Manoel Francisco Braga, (73)
João Crispim Braga morava Icapuí e lá se casou, teve família e a mulher dele morreu lá. Depois que a mulher dele morreu, e nesse tempo ele andava em comboio de animal de Aracati, Cascavel e Icapuí, passando em Ponta Grossa viu minha avó. Então, ele despachou a...Continuar leitura
Manoel Francisco Braga, (73)
João Crispim Braga morava Icapuí e lá se casou, teve família e a mulher dele morreu lá. Depois que a mulher dele morreu, e nesse tempo ele andava em comboio de animal de Aracati, Cascavel e Icapuí, passando em Ponta Grossa viu minha avó. Então, ele despachou a mercadoria e voltou para casa de meu bisavô e, já viúvo, teve uma amizade com ela e com ela se casou. Daí, de Icapuí ele veio morar em Redonda.
Nesse tempo em Redonda, quando ele chegou com alguns anos, veio um vigário. Esse vigário habitou na Ponta de Redonda; é tanto que essa ponta, todo mundo já ouviu falar que é a Ponta do Vigário. Ele morava em cima.
Então, a família de meu avô foi crescendo, crescendo até meu pai nascer.
Quando meu pai, Francisco Crispim Braga, nasceu minha avó tomou esse vigário como padrinho de meu pai. Com a idade de doze anos ele foi ser sacristão desse vigário. Então, ele habitou em Redonda, meu avô e o vigário. Ele tinha empregados, tinha caboclo, naquele tempo se chamava, não era caboclo? Tudo ele tinha. Esse vigário não era brasileiro, ele era estrangeiro.
Meu avô, João Crispim Braga, pescava, trabalhava na agricultura e era ferreiro. O tempo foi rolando e, com o tempo o vigário adoeceu, ai falou com meu avô que ia se tratar noutro lugar, então essa terra que ele tinha aqui, que era de Nossa Senhora ele ia vender a meu avô. E foi o que aconteceu, como meu pai era afilhado do vigário por isso ele veio a vender a terra de Nossa Senhora a meu avô, e viajou e não voltou mais. Meu avô aqui construiu uma família, uma família grande.
Então quando ele chegou aqui na Redonda tinha uma vazante muito grande. Aqui ele habitou mais os filhos e as filhas, e foram crescendo e hoje está esse grande número de gente. Naquele tempo havia muita fartura, era o peixe, o legume tudo era por fartura e hoje só tem pobreza, que não tem nada mais.
Com o tempo chegou o chamado Francisco Currupio, já tendo ele um irmão, que também habitou e criou família aqui na Redonda. É tanto que um filho desse Francisco Currupio casou com a filha do velho João Crispim. Ele se casou com ela e a família foi crescendo e foi se misturando. Mas também, o que tinha aqui eles devoraram. Se fosse só a família de meu avô sobrava, mas eles vieram e devoraram muita coisa! Todo mundo sabe, de Aracati a Tibau, que dentro da Redonda só tem duas famílias: Crispim e Currupio. - Por que a Redonda é daquele jeito? – Porque são duas famílias unidas numa só.
Meu pai eu tenho uma lembrança assim, quando eu tinha dez anos de idade, ele pescava, trabalhava na agricultura, era cantador de viola e também tinha os negócios dele. Ele negociava, chegou a comprar “lagostim”, foi comprador de castanha e mercadoria também. Às vezes as pessoa diziam a ele – Francisco, tu vais pro Aracati, traz um saco de farinha. E ele trazia pras pessoas. Ele comprava remédio, do dinheiro do bolso dele mesmo. Era o doutor da Redonda, era ele. A pessoa ia na casa dele contava aquela história que estava doente ele aplicava aquele remédio, dava injeção, comprimido, outros remédios em líquido, ele tirava do bolso dele e comprava, já prevenindo pra quando chegasse um doente, socorrer. Todo remédio quando sai do laboratório tem a receita dentro. Ele sabia ler um pouco, então por aquela receita ele aplicava na pessoa. Era difícil, naquele tempo num tinha médico que nem tem hoje, não.
Sempre a Redonda foi um lugar unido, porque só foram duas famílias, quando um tinha os outros tinham e com isso eles se remediavam. Antigamente, nem havia gás, nem havia fósforo, eles acendiam com fogo de lenha, quando em uma casa se apagava o fogo na outra tinha. Quando não tinha fogo, às vezes se apagava tudo, ai eles tiravam fogo numa pedra: batia uma pedra na outra, com a lã da hortênsia encostada pegava fogo. Ai era pra ter cuidado pro fogo de nenhuma das casas se acabar, porque dava muito trabalho pra fazer de novo.
No meu tempo, quando faltava gás a minha mãe tinha um vaso e ela fazia um pavio de algodão, botava azeite de peixe nesse pavio, tocava fogo e alumiava. Ficava toda a vida aceso, até que acabava o pavio. De vez em quando tinha que puxar uma coisinha e ia continuando pra frente.
Era um remediando aos outros. Se precisasse de uma coisa: “Vá dizer pra fulano que mande isso”. Nessa época, se um plantasse mandioca e tivesse muita farinha, emprestava aos outros pra pagar no outro ano, quando aquelas pessoas tivessem. Esse costume dos antigos ainda hoje continua, essa união. É porque na Redonda só foram duas famílias que se misturaram e se tornaram todos irmãos. Às vezes há alguma arrelia entre um e outro, mas dentro dos próprios casais há arrelia, os pais têm arrelia com os filhos, mas tudo é um sangue só.Recolher