Memória Aracruz
Depoimento de Maridea Bitti
Entrevistado por Mirella e Edvaldo Trajano
Aracruz, 10 de dezembro de 2003
Realização Museu da Pessoa
Código da entrevista: ACZ_HV025
Transcrito por Marllon Chaves
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 - Dona Maridea, boa tarde!
R- Boa tard...Continuar leitura
Memória Aracruz
Depoimento de Maridea Bitti
Entrevistado por Mirella e Edvaldo Trajano
Aracruz, 10 de dezembro de 2003
Realização Museu da Pessoa
Código da entrevista: ACZ_HV025
Transcrito por Marllon Chaves
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 - Dona Maridea, boa tarde!
R- Boa tarde!
P/1 - A gente gostaria que você começasse dizendo para a gente o nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R- Maridéa Rosa Bitti, nasci na proximidade do Rio de Janeiro, numa fazenda.
P/1 - Em que data?
R- Em sete de março de 1931.
P/1 - E o nome dos seus pais, qual era?
R- José Nunes da Rosa Júnior, já falecido a muitos anos e também minha mãe, Ercília Peixoto Rosa.
P/1 - E os seu avós?
R- Meus avós, Eriberto Bastos da Rosa e Luíza Bastos da Rosa, que morreu com 105 anos minha avó.
P/1 - Nossa, viveu tanto tempo, né? Quais eram as atividades dos seus pais e dos seus avós?
R- Papai sempre foi fazendeiro, empresário também sempre cuidando, gostando de fazenda.
P/1 - E tua mãe?
R- Minha mãe dedicada, aquela mãe extremosa cuidadosa, que nos ensinou de tudo quase, porque ela dizia: “mesmo você criada, como diz os antigos, em berço de ouro, mas pode no futuro casar com uma pessoa que não tenha posse e que você tenha que trabalhar. E casando com uma pessoa de posse, né, também você não vai saber mandar, porque se não estiver uma coisa bem feita”, então ela vai dizer: “como faz dona Maridea?” E eu ficaria embaraçada, né? Então, graças a deus, sem ser perfeita, com muitas imperfeições, mas procurando sempre acertar como foi o meu adorado companheiro Bruno Bitti, se errou, porque todos nós erramos, o perfeito está no céu, ele tentou muito e batalhou muito para sempre acertar, e os filhos são quatro, o Cristiano, a Cátia Cristina, a Isabel Cristina e o Bruno.
P/1 - Fala um pouco o quê que eles fazem?
R- O Dajo ele teve assim toda, tudo que ele, talvez pelo mais velho e homem, porque o Bruno já veio já muito tempo depois, então ele tinha tudo o que queria do pai e da mãe também. Então usava roupa, acompanhava a moda, né? E chegou o vestibular ele perdeu e eu consegui com o João Calmon, o saudoso João Calmon, que na época era dos diários associados, ele conseguiu uma bolsa de estudo em Portugal, e o Cristiano seguiu com uns 18 anos, porque naquela época, não sei a educação como ficou, tantos anos, ele não tinha vestibular, então ele cursou um ano. Aí fazia a sua própria comida, lavava roupa e sempre criado com muito conforto, mas sempre aprendendo todos eles pequenos a cuidar de suas roupas de suas gavetas, trazer sempre as coisas no lugar, né, quer dizer os livros, naquela época nem existia tênis, né?
P/1 - E os outros faziam o quê?
R- O Dajo aí com ano ele voltou de Portugal, porque começou a greve que era um ponto marcante nosso, começou em Portugal, aí ele voltou, então para ele não, tão pouco tempo, um ano, né? Ele quis conhecer outros lugares, né? E foi a Marrocos, então em Marrocos ele, como é normal nas cidades que a gente não conhece, a gente quer ver inclusive o prato principal, todo o costume da região. E ele foi parar, esse muitos lugares ele foi parar em um cemitério, e de manhã era cedinho e ele divisou um monge velhinho meditando, então ele não saiu de manhã até o anoitecer quando o monge esse deslocou do cemitério e desapareceu, ele não foi atrás, ele então ficava de cócoras e ficava em pé, o Cristiano, mas com aquilo na cabeça, mas eu acho assim, tudo coisa pessoal, tudo é do destino, porque ele é um grande monge. O lado social, o lado de preservação do meio ambiente, né, como o pai perdeu a vida toda, todas as estradas do município são reflorestadas por árvores frutíferas, né?
P/1 - Depois a gente vai falar um pouquinho dele, agora conta um pouquinho dos outros filhos para a gente...
R- A Cátia, ela estudou em Aracruz, depois elas foram para Vitória no Salesiano, tanto Bebel e Cátia, Bruno e Cristiano também, né, e quando precisou estudar no Rio, já exigiam né. Porque muitos anos... Vitória ainda era muito carente de educação, de tudo, né, então ela foi para o Rio primeiro, antes de Bebel, e ela com uma colega elas fundaram uma, como digamos, construção de obras, uma firma. Porque inclusive Cátia chegou até a construir a casa da cantora Simone.
P/1 - Uma construtora mesmo.
R- Uma construtora, e depois...
P/1 - Ela se formou em quê?
R- Todas as duas em administração do benedit.
P/1 - E o Bruno?
R- Bruno que é hoje 26, o caçula, ele ficou estudando por aqui mesmo, porque nós fundamos, Cátia levantou a bandeira, eu segurou e com o marido, porque sem ele eu não realizaria os meus sonhos, que foram muitos, como maiores foram dele, então eu também estive ao lado no tempo todinho, 50 anos completou, antes de Deus levá-lo. Então Bruno estudou na faculdade de Facha.
P/1 - Fez o quê?
R- Ele ciências contábeis, porque foi o primeiro curso, né, interrompeu por dois anos dado o acidente da irmã, né. Ela que também eram as duas donas. Então ele ficou dois anos afastado da faculdade, já é formado, e tem pretensão agora no ano que vem ele fazer direito.
P/1 - Qual a origem da sua família?
R- Italiano e alemão do marido, o meu português.
P/1 - E você tem irmãos?
R- Tive.
P/1 - Quantos?
R- Eu tive seis irmãos, somos duas mulheres e éramos cinco irmãos. Perdemos dois tragicamente em acidente.
P/1 - E eles ainda vivem no Rio?
R- Não, toda a família em Vitória.
P/1 - Toda em Vitória.
R- Sobrinhos que é em Nova Iorque, São Paulo, Rio.
P/1 - Agora falando um pouco da sua infância. A sua infância foi no Rio?
R- Não, muito pouco na fazenda, até uns oito anos, né?
P/1 - E como foi a sua infância?
R- A infância, eu acho que a infância naquela época era muita pureza, era fazer bonequinha, bruxinha de, quando mesmo a gente ia a cidade e ia no mercado, então tinha aquelas bruxinhas de pano, então a gente se encantava, tinha as brincadeiras de cozinhado com os coleguinhas, vizinhos, ou entre os irmãos mesmo, ou primos, tinha casamento… Então era uma infância e também até a adolescência muito prazerosa, porque não existia o que há muitos longos anos já, digamos, a violência vêm aumentado cada vez mais, né, nos trazendo uma insegurança muito grande e um desamor, e o que eu acho como pessoa que o que falta no mundo é a presença de Deus no seu
coração e a fé, porque o temor à Deus evita… Como eu 30 anos cuidei dos presos em Aracruz, me vestindo de Papai Noel, correndo e decorando todos os departamentos da prefeitura, o fórum, a cadeia, então eu me vestia de Papai Noel e fazia aquela visita, hospital, procurava saber a minha secretária quantas crianças, infelizmente, quantas crianças na pediatria, então eu já ia preparada com os presentes e a das enfermarias eu levava doces e o fato assim tão importante, foram muitos na minha vida na minha caminhada de quase 73 anos é, não foi uma vez, muitas vezes no recanto do ancião que foi o primeiro fundado por mim, que meu marido também foi um dos sonhos meus que ele realizou, foram muitos, foi em Bela Vista, que a empresa na correspondência feita por mim ela me doou praticamente tudo.
P/1 - Qual empresa?
R- A Aracruz Celulose.
P/1 - Foi em que época mais ou menos a década e o ano?
R- Não sei, também você podia deixar em aberto e eu vejo, na semana.
P/1 - Mas na época a senhora ainda era a primeira dama de Aracruz.
R- Sim, eu tinha muitos sonhos, o primeiro jardim né, eu consegui que fosse construído em 40 dias, quando na época era diretor da celulose, foi um dos pioneiros, o doutor Leopoldo Garcia Brandão, então na inauguração ele me lançou prefeita de Aracruz, candidata, pelo trabalho em 40 dias por tudo que foi feito e inclusive gabinetes, toaletes, chuveiros, tudo o que fosse necessário, porque a mentalidade então naquela época era muito difícil para uma criança, então eu tomei conta dois anos até que eu conseguisse que uma professora de Aracruz se especializasse na área. Então eu me afastei, missão cumprida, né, e fui para criar outros jardins que foram muitos. O que eu tenho muita tristeza é que eu fui homenageada com poster grande da comunidade em que eu fundava o jardim, então por administração foram retirados, eu tenho em minha casa guardados, só ficou na sede que tentaram também tirar, querendo tirar a professora mas não conseguiram, então permanecem até dois, não no jardim primeiro de 40 dias, porque aí o padre Lucas já precisava né, do espaço para ampliar a igreja, os escritórios, as necessidades normal da administração da igreja, e meu marido, o saudoso Bruno Bitti, construiu um muito grande pelo crescimento de Aracruz, né, da população, já exigia também um jardim, então com a municipalidade, com dinheiro do município e do governo, se fez um jardim à altura da comunidade.
P/1 - Agora, dona Maridea, antes de entrar nessas questões de Aracruz, eu queria te perguntar mais um pouquinho como que era a tua casa na infância lá na fazenda, conta mais um pouco disso rapidamente para a gente saber um pouquinho mais da tua vida.
R- Era muito boa, eu sempre fui muito sensível, muito carinhosa, cheia de amor até hoje.
P/1 - Você brincava muito, o que vocês faziam?
R- Brincava muito de boneca, até hoje eu sou doida por uma boneca, porque a criança que temos dentro que nós, que devemos conservar com muito amor, essa criança é muito aguçado dentro de mim, porque eu tenho ainda bonequinhas.
P/1 - E como era o cotidiano da tua casa quando você era criança, com seus irmãos?
R- Ele tinha muito ciúme de Célia, a minha irmã mais velha, eu era assim desde criança levada, arteira mesmo, sem esquecer o lado de amor e de carinho, isso aí era eu e o Mário os mais carinhosos, os mais sensíveis da família, então era de boneca aquilo que eu falei, era de cozinhadinho, era de lavar o pratinho, mamãe sempre… Não era zen como o monge, mas ela já tinha o espírito de conservadora, de educação, né, o trabalho, sempre o trabalho. Ela e papai, desde pequena, qualquer que fosse o trabalhinho pela idade também, tudo tem limite. Ela então fazia com que lavasse a xícara, o copo, o pratinho, cuidasse da boneca, fizesse vestidinhos novos, né? E então era muito, foi uma infância muito gostosa, só que aquele ciúme que achava que papai era mais… Porque a Célia era muito mais estudiosa.
P/1 - Quando foi que a senhora iniciou os estudos, onde foi que a senhora estudou?
R- Eu estudei em Campos, Macaé e Campos, e depois no Cristo Rei de Cachoeiro do Itapemirim, primeiro lugar que nós ficamos uns cinco anos antes dele comprar essa fazenda entre Linhares e São Mateus, para Barra Seca e montar um charqueado e criação de gado e de porcos, ali que eu conheci, tive a felicidade aí de conhecer o querido primo Bitti porque eles tinham um alambique aqui que não existe há muitos anos mais, a Estrela do Norte, a famosa cachaça Estrela do Norte, então ele trocava o charque pela cachaça e assim foi esse o conhecimento, ele era uma pessoa que papai admirava muito muito educado, um lorde, nasceu lorde.
P/1 - Que legal! Você tinha muitos amigos nessa época de juventude, muitas amigas?
R- Eu, quando novinha?
P/1 - Quando você conheceu ele, nesse período?
R- Ah, de primo?
P/1 - Uhum.
R- Não, porque eu morava em fazenda, tinha muitos amigos em Vitória, porque minha irmã casou muito antes, ela tinha muita preocupação com aquele velho adágio de ficar para a titia, e na minha cabeça não existia isso, eu queria estudar muito mais, né?
P/1 - A senhora se formou em quê?
R- Eu fiz pedagogia e depois esses cursos da associação escola superior de guerra fui condecorada pela marinha de guerra do Brasil, pelo exército, trabalhos que eu prestei, pela PM, delegada da Soamar da associação dos amigos da Marinha, eu sou delegada no município em várias , reintegrada, reimpossada, né?
P/1 - Qual foi o seu primeiro trabalho?
R- Professora.
P/1 - Aonde?
R- Aracruz não, lá na fazenda. Uma de São Mateus, ali entre Linhares e São Mateus, foi a primeira nomeação do governador Cristiano Dias Lopes.
P/1 - E foi em qual ano, mais ou menos, que a senhora conheceu o primo Bitti, e começaram a namorar?
R- Nós, teve um fato muito engraçado, que eu bordando, Célia era do bordado mais artesanal, então naquela época se usava pano para fogão, pano para alho, de tudo, né, era o jogo completo, então eu estava lá bordando aquelas coisas rústicas na varanda, de macacão, de tamanco tipo holandês, então eu às dez horas eu saía, pegava o cavalo, então eu ía não me veio, vocês me ajudam de, para dar de longe o sinal da hora do almoço? Como é que é, de chifre?
P/1 - Ah, o berrante?
R- O berrante, dez horas, uma boa distância galopando, então eu dava o sinal, e também à tarde eu também dava o aviso.
P/1 - Que legal!
R- Então eu era uma pessoa cheia de energia. Então, a minha irmã, o Mário casou, então ficou normalmente afastado um tempo e Célia assumiu a administração da fazenda, escritório, e lá vem Célia um dia, eu bordando aquelas cadeiras, aquelas varandas gostosas de roça e eu bordando o enxoval dela, “Maridea, minha filha, mas tem um rapaz no escritório, olha mas ele é simpático, bonito, uma dentadura, Maridea vai lá”. E eu tinha gente assim de São Mateus, de Linhares, tudo para namorar, para casar, e papai era uma fera, eu e primo viemos beijar mesmo no dia do casamento, porque quando uma vez por mês, fazia visitas, então era ali na casa, papai para lá e para cá, de cachimbo, disfarçando, e outra hora era o irmão que ele mandava… Mas foi muito bom, não condeno a educação de muitos anos, com limite, com respeito, mas eu acho que foi muito bom o nosso conhecimento, aí eu voltei tiririca, minha filha, aí eu falei assim: “Ô Célia, você que veio desesperada com medo de ficar para titia, eu nem passa isso pela minha cabeça, eu leio, eu vou para a horta, eu vou para o pomar, eu leciono à noite para os empregados por amor, eu leciono durante o dia, eu tenho tanta coisa para ocupar a mente, eu sou muito nova, cheia de vida, então eu quero ainda estudar muito, e você então arranja coisa para mim não. Eu lá da roça de Salasul, eu quero nada da roça, eu não quero não.” Ih minha filha, daí começou meu pai, que era muito bem de situação, começou ele a perder tudo né, em termos, e incêndio na fazenda, aí ele teve que ficar com o Trenfi, que era um, em Tucum, Cariacica, era um frigorífico, porque era o que mais devia ele em gado, que ele fornecia para o frigorífico, aí nós, eu comecei a conhecer primo, muito assim, como das épocas de 50 anos, tudo era diferente, e a gostar e depois do casamento é que eu me apaixonei mesmo por ele, pela bondade, pela dignidade, que nem deve se falar em dignidade que está ficando uma minoria, porque é um dever de todo mundo, é uma obrigação, e ele é muito humano, muito querido, muito companheiro, nós fomos amigos, fomos namorados, fomos amantes, fomos cúmplices, fomos parceiros, é muito doloroso o que eu e os filhos estamos passando nesses quase três anos de ausência, porque os bons não morrem, os bons estão perto da gente.
P/1 - E aí logo que você casou, a senhora veio para a cidade de Aracruz?
R- Salassu.
P/1 - Salassu.
R- É, macaco grande.
P/1 - E como é que foi que se deu a sua chegada à cidade de Aracruz, a trajetória?
R- Era mata pura, era mata pura. Aqui nem se fala, quando depois de muitos anos quando a gente vinha de caminhonete à praia, era uma coisa assustadora, porque a mata é vida, se o homem não tivesse destruído tanto o mundo, nós não estaríamos com essa carência e esse perigo até de ficarmos sem água no mundo, né, então é uma coisa muito dolorosa o desmatamento, sem lei, à deriva.
P/1 - Sei.
R- Então eu de meu pai eu ganhei um carro, vocês imaginam há 51 anos uma mulher dirigindo e mata, era a casa do saudoso senhor Eugênio Antônio Bitti, o pai, meu sogro, ali onde é o Banco do Brasil, e da canônica era uma igrejinha pequenina, porém tinha uma escadinha em caracol, e eu com aquela, sempre trazendo dentro de mim aquela educação de trabalho e mesmo da gente, porque a gente fazia com muito amor, aí aquelas crianças que eu podia juntar, é com a Cátia, que a Bebel ainda não tinha nascido, nem o Bruno, o Cristiano e a Cátia, então eu costurava o uniforme de gala, tinha o uniforme diário, eu mandei fazer as mesinhas, tudo com muito sacrifício, então eu mesma e o primo Bitti que mantínhamos a faxina, o material, tudo, porque o que predominava era carente mesmo.
P/1 - Aonde, na região?
R- Na região.
P/1 - E como é que foi, e a família dele, fundaram Aracruz?
R- Se formou Salassu pelo fato do pai que foi vereador passou para ele, né? Ele foi vereador também, o pai era e passou para ele, então com certeza era vaga, porque para passar a lei não permitia passar, uma coisa assim que eu não estou certa não, então ele ia, primeiro o pai ia doando lote aqui, lote ali, lote acolá, e com isso as pessoas de fora de Ibiraçu, João Leiva, de Vitória, Linhares, São Mateus, iam fazendo sua casinha, com simplicidade mas tinham sua casinha.
P/1 - Foi daí que surgiu Aracruz?
R- É, a Salassu.
P/1 - Salassu é o quê, o primeiro nome de Aracruz?
R- É primeiro nome, então depois a comarca de Santa Cruz que passou para Aracruz numa madrugada, porque existia uma rivalidade que conseguiu com minha comunicação, com meu carinho unir as famílias que se odiavam, Samego e Bitti através infelizmente de uma paraplégica. A velhinha era da família, que ficou assim em Santa Cruz até morrer, e tinha uma indiazinha que tomava conta dela e eu resolvi fazer uma visita com minha coragem, e fui tão bem recebida que fiquei assim, ela ficou tão ligada, uma ligada à outra afetivamente, eu chamava de tia, e sempre um bolo, umas frutas, não ia nunca com a mão vazia, era bote naquela época a travessia, depois é que apareceu a balsa.
P/1 - Entendo, agora fala um pouquinho mais da cidade de Aracruz.
R- Aí foi doação, aí quando o pai se afastou porque comprou uma fazenda em Viana, lá próximo à Viana, então o primo Bitti continuou com a mesma doação, nós só temos é até engraçado, pode ser até uma piada, nós só temos sete palmos em Aracruz, que não vamos nem usar, pretendemos, se Deus quiser, lá no morro de Santa Cruz onde ele escolheu, com ele, então foi tudo doado, hospital, campo de futebol, creches, colégio, os primeiros né, para pessoas carentes, Vila Nova ele deu, o primo Bitti deu uma área imensa, naquela época era só mato, hoje Vila Nova é um bairro, então foi uma coisa muito linda. Ele doava, ele tinha um espírito de doação, que ele, eu cheguei numa época de Vitória voltar e ele tinha tanta paixão pelo município, mas isso todo mundo sabe, paixão mesmo, quatro horas da manhã, cinco horas da madrugada despachando processos, que o segurança da prefeitura, não dele que ele nunca teve segurança, nem nunca usou revólver, eles carregavam o motorista e o que ficava na porta, o segurança da prefeitura que levava lá para seis horas e pouco, colocava no carro, ele então chegava, eu providenciava tudo para ele, eu tinha muito carinho por ele, eu ainda sou, fui dele com muita honra.
P/1 - Dona Maridea, quando foi fundada Aracruz oficialmente, a senhora sabe?
R- Ih, não tenho cabeça.
P/1 - E como é que era essa região da fábrica de Aracruz nessa época, logo da fundação da cidade, a senhora lembra onde hoje está a fábrica como é que era aqui?
R- Começou poucas casinhas, o coronel Otto com uma casa na Barra do Riacho, primo Bitti fez lá no coqueiral uma casa, que foi eu acho que a briga, toda pessoa ter uma rusguinha um com o outro, patrão com empregado, irmão com irmão, marido com mulher, isso não foi adiante, se tratando do casal é necessário com equilíbrio como deve ser tudo bem equilibrado na vida até nossa alimentação, então ele a vontade tão grande dele, de que ele vencesse a disputa, trazendo a implantação do complexo celulose para a terra que ele amava, que ele vivia apesar dele ter sido nascido em Ibiraçu, mas quase 70 anos aqui.
P/1 - E quando foi que a senhora ouviu...
R- Aí a praia que eu chamava do coqueiral, a praia ali eu morava naquela região que ficou para a empresa, depois eles demoliram, lá eram umas três casas nossas, então a casa de férias passou a ser, ele voltou à prefeitura, e nós ficamos ali até que se fizesse uma casa em Aracruz né, mas então era aquele coqueiral muito disputado, gente de João Leiva, de Ibiraçu, de Vitória, aqueles caminhões, caminhonete, aquela farofada né, eu tinha que dar alimento a muita criancinha, um feijãozinho com arroz de neném novinho, então minha casa era banheiro, era água, era tanta gente, eu fiz ali até uma festa com… Para construir o hospital foram muitas festas, lancei o disquinho né, a música e letra do, não a letra de, tem no disquinho, o doutor Vicente de Paula o juiz, com o promotor, então depois de muitos anos que eu tinha ido embora e eu precisando assim criar coisas que me desse mais condições de finanças para passar para a mão do monsenhor Guilherme para a construção do hospital, então eu busquei um cantor capixaba, não sei se é juiz, mas naquela época era promotor, mas procurei no subúrbio do Rio de Janeiro, eu e Cátia, e pegando um ônibus daqui, pegando de lá, naquela época nem existia leito, fomos para lá em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, meu filho e tudo correndo, quando eu entrei no estúdio Hawai, então eu pedi que pelo amor de Deus eles fizessem que eu tinha que lançar na feira dos municípios e está tudo, “mas a senhora veio em cima da hora” eu disse “o quê que eu vou fazer?”, eu consegui o Antônio João em Niterói, que foi o promotor, que a música dele né, então ele me mandou que fizesse a contracapa do disco, eu falei, “mas eu escrevo, eu tenho muita emoção, e já fiz muita poesia, mas assim não”, aí ele falou assim: “não, mas a senhora faz.”, o que, aí eu lembrei da imigração italiana e aí chutei ali, como diz na gíria, o importante era não ficar sem.
P/2- Dona Maridea, a senhora falou da questão de atrair o complexo de celulose para Aracruz, a senhora lembra como foi essa negociação? Quem é que participava da negociação entre a Aracruz Florestal e a prefeitura e Aracruz quando primo Bitti soube no ar da existência, da possibilidade de ser implantado esse complexo, essa potência maior exportação de celulose do mundo, que é a maior vaidade que deve ter o povo de Aracruz?
R- É maior orgulho, como nós temos, a família Bitti parece a nossa família também, do menor funcionário do mais alto cargo, porque somos muito respeitados, então ele não perdeu tempo, porque era Linhares, era de todo jeito
de todo lado. Então ele teve, ele procurou ajuda com o grande governador, que eu costumo, “trabalho, honestidade”, eu conservo o título então quando eu encontro nas recepções o governador, o doutor Cristiano Dias Lopes ajudou muito o primo Bitti, foi um bom governador, ajudou muito o município, bom, só em existir a Aracruz celulose é o que eu costumo dizer quando eu, às vezes, alguma crítica bem de leve, porque tem respeito a mim, porque sabe o amor que nós temos por isso aqui, por Aracruz, por tudo, então eu chego ser advogada, porque eu mostro a verdade, eles abaixam a cabeça porque o que seria Aracruz se não fosse a implantação de Aracruz celulose, o que seria, se ainda precisa de tanta coisa? Não era nada meu filho, não era nada. Então primo Bitti que tinha a minha procuração, porque ele sempre mexeu com imobiliária né, compras e vendas, e ele, eu morando ali no coqueiral, a parte de baixo, porque o bairro lá era mata fechada né, quando eu fui saber, os filhos pequenos, não era mais nosso o coqueiral, era da celulose que nós ficamos, eu não sei se eles se arrependeram a oposição, porque a consciência que é o nosso juiz, não sei, a minha luta sempre foi muito grande, de manhã, à noite, dentro daquele gabinete, quando eu saía era correndo para visitar uma creche, o recanto do ancião, eu não tinha muito tempo não, era pesado o trabalho, e tinha que ser né? Ele vendeu por uma quantia, pode-se dizer simbólica, por ainda por imposição do senhor Lorentzen que ainda é o nosso guardião, o nosso, como digamos assim, não sei o quê que eu posso usar, o termo que, o maior, grande figura, a pessoa respeitada, de dignidade e de amor pelo Brasil, embora sendo de outro país, mas ele assumiu o Brasil como a terra dele também, é uma pessoa muito querida, muito respeitada, então foi que também, com certeza o doutor Leopoldo Garcia Brandão, com o coronel Argeu, aí então foi, eu digo assim, quase que doado todo aquele coqueiral e aquele bairro e ele ficou com a fama pela oposição, duas famas ele carregou, qualquer fama, ela não é boa para nós, tem sido dolorosa a fama de donos da Aracruz… Então a outra era que ele era acionista da empresa, mas aquele com veemência, eles discutiam mesmo, e notícia ruim corre e nós sofremos muitos anos com isso, porque sempre lutamos muito, muito porque inteligência ele tinha, visão administrativa ele tinha, estudou muito pouco porque não pode estudar, perdeu a mãe aos nove anos, daí é que ele voltou porque que eu fui mãe, fui amiga, fui mulher, fui tudo porque eu fui também muito mãe dele pelo sofrimento todo que passou e as irmãs na infância então.
P/1 - Dona Maridea.
R- Vocês me sacodem, eu estou aqui, eu vivo isolada.
P/1 - Não, mas a gente está achando ótimo.
R- Eu vivo isolada, eu esqueço que a coisa tem que ser mais rápida e pronto, vocês falam mesmo pelo amor de Deus, mas chega, vamos mudar, fale comigo.
P/1 - Está ótimo, só uma coisinha, a senhora lembra da inauguração da fábrica da Aracruz, a senhora veio...
R- Ah sim, nós sempre fomos convidados, lembrados para tudo.
P1 - Quem estava na inauguração, como é que foi, como é que era, como é que foi a construção? A senhora lembra, passava por aqui, como é que era.
R- O começo, todo começo é difícil, não é a proporção que hoje a gente vê, era uma coisa bem de muito valor economicamente falando, mas que foi muito difícil para eles também né, começou com muita dificuldade, mas com a graça de Deus de muito trabalho, foram bons presidentes que passaram pela Aracruz celulose se destacando, o doutor Carlos Aguiar que é um homem muito inteligente e tem a equipe que o doutor Walter Lídio é uma sumidade, o Renato Guénon, eu até nem posso falar muito não porque eu posso como se diz, ser injusta, porque a gente sozinho não faz nada. Então ele o Carlos Aguiar tem uma equipe muito boa que veste a camisa mesmo, o Walter Lídio pelo que eu sei ele trabalha até sábado e domingo, igual a primo Bitti.
P/1 - Agora, como é que foi a inauguração, teve festa, teve presidente, como é que foi? Quem estava presente?
R-Ah sempre festa, sempre festa. Sempre o governo, o presidente da república. Eu lembro do Figueiredo, lembro do Collor. É que o Collor deu um pouquinho de preocupação. Mas a entrevista que vi agora foi muito boa. Na época ele estava tenso, parecia um robô no palanque, vermelho, mas isso não é para falar.
P2- Dona Maridea, a senhora lembra
do tempo da construção…
R- O Fernando Henrique....
P2- Da fábrica da Aracruz, que a fábrica teve que precisar do financiamento do BNDES, da época da construção do Portocel, a senhora lembra se técnicos do BNDES estiveram no município de Aracruz, consultaram a prefeitura, a comunidade local para saber se era interessante financiar essa obra? A senhora lembra disso, de alguma coisa no gênero?
R- Eu lembro assim da luta que foi muito grande, que a primeira pessoa que Primo procurou foi o monsenhor Guilherme Schimidt, porque foi um mentor espiritual e não só, como também uma pessoa que, uma humildade, um santo que passou pela terra, apesar de ter sido muito sofrido e guerra, muito não assim reconhecido o mérito dele que ele ficou muitos anos quando veio da Alemanha, né? Então começou daí, automaticamente que sim.
P/1 - E nessa época a senhora, como era na prefeitura de Aracruz a relação com a Aracruz Celulose durante a fase de implantação e durante o tempo que o Primo Bitti era prefeito e a senhora primeira dama, como era essa relação?
R- Que era prefeito, que não era. O relacionamento sempre foi igual, primo tudo que buscava e só buscava o necessário, o que era bom para a comunidade e sendo bom para a comunidade automaticamente refletia na celulose, porque uma maioria, grande de… Muito bonito porque Primo, tinha o coronel Argeu, aí você imagina, vocês imaginam porque naquela época, mata, tudo difícil, falta de asfalto, de tudo, energia, como o Primo, a usina Santa Maria era a primeira luz, né, nós tínhamos de manhã até às dez horas. Foi no dia em que ele morreu, ele estava batalhando, foi lá, umas cinco horas da tarde. Com uma chuvinha fina, nublado, três de junho, contra a minha vontade e do Bruno Filho, rápido para poder mostrar levar tudo o que ele bateu ali no domingo para, os itens todos para a vereadora entrar na terça-feira entra com aquela indicação para reativar a Usina Santa Maria, porque aquilo é uma potência, e com o problema que já tinha melhorado um pouco, mas sempre a preocupação o problema da energia, da falta de chuva, então era para reativar que ele tinha saído. Então ele, vocês estão falando do relacionamento, então se precisava primo permutar uma área de terra que facilitasse o plantio de eucalipto que para o município era muito importante, aí eles negociavam, porque a empresa ela teve sempre muito respeito, um pelo outro, porque o que ele sempre reivindicava era muito bem empregado, muito bem investido, pela dignidade dele e trabalho e visão administrativa. Como eles sempre falaram, o Primo é um sábio, porque ele tinha, ele era tão... Bom, mas vou aí não, porque eu vou lá para quando ele foi homenageado lá, do maior, da forma como foi o crescimento do eucalipto, né? Então grupo de engenheiros foram receber o prêmio no exterior, e Primo como prefeito foi convidado, o deputado Getúlio, presidente da assembléia, o Camata e a Rita, eram governadores e primeira dama, e ele deu um show sem ele falar, o doutor Leopoldo, muito tempo depois, ele no banquete com o rei e a rainha ele foi maravilhoso, sem diminuir ninguém, mas ele suplantou as autoridades de governo de assembléia, ele ultrapassou e depois eu soube de um debate com uma prefeita e ele, intérpretes, ele deu um banho a administração, olha o orgulho dessa equipe da presidência na época da diretoria, dos engenheiros, né, florestais que foram receber o prêmio.
P/2- Ele discursou na inauguração da Aracruz Celulose, ele discursou nesse dia?
R- Primo, na primeira?
P/2- Isso a senhora lembra?
R- Ele era muito tímido para a fala, né, que era a oradora mesmo era eu.
P/2- a Senhora discursou nesse dia?
R- Pois é não tenho, eu tive um acidente muito grave, fiquei três meses hospitalizada e apagou muita coisa que eu fiz… Uma das festas de desfile, jantar a luz de velas, aquilo tudo que eu fazia para fundos para construção do hospital, com muito orgulho, então eu não sei se ele era muito tímido, na quarta administração dele ele já foi mudando e na quinta ele falava, meu filho, que não deixava eu falar, eu acho que não passou despercebido não porque a paixão, a alegria, a euforia dele era tão grande, tão grande, tão grande pela inauguração que eu acho assim, que dentro da cultura dele, da capacidade dele, ele uma mensagem ele passou, com certeza, não ficaria não, e além de tudo a obrigação porque ele era na época o executivo, o anfitrião.
P/1 - Como era, a senhora disse assim era muita floresta na época que a senhora veio para Aracruz, que a Aracruz começou a se formar.
R- Aqui tem uma coisa, meu Deus, quase, e mais nunca fui artista, para ver se aqui vocês pegam alguma coisa. (pausa) Olha aqui: eu, Maridea Bitti, ex-vereadora, que ex não botou, primeira vereadora eleita de Aracruz, esposa do saudoso ex-prefeito primo Bitti, eleito por cinco mandatos, prefeito do município de Aracruz, um dos principais precursores do desenvolvimento de Aracruz, falo um pouco do que vivenciei com a instalação da Aracruz celulose no nosso município como primeira dama, sempre acompanhei de perto e de forma participativa os sonhos do primo Bitti em colocar o município de Aracruz nas trilhas do desenvolvimento econômico e social. Quando surgiram os primeiros contatos com a empresa, primo Bitti percebeu que o destino do município de Aracruz estava ligado à instalação da fábrica e não mediu esforços para que isso acontecesse, um município pobre com uma agricultura sofrida, olho o que vocês estão querendo a resposta, uma agricultura sofrida, sem maquinarias, sem irrigação, terras desmatadas, é o que digo quando alguém que fala eu já tenho tudo gravado, porque negócio de eucalipto né, o solo nunca estragou, tenho provas, estudos mesmo que não existe isso, terras desmatadas, agricultura sofrida sem maquinário ou irrigação, terras desmatadas pelos madeireiros e carvoeiros, o destino de Aracruz era uma incógnita apesar de todos os seus esforços frente à administração municipal, à receita municipal era mínima, e milagres eram feitos com a ajuda da comunidade e de pessoas como o monsenhor Guilherme Schmidt para atender as necessidades básicas de educação e saúde da nossa população nessa época o trabalho desenvolvido por mim de primeira dama era essencial. Muitas das questões sociais eram resolvidas através de campanha e trabalhos voluntários da comunidade. Primo Bitti até o fim de seus dias teve a consciência tranquila e a certeza de toda a sua luta para a implantação do Grupo Aracruz em nosso município só trouxe benefícios para a nossa comunidade. Já estamos chegando à terceira geração de nativos que permaneceram com condições de trabalho e estudo. Antes com os filhos Aracruzenses chegavam aos 12 anos, queriam uma vida mais ampla, tinham que se deslocar para a capital, hoje permanecem aqui com todos os nossos negócios e empresas geradas com o desenvolvimento de Aracruz, como elas têm a Pousada, né, após a instalação, implantação da Aracruz, o meu trabalho social foi muito mais ampliado, todos os projetos tiveram de alguma forma participação da Aracruz. Como por exemplo o asilo dos
anciãos, primeiro, né? Porque o segundo não foi só coisa minha, foi assim dado pelo Lions também, foi parceria, a doação de um cidadão de Aracruz, mas aquilo que a empresa doou, o meu primeiro, no bairro Bela Vista, que já não comportava porque ficou regional,né? Quer dizer, João Neiva, Ibiraçu, Fundão, Santa Teresa e aí teve que se pensar, só do Lions, de fazermos uma coisa bem maior e ali ficou sendo uma boa creche. Mas foi um dos primeiros sonhos realizados foi esse recanto do ancião, temos certeza que a Aracruz Celulose achará sempre de forma muito humana para a nossa comunidade e município, como sempre olhou em todas as áreas. Nós aracruzenses e Aracruz Celulose somos uma só família, unidos em benefício do município. Agora você vê que uma coisa linda quando começou os viveiros, então esse coronel Argeu, eu nem sei se existe mais, a vida separa os amigos, as perdas dolorosas, tomara que ele ainda esteja vivo e com saúde. Mas foi também um homem guerreiro nas compras das terras com Primo Bitti. Primo Bitti ficou durante um tempo muito mal visado pela oposição, sem entender ou por ignorância no bom sentido, porque era muito precária a educação no município e das pessoas que para cá vieram, então ele se ele não fosse, como o coronel Argeu, uma outra pessoa que existia. Não lembro agora, o colono não vendia, eles confiavam em Primo Bitti, que era humano, que era sensível, que era honesto, que não ia como a oposição fazia, que enganava com um emprego e depois botavam no olho da rua, não foi isso que aconteceu não. Os filhos que podiam, desde pequeninho iam para os viveiros, têm exemplo aí de grandes cidadãos, que dos viveiros, que eu conheço aqui, gerente, diretor, de viveiro foram crescendo, mudando de área, estudos no exterior, hoje meu filho, tem seu alto cargo, grande profissional, porque teve exemplos da empresa e ainda os filhos, não só a pessoa trabalho até se aposentar com uma alimentação muito sadia, muito farta, com nutricionista, porque eles não tinham condição nenhuma, como eu falei aqui, para não perder aqui, era uma agricultura muito sofrida, não tinha nada, não tinha como eles desenvolverem, você já pensou empregar um filho com alimentação, eles até… Leite no trabalho, mas não é copinho de leite não, alimentação boa, uniforme, capacete, transporte. Nossa mãe, a celulose, tem que, todo mundo que tiver consciência e dignidade e justiça deve louvar a Deus todo o instante, porque ela não beneficia só o município, o estado, o Brasil e o exterior.
P/1 - Agora a gente vai caminhar para o final da entrevista, eu vou fazer uma pergunta, qual a importância para a senhora de um projeto como esse de registrar a memória da Aracruz?
R- Eu acho fantástico, como eu lamento, como nós vamos para registrar na mesma proporção, mas a dignidade e o trabalho eu acho que não tem tamanho. Tendo dignidade e trabalho, ou uma potência. E o Primo Bitti, né, humilde, porque toda a energia dele e a visão administrativa, capacidade física ele investiu no município, patrimônio não, temos terras, não deixou, deixou noventa reais no banco e ele, nós temos por sorte nós fizemos a pousada, foram cinco meses para trabalhar a cabeça dele, que é o que nós vivemos, e continua a qualidade, porque é uma casa pequena, agora uma casa grande é uma torneira. Trocamos os colchões só porque estava macio um pouquinho, mandamos para o mosteiro, trocamos as televisões agora. Então a crise, então nós lutamos muito e meus filhos foram assim pegar, a Cátia no Rio de Janeiro, olha aquela pousada, minhas filhas pegavam na massa, aumentava. Cinco anos para construir para não fazer dívida, aumentava a mão-de-obra, vendia uns lotes, diminuía. E ele todo mês a metade do salário dele, eu nunca tive salário, só como vereadora e nem como oficial de registro civil, eu pagava ao promotor que vinha todo mês para dar visto.
(pausa)
P/1 - Agora a gente vai continuar perguntando, você falou da importância do projeto, agora o que você achou de ter participado dessa entrevista hoje aqui?
R- Eu, lisonjeada, com o maior orgulho, eu que já sou um soldado da família, da empresa, agora o sentimento que mais o casal cultivou, ensinando e passando aos filhos, que já vem das gerações passadas, é o sentimento de gratidão, então esse aeródromo, eu sou sincera e digo mais do que justo, porque ele deu a vida pelo município. Então eu me sinto muito orgulhosa foi uma tarde, está sendo uma tarde muito prazerosa conhecê-los. E a atenção com que fui recebida desde o motorista, por enquanto nós estamos sem o motorista e tenho hoje um coquetel, uma coisa que fiquei até uma hora, né, depois consegui uma cirurgia, um caso gravíssimo de um garçom, né, chorei até muito de emoção, porque o que mais faço é o trabalho social, é sofrido mas se eu não tivesse conseguido? Já se perdeu um rim, uma menina nova. Então eu me sinto muito orgulhosa mesmo. Cátia, Bebel e Bruno, mas ficaram numa emoção, porque o monge está viajando, está em São Paulo, porque tem um monge em estado gravíssimo e hoje está recebendo no salão, salão não, no prédio de convenção de Ouro Preto, entregue pela ministra Marina e o governador, não sei o nome do representante a empresa também, não sei, não fiquei sabendo.
P/2- Que legal. Olha a gente agradece.
R- Nacional o prêmio, passou todas as instituições pela preservação do meio ambiente, mata atlântica e o estudo que eles passam para as crianças, 25 mil crianças passam por ano, o trabalho dele é muito lindo. Então terminamos, né?
P/1 - Muito obrigada pela sua entrevista.
R- E valeu?
P/1 - Foi ótima.
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