Entrevista de Clayton Duarte Pessoa
Entrevistada por Torigoe / Daniela
12/07/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número FUNAS_HV019
Transcrito por Aponte
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P/1 – Qual que é o seu nome completo, local e data de nascimento, por favor?
R - Meu nome é Cleiton Duarte Pessoa, eu nasci em Nova Lima, Minas Gerais, no dia 23 de Março de 1978.
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P/1 – Sobre seu nascimento, seus pais comentaram alguma coisa? Como é que foi? Em que Hospital foi?
R - Pelo o que eu me lembro, que meu pai me falou, eu nasci... minha mãe estava grávida, eles estavam indo dar uma volta na rua, aí minha mãe começou a passar mal, e aí levou para o hospital para ver o que estava acontecendo e eu acabei nascendo na madrugada. Isso aí foi em 23 de Março de 1978. Minha mãe tinha 16 anos apenas, eu nasci de um relacionamento que dura até hoje, que é minha referência de vida. E é isso aí.
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P/1 - E você é filho único? Você é o primeiro filho? Como é que? Você tem irmãos?
R - Eu nasci primeiro, depois de mim veio mais dois irmãos, que moram lá em Nova Lima. Hoje somos três. Meu pai e minha mãe estão vivos até hoje, são casados, bem casados, converso com eles todos os dias, meus irmãos também. Então nossa família, três homens, meu pai e minha mãe.
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P/1 - Como é que é a família do seu pai? Qual que é o nome do seu pai?
R - A família do meu pai é uma família muito divertida, meu pai é muito alegre, nunca vi meu pai triste, ele sempre tá de bem com a vida, até hoje, ele está com 67 anos e conversa com ele todo dia, ele está sempre querendo fazer alguma coisa, ajudando alguém. Então nunca vi meu pai com preguiça. Então isso me inspira muito a fazer as coisas assim, como ele ensina para mim, para os meus irmãos. E hoje eu faço isso para o meu filho também. Tudo que eu faço o meu filho está perto de mim, eu estou ensinando para ele, como que faz as coisas sem ficar com preguiça.
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P/1 - Qual que é o nome inteiro do seu pai? O que ele faz?
R - Meu pai chama Clerio Roberto Pessoa, ele é caminhoneiro. Só que é um caminhoneiro de viagens curtas. Ele gosta de fazer viagens não tão longas, e para não ficar muito tempo fora de casa. E até hoje ele tem caminhão, e vive disso. Vive de fazer fretes com caminhão, faz mudanças, carrega todo tipo de coisa, para lá e para cá. É o que ele gosta de fazer.
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P/1 – Clayton, a família do seu pai é de Minas Gerais também? A família do seu pai é proveniente de que cidade? O que fazia os seus avós por parte de pai?
R - Eu não tive oportunidade de conhecer o meu avô paterno, que se chamava Jesus Pessoa. Meu pai me conta que ele vendia frutas, num carrinho, empurrando o carrinho na rua e vendendo fruta. E todos são de Nova Lima, Minas Gerais. Então a base da minha família é uma base quase que integralmente construída na cidade de Nova Lima, tanto do meu quanto da minha mãe. A minha avó, mãe do meu pai, se chama Rosa Amélia Pessoa Dias, ela é viva até hoje, já tem 85 anos. É uma senhora muito alegre, de bem com a vida também.
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P/1 - Qual que é o nome da sua mãe? Como é que a família dela?
R - A família da minha mãe, também é de Nova Lima. Eu tenho 2 tios, são irmãos da minha mãe. Minha mãe é dona de casa, sempre foi muito dedicada, para cuidar da família e sempre deu muito amor para os filhos. Então minha mãe é uma pessoa assim, muito calma, muito serena. Nunca vi minha mãe brigar, nunca vi ela xingar ninguém. E isso ai para mim, é um ensinamento muito grande. Ela é uma pessoa muito de boa com a vida, e muito tranquila.
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P/1 – Você sabe como o seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Meu pai e minha mãe se conheceram, naquela época, obviamente não tinha nenhuma plataforma tecnológica para se conhecer outra pessoa, a não ser se fosse no contato visual direto. Então por isso que a família é formado toda na mesma cidade, Nova Lima. E pelo o que eu me lembre, minha mãe era uma pessoa muito bonita, ainda é, e todos garotos da cidade queria namorar com ela. Aí o meu pai, apesar de não ser muito bonito, teve essa sorte de conseguir namorar com a minha mãe. Não sei detalhes assim, mas o pouco que eu sei é isso.
6:23
P/1 – Clayton, e quais são as primeiras lembranças que você tem da sua infância, da sua vida?
R – Minhas primeiras lembranças, é que morava no fundo da casa da minha vó, mãe da minha mãe. E eu lembro que foram nascendo meus irmãos, quase com 1 ou 2 anos de diferença. Então eu lembro muito de ficar brincando com eles, de ser o mais velho e ficar brincando com eles, o dia todo em casa. E morar perto da casa da minha avó também, era muito bom, sentir o cheiro da comida dela, ia lá, o meu avô cozinhava, um avô faleceu já. E eu sinto o cheiro da comida dele até hoje, do meu avô e da minha avó, morava no fundo da casa deles.
7:26
P/1 – E o que eles cozinhavam que você gostava? O que eles cozinhavam que você sentina esse cheiro?
R – O meu avô era muito carnívoro. Então ele fazia carne todo dia, e eu sentia o cheiro dele fritando carne, cozinhando, e eu gostava muito. Eu acho que por isso, hoje eu sou carnívoro também. Eu gosto muito de carne, não como com excesso, mas gosto de apreciar uma boa carne também.
7:54
P/1 – E você cresceu em que bairro?
R – Eu cresci num bairro chamado Matadouro, na cidade de Nova Lima. Dizem que antigamente existia um matadouro lá, mas quando eu morava lá, já não existia mais. Eu lembro que eu morava num quarteirão, numa rua que tinha um quarteirão fechado. E eu lembro de todos os meus amigos de infância. Alguns estão morando lá até hoje, minha avó mora lá ainda. Eu tinha uma infância muito característica daquela época, de brincar na rua, andar de bicicleta. Brincadeiras de contato mesmo, brincadeiras de rua, andar de carrinho de rolimã, brincar de bola, andar de bicicleta. Então aquela época era uma infância muito divertida.
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P/1 – E como que era a sua casa? A casa eu você falou que morava nos fundos da sua vó. Você consegue descrever ela para mim?
R – É uma casa que existe até hoje. Hoje ela é alugada. É uma casa que tinha, dois quartos, o quarto da minha mãe, e o quarto onde ficava eu e os meus irmãos. Tinha apenas um banheiro e uma cozinha grande. Então era ali que a gente passava maior parte do tempo. Uma cozinha bem generosa, e que minha mãe ficava ali cozinhando para a gente e eu ficava brincando com os meus irmãos.
9:41
P/1 – Os seus irmãos, eles tem quantos anos de diferença de você? Qual que é o nome deles Clayton?
R – Eu tenho um irmão que se chama Roberto, ele tem 39 e tenho irmão que chama Gustavo, ele tem 38. E eu estou com 43.
10:07
P/1 – Você tinha que cuidar deles? Como que era a sua relação com os seus irmãos nessa época?
R – Como minha mãe era uma pessoa muito cuidadosa, eu não tinha muito incumbência de cuidar deles. Então era mais a questão de ficar brincando mesmo. Passando o tempo, era mais a questão de brincar mesmo. Eu não tinha a responsabilidade de cuidar deles. Porque a minha mãe fazia isso muito bem.
10:43
P/1 – Você falou que seu pai era caminhoneiro. Ele não ficava muito tempo fora, é isso? Mas ele viajava muito, eu imagino né?
R – Sim! Ele viaja, até hoje ele viaja, com uma frequência baixa, mas ele viaja. Ele não gosta de fazer viagens longas. Ele gosta muito de ficar mais próximo de casa.
11:30
P/1 – Eu fico imaginando como é que era para você, na sua infância. Seu pai viajar, se ele contava coisas para você de viagens? Ele trazia coisas de outros lugares para vocês.
R – Na verdade, como eu falei, meu pai é caminhoneiro, mas de viagens curtas. Então ele não tinha muita coisa de longe, para poder trazer. Como Nova Lima é uma cidade que tem muitas minas de minério de ferro. Meu pai fazia transporte de mineiro, e eu lembro que eu entrava no caminhão. Eu chegava da aula, entrava no caminhão, e na parte da tarde eu ia com ele fazer as viagens de minério. Então subia, descia morro lá. Entrava dentro das minas. Então eu conhecia todas as minas lá onde ele trabalhava. Então era uma parte muito gostosa, até hoje eu gosto, quando eu viajo, eu gosto de ficar olhando pela janela as paisagens, e me recordo de quando eu andava de caminhão com o meu pai, naquela época.
12:34
P/1 – Você lembra que caminhões ele tinha? Você decorou os caminhões que ele teve, como que era dentro?
R – Meu pai tinha uma 1113, Mercedes. Uma Mercedes 1113, 1972, era o ano de fabricação, era uma 1113 azul. Nessa época era um caminhão de caçamba. Eu lembro que todos os outros caminhões, que eu via lá na mineração trabalhando, eram mais novos e maiores que o do meu pai. Então o caminhão do meu pai era o menor que tinha, um dos mais fraquinhos, e ele conseguia fazer praticamente o mesmo trabalho dos outros caminhões. Eu lembro que, entre uma mina e onde tinha que levar o minério, os caminhões em 1 dia, dava 3 viagens. Então os caminhões potentes davam 3 viagens, e o do meu pai, pequeno, também dava 3 viagens. Então eles ficavam até falando que o caminhão do meu pai era bastante guerreiro, conseguia acompanhar os grandes.
13:51
P/1 – Clayton, o que você se lembra de ouvir no rádio, assistir TV? Vocês faziam isso em casa?
R – Sim! Eu lembro que o que marcou muito a minha infância com relação a TV, foi o programa dos trapalhões, eu adorava, esperava a semana toda para poder assistir os trapalhões no domingo. Era um programa que eu adorava. Naquela época marcou muito a minha infância. Outra coisa que eu também adorava, era assistir corrida de formula 1. Na época Nelson Piquet, Airton Senna, eu chorava quando terminava corrida, que o Airton Senna ganhava. Então assim, marcou muito a minha infância. Até hoje eu gosto de formula 1, não tanto como antigamente. Mas eu lembro dessas duas coisas que me marcaram muito. Os trapalhões e a formula 1.
14:53
P/1 – Você se lembra de alguma corrida em especifico? Era a época de ouro da formula 1, né?
R – Sim! Eu tive a oportunidade de ver, assistir, de acompanhar na época. Eu não lembro exatamente qual corrida que foi, mas eu lembro que o Airton Senna era um dos únicos que tinha cambio manual ainda. E ele com problema no cambio manual, com chuva, e ele conseguiu ganhar uma corrida. Eu ficava muito feliz, quando ele ganhava, eu sentia uma emoção muito forte, não sei porque, mas eu sentia uma emoção muito forte quando eu assistia aquelas corridas. E com ele naquela condição inferior, com relação ao carro, conseguia fazer uma corrida com bastante brilhantismo.
15:49
P/1 – E Clayton, quem que eram seus amigos nessa época? Você fazia amigos na escola? Fazia amigos mais na rua? Quem que você lembra?
R – Naquela época, no começo da década de 80, os meus amigos, basicamente, era meio a meio. Porque a gente passava meio período na escola e meio período, vamos falar assim, brincando na rua. Então, amigos daquela época, assim próximos, eu não tenho. Eu não tenho assim, contato pessoal ainda. Mas eu lembro de todos, conheço todos. E as vezes quando eu vejo na rua, converso e a gente lembra daqueles momentos lá da infância, principalmente os da escola.
16:45
P/1 – Você foi estudar primeiro em que escola? Qual que era o nome da escola? Como que era ela?
R – Naquela época não tinha essas questões de escola infantil, então a gente já começava direto no pré-primário. Eu estudei numa escola que chama escola estadual Denis Valle, era uma escola que era perto da minha casa, eu gastava uns 5 minutos para poder chegar, eu ia e voltava a pé. A escola está lá até hoje, do mesmo jeito, como é perto da casa da minha vó, eu vou visita-lá, eu vejo essa escola, me traz lembranças muito boa.
17:29
P/1 – Você ficou nessa escola de que ano até que ano?
R – Eu estudei na escola estadual Denis Valle do pré-primário até o 4º ano. Até o 4º ano do primário. E uma fato interessante, e que minha vó trabalhava nessa escola como servente, ela é que fazia a comida para os alunos. Só que ela trabalhava... eu estudava de manhã, de manhã ou a tarde, e minha vó sempre trabalhou a noite. Então ela fazia merenda para os alunos do turno da noite.
18:09
P/1 – E o que você lembra, que te marcou nessa escola? Você falou que tem boas lembranças.
R – As boas lembranças que eu tenho dessa escola, e que sempre tinha o concurso do rei do amendoim e da rainha da pipoca. Então eram concursos assim, que tinha que arrecadar dinheiro, vender rifa. Sempre tinha o mesmo colega meu, que a família toda dele ajudava, as irmãs ajudavam, ele chama Marcos, esse colega, ele sempre ganhava, como rei do amendoim, praticamente todo ano. Então todo mundo queria perseguir ele, mas ele sempre ganhava. Então até hoje, eu conheço ele, o Marcos, ele inclusive casou com uma menina que hoje e vizinha da minha mãe. Eu ainda consigo ter um pouco de contato com ele ainda. Então ele sempre era o rei do amendoim, todo ano.
19:15
P/1 – E Clayton, depois dessa escola você foi para qual?
R – Depois do Denis Valle, eu fui para a Escola Estadual Augusto de Lima. Uma escola que na época era da 5ª serie ao 3º ano, do segundo grau. Então eu fiz todas as series lá, na época, sem repetir. Eu fiz lá tudo sem repetir, era uma escola muito boa também. Escola de referencia na cidade naquela época.
19:50
P/1 – E como é essa escola? Você consegue descrever pra gente?
R – A Escola Estadual Augusto de Lima, existe até hoje, ela está praticamente do mesmo jeito da época que eu estudei. É um prédio só, de dois andares, bem comprido, e do lado de baixo tinha algumas quadras abertas, e hoje essas quadras estão cobertas. Essa Escola Estadual Augusto de Lima, até hoje é referência no ensino estadual na cidade. E de lá eu tenho bastante amigos também, até hoje.
20:40
P/1 – Clayton, você tem alguma pessoa dessa escola que te marcou?
R – Na Escola Estadual Augusto de Lima, eu tenho um professor que me marcou bastante, que se chamava Marcio, ele ensina física e biologia. Ele ensinava de uma forma bem alegre, bem extrovertida, e tinha uma didática bem diferente dos outros professores, e fazia com que a gente tivesse bastante interesse pela matéria. Então eu não esqueço das aulas do Márcio.
21:19
P/1 – Nessa época você já tinha alguma profissão na cabeça, tinha algum sonho, você queria ser alguma coisa?
R – Nessa época ainda não. Às vezes eu pensava em ser advogado, eu não sei, talvez porque eu falava muito, gostava de comunicar. Eu pensava na questão de ser advogado, na época. Mas não tinha nada muito formado na minha cabeça. Eu era muito empenhado em estudar. Minha mãe e meu pai, nunca tiveram trabalho comigo na escola, nunca precisaram de insistir comigo para estudar, eu fazia tudo sozinho, fazia todas as lições de casa, estudava para as provas, corria atrás dos resultados. Eu chegava em casa só mostrava a caderneta com as notas. Então a competição era comigo mesmo, cada semestre eu queria ter uma nota melhor que a outra. Então a passagem em estudar na Escola Augusto de Lima foi isso. E com relação a profissão, acho que isso se deu mais no final, mas no final, quando eu estava lá no ginásio que se fala. Eu via as caminhonetes da concessionária de energia passando, com a escada em cima, e eu me interessava muito por aquilo. E via que o pessoal tinha uma condição de vida legal, tinha um carro legal. E alguns moravam perto da minha casa. E aquilo me despertou um certo interesse. A concessionária aqui de Minas chama Cemig. Então aquilo ali me despertou muito interesse naquela época.
23:19
P/1 – Mas nessa época você tinha uma ideia do que a Cemig fazia, do que essas pessoas faziam? Se eram engenheiros, administradores?
R – Não! Na verdade eu não tinha ideia do que era uma empresa de energia. O que a gente via, era só o que eu via na rua, pra mim Ceming era só a questão de trocar lâmpada em poste, de fazer aquelas coisas relacionadas a distribuição de energia. Então naquela época, não tinha ideia da grandiosidade que é uma empresa de energia elétrica. Mas desde aquela época, aquilo me despertou interesse.
24:04
P/1 – Nessa época você era mais afim a alguma matéria especifica, na escola?
R – Eu sempre fui mais ligado a área de ciências exatas, gostava muito de matemática, de física, de geometria, adorava geometria, química eu também gostava muito. Então seu sempre fui mais ligado nessa área das ciências exatas.
24:40
P/1 – Clayton, durante esse tempo você teve algum emprego? Ou você foi trabalhar depois do ginásio, apenas?
R – Não! Eu sai da Escola Estadual Augusto de Lima, eu tinha, eu acho que 13 anos, para 14 mais ou menos. Eu não trabalhava ainda. E vi que o caminho era fazer uma escola técnica. Então eu procurei na época, o Cefet. Na época eu procurei o Cefet. Fiz a inscrição para o Cefet, e fiz o concurso, na época você tinha que fazer uma prova para pode passar, e eu acabei passando concurso para o Ceft. Só que um detalhe, apesar de eu ter essa curiosidade pelo pessoal da concessionaria de energia, que passava com a caminhonete, que eu sabia que era da área elétrica. Eu fiz a prova no Cefet para mecânica. Porque eu gostava de desmontar bicicleta, de mexer com carro também, de brincar de mecânico. Então eu acabei escolhendo fazer um curso técnico de mecânica, que hoje isso me proporciona muito conhecimento da área mecânica, que eu acho que é muito importante, no setor elétrico também.
26:23
P/1 – E essa paixão por carro, ela veio de onde, você acha?
R – Essa gosto pela mecânica, talvez um pouco de influência do meu pai. Caminhoneiro, de estar sempre ali, arrumando alguma coisa no caminhão quando quebrava. Meu pai era muito curioso, mexia nos carros também. Então eu gostava de mexer em bicicleta, desmontar bicicleta, de construir carrinho de rolimã, de estar sempre consertando alguma coisa. Talvez isso tenha me feito escolher, naquela época, a parte de técnico em mecânica no Cefet.
27:04
P/1 - Então você entrou em engenharia mecânica lá, técnico?
R – É! Na verdade o curso do Cefet é um curso técnico. Eu fiz um curso técnico de mecânica no Cefet. Mas aquela vontade de fazer parte das equipes de manutenção de rede elétrica, não saiu da minha cabeça. Então eu fazia o curso técnico de mecânica, só que aquela coisa lá, ainda... de ser um eletricista, ainda estava na minha cabeça. E na ocasião, eu estava estudando no Cefet, e teve o concurso para a Cemig. Teve o concurso para aprendiz de eletricistas. Na época era um convenio que tinha com o SENAI. E eu fiz a inscrição para esse concurso, estudei pra caramba, e passei. Assim que eu conclui o curso técnico, lá no Cefet, eu tive a oportunidade de passar nesse outro concurso, para aprendiz de eletricista, da Cemig. E eu fui morar em Sete Lagoas, que onde tem, chama escolinha, escolinha da Cemig. E onde os eletricistas aprendem a ser eletricistas. Então eu tive essa oportunidade na minha vida, de poder tá fazendo algo que eu busquei fazer, que eu queria fazer, eu consegui, eu fiquei muito feliz. Eu fui morar sozinho, lá na escola, porque era tipo um internato, era o dia todo, tinha que morar lá. Eu tinha 16 anos, 15 para 16 anos, já fui morar fora de casa nessa época. Estudando lá, aprendendo a ser eletricista, e assim começou a minha história no setor elétrico. Só que um detalhe muito importante na época, porque como eu fiz o curso técnico de mecânica, no Cefet, quando eu cheguei na escola do Cemig, eles me colocaram para ser mecânico de Usina, na época. E isso me deu uma contrariada, porque eu não queria aquilo, eu queria ser eletricista, de caminhonete, de subir em poste, subir em torre. Eu fiquei um pouco contrariado, porque eu já tinha feito curso de mecânica, não queria mexer com mecânica de novo. Eu já estava na Cemig, eu vou ser mecânico? Um fato muito engraçado que aconteceu, foi que na primeira semana lá nessa escola, escola da Cemig, foi no mês de fevereiro, ai na época de chuva, e tinha muito mato na escola, lá onde tinha os postes, tinha as torres, tinha muito mato. Aí o professor na época, do pessoal dos eletricistas, deu uma enxada para cada um e mandou o pessoal ir capinar a área lá, para começar fazer a parte pratica. E teve um aluno, que ficou muito revoltado com essa situação, ele não queria capinar, que achou aquilo um absurdo, e não queria mexer com aquilo. Aí eu cheguei para ele, falei: o meu amigo, ele chama Marcos, “o Marcos, se não quer trocar comigo, não? Troca comigo! Você vai lá para a parte mecânica, que lá é tudo fechado, não tem mato, não tem nada. Aí você vai lá para a parte da oficina e eu fico aqui no meio do mato capinando, não tem problema nenhum”. Ai esse Marcos topou trocar comigo. Ele era na época, eletricista de transmissão, ainda não era de distribuição, que era o da caminhonete, com a escada. Ele era eletricista de transmissão. Aí que eu gostei mais ainda, porque a torre era alta. Então eu sempre gostei dessas coisas mais desafiadoras, de subir alto, de andar no mato. Então assim, uniu o útil ao agradável. Quando eu comecei a estudar nessa escolinha, eu me senti muito realizado, em ter entrado na Cemig primeiramente, e depois te conseguido, ter feito parte de uma equipe, de alunos de eletricista de transmissão. Eu fiquei muito apaixonado na época pela profissão.
32:04
P/1 – Você acha que se não tivesse pedido para trocar com o seu colega, você acha que teria sido diferente a sua vida?
R – Aquilo ali para mim, eu acho que aquilo ali foi o máximo da minha vida, foi o divisor de águas. Foi onde eu deixei a mecânica, apesar de ter aprendido bastante coisa, trago até hoje e fui para a parte de elétrica. Então aquilo ali foi um marco na minha vida, eu não sei te falar o que poderia ter acontecido, se aquele colega não tivesse trocado comigo. Eu não consigo imaginar, o que poderia ter acontecido, se o colega não tivesse trocado comigo naquela época, a mecânica pelo eletricista de linha de transmissão.
32:56
P/1 – E me conta um pouco mais, como era o curso? Ele durava quanto tempo? Como que era conviver com o pessoal, como se fosse um internato, como é que era essa vida?
R – Um curso na escolinha da Cemig, ele tinha duração de 6 meses. Era um internato, era uma escola muito bem organizada. A gente dormia em alojamentos, dividia quarto. Meu colega de quarto, o apelido dele era presuntinho, que parecia um porquinho cor-de-rosa. Aí colocaram o apelido dele de presuntinho, eu esqueci nome dele, mas era presuntinho. E o regime de internato era parte da manhã, a gente fazia parte teórica, parte de proteção, parte de eletromagnetismo, de eletrotécnica. E na parte da tarde, a gente ia para o campo, que era aprender subir em torre, trocar isolador, na época, trocar cruzeta de poste de madeira. Então era muito divertido, era trabalho de campo na parte da tarde, assim, era campo mesmo, era meio da terra lá, era um campo com torre, com poste. Era muito divertido na época, o pessoal gostava bastante. Isso ai foi muito marcante na minha vida.
34:33
P/1 – Você viveu alguma história que te marcou durante esse curso? Alguma coisa engraçada que você lembra? Porque vocês eram adolescentes na época, era uma coisa muito seria, mas vcs eram muito jovens. Você tinha 16, né?
R – Eu tinha 16 anos, quando a gente estudou na escolinha da Cemig. Era muito divertido, não tinha tecnologia nenhuma, a gente para ligar para casa, tinha que ligar do orelhão, não tinha internet, não tinha celular, era um negocio muito mais pessoal assim, sabe? Um contato mais direto, tudo na base de combinando o horário, estamos lá, não tinha negocio de ficar mandando mensagem. Então era muito gostoso. E uma coisa que me marcou muito, um episódio que me marcou muito, como eu morava em Nova Lima, que é do lado de Belo Horizonte. Essa escolinha era em Sete Lagoas. Sete Lagoas fica mais ou menos 70km de Belo Horizonte. Então eu tinha a oportunidade de ir todo final de semana para casa. Tinha gente que morava em Uberlândia, Montes Claros e o pessoal ficava o final de semana lá e ía só nos feriados. Então como eu morava em Nova Lima, perto de Belo Horizonte, perto de Sete Lagoas, eu tinha oportunidade de ir todo final de semana para casa. Naquela época tinha, era um serviço de taxi, era um taxi meio clandestino, que juntava ai, 4 pessoas, e eles faziam esse translado ai, Sete Lagoas, Belo Horizonte. Eu lembro que em uma ocasião, um taxista foi pegar a gente lá na porta da escola, para levar para Belo Horizonte, e descendo uma ladeira bem forte lá perto da escola, entrou um ônibus na nossa frente. E esse carro entrou de baixo do ônibus praticamente. Foi um acidente muito feio, se você visse assim, falava: morreu! Mas eu não sei o que aconteceu, acho que Deus pois a mão naquele dia cabeça de todo mundo, que ninguém se machucou. Então a gente bateu na lateral de um ônibus, esse foi um negocio assustador, até hoje quando eu lembro eu fico assustado. E até hoje eu não consigo entender porque ninguém machucou. A única explicação e que Deus pois a mão mesmo, e não deixou ninguém machucar naquele dia lá.
37:34
P/1 – Nisso você tinha 16, 17, é isso?
R – Isso! Eu tinha 16. Eu entrei na escolinha... foi 16 anos, como são só 6 meses, então toda essa passagem ai, foi quando eu tinha 16 anos.
37:44
P/1 – O que o seu pai, sua mãe, falaram? Os seus irmãos?
R – Você fala a respeito desse acidente?
37:52
P/1 – Sim! Como é que foi você contar para eles?
R – Na época, como não tinha como tirar foto, não tinha... era só o que a gente falava mesmo. Então como foi mais um susto, então eu não sei se eu consegui, passar para eles, como realmente foi a cena. Então assim, para eles... se eu contar para eles hoje, acho que eles nem se lembram. Mas pra mim ficou marcado.
38:25
P/1 – Como é que funcionava na época, você saia do curso, e era deslocado para trabalhar em alguma cidade, em alguma área, como é que era isso?
R – Quando a gente prestava o concurso, na época para aprendiz de eletricista, as vagas já eram direcionadas para aquelas determinadas cidades, tipo Uberlândia, Monte Claros, Juiz de Fora. Então os alunos já iam para o internato da escolinha, já fazia ali todo o curso, já sabendo para onde eles iriam. No meu caso, depois que terminou o curso, eu fui para Belo Horizonte. Então eu fui trabalhar em Belo Horizonte, na Cemig em Belo Horizonte, na época.
39:18
P/1 – E como é que era á? Você se lembra do primeiro dia de trabalho seu?
R – Lembro! Eu fui trabalhar numa área de engenharia de manutenção, onde eles faziam serviços mais parte experimental, novas tecnologias, não era uma parte de manutenção efetivamente. Então era uma área que eles faziam coisas novas, experiências, parte de linha viva. Elas davam um treinamento de linha viva, então participei muito, desse treinamento de linha viva, aprendi bastante, aprendi a gostar. E lá, trabalhando nessa equipe, de engenharia de manutenção. Eu decidi que eu deveria continuar estudando, ai eu fui fazer o vestibular para engenharia elétrica. Ai eu fui procurar um cursinho, para poder fazer o vestibular para engenharia elétrica. Quando eu comecei a trabalhar na equipe de eletricistas, da engenharia de manutenção.
40:46
P/1 – Como é que era a tecnologia na época na Cemig? Que tipo de experimentos vocês faziam lá, nessa época?
R – A área de linha de transmissão, é uma área assim, que não tem muita coisa para sair fora da caixa. É torre, é cabo, isolador e nada muito, além disso. E naquela época a gente fazia experimento de novas ferramentas para manutenção, tipo, ferramenta de linha viva, um robô para poder andar no cabo. Um novo tipo de emenda de cabo, um novo tipo de isolador, colocava ele e deixava ele um tempo lá, e depois pegava e mandava para o laboratório. Então era experiências, assim, muito voltadas para linha de transmissão e nada assim, muito tecnológico. Porque a linha de transmissão, ela não permite, assim, ela não tem muito campo para muita tecnologia, muito simples, a linha de transmissão é muito simples.
42:09
P/1 – E você fez cursinho então, Clayton? Você passou no 1º ano, como é que foi? Você estudo na UFMG, ou em outra faculdade?
R – Eu gostaria muito de ter estudado na UFMG, mas na UFMG na época, o curso de engenharia elétrica, era só durante o dia. E eu não tive outra opção, a não ser escolher uma universidade particular, que é a PUC Minas. Então eu escolhi o curso de engenharia elétrica da PUC Minas, e fiz um curso de pré-vestibular durante uns 5, 6 meses, mais ou menos. E consegui passar na primeira oportunidade. Então foi em 1998, foi de 97 para 98. Então em 97 eu fiz o cursinho pré-vestibular até o final do ano, fiz o vestibular no fim de 97 e consegui começar a estudar engenharia elétrica no comecinho de 98.
43:24
P/1 – Isso tudo você tinha mudado para Belo Horizonte, ou você morava com os seus pais em Nova Lima?
R – Eu morava em Nova Lima. Depois que eu vim de Sete Lagoas, comecei a trabalhar em Belo Horizonte, como aprendiz de eletricista. Durante esse tempo todo, eu morei na casa dos meus pais em Nova Lima. Nova Lima fica 20km de Belo Horizonte. Então assim, as vezes é até mais perto de alguns lugares da região metropolitana, ou em Belo Horizonte mesmo. Então tinha facilidade de transporte, e eu consegui, não foi muito difícil não. E eu morei com os meus pais nesse inicio ai de faculdade, eu morei com os meus pais.
44:20
P/1 – Como é que eram os seus colegas na Cemig? Tem alguém que você lembra, algum funcionário que te marcou, durante esse período?
R – Eu lembro de todos, de todo pessoal que trabalhou comigo na época que eu fui eletricista. Eu lembro de todos os funcionários, mas o que mais me marcou, o que ficou mais guardado para mim, chama Luís Carlos. Ele era o engenheiro de linha na época, carinhosamente a gente chama ele de Lulu. Eu aprendi muito com ele, mais para a vida do que para a profissão, é uma pessoa muito bacana, muito generosa, muito alegre, muito humilde. Até hoje eu tenho contato com ele, então o Lulu para mim foi uma referência de vida que eu tive, em questões de lhe dar com outras pessoas.
45:33
P/1 – Durante a Cemig você ficava mais em laboratório ou você também saia para campo?
R – No começo, quando eu saio da escolinha, eu fiquei na engenharia de manutenção. A gente ficava mais por conta de fazer experiências, com as novas ferramentas e tecnologias, que o pessoal da engenharia trazia. Só que isso ai, foi só no começo. Depois quando eu fui efetivado, depois que eu fiz a parte de aprendiz, eu tive que fazer uma outra prova, para conseguir ser efetivado, como se fosse um outro concurso, para poder conseguir efetivação. Aí depois que eu fui efetivado, eu fui trabalhar efetivamente numa equipe de linha de transmissão mesmo. O pessoal que saia para o mato todo dia, para fazer, para cortar mato, para poder cortar árvore, subir na torre, trocar isolador, fazer trabalho de linha viva, inspeção área com helicóptero. Então era assim, muito dinâmico, muito gostoso, era dirigir o dia inteiro, carro 4X4, de baixo de linha. Então foi uma fase muito gostosa da minha vida.
47:08
P/1 – Como é que é trabalhar em linha de transmissão? Que caso vocês pegavam para trabalhar? Como é que era sair para ir para campo?
R – Quando eu comecei a trabalhar na equipe de linhas, na mesma época também, eu comecei a fazer a faculdade de engenharia elétrica. Mas a nossa rotina na Cemig, era chegar, chegava lá 7h45, trocava de roupa, até 8h30 a gente estava saindo da base para poder fazer alguma inspeção. Atividade básica em linha de transmissão, é inspeção. Você vai seguindo a linha, vendo se tem parte de erosão, se tem alguma árvore perigosa, perto dos cabos, se tem isolador quebrado, se tem alguma avaria no cabo. Perto de cidade grande, as pessoas costumam roubar peças da torre, para poder fazer alguma coisa em casa. Então o serviço básico nosso era inspeção. Então 8h30 a gente saia, para poder fazer inspeção nas linhas. No caso, o departamento que eu trabalhava era região metropolitana, na maioria das vezes a gente conseguia sair, faz um pouco de inspeção e volta, quando era 15h30 da tarde a gente já estava voltando para a base. Chegava na base por volta de 15 para as 16h, tomava um banho, pegava um ônibus e ia para a escola. Então a rotina era essa. Era basicamente fazer inspeção. Eventualmente tem alguns outros serviços, que eu gostava muito, que era a parte de linha viva, que até hoje eu gosto. Parte de manutenção em linha viva, pra mim, é uma das coisas que eu mais gosto, parte de linha de transmissão. Eu tive oportunidade de trabalhar bastante com linha viva, entrei no potencial, andei no cabo com a linha ligada. Então assim, é muito gostoso. Sem contar que o trabalho de linha de transmissão e constantemente no campo, você está toda hora entrando numa fazenda diferente, atravessando um rio, passando num buraco. E isso é uma coisa que eu gosto muito de fazer, de fazer esse tipo de coisa, de sair para o mato. Eu já tive Jeep, recentemente eu vendi um Jeep, mas eu gosto muito ainda de fazer passeio 4X4. Fiz trilha de moto também, durante muito tempo, esse ano eu fiz uma trilha com uns amigos também. Então assim, está no campo e fora da cidade, pra mim é muito gostoso. Então eu tinha oportunidade de estar fazendo isso todo dia, trabalhando com linha de transmissão, e assim, era um pouco cansativa a parte física. A parte física era muito cansativa, mas a mente, quando eu chegava na faculdade a noite minha mente estava muito limpa. Então eu tive oportunidade de fazer a faculdade, assim, de forma muito tranquila. Porque eu não tinha nenhum peso, com relação a coisa de trabalho, não tinha coisa de ficar fazendo relatório, prazo para entregar aquilo, prazo para entregar isso. Então o serviço era muito simples, e gratificante, e gostoso, você sair dirigindo, fazendo inspeção. Então sobrava cabeça para poder estudar durante a noite, apesar do corpo está cansado.
51:24
P/1 – E você se lembra a primeira vez que você subiu numa linha viva, como é que foi? Porque é um trabalho muito perigoso, né?
R – O trabalho de linha viva, ao contrario do que muita gente pensa, ele é muito seguro. Em linha de transmissão ele é muito seguro. E um trabalho em que você consegue controlar muito bem os riscos. Então o trabalho em linha viva, eu costumo dizer que ele mais seguro que o linha morta, uma linha desligada. Porque você esta atento ali, a tudo, as distâncias, as condições meteorológicas. A equipe está muito ligada, muito entrosada, está um tomando conta do outro. E realmente um trabalho de equipe. E a primeira vez que eu entrei em contato, que eu subi para poder fazer a parte de linha viva, foi durante um treinamento, que a Cemig me proporcionou, de estar sendo habilitado para linha viva. Só que antes disso, eu já participava como ajudante, eu ficava ali na parte de baixo da torre, levando coisa para cima, para o pessoal, puxando corda. Já lia as apostilas, nos bastidores ali eu já gostava, já trabalhava um pouco. E durante o treinamento eu tive a oportunidade de ter mesmo o contato lá, com as ferramentas de linha viva, lá no alto da torre. Tive a oportunidade várias vezes de entrar no cabo, com a linha energizada. Então não lembro exatamente, assim, qual foi o trabalho, mas foi durante um treinamento que eu tive a oportunidade.
53:13
P/1 – Me conta como é que você se lembra desse trabalho em equipe? Como é que é essa camaradagem? O que te marcou dessas pessoas nessa época, que você estava muito em campo?
R – Nessa área de manutenção de linha, a gente tem a oportunidade de trabalhar em equipe, desde o 1º dia, a gente não faz nada sozinho. Principalmente nos trabalhos de linha viva, quando é feito o treinamento, a pessoa também tem que passar por uma avaliação psicológica, de comportamento, para não trazer nenhum risco para a atividade de linha viva para os outros eletricistas. Só que eu não me lembro de ter nenhum companheiro de trabalho lá, que não pode fazer uma atividade por esse motivo. Mas assim, o que eu me lembro é que a confiança no que o outro faz, é muito importante. Você confiar no colega de trabalho é muito importante. Você esta confiando a sua vida, no colega que está do lado de você. Então quando eu ia entrar no cabo, por exemplo, com a linha energizada, eu estava sendo sustando pela mão de um colega que estava lá na torre. E eu não tinha medo nenhum, nunca tive falta de confiança no colega de trabalho, na equipe de linha viva. Então isso ai, a gente aprende a confiar, a gente convive com a pessoa todo dia, a parte do dia todo. Então assim, a parte de confiança, no trabalho de linha viva, ele é fundamental. E isso é lição para a vida também, a gente confiar no colega de trabalho. Na área de energia, a gente tem que confiar muito no colega de trabalho.
55:49
P/1 – Você tem algum caso, alguma história, alguma emergência que durante esse período te marcou mais?
R – Ainda na Cemig, eu lembro que a gente fazia inspeção aérea nas linhas, era uma atividade que eu gostava muito. A gente fazer inspeção aérea pra mim era a melhor coisa que tinha. A Cemig tem uma garra lá no aeroporto da Pampulha, na época tinha dois helicópteros. E todo mês de março, e mês de setembro, a gente fazia essas inspeções aéreas. Então tinha um piloto em particular, que chamava Ricardo, que ele era um piloto muito bom muito profissional. E quando a gente fazia inspeção aérea, a gente, por exemplo, ia para Uberaba, dormia lá, conversava muito. Eu tinha vontade de ser piloto de helicóptero também, isso me despertava muito interesse, até hoje, se eu tivesse oportunidade, eu acho que eu faria. Em uma dessas viagens, que a gente foi para Montes Claros, a gente conversou, saiu, jantou, foi para o hotel. E acabou meu serviço, nos voltamos para Belo Horizonte, aí no outro dia ele ia continuar fazendo inspeção, com outra equipe, da região do Vale do Aço. E nesse dia, foi até o dia do meu aniversário, 23 de março, acho que de 99. Então ele saiu do aeroporto da Pampulha, pegou o pessoal lá em Ipatinga, para poder fazer uma inspeção. E nesse dia, houve um acidente, durante a inspeção aérea, ele tocou o helicóptero na linha de transmissão, o helicóptero caiu. E acabou falecendo os dois técnicos e o piloto. Então assim, foi uma coisa que me marcou muito, era um profissional que estava muito próximo da gente, e assim, foi a primeira vez que eu me lembro de ter tido uma perda tão próxima.
58:24
P/1 – O que passa na cabeça quando acontece uma coisa dessas?
R – A lição que ficou para mim e que tudo na vida é imprevisível. A gente está aqui hoje, e amanhã a gente não sabe o que pode acontecer com a gente. Então vamos viver o hoje, planejar o amanhã, para que seja melhor que hoje, que amanhã a gente não sabe o que pode acontecer com a gente.
59:03
P/1 – Eu tenho ouvido muito, dos funcionários de Furnas que a população em geral, só lembra das companhias das empresas do ramo elétrico, quando acaba a energia, uma coisa muito comum. Como é que você vê a relação das empresas, aqui no caso da Cemig, a população em geral, acha que elas entendem o trabalho, entendem a importância, como é que era a relação que você tinha no campo, que você percebia com a população em geral?
R – Assim, na época que eu tive na Cemig. A imagem da Cemig é uma imagem muito boa. A imagem da Cemig é de uma empresa muito solida. Os índices de desempenho são muito bons. E isso resulta numa imagem muito boa, que a população tem da Cemig, até hoje. Então eu tinha orgulho de trabalhar na Cemig na época. Eu tinha orgulho de trabalhar, e como a gente estava na linha de frente, a Cemig era a gente. A gente saia com o uniforme, o carro identificado, e a gente era sempre bem recebido. A gente não ouvia reclamação. A imagem da empresa, na época que eu trabalhei, era muito boa.
1:00:57
P/1 – Como que era a PUC nessa época? Como é que foi fazer o curso? Eu imagino que você tenha trazido uma experiência muito pratica nas aulas.
R – Como eu era muito da parte de linha de transmissão. E a parte de linha de transmissão, não tinha assim, muito segredo, sabe. Não era uma coisa muito complexa. Então o link do meu trabalho com as coisas que eu aprendia na faculdade, era um pouco fraco, porque linha de transmissão é uma coisa muito trivial, em termos de engenharia como um todo. Em termos de complexidade, vamos falar assim. Você compara uma linha com um transformador, por exemplo, com um disjuntor. Transformador tem muito mais engenharia, muito mais fenômeno. Na faculdade eu não tive assim uma experiência muito de linkar o meu trabalho com o que eu aprendia na teoria não. Mas ao mesmo tempo, isso abriu muito o meu campo de visão, a faculdade serve para isso. Eu aprendi muita coisa que eu não tinha nem ideia de como funcionava, na parte de distribuição, de geração, de transmissão, de energia nuclear. Que foi uma parte que eu gostei muito de ter aprendido. Então a faculdade abriu muito a mente da gente para diversas possibilidades de aprendizado no futuro. Isso me trouxe também, a vontade de ser engenheiro, de praticar o que eu estava aprendendo na faculdade. E na Cemig, eu era técnico, eu era um eletricista, nível técnico. E como era uma empresa publica, eu não tinha oportunidade de estar ocupando cargo de engenheiro. Então era um coisa restrita, tinha que fazer concurso, era uma coisa que acontecia as vezes, e era muito difícil. Isso me fez procurar outros horizontes. Então, no fim da faculdade, eu vi que ia ter um concurso de Furnas, eu nem sabia o que era Furnas, não tinha nem ideia do que era Furnas. Não lembro como que eu fiquei sabendo que ia ter um concurso, isso foi em 2002, foi no ano que eu formei. Quando a gente forma, a gente procura novas possibilidades. Essa foi uma oportunidade que apareceu, em 2002. Eu estava acabando de me formar. E eu decidi fazer o concurso. Falei: vou estudar, vou me dedicar para esse concurso, e assim eu fiz. Assim que eu formei, alias, foi bem junto com a minha formatura, a prova foi... Na verdade o concurso era para ter sido em 2002. Aliás, o concurso foi em 2002, eu lembro que eu me preparei, eu me disciplinei bastante, eu estudava 4 horas por dia. Eu chegava do trabalho, da Cemig, e tinha minha mesa lá no meu quarto, com todo o material, com todo roteiro de estudo. Então eu me dediquei para poder estudar. E fui fazer a prova lá no Rio de Janeiro. Eu morava em Belo Horizonte. E eu escolhi a especialidade da engenharia, que eu escolhi na época, foi engenheiro de linha de transmissão, que era o que eu tinha experiência. Não tinha experiência como engenheiro, mas tinha experiência em linha de transmissão. Era o engenheiro eletricista, de linha de transmissão, que só tinha no Rio de Janeiro. Ai eu falei, lembro que eu falei para minha mãe, “agora eu sou do mundo”. Depois que eu formar, eu vou para qualquer lugar. E a Cemig não me segura não. Ai eu fui para o Rio de Janeiro, fazer a proa em 2002. E teve um atraso para pode chamar, de dois anos, praticamente. Eu acabei passando, eu passei em 3º lugar, na prova, na época, passe em 3º lugar, e fui chamado em Furnas, em agosto de 2004. Então eu fiz a prova em 2002. Em agosto de 2004, eu fui chamado para ir para o Rio de Janeiro, para poder fazer entrevista.
1:06:15
P/1 – Você já tinha ido para o Rio de Janeiro, antes de fazer o curso, ou não?
R – Eu tinha ido para o Rio de Janeiro, em uma oportunidade do Cepel, o meu trabalho de fim de curso da engenharia, foi relacionado a aterramento temporário para manutenção. Então a Cemig me proporcionou, um acompanhamento de um trabalho que estava sendo feito no Cepel, nessa área, de aterramento. E eu tive oportunidade de conhecer o Rio de Janeiro e o Cepel, que é um dos maiores, se não foi o maior, centro de tecnologia de energia da América Latina. Então eu já conhecia o Rio de Janeiro sim, muito pouco, mas já tinha ido lá.
1:07:09
P/1 – E como é que foi a entrevista?
R – Na verdade a entrevista foi um pouco frustrante, na verdade. Porque quando eu cheguei em Furnas, eu fui escolhido para trabalhar no arquivo técnico, ai eu fiquei muito decepcionado, na época, fiquei muito decepcionado. Falei: não é possível, estudei, experiência de linha, estou vindo da Cemig, fiz prova para engenheiro de linha de transmissão. Tem um departamento de linha de transmissão lá, conhecia as pessoas já, do departamento de linha de transmissão de Furnas. E eles vão me colocar para trabalhar no arquivo técnico? A não! Aquilo ali foi um banho de água fria pra mim, foi muito frustrante, e eu decidi, “não, se for para trabalhar no arquivo técnico, eu não vou vim para o Rio de Janeiro não”. Ai depois da entrevista, eu passei lá no departamento de linhas, e comentei com o gerente da época, que era o Wilson Franco. Eu falei: pô, tenho experiência de linha. Levei meu currículo lá, com linha viva, com tudo que eu poderia contribuir na área de linha, o cara me chama para poder trabalhar no arquivo técnico. Não, se for no arquivo técnico eu não vou ser feliz aqui não. Eu acho que eu não vou nem vim. Aí dei uma desabafada lá. O pessoal lá da Cemig, já me conhecia, eu já conhecia algumas pessoas. Ai o pessoal lá sensibilizou, falou: não, pera ai que nos vamos ver. Você não pode ficar lá, você tem experiência para vir para cá. Nós queremos você aqui. Aí acabou que no final, eu consegui fazer essa mudança. O pessoal me conseguiu colocar lá na divisão de linhas de transmissão. E eu fiquei muito feliz de estar fazendo parte daquela equipe, como engenheiro. Então foi mais um sonho realizado na minha vida, em agosto de 2004.
1:09:29
P/1 – Ai você foi se mudara para o Rio, trabalhar na central, é isso? No prédio central em Botafogo?
R – Isso! Eu passei em agosto de 2004, fui trabalhar no escritório central, na divisão de linha de transmissão, que chamava na época DLTR. E mudei para o Rio de Janeiro, a principio, durante todo o tempo que eu morei no Rio de Janeiro eu morei numa republica, fiquei dividindo apartamento com alguém. O salario não dava para ter um apartamento sozinho. Então a gente sempre estava dividindo o apartamento com alguém. Na época eu estava solteiro, tinha essa possibilidade, e mudei para o Rio de Janeiro. Comecei a trabalhar na DLTR, fui muito bem recebido, pude contribuir bastante com os meus conhecimentos. Agora sim, o que eu fazia na pratica, apliquei muito diretamente em Furnas, na parte de engenharia de manutenção. Então eu pude contribuir muito ai. Na parte de linha, fazendo manual de manutenção, dando treinamento de linha viva. Dei treinamento de linha viva para várias equipes. Tive oportunidade de fazer coisas inovadoras, na parte de linha de transmissão, na parte de manutenção e linha viva em subestações. Tive trabalhos publicados, na área, apresentei trabalhos em vários seminários relacionados a linha viva. Então foi uma parte muito rica e produtiva na minha carreira. Essa passagem que eu tive na DLTR, que foi de 2004 até 2008.
1:11:34
P/1 – Como que é o trabalho, a rotina de um engenheiro na área de linha de transmissão, no departamento que você estava em 2004 a 2008? Quais são as demandas?
R – As demandas do engenheiro de linha de transmissão de Furnas é sempre voltada a melhoria de desempenho, das linhas de transmissão. Em todos os campos, até uma nova tecnologia de inspeção com drone. Na época se falou até em inspeção com dirigível. Então a rotina do engenheiro e sempre buscar soluções, para os problemas de linhas de transmissões. Que é problema de poluição de linha de isoladores, problema de vibração de cabo, está buscando um isolador novo, desenvolvendo novas tecnologias de inspeção. Novas ferramentas para poder armazenar dados. A parte de informática é uma parte de linha muito atrasada, então a parte de você coletar dados, de referenciar turnos, de referenciar linhas. Então essa é uma demanda constante, da engenharia de linha de transmissão. E também, uma parte muito importante que eu vivenciei, e uma parte que a engenharia está diretamente envolvida, é a parte quando cai linha de transmissão. Então quando cai uma torre. Eu participei várias vezes de várias emergências de linha de transmissão. Tive oportunidade de aprender bastante com isso. E a engenharia de manutenção esta diretamente ligada, no caso dessas recomposições de linha. E não só na recomposição, como também estudar porque que caiu, se tinha alguma parte da estrutura bamba, frouxa, como no caso das torres Estaiadas, eles podem ter os estaios um pouco bambos, ai quando vem um vento da chuva, derruba a torre. Então são vários estudos que são feitos, depois que é uma linha recuperada, para poder tentar descobrir, porque que a linha caiu, se foi só por causa do vento forte mesmo ou se teve algum outro fator associado a isso. Então essa parte de queda de torre, a parte de poluição também, é uma parte que afeta muito o sistema de Furnas. Novas tecnologias, a parte de informatização, georeferenciamento. Então a engenharia está por trás de isso ai, quando se trata de manutenção de linha de transmissão.
1:15:04
P/1 – Nessa área você também teve a oportunidade de ir para campo também, né?
R – Sim! Quando eu trabalhei na DLTR no Rio de Janeiro, era muita atividade de campo, várias demandas. Então a gente cada semana estava numa área diferente, dando uma consultoria, levantando um problema, ajudando resolver. Então essa parte de campo, da engenharia de manutenção de linha, é uma parte muito ativa. Porque a linha, ela está espalhada por todo o território brasileiro. Então a gente tem que estar, onde a linha está. O problema está linha, então a gente tem que estar na linha. Então para ir para a linha, tem que ir para o campo. E ir para o campo para mim, sempre foi um motivo de satisfação.
1:16:15
P/1 – E nessa época você passou a visitar usinas, subestações também? Você já conhecia essas plantas, como é que foi?
R – Conhecia várias subestações, quando a gente vai fazer algum trabalho em linha, sempre a base é uma subestação. Só que os meus olhos, estavam sempre voltados da cerca para fora da subestação. Então linha de transmissão, é da cerca para fora. Todos os problemas, todas as atividades, sempre estavam do lado de fora da cerca da subestação, quando se trata de linha de transmissão. Mas mesmo assim eu tive oportunidade de conhecer várias subestações, algumas poucas usinas, porque é uma área que não tem muita relação com usina, a não ser a linha que chega lá. Então é isso, a visão que a gente tinha quando chegava na subestação, era da cerca para fora.
1:17:26
P/1 – Queria que você falasse um pouquinho dos projetos de inovação que você trabalhou, você capitaneou no DLTR. Você pode nomear algum, ou me descrever alguns que te marcaram mais, que você tem mais orgulho?
R – Nas atividades de manutenção de linha viva, a gente tinha o desafio... a manutenção de linha viva nas linhas, estavam muito consolidadas, é uma atividade bastante consolidada, e que não tem muita coisa para inovar. Só que a atividade de linha viva na subestação, é uma atividade mais nova, vamos dizer assim. E uma oportunidade na subestação de Bateias. Bateias hoje, tem as duas linhas de transmissão que traz a maior receita financeira para Furnas. Então essas linhas, elas muito dificilmente são desligadas para poder fazer manutenção, só em casos estremos e críticos mesmo. Então lá em Bateias, perto de Curitiba, acharam seccionadoras da linha Ibiúna Bateias, que são essas linhas que tem a maior receita de Furnas, maior receita financeira. Ela estava com um ponto quente na chave seccionadora. E foi nos dado o desafio de tentar solucionar, essa questão do ponto quente da chave seccionadora de 500kw em linha viva. E eu tive a oportunidade de estar indo lá, para poder deslumbrar alguma possibilidade de fazer esse trabalho de linha viva, na seccionadora, para poder tirar o ponto quente na seccionadora. E junto lá com a equipe local, não fiz isso sozinho, obviamente, teve a participação de mais pessoas. Mas nos tivemos uma ideia de fazer com um barramento paralelo a uma chave seccionadora de 500kw. A chave seccionadora de 500kw tem aproximadamente uns 5 metros. E a gente pensou em fazer jumper por cima dessa chave seccionadora, com um tubo. E abrir e fechar ela, sem interromper o fluxo de energia para a subestação de Ibiúna. Então a gente vislumbrou essa possibilidade, nos acertamos os detalhes lá e resolvemos fazer a experiência. E foi uma experiência de sucesso, nos conseguimos. Eu nunca vi um trabalho desse porte, até hoje, eu nunca vi um trabalho desse porte que foi feito. A gente conseguir circuitar uma chave seccionadora de 500kw, para poder fazer com que ela se abre e se feche, para poder fazer a manutenção dos contatos lá, sem interromper o fluxo de energia. E isso foi possível, desenvolvendo o trabalho de linha viva. Então nos fizemos isso em uma fase, incialmente. Depois nos fizemos nas 3 fases. Então foi um trabalho assim, muito inovador. Eu não tinha visto precedentes, até então. Até hoje, apesar de eu ter saído da área. Um trabalho que eu não vi precedentes daquele porte. E foi um trabalho que rendeu, igual eu falei anteriormente, rendeu publicações aí em seminários, no seminário mais importante do setor de energia do Brasil, que é CNPTE. Eu lembro que na oportunidade de apresentar esse trabalho, a sala estava cheia, tinha gente em pé. Eu fiquei muito satisfeito, muito feliz. Um trabalho muito comentado, na época eu fui muito abordado pelas pessoas nos corredores. Até hoje, alguém que lê esse trabalho, entra em contato comigo, manda um e-mail perguntando alguma coisa. Então foi uma coisa que me marcou muito, essa passagem ai na DLTR.
1:22:18
P/1 – Você acha que Furnas é um espaço que tem abertura para criatividade, para inovar, para fazer experiência? Como é que você vê isso?
R – Na área de linha viva e subestação é 100% criatividade. Obviamente respeitando a questão de segurança, distanciamento. Mas um trabalho igual a esse que eu citei, de linha viva e subestação, você tem que ter muito dinamismo, muita criatividade. Porque não é uma coisa de rotina, não é uma coisa padronizada, não é uma coisa que você acha pronto. Você tem que chegar lá e arrumar uma solução na hora. Diante das condições de contorno que você tem, ali em volta dos outros circuitos, das condições meteorológicas, de recurso de ferramenta, de pessoal. Então assim, é uma coisa que você tem que dar uma solução na hora. Essa parte de linha viva em subestação, é uma parte totalmente aberta a criatividade a inovação.
1:24:03
P/1 – Clayton, você saiu em 2008 da DLTR? Você foi deslocado para que área? Você foi fazer que trabalhos em Furnas?
R – Na verdade partiu de mim, querer ir embora do Rio de Janeiro. Apesar de eu gostar muito da área de linha de transmissão, da área de linha viva, de estar muito envolvido com as coisas que eu gosto. Eu queria mudar para o interior, eu estava um pouco frustrado com a... eu costumo falar assim, da roleta para fora de Furnas. Da roleta para dentro eu estava extremamente feliz, mas da roleta para fora eu tinha algo que não estava legal para mim. Eu acho que a questão de dificuldade de moradia, preço de apartamento, morar longe do trabalho, questão de violência. Então varias dessas coisas me fez pensar em talvez uma outra possibilidade. E ao mesmo tempo também, abrir novos horizontes e aprender coisas novas. Porque até 2004, eu já tinha ai, não era muito tempo não, mas era quase 10 anos de experiência com linha de transmissão, 8 anos de experiência com linha de transmissão. E como eu disse, linha de transmissão é uma coisa assim, muito simples. E como Furnas é uma empresa que tem outras áreas também da engenharia, eu queria unir o útil ao agradável. Eu queria aprender coisas novas, e também morar num lugar mais tranquilo. E eu busquei essa oportunidade, internamente. E foi me dada a oportunidade de vir para o, na época, chamava CTE, Centro Técnico de Ensaios e Medições. Que é localizado na usina de Furnas. Na época o superintendente me deu essa oportunidade de estar vindo para cá. O intuito de fazer esse crescimento profissional mesmo, de aprender coisas novas, de contribuir em outro lugar. E pessoalmente de estar morando em outro lugar também. Então eu vim para o CTE em 2008, eu vim para o CTE em 2008, trabalhar na oficina eletromecânica e no laboratório de alta tensão também. É uma coisa assim, completamente nova para mim, então tudo que eu fazia era novo. Era tudo novidade, era como se eu tivesse começando do zero, a parte profissional. Apesar de estar vindo com uma bagagem do sistema elétrico, uma bagagem de trabalho em equipe, uma bagagem de usar a criatividade para fazer um pouco de inovação. Tudo que eu aprendi a partir de 2008 para cá, é tudo novo para mim. E até hoje tem sido. Porque sair da área de linha, entrar na área de transformadores, disjuntores, é uma área extremamente ampla, com funcionamento bem mais complexo, e onde a engenharia pode entrar com mais profundidade e oportunidade de aprendizado também.
1:27:55
P/1 – Explica para a gente, para quem não conhece, o que é o CTE? Ele trabalha para pesquisa em que área, e quando foi fundado, etc?
R - O CTE, que é o antigo Centro Técnico de Ensaio de Medições, hoje é departamento de ensaios e suporte a manutenção. Ele foi criado no começo da década de 80, com o objetivo de dar suporte de todas as áreas regionais de Furnas, tanto usina, quanto subestação. Então o CPE, ele tem a incumbência de dar apoio técnico e soluções para aquelas demandas, que a manutenção rotineira não consegue solucionar. Então a equipe de linha de frente de Furnas, tanto nas Usinas, quanto nas subestações, elas fazem a manutenção de rotina e alguma coisa que saia dessa rotina e precisa de uma intervenção e de um diagnóstico através de alguns testes mais avançados, vamos dizer assim. Aí entra a equipe do departamento de ensaios, do suporte e manutenção. E essa equipe é composta de vários Engenheiros, vários técnicos, que têm vivência aí em todo setor elétrico. O CTE hoje é responsável, também, uma parte muito importante, que vale salientar, a parte de medição e faturamento de Furnas. Então o nosso departamento hoje, digitais, suporte e manutenção, é responsável por toda medição de energia que passa dentro de Furnas. Então toda energia que passa dentro de Furnas, e que Furnas recebe por essa transmissão de energia, então toda a receita de Furnas passa pela medição e faturamento, que é de responsabilidade do nosso departamento. Além disso, o CTE... eu falo CTE, porque o CTE fica na cabeça, a sigla mais antiga, então fica mais na cabeça. Então o nosso apartamento, ele também tem um laboratório de química, que é responsável pela análise de óleo de mais de 1.000 transformadores, que hoje estão instalados no parque industrial de Furnas, nas subestações. Então hoje nós temos mais de 1.000 transformadores, e esses transformadores, eles precisam de ter seu óleo analisado periodicamente. Porque o óleo para o transformador é assim como o sangue do ser humano. Então através de ensaios, o ser humano exames, a gente consegue diagnosticar algum defeito que porventura estejam ocorrendo no transformador. Então hoje o departamento é responsável pelo ensaio de todo o óleo, da empresa inteira. Tem essa questão do faturamento, tem essa questão de apoio em manutenção dos instrumentos, que são utilizados pelas equipes de campo. Então o CTE tem essa característica de estar dando um apoio de engenharia de manutenção, para toda área de Furnas. Tem também a parte de apoio, quando cai uma linha de transmissão, nos temos um quite de emergência para linha de transmissão, que tem várias ferramentas, tem geradores. É muita coisa que o pessoal precisa, para poder reerguer uma linha. A gente tem estrategicamente guardado aqui, e pronto para sair a qualquer momento para dar esse apoio nas áreas. Temos também uma oficina mecânica de estrema qualidade, que desenvolve soluções para os problemas que acontecem nas usinas de Furnas. Então nos temos a parte de mecânica muito bem estabelecida e muito competente, para poder estar dando solução a problemas de usina. Temos uma parte também, que merece destaque, que é a parte de oficina de disjuntores. Que no Brasil eu desconheço alguma com essa característica, de estar renovando os disjuntores de alta tensão de Furnas. Hoje o departamento de ensaios de suporte de manutenção, é muito estratégico para a empresa. A gente consegue dar um suporte e uma garantia da qualidade do fornecimento de energia para toda empresa.
1:33:03
P/1 - Você continua indo para campo, né?
R – Sim! Eu continuo indo para campo, a gente, especificamente, a equipe que eu trabalho, é a equipe de transmissão. Equipe de transmissão é a equipe responsável por fazer ensaios em transformadores. Transformadores de extra alta tensão, inclusive, vale destacar ai, que recentemente eu tive a oportunidade de fazer um teste em um dos maiores transformadores da América Latina, situado na subestação Tijuco Preto. E consegui detectar uma falha nele, antes que ele fosse energizado. Então isso para mim foi um fato marcante, eu consegui detectar uma falha antes dele energizar, se ele fosse energizado, ele poderia explodir, pegar fogo. Um transformador desse, uma falha só, custa 10 milhões de reais. Então nossa equipe de transmissão, ela faz ensaios especiais em transformadores. Então nós tentamos diagnosticar, eventuais defeitos, em transformadores, para que eles não se tornem uma falha. Uma falha que venha danificar o transformador e trazer um prejuízo de grande monta para a empresa.
1:34:41
P/1 – Uma coisa que eu achei curiosa e que você vai para Campo seguidamente, mas me parece que mudando um pouco de posição né, que você tá observando, no seu cargo. Como é que é isso? Hoje em dia você chega o pessoal fala, o Clayton do CTE, é isso?
R - Hoje a gente faz muito trabalho de campo, a gente viaja com bastante frequência e tentando fazer... é muito gostoso, porque a gente da essa confiança para o pessoal da área, a gente da essa segurança. Quando a gente chega assim, eu fico até meio com medo assim, que depositam muita confiança na gente. E a gente tem que ter responsabilidade para assumir isso, e dá um diagnóstico com segurança, mesmo que a gente não consiga dar a solução para todos os problemas, a gente tem que passar segurança, mesmo de uma forma, “não sei, agora tem que estudar melhor”. Eu acho que de qualquer forma a gente tem que passar segurança, vamos chamar de cliente, para os nossos clientes. E o trabalho de campo é uma rotina nossa, porque os transformadores, eles não podem sair da subestação e vir para o laboratório. Então o laboratório que tem que sair e ir onde estão os transformadores. E além dos transformadores, a gente também trabalha com disjuntor, a gente está desenvolvendo aí... Falando da inovação, eu falei da inovação lá na parte de linha, agora na inovação aqui na parte de disjuntor, a parte de disjuntor que é uma das partes que a gente trabalha também, a gente trabalha com disjuntor e transformador. Então disjuntor, tem uma parte de controle, que é uma parte eletrônica, e Furnas hoje tem diversos disjuntores que operam há mais de 20 anos, já com uma eletrônica bem pesada embarcada. E hoje quando você vai dar manutenção nesses disjuntores, com essa eletrônica, que foi construído a 20 anos atrás, ninguém consegue. Quando dá problema, ninguém consegue consertar. Você procura o fabricante, o fabricante já não existe, o fabricante já virou outro, aquela tecnologia eletrônica já se tornou defasada. E a gente viu nisso, uma oportunidade de estar entrando e fazendo uma coisa nova. Então hoje, tá no ápice da nossa da nossa atividade hoje, esse desenvolvimento. Na verdade já foi desenvolvido, nós estamos aplicando. O que a gente está fazendo? Nós estamos tirando essa parte eletrônica, que está defasada, dos transformadores. A parte ativa do transformador, que a parte principal, a parte que está lá em contato com a energia, é uma parte robusta, e que ainda vai durar muito tempo, muitos anos. Essa parte eletrônica, quando dá problema, ela não tem um suporte técnico fora de Furnas. Então nos tivemos que desenvolver uma eletrônica nova, para poder substituir a eletrônica antiga. Então falando assim, parece fácil, mas não é. Então a gente tem que estudar todos aqueles componentes, todas aquelas funcionalidades e ver o que realmente interessa, o que não interessa, e desenvolver um projeto novo. Então isso foi feito ai nos últimos 3 anos e agora nos estamos implantando. Então onde existia um problema de obsolescência tecnológica na parte da eletrônica, hoje a gente esta entrando com uma solução de Furnas. Uma solução de Furnas que permite com que esse disjuntor vai ter uma vida útil mais longa e com a parte eletrônica, que a gente detém um conhecimento. A gente produziu, a gente tem o conhecimento como funciona, a gente tem confiabilidade, e a gente pode dar manutenção. Então a gente já implantou esse novo sistema eletrônico, de controle de disjuntores em Itutinga, tem uns 3 anos, de lá para cá, a gente já implantou uns 3 ou 4 disjuntores. E está previsto agora implantar em Adrianópolis. Então é um projeto que a gente acreditou, investiu e que está dando certo. Um projeto inovador, inclusive, esse projeto foi selecionado, para ser apresentado no seminário nacional de produção e transmissão de energia elétrica, que é o CNPTE, que é o mais importante seminário do setor elétrico brasileiro.
1:39:50
P/1 – Essas atuais ações elas tem a ver com tecnologias mais atuais, é isso? Com digital? Você falou georeferenciamento, por exemplo. Tem a ver com os avanços das conexões, das comunicações? Também tem a ver com isso?
R – Na verdade é uma renovação da parte de controle do disjuntor. E como você tivesse um carro, o motor dele ainda pode funcionar mais 100 mil km, mas a injeção eletrônica dele deu defeito, e seu carro está falhando. Então a gente construí uma injeção eletrônica nova, para poder botar esse motor para funcionar mais 100 mil km. Para ser didático, uma referência seria essa.
1:41:05
P/1 – Furnas é uma empresa que constrói muito a sua própria tecnologia, não é. Como é que é a relação com outras empresas, de outros países, outros centros de pesquisas, outros laboratórios? Como é a relação com outros centro de pesquisas?
R - Hoje, nosso principal parceiro na busca de novas soluções, de novas formas de trabalhar, e o Cepel. Hoje a gente tem uma pareceria muito estreita com o Cepel. Então a gente desenvolveu muita coisa nova em parceria com o Cepel. Em termos internacionais, a gente é um pouco limitado, por ser uma empresa pública, então a gente tem muita limitação de questão de viagem. Então a nossa pareceria com laboratórios fica mais limitada ao Cepel. E com relação a outras empresas do setor elétrico também, é uma relação um pouco fraca também. A relação mais forte é com o Cepel. Eu já conheço o centro de tecnologia da Eletrosul, não tive oportunidade de conhecer nem da Eletronorte e nem da Chesf. Eu sei que tem. Mas assim, eu acho que é uma parte que as empresas deviriam ter um inteiração melhor, integralizar essas soluções, que a gente pratica em Furnas, com as soluções das nossas empresas coirmã. Então isso ai é uma parte que eu acho que a gente pode melhorar.
1:43:10
P/1 – Quais são os maiores desafio que você vê para sua área hoje? E hoje em 2021, quais projetos você está trabalhando? Para além dos projetos, qual seria os maiores desafios do CTE?
R – Hoje o CTE, por ser o centro de tecnologia de Furnas, tá muito ligado a essa parte de inovação. Nós estamos tendo atualmente, oportunidade de estar inserido em alguns projetos de tecnologia de desenvolvimento. Está para iniciar por agora, alguns projetos de pesquisa em desenvolvimento na área de disjuntores e na área de tecnologia de materiais. Então é uma oportunidade que a gente vai ter de aprimorar conhecimento, de capacitar profissionais e de estar fazendo uma atualização acadêmica de alguns assuntos, na área de disjuntores, na área de materiais. Mas além desse campo de pesquisa, o nosso desafio, acho que um desafio constante, do departamento de ensaio a apoio a manutenção, é está dando suporte adequando as linhas de frente da empresa, com confiança, isso que é o mais importante, com confiança, com credibilidade e com o tempo de resposta satisfatório. Para poder gerar essa confiança que a gente gostaria que não fosse abalada com o tempo. Essa confiança dos nossos clientes.
1:45:25
P/1 – Em Furnas tem algum ou alguns funcionários, companheiros seu que te marcaram, te marcam? Alguns que você tem maior parceria? Que você tem alguma história, que você lembra sempre de alguém?
R – Como a minha experiência profissional em Furnas é mais longa da minha vida, até então, desde 2004, quase 20 anos, 17 anos na empresa. Tive oportunidade de conviver com muita gente, gente que já até morreu, que me deixou lembranças muito boas. Assim, em especial, eu não gostaria de destacar ninguém não. Mas gostaria de destacar as equipes. As equipes que eu trabalhei na DLTR, profissionais extremamente qualificados, que aprenderam comigo. Tinha gente lá que não sabia nada de linha e entrou no concurso comigo. Eu passei muita coisa de linha para eles, eles passaram muitas outras coisas para mim. Então foi uma evolução conjunta, que aconteceu, na minha experiência na DLTR, lá no Rio de Janeiro. E aqui no CTE também, tive oportunidade de conhecer muita gente que já aposentou, que eu aprendi coisas novas. E hoje, hoje nos somos a referência porque os mais antigos já aposentaram. E agora, hoje Furnas está um pouco renovada. E hoje nos somos a referência, nos somos os engenheiros lá do CTE. Tem muita gente que esta aprendendo com a gente, a gente aprende também. A gente aprende em conjunto, a gente erra, o ser humano erra, e com o erro a gente consegue dar um passo mais longo lá na frente. Então hoje nos somos a referência da empresa, em termos de engenharia de manutenção. A responsabilidade é muito grande, a gente tem que dar resposta rápida, e a coisa é muito dinâmica também, porque uma hora você esta mexendo com um assunto, no mesmo dia a gente trabalha com 4 assuntos completamente diferente. A gente mexe com licitação, a gente mexe com problema em transformador, a gente mexe com o problema de transporte. Então assim, é uma coisa muito dinâmica e muito saldável. Hoje eu tenho oportunidade de trabalhar com uma equipe muito boa, muito coesa, do qual eu tenho muito orgulho. Tenho confiança também, quando a gente programa uma pessoa para fazer uma atividade, eu tenho certeza que ela vai fazer aquilo bem feito, sem deixar de lado nossa parte da supervisão, a gente está sempre acompanhando. Está sempre ajudando a entregar uma resposta adequada para o cliente, a gente está fazendo relatórios bem elaborados, bem ricos, bem claros e bem objetivos. Então hoje, a sinergia da equipe que eu trabalho é muito boa, com a gerência também. O gerente hoje, meu colega de escola, formou junto comigo. Então a gente tem uma afinidade profissional muito legal. Isso da oportunidade para a gente crescer também, profissionalmente.
1:49:34
P/1 – O pessoal que você trabalha, quando você vai a campo, como é que é hoje, eles se surpreendem em saber que você trabalhou muito em linha também, você já subiu, várias vezes. As pessoas te tomam como referência também nessa atividade do dia a dia, muito prática que você tem desde muito cedo, como é que é isso?
R - Na verdade, na área de transformadores, a gente não comenta muito coisa de linha, então quando eu estou nessa área de disjuntor, transformadores, laboratório pesquisa. Então é uma a área que essa parte de linha fica meio apagada. Mas quando eu vou fazer alguma atividade, que tem pessoal de linha envolvido. Aí sim é uma coisa muito legal, porque o pessoal me conhece, eu consigo compartilhar bastante coisa, eu consigo falar na linguagem deles. Eu consigo entender a forma como eles colocam a coisa para mim, como uma coisa que eu vivencie. Tem até uma linguagem própria. Então é muito gostoso, muito gostoso, quando eu estou envolvido com eles. Mas quando eu estou na parte de transformador, uma coisa que não tem muita ligação, fica um pouco complicado de eu expor essa parte. Uma coisa tipo assim, não tem nada a ver eu falar de linha, estou trabalhando com transformador. Mas assim, quando eu tenho a oportunidade de estar em uma emergência de linha de transmissão, que eventualmente ainda vou, então é muito gratificante, estar com o pessoal, o pessoal me conhece, reconhece, é muito legal.
1:51:24
P/1 - Qual sua opinião sobre os funcionários de Furnas em geral? Você acha que algum padrão? Você acha que tem algum perfil ou não? O que você acha sobre isso? R – Eu acho que sim, acho que tem um padrão, tem um perfil. Hoje eu enxergo Furnas um pouco renovada. Um pouco renovada, na questão da parte pessoal mesmo, a parte de idade do pessoal, já aposentou muita gente. E com relação a pessoas, a gente tem oportunidade de ver de tudo, tem pessoas um pouco mais acomodados, tem pessoas um pouco mais avançadas, em termos de opinião. E por ser uma empresa com limitações na base da Lei, isso acaba limitando a gente um pouco também. Às vezes a gente quer ir um pouco além do que a gente gostaria, mas as vezes nós somos um pouco impedidos, por algumas limitações que nós somos obrigados a conviver com ela. Então isso faz com que a gente tenha... no meu ponto de vista, um perfil de pessoas um pouco mais acomodadas, e um perfil de pessoas também que eu acho que é o que sobressai, que eu acho que é o que tem em maior quantidade, é o preço de pessoas engajadas. Engajadas em querer fazer o melhor, engajadas em querer mostrar um resultado bom, e engajadas em manter o nome de Furnas forte. Porque nós estamos aí, atravessando um cenário muito desafiador, muito desafiador, que pode causar mais medo em umas pessoas, do que em outras. Mas nós temos que estar preparados para encarar os desafios, superar os desafios e não deixar essas coisas que a gente não tem controle, nos abalar. A gente tem que seguir em frente, dando o nosso melhor, que o resultado sempre vem.
1:53:59
P/1 - E como é que você vê o futuro de Furnas, daqui a 10, 20 anos? E o futuro do CTE também, daqui esse tempo?
R - A um tempo atrás, eu poderia falar do futuro com mais conforto. Hoje, diante desse cenário aí, de privatização, apesar de eu ser um pouco otimista. Eu vejo um cenário um pouco incerto. Mas eu estou confiante de que, baseado nas pessoas, que são a base da empresa, independente de qualquer coisa que vem acontecer. A base da empresa é muito forte. E o setor elétrico, ele precisa dessa base forte, para poder se manter, se manter lucrativa, se manter funcionando com qualidade. Então eu tenho uma visão de que a gente vai ter que superar desafios, que até hoje não foram colocados para os funcionários de Furnas. Mas eu tenho certeza de que eles serão muito bem superados.
1:55:16
P/1 – Você é casado hoje?
R – Sim! Hoje eu sou casado, tenho uma esposa, chama Suzana, tenho um enteado que chama Arthur, e tenho um filho que chama Rafael. O Rafael hoje está com 3 anos, o Arthur vai fazer 10. Então, alegria da vida da gente é o filho. Eu não imaginava que eu teria um afeto tão grande por uma pessoa, até quando nasce o filho da gente. Então é uma experiência de vida, que não tem como descrever, só sendo pai, para poder sentir e saber do que eu estou falando.
1:56:08
P/1 – Como é que você conheceu a sua atual esposa, Clayton?
R – Eu a conheci através de um colega de trabalho, eu já tinha achado, nossa, que mulher bonita, eu quero conhecer ela. Aí eu fiquei sabendo que ela era prima de um funcionário lá que trabalhava com a gente. Aí eu pedi o telefone, aí comecei a conversar com ela, aí acabou dando certo.
1:56:48
P/1 – Como é que foi o dia que nasceu o Rafael, você se lembra?
R - Rafael nasceu no dia 12 de junho, de 2018, foi no dia dos namorados, 20h40 da noite, alguma coisa assim. Eu assisti o parto, foi muito emocionante, muito marcante. Mas não só o nascimento, cada dia que você vê uma criança crescendo, desenvolvendo, descobrindo coisas novas, você cresce também. Então, cada dia mais feliz do que o outro, quando você tem um filho amado.
1:57:28
P/1 - Como é que tem sido essa pandemia para você no trabalho, no dia a dia, na escola dos seus filhos? Como é que tem sido essa experiência para você?
R - Essa situação de pandemia... graças a Deus, aqui em casa não tivemos casos. E para mim, eu tirei bastante proveito da situação, porque eu tive a oportunidade de ficar mais em casa com o meu filho. Então isso me deu oportunidade, que talvez, se não tivesse essa situação, eu não teria nunca. Então essa fase aí, de 2,3 anos, uma fase muito rica, muito alegre, que a criança muda de um dia para o outro. Então eu tive oportunidade de estar mais próximo da família, de ficar mais em casa. Como meu trabalho de campo, a gente viaja muito, e a gente ficou um pouco viajando menos, durante esse período de pandemia, apesar de ter viajado sim, alguma coisa. Mas eu fiquei mais próximo da família, e isso faz a gente ficar melhor. A gente se sente muito melhor quando está perto da família.
1:58:57
P/1 - Por falar em família, como é que está a sua família hoje, como é que tem sido a trajetória dos seus irmãos, seu pai você falou que ele ainda faz viagens. Como é que está hoje?
R – Hoje, minha mãe está com 60 anos, meu pai com 67. Meu pai ainda dirigi caminhão, eles têm uma vida boa, confortável, eu comunico com ele todos os dias, eles são muito amáveis, muito queridos, muito de bem com a vida, não reclamam de nada. Eles estão sempre levando a vida numa boa, que é o aprendizado que eu tenho com eles. E meus irmãos, tem um irmão que trabalha mais com meu pai, que ajuda ele lá com os caminhões, na verdade meu pai tem dois caminhões agora, e tem um irmão que ajuda muito meu pai, companheiro de viagem, pau para toda obra, lá com o meu pai. E o outro irmão, ele é se formou em Engenheiro, engenheiro de produção, trabalha lá em Nova Lima, como tem muita parte de mineração, ele trabalha na área de projeto de implementos de mineração. E empresário também, na área de comércio. E estão todos lá. E eu deslocado aqui, de vez em quando dou um pulo lá em Nova Lima, hoje eu estou em Passos, de vez em quando eu dou um pulo lá, para me sentir nos braços da família de onde eu vim.
2:00:40
P/1 - Como é que foi contar um pouquinho da sua história e da história da empresa para gente hoje?
R - Foi muito melhor do que eu esperava, porque eu nunca tive oportunidade de escrever esse livro, falado. Então, nunca tive oportunidade de contar essa história, de que eu fui, desde a infância que eu comentei aqui, até hoje com o meu filho. Então eu nunca tive a oportunidade de estar falando isso de forma tão completa, tão rica. Estou me sentindo muito feliz hoje, por causa disso. Espero que eu consiga mostrar isso para os meus filhos, para o meu pai, que eles consigam continuar tendo orgulho de mim assim.
2:01:39
P/1 – Você tem algum sonho, algum desejo? Quais são eles hoje?
R – Meu maior sonho hoje, é acompanhar a trajetória do meu filho, é poder estar ensinando para ele, estar mostrando para ele, e dando segurança para ele encarar os desafios da vida. Meu maior sonho e poder estar dando essa oportunidade e esse apoio para ele. É um sonho imaterial, sonhos materiais eu acho que são coisas secundarias, a gente corre atrás. Mas meu maior sonho hoje é poder estar dando segurança para ele seguir a sua vida.
2:02:26
P/1 – Tá certo Clayton, é isso então. Eu agradeço muito pela sua presença, pela disposição, pelo seu tempo, que a gente sabe que é raro. Vocês trabalham muito. Muito obrigada pela disposição. Foi um prazer!
R – Muito obrigada! Fiquei muito feliz em poder compartilhar com vocês um pouco da história. Tem história com a Daniela também, a gente já teve ai, alguma situações lamacentas, em que ela pode tirar bastante fotos bonitas, com a gente trabalhando. Foi bastante gratificante, né Daniela?
P/2 – É muita história boa!
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