MiniBio D. Ana Maria Sorroche nasceu em Budapeste na Hungria onde viveu até aos 10 anos, lá passou pela 2ª Guerra Mundial e perdeu o pai. Com a mãe e duas irmãs vieram de mudança para Argentina onde tinha seus avós. Depois morou no Uruguai por cinco anos. Conheceu seu marido espanhol e caso...Continuar leitura
MiniBio
D. Ana Maria Sorroche
nasceu em Budapeste na Hungria onde viveu até aos 10 anos, lá passou pela 2ª Guerra Mundial e perdeu o pai. Com a mãe e duas irmãs vieram de mudança para Argentina onde tinha seus avós. Depois morou no Uruguai por cinco anos. Conheceu seu marido espanhol e casou-se por procuração, ela no Uruguai e ele em São Paulo. Veio
morar em Ubatuba em 1972 e foram proprietários do Hotel Lagoinha. Atualmente mora no Parque Vivamar em Ubatuba.
P1 - Boa tarde, Dona
Ana.
R - Boa tarde.
P1 - É uma alegria estar aqui com a senhora. Nós somos o NUMPE, Núcleo Ubatuba do Museu da Pessoa, e temos uma satisfação muito grande em escutar a sua história de vida. Para iniciar, eu gostaria que a senhora falasse o seu nome completo, e sua data de nascimento e local.
R - Meu nome é Ana Maria Sorroche, tenho 86 anos, nasci em Budapest, na Hungria, em 1937.
P1 - Queremos iniciar pedindo que a senhora nos conte como foi a sua primeira infância na Hungria.
R - Olha, foi muito boa, até os seis anos. Daí começou a guerra, aí é um caos.
P1- O que que tem de lembrança da família? Nome do pai, nome da mãe, os irmãos…
R - Eu tenho duas irmãs, tenho uma irmã gêmea, Mariana, e tenho uma irmã mais nova, Georgina. Meu pai era Guilherme Sorroche e minha mãe, Catarina Sorroche. Ambos húngaros.
P1 - E o que a senhora tem de lembrança desse tempo em Budapeste?
R - Olha, eu lembro do apartamento em que a gente morava. Lembro que tinha duas janelas e duas cortinas, porque lá é muito frio. No inverno é muito frio. E lembro que meu pai sentava assim na frente e atrás tinha uma biblioteca muito grande. Isso aí eu lembro.
P1 - Qual era o ramo de trabalho do seu pai?
R - Era engenheiro mecânico.
P1 - E sua mãe?
R - Minha mãe fazia o trabalho dele, ela escrevia na máquina. O que meu pai escrevia na mão, ela passava na máquina. Na máquina de escrever.
P1 - Sim, sim. Então até os seis anos vocês viveram na cidade de Budapeste?
E vamos prosseguir. Chega a guerra.
R - Aí levaram meu pai e minha mãe, os dois juntos. Só que a minha mãe voltou no mesmo
dia. Meu pai não voltou nunca mais.
P1 -
Com que alegação se tira um casal de casa?
R -
Não um casal, um povo inteiro. Não, eles mandaram ir, todo mundo dependendo da idade, tinha que ficar, elevaram para a estação ferroviária. E, não sei se você lembra do Eichmann, um alemão que foi julgado na Argentina e foi julgado em Israel. Pois esse senhor estava lá naquele dia. E condenado. É, aí eles mandaram ficar em fila. Quem era solteiro, solteira, casada, um filho, dois, três, ou uma criança de menos de um ano. Minha mãe ficou na fila dos que tinham menos de um ano. Aquele dia, eles cismaram e mandou embora. Mandou pra casa. Os outros levaram. Aí minha mãe voltou. Aí, depois de um tempo, nós fomos parar na Cruz Vermelha. Nós duas. A minha mãe e minha irmã mais nova, tinha menos de um ano era bebê. Mas nós ficamos... Isso eu não lembro quanto tempo, mas um tempão, nós ficamos na Cruz Vermelha.
P1 - Em Budapeste?
R - Em Budapeste mesmo.
P1 - E tinha outras pessoas?
R - Tinha. Tinha bastante crianças. Isso na idade de 6 anos, 30, 50 crianças. Não, não, não tenho lembranças.
P1 -
E a idade de vocês era 6, 7 anos?
R - 6, 7 anos. Crianças. Aí depois nos soltaram. Mandaram pra casa. Depois de um tempo, não. O tempo lá naquela época não... Não contava. Não contava. A gente não sabia quanto tempo tinha passado. Se uma semana, 15 dias, um mês. Aí iam pra casa.
P1 - Tinha alimento?
R - Muito pouco. Muito pouco.
P1 - Roupas? Aquecimento?
R - Aquecimento não. Até que não faltava. Tinha muita criança, muito junto. O alimento que era muito pouco, porque era depois da guerra, estava tudo faltando... É, tudo diferente, as casas caídas. Vocês veem agora a Ucrânia, era a mesma coisa lá. Quer dizer, quem viu, está vendo. Aí, de repente, apareceu uma senhora. Isso é uma coisa que marcou a minha vida inteira. Apareceu uma senhora e perguntou, estão perdidas? Estamos. Aí ela nos levou até certo ponto. Agora você sabe onde que é? Não. Aí ela nos levou até a esquina de casa. Daí a gente reconheceu a casa, entramos. A minha mãe saiu pra falar com ela. Não, não viu ninguém. Não tinha mais ninguém. Isso é uma coisa que... Olha, eu estou com 86 anos e isso marcou. Aí depois, depois viemos pra cá. Vamos encostar um pouco, porque será muito complicado.
P1 - Não, faça no seu tempo, dentro da sua lembrança, toda informação é muito importante pra gente.
R - Então, aí a gente veio, os meus avós estavam na Argentina. Sim. Aí minha mãe, eles chamaram na gente, fizeram aquela carta de chamada e a gente veio pra Argentina.
P1 -
Sua mãe...
R - Minha mãe e nós três. Nós três.. É, aí nós viemos pra Argentina. Na Argentina a gente ficou internada em um colégio de freira, 5 anos.
P1 - Vocês vieram de quê?
R - De Navio. Isso em 1947. É. Em 1947.
P1 - Notícias do pai?
R - Não, nunca mais.
Nunca mais.
P1 - Chegaram na cidade de Buenos Aires mesmo?
R - É. Aí a gente ficou no colégio durante cinco anos. Minha mãe tinha que trabalhar. E nós ficamos lá. Depois de um tempo, a minha mãe mudou para o Uruguai. A gente saiu do colégio e mudou para o Uruguai também. Mas aí, já começamos a trabalhar.
P2
E a idade que vocês vieram para?
R - Para Argentina. Com 10 anos. Nós nascemos em 1937 e em 1947 a gente veio para a Argentina.
P1 - E dentro desse colégio, o que você têm de lembrança?
R - Eu não saber falar espanhol. Nós chegamos lá e não falávamos uma palavra. Então, pedi pra ir no banheiro. A gente não sabia como, não tinha como. Aí aprendemos o espanhol e até não foi ruim não. Não foi ruim não. Sempre juntas.
P1 - Sempre juntas.
R -
Aí fomos para Uruguai. Moramos no Uruguai, já começamos a trabalhar, né? Com 15 anos.
Aí ficamos, eu fico em Uruguai até os 20 anos. 19, 20 anos. Aí eu conheci meu marido em Punta del Este trabalhando e nos casamos em 1958.
P1 - Esse trabalho no Uruguai, qual que era a área?
R - Telefonista. Em um hotel. Já começou a trabalhar como telefonista e acabei como telefonista no hotel.
P1 - Era discado como que funcionava?
R - Aqueles... aqueles... aqueles negocinhos que tinha que enfiar o grampo... era aquilo. Não existia celular. Não. Aí eu conheci meu marido... por quinze dias... pessoalmente.
R - Como vocês se conheceram?
R - Os dois trabalhando. Aí um amigo comum nos apresentou. Daí eu conheci ele por 15 dias, aí ele veio pro Brasil, porque ele morava no Brasil e só foi trabalhar na temporada. Daí nos comunicamos por carta por dois anos.
P1 - Encontrou com ele?
R - Eu vim uma vez sim. Uma vez vim aqui. Fiquei aqui um mês e voltei. Depois vim casar por procuração. Casei por procuração.
P1 -
E você encontrou com ele em qual cidade? Em São Paulo?
R - Aqui em São Paulo. Ele morava aqui com os pais. Ele trabalhava em São Paulo. Dois anos de correspondência. É.
P1 Como é que era receber uma carta?
R - Nossa, a maior alegria.
P1 - As pessoas não sabem receber carta hoje.
R - Pois é, hoje em dia ninguém mais recebe carta. E esperar o carteiro chegar....
P1 - Tem guardadas as cartas?
R - Guardei muito tempo.
P1 - E existe alguma?
R - Uma existe.
P2 - A primeira deve ser.
R - Não, não é a primeira não. Vai ser mais uma.
P1 - Então, depois de dois anos de correspondência, um encontro, você veio se casar por procuração e chegou em São Paulo.
R - Cheguei em São Paulo. Aí, aqui, casei na igreja.
P1 - Família acompanhou?
R - Não. Minha mãe não podia, né? Tinha que pagar uma passagem, uma estadia, não sei o quê. Eu vim sozinha. Isso.
P1 - Com que idade?
R - 18 anos. 18.
P1 - Bom, então como que é conhecer um marido e começar uma vida em São Paulo?
R - Ah, foi ótimo. Minha vida mudou de dia pra de noite. Aí é de noite pro dia.
P1 - Ficou em São Paulo muito tempo?
R - Fiquei até 72. Meus filhos todos nasceram lá. Nasceram em São Paulo.
P1 - São quantos filhos? Qual o nome?
R – Quatro. Mariana, Amália, Paco ou Francisco, e Jean.
P1 - Onde vocês moravam, em São Paulo?
R - Não, quando eu casei, eu morei no Cerqueiro César, na rua João Moura. Depois, fui morar na Penha, na casa dos meus sogros. E depois, morei na Ribeiro do Vale, em Monções, em Brooklyn.
P1 - A família do marido, como a recebeu?
R - Muito bem. Muito bem, aceita.
P1 - E a língua portuguesa?
R - Sotaque tem até hoje. Eu acho que não. Mas todo mundo acha que sim. A minha filha um dia falou que ela não sabia que a gente tinha sotaque. Tínhamos os dois, né? A gente falava em espanhol em casa. Ela só percebeu que a gente falava diferente quando foi na escola. Esse é o Marley. A Valia percebeu que não era universal. Não, ela achava que todo mundo falava igual.
P1 - Então, estamos em 1972. Mudei pra cá. Como que foi essa escolha de Ubatuba? Ele já conhecia?
R - Ele, meu marido conheceu Ubatuba. Aliás, um amigo nosso trouxe ele pra cá. Aí eles compraram um terreno na Lagoinha. Sim. E ele construiu um restaurante. Gostava de cozinhar. Ele tinha um restaurante lá no Parque Anhembi, no Parque Ibirapuera, e trouxe o restaurante pra cá, já se desmontou lá e trouxeram pra cá.
P1 - Como era a lagoinha dessa época?
R - Menina, a lagoinha era... a gente dava um grito, você escutava até o final, porque não tinha carro a nada. Era muito diferente, muito diferente. Hoje em dia parece um pouco Miami. É verdade. Tem aquelas casas, sabe, muito quadradas, muito... Na nossa época, não, era tudo casinha, bonitinha, carinha. E aí vem esse restaurante. Eles fizeram uma sociedade. Era meu marido e o irmão dele. Era o irmão. Eu nessa época cuidava dos filhos, né? Aliás, aí depois fez o hotel que estava do lado. Então, aí fizemos o hotel e quem tomava conta do hotel era eu e meu marido também não contava comprestão grátis.
P1 - Quantos quartos tinha o hotel? Era grande, né?
R - Trinta quartos. Outro batumbando. Aí eu trazia eles todo dia na escola. Acho que você não lembra, porque eram meus filhos. Não. Eu trazia para a escola, aqui em Ubatuba, todo dia, e vinha buscar.
P1 - Então, quando veio, os filhos tinham que idade?
R - Olha, a mais velha tinha 12 anos, a outra tinha 11, o Paco tinha, acho que 10, e o Jean já tinha uns 7. Estou todo muito seguido.
P1 - Voltou a Budapeste?
R - Voltei. Voltei duas vezes.
P1 - Conseguiu identificar o bairro onde mora?
R - Consegui. Conseguimos ir na casa, entrar no prédio. Só que era maior do que eu imaginava. Ah, que interessante. Não chegamos a entrar na casa porque batemos lá, mas ninguém abriu, não tinha ninguém. Mas chegamos aí lá.
P1 - Então vamos voltar para o Ubatuba. E esse hotel, esse restaurante, como é que foi essa fase da vida?
R - Ah, muito boa, porque trabalhávamos juntos e cada um tinha seu lugar, né? Eu não dava palpite no restaurante e ele não dava palpite no hotel. Cada um tinha o seu. Mas foi muito bom. Foram muitos anos. Foi, foi. Muitos anos. Acho que 40. Um hotel Lagoinha. Até casaram.
P1 - Como a senhora vê a cidade de Ubatuba? Fazer alguma comparação com a cidade hoje e quando vocês chegaram?
R - Mudou muito, mudou muito. Mudou muito. Tá bem, tá bom. Eu gosto.
P1 - A senhora é saudosista? Sente saudades de alguma coisa, de alguma época?
R - Eu sinto, sim. Da época que eu morava na Lagoinha, da época que eu morava em São Paulo. Mas uma lembrança boa.
P1 - A parte de escolaridade, você fez um pouco na...
R - Nós fizemos um pouco na Hungria, dos 6 anos até os 10, depois na Argentina, até os 15 anos. Aí começei a trabalhar.
P1 - Vamos falar um pouco mais dessa adolescente. O que que era a diversão, como que era o lazer? Quando? Nessa fase, antes de conhecer o marido.
R - A gente trabalhava, não tinha muito prazer. Ia no cinema. Na praia? É, ir a... né? Na praia. É, no Uruguai, na praia um pouco. No cinema, ia no bailinho. Normal, de uma adolescente.
P1 - Certo. E a sua mãe? Onde ficou essa mãe quando você veio pra cá?
R - A minha mãe ficou primeiro no Uruguai. Sim. Ficou com ela e com a outra minha irmã. Depois que ela... depois eles vieram todos pra cá. Minha mãe ficou aqui bastante anos.
P1 - E vieram morar juntos com vocês no hotel?
R - Não. Ela vinha. Ela vinha passear. Mas morar junto, não.
P1 - E a relação com a irmã gêmea sempre foi harmoniosa?
R - Sim. Já houve confusão entre... de confundirem quem é quem, isso muita vezes. Isso, isso acontece, isso é normal. Agora meus filhos nunca. Minha filha dela também não. Os filhos não. Sim. Nunca confundi.
P1 - Já teve alguma parte curiosa, alguma história com relação a isso?
R - Olha, tem. Assim de confundir, tem. A gente trabalhou, no primeiro hotel que a gente trabalhou, trabalhávamos as duas. Uma de manhã, outra tarde. Aí, quando a gente arrumou trabalho em Punta do Leste, a gente dividia, porque aí tínhamos três trabalhos. Cada quinze dias a gente trocava. À noite, pegava um ônibus e voltava para Montevideo e trabalhava lá. Cada quinze dias uma ia para lá. Aí um dia o gerente do hotel foi para Punta do Leste e viu a que estava trabalhando lá. Aí ele não falou nada. Mas quando acaba a temporada, ele falou e disse, olha, uma das duas tem que sair. Não é por nada não, mas uma das duas tem que sair. Porque me enganaram. Porque me enganaram. Enganamos ele porque... quer dizer, nós fazíamos o trabalho, mas... Não podia ser duas. Não podia. Você se sentiu lesado. Não sei porquê. Não, eu acho que talvez a gente enganasse ele de outro jeito, não sei. Não tenho nada contra nenhuma das duas, mas uma das duas tem que sair. Aí eu saí.
P1 - Desses trabalhos, tem algum que foi mais relevante?
R - Não sei, no hotel era uma coisa minha, né? claro. Aí era mais interesse, vamos dizer assim, né?
P1 - Acontecimentos no hotel, teve algum que você se lembra? Pessoas?
R - Olha, eu conheci muita gente boa lá, muita gente. Gente que ainda hoje tem amizade. Gostei muito de trabalhar com pessoas.
P1 - Quanto tempo vocês ficaram no hotel?
R - Quarenta anos. Eu tenho gente que conheci de criancinha, depois já conheci casado com filhos.
P2 - Essa viagem de navio para chegar na Argentina, tem alguma lembrança?
R - Olha, de subir e descer escadas, porque num navio tem escada, né? Dessa parte não tenho muito, porque como a gente não falava, não conseguia falar com ninguém. Era um navio italiano, então o pessoal falava italiano. A gente não falava. Não tenho muita lembrança, não.
P2 - E como que era a sensação de estar indo, estar num navio, indo para um lugar desconhecido, um outro país?
R - Como a gente era criança, dez anos, não tinha muita noção. Não tinha muita noção. Demorou quinze dias. Demorou quinze dias, né? O navio demorou. Demorou quinze dias.
P1 - E esses avós que estavam na Argentina, você tinha contato com eles antes?
R - Minha mãe tinha, mas nós não. Foram conhecer... Fomos conhecer com 10 anos. Porque nós fomos ficar muito na... É, a gente conheceu, mas teve pouco contato com ele. Com ele, bem pouco. Foi logo pra escola. É. Tive muito pouco contato com eles.
P1 - Muitas emoções, hein?
R - É. Por isso que hoje em dia eu quero ser uma avó presente.
P1 - Pode? Quem são esses netos?
R - Nossa. Tenho nove netos.
P1 - E onde estão eles?
R - Ah, menina. Tem um que está na Austrália. Sim. Tem um que está em Curitiba. Tem um que está em São Paulo. Tem um, dois, três... Espera aí. Os dois da Mariana estão aqui em Ubatuba. Os dois do Jean também, quatro. Também em Ubatuba, cinco. E... Tem a Lígia que está nos Estados Unidos. Acho que são. Estão espalhados. Estão espalhados.
P1 - E hoje você é uma avó que visita? Gosta de viajar?
R - Sim. Gosto bastante. Então, sempre que é possível, tá? Ah, sim. Agora, normalmente eu vou com a Mariana ou com elas. Boa companhia. É. É, mas viajar sozinha é meio chato. Não é?
P1 - Dona Ana o que que é um sonho pra senhora a realizar?
R - Continuar do jeito que estou. Querida pela família, muito amada por meus netos.
P1 - Eu soube que teve um neto que fez a exposição da sua vida? Como foi isso?
R - Esse é meu neto do coração, bom, todos são do coração. Esse é o Pedro, o mais velho.
P1 - Como foi isso?
R -
Olha, ele fez uma exposição com todos os meus passaportes. Aí, assim, uma exposição um pouquinho da minha vida. Aí, fez uma... é... uma foto... porque ele é fotógrafo. Aí fez umas fotografias e fez uma exposição.
P1 -
Qual é a sua situação... Você é húngara?
R - Cidadã brasileira agora o mês passado. Ontem fui tirar o passaporte.
P1 - Foi complicado?
R - De jeito nenhum. Foi rapidinho. Agora já tenho carta de eleitor, título de eleitor, agora eu tenho o passaporte, tenho a cidadania, tenho tudo. E não perdi a Hungria porque é a minha origem. Agora, espanhol eles me negaram. Quando eu casei, meu marido fez a declaração lá no consulado. Tá no livro que eu vi, a moça me mostrou. E me negaram. Eu tenho acho que três ou quatro passaportes espanhóis. A última que eu fui renovar eles me negaram.
P1 - Alguma alegação?
R -
Nenhuma. Nenhuma. Disseram que, “o único jeito da senhora ter a cidadania espanhola, recuperar e ir morar um ano na Espanha”. Como vou morar na Espanha se não tenho passaporte? posso não podia sair do Brasil não quer dizer, eles são ignorantes porque, falar uma coisa dessa, né? Não, fala sem pensar sem pensar digo, eu tenho quatro filhos total, não vai reclamar, não tem onde reclamar eu falo, eu tenho quatro filhos brasileiros, oito netos brasileiros. Todos têm a cidadania espanhola. Ele também negou, me negou, simplesmente. Aí eu fui atrás da Hungria, aí eu sim.
P1 - São dupla cidadania?
R - Brasileira e húngara
P1 - Tem alguma coisa que eu não perguntei?
R - Vamos contar... E acho que é só, eu...Você quer fazer alguma pergunta?
P2 - Não, está me ocorrendo agora.
P1 - Então, a gente quer agradecer muito essa história, de tantas passagens relevantes... Porque são muitos anos. Mas com tanto otimismo, tanta vivência, queremos agradecer nesse dia 14 de março de 2024 em Ubatuba. Muito obrigada.
R - Namastê.Recolher