do Botafogo, ali na Vila Tibério, na Rua Paraíso, que depois passou a ser poliesportivo, quando eles construíram os campos aqui no alto, entendeu? Então os jogos, na época, quando vinha Santos, Palmeiras, Corinthians, ou era na Vila Virgínia ou era na Vila Tibério, entendeu? Então, esses dois times, né? Hoje o Botafogo está bem melhor, entendeu? O Comercial já está mais lá embaixo. Mas a rivalidade desses dois times, na época, é que movimentava a cidade em vários setores. Tanto na mídia, entendeu, como era revanche entre os dois, quando jogavam… Entendeu? Era uma coisa bem diferente, né, do que é hoje. Infelizmente, também, o nosso futebol deu uma caída e a situação, hoje, está nesse pé.
P/1- Mas teve uma época de ouro com o Sócrates, né? Que revelou o Sócrates.
R- Teve. O Sócrates. O Leão era o goleiro do Comercial, entendeu?
P/1- O Leão?
R- Entendeu? É. O Sócrates era do Botafogo. Os dois times daqui revelaram muitos jogadores que depois iam pros times melhores. É claro, porque o que eles ganhavam aqui, entendeu? E o Leão, a mãe do Leão, acho que chama até hoje, aquele bar do lado do Hospital São Francisco, ali, eu acho que é na Rua Garibaldi, ali, se eu não me engano, era do pai e a mãe do Leão, entendeu? Eu cheguei a jogar bola com o Leão. Onde é a Câmara dos Vereadores hoje, tinha um campo ali, chamado República. Então, a gente se reunia pra jogar bola ali. Era um campo todo...entendeu, esburacado, todo... e o Leão era goleiro, já jogava lá, entende?
P/1- É mesmo?
R- Então, esse bar, até hoje, se eu não me engano, chama Bar Leão. Era dos pais do Leão.
P/1- Bar...
R- Bar Leão. Já era do sobrenome deles, né?
P/1- Bar Leão. Olha só!
R- Bar Leão. Funciona até hoje.
P/1- E depois teve o Raí também, né? O Raí também saiu do Botafogo.
R- Sim. O Raí _______ (27:54), era do Botafogo. Que é irmão do Sócrates, né?
P/1- Isso.
R- Ele é um bom jogador. Irmão do Sócrates.
P/1- Que bom, né?
R- Tivemos vários jogadores ______ (28:04).
P/1- Mas esses são os mais conhecidos, né?
R- É, são os mais. É, os que foram pra...
P/1- Do grande público, né? Do grande público?
R- Isso. Tivemos mais, entendeu? Mais jogadores. Teve um que foi pro futebol do Vasco da Gama, que eu não me recordo o nome. Até ele era sobrinho de uma tia minha, casada com um tio meu. Eu não recordo o nome dele, agora. É muito tempo. E tivemos vários jogadores que foram revelados, nesses dois times.
P/1- Ô, “seu” Atílio, agora assim, caracteriza assim, o que é o comércio da feira, né? Porque assim, algumas pessoas, não sei se eu estou certa ou se eu estou errada, ou as pessoas estão erradas. Mas, assim, é como se o pessoal acaba definindo a feira como um supermercado a céu aberto, né? Caracteriza pra gente esse comércio da feira, como é a dinâmica dele.
R- Então, a feira livre, por ser um comércio assim, você vê? Você já disse, ao ar livre, entendeu, com toda a liberdade. Então, o que que acontece? O feirante, tá, ele procura cativar o seu cliente, porque a concorrência ali é um do lado do outro. Se você não souber trabalhar e cativar o seu freguês, você perde pro vizinho do lado. Depois, outra: na feira, o feirante canta uma musiquinha, o feirante... o consumidor pode, também, se ele quer experimentar uma fruta, ele experimenta. Aí ele paga uma dúzia de laranja: “Não tem um chorinho, aí?” “Vai de chorinho mais uma”. Aí, de uma dúzia ele leva treze, entendeu? Depois, lá também é um encontro das pessoas, entendeu, dos amigos. Tem gente que vai na feira mesmo que ele não precisa fazer compra, mas ele compra alguma coisinha pra encontrar os amigos dele, pra bater um papo. As senhoras donas de casa, também, entendeu, fica sem ver pessoas conhecidas. E a feira é um ponto de encontro. É um atrativo, entendeu, pra essa troca, de… às vezes, de ideias, de conversar, matar uma saudade, entendeu? E o feirante também, que nem eu digo. Que, além de levar as frutas fresquinhas, tá, o consumidor, que nem eu te falei, experimenta, escolhe. E hoje o feirante teve que se adequar. Hoje, nós temos delivery na feira. Hoje nós temos a maquininha de cartão, entendeu? Não digo que é cem por cento da categoria, mas aqueles mais desenvolvidos, tal, venda on line está ocorrendo, bem antes da pandemia já existia. Entendeu? Então, eles fazem a venda on line e depois tem um funcionário que vai fazer a entrega dos produtos. Quer dizer, é uma forma de você aumentar as vendas, né? E, ao mesmo tempo, você se adequar, porque a coisa está desenvolvendo de tal forma aí, que está difícil de acompanhar, entende?
P/1- É mesmo.
R- Está difícil.
P/1- Ô, “seu” Atílio, e assim, a freguesia, como se caracteriza, na feira?
R- Olha, como a feira, cada dia da semana, ela se instala num bairro, você tem diversos tipos de consumidores, entendeu? Você tem o consumidor com poder aquisitivo melhor, o outro com poder aquisitivo menor e outros até sem poder aquisitivo, entendeu? Porque tem feiras de bairros aí que, no término dela, os feirantes, que na outra feira, de amanhã, quer levar produtos fresquinhos, o que ele começa? Ele começa a fazer a doação dos produtos. Então, dali tem alguns que levam até em entidades beneficentes, entendeu, fazem doação. Teve até uma época também do Sesc, era Mesa Brasil, se eu não me lembro. Era esse o nome? Mesa Brasil?
P/1- Sim. Isso. Isso. Mesa Brasil.
R- Então, tinha feirante que fazia doação, entendeu, pra que esse pessoal fizesse a distribuição dos produtos depois, porque o feirante é uma pessoa humilde, simples, entendeu? É uma pessoa que, anteriormente, que nem eu disse, que era feira de produtor, ele trabalhava na terra, tá, plantando, colhia, ia pra feira, vendia e voltava pra terra. Então, o feirante, às vezes, era uma situação financeira um pouquinho melhor, pelo tipo de comércio que ele tinha. Mas por que ele conseguia economizar alguma coisa? Porque ele não tinha tempo de gastar, ele só trabalhava. Ainda mais sábado e domingo, que tinha que sair pro cinema, ele não ia, porque cansado, às vezes, tendo que produzir… Entendeu? Então, por isso que o feirante conseguia, às vezes, economizar algum valor, pra ele ter um carrinho, uma perua Kombi e ir se virando, entendeu? Comprar uma chacarazinha. Isso, hoje, nós temos muitos feirantes que são produtores: eles plantam, colhem e vão pra feira vender.
P/2- Eu vou pegar o gancho desse seu relato sobre a feira, que eu achei muito bonito e interessante, ainda mais em tempos como esse, que a gente está vivendo agora, né, “seu” Atílio? Como o senhor vê essa questão, que o senhor bem pontuou, a questão das doações, da humildade dos feirantes? O senhor acha que vem um pouco dessa coisa, antes ainda do dinheiro, essa coisa da troca, por exemplo: “Olha, eu te dou, sei lá, um pouco de fruta. Você me dá um pedaço de carne”. O senhor, ainda nas feiras, o senhor acha que ainda existe isso, de acontecer essas trocas? Entre os feirantes, eu estou dizendo, né? Essa parceria? Pra além das doações com os clientes. Como o senhor vê isso daí?
R- Você fala em troca de mercadoria? É isso que você fala?
P/2- Sim. Exato.
R- Entre... bom...
P/2- Sem, necessariamente, ter o dinheiro como viabilizador pra esses produtos.
R- É. Você sabe que o início da humanidade, não existia o dinheiro, né? Eram trocas de mercadorias. As pessoas iam pros locais de troca, o nome já era esse. Então lá, antes trocavam mercadoria. Depois que surgiu o dinheiro, pra causar isso que causou, tem causado até hoje, né, de assalto, uma série de coisas. Agora, o feirante, hoje, esse sistema aí acabou, não tem mais troca de mercadoria, não. Hoje é no ‘din din’ mesmo, na grana. Se não tiver o dinheirinho, entendeu, não existe mais. E a dificuldade que você teria hoje, é que você precisa ter o dinheiro. Você precisa pôr combustível, você não vai lá levar um maço de alface e falar: “Eu quero um maço de alface por combustível”. Você vai chegar na farmácia, falar: “Ó, você não quer trocar uma dúzia de banana aí por remédio?”, tal, entendeu? Então, isso aí acabou, isso.. a troca, agora, depois de terminada a feira, entendeu, normalmente, os feirantes, quando não tem alguma pessoa, ele faz a doação dos seus produtos pro próprio feirante ali. Então, eu estou vendendo banana, eu dou uma penca de banana pro meu vizinho verdureiro. O vizinho verdureiro me dá um maço de alface, entendeu? Isso ocorre. Mas isso é por quê? Porque não vai levar pra casa, não vai consumir. Então, a única troca, realmente, é essa aí.
P/2- Obrigada.
P/1- Ô “seu” Atílio, e tem aquilo que o pessoal chama da xepa, né? Tem gente que só compra na xepa?
R- Então, aquilo que eu disse, o feirante ______ (35:43)...
P/2- É. Isso mesmo. Eu sou uma delas que eu vou no fim.
R- ... guarda o produto lá fresquinho, na parte da manhã...
P/2- Eu vou perto do fim, mesmo, pra poder garimpar algumas coisas. Eu confesso.
R- Então, isso existe. Por quê? Porque ele vai com aquela parte melhor. O pessoal que vai mais cedo, eles escolhem... claro, o que está mais bonito, está melhor. E lá, eu não digo que é sobra, mas vai já vai ficando um produto já, que foi escolhido, entendeu? E o feirante, vendo que ele não vai vender aquele produto... se você for em... não é falar de hortifruti ou de mercado, o mercado põe aquele preço e mantém vinte e quatro horas aquele preço, não tem baixa nenhuma. Agora, a feira, não. A feira, o cidadão fala: “Esse produto aqui, eu já ganhei mesmo, já vou perder isso aqui, então vou empatar”. O que ele faz? Ele vende a preço de custo, pra mandar a mercadoria embora e não ter o prejuízo daquilo que ele não vai vender, entendeu? Então, essa é uma situação que, realmente, a xepa, né, teve até aquela novela, né? Era Xepa o nome da novela lá? Da senhora que ia fazer a compra?
P/1- Dona Xepa! Dona Xepa!
R- É. Aquilo pegou. Aquilo pegou, entendeu? Então, vem o pessoal falar: “Vou na hora da xepa”. E existe até hoje. O pessoal, uma parte, deixa pra ir no final da feira, pra pegar os produtos com um preço mais baixo, entendeu? Existe até hoje.
P/1- Ô, “seu” Atílio, tem gente que adora ir na feira pra comer pastel e tomar caldo de cana, né? Isso é um clássico, né?
R- Exato. Isso aí, principalmente nos finais de semana, onde os casais levam os seus filhos, às vezes, criança, adolescente, entendeu? E temos também o pessoal que fica na balada. Se você for... eu tive até problema com a polícia, na Avenida Portugal, porque tinha feirante montando a barraca de pastel três horas da manhã, lá, entendeu? Por quê? Porque ele não dorme naquele dia, que ele fica preparando pastel, o quibe, a coxinha, o salgado, pra levar pra feira. Então, ele vai até duas, três horas da manhã, ali está pronto os produtos, ele já vai pra lá, pra montar, porque nessa hora já começa a passar os baladeiros, entendeu? Aí começa a tomar um refrigerante, comer um salgado. Então, a polícia cansou de pedir pro sindicato, pra evitar isso, porque eles poderiam ser atropelados lá, uma série de coisa. E caldo de cana e o pastel de feira, esse… Esse é sagrado. Esse não tem como, entendeu, quem não vá na feira e não consuma. Que nós chamamos aqui de garapa, né?
P/1- Garapa.
R- Eu estive no Rio de Janeiro, quando nós íamos na reunião da federação, lá, com a federação, eu fui pedir uma garapa lá, o cara ficou me olhando na cara. Porque lá... e lá também, filão, não. Falava “filão”, o cara ficava olhando pra cara da gente, assim, porque lá é caldo de cana e é o pão francês, né? Então, você vê a diferença de um lugar pro outro, né? Mas garapa...
P/1- Vocês falam “filão” em Ribeirão Preto? É “filão”?
R- É. Aqui é “filão”.
P/2- Pão francês é filão?
R- É. Você pode entrar em qualquer padaria: “Me dá um filão. Me dá um filão”, entendeu? É o nome do pãozinho.
P/2- Que engraçado!
P/1- Que interessante!
R- E aqui a gente fala garapa. Mas inclusive, na inscrição da prefeitura, não fala “vendedor de caldo de cana”, fala “garapeiro”. E ele escreve na perua dele “garapeiro”, entendeu?
P/1- Tem até um comerciante conhecido como João Garapeiro, não tem?
R- Tem, o senhor João Garapeiro. Agora, ele deixou pro filho dele. Ficava ali em frente do Correio, na Rua Álvares Cabral com a Américo Brasiliense, entendeu? Hoje é o filho dele que toca. Está lá até hoje. Senhor João Garapeiro, famoso.
P/1- Conhecido, né?
R- Ele era famoso, igual nós temos o Pinguim, né? Quem vem aqui quer conhecer o Pinguim. O finado senhor João Garapeiro. _______ (40:06) a banca do senhor João Garapeiro, _______ (40:10) tem a perua Kombi, lá, entendeu? E lá ele fica servindo a garapa.
P/1- Mas já que o senhor tocou no assunto do Pinguim, explica pra gente, assim. Já que é uma entrevista histórica, o que é o Pinguim? Qual é a importância do Pinguim, assim, no cenário de Ribeirão Preto? Cultural, turístico, comercial?
R- Então, o Pinguim é conhecido nacionalmente. Porque quando a gente viajava pra outro estado, simpósio, alguma coisa e falava da cidade que você era, eles já perguntavam: “Ah, o Pinguim! Como é o Pinguim?”, queria saber como era o Pinguim. Agora, aquela fase do Pinguim, entendeu, quando tinha os dois ali, né, tinha o antigo, né, que era na parte de cima e esse na parte de baixo, têm um estilo de atendimento, principalmente atendimento ao chopp, que eu não sei o que eles fazem, que é outro sabor, é outro... é difícil você falar, entendeu? E outra: você vai tomando, tomando, porque eles nunca deixam o copo terminar, quando eles veem que tem uns dois dedos, eles vão lá e já substituem. E ali você vai. E não é um chopp pesado, entendeu? Então, o consumo é muito grande, porque que nem eu falei, ele não pesa, certo? E é tradicional, né? Quem vem a Ribeirão, a primeira coisa pra dizer aí pra fora: “Eu estive no Pinguim. É um centro comercial, né, que a gastronomia que eles servem ali também, é muito boa pra acompanhar o chopp.
P/1- É, né? Ô, “seu” Atílio, e o senhor é presidente do Sindicato dos Feirantes e Ambulantes, né?
R- Isso.
P/1- Eu queria que o senhor falasse um pouco desse setor dos ambulantes, como é que ele se organiza.
R- Então, eu vou explicar pra senhora: quando o sindicato tinha extensão pra categoria dos ambulantes, eles fundaram uma associação, certo? Aí, o que o sindicato fez? O sindicato começou a atender somente aqueles que eram associados, entendeu? E o controle em cima deles é difícil, porque o ambulante, o nome já diz, ambulante, a pessoa tem que circular, certo? A pessoa tem de circular e eles querem ponto fixo, entendeu? Você vê o calçadão aqui em Ribeirão, eles jogam um lençol, uma coisa lá e começam a vender tudo no chão, vem a fiscalização, prende mercadoria, prende. Porque, se eles forem circular, eles não vendem como que se eles tivessem estacionado, entendeu? Então, a categoria ambulante, é muito sofrida. E você vê como é que está a situação com essa pandemia aí, né? Eles fazem o comércio deles, hoje, pra pagar o que comeu ontem. É uma categoria muito sofrida. Precisava ter uma legislação diferente, que desse um tipo de um amparo, alguma coisa, entendeu, um financiamento pra eles. O próprio Sebrae, entendeu, aglutinar esse pessoal e demonstrar a eles como que eles deveriam trabalhar, pra se tornar aí um microempresário. Porque a maioria é MEI, né? Ele se inscreve no MEI, entendeu? E fica com aquele movimento limitado. Então, eu acho que falta um pouco de apoio pra essa categoria de ambulante.
P/1- O ambulante, hoje, se inscreve como MEI, então? Porque muitos, assim, no começo, eram ilegais, né?
R- Isso. Então, hoje, eles se inscrevem no MEI. A própria fiscalização já mantinha lá um grupo de pessoas e eles se inscrevem. E eles pagam uma taxa de ambulante, anual. Todo ano eles têm que renovar a inscrição deles, certo? Tem que ser residente no município, tem uma série de requisitos. Só que o controle da atividade deles é muito difícil. Porque, por exemplo, se ele é ambulante, tem que bater de casa em casa, circular pela rua. Eles não circulam. Que nem eu falei, eles ficam estacionados, principalmente no Centro da cidade. Não sei se vocês já viram. A pessoa está com uma carriola cheia de mandioca, de goiaba, entendeu? É complicado. Aí a fiscalização vem, o coitadinho está lá pra fazer o dinheirinho dele, lá e é impedido de trabalhar. Por isso que eu digo: se tivesse um apoio, principalmente das prefeituras: “Pô, você está com uma carriola? Vamos ver um financiamento aí”. Banco do Povo, Banco Cidade, sei lá. Vamos ver o que você acha melhor pra você transportar essa mercadoria aí. Um carrinho de pipoca, sei lá, entendeu? Então, coitados, eles não têm esse apoio. Então, eles sobrevivem da forma que a gente vê aí, é uma categoria difícil de você conseguir organizar, entende?
P/2- E junto com os pequenos empreendedores, né, por exemplo, que entram os feirantes, como o senhor bem colocou, que são MEI, os ambulantes estão sem respaldo algum, né, “seu” Atílio? Está como dizem: “A Deus dará”, né? Igual o senhor bem colocou, tipo: vende hoje pra pagar o que comeu ontem. É bem complicado, né, não ter acesso mesmo, a esses trabalhadores, né?
R- Exato. O feirante, ele não pode ser inscrito no MEI. Então, propondo uma mudança, porque que nem eu, que sou microempresário: CNPJ, inscrição estadual, entendeu? E o MEI não contemplaria o feirante. Agora, tem alguns feirantes se inscrevendo. Mas ao mesmo tempo, se analisar, principalmente com o ambulante, ele tem uma taxa fixa mensal, como MEI, que dá a ele assistência previdenciária, tanto aposentadoria, como afastamento médico dos seus dependentes, entendeu, através do SUS. Então, o MEI, que é uma taxa que é suportável pelo ambulante, até pelo feirante, entendeu, dá todas as garantias no final da vida dele, certo? Paga aí sessenta, setenta reais por mês, já incluso a Previdência Social, a taxa de localização, que é da prefeitura, municipal, que é essa taxa de ambulante, entendeu? E ele, quando a fiscalização chega, ele mostra toda a documentação, a fiscalização pode trabalhar tranquilo, desde que ele circule, entendeu, sem ponto fixo, né? E quem nem eu falei: eles deveriam ter acesso a um financiamento, entendeu, pra poder melhorar. Ao invés de ele colocar aquela toalha no chão, lá, jogar tudo, fica até incômodo pra atender… fica... entendeu? Até a dignidade de quem está ali vendendo, sei lá, é complicado. Então... Mas infelizmente não tem uma legislação que dê uma retaguarda pra esse pessoal.
P/1- Maravilha. E na feira eles não podem ir, não, né?
R- Não. Na feira, a fiscalização tem que agir, entendeu? Eles não podem nem atravessar dentro da feira. Eles têm que passar longe na calçada, do outro lado, entendeu? Porque senão, você, o feirante inscrito legalmente, contribuindo, tudo... e a maior parte de certos ambulantes, não são inscritos. Inclusive, nós temos a invasão de pessoal de outras cidades da região, que vêm pra Ribeirão Preto pra vender os seus produtos. E aí está fazendo uma concorrência desleal pra quem é estabelecido aqui e paga os seus tributos legalmente, entendeu? Então, é essa outra situação. Inclusive, ambulante é aquele cadastrado. Quem não é cadastrado, a gente chama de camelô. Certo?
P//1- Ah, tem essa diferença?
R- Tem uma diferença. Ambulante é o legalizado. Camelô é o cara que exerce atividade paralela, sem estar legalmente constituído.
P/1- Entendi. E os que vêm de outras cidades, é porque Ribeirão Preto é uma boa praça de comércio?
R- Sim. Inclusive, nós temos aqui, se andar a cidade, você vê de Cajuru, Cássia dos Coqueiros, veículos de lá. A pessoa se instala em certos pontos da cidade, vendendo verduras, vendendo legumes, entendeu? Aí a fiscalização vai lá, apreende a mercadoria, leva pra Cerp, é aquela complicação. E é uma coisa que dói ter que fazer isso, entende? E a gente, como é legalmente constituído, se vem um ambulante... um ambulante, não, um camelô e estaciona do lado da barraca lá, a gente tem que acionar a fiscalização: “O cara não está pagando nada, pô. E está vindo aqui fazer concorrência”. Eu conto porque a feira livre tem um regulamento que disciplina. É uma cartilha que o próprio sindicato elaborou, pro feirante não ser indisciplinado, pra ele não fazer bagunça, pra ele respeitar o silêncio, pra ele ter o instrumento de peso aferido muito bem, pra ele não lesar o consumidor. Agora, na época da pandemia, ele tem que usar máscara, álcool gel, uma série de situações, entendeu? Então, você que mantém um sistema desse, entendeu, enquadrando o feirante, se ele não cumprir, ele é punido e depois eu vou lá, tem uma pessoa que não contribuiu com nada, não é legalizada, não respeita os protocolos, fazendo concorrência. Então, essa é uma situação difícil.
P/1- “Seu” Atílio, o senhor tocou num assunto importante, hoje, que é a pandemia, né? Que o senhor falou que o senhor deixou de fazer as feiras. Como é que está o setor, assim? A gente fez um ano de pandemia, agora. Como foi a adaptação do setor a esse desafio?
R- Então, quando iniciou-se, ninguém dava a mínima pra história, porque brasileiro é aquela situação, né: “Não. Aqui, clima tropical, não vai chegar”. Ninguém, ninguém dava a mínima. Hoje estão vendo que a situação é diferente. E tem mais, eu falo diretamente no Serap: “Olha o álcool gel. Usa-se máscara, tá. Mantenha-se à distância”, entendeu? E a gente vai orientando. Aí eu falo. O problema do feirante que comete um erro, ele tem o feirante que está agindo certo, do lado, que eu falo: “Ó, se você ver o teu companheiro de vizinho de barraca não cumprir os protocolos, você policie ele porque, se der uma paulada, vai pegar todo mundo”. Porque feira livre não teve interrompimento, nós não estamos interrompidos. Nesse lockdown aí, nós estamos dentro de uma semana. Hoje, que a feira começa de terça-feira em Ribeirão, está funcionando normalmente. E os outros estabelecimentos estão com drive thru, entendeu? Está vendendo de outra forma, com as portas fechadas. O feirante não tem que reclamar, porque aqui em Ribeirão não teve impedimento de trabalho. A não ser de quarta-feira da semana passada até domingo agora, entendeu?
P/1- Que é o isolamento mais restrito até agora, né?
R- Sim. Sim. E outra, também é o fluxo de pessoas. A própria pessoa que está enclausurada, vamos dizer assim, em sua casa, fica temerária de sair pra fazer as compras. Então, por força da situação, o próprio movimento decresce, entendeu? Então, você mantém distanciamento, tá e o uso de máscara e álcool gel, entendeu? O vendedor de pastel já está usando o sistema, o seguinte: compra, que nem na padaria, você vai lá, compra o “filão” e leva. Desculpa falar “filão”, o pão francês. E o vendedor de salgado está usando um sistema que ele embala e a pessoa leva pra casa, pra não ter problema com a saúde, entendeu?
P/1- Tem que se adaptar. E a feira pode funcionar porque é considerada essencial, “seu” Atílio?
R- Sim. Atividade essencial, porque ela é alimento, certo? E de primeira necessidade, né? Agora, embarca junto vendedor de roupa, o vendedor de calçado, o artigo de limpeza. Porque o feirante, ele não é uma categoria eclética, ela é eclética na atividade, certo? Porque nós temos lá, por exemplo: o salgado, já é da parte do restaurante; nós temos outros tipo de mercadoria, que já é comércio varejista. Mas na categoria, na atividade, ele é eclético, são diversas atividades. Mas como feirante, ele é específico. Então, se você ter que parar o Zé, porque vende laranja, você tem que parar o João, porque vende roupa. Então, como ele é feirante e a feira é, como atividade essencial, a gente trabalha nessa forma.
P/1- Pega tudo.
P//2- E também tem a questão, né, “seu” Atílio, tipo, eu ouvi muito isso de feirantes, de que o mercado também é um serviço essencial e o mercado tem todos esses produtos, né? Aí fica meio dicotômico. Tipo, se o mercado pode, né? Uma vez que com álcool em gel, máscaras, assim como a feira. E a feira, ainda tem o respaldo de que é ao ar livre, né? E todo mundo, claro, com as devidas medidas, né, segundo as devidas medidas: máscara, álcool em gel. Mas eu já vi muito, eles trazendo isso, mesmo, né? De que o mercado está aberto vinte e quatro horas e pode vender tudo. Então, a gente também pode ter essa diversidade. Mas eu achei muito interessante o senhor pontuando a questão do feirante como serviço essencial e da atividade. O senhor está sendo bem claro, assim. Eu achei muito legal essa separação e explicação.
R- Obrigado. Obrigado. Então, e nós seguimos o supermercado, entendeu? Porque os supermercados lá têm artigo de limpeza, têm alimento. Tem tudo o que você pensar, num supermercado, hoje, entendeu. Não sei se... tempos atrás tinha, eu acho que era o Jumbo Eletro Radiobraz, que não podia trabalhar de domingo, se não fosse a parte de alimentos. Então, eles tinham um setor separado, com geladeira, com as coisas porque, na época, eles tinham que proibir o acesso das pessoas, pra comprar esse tipo aí de equipamento, entendeu? Então, hoje não. Hoje é tudo ali nas gôndolas, alí na… Você vai passando e pegando o que você quer, entendeu? Então, a feira segue mais ou menos esse sistema, entendeu? Se lá pode atividade essencial, feira é atividade essencial, nós estamos enquadrados da mesma forma, entendeu?
P/2- Sim. Muito interessante. Ô, “seu” Atílio, eu gostaria de perguntar pro senhor, agora, da vida pessoal. O senhor nos contou, né, que trabalhou no restaurante, fazendo pastel. Conta um pouco da vida pessoal do senhor. E eu gostaria de perguntar, mais especificamente - o senhor comentou que é casado, né, já tem filhos - como o senhor conheceu a sua esposa? Como foi? Conta um pouquinho pra gente, por gentileza.
R- Bom. Quando eu fui pra Força Aérea, que era… como eu falei, o meu alistamento era no Exército. E a turma de Ribeirão estava indo todo pra Mambaí, no Mato Grosso. Eu, assustado, entendeu, falei: “Eu preciso me virar”. Nesse ínterim, eu conheci uma moça. E eu era apaixonado, primeiro, né, era apaixonado por ela. E ela não queria nada comigo. O que eu fiz? Eu falei: “Vou prestar concurso na Aeronáutica e sumir de Ribeirão, por causa disso”. Bom. Fui, prestei concurso. Fiquei lá. Daí mais ou menos um ano quase que eu estava na Força Aérea, a minha esposa mudou de Minas Gerais pra Ribeirão. E mudou cem metros abaixo da minha casa. Quando eu vi ela a primeira vez... inclusive, a irmã dela está em outra sala da Sintec aqui, ela pode até escutar isso... quando ela mudou, a cem metros, na mesma rua da casa dos meus pais, eu tinha vindo o final de semana de lá, entendeu, fardadão, fardinha da Aeronáutica bonita, azul, cheia de águia, botão dourado, molequinho novo...
P/1- Todo pomposo.
R- É. Subindo, pra chegar em casa, eu vi a que é a minha esposa, hoje. Morena, parecendo uma índia. Aí já balançou o coração, entendeu? Eu subindo fardadinho, a gente já dá aquela olhada, tal, né. Não pintou nada. Aí fui mantendo amizade com ela, pra depois pedir em namoro. E quem pediu em namoro foi ela, porque eu não me declarava, entendeu? E ficava, mexia no cabelo dela, uma série de coisas, no fim, ele falou: “Você vai me desempatar, ou não vai? Você quer me namorar ou não quer?”, entendeu? Então, foi aí onde nós começamos a namorar. Namoramos por três anos. E aí casamos. Estamos juntos até hoje. Graças a Deus, tudo deu certo. É aquela história: você faz uma coisa pra impedir outra, de repente, o destino parece que tem que ser aquele e ninguém muda, entendeu? Casei e saí de lá quando tinha dois filhos já nascidos, entendeu?
P/2- E aí, como que era? O senhor ia viajar com a Força Aérea e ela ficava em casa? Como era? Como era a saudade? Como vocês lidavam com a saudade?
R- Depois de casado? Depois de casado?
P/2- Sim. Uhum.
R- Então, eu aluguei uma... eu morei uns tempos com os meus pais, certo? Porque estava naquela época pesada do regime militar, entendeu? Você tinha que sair a qualquer momento, de noite, de madrugada. A gente não pode contar muita coisa, porque senão... entendeu? Aí, depois, com o nascimento dos filhos, eu tive que alugar uma casa, mais próxima dos meus pais, entendeu? Então, eu vinha sexta-feira e no domingo à noite eu voltava, porque tinha a revista de leito, lá, entendeu? E o máximo que eu ficava fora de casa eram quinze dias, entendeu? Contar, porque eu fugia pelo fundo do quartel, à noite: “Vão me prender aí, se o pessoal ficasse sabendo disso, lá”. Então eu fugia pelo fundo do quartel pra vir pra casa, visitar a esposa e os filhos, entendeu? Só que eu chegava em casa, vamos dizer assim, dez horas da noite, quando era cinco horas da manhã, eu já levantava voo, já ia de volta pra Academia, entendeu? Pra chegar lá de manhã e poder responder a chamada, que tinha parada militar, com hasteamento de bandeira, entendeu? Foi uma vida sofrida. Isso foi mais que um... eu não senti vontade de continuidade, entendeu? Aí eu passei pra reserva mal remunerada da Força Aérea.
P/2- Sim. E quanto tempo o senhor ficou, assim, quanto tempo ficou nessa vida do senhor conciliar a sua família que já estava montada, o senhor com a sua esposa, com a Força Aérea, né, no caso, com o Exército, perdão. Como era?
R- Ficou de maio de 1969, quando nós casamos, até 1974, quando eu saí. Praticamente cinco anos levando esse tipo de vida, certo? E outra: pegava carona na pista. Porque não tinha ônibus perto, de Pirassununga pra Ribeirão. Então, eu ia pra rodovia Anhanguera, lá no trevo de Pirassununga, lá, fardadão, pegar carona, entendeu? E na volta também carona. Porque não tinha ônibus de linha, que fazia as duas cidades. Então, você não tinha. E se você pegasse ônibus da Cometa que ia pra São Paulo, você tinha que pagar passagem até São Paulo, aí pesava, entendeu?
P/2- Sim.
R- Não tinha passagem até Pirassununga. Você fazia a reserva Ribeirão Preto, São Paulo e descia em Pirassununga. Então, essa era a vida sofrida, né? Mas ao mesmo tempo era uma aventura, né? Aquela coisa, aquela saudade, aquela vontade de chegar em casa, ver a esposa, ver os filhos.
P/2- Que interessante!
R- Até, se você analisar assim, era até divertido. E peguei cadeia também. Peguei cadeia disciplinar na Força Aérea. Fiquei preso. Todo militar fica. Eu não respondia o pernoite. Eu vinha pra casa, não voltava, entendeu? Ficava um ou dois dias distante, chegava lá, né, cadeia. E quando eu ingressei na Força Aérea, eu fui pra Companhia de Polícia, entendeu? Eu era da PA. PA era a Policia da Aeronáutica, na época. Depois eu fiz o curso de intendência e fui pra parte administrativa, entendeu? Daí já ganhava bem melhor, entendeu? E dava pra sobreviver bem. Mas infelizmente era essa ida e vinda que deixava... entendeu? E longe, com criança recém-nascida. Pra te falar a verdade...
P/2- Deixava com o coração apertado.
R- Eu peguei uma cadeia de trinta dias, disciplinar. A cadeia lá era disciplinar. Eu conheci o meu segundo filho com vinte dias de vida. Quando a esposa deu a luz, eu estava preso lá (riso), entendeu? Então, as coisas complicadas, entendeu? Era da vida militar e da vida da gente, entendeu? Se for analisar e a gente começar a relembrar, dava pra escrever um livro, viu? Pra escrever e também pra _______ (1:02:40). Depois eu fui pra Justiça do Trabalho, também. Eu trabalhava na feira de manhã e à tarde eu era juiz classista na Justiça do Trabalho. Fiquei por nove anos na Justiça do Trabalho, também, entendeu? Tanto é que...
P/2- E eu queria perguntar também, o senhor falou, né, “seu” Atílio, que o ser entrou no ramo de roupas e a sua esposa começou a trabalhar com o senhor. E aí que foi que as vendas deram boom, né? Principalmente na parte de lingeries, por ter mais afinidade com outra mulher.
R- Isso.
P/2- E do que ela trabalhava antes de trabalhar com o senhor? Ela ficou trabalhando com o senhor, o senhor já falou, durante um tempo, né? Como era, assim?
R- Bom, a minha esposa nunca trabalhou fora. Ela sempre foi do lar, entendeu? Quando eu levei, foi porque o meu irmão ficou impossibilitado de me ajudar, que aí compramos uma banca pra ele também, que hoje ele também está na feira. Ele usa a minha inscrição e a dele, entendeu, no meu afastamento. E quando ela foi pra feira comigo, ela praticamente, ela viu um mundo novo, porque ela ficava trancada dentro de casa com as crianças. Aí que nós contratamos uma colaboradora nossa - que a gente não pode falar doméstica até, entendeu? Uma colaboradora, pra tomar conta das crianças, entendeu, cuidar da casa e onde ela foi na feira. E, na feira, começou a ter contato com outras pessoas, entendeu? E ela abriu a mente dela, né? Porque ela, dentro de casa, ficava enclausurada com essas crianças, entendeu? E além de aumentar o movimento, ela gostou, entendeu? E ela começou a ter mais amor na atividade de feirante, quase, do que eu, entendeu? E hoje, todo mundo, quando eu vou na feira, todo mundo, as freguesas: “Como é que é? E a Dona Monica, como ela está? E a Dona Monica, está boa?” Porque, quer dizer, ela cativou aquele pessoal, né? Pela conversa. Porque não era só a conversa de vender, não, o papinho delas, lá também, né? _______ (1:04:52), alguma coisa. Então, criou um círculo de amizade muito grande também, entendeu? E isso é muito importante na nossa vida, principalmente nessa época atual, entendeu? Onde você vê esse distanciamento, essas coisas, entendeu? Muito gratificante pra ela ir pra feira.
P/2- Bacana.
P/1- Ô, “seu” Atílio, e como que o senhor se aproximou do sindicato?
R- Bom, quando eu fui pra feira, eu fui ser vizinho do antigo presidente, senhor Benedito de Azevedo, que foi também, muitos anos, conselheiro do Senac. Ele… E eu saí, ainda, entrei na feira com aquela mentalidade de militar, ainda, entendeu? Porque você nunca perde, entendeu? Aquele estilo militar você nunca perde. É uma lavagem cerebral, que… entendeu? E ele simpatizou comigo pelo sistema, de eu ser... e ele não queria mais ficar no sindicato. Ele queria ser diretor, mas não presidente, entendeu? Porque o que eu aguento todo dia, feirante ligando: “Posso trabalhar? Não posso? Eu vou ser punido? Eu vou ser não sei o quê, eu vou?” É complicado. A categoria tem um acesso direto com a gente, entendeu? Então, ele pegou... e como eu era da área de intendência, depois que eu saí da Polícia da Aeronáutica e era da área de intendência, mas militar da Aeronáutica, eu transcrevia atas, eu exercia aquela parte escriturária, entendeu? E aí, ele pegou e me convidou pra fazer as atas do sindicato, cuidar da papelada, tal. Aí pegou e me convidou pra ser o presidente do sindicato. “Vamos apresentar a chapa”. Ele falou: “Eu fico como tesoureiro. Você como presidente. Vamos formatar uma chapa aí”. Formatamos. Pra te falar a verdade, eu já sou presidente do sindicato desde maio, eu acho que desde maio de 1977.
P/1- Nossa!
R- É. Eu ponho os editais pra aparecer alguém pra concorrer, entende? Como não tem remuneração, é um cargo honorífico, entendeu, porque é sindicato patronal, a arrecadação é muito pequena, quase não arrecada, ninguém quer, entendeu? Eu, pra não abandonar, eu estou continuando até hoje. Essa foi a forma de ser eleito Presidente doSindicato.
P/1- Oi?
R- Pois não.
P/1- Desculpa. O senhor ia falar: “O feirante...”
R- O feirante, sendo ou não sindicalizado, o sindicato atende eles da mesma forma, entendeu? Eu não faço distinção: “Eu vou te atender porque você é sindicalizado; eu não vou atender você porque não é sindicalizado”. É todos, entendeu? Porque a partir do momento que você traz a melhoria pra um feirante, você está trazendo melhoria pra todo grupo, entendeu? Então, você não pode: eu vou ajudar esse e esse não, entendeu? Não sei se é esse o motivo que, até hoje, eu tive uma vez só, que eu tive oposição, entenddeu mas a outra chapa não foi eleita. Eu fui reeleito. E aí estou permanecendo até hoje. Preciso abandonar, pendurar a chuteira. Está na hora.
P/1- Ô, “seu” Atílio, quais seriam, assim, os desafios da categoria, assim, daqui pra frente, assim? Ainda com esse horizonte assim de a gente ter um pouco mais de pandemia, sabe-se lá quanto tempo. Mas quais seriam, assim, os horizontes? Até pensando que a feira é um comércio essencial.
R- Então, o que a gente pensa é aquilo que, acho, não só todo brasileiro, mas o mundo inteiro: é essa vacina, entendeu, conseguir atingir toda a população do mundo, tá? Não digo que esse vírus vai ser eliminado, entendeu? A gente não sabe. Os médicos, conhecedores aí da ciência, podem dizer. Então, o pensamento nosso é que essa pandemia, ela perca um pouco da forma agressiva como ela é, entendeu, pra que a gente volte a viver normalmente. Agora, o que eu te falo: o feirante, como ele é uma pessoa numa atividade sofredora, entendeu, ele já sofre, é chuva, é sol, é levantar de madrugada, é sábado, é domingo, é feriado, entendeu? Já é uma atividade, entendeu, que parece que a pessoa está calejada, entendeu? Então… E outra: uma categoria humilde, que nem eu estou te falando, ele não viaja pro exterior, entendeu? Então, aquele pouco que ele ganha, que ele sustenta a família, ou consegue estudar um filho, pra ele está bom demais, entendeu? Dificilmente você vê um feirante egoísta, ali, igual a pensar em ser rico. Rico, tem que jogar na loteria, porque de feira, eu falo: “Vocês não vão ficar, não”, entendeu? Então, é aquela história: é um trabalho honrado, entendeu, uma categoria humilde. E as dificuldades que aparecem no dia a dia, a gente vai tentando superar. E esperando que lá no futuro, entendeu, a gente tenha essa situação controlada aí, que todo mundo possa se abraçar, se beijar e voltar aquela convivência, né, muito típica do brasileiro, que é a aglomeração. O brasileiro sem aglomeração, não sobrevive. Ele não ______ (1:10:29), entendeu?
P/1- O senhor mesmo, não está fazendo as feiras, né?
R- Não.
P/1- Está sendo facultativo pros feirantes?
R- Não. O feirante, como ele é um autônomo, né, a sua atividade não tem vínculo empregatício, eles, por exemplo, o que eles têm feito é o seguinte: eles estão escolhendo as feiras que eles têm melhor movimento. Que nem: “Na segunda-feira o meu movimento é ruim, eu não vou. Na terça-feira é boa, ali na Marcondes Salgado, lá eu vou. Na quinta-feira, já não é boa”. Então, ele vai… entendeu, fazendo esse balanço aí: aqui eu ganho, aqui eu empato. Então… E dessa forma, ele vai também procurando se resguardar, né, porque lá também ele tem contato com os consumidores e esse vírus aí, você não sabe de onde ele vem, como você pode ser contaminado.
P/1- Ele está liberado, então, pra fazer essas escolhas?
R- Está. Inclusive, no nosso próprio...
P/1- Mas é nesse momento da pandemia? É nesse momento da pandemia que ele está liberado?
R- Não. Não. Sempre. E tem outra: toda pessoa tem direito a férias. Se ele precisar se ausentar... porque, por exemplo: se ele faltar quatro vezes consecutivas numa mesma feira, ele perde o ponto. Se o ponto dele é no meio da feira, ele vai pra ponta da feira, tá? Então, o que acontece? Nada obsta dele pedir um afastamento. Ele faz um requerimento endereçado ao prefeito, pedindo um afastamento por X dias, alega o motivo saúde, alguma coisa, aí a fiscalização o autoriza se afastar, sem ter as penalidades do decreto, entendeu? Então, é dessa forma que é feito.
P/1- Entendi. Porque aí não tem represália pra ninguém, né? Não pode...
R- Não. E tem mais: o verdureiro, porque tem lá, vamos dizer, dez barracas de verdura, quando ele vê um verdureiro faltar, ele fala: “Opa. Hoje eu vou aumentar a minha venda aí”. Então, quer dizer que funciona tudo...
P/1-- Hoje a venda vai ser melhor.
R- ... dentro de uma engrenagem, entendeu, que agrada todo mundo. Porque senão o próprio feirante poderia denunciar na fiscalização, falar: “Ó, o feirante do meu lado lá, que vende verdura, não está indo trabalhar. O que é?” Ele fica quietinho,ele pode vender mais no lugar daquele que faltou.
P/1- É uma certa solidariedade também.
R- Sim. Isso.
P/1- E tem alguma orientação específica pra esse tempo da pandemia, “seu” Atílio?
R- Na feira livre?
P/1- É.
R- No funcionamento da feira, eles têm que obedecer todo o protocolo de saúde, entendeu? É aquilo que falei: uso de máscara, álcool gel, distanciamento, entendeu? E o próprio transporte do feirante, ele já é individual, né? Ele não usa transporte público, onde está, acredito eu, uma das maiores, o maior local de contaminação, né? Então, ele vai com a esposa. Normalmente, trabalha marido e mulher na feira, entendeu? Alguns têm a barraca maior, que tem dois, três funcionários lá, né? A grande parte é ele, a esposa, o filho ou uma filha, entende? Então, o que que acontece? Eles usando o protocolo da saúde como está sendo determinado, entendeu, eles a chance de se contaminar é muito pequena. Acredito eu.
P/1- Maravilha. Ô “seu” Atílio, assim, o senhor conhece, frequenta a estrutura do Sesc, do Senac? O senhor tinha comentado alguma coisa do Senac, né?
R- É. Eu sou conselheiro do Senac, né? E o Sesc aqui de Ribeirão, com o Mauro, aqui, nós temos uma aproximação muito grande, né? E a Josineide, que é do Senac. Como é um pouco distante pra mim, nessa… Eu quase tenho pouco contato com ela, lá. Mas com o Mauro do Sesc, entendeu, com Bertioga, principalmente, que a gente tem nossos eventos lá, que agora, né. parou, né? O Marcão lá é um grande amigo nosso. O Marcão, quando eu levava os meus meninos pequenos, ainda que eram crianças, o Marcão é que cuidava da meninada, entendeu, na época. Hoje é o diretor da colônia. Você vê como é? Ele monitorava as crianças, fazia acampamento no ginásio lá, entendeu? E hoje... e os meus filhos, quando o vê ele, vão todos conversar, né? Então, uma frequência como o Sesc e o Senac, né, são duas entidades dignas de elogios, só. Eu posso falar isso. Esse momento, o Sesc, com o seu cunho social. E o Senac com o seu serviço de aprendizagem.
P/1- É.
R- E hoje, o ser humano que não tiver uma qualificação, se não tem condição de uma faculdade, ele precisa ter uma qualificação, senão a sobrevivência, hoje, fica difícil.
P/1- É. Ô, “seu” Atílio, em Ribeirão tem essa estrutura de Ceasa e Ceagesp?
R- Tem. Nós temos o Ceasa, que fica na Rodovia Anhanguera, fora da cidade, entendeu? E onde os feirantes se abastecem. E temos também aqui, praticamente na baixada aqui da cidade, um centro também ali, onde se aglutinam pequenos produtores, que vendem pros feirantes. Porque o Ceasa tem uma série de exigências, tem pagamentos de taxas, tem um monte... tem uns horários que, às vezes, não combinam com o feirante, pra ele comprar e ir pra feira. E tem esse local aqui, entendeu, que a turma chama de Ceasinha, que não tem vínculo com o outro lá. Apenas criaram um espaço, onde esses pequenos produtores vêm e fornecem pros pequenos quitandeiros, pros feirantes e ambulantes, na parte de hortifrutigranjeiro, entendeu? Além de facilitar pela distância, facilita na economia de combustível e nas taxas que são cobradas dentro do Ceasa, entendeu? Então, isso facilita a vida, principalmente nossa, né, do feirante.
P/1- Tem algum lugar assim, que o público, em geral, possa frequentar, nessas estruturas?
R- Então, tem gente... você fala pra ir lá e fazer compra?
P/1- É. Ou comprar algumas plantas, fazer uns jardins.
R- Então, no Ceasa tem muitas pessoas que vão no Ceasa e fazem essas compras, entendeu? Porque lá tem o livre acesso, né? E a parte de planta, principalmente nesse Ceasa, que fica em Anhanguera. Lá tem a parte de flores. Nós tínhamos anteriormente, plantas e flor, com mudas, na feira. Hoje não temos mais, entendeu? Aí as pessoas que querem se abastecer... mas aqui em Cravinhos também, na chegada de Cravinhos, ali, nós temos uma flora, alí também que é muito boa. Então tem. Ribeirão Preto tem ligação pra o que a pessoa precisar comprar nesse tipo de coisa, tem.
P/1- Maravilha. O senhor conhece, tem participação naquele projeto Mesa Brasil, do Sesc?
R- Se eu tenho conhecimento?
P/1- É. Do Mesa Brasil.
R- É, eu lembro, na época, quando houve esse movimento todo, entendeu? Agora, ultimamente, eu não...
P/1- Está meio parado, né? Maravilha.
R- É. Precisa ver com Mauro se ele quer reativar isso aí, a gente dá um apoio, né? Foi boa a ideia que você deu aí. Eu vou falar com o Mauro. Eu vou falar: “Mauro, como é que está a situação aí? Se precisar, a gente começa a fazer, ainda mais agora”.
P/1- É.
R- Ainda mais agora. Agora, com cesta básica sendo distribuída. Porque, se a gente não alimentar os nossos irmãos aí de situação, eu acho que não vai ficar boa a coisa, não.
P/1- É, né? Eu acho que é uma boa hora pra reativar.
R- A hora que nós vamos ver saque em supermercado ou até em feira livre, até… entendeu? Porque a fome, o pai vê o filho passando falta em casa... nós temos que socorrer esse pessoal.
P/1- Ô, “seu” Atílio, e hoje, o senhor está no Sintec, né? Não é no sindicato. O senhor está no Sintec. Eu queria que o senhor explicasse pra gente o que é o Sintec, qual é o trabalho que o senhor faz aí?
R- Então, essa Sintec é uma lei federal, 9958, que ela foi instituída no ano de 2000. O que foi, na época? As federações do comércio, por intermédio da confederação, a CNC, apresentaram um projeto, pra criar um sistema que atendesse capital de trabalho na área trabalhista. O que seria? Que fundasse essas comissões de conciliação prévia, certo, seguindo essa lei 9958. Quando houvesse um prejuízo pro trabalhador, na área de salário ou de seus vencimentos, que essa câmara, que é a nossa, que a logomarca da Fecomércio é Câmara Intersindical de Conciliação Trabalhista, apreciassem esses processos, tentando um acordo. Que seria: a pessoa vem na Sintec, pleiteia o direito trabalhista dela, a gente intima a empresa pra comparecer. A empresa vem, com todos acompanhados de advogados, fazemos um ato solene, que seria uma audiência conciliatória, certo? E ali faríamos a negociação. A Sintec tem conciliador patronal, conciliador de empregado. Quer dizer: é uma representação paritária, pra que nenhum dos lados fique prejudicado. Apesar que eles vêm com advogado, entendeu? Então, o que a gente faz? A gente vai discutindo: “Olha, eu quero X pro acordo”. O patrão fala: “Não, te dou Y. Não. Eu não posso dar isso” “Ah, mas parcelamento eu não quero”. Então, a função dos conciliadores é aproximar as partes: “Olha, se for com o judiciário trabalhista, vai demorar dois, três anos. Depois tem recurso, cinco anos, dez anos. Por que você não aceita esse valor garantido, agora? A empresa, amanhã, pode falir, entendeu? E o empregado, você pode falecer”. A gente vai fazendo todas as colocações, entendeu? Aí, se o acordo for aceito, a gente lavra um termo, tá. Eu não sei se dá pra ver aqui. O processo é dessa forma que é elaborado, certo, com as partes sendo qualificadas e os pedidos. É um processo, chama-se, entendeu? Aí, se o acordo prosperar aqui, a gente lavra um termo, todo mundo vai assinar esse termo, _______ (1:21:43), entendeu? Aí, não tem mais fase de recurso, não tem nada. Caso não seja aceito o acordo, nós lavramos o termo de conciliação frustrada e o empregado, com o seu advogado, encaminha pro Judiciário, entendeu? Então, foi uma forma que encontrou-se para que o capital do trabalho resolvesse as suas pendências, sem aquela presença do juiz, aquela pressão toda, entendeu? Que nem eu falei: eu fui juiz classista lá, eu sei como é uma audiência na Justiça do Trabalho, entendeu? E, às vezes, o próprio juiz, com muito processo, ele não se dedica um tempo maior pra conciliar. Agora, aqui não. Aqui, a gente tenta e fala: “Não dá hoje? Quer adiar, pra pensar?”. A gente adia pro outro dia, pras pessoas pensarem, entendeu? Então, ela já chama: é uma câmara conciliatória, entendeu? E a gente consegue resolver muitos processos aqui. Desafoga o Judiciário. O empregado já vai cuidar da sua vida, mais rapidamente. E a empresa já fica livre de qualquer encargo, pra continuar a sua atividade.
P/1- Entendi. E, assim, teria mais alguma coisa que o senhor gostaria de falar, que a gente não tenha perguntado, “seu” Atílio?
R- Eu acredito que não, entendeu? Porque a gente falou já, desde a época da minha infância, veio… entendeu? Fomos indo...
P/2- Eu gostaria de perguntar sobre, não agora em momento de pandemia, né, mas até tipo, no caso, serve pra algo mais em casa, né: o que que o senhor gosta de fazer nas horas vagas, “seu” Atílio? O que o senhor gostava, por exemplo, anterior a pandemia? O senhor gostava de ir ao parque, ficar com os filhos, com a esposa? O que o senhor gostava de fazer, assim, pra se distrair?
R- Bom, pra te falar a verdade, eu tenho um rancho na beira do Rio Pardo, aqui em Serrana. Já há muitos anos que eu tenho, esse rancho lá, entendeu? E eu e a minha esposa adoramos pescaria, certo? E os filhos adoram fazer churrasco. Então, o que a gente fazia? Agora a gente já deu uma restringida. Nos finais de semana pegava todo mundo aqui, carne, cerveja, tal e íamos pra esse rancho aqui, que fica a quarenta quilômetros de Ribeirão. Lá tem… é um condomínio, com água encanada, com energia elétrica, residência, tudo, entendeu? Churrasqueira... O rio, logo na cerca do rancho, assim,
P/2- Que gostoso.
R- … você desce assim, tem a prancha pra descer com canoa, tudo. Só que eu não pesco de canoa. Eu e a minha mulher costumamos ficar no barranco. Temos iluminação que vai até a beira, a barranca do rio. Chega lá, acendo a lâmpada. E a gente fica até nove, dez horas, tomando uma cervejinha e pescando, eu e ela, entendeu?
P/2- Que gostoso!
R- Então é essa... como que fala, assim?... o lazer nosso, entendeu? Antes da pandemia. Agora, ainda mais com a pandemia, entendeu? É praticamente isolado, porque lá é todo arborizado, com pés de fruta, sombra, entendeu? E o rio, ali, tem quase cem metros de largura. Você fica na churrasqueira ali, vendo a água descendo assim, trinta, quarenta metros abaixo. Então, é isso aí. Antes eu gostava de jogar uma bolinha, tal. Mas hoje, se eu correr daqui à esquina, eu preciso de um balão de oxigênio. (risos) Então, é ficar sentado pescando. Está certo?
P/1- Maravilha. Tem mais alguma pergunta, Daiana?
P/2- Não. Era isso mesmo.
P/1- Então, “seu “Atílio, pra gente terminar, tem uma pergunta que a gente faz pra todo mundo. Muitas perguntas a gente faz pra todo mundo, mas essa é uma pergunta especial pra encerrar: o que o senhor achou de ter passado esse tempo com a gente, falando da sua história, da sua trajetória pessoal, da sua trajetória no comércio? Né? Que não é uma entrevista jornalística, é uma entrevista de história de vida. Como o senhor vê esse processo todo de deixar a sua trajetória registrada pro Museu da Pessoa?
R- Então, foi gratificante, entendeu? Foi prazeroso, tá? Principalmente com as novas entrevistadoras, entendeu? E é o Caio que está dando um apoio técnico aí, né? Eu também parabenizo pelo trabalho. E isso que vocês fizeram comigo, entendeu, foi relembrar um passado feliz, pra mim. Porque a parte ruim a gente esquece, tem que esquecer. Então, a gente lembra a parte boa. O que vocês fizeram comigo, agora, foi voltar lá na época que eu tinha nove, dez anos, entendeu, até hoje. Hoje eu estou com setenta e dois anos, faço em abril setenta e três, tá? Graças a Deus ainda estou em forma, assim, em termos, né, pela idade. E aquilo que vocês estão fazendo atinente ao comércio, eu sobrevivi praticamente, a maior parte da minha vida, de comércio, entendeu? E o comércio não é pra qualquer um, não, viu? O comércio é uma ciência, o comércio é uma arte. Não é qualquer um que se apresenta pra exercer uma atividade comercial, que ele vai ficar muito tempo, não. Hoje, vocês veem as estatísticas das empresas que abrem e que fecham, qual o seu tempo de vida, entendeu? Então, eu achei no comércio aquilo que eu gostei de fazer. Vocês vêm, eu deixar as fileiras da Força Aérea, pra ingressar numa feira livre, levantar de madrugada, com chuva, sol, tal? Então, pra mim, o comércio, entendeu? sustentou e formou meus filhos. Então, eu só tenho que agradecer, entendeu? Colocar, realmente, que o trabalho de vocês, entendeu, ele tem que ser bem-visto, tem que ser elogiado, tá? Então, pra vocês aqui, fica um grande abraço, tá? Eu fico até emocionado em dizer, entendeu. E caso vocês necessitem mais alguma coisa, eu estou sempre à disposição, tá bom? Claudia, Daiana, Caio, entendeu? Precisou, estou à disposição a qualquer momento.
P/1- Obrigada, “seu” Atílio.
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