R – Tudo bom, Genivaldo?
P1 – Tudo bem. Vamos começar, então, com a pergunta básica, mais simples: gostaria que você me informasse o seu nome completo, a sua data de nascimento e a cidade onde você nasceu.
R – Meu nome é Poliana Magalhães Reis Nakao, né, sou de Santa Rita d...Continuar leitura
R – Tudo bom, Genivaldo?
P1 – Tudo bem. Vamos começar, então, com a pergunta básica, mais simples: gostaria que você me informasse o seu nome completo, a sua data de nascimento e a cidade onde você nasceu.
R – Meu nome é Poliana Magalhães Reis Nakao, né, sou de Santa Rita do Sapucaí (MG) e nasci em 14 de dezembro de 1982.
P1 – Qual o nome dos seus pais, Poliana?
R – Meu pai [se] chama Valdir Reis e minha mãe, Maria Aparecida de Magalhães Reis.
P1 – Qual [a] ocupação dos seus pais?
R – Meu pai é engenheiro eletricista e minha mãe é professora, já aposentou.
P1 – Você tem irmãos?
R – Tenho uma irmã.
P1 – Mais nova ou mais velha?
R – Mais velha, dois anos.
P1 – Certo. Então, vamos começar a conversar um pouquinho lá na sua infância. Você se lembra da casa ou apartamento em que passou a sua infância?
R – Lembro sim, é... (risos)
P1 – Conta um pouquinho para gente como era.
R – Tá bom. Ah, era uma casa que tinha três quartos: morava eu, meu pai, minha mãe, minha irmã e minha avó, que era mãe do meu pai. Eu dividia o quarto com a minha irmã. E ficava no interior de Minas, em uma cidade pequena, que é onde eu nasci, Santa Rita do Sapucaí, mas apesar de ser uma cidade bem pequenininha, ela tem bastante desenvolvimento na área de tecnologia. Então, ela tem faculdades lá, tem escolas técnicas. E mais um pouquinho sobre a minha casa, né, era... Bom, era isso: era uma casa simples, assim, nada demais e foi lá onde eu passei a maior parte da minha vida.
P1 – E do que você gostava de brincar, quando você era criança, Poliana?
R – Eu gostava de brincar com as crianças na rua, que moravam do lado da minha casa, né? A gente tinha uma rua lá, que formava um bequinho, onde a gente brincava de pega-pega, esconde-esconde, queimada, de bola... Deixa eu ver o que mais que eu costumava brincar… Até de... Até soltava pipa e bolinha de gude, junto com os meninos (risos) também. Era isso.
P1 – Você gostava que contassem histórias para você?
R – Gostava sim. Eu lembro algumas vezes, né, que meus pais contaram histórias, mas não lembro que foram muitas.
P1 – Você tinha algum sonho de infância, nessa época, Poliana?
R – De infância? Sim, de alguma coisa profissional, alguma coisa que eu gostasse? Meu pai, todo domingo, a gente ia na missa e depois da missa, ele comprava jornal. Eu sempre pegava o jornal na parte de ciências e eu gostava de coisas que envolviam corpo humano, (risos) biologia… Nada a ver com o que eu faço hoje, né? (risos) Eu achava muito interessante a parte de ciências e era até engraçado, porque na escola era a matéria que eu ia melhor, de Ciências.
P1 – Aproveitando o seu gancho sobre a sua vida escolar: qual a primeira lembrança que você tem de ir para a escola?
R – Eu lembro no prezinho, né? Não sei como chama hoje, que eu sei que mudou tudo, todos os nomes. (risos) Era o pré de seis, que você ia com seis anos. Eu lembro da gente sentar com os coleguinhas na mesa, de levar o lanche, de tomar o lanche junto com os coleguinhas, que a gente brincava na hora do recreio. Eu estudei, era uma escola pública, mas apesar de ser pública, era muito bem organizada e os professores também eram muito legais. Então, eu estudei lá até a quarta série e a gente... Era bem gostoso. Tinha hora do lanche, né, que a gente tinha a merenda da escola ali, que a gente falava: “Ah, é a hora da sopa”. Tinha dia que era sopa, tinha dia que era outra comida. (risos) Eu tenho essa lembrança.
P1 – E quando você se mudou de escola, a partir da quinta série, foi para alguma escola mais longe?
R – Então, essa escola era só até a quarta série que tinha. O outra escola também era escola pública, que foi da quinta à oitava série. Era um pouco mais longe, mas, em Santa Rita, é uma cidade muito pequena. Tem trinta mil habitantes, né, já falei, e as coisas não são muito longes, né, para mim. Pelo menos, era assim, mais ou menos perto. Mas era bem diferente, porque era uma escola, antes, que só ia criança e tinha a hora da aula de educação física. E aí, depois, você vai para essa escola, onde tem o pessoal mais velho e é um pouco diferente. Ficou um pouquinho mais longe, mas eu tinha as vizinhas que moravam perto e a gente sempre ia juntas. Então, eu passava na casa das minhas amigas (risos) e ia com elas para a escola.
P1 –
E teve, nesse período, algum professor que te marcou ou alguma matéria que marcou até hoje?
R – Olha, desse período... Professor... A minha mãe era professora, né, e eu fiz a segunda série com ela. (risos) Ela foi minha professora e era mais exigente comigo do que com os outros colegas. (risos) Então, ela foi uma professora que marcou, né, e eu tive outras professoras também, na quarta e na quinta série, que eu gostei bastante, mas a minha maior memória mesmo foi dos professores mais recentes. Assim, não tão recentes, mas depois, ali, na época mais da faculdade, acho que me... Que eu tive um pouco mais de contato, assim, que mais me marcaram.
P1 –
Passando e avançando um pouco da sua vida escolar: no ensino médio, você mudou de escola de novo?
R – Uhum. Aí, no ensino médio, eu fui fazer escola técnica e fui para outra escola, que é a ETE FMC (Escola Técnica de Eletrônica), lá em Santa Rita, e era uma escola onde a gente tinha aula de manhã. De tarde e à noite, a gente tinha alguns laboratórios para fazer um projeto, que apresentava no final do ano. Então, exigia bastante dedicação e, assim, no começo, para mim foi um pouco difícil, que eu tive que estudar bastante para conseguir acompanhar o ritmo da escola, mas foi desafiador. No primeiro ano, eu fiquei em três recuperações e lembro que peguei... Eu lembro que foi Física, (risos) Inglês e Literatura. E eu estudava muito, né, para não repetir de ano, porque antes não era dependência: você repetia, tinha que repetir o ano inteiro. E a minha mãe falou: “Não tem problema. Filha, se você repetir de ano, não tem problema, a gente dá um jeito e tal”, mas eu não queria repetir, né? Então, a minha mãe ficou até com dó de mim, de tanto que eu estudava ali, para passar, (risos) mas aí eu consegui passar e nos outros anos eu nem fiquei de recuperação, consegui pegar o jeito ali da escola e seguir bem ali o...
P1 – E que curso você fez, nesse técnico?
R – Eu fiz técnico de eletrônica, era... É o curso técnico de eletrônica, então tinha... Além de ser o curso técnico, era o técnico e médio junto. Então, tinha as matérias também de História, Geografia e as matérias técnicas, por isso que estudava dois períodos, né? E aí [entre] as matérias técnicas, tinha: eletricidade, eletrônica, computação - que [foi] ali que eu comecei a ter o primeiro contato com computação, que é o que eu trabalho hoje, né? Apesar de não ser formada, minha principal formação não é nela, (risos) nessa área.
P1 – Nessa época de adolescência, quando você tinha algum tempinho livre, que não era para estudar, o que você gostava de fazer?
R – Ah, eu gostava muito de conversar com as pessoas. Então, eu tinha alguns amigos, né, lembro que tinha alguns amigos… De novo, era ali a ETE já era um pouco... Era bem mais longe que as outras escolas. A gente andava, assim, eu ia caminhando normalmente e, às vezes, meu pai me levava, mas, normalmente, eu ia com os meus colegas e a gente gastava uma meia hora caminhando. E aí eu gostava muito de conversar com eles, né, a gente... Às vezes, à noite, assim, eu gostava de tocar violão também, com as minhas amigas, né? Mas, no curso técnico, eu comecei a ter mais amigos do que amigas. Antes, até o ensino médio, eu tinha mais amigas meninas, né? Depois, eu comecei a ter mais amigos e eu gostava disso, da gente conversar, jogar vôlei, às vezes, em algum intervalo, apesar de eu não ser boa no vôlei. (risos) E ouvir música, nossa, eu sempre amei ouvir música! Todos os estilos de música, eu gostava muito. E aí eu tentava ouvir e escrever, e quando era em inglês, que eu não entendia, eu tentava escrever para decorar, para aprender a cantar a música.
P1 – Nessa época de ensino técnico, você já pensava o que você ia fazer de curso superior?
R – Eu pensava, mas não queria ir muito para a área técnica. Queria ir para área de saúde, que aí, no entanto, quando eu terminei, eu pensei em fazer a área de... Eu queria fazer alguma coisa que cuidasse das pessoas: Fisioterapia ou alguma Medicina. Eu via até que tinha umas Medicinas integrativas novas, assim, que cuidassem das pessoas, mas não tinha nenhuma faculdade próxima para mim dessa, disso, né? E aí, por isso, eu resolvi fazer Engenharia, mas até agradeço hoje, assim, de ter ido para essa área. (risos) Porque eu entendo mais essa parte de saúde, que é uma coisa que eu me interesso muito, mas como um “hobby”. E na parte da tecnologia, é um trabalho que eu fico muito satisfeita no dia a dia, ali, com o que eu faço.
P1 – E uma coisa que eu não perguntei sobre a sua família: os seus pais são de Minas mesmo ou eles vieram de algum outro local?
R – A minha mãe é de Santa Rita mesmo, na cidade que eu nasci, e meu pai veio de Cambuquira, que também é Minas, mas é outra cidade. Ele foi para lá para estudar, porque lá em Santa Rita tem uma faculdade, que é a faculdade onde eu estudei, o Inatel, o Instituto Nacional de Telecomunicações. E aí meu pai foi estudar lá, conheceu a minha mãe e casou. (risos)
P1 – Me conta como foi essa época, então, de vestibular. Você já foi direto do ensino técnico, já prestou e entrou?
R – Não.
P1 – Conta como foi essa fase.
R – Primeiro, depois que você [se] forma [na] ETE, tem que fazer um ano de estágio para você formar, né? Então, eu fiz os três anos e fiquei um ano fazendo estágio. Eu fiz estágio na Telemar, onde eu aprendi [a] instalar fibra ótica, tinha... Foi muito interessante essa época, porque eu acompanhei o pessoal que trabalhava lá também, que instalavam os telefones nos postes. Foi bem legal, mas aí, depois disso, eu, para entrar na faculdade, fiquei um pouco na dúvida do que eu faria. Então, até fiz alguns vestibulares nas cidades próximas da minha casa, mais voltadas para saúde e cheguei a passar no vestibular, mas não estava muito certa disso também, que era algo que eu queria, para sair de casa também. E meus pais também me achavam muito nova para sair de casa, né? (risos) Era... Eles eram um pouco controladores, assim. E aí tinha faculdade, lá na minha cidade, de Administração, de Computação e de Engenharia e eu preferi fazer a de Engenharia, eu escolhi lá para... Entre essas três opções, a que mais me agradava era Engenharia. Mas, quando eu entrei na faculdade, - o meu pai é engenheiro elétrico e mexe com coisas de alta potência e eu não gostava disso -, falei: “Eu quero encontrar alguma coisa aqui, dentro da Engenharia, que eu goste mais do que essa parte de alta potência”. Então, foi aí, desde o primeiro ano, que eu comecei a me interessar mais por Computação. Eu tive um professor… - Aí entra naquela sua outra pergunta: “Algum professor que se destacou”. - (risos) No primeiro ano, que foi o professor Inoguti, deu aula de algoritmos. E aí foi aonde que eu falei: “É isso, assim, que eu gostaria de fazer. Eu quero aprender a construir jogos”. E aí eu fui conversar com ele, né? Aí ele falou: “Não, para você aprender jogos, você precisa estudar inteligência artificial, não sei o que e tal”. Aí eu peguei um livro na biblioteca da faculdade e comecei a estudar. E aí eu fui conversar com ele e ele me chamou, falou: “Você não quer fazer um programa de... Participar de um programa de iniciação científica?”. E eu comecei a participar desse programa, junto com ele, em paralelo à faculdade. Então, eu fazia as matérias da faculdade lá, mas meu, (risos) o que eu mais gostava aí era da iniciação científica. E aí foi bem interessante, que ele foi me ajudando [a] entrar nessa área. Então, eu tive outras matérias de computação na faculdade, mas o principal ali veio da iniciação científica. Aí eu comecei uma iniciação científica [sobre] inteligência artificial e ele falou: “Vamos fazer um projetinho, para reconhecer a palavra: abre e fecha”. Então, você falava “abre” e “fecha”. Então, tinha... Eu comecei a estudar redes neurais, aí tinha que falar “abre” várias vezes, para o computador começar a aprender que “abre” significa: “abre”, né? E aí eu fiz um programinha, uma rede neural em um programa que [se] chama Matlab. E aí a gente, com esse projeto que eu fiz junto com ele, ele me ajudou a escrever um artigo, aí foi um artigo que foi até publicado no IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos), né, que é um instituto reconhecido aí, e beleza. Mas, em paralelo a isso, (risos) eu gostava de fazer muita coisa, né? (risos) Eu entrei também para ser monitora na escola, que a minha irmã também fazia a mesma faculdade que eu, mas ela estava dois anos na minha frente e ela era monitora de desenho técnico, que era uns programas que ensinam você desenhar alguns desenhos técnicos, né? Tinha o Microsoft Visio, o PCB Elegance. E aí abriu uma vaga para trabalhar junto com ela, que o outro monitor ia sair. Eu fiz a prova e passei. Ela era uma excelente monitora, assim, né? E aí, quando... Aí eu comecei a ser monitora também e dei monitoria para a minha própria turma. Então, desde o primeiro período, eu já consegui a monitoria e era bom que ganhava um dinheirinho ali, tinha um... Você ganhava, eu não lembro se eram cem ou duzentos reais e era bom. (risos) Eu gostava desse dinheiro, assim, porque os meus pais não me davam mesada, né? Era assim: eles pagavam a minha faculdade, porque era uma faculdade particular, mas aí eu ganhava o meu dinheiro, da monitoria. E, se eu não me engano... Não, acho que era esse... Nossa, aí se eu for falar, eu não sei se posso falar ou vocês me perguntarem, Genivaldo. (risos)
P1 – Pode continuar falando. Eu ia fazer só uma perguntinha em relação a isso. Aí a gente continua.
R – Pode falar.
P1 – Qual foi a primeira coisa que você fez, com o primeiro dinheiro que você ganhou?
R – Ah, mas isso eu lembro da infância, porque nas férias eu ajudava o meu pai. Ele tem uma pequena empresa de eletrônica, né? Então, nas férias, ele me chamava para ajudar lá e me dava um dinheiro. (risos) A primeira coisa que eu comprei foi uma nhoqueira para minha mãe (risos) fazer nhoque. (risos) Eu fui no supermercado e sabe aquelas nhoqueiras que você põe em cima da panela e começa a cair os nhoques? Agora, lá na faculdade, eu não lembro a primeira coisa que eu fiz com o dinheiro, mas acho que era comer lanche na escola. Acho que era essas coisas assim que eu gostava de fazer. E eu lembro também que eu comprei um patins. (risos) Foi isso.
P1 – Está vendo? Você lembrou.
R – É. (risos)
P1 – Mas me conta um pouco mais sobre esse período como monitora. Como isso foi, como você foi evoluindo?
R – Aí eu era... Eu fazia... Eu era monitora e fazia iniciação científica. E aí, ao longo, foi passando a faculdade, eu fui aprendendo mais computação e aí já estava claro para mim que eu queria trabalhar com computação, que eu não queria ir para a parte de engenharia elétrica ou telecomunicações, que é a ênfase da minha faculdade de Telecomunicações. Eu queria era computação. E aí, na faculdade, tinha um Centro de Competências lá, que é o “Competence Center”, onde é como se fosse uma empresa que presta serviços para outras empresas. Então, eles estavam contratando alunos, estagiários lá, para começar a trabalhar e eu já estava no final da minha iniciação científica, né? Se eu não me engano, eu fiz dois anos de iniciação científica e aí eu conversei com o meu professor, né, que aí eu iria parar a iniciação científica, no final do segundo ano. E aí eu tentei entrar no “Competence Center” e consegui. Lá, eu entrei e comecei a aprender a trabalhar com testes de “software”. Então, alguém desenvolvia e eu ajudava com os testes, mas era uma coisa que estava começando ainda. Outra coisa também que estava começando e eu lembro também que a gente teve a matéria, era Orientação Objeto. Antigamente, as programações eram, usavam mais programações estruturadas como C, né? E depois veio a Orientação Objeto e o Java e mudou totalmente a forma de você ver a computação. Então, eu comecei a aprender mais, lá no “Competence Center”. Então, eu fiquei lá acho que foi no penúltimo, quarto ano da faculdade. No quarto ano, eu fiquei trabalhando lá e, em paralelo, fazia as aulas. Lá que eu tive maior contato. E aí, trabalhando lá, tinha uma menina que trabalhou comigo, que saiu de lá e foi para São José dos Campos (SP), no Inpe - Instituto de Pesquisas Espaciais, né, e ela falou: “Poliana, tem uma vaga aqui para trabalhar com testes de ‘software’, no ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, você não quer tentar?”. E aí, eu já estava próxima para procurar um estágio, ia para o quinto ano e o quinto ano você tem que procurar estágio, aí eu falei: “Nossa, eu gostaria muito, né?”. E aí eu fiquei pensando: “Nossa, mas meus pais, não sei se vão deixar”, porque os meus pais eram muito... (risos) Me queriam por muito perto. Só que a minha irmã tinha se casado, tinha se formado e também estava morando em São José dos Campos, aí eu falei: “Então, já é um fator que vai me ajudar”. E o segundo caso era que era no ITA, eu falei: “Gente, se eu passar em alguma coisa no ITA, meu pai tem que deixar eu ir, né?”. (risos) E foi o que aconteceu: eu consegui passar . E aí era um projeto, na verdade, do governo, né, [que se] chamava Projeto Harpia, para encontrar sonegadores de impostos na importação. Então, era um projeto de inteligência artificial e aí era a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), junto com o ITA, que desenvolviam esse projeto para o governo. Então, eu trabalhei lá, comecei como teste de “software” e depois passei para o time de desenvolvimento, para ajudar a desenvolver a solução ali. E aí, não sei, tem alguma pergunta? Não sei como que a gente faz. (risos)
P1 – Não, pode continuar. Conta como foi esse período que você trabalhou no ITA, então, se seus pais aceitaram, se foi tudo ok.
R – Sim. Aí fui, eles aceitaram, né? Fui para lá. No começo, fiquei com a minha irmã. Depois, eu encontrei um lugar para eu morar com uma amiga. E era assim: a gente tinha aula três dias na semana, em Santa Rita e aí, lá, no ITA. Eu falei: “Eu consigo meio período. Só que, ao invés de ser vinte horas, quatro horas todo dia, vai precisar ser três dias aqui”. Então, eu tinha aula segunda-feira e terça-feira. Aí terça-feira à noite, eu pegava o ônibus e ia para São José. Eu trabalhava lá quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira. Sexta-feira à noite, eu pegava o ônibus para Santa Rita, porque eu tinha aula no sábado. (risos) Então, ficou super corrido, foi super corrido nessa época que eu trabalhei lá. E, assim, eu lembro que o que eu ganhava dava para pagar ali onde eu morava e o transporte. (risos) Só, assim. Era isso, né? Mas foi muito legal. E ali foi onde eu aprendi muito mais, né, que foi a minha primeira experiência com desenvolvimento, mesmo. Então, eu aprendi Java, aprendi as tecnologias que, já na época, começaram a usar, porque a equipe que eu trabalhei era muito boa. Então, todo mundo que eu trabalhei, ali, na época, eram muito bons. Então, já usavam, né, os “tracks” da época: Hibernate, Spring, são tecnologias. Por exemplo: Spring e o Hibernate usam até hoje, né? E aí foi... E assim: foi a primeira experiência de morar fora, longe dos pais, e aí eu estava [me] formando. Então, aí eu morei lá e, em um ano, eu [me] formei e pude ficar lá. Não precisava ir toda semana. Então, eu comecei a voltar para visitar os meus pais uma vez por mês, para visitá-los, ao invés de toda semana, que era muito cansativo, né? Aí, de lá... Só que assim: como era um projeto do governo, todo ano tinha que verificar se o governo ia renovar a verba, para ter de novo o projeto, a cada ano. Eu não conseguia fazer um plano, né, para ver mais a longo prazo. Então, eu resolvi procurar um trabalho um pouco mais estável e aí eu vim para São Paulo (SP), passei para trabalhar na NEC. A NEC é uma multinacional japonesa, é mais conhecida no Japão. No Brasil, não são muitas [as] pessoas que conhecem. Quem mais conhece é o pessoal que trabalha com telecomunicação, que ela é mais envolvida com telecomunicações. Mas, no Japão, tem até televisão da NEC. (risos) Então, é uma empresa grande. E aí eu fui trabalhar na NEC e lá, no ITA, eu estava como programadora. Aí, na NEC, eu entrei como analista e para mim era um desafio. (risos) Por mais que seja uma mudança ali na nomenclatura do cargo, as minhas responsabilidades também eram um pouco maiores, porque, além de eu desenvolver lá na NEC, eu tinha que entender os requisitos, desenhar o que ia ser necessário, desenvolver, testar, entregar aquilo e manter, né? Então, eram mais responsabilidades. Foi um grande desafio para mim. E aí, o que eu pensei quando eu vim para cá? Quando eu fui para São José, muita gente aproveitou já que estava lá e começou a fazer uma especialização: um mestrado, uma pós. E, como eu tinha acabado de terminar a faculdade e vindo de uma iniciação científica, eu falei: “Ah, eu quero um ano sem estudar, quero parar. Vou ficar só trabalhando e depois eu penso nisso”. E aí eu tinha ficado dois anos lá em São José. Vim para São Paulo e pensei: “Ah, agora eu já posso pensar em estudar mais alguma coisa”, aí eu vi alguns cursos (risos) e achava tudo muito caro. Então, eu falei: “Eu vou procurar alguma coisa gratuita, mas que também seja muito boa, assim, né, que tenha um conteúdo muito bom. E eu quero também aprender alguma coisa para me especializar em computação”. Então, a minha formação era Engenharia Elétrica, não tinha formação nenhuma em computação. O que eu aprendi de computação foram algumas matérias que eu tive na faculdade. A parte prática também, ali, nos meus trabalhos. Aí eu fui atrás para entender como que eu fazia para entrar em um mestrado na USP (Universidade de São Paulo) e acabei conseguindo entrar lá. Me ajudou também o fato de eu ter publicado artigos, de ter feito iniciação científica, né, das notas da faculdade serem boas. Então, precisava de carta de recomendação dos professores, que me deram também. Consegui entrar em um mestrado na USP e aí foi um desafio também, porque você vindo de uma cidade de trinta mil habitantes para São Paulo, você fala: “Gente, como que eu sobrevivo aqui, né?”. (risos) Então, a primeira coisa que eu fiz… Eu falei: “Vou morar, tentar morar perto de onde eu trabalho, pelo menos no começo”. Então, eu consegui morar perto ali, morava com uma amiga, perto de onde eu trabalhava. Segundo: quando eu passei na USP, eu não sabia nem como andava de ônibus aqui, como que... Era tudo muito longe, né? Depois tinha que entrar na Cidade Universitária e eu não sabia nem onde descer lá. E aí, outro desafio que eu tive foi, na época que eu estava trabalhando, fui falar com meu chefe. Quando eu tinha passado, eu falei - eu lembro [que] falei com meu chefe -: “Olha, eu passei, eu queria muito fazer, mas as aulas são no horário do trabalho, assim”. Tinha… Eu teria que sair uns dois dias para ir fazer a aula, aí eu falei: “Mas eu posso voltar e depois eu fico até um pouco mais tarde, né?”. E foi super tranquilo! Aí ele apoiou, né, falou: “Não, você tem que fazer isso mesmo e tal”. Aí eu fui levando as duas em paralelo, só que aí eu falei assim: “Eu vou pegar só uma matéria, para não sobrecarregar tanto o trabalho” e aí eu comecei a fazer uma matéria em paralelo com o trabalho, mas eu achava assim... Parece que foi quando eu saí da escola e fui para a escola técnica, que eu tive um baque ali, que eu vou ter que estudar mais. Parece que foi outro baque quando eu entrei ali no mestrado, eu falei: “Gente, eu tenho que estudar mais do que eu já estudo ali, para conseguir passar ali, porque (risos) era complicado”. Eu achava complicado, né? Então, aí eu comecei a estudar, passei na matéria e encontrei um orientador. Fui conhecer o orientador, né, que me ajudou a escolher o tema do mestrado e tal. E aí, então, eu entrei de férias um ano e meio depois, mais ou menos, e nas férias, eu recebi... Foi em 2008? Foi na crise das telecomunicações, que várias empresas de telecomunicações estavam demitindo, que tinham fechado a minha área. E aí que, quando eu voltasse de férias, eu ia ter uma surpresa: não ia estar o pessoal lá. Então, foi onde eu decidi que então eu vou fazer o seguinte: “Nesse próximo período, eu vou ficar com a rescisão e o seguro-desemprego que a gente tem e vou puxar todas as matérias que faltam. - Faltavam três matérias. - E aí eu já termino e depois que eu terminar a matéria, vai faltar só o trabalho final, que é a dissertação. E aí eu consigo fazer a dissertação junto com o outro trabalho”, né? Então, foi isso que eu fiz: aí eu peguei seis meses, foquei nas disciplinas. Foi muito bom ter feito isso, porque eu pude ter mais contato lá com os meus colegas do mestrado, conhecer algumas pessoas mais de perto. Porque quando você está trabalhando e estudando, você vai para lá, volta [e] nem consegue ter tanto contato assim, né? E aí fiquei focada ali só em estudar e eu gostei muito. Eu lembro que tinha uma matéria, assim, muito complicada, eu estudei muito e eu consegui passar, ali, com C nessa matéria, né? As outras, eu tinha conseguido passar com A, mas com aquela lá, eu achei que nem ia passar e aí falei: “Nossa, não é possível. Gente, eu...”. E no outro semestre... Era uma matéria obrigatória e aí, no outro semestre, só tinha aquela, só que o nível avançado daquela. E no último semestre - no próximo semestre -, ia vencer meu prazo das matérias e eu ia ter que fazer [a] avançada, eu falei: “Gente, se eu não passar nessa, que é a básica, a avançada que eu não vou passar”. E eu voltei a procurar emprego, seis meses depois, né? Aí, seis meses depois, eu encontrei um emprego, porque na área de TI, graças a Deus, emprego não falta, né? (risos) Uma semana depois, eu encontrei um emprego e comecei a trabalhar. Saiu a nota e eu tinha passado. Eu nem acreditei que eu tinha passado, (risos) aí falei: “Nossa, ainda bem!”. Aí eu fiquei focada em fazer a minha dissertação. E aí eu voltei a trabalhar, aí também, com Java, aí tive o primeiro contato com Metodologias Ágeis, que era uma forma de desenvolver, né, onde as pessoas, todo mundo do time, vota a complexidade ali de cada atividade. Foi bem legal! Eu trabalhei lá por um tempo, na empresa, e aí... Mas estava muito focada na minha dissertação. Então, eu não dava tanta atenção para empresa quanto eu estava dando para o mestrado e já não estava muito satisfeita. Eu lembro, na época, comecei a procurar outras coisas e foi quando eu fui para o NIC.br, onde eu fiquei sete anos lá. Então, foi onde eu fiquei a maior parte da minha vida, foi no NIC.br. E lá no NIC, foi muito legal, porque eu comecei como desenvolvedora plena e aí, depois, virei sênior. Depois, eu virei coordenadora, em uma equipe onde eram todos homens e todos, assim, com ótimas formações, né: USP, PUC. Foi onde, assim, eu [me] encontrei ali, que é uma coisa que eu gostava muito de fazer, que era essa parte de liderança, assim, que eu gosto muito. Então, eu lembro, na época, até quando fui promovida para sênior, né, meu chefe na época falou... Eu falei: “Nossa, será que eu vou conseguir ser sênior, né?”. Ele falou: “Não, mas você está sendo promovida, porque você já faz o trabalho, então...”. (risos) Faltava um pouco de autoconfiança também e foi onde eu tive muita confiança. Então, meu gestor, assim, me deixava livre para fazer, tomar algumas atitudes, ações, ajudar na organização das atividades e aí eu fiquei responsável pela coordenação da área WEB, que era onde eu trabalhava, que era mais especialista, ali, na área. Aí lá, do NIC, que eu fiquei sete anos, foi uma experiência fantástica, uma empresa maravilhosa e eu pude aprender bastante. A gente trabalhava com a medição da qualidade da internet. Então, o NIC é um órgão que apoia o Comitê Gestor da Internet no Brasil, que toma as decisões relacionadas à internet, e o NIC ajuda a implementar essas ações. Então, a gente tinha um medidor de qualidade gratuito, né, para toda população do Brasil, então ajudava a manter esse “site” e a gente participava de muitos treinamentos, dava palestras e eu pude aprender bastante lá. Até que chegou o momento que... Onde teve uma mudança na coordenação de lá e começou a ter umas mudanças de atividades. Então, me passaram outras atividades para fazer, que eu não gostava tanto. Achei que era o momento de tentar um outro desafio e foi onde eu fui para UL. Aí eu fui para a UL, que é uma empresa também, é uma empresa internacional, que é muito grande, né? Ela é uma empresa de certificações. Então, às vezes, se você olhar embaixo do seu computador, você vai ver o simbolozinho UL assim, né, só que passa muito despercebido para gente. Então, eu trabalhei lá. Entrei lá como engenheira e depois virei líder de equipe lá, também. Fiquei um ano, depois virei líder e aí lá o meu maior desafio era o inglês, porque tinha muita comunicação com os outros países e meu inglês.... Eu tive que aprender mais inglês e ganhar mais confiança para poder falar inglês ali, conseguir [me] comunicar com as pessoas dos outros países. E aí, de lá que percebi que, realmente, eu gostava mesmo de coordenação, não queria voltar mais [a] atuar tão tecnicamente. Apesar de ser na área técnica, mas não atuando, assim, no desenvolvimento. Eu comecei a fazer alguns cursos: fiz cursos de Gestão de Produtos Digitais, comecei meu MBA em Gestão e cursos mais voltados para Gestão de Pessoas; comecei a ler livros na área. E aí uma pessoa do Mercado Livre entrou em contato, no LinkedIn, entrei no processo e agora faz um ano que estou aqui no Mercado Livre, como líder de uma equipe maravilhosa. [Estou] muito feliz aqui, porque, além de estar atuando nessa área que eu gosto, de liderança, que eu tenho aprendido bastante, a cultura do Mercado Livre é maravilhosa. A cultura onde um ajuda o outro, não tem tanta competição, não é apenas foco no resultado. É foco no resultado sim, mas primeiro no bem-estar. Então, isso, assim, é muito importante para mim, para o meu objetivo de vida. Eu, como pessoa, sou assim. Então, assim, já trabalhei em vários lugares e com vários tipos de pessoas. Você vê muitas pessoas, assim, agressivas na forma de interagir e não era uma forma que eu me sentia bem. Então, o Mercado Livre me faz poder ser assim, agir como eu sou mesmo, assim. Eu tenho me sentido satisfeita nesse aspecto. (risos)
P1 – E deixa eu te perguntar uma coisa: tanto na época da faculdade, quanto na sua trajetória profissional, né, que você passou por várias empresas, você percebeu, tanto na faculdade, quanto nessas empresas, você acha que havia um número reduzido de mulheres nessa área de tecnologia?
R - Com certeza sim, sem sombra de dúvida! Então, assim, muito acho que da minha insegurança no início, quando fui sendo promovida, né? Eu era coordenadora ali de oito pessoas e, às vezes, eu ficava um pouco na dúvida, até por isso, porque, assim, faltava alguém para compartilhar o que eu estava sentindo. E, às vezes, quando eu compartilhava com algum homem, não era a mesma coisa de uma mulher. Porque eu lembro que eu ia nas reuniões, às vezes meu chefe mesmo, e teve uma reunião que um cara falou assim: “Ah, ela é sua secretária?”. Então, assim, a imagem (risos) que a gente passa é que... Não desmerecendo secretária nenhuma, mas o conhecimento técnico… É, tipo, como se eu não pudesse ter o conhecimento técnico, né? Isso, lógico que ele falou no início da reunião, antes de eu poder expor o meu conhecimento e tal. Mas o número era reduzido. No ITA, tinha uma, que é minha amiga até hoje. Tinha uma menina. Na NEC, tinha algumas, tinha umas duas, mas isso no meio de quinze ou vinte, né? No NIC... No ITA, né, que tinha uma. No NIC, também tinha uma. Tinha algumas outras de outras áreas, de outras equipes também, mas a minha equipe era uma. E, realmente, era bem menor o número de mulheres, mesmo. Aliás, eu até fiz uma palestra no Youtube sobre mulheres na tecnologia, onde mostra muito o porquê disso, né, também. Assim, eu acredito que fui muito incentivada pelos meus pais para entrar na área, mas desde criança, nós, mulheres, somos muito incentivadas a brincar com boneca, né, de comidinha. Enquanto muitos meninos são incentivados a brincar com carro, a mexer com máquina. E o brinquedo para a criança é uma coisa muito legal, né? A hora de brincar é a hora legal. E, consequentemente, você já vai incentivando a criança a gostar de algumas coisas, né? No entanto, que até falei, né, quando eu fiz a minha palestra: a primeira turma de computação, no IME, na USP, que foi a mesma faculdade que eu fiz mestrado, a maior parte eram mulheres, porque vinham da Matemática. Tinham muitas mulheres que gostavam de Matemática. Com o tempo, quando saíram os primeiros computadores e tal, foi entrando e sendo um pouco mais masculino. E aí, nossa, tem muitas teorias aí em cima disso também, né? Até da parte da gente elogiar criança. Eu falo muito isso. Por exemplo, você vê minha sobrinha, assim, fala: “Nossa, que linda! Nossa, como...” e você fica fazendo com que a mulher se preocupe muito com a beleza, com a estética. Enquanto com o menino, fala: “Nossa, como você é inteligente, como você é corajoso!”. Então, essas pequenas coisas já vão influenciando no que a pessoa quer. “Nossa, eu quero ser reconhecido, então eu tenho que ser mais inteligente”. Enquanto a mulher: “Não, eu tenho que ser reconhecida, vou cuidar da minha beleza”. E, assim, eu acho que desde criança, a gente já tem que plantar essa sementinha ali de igual entre os meninos, meninas, todos, todas as pessoas.
P1 – Você acha que isso ainda afasta, atualmente, hoje em dia, um pouco as mulheres da sua área? Justamente esse estereótipo de pensar: “Ah, é uma área muito masculina, talvez eu prefira fazer outra coisa”?
R - Eu acho que hoje está diminuindo um pouco. Acho que com a informação, né, com Youtube. Então, acho que as mulheres estão se reconhecendo mais, está tendo esse movimento sim, de: “Eu posso mais que isso, não preciso depender do meu marido”. Antigamente, a mulher casava e dependia do marido. Ela cuidava de casa e o marido do sustento. Não, a gente pode dividir as atividades juntos. Tem vários tipos de forma de você atuar, né? E, na computação, eu vejo muito mais mulheres. Então, eu participo também de grupos de mulheres que estão entrando, que estão iniciando e eu vejo muitas mulheres começando. Até no Mercado Livre tem o Projeto Generation, que... Não, tem o Projeto Generation e esse projeto ajuda pessoas que estão entrando na área: eles dão treinamento e depois apresentam para as empresas. E uma das empresas que eles apresentaram foi o Mercado Livre, né? Aí a gente entrevista algumas pessoas. Então, teve uma moça que era cabeleireira, que se interessou pela área na pandemia. Estava com algumas dificuldades financeiras e viu que a área de tecnologia era uma área que estava bombando. E começou a estudar pela internet, se candidatou, conseguiu passar no Generation e estava se candidatando para uma vaga na...
Então, eu acho que hoje, com a internet, expandiu, assim. Quem procura, quem está querendo, tem muito mais vantagem. Mas ainda não é igual, igual homens, igual mulheres. Mas está bem melhor do que quando eu comecei. Eu vejo assim.
P1 - Queria que você comentasse um pouco sobre a sua experiência, tanto do mestrado, quanto do MBA e quanto essa questão de inteligência artificial e gestão de pessoas acabou contribuindo com o seu trabalho.
R – Ah, legal! O mestrado, né, Genivaldo, foi com ênfase em inteligência artificial, mas grande parte do que eu aprendi foi mais voltado para a computação em si, que era o que eu mais queria fortificar, o alicerce que eu gostaria de fortificar. Então, não só para a inteligência artificial, para a computação, né, entender melhor sobre algoritmos, complexidades computacionais. Então, isso me ajudou bastante. A Inteligência Artificial eu fiz em 2011. E hoje, em 2021, já mudou muita coisa. Eu ainda não atuei voltada para a inteligência artificial, mas o que me ajudou muito no mestrado foi a parte da computação. E aí, o MBA, já mais recente, foi voltado à gestão de pessoas, porque é uma área em que a maioria dos meus colegas já falavam que eu tinha uma certa habilidade. Então, quando eu entrava para uma equipe, por mais que eu tivesse conhecimento técnico, eu sempre coordenava as questões das entregas, dos prazos. E entendia a dificuldade de alguém, tentava ajudar, tentava ver o que estava acontecendo já era uma coisa natural minha. Então, muita gente foi falando que eu fazia isso muito bem, no entanto que, de duas vezes que eu entrei como engenheira, foi para a área de coordenação. Naturalmente, sem precisar fazer nenhum esforço. Acho que por isso mesmo. Então, eu quis investir em uma coisa que já era natural meu. Até, depois, tem um livro que chama “Aprenda Seus Pontos Fortes” e é um pouco sobre isso, né, para valorizar seus pontos fortes. Então, comecei a valorizar: fiz o MBA. E no MBA, aprendi muito sobre gestão de pessoas, uma gestão mais inovadora, né? De ouvir o que a pessoa tem para falar, de fazer com que as pessoas que trabalham comigo ajudem nas tomadas de decisão, de ser um líder servidor, ser um líder que… Não ser aquela pessoa que impõe e determina o que deve ser feito, mas ouvir todo mundo e fazer com que o time se sinta bem. E, se sentindo bem, consiga produzir, entregar e ajudar com as ideias, porque cinco pessoas, duas pessoas, pensam mais que uma. Então, ao invés de tomar decisão, ouvir todo mundo para tomar essa decisão, envolver mais os times, entender a lidar com os conflitos. Então, foi aí que o mestrado… O MBA me ajudou, mas não só o MBA, também tem muitos cursos e livros ali, que me ajudaram a evoluir nesse lado da liderança aí. (risos)
P1 - E agora, falando sobre a sua atuação no Mercado Livre. A gente tem informação de que você é "Software Project Leader".
R – Isso.
P1 – Então, me conta como é ser uma líder de projetos de "software".
R – Ah, sim. Olha, para quem sempre trabalhou com desenvolvimento de "software" e gosta muito dessa área de liderança e de lidar com pessoas, é uma função muito interessante porque, como que é ser uma "Software Project Leader", no Mercado Livre? Normalmente, a gente tem um projeto... Na verdade, o Mercado Livre é um sistema "on-line", né, um sistema "web" e ele está disponível em várias plataformas: tanto para dispositivos móveis, celulares, quanto pelo computador, você pode realizar compras. E é muito grande. Então, a gente, dentro do Mercado Livre, tem cada pessoa que cuida de uma parte do "site", né? A equipe que eu cuido, que é "Seller Invoices", a equipe que eu faço parte, porque é muito grande, está com quase cem pessoas, já. Do meu time, são eu e mais seis pessoas. Então, é uma partezinha dessa equipe grande, a equipe que é responsável pela emissão de notas para o vendedor, né? O vendedor vende seus produtos e ele precisa que emita a nota fiscal dos seus produtos, para os compradores. Então, uma parte dessa emissão de notas é responsabilidade da minha equipe. A gente precisa entender todas as demandas, todas as questões fiscais que estão acontecendo, para a gente ajustar o nosso "software" para se adequar às questões fiscais. A gente prioriza, ajuda a priorizar as atividades, porque a gente tem muita coisa nova acontecendo, né? Então, gostaríamos de fazer tudo, mas não tem muita gente para fazer tudo o tempo todo, né? Nós precisamos verificar o que é mais prioritário, o que vai ter mais impacto, qual é o tamanho do desenvolvimento de cada iniciativa que chega. Então, eu, junto com um time, a gente leva tudo que está acontecendo para o time, ajuda a tomar decisões do que a gente vai trabalhar, logicamente, relacionado com a estratégia do Mercado Livre. Nós temos reuniões com os "managers", com os diretores, sobre para onde que o Mercado Livre está indo e a gente escolhe as iniciativas voltadas para essas direções, né? E aí acompanho, no dia a dia, o time. Tem as deles, onde cada um atualiza o "status" das atividades que estão fazendo, atividades de desenvolvimento de "software". Aí a gente vai se alinhando, ao longo da semana. E a cada final de "sprint" de duas semanas, a gente faz um "review" de todas as atividades que foram prontas. A gente faz também uma retrospectiva junto com o time, de coisas boas que aconteceram, coisas ruins. Levantamos pontos de ações para trabalhar, para estar em melhoria contínua, né? Também, além disso, a gente, como líder de projetos aqui, faz acompanhamentos "one on one", que a gente chama, individualmente, com cada membro do time, para entender como que a pessoa está tanto do lado pessoal, quanto do lado profissional. Então, a gente tem "feedbacks" constantes tanto do lado dele para mim, quanto meu para ele, né? Ou para ela também. Temos meninas, também, na equipe. A nossa equipe de seis pessoas, a equipe que está comigo, agora, [entre] sete [pessoas], temos duas meninas. Então, ainda não está meio a meio, mas já estamos crescendo. Antes, quando eu entrei, (risos) quase que não tinha: tinha uma menina, mas ela não era do nosso time. Era compartilhado. E é mais ou menos isso que a gente faz aqui.
[Trecho retirado a pedido da entrevistada]
P1 – Então, Poliana, qual você acha que foi o impacto da pandemia no seu trabalho?
R – Então, Genivaldo, eu não sei se você sabe, mas eu entrei no Mercado Livre durante a pandemia, então foi um pouco desafiador, né? Até para eu dar esse passo durante a pandemia, a gente fica um pouco com receio. Você fala: “Nossa, vou mudar nesse momento de instabilidade do Brasil?” e tal. Mas foi um processo seletivo tão leve, que me deu muita vontade de entrar no Mercado Livre. E, quando eu entrei, fiquei imaginando como seria, sem conhecer ninguém presencialmente. Mas, hoje, com as tecnologias que a gente tem, com os vídeos e com as chamadas de vídeo, fica mais fácil a gente ter essa comunicação. Então, eu não conheço o pessoal pessoalmente ainda, porque a gente ainda não voltou a trabalhar presencialmente lá, no Mercado Livre, mas dá a impressão que eu já conheço, porque a gente conversa tanto, que dá impressão que eu já os conheço. Então, foi muito positivo não ter que se deslocar até o trabalho durante todos os dias da semana, ter que ir, depois ter que voltar e ter esse trabalho, esse tempo de locomoção. Mas, também, teve o lado de sentir um pouco a falta desse contato pessoal ali, de uma conversa informal e alguma coisa do tipo. A gente até, no nosso time, marcou um café durante a semana, para a gente bater um papo ali: “Esquece um pouco de trabalho, vamos conversar ali, bater um papinho”. E também, uma vez por mês, a gente faz um joguinho ali, que chama "Gartic", que se você não conhece, é bem legal de fazer e jogar no computador ali, remoto, com as pessoas, que um desenha e o outro tenta adivinhar, para a gente tentar descontrair e se conectar um pouquinho mais, né?
P1 – Então, nós vamos agora para as últimas perguntas, Poliana. Primeiramente, quais são as coisas mais importantes para você, hoje em dia?
R - Para mim, o mais importante, assim: minha saúde, minha família, né? A saúde das pessoas que estão comigo. E minha cachorra, tenho uma cachorrinha aqui chamada Neve, que está até desenhadinha aqui nessa caneca que a gente ganhou do Mercado Livre, que era para ser eu e ela. (risos) E o trabalho também é muito importante para mim, né? Me permite ter uma condição de vida boa, não se preocupar com algumas questões financeiras. E também de poder exercer uma função, assim, que eu acredito, de poder... Eu me sinto satisfeita quando a gente consegue alcançar algum resultado ali com o time, ajudando na evolução das pessoas que trabalham comigo. Acredito que essas são as coisas mais importantes, Genivaldo. (risos)
P1 - Quais os seus sonhos para o futuro, Poliana?
R – Nossa! A gente vive num mundo que muda tanta coisa, né? Às vezes, eu penso assim a longo prazo e depois, eu já mudei. Mas o que eu tenho pensado: eu quero ser mãe, se tudo der certo, assim, no meu futuro. Porque eu já estou com 38 anos, então já estou ali... (risos) Já passou da hora, né? E penso também, como eu gosto muito dessa parte de pessoas, eu estava pensando em me especializar em algum curso. Eu já vi alguns cursos de Psicologia; então, como eu lido muito na parte de liderança, eu acredito que isso pode ajudar muito também. E é uma coisa que eu gosto, até para autoconhecimento. Então, algumas coisas para entender um pouco mais de mim e também conseguir ajudar mais as pessoas, assim facilitar a comunicação e facilitar também no meu dia a dia.
P1 - Tem alguma coisa que você acha que, no nosso bate papo de hoje, algum assunto relevante, algum acontecimento que você queira falar, que a gente acabou passando batido?
R – (risos) Olha, para falar da minha vida, um acontecimento importante que eu não falei, foi o meu casamento, (risos) que foi muito importante também. Foi durante esse percurso aí, da minha trajetória. Então, só para saber que eu não parei, não fiquei só trabalhando, também tive minha vida pessoal, em conjunto. E também acho importante falar para as meninas que querem entrar para a área, para não terem medo, né, que a gente consegue. Então acho que, se a gente... Eu, no começo, a gente não tinha internet, a gente não tinha muita coisa. Quando eu comecei a estudar, eu pegava livro. Eu lembro que peguei um livro de Java na biblioteca e estudava lá no meu quarto. Então, a gente começando, as coisas fluem. O difícil, às vezes, é começar, passar aquele baque do começo, que dá impressão que a gente não vai aprender nada e que, se a gente não é boa em Matemática, a gente não vai ser boa em tecnologia, e não tem nada a ver uma coisa com a outra. E outra coisa também é para falar que tecnologia também não é só programação. Então, tem muita gente que, às vezes, já estudou programação e é uma parte muito legal, quando você faz o negócio funcionar, é demais. Você fazer e falar: “Oh, eu que fiz isso!”. Mas, também, para quem não curte, tem áreas de gestão de pessoas, de facilitação, tem a parte de "Scrum Master", para quem tem interesse. E para quem tem interesse em desenhar um produto digital, tem a parte de produtos. Então, tem parte de inteligência artificial, tem parte de análise de dados. E é uma área que está muito em alta, tem muitos empregos, né? Então, eu acho que vale a pena investir, sim, se a pessoa tem vontade e não ter medo, colocar a cara para bater ali, que é só sucesso. (risos)
P1 - Já que você comentou, conta um pouco para a gente sobre o seu casamento. Você se lembra do dia, como foi?
R – (risos) Ah, lembro. Então, eu trabalhava no NIC. Aliás, convidei todo mundo que trabalhava comigo. Eles foram lá para Santa Rita, casei lá na minha cidade. Foi em 15 de novembro de 2015. Então, vai fazer seis anos, agora, esse ano. E eu conheci meu marido, aqui, em São Paulo mesmo. Eu já morava aqui, né, moro aqui em São Paulo desde 2008. E nós estamos casados, temos uma cachorrinha chamada Neve. Então, o casamento foi lá em Santa Rita: a gente fez uma festa, foi a família dele para lá, foram alguns amigos. E é isso. (risos) Não sei se tem muito mais detalhes. (risos)
P1 – E qual o nome dele, Poliana?
R – Chama Vitor.
(01:02:32) P1 – Certo.
R – Vitor Natal. (risos)
P1 – Ele trabalha também na área de tecnologia, ou não?
R - Não. Ele trabalha com gestão estratégica. Ele é formado em Contabilidade. Mas ele não trabalha com Tecnologia. Às vezes, eu que explico algumas coisas para ele, aqui, em casa. (risos)
P1 – Bom, então vamos para a última pergunta, para encerrar, Poliana: como você se sentiu, como foi para você contar a história da sua vida para a gente hoje?
R – Nossa, foi muito legal, Genivaldo, repassar por tudo isso, né? Às vezes, a gente esquece de tantas coisas que a gente fez. Eu acredito que muita gente tem isso. Às vezes, a gente faz, a gente fala: “Nossa, quanta coisa eu fiz!”. A gente para pra recapitular e aí que a gente vê, fala: “Nossa!”. (risos) E eu achei que foi um momento muito agradável e agradeço você pelo convite, todo mundo que está aqui, né, a Grazielle, o Alisson. E muito obrigada mesmo, foi muito gostoso poder reviver um pouquinho aí do meu passado. (risos)
P1 - Está bom. Então, em nome do Museu da Pessoa, a gente agradece muito você ter aceitado o convite e a sua participação também.
R - Obrigada, eu que agradeço!Recolher