Olha o trem!
Os causos que tenho guardado em minha mente, sobre ocorridos em procissões, junto com o Ximbica, são muitos. A maioria bem engraçados, envolvendo a mim ou a outras pessoas, como este de uma procissão de São João Batista. Era o mês de junho, fazia frio e a nossa solene procissão do glorioso padroeiro saiu a tarde por volta das 16 horas, com o encerramento previsto á noite com missa solene e depois a movimentada quermesse. Sendo já maiorzinho, mais tranquilo e menos “estabanado”, me escalaram pela primeira vez para levar a “Lanterna”, que era uma espécie de archote, com velas cercadas de vidro, e que ladeavam o andor de São João, ou iam à frente da procissão, dando a mesma um toque de solenidade. Para minha grande alegria, fui ladeando o andor do Padroeiro, rodeado de anjinhos, com quatro archoteiros de cada lado e eu era o terceiro. O Ximbica queria ficar ali junto comigo, mas como não tinha função, o mandaram para a frente da procissão, no lugar onde ficavam os coroinhas.
Gostava de ficar olhando a vela sobre o archote e de vez em quando me distraia, quase atropelando o coroinha da frente que me olhava feio, por ter pisado no seu calcanhar. Nesse dia também, eu estreava um sapato “Verlon” novinho, mas este vai render uma outra história. A procissão seguia pelo Largo Bolacha, cruzava a Via Férrea, que tinha uma Cancela com uma porteira móvel, acionada pelo “Guriteiro”, que fechava o trânsito de pedestres e veículos, quando o trem vinha vindo. ProsseguIa pela Amirtes Louvison e entrava na primeira rua do bairro da chave, onde havia aquela Bomba D’água, e saia na última rua, retornando a seguir.
O trajeto era marcado por vibrantes e entusiasmados “Vivas” a São João Batista, rojoãozada que comia solto, oração, louvor e hinos, que sempre ficavam por conta dos nossos “Puxadores” oficiais, os saudosos Dito Elpídio, que era o coletor de resíduos, como operário da Fábrica de Tecidos, e fazia...
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Olha o trem!
Os causos que tenho guardado em minha mente, sobre ocorridos em procissões, junto com o Ximbica, são muitos. A maioria bem engraçados, envolvendo a mim ou a outras pessoas, como este de uma procissão de São João Batista. Era o mês de junho, fazia frio e a nossa solene procissão do glorioso padroeiro saiu a tarde por volta das 16 horas, com o encerramento previsto á noite com missa solene e depois a movimentada quermesse. Sendo já maiorzinho, mais tranquilo e menos “estabanado”, me escalaram pela primeira vez para levar a “Lanterna”, que era uma espécie de archote, com velas cercadas de vidro, e que ladeavam o andor de São João, ou iam à frente da procissão, dando a mesma um toque de solenidade. Para minha grande alegria, fui ladeando o andor do Padroeiro, rodeado de anjinhos, com quatro archoteiros de cada lado e eu era o terceiro. O Ximbica queria ficar ali junto comigo, mas como não tinha função, o mandaram para a frente da procissão, no lugar onde ficavam os coroinhas.
Gostava de ficar olhando a vela sobre o archote e de vez em quando me distraia, quase atropelando o coroinha da frente que me olhava feio, por ter pisado no seu calcanhar. Nesse dia também, eu estreava um sapato “Verlon” novinho, mas este vai render uma outra história. A procissão seguia pelo Largo Bolacha, cruzava a Via Férrea, que tinha uma Cancela com uma porteira móvel, acionada pelo “Guriteiro”, que fechava o trânsito de pedestres e veículos, quando o trem vinha vindo. ProsseguIa pela Amirtes Louvison e entrava na primeira rua do bairro da chave, onde havia aquela Bomba D’água, e saia na última rua, retornando a seguir.
O trajeto era marcado por vibrantes e entusiasmados “Vivas” a São João Batista, rojoãozada que comia solto, oração, louvor e hinos, que sempre ficavam por conta dos nossos “Puxadores” oficiais, os saudosos Dito Elpídio, que era o coletor de resíduos, como operário da Fábrica de Tecidos, e fazia isso em uma carroça verde puxada por três pares de cavalos, e o Senhor Boava, que residia no Bairro do Rio Acima. Acompanhava a procissão a Banda “Briosa” solando hinos religiosos, comandada pelo Mestre Santo Prenholato. No comando de tudo o Padre Antônio, de batina preta e Raquete branca, calçando seu famoso Coturno, com o qual chutava cachorros quando eles entravam na Igreja.
O fato ocorreu quando já havíamos transporto a linha do trem e seguíamos pela Amirtes Louvison, sentido chave. Deixe-me antes falar que, uma grande paixão da minha infância era o trem. Aqueles bondinhos verdes que faziam o transporte da população, em especial o Bonde dos Homens e o das mulheres, que levava os operários da Fábrica de Tecidos, a “Maria Fumaça”, a Locomotiva Elétrica GE, vindo de Sorocaba ou de Santa Helena, para mim aquilo era encantador e me sentia atraído ao ver as composições trafegando, principalmente a “Maria Fumaça”, que bufando com o seu vapor, e á noite enchia o céu com seu braseiro, marcando o ritmo “Café com pão, manteiga não...” Enfim, vendo um trem passar, o “Cabecinha Oca” aqui, esquecia de tudo. E essa foi exatamente a ocorrência...
As nossas “Ave Marias e Pai Nosso” foi de repente sufocadas pelo resfolegar vaporoso da “Maria Fumaça”, Café com pão manteiga não, café com pão manteiga não, café com pão manteiga não...em um esforço muito grande para tracionar os vagões, seguindo de Votorantim á Santa Helena. Para ficar mais bonito o espetáculo que o Trem oferecia, preparando-se para transpor o já saudoso Pontilhão da chave, o maquinista fez soar o longo apito acompanhado do toque de um sino. Fiquei como que hipnotizado. Nunca tinha visto o trem passando em cima do pontilhão, com aquele barulho ensurdecedor. O Maquinista respeitosamente tirou o seu Boné, ao ver a procissão. E eu ali, andando e segurando o archote, mas olhando fixamente para o “Monstro de Ferro Resfolegante”, me deliciando com essa visão. Foi quando, o Ximbica, que estava ali por perto, gritou: “Perebento do céu, olha para a frente!!!” E lá veio o padre Antônio, com o seu vozeirão, prenunciando a “tragédia” fazendo seus xingamentos e ao mesmo tempo tentando evitar a tragédia, pois, olhando para cima, desviei da minha rota e cai para a frente, tropeçando em uma senhora do Apostolado da Oração, que ia à minha frente, caindo a vela e chamuscando levemente o Véu Preto que ela usava sobre a Cabeça. Sentindo aquele calor, a senhora arrancou o véu e o jogou ao chão, e foi quando o Ximbica deu um pulo e começou a pisar em cima do véu, tentando apagar o pequeno início de incêndio. Eu caí do outro lado, esfolando o joelho que firmei no chão, para não deixar o archote cair, senão quebraria os vidros, e nunca mais me deixariam ser “Archoteiro”. Aquela cena hilariante do Ximbica pulando em cima do véu e eu caído ao chão, causou uma explosão de risos, inclusive da Beata, acabando assim o clima da procissão. Bondosamente, ela, ao ser indagada pelo Padre Antônio, sobre o que de fato acontecera, disse “Padre, não foi o coroinha que me queimou, mas uma brasinha da Máquina a Vapor, que caiu bem em cima da minha cabeça”. Até hoje não sei se a bondosa senhora, que já está na Casa do Pai, falou a verdade, ou mentiu, para salvar a minha pele. E se o Céu acolher um coroinha peralta, no dia em que eu chegar lá, vou procura-la para elucidar essa história...{Diácono José da Cruz - jotacruz3051@gmail.com}
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