Comércio uniformizado

P/1 – Nós queríamos agradecer a sua presença no Projeto Memórias do Comércio de Campinas e inicialmente gostaríamos que o senhor nos dissesse seu nome completo, local e data de nascimento. R – Ok, Marcius dos Santos Salve, a minha data de nascimento é de 25 de novembro de 1959, eu nasci e...Continuar leitura

P/1 – Nós queríamos agradecer a sua presença no Projeto Memórias do Comércio de Campinas e inicialmente gostaríamos que o senhor nos dissesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Ok, Marcius dos Santos Salve, a minha data de nascimento é de 25 de novembro de 1959, eu nasci em Santo Antonio do Jardim, uma cidade há 100 quilômetros, mais ou menos, de Campinas, no estado de São Paulo.
P/1 – Qual o nome dos senhores seus pais, o nome deles?
R – A minha mãe é Elvira dos Santos Salve e meu pai Valentin Salve.
P/1 – A origem da sua família é brasileira?
R – Basicamente Itália, meus avós, tanto maternos quanto paternos são italianos.
P/1 – Você saberia dizer mais ou menos em que período eles vieram para o Brasil?
R – Exatamente em 1895, mais ou menos.
P/1 – E por que vieram para Campinas?Você saberia contar para a gente?
R – Na verdade eles não vieram para a cidade de Campinas, vieram para a cidade da região próxima de Campinas, Andradas, Santo Antônio, ficam próximo da Serra, que é a Serra da Mantiqueira e é o clima parecido com o da Itália, então eles plantam uva, um pouco de café também, depois café, mas parecido com a Itália uva, principalmente que ali, a região, foi produtor de vinho, então por isso, clima.
P/1 – Você se lembra dos seus avós?
R – Lembro, bastante. Convivi bastante com eles, passava as férias com eles, meu avô tinha sítio, então eu lembro bastante. Faleceram há uns 20 anos.
P/1 – Eles eram agricultores?
R – O meu avô materno agricultor de um sitio, meu avô paterno era comerciante em Andradas. Em Andradas ele chegou a ser um comerciante bem conhecido e além de comerciante ele guardava o dinheiro do pessoal de Andradas.
P/1 – Como assim?
R – Como não tinha banco na cidade, isso acontecia também na cidade de Poços de Caldas, uma história parecida com o Moreira Sales,um

grande banqueiro depois. Meu avô fazia em Andradas o que o Moreira Sales fazia em Poços de Caldas, inclusive, Andradas tinha até mais dinheiro em circulação, mais volume de capital. Então como ele era do comércio dos secos e molhados ele vendia, como era uma plantação que tinha uma colheita uma vez por ano, que era a uva, então ele financiava essas mercadorias durante o ano todo para esses agricultores. Quando eles vendiam a mercadoria, a uva, a safra, eles pagavam essa despesa do ano e o que sobrava eles pediam para guardar nos cofres da, foi assim que nasceu o banco do Moreira Sales em Poços de Caldas. O meu pai na época era contador, mas ele enxergava que isso poderia ser um futuro banco, meu avô não acreditava muito, ele achava que o negócio era vender, arroz, vender feijão e não deu muita importância para essa coisa bancária e não levou isso à frente, mas era essa a atividade comercial dele.
P/1 – Super interessante! E a atividade dos senhores seus pais?
R – Meu pai contador, ele fala inglês fluentemente, então ele tinha facilidade de trabalhar em empresas multinacionais, General (Electris?), que veio para Campinas há uns 40 anos. Depois a (Bookman Laboratórios?), também que é uma empresa uns 15 anos mais tarde, a (Bookman Laboratórios?) que é uma empresa americana que também veio para Campinas, que inclusive fundou a Unimed, que é a Unimed Brasil, meu pai é o sócio numero dois da Unimed. A Unimed foi fundada, começou para servir as empresas e o primeiro cliente foi a (Bookman?) que meu pai trabalhava e o diretor da (Bookman?) era um americano, foi o cliente número um da Unimed e o meu pai o número dois, lá uns 35 anos que foi a fundação da Unimed. Aí ele abriu uma empresa, né, com a minha mãe empresariando na época, empresa familiar de camisas que eram muito usadas há 40 anos atrás,bordadas dos dois lados, bordada à mão, que foi muito usada no final da época de 60 começinho de 70.
P/1 – e a criação desse bordado?
R – Era um modelo que vinha do Paraguai, mas a produção dessa camisa no Brasil quem fazia era o meu pai. Era uma moda um pouco restrita porque era uma camisa um pouco cara comprar. Ele teve uma moda que foi muito rápida e ele quebrou a empresa por causa dessa moda, inclusive, porque era muito extravagante e de repente ela caiu de moda e ele tinha uma estocagem alta de tecido, o maquinário que ele tinha investido, bastante maquinário, e a empresa dele já devia ter uns oito anos, e por essa moda ser muito rápida, caiu muito rápido, ele apostou muito nela e ele na época quebrou, há 40 anos. Que vem coincidir depois com a da, inicio, o processo da minha empresa, a minha empresa eu tenho uma máquina de casear, fazer ____ e camisa e tem a minha idade, ela tem 46 anos, tem dois anos menos que eu. Essa máquina foi da confecção do meu pai, ela propiciou, deu início há 20anos com esse maquinário e ainda era um maquinário muito bom que inclusive funciona até hoje, maquinário alemão de excelente qualidade, né? As máquinas eram muito boas, só que ele tem uma produtividade muito menor, por isso que são substituídas por máquinas mais modernas, mas eu guardo uma das máquinas, que é essa principal caseadeira, que funciona perfeitamente e eu pretendo montar um museu na minha empresa, inclusive, com a história da empresa.
Eu fui sócio de uma outra empresa de uniformes, né, em Campinas, oito anos, chamava Palácio das Monas, e depois disso eu abri minha própria empresa, vinte anos, e estou lá até hoje.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho, sete irmãs.Todas mulheres.
P/1 – Quais as atividades? Elas estão no comércio?
R – São diversas. A mais velha é médica, a segunda, depois te, vai longe, são sete, hein, a mais velha tem uma indústria de pastilhas e freios em Indaiatuba, a terceira é professora, depois vem eu, depois as duas mais novas estão no ramo de confecção, a penúltima é professora e a mais nova é agrônoma, alias, ela fez agronomia e agora também computação, mas na área de agronomia.
P/1 – Você poderia falar um pouco sobra a cidade, o bairro que você morava na sua infância?
R – Sim, na primeira infância, até os oito anos na região da Lagoa do Taquaral que era só uma lagoa, não existia o parque Portugal que hoje existe. Até os meus sete anos eu morei ali, ou seja, há 40 anos atrás eu mudei dali e fui para a região do centro, onde meu pai começou a confecção dele, confecção de camisa, camisaria. Morei ao lado do Viaduto Vicente Cury que na época era um viaduto onde as crianças brincavam e aí é uma tristeza ver a deterioração urbana de Campinas, porque era uma região muito bonita ali, tinha lago, tinha arborização. Muito bonita mesmo. Campinas tinha uma arborização muito bonita, não tinha os outdoors que vemos por ai hoje, não tinha, enfim, era arborizado ali, exemplo da água tratada, enfim.
P/1 – As modificações todas que vão destruindo
R – E depois dali fiquei morando nesse centro de Campinas, perto da proximidade do viaduto e depois eu casei, enfim, hoje eu moro em um condomínio afastado do centro.
P/1 – Quais as brincadeiras, o que você gostava de fazer quando era criança?
R – Brincadeira de rua como toda a cidade, antes de deteriorar, né, jogar bola na rua, brincar de esconde-esconde, pega-pega, enfim, esse tipo de brincadeira.
P/1 – E você tinha muitos amigos?
R – Tinha bastante amigos, né, muito mais do que se pode conseguir hoje em um condomínio fechado, eu acho.
P/1 – O que você se lembra mais dessas amizades? O que você gosta de recordar desse período?
R – Das tardes, né, porque a gente estudava de manhã e como a escola era próxima, escola Dom Barreto, a gente ia a pé da escola porque era próximo, voltava a tarde e ficava brincando de diversas brincadeiras, enfim, o convívio com as crianças, os vizinhos.
P/1 – Quando você era criança, você ia a quais lojas acompanhando a sua família, sua mãe, você lembra das lojas?
R – Lembro, ah, eram lojas da 13 de Maio que era uma rua e hoje é um calçadão, um convívio, né, e as lojas tradicionais que a minha mãe comprava os artigos de cama, mesa e banho, Casa Campos e Calçada na (Gobo?), que hoje é a Baby principal, esse grupo, se não me engano é do mesmo grupo, acho que é do mesmo grupo. Mas o que era interessante é que a gente parava o carro na porta da loja, né, você estacionava na porta da loja, descia, fazia compra e entrava no carro e ia embora, então era muito bom!
P/1 – Onde eram comprados os gêneros alimentícios ou os itens de consumo da tua casa?
R – Eram comprados em feira, basicamente, que alimentação era bem diferente. Refrigerante, não se tomava refrigerante, não existia o pet, então você tinha que pegar o vasilhame, levava, então isso dificultava, né, dificultava comprar refrigerante, né, por isso que a população era mais magra também. Então essa dificuldade de comprar o refrigerante era saudável porque você acabava não consumindo o refrigerante. Padaria existia para consumir pão e leite, que você comprava diariamente, fresquinho, né, e basicamente feira livre, que ai que você vê que era mais saudável a comida e arroz, essas coisas, os secos, né, eram comprados em armazéns, quitandas, mas a alimentação básica era feira livre, que era feita duas vezes por semana, no domingo e na quarta feira, para você ver como era bem consumido.
P/1 – Você se lembra se alguém da sua família ou a sua mãe, costumava ir à São Paulo para fazer compras?
R – Sim, não compras de consumo pessoal, mas para a empresa, porque a logística era muito complicada, as transportadoras muito precárias, principalmente quando meu pai teve a confecção, no começo da minha indústria, a gente ia muito para São Paulo comprar aviamentos, esse tipo de coisa. Até tecido, você escolhia, era diferente, você ia, escolhia o tecido, depois ele despachava para você. E na época do meu pai, a gente ia de carro, comprava o tecido, principalmente na 25 de Março e trazia o tecido já. Comprava à vista, naquela época se transportava dinheiro, inclusive, comprava o tecido e já trazia o tecido no carro.
P/1 – Vocês iam de automóvel, então?
R – Automóvel.
P/1 – e vocês iam, fala um pouco sobre a rodovia!
R – Rodovia Anhanguera, basicamente, pista única, depois pista dupla, mas no começo pista única. E eu lembro de uma ocasião, quando eu tinha 13 para 14 anos , eu dirigia desde os nove anos, porque eu ia muito para o sítio e dirigia muito no sítio. E o meu pai teve um esgotamento porque, o que hoje chamam de stress, naquela época era chamavam esgotamento nervoso, e ele teve esse esgotamento por excesso de trabalho, porque ele tinha o trabalho dele nas multinacionais e a empresa que ele estava e ele precisou ficar numa clínica de repouso durante um tempo para se livrar desse stress e tinha uma viagem, na ocasião, para buscar tecido e eu fui com 13 para 14 anos dirigindo com a combi, fui pela estrada velha de Jundiaí porque não tinha policiamento, fui lá, peguei o tecido. Fui com a minha mãe, mas eu fui dirigindo, aí trouxemos o tecido para Campinas.
P/1 – Você comentou um pouco sobre a escola que você freqüentou. Como que foi a sua formação?
R – Eu fiz o curso primário, que era chamado na época, o primeiro grau era primário e ginásio, o primário foi na escola Dom Barreto que era um colégio de freiras, meu pai não tinha assim, era de classe média, lutava com a vida, não tinha dinheiro sobrando não, mas ele fazia muito esforço, principalmente a minha mãe para a gente ter escolas boas. Eu lembro que a receita da minha casa, 60 por cento era destinado à escola, então ele fazia questão de ter escolas boas. Tanto que nós fizemos o primário nessa escola que só ia até o primário, depois da quarta série em diante, porque na época era ginásio, estudamos no Colégio Progresso, também escola particular. Depois colegial cada um foi para um lado, as minhas irmãs fizeram escola normal e eu fiz colégio técnico de mecânica na Unicamp que é chamado de (Cutuca?), né, que me deu uma visão espacial de mecânica que me ajuda hoje inclusive na criação de modelagem de roupa, depois eu fiz um ano de matemática, eu gostava de matemática. Eu sou um Engenheiro Mecânico, quase um Engenheiro Mecânico, ainda bem que na época da Unicamp precisava de 49 pontos para entrar em Mecânica e eu fiz 48 e não entrei, e aí eu fui para o comércio e fiquei no comércio e indústria e fiz Matemática, um ano e meio de Matemática, acabei passando para Economia, fiz Economia e estou na indústria.
P/1 – Havia na sua família alguma expectativa para que você seguisse uma carreira profissional?
R – Sim, então, acreditava-se que um diploma pudesse te dar uma profissão e uma estabilidade. Então as profissões escolhidas era Engenharia, Engenharia Mecânica, Civil, Químico, Médico, Advogado, como eu sempre gostei de Ciências Exatas eu comecei fazendo matemática, mas queria Engenharia, até por influencia de cunhados que já eram Engenheiros, mas eu vi que o meu negócio era matemática e acabei ficando nessa área. A expectativa era que eu fosse um engenheiro, tivesse um diploma para se garantir na vida, aquela...
P/1 – Você tem uma indústria de uniformes ,uma de confecção de uniformes e uma grande loja para a comercialização desses uniformes. Você sentiu uma inclinação para o comércio também?
R – Sempre, desde criança. Eu tive facilidade em matemática desde criança. Eu criei com quatro para cinco anos um sistema de cinco unidades, inclusive em algumas culturas já foi usado, é o nosso decimal. Existe um sistema de cinco, que a cada cinco você soma uma unidade maior, o nosso é a cada dez soma uma unidade maior . Eu inventei esse sistema quando eu tinha quatro anos, eu fazia conta de cinco em cinco. Eu lembro dos meus tios me colocarem em balcão de bar para ficar fazendo conta de cabeça, eu não estava na escola ainda, eu não sabia nem ler nem escrever, mas eu fazia de cinco em cinco , mentalmente e conseguia responder. Essa facilidade depois me deu uma facilidade no comércio, com 12 anos sempre gostava de comerciar, pegava o carrinho de rolimã e vendia para o amigo, trocava por outra coisa, fabricava pipa para vender. Meu avô tinha sítio, então ele criava frango para comer, eu ia lá, via os ovos e pedia para o meu pai trazer para eu vender na região, jabuticaba também quando tinha. Eu gostava de comércio, gostava de vender. Gostava de ver as pessoas felizes e poder fazer alguma coisa que satisfizesse, como jabuticaba do sítio, ovo caipira, então me contentava ver o contentamento das pessoas e é o que eu procuro até hoje no comércio, né? Eu costumo dizer, não gosto de usar esse costumo, costumo dizer é muito prepotente (RISOS), mas eu acabo dizendo que comércio você tem que ter duas orelhas e uma boca, porque é ouvindo que se vende, é observando e satisfazendo a vontade das pessoas, descobrindo o que elas querem.
P/1 – Na sua juventude, você já contou que sempre teve uma inclinação para o comércio, na verdade, dentro das várias atividades que você desenvolvia, você também tinha outra atividade comercial. Atuar mesmo no comércio, mais formalmente, você teve algum momento que você diria: “Comecei a atuar formalmente...”?
R – Exato, então, esses comércios aí, todas as férias, devo muito ao seu Elias ______, falecido recentemente, dono de uma loja que, infelizmente, fiquei sabendo que há uns seis em Campinas , ela se encerrou, essa loja, foi uma loja de mais de 50 anos, a camisaria Paulista. O que sobrou da confecção dos meus pais, como eu te contei, eles quebraram, o maquinário que sobrou, a minha mãe ajudou a acabar de sustentar a família, os filhos podendo estudar, fazendo o que eu chamo de facção, mão de obra para essa camisaria, então mandava o tecido e ela fabricava as camisas. E eu tive uma oportunidade nas minhas férias escolar, a partir de 13 anos eu ia trabalhar nas férias, estudava quatro vezes por ano no comércio, vendendo ali mesmo no balcão. E aprendi muito, porque seu Elias _______ era árabe, então eu aprendi muito com ele, o como lidar com o cliente, o como observar o cliente, o que observar no cliente. Foi uma escola de comércio para mim. Depois disse eu fui trabalhar, eu comecei a namorar, hoje é minha esposa, Maria Ângela, e comecei a namorar com ela, o meu sogro tinha uma loja que era o Palácio das Lonas, uma vez ele foi comprar camisa nessa camisaria que eu estava trabalhando nas férias e aí eu já tinha 20 anos, mais ou menos, na época, né, e aí ele me viu atuando ali e ele me convido. A loja Palácio das Lonas não estava muito bem na época, ele falou assim: “Você quer ir trabalhar comigo?”, o que você conseguir lá, se a gente conseguir levantar a empresa e tal. Bom, eu entrei lá, eles estavam bem com pouca mercadoria, em oito anos quando eu sai, o grande maior problema era estocar mercadoria, quer dizer, consegui erguer a indústria. Aí eles desmancharam a sociedade e eles me pagavam com cotas, foi ai que eu fui ficando sócio, então aí foi o meu laboratório de empresa, eu fiz um laboratório, aí quando desmanchou a empresa oito anos eu fui e abri, hoje a Bom Corte, há 20 anos, aí sozinho, sem sócio.
P/1 – Como é que você atuava quando começou no comércio? Você disse que escutou muito o senhor Elias, observou o senhor Elias, você podia relatar como eram as tuas estratégias de abordagem dos clientes? Você poderia comentar isso?
R – Posso. A abordagem, não tem uma regra, é observando, assim como na rua, como você abordaria uma pessoa estranha. A princípio uma pessoa que está entrando pela primeira vez na sua empresa é um estranho e ele sente que você também é um estranho. Então você procurar ter uma atitude um pouco mais próxima da dele. Se ele falar alto, eu vou falar um pouquinho mais alto, se ele falar mais baixo, eu vou falar mais baixo. Eu observo o jeito dele entrar na loja, vou me aproximando e não tem muita técnica, é mesmo sensibilidade, é desenvolvendo essa sensibilidade de como abordar a pessoa. E a maioria das vezes a pessoa acaba abordando você. Então, um olhar abre um possível sorriso ou o rosto mais sério do cliente, que é aí que você vê como abordar, se é com sorriso, se é com bom dia, boa tarde, né, não gosto de usar o pois não porque já começa com uma palavra negativa que é o não, começar com bom dia, boa tarde, eu acho que é interessante e a pessoa te aborda, ela vai perguntar se precisa de alguma coisa, mas você se põe à disposição dela, não seguindo a pessoa, porque tem algumas lojas que você vai seguindo, mas é o ar da presença: “Oh, estou aqui, fica a vontade, precisou eu estou aqui!”. Eu não preciso falar isso, mas eu demonstro que eu estou aqui a hora que ele precisar e ele se abre e pronto.
P/1 – Como é que o senhor ia para o trabalho?
R – Nos primeiros serviços?
P/1 – É, quando começou a trabalhar?
R – A pé, eram pertos. Eu morava muito próximo e ia a pé, caminhando.
P/1 – E os horários de funcionamento da loja?
R – Era parecido com hoje, era das oito horas às seis da tarde, durante a semana e de sábado das oito ao meio dia. Hoje mudou um pouquinho, tem loja que fica aberta até uma hora da tarde, mas o comércio no centro fica basicamente o mesmo horário.
P/1 – Nesse período de seu início de trabalho no comércio, como era o comércio? O senhor se lembra como era o comércio de Campinas, quais as lojas, as referencias, como era a disposição?
R – Eram bem centrais, mesmo, no centro. Os bairros raramente tinham uma loja de bairro, nas ruas centrais, como tem hoje muito em cidades de interior de São Paulo, ______, em Campinas também, interior, mais fora da metrópole aqui, mais considerada hoje centro metropolitano de Campinas. Se você pegar uma cidade de 100 mil habitantes, é muito parecido com o que era Campinas nessa época, lojas pequenas, as pessoas conheciam pelo nome, comprava tecido num lugar, sapato sempre no mesmo lugar, você tinha o hábito de comprar nas lojas.
P/1 – E Campinas naquela época? O senhor falou sobre arborização, as possibilidades de Campinas e mencionou a questão da água, que é uma peculiaridade de Campinas, né? O senhor poderia falar um pouco mais da Campinas, quando o senhor iniciou a trajetória comercial?
R – Eh, era modelo de tratamento água e esgoto, está voltando agora à ser modelo, mas temos ainda muito o que fazer ainda porque ______ muito Campinas. Mas assim, eu acho que não é só a visão poética, eu acho que ,por exemplo, essa história de falar que eu tinha o hábito de comprar calçado na _____, o hábito de comprar tecido na Zogbi, enfim, eu acho que isso não era saudável para a economia, porque as pessoas se acomodavam, não tinha concorrência, então o cara era dono de uma loja, anos e anos a mesma loja, os mesmos clientes, aí se acomodava. Hoje em dia eu acho que é melhor, mais dinâmico.
P/1 – A que o senhor imputaria essas mudanças que ocorreram no comércio, por exemplo, então existia uma concorrência muito pequena e agora existe uma concorrência muito maior. Que marcos seriam estabelecidos por esses...
R – Mudança de tipos de profissão, de profissão mesmo. Têm muito menos engenheiro, muito menos advogados, muito menos médicos. Hoje um engenheiro consegue fazer uma planta por dia se ele quiser, com a informática, o engenheiro precisaria de 30 dias para fazer uma planta. Então quer dizer, as profissões que garantiam a estabilidade da classe média, elas não garantem mais, e a classe média partiu com o que acontece na Itália, principalmente Itália, muito parecido, com as empresas familiares. Então a classe média se mantém hoje com empresas, raramente com profissões médico, advogado, dentista, muito mais com empresas. Aí essa classe média começou a concorrer dentro da própria classe e é isso que aumentou a concorrência.
P/1 – aqui em Campinas, quais seriam os estabelecimentos comerciais que o senhor citaria como os mais conhecidos?
R – Os mais conhecidos antigos ou recentes? Os mais conhecidos, o senhor citou Calçados ______, a Zogbi.
P/1 – Eh, esse é da minha época. Loja Regente que não existe mais, da minha época de criança, desculpa. Então nessa época tinha a Casa Campos, era referencia também de cama, mesa e banho. Existia, para você ter uma idéia, porque é uma outra época, existia relojoaria nas ruas ali, relojoaria Omega, vendia relógio, jóias, mas não tinha se que um segurança na loja, inclusive a minha loja eu nunca precisei ter segurança, nada, hoje em dia tem que ter esquema de segurança, mas há uns seis anos atrás eu trabalhava até oito horas da noite. Sozinho lá com a porta abaixada, sem medo e há seis anos atrás eu fui assaltado, fiquei com medo e nós ali da região contratamos uma empresa para fazer segurança na região, mas as lojas _______ , hoje não tem mais assim, uma loja, duas lojas ou três lojas, como diversificou muito, você não consegue lembrar uma marca de uma loja que venha na memória, uma referencia, né?
P/1 – Claro.
R – A não ser se você fizer a pergunta: “Setorizado?”, talvez a gente consiga chegar em alguma coisa, ai.
P/1 – Qual setor, então?
R – Ah, por exemplo,se você perguntar por setor de calçado, então você tem lá o ____, a _______, tradicional, né, mas no setor de roupa você não consegue, está muito diversificado, tem marcas, inclusive multinacionais e setor de esporte também multinacionais, (Decaton?), de construção, ___________, famosa _________, então assim, se setorizar, mas acho que é muito difícil hoje você conseguir uma marca para que todo mundo lembre, Omo, Gillete , muito difícil.
P/1 – Na sua juventude, o senhor freqüentava bailes, festas, como eram o lazer?
R – Os bailes eram feitos nas casas, né, juntavam um pessoal, isso até uns 15 anos, depois começou a surgir os locais, as boatezinhas aqui em Campinas, Apocalipse, na época, enfim, que a gente ia nos domingos à tarde, mas aí já com 20, 18, 20 anos, mas a infância, adolescência era nas casas, nas garagens , bailinho de garagem.
P/1 – E as festas?
R – Festa também, principalmente de 15 anos que se comemorava muito e que agora está voltando também, mas não era assim, hoje a festa de 15 anos era um evento social para a classe média e média alta também. Antes não, a menina que fazia 15 anos era comemorado o aniversário nos bairros, nas casas, tinha bastante festa de aniversário, todo o fim de semana tinha festa.
P/1 – E o cinema? Como era o teu hábito de cinema?
R – Era muito bom, era gostoso porque não era em shopping, era na cidade, mas uma vez você passeava antes de você ir ao cinema, tinha pastelaria do lado do cinema, os cinemas eram nas cidades, não existia shopping Center, então você...
P/1 – então o senhor falou de shopping Center, quais as transformações que o advento do shopping Center provocou em Campinas?
R – Olha, eu acho que o shopping Center é mais conseqüência do que causa, do que causador. O pessoal pode achar...Tem uma corrente que acha que o shopping Center veio porque as ruas ficaram violentas e não é verdade. O primeiro shopping Center em Campinas veio há mais de 20 anos porque já não tinha mais espaço e ele surgiu, o shopping Center, para dar mais conforto, porque as lojas estavam ficando apertadas, as ruas, muito trânsito. E veio para cobrir uma falta que estava tendo, aí sim acaba causando efeitos que é o efeito de tirar a população da rua, confinar essa população, e por tirar essa população da rua, e aí eu acho também que entra a possibilidade da televisão, que tirou a população da rua, então não é que a população fica dentro de casa porque tem medo da rua, é porque a população abandou a rua, que era o jardim, a rua, a calçada, então ela abdicou da rua e a marginalidade tomou conta de uma coisa que estava vazia. Nós abandonamos e a marginalidade tomou conta, não é que a marginalidade expulsou a população da rua, primeiro a população que saiu da rua e depois que surgiu a marginalidade, acho que é isso.
P/1 – E comercialmente? Mudou o perfil da cidade o advento dos shoppings? Perfil de consumo?
R – Eu acho que com shopping não. Eu até tinha esse medo, que as lojas do centro iria cair o movimento e não, não aconteceu isso, muito mais o inchaço da cidade, a criação de terminais de ônibus no centro e também, pelo desemprego, os camelos. Isso sim que acabou com o comercio do centro, mas do shopping não, o shopping nunca concorreu com o centro.
P/1 – Por quê?
R – O hábito de quem compra no centro é diferente do hábito de quem compra no shopping. O shopping veio para atender uma população que está vindo para Campinas, uma população nova! A população do shopping, que era a população que estava começando a formar os condomínios fechados na região ali, para atender essa população.
P/1 – Você acha então que os shoppings acompanharam o crescimento da cidade?
R – O crescimento, e é o que acontece até hoje quando surge um shopping novo: “Ah, ele vai roubar o movimento do Shopping, quando surgiu o Shopping Dom Pedro,um shopping muito grande!”, não, ele cria um novo consumidor, cada shopping que abre cria um consumidor, com perfil totalmente diferente do outro shopping. Então o Shopping Galeria tem o perfil diferente do Shopping Iguatemi, do Shopping Dom Pedro, que são os principais, ele cria novos consumidores, até lojas grandes, de instituição grande como a (Decaton, o Decaton?) é uma loja de esportes e eu tenho vários amigos que têm lojas de esporte especializada em esportes, que na época ficaram preocupados que iria abrir e por surpresa, aumentou o movimento deles, depois que abriu, porque o pessoal criou mais hábito de consumir coisa esportiva, então ele cria consumo, o shopping não absorve consumo, ele cria consumo.
P/1 – E nessas transformações, o supermercado, o senhor assistiu o advento do supermercado!
R – Assisti, mas só comentando esse cria consumo, às vezes abre concorrentes no meu ramo, então eles vão escondidos na minha loja comprar coisas escondidinhas e tal e é uma bobagem isso porque também cria consumo. Todas às vezes, todos os anos que abriu um concorrente a minha empresa cresceu acima do crescimento normal de oito à dez por cento, porque isso gera um cuidado maior dos funcionários: “Olha, estamos com concorrente!”, gera vontade de criar coisas novas, então você fica criativo, isso mexe com e aí isso gera consumo. Pessoas que não usavam passa a usar e é isso. Você me perguntou do supermercado?
P/1 – Isso, dos supermercados. A ação, a presença, assim, o senhor assistiu o advento dos hipermercados, vamos dizer, eles tiveram uma importância, tiveram papel no seu ramo de atividade? Tiveram alguma inserção, influencia?
R – Não, não é da mesma época.
P/1 – Não.
R – Não, o surgimento dos supermercados em Campinas é de mais ou menos 1970 que foi o Eldorado, o primeiro grande supermercado e a minha empresa começou em 86, 87, 1986, então já tinha o Carrefour, já tinha o Extra, que já são os grandes supermercados, eu não tenho como fazer essa comparação.

(TROCA DE FAIXA/ Fita)

P/1 – No seu ramo de atividade os hipermercados têm alguma influencia?
R – Não, não tem.
P/1 – Eles não comercializam? E os adventos das universidades? Elas chegaram antes do seu estabelecimento?
R – Chegaram.
P/1 – Mas o seu ramo de atividade atende?
R – atende.
P/1 – de que forma? Fala para mim um pouco!
R – Na área médica, dentais, laboratório, na área de cozinha, hoje está bastante na moda curso de gastronomia, então eu procuro atender esse tipo de vestuário para esse pessoal.
P/1 – então voltando à questão da sua juventude. Na sua família vocês faziam viagens para outras cidades? Como é que vocês iam, quais os transportes?
R – É, eu tive a sorte de ter o meu avô que tinha o sítio próximo ___ 100 quilômetros e era o sítio do Pica-Pau-Amarelo, o sítio da fantasia. Tinha vaca, boi, cachorro, porco, enfim, tinha tudo que o sítio do pica-Pau-Amarelo tem, então a gente não gostava de praia. Fomos algumas vezes à praia, mas o barato era o sítio, o gostoso era o sítio, onde juntavam lá 29 a 30 primos ali, uma família numerosa. Então ficava aquela colônia de férias, os primos ali, e era um sítio simples, não tinha nada de sofisticação, não, um casarão simples, mas o barato era o sítio, ficar na plantação de café, ficar na plantação, sei lá, na horta, era o sítio mesmo pelo sítio e até isso me deu um contato com a natureza que foi bastante legal. Era isso, viajava às vezes para alguma cidade próxima daqui, mas não era de viajar muito não.
P/2 – E vocês iam de carro, de trem?
R – De carro, basicamente de carro.
P/2 – Trem você não usava?
R – Não, pouco utilizado.
P/2 – Mas você chegou a utilizar o trem?
R – Cheguei, mas mais na juventude. Ia para São Paulo, porque eu achava gostoso, né, talvez a minha mulher não saiba, eu conheci uma namoradinha, inclusive, nesse trem, na época, foi antes da minha mulher. Então era legal, você conhecia pessoas, jovens voltando de São Paulo para Campinas ou Campinas para São Paulo, era gostoso. E era muito comum também, jovens de 14, 15, isso se fazia muito, pegar um ônibus e ir para algum lugar que escolhia e não tinha período. Então eu viajava aí, escolhia uma cidade, Mato Grosso, por exemplo, pegava o ônibus e ia. Ficava lá dois dias num hotelzinho e voltava, isso era comum acontecer. Agora não peguei, também porque meu pai, com oito filhos não deu para, na época alguns amigos resolveram estudar em escolas boas, sempre eu tinha uma sociedade que estava acima do meu poder aquisitivo, então os meus amigos iam para a Nova Zelândia, mas eu, enfim, não ia não. A prioridade era a escola!
P/1 – Você falou que conheceu uma pessoa antes da sua esposa! Conta como você conheceu a sua esposa?
R – A minha esposa eu conheci em festa de aniversário de 15 anos, foi apresentada pela minha irmã, porque a minha irmã era amiga da irmã mais velha dela e falou: “Olha, eu tenho uma festa de 15 anos!”, e eu tinha uns 18 anos na época e eu conhecia a minha mulher quando ela tinha 15 anos e aí, nessa festinha...Eu fui na festa de aniversário dela, e nessa

festa ela estava até namorando, mas depois de uns três meses eu fiquei sabendo que ela não estava mais namorando e fui procurá-la , ia no centro de convivência que tinha na época, a gente foi tomar sorvete, fomos no cinema, que era esse cinema que tinha na cidade, e começamos a namorar, mas a minha irmã que apresentou ela.
P/1 – E depois, como foi, vocês noivaram, namoraram longamente?
R – Eh, aí oito anos, nove anos, mas uns três de noivado era comum nessa época. Eu acho que no começo até chegamos a ficar separados um tempo: “Não, vamos separar porque a gente começou muito jovem!”, né, numa certa fase do namoro, acho que ficamos uns seis meses aí, mas depois reatou e ficou até hoje.
P/1 – E vocês se casaram quando? Vocês estavam com quantos anos?
R – Tinha 27 anos e ela 24.
P/1 – E ficaram morando em Campinas?
R – Campinas.
P/1 – E vocês tiveram filhos?
R – Dois filhos, dois homens, o mais velho David, está com 20 anos e o mais novo, André 17. O André joga futebol, jogou no Guarani, jogou na Ponte e está num time de Indaiatuba agora, disputou profissionalmente, mas na categoria juvenil e o mais velho, David, está cursando o curso de economia também e está trabalhando comigo há três anos.
P/1 – E sua esposa? Qual é a atividade dela?
R – Ela é professora universitária na Unicamp, na área de saúde. Ela fez Educação Física e se especializou em condicionamento, inclusive para trabalho, técnica laboral que tem hoje aí. Ela fazia isso há 20 anos e ela fez doutorado em Técnicas e Comportamento físico no trabalho.
P/1 – Nos gostaríamos que o senhor citasse um pouco como que foi o início da sua empresa, as criações, porque a sua empresa é bem peculiar. Ela é uma indústria e um comércio e tem a questão toda da criação do produto. Nós gostaríamos que o senhor comentasse um pouco como foi essa criação?
R – No começo?
P/1 – Isso, no começo.
R – Então, a facilidade é assim. Você entra no mercado por uma brecha que o mercado te permite, a brecha da época foi o seguinte, não existia tanta variedade como tem hoje, eu acho que, hoje a dificuldade que está entrando, como não tem uma estatística, não tem um gráfico de estatística, eu tenho 20 anos de gráfico de estatística e sei o que vai vender a cada época e quanto vai vender, enfim, então dificulta para a pessoa saber onde e quando começar, você não tem muitos parâmetros e é muita variação de oferta, de produto, que era muito menos na época. É até engraçado porque eu vendo roupa para empregada doméstica, entre um dos itens que eu tenho, e eu estava vendo essa semana que eu tenho 36 modelos diferentes, entre estampas, e esses modelos, inclusive, estão expostos dentro da loja e eu ouço de vez em quando a frase da dona de casa que entra e olha aquela quantidade absurda de modelo e fala: “Você só tem esses modelos aqui expostos?”, quer dizer, ela nem olhou direito, a ansiedade por produtos novos e diferentes hoje é tão grande da população, até por ficar confinado numa proteção industrial e comercial mundial que a sociedade se perdeu um pouco nesse parâmetro de oferta, então, era mais fácil. Você com três ou quatro cores, dois ou três modelos você conseguia abrir um comércio, se manter por um tempo até ir fazendo, né, a dificuldade hoje de quem entra em qualquer ramo é essa, é muita variedade.
P/1 – Com quantos funcionários o senhor iniciou a sua empresa?
R – Eu comecei com cinco funcionários.
P/1 – E quais eram as atividades deles?
R – um ajudante na loja, uma pessoa que cortava roupa e três que confeccionava.
P/2 – então quando você começou, você já começou com a loja e com a confecção?
R – Já, com a mesma estrutura.
P/2 – Paralelamente?
R – Exatamente, com a mesma estrutura.
P/2 – Aí você comentou que você entrou até nesse ramo para aproveitar as máquinas lá...
R – Conhecimento, máquina, conhecimento de fornecedor de tecido e também porque eu gostava de criar modelos, invenções, eu gosto disso, tenho até algumas invenções patenteadas, inclusive, então, criar, inventar, era o grande barato, e ______ Uniforme me dava bastante essa possibilidade de inventar coisas novas, criar coisas que estavam muito rançosas, recriar em cima disso aí e ligado à utilidade também.
P/2 – Você pode contar um pouquinho como foi desenvolvendo?
R – Isso, então eu acho que é assim, o principal, acho, de qualquer ramo de atividade industrial ou empresarial, é você ter visão segura e ampla financeira, matemática e financeira. Então assim, eu podia ter escolhido outros ramos na época, acho que o ramo acaba sendo uma conseqüência das coisas que passaram na sua vida, mas o que dá, se você for ver, você vai ter oportunidade de entrevistar outros empresários, condição parecida com a minha em Campinas e o que vai coincidir é a visão matemática financeira deles, isso eu acho que é o principal em qualquer ramo de atividade.
P/2 – Então te ajudou a tua parte de matemática?
R – Eh, assim, eu conseguia e consigo prever com a precisão de erro de mais ou menos um e meio por cento, faturamento, contas futuras, não porque eu fiz economia, mas porque lá na infância eu tive a oportunidade de vender ovo, quanto custava o ovo, quanto custava a pipa, quanto eu tinha que ter de estoque e foi uma coisa meio natural e a história vai ser meio parecida para esses outros empresários também de Campinas que vão ter oportunidade e no Brasil, inclusive, que tem essa visão meio natural de quanto vale as coisas, de quanto deve custar, a gente até tem a facilidade de entrar, uma coisa que até eu não conhecia, aquele comércio diferente do produto e eu falo o valor muito próximo para você de quanto valeria aquilo, porque você tem noção do peso das coisas, isso é uma sensação que

tem que você carrega na empresa, que é o que faz a empresa dar certo ou não, a visão...
P/1 – Esse seria um dos seus segredos para o sucesso?
R – Não é segredo, a gente conta para as pessoas, tenta ensinar, né o que eu tento ensinar eu estou conseguindo para os meus filhos, mas não é segredo, é uma sensibilidade e sensibilidade não se ensina, sensibilidade se demonstra e faz a pessoa adquirir aos poucos, então essa sensibilidade de sentir o peso das coisas que não é matemática, né, é uma sensibilidade mesmo. Eu acho que é isso.
P/1 – E você começou com cinco funcionários e aí foi crescendo? Como que está hoje?
R – Crescendo, eu tenho, comparativamente não dá para se dizer porque as máquinas faziam, naquela época, com funcionários você faz o que fazia cinco pessoas, mas eu tenho 22 funcionários.
P/1 – A loja?
R – A loja tem seis funcionários e a confecção, a confecção é para basicamente manter a loja.
P/2 – Você não revende para outras pessoas?
R – Não, não revendo, mas tenho clientes fora, outros estados que compram via catálogo, enfim, mas tenho pessoas de apoio porque terceirizou muitas coisas também. Se fosse para comparar a mesma estrutura que eu tinha, eu precisaria ter uns 60 funcionários hoje para produzir a quantidade de hoje.
P/2 – Então deixa eu entender, você abastece a tua loja e você vende por catálogo para fora do estado, dentro do estado também?
R – Catálogo ...Vendo também, catálogo por indicação, um hotel que tem aqui fora, ai ele compra, a pessoa vê, gosta da qualidade, se você me perguntar hoje o preço dos concorrentes, eu não sei, eu não faço pesquisa de mercado, mas eu sei, acaba chegando que os concorrentes se baseiam muito no meu preço, ficam com o preço muito próximo, ou tentam concorrer com o meu preço, né, e não é o preço, o preço é uma conseqüência de um custo, enfim, o que faz a empresa crescer é o beneficio que ela gera com aquele valor que ela está cobrando.
P/2 – E quando você começou você fazia que uniformes?
R – Então, era mais uniforme para motorista, se usava muito jaleco para bar, restaurante, farmácia, mas era assim, o mesmo jaleco para bar, restaurante, farmácia, aquele padrazinho, jalequinho, calça, macacão, a primeira imagem que vem na cabeça quando se pensa em uniforme.
P/1 – Então fala um pouco da sua criação de modelagem, pode se dizer, no estilo dos uniformes que você...
R – O que faz criar, onde eu me baseio?
P/1 – Isso, nas demandas dos consumidores talvez, mas, sobretudo na sua criatividade porque você têm várias modelos, você cria modelos, estilos.
R – Não só dentro da roupa, mas em arquitetura eu também gosto de brincar, minha casa, o desenho arquitetônico foi eu quem fiz, apesar de não ser arquiteto, mas eu desenhava para o arquiteto, eu falava:”Não, eu quero isso”, “Você não quer que eu crie?”, “Não eu quero esse desenho!”, então eu criei a arquitetura da cãs, da casa onde nós moramos hoje, então a criação, eu acho que a criação é um transbordamento da curiosidade, então como eu te disse eu sou muito observador e muito curioso, muito curioso, então eu queria sempre saber como as coisas funcionam, por quê das coisas, tudo por quê, o médico fala uma coisa, mas eu quero saber por quê isso e tal. O funcionamento das coisas me fascina, então você vai acumulando conhecimento curioso como eu falei da câmera, os três cd’s, como funciona esses cd’s e esse funcionamento, eu entender porque aquilo não está refletindo luz, enfim, então você vai absorvendo, absorvendo e uma hora transborda em forma de criatividade, você não sabe quando vai criar, então eu estou observando num filme um modelo de uma manga de uma roupa de uma pessoa dos anos 20, de repente quando eu estou criando me vêem aquele modelo na cabeça e: ”Pô, combina com esse tipo de decote ou calça!”, e você acaba criando modelo de roupa.
P/2 – Se eu entendi bem, você até me parece que lançou moda, assim, em termos de uniforme.
R – Já, algumas coisas.
P/2 – Então você começou com aqueles pouquinhos lá e hoje como está? Quantos você tem?
R – Eu tenho, estocado de mercadoria, eu acho que o maior estoque do Brasil, sem pretensão, a pronta entrega, né, que são 1600 itens diferentes e aí vem variação de cor e número dentro desses 1600 itens. Não têm limites, porque a criação dos modelos como eu até comentei antes da entrevista, por exemplo, há dois anos atrás eu criei, as pessoas estavam cansadas de ver a empregada doméstica com a mesma cara, o mesmo padrão, aí eu pensei e falei: “Porque não fazer estampa do que ela usa no dia-a-dia, que são as frutas, as flores, né, e eu fiz uma encomenda de tecido estampado de uma indústria que faz esse tecido para outras finalidades, sei lá, toalha de mesa, eu falei: “Eu quero que você me faça isso em um tecido mais fino que dê para fazer avental” e ele falou: “Mas isso não vai dar certo, quem vai comprar avental de empregada com estampas de frutas?”, eu falei: “Eu quero isso!”, e apostei e lancei a moda e até depois fui levado para a novela e o pessoal brincava: “Ah, você copiou da novela?”, “Não, a novela que me copiou!”, e ninguém acreditava que eu que tinha lançado, você nunca é maior que a instituição novela. E tem alguns modelos que eu criei também, modelo de avental que imita colete com a parte de baixo avental e a parte de cima imitando um colete. Isso eu criei há 18 anos atrás e eu já vi até na França, eu vi esse modelo na França e falei para mim mesmo: “Poxa, isso aí foi eu quem criei!”, e agente acaba criando mesmo, por ser referencia na cidade você acaba criando o modelo, essas pessoas dessa cidade copiam os modelos seu, como outros concorrentes que têm filiais em outros lugares, acabam levando esses modelos para outros lugares e acaba divulgando. Mas todos os dias eu crio uma coisa nova, enfim, teve um desafio de uma doceria que me pediu um avental que fosse tamanho único e parecesse um blaiser feminino, aí eu criei uma parte debaixo imitando uma saia e a parte do peito eu fiz como se fosse uma gola do blaiser transpassando, com caimento de gola de blaiser, tem uma regulagem que você pode regular a altura, com a gola do blaseir que você parece que ela está de blaiser mas não está, está com o avental, e foi isso.
P/2 – E você comentou assim, que você é uma referência na cidade, que outros copiam, e você não tem problema dos outros copiarem, como é, você patenteia?
R – Não consegue patentear, roupa não tem patente, para modelo de roupa. Primeiro porque é muito demorada a patente no Brasil, como eu já te disse eu tenho umas patentes em outros eventos, outras áreas que não tem a ver com a confecção.
P/1 – Fala um pouco sobre elas!
R – Ainda é segredo!
P/1 – Ah, não estão patenteadas!
R – Estão patenteadas, mas não estão comercializadas ainda. Estou negociando a comercialização.
P/1 – Em que área?
R – Na área doméstica, de uso doméstico, alguma coisa que facilitaria muito a vida doméstica, então... As patentes demoram, são caríssimas, então, você vai patentear uma moda e a moda dura seis meses, então não dá tempo para patentear, então é assim mesmo, a Zaara copia os desfiles, os desfiles sabe que a Zaara está copiando e a Zaara acaba sendo uma divulgação dele. Então os meus concorrentes que copiam, acabam divulgando o meu produto de alguma forma.
P/2 – E o teu relacionamento na loja, assim, na parte da venda, como é, conta um pouquinho?
R – É a parte que eu mais gosto.
Então, é bastante corrido porque tem a vida empresarial e a vida de comercio, que é o que eu gosto de fazer no hobby, né, entrar no balcão, eu gosto de atender clientes, eu faço isso até hoje. Então tem um período para fazer isso. Eu pego o período que tem mais movimento na loja e fico no balcão com os vendedores, com os meus filhos, ensinando o meu filho mais velho, agora o mais novo também, e fico ensinando, e também para sentir como tá, para ter feed back do...
P/1 – Ali é o teu termômetro?
R – Meu termômetro, é o parâmetro.
P/1 – A tua loja tem 20 anos, não é?
R – 20 anos.
P/1 – Nos equipamentos, no mobiliário, na exposição dos artigos, conta um pouco as transformações que você foi introduzindo, fala um pouco sobre isso para gente.
R – Eu estava para fazer uma grande modificação em 2002, fazer um estilo shopping, essas lojas que a pessoa interage mais com as roupas, tal e aí eu fiz uma viagem para a Espanha nessa época e conheci um camarada que vende churros na Espanha e era a empresa mais antiga da cidade. E o que é interessante é que nessa época, a modificação que eu ia fazer na empresa, porque hoje, eu tenho um estilo muito próximo do que eu abri, que é um estilo balcão mesmo, eu atendo você, eu entendo o que você quer e te dou aquilo no balcão. Eu tenho algumas exposições na loja, mas o balcão continua sendo um anseio do comprador, ele gosta dessa posição da pessoa atrás do balcão, então mantém, o cliente interage na loja, mas ele ainda mantém a posição de balcão, balconista. E interessante porque as empresas fizeram esse movimento de abrir para o cliente e estão voltando a colocar balcões nas lojas e nessa época que eu fui, que eu vi essa empresa de churros, ela mantinha o padrão inicial de 60 anos. As pessoas, o consumidor, eles querem mudanças mas ao mesmo tempo ele tem medo de mudanças muito radicais, então você vai mudando, mas você mantém essa raiz que é o balcão, atendimento de consultoria no balcão, eu acho que essa é a chave da coisa.
P/1 – E a disposição dos artigos? Você tem alguma intenção nessa exposição? Fala um pouquinho.
R – Artigos expostos? Tenho, mas é muito marketing de: “Vamos expor cores, porque o estudo das cores, o posicionamento.”.Não tem recita para isso você tem que ir sentindo o que o cliente gosta daquela região, daquele bairro, daquela cidade, que é diferente de Campinas para São Paulo, para Santos, para o Rio. Então acontece isso em empresas que tem uma loja em um lugar e abre o mesmo estilo de loja em outro e não se dá tão bem, então você tem que ir sentindo, não tem muito estudo sobre isso não.
P/1 – No perfil da tua clientela, existe uma certa fidelidade ao estabelecimento? Ainda existe esse comportamento de fidelidade?
R – Tem uns clientes, acho que 35 por cento dos clientes compram porque é fiel à loja, mas é com esse que você tem que ter muito cuidado também, porque se eles se sentirem traídos por qualquer coisa ou que você esteja explorando no preço ou que a mercadoria não tem qualidade, ele te abandona de vez, nunca mais ele volta na tua loja. Tem os clientes que circulam, né, gostam de comprar numa empresa, depois na outra, depois volta, depois vai, depende da compra, o que for mais interessante para ele naquela compra. E tem o cliente que foi, comprava o meu produto que não é produto mais barato, não sou nivelado no preço, mas é de altíssima qualidade e resistência, então ele comprava, experimentou preços mais baratos e voltou a comprar, então tem esses movimentos, tenho diversos clientes.
P/1 – E nas formas de pagamento, você teve permanências? Desde o início você criou uma forma de pagamento, você se rendeu à novas formas de pagamento, como é que você falaria nessas transformações a respeito das formas?
R – As formas de pagamento no comércio alteraram ao longo da história, na inflação era tudo à vista. Eu tive época, em 91, que a inflação chegou a 90 por cento ao mês, de o cliente ligar, perguntar um preço por telefone e você falar: “Olha, até o meio dia o preço é dez cruzados e depois do meio dia é dez reais e cinqüenta centavos!”, então ele tinha que comprar ao meio dia para depositar o dinheiro até uma hora para não perder a aplicação daquele dia, mudava o preço todos os dias. Então só existia venda à vista, á prazo, se comprava a vista porque o juro mensal era de 40 por cento ao mês. Teve épocas anteriores a essa que se comprava a prazos muito longos, que está voltando agora com a estabilidade da moeda, o prazo tem mais a ver com a estabilidade da moeda, você acompanha isso, a condição financeira da venda eu acho que tem a ver com a estabilidade da moeda. O comerciante não escolhe como ele quer vender, se é a vista ou a prazo é o cliente que escolhe, mas está voltando a ser o que era antes da inflação, prazos muito longos que até acho que é muito longo. O pessoal está vendendo o trabalho muito futuro, o pessoal aí ainda não trabalhou e já comprou um bem, eu não acho isso muito bom para a economia.
P/2 – Em termos de cartões de crédito? Você teve também que entrar nessa área?
R – É, nós tivemos que ceder parte do lucro para os donos dos cartões de crédito, né? Pela facilidade que as pessoas acham que isso proporcionou, mas só que não percebe que isso tem um custo de três e meio à cinco por cento na mercadoria e é proibido por lei você dar desconto. O cartão de crédito conseguiu um lobby, uma lei que não permite dar desconto para quem, se você vai me pagar em dinheiro, eu não tenho o custo do cartão, seria justo eu te dar esse desconto de quatro por cento, eu não posso dar, é ilegal, mas eu tive que ceder ao cartão de crédito que eu acho que não é uma coisa boa para a economia não.
P/2 – E quando você faz a prazo na tua empresa, você tem financiamento próprio ou você usa...
R – A carteira própria, uso recurso próprio.
P/1 – Como é esse...
R – Eu sou um pouco exigente no cadastramento do cliente. É um ramo que dá pouca inadimplência, mas a minha inadimplência é zero virgula alguma coisa, é muito pouco inadimplente. Porque eu sou muito exigente também, perco até alguns negócios, mas isso é estilo, sabe, eu não gosto de ficar inseguro na hora da venda, eu prefiro não vender.
P/1 – E você na sua loja, você costuma fazer promoções?
R – Não tão agressiva quanto as lojas de moda, mas, porque o uniforme demora um pouco mais para mudar, então o botãozinho, está voltando agora o botãozinho no colarinho, mas ficou três ou quatro anos sem botão no colarinho, cinco anos com botão no colarinho. Então são essas coisas que vão mudando, calça um pouquinho mais larga, com prega, calça sem prega, fica quatro, cinco anos ali, não é aquela moda que muda a cada seis meses e agora a cada quatro meses, né, as coleções Riachuello, Renner, essas lojas, elas estão fazendo quatro coleções por ano, quer dizer, é uma loucura. Então, como ela muda menos as promoções também não são tão agressivas. A gente diminui um pouco o preço das coisas que estão com a tendência um pouco mais antiga e naturalmente aquela coisa vai saindo mais rápido, aí acaba.
P/1 – E liquidações?
R – Não, liquidação não, nunca fiz.
P/1 – E as formas de propaganda, publicidade?
R – Publicidade é lista telefônica, principalmente indicação, e catálogos também, mas catálogos é para lembrar que essa loja foi indicada, principalmente isso!
P/1 – Na mídia impressa, eletrônica, você...
R – Mídia eletrônica não, televisão, rádio, no comecinho da empresa eu fazia um pouco de rádio, mas Campinas é uma cidade pequena, você acaba sendo conhecido no local muito rápido, aí o local sendo referencia, você vai formando a clientela. Essa é a parte fácil de abrir uma empresa. Ficar conhecido.
P/1 – Agora você tem, desde quando você tem o site?
R – O site tem uns seis, sete anos.
P/1 – E ele se converte em uma das estratégias?
R – Uma das estratégias de convidar à conhecer, porque eu anuncio na lista, sempre anunciei na lista telefônica, mas não gosto da lista telefônica como instituição de venda, porque quem procura na lista telefônica quer o mais barato para comprar, então ele está procurando o preço, ele vai ligar em cinco, seis e vai comprar no mais barato. É fácil você comprar uma marca Gillete, Omo, com o preço mais barato, mas não é fácil comprar uma roupa mais barata, a roupa está completamente ligada ao preço, quanto mais baixo o preço pior a qualidade. E para explicar isso para o primeiro contato, as pessoas ficam até meio agressivas, mas eu tenho convencê-la que ela não vai conseguir fazer uma cotação de uniforme por telefone, que é necessário ela ir nas

empresas, não só na minha como nas outras, para conhecer a estrutura, se vai ter mesmo a condição de fornecer o que ela está precisando. Se eu conseguir fazer esse convencimento fica mais fácil a venda.
P/1 – E no site é uma outra abordagem?
R – É, é uma forma de fazer a pessoa visitar a minha empresa, porque o site tem cara de visita à loja, não sei se você reparou, uma forma de você visitar a minha empresa sem precisar ir nela, sem precisar se deslocar até ela, mas essa é a intenção do site, não vender por internet, nunca fiz uma venda por internet.
P/1 – Porque no site você mostra as especificações dos produtos, dos seus artigos?
R – Exato. O que fica um pouco difícil de especificar uma camisa, eu posso te dizer que essa camisa é com tecido X, com a linha X e com o botão Y, mas eu não consigo te demonstrar, ou te dar segurança de que realmente esse tecido está vindo da onde eu estou te falando que ele está vindo. A máquina que ele está usando é adequada para esse, ou adequada para esse ou para esse ponto para pregar esse colarinho, que é o que vai dar resistência, você só vai sentir isso visitando a empresa que você está comprando. Então eu acho que é isso.
P/1 – Como você perceberia a cidade de campinas hoje e a região metropolitana de Campinas? Como você interpreta, como você vê essa região, esse comercio, a própria constituição da região metropolitana?
R – Bom, Campinas tem algumas vantagens que eu acho que é a bola da vez no Brasil, nacional, por quê? Porque, não sei se você sabe, Campinas, Brasil tem algumas características de indústria, comércio e tem duas cidades internacionais, São Paulo e Campinas, o Rio de Janeiro não é considerado cidade internacional, comercialmente falando, falta algumas coisas que é necessário para, por exemplo,Campinas tem mais rotas de saída do que o Rio de Janeiro, inclusive São Paulo, tem mais rotas de saída do que a cidade de São Paulo, a metrópole Campinas tem mais rotas de saída, por isso que ela está se desenvolvendo em logística, transportadora, Viracopos está se especializando nisso, e é considerado uma cidade internacional com todos os quesitos exigidos para ser considerado uma cidade internacional, como Paris, Nova Iorque, São Paulo, campinas, ela está nesse padrão. E também as indústrias estão com m]ao de obra especializada em tecnologia, eletrônica, clínica...
P/1 – É um pólo tecnológico.
R – É um pólo tecnológico, de tecnologia, com a facilidade de estar menos conturbado do que São Paulo e transito, mas está sem planejamento, a mesmo coisa, eu acho que ela está inchando sem planejamento, nós vamos ter conseqüências gravíssimas nessa falta de planejamento urbano, mas eu acho que está crescendo acima do PIB nacional, então, sempre cresceu, nos últimos 20 anos ela sempre cresceu acima do PIB nacional. Então eu acho que não sei, é uma cidade que todo mundo está apostando, essa vontade de apostar também traz negócios... O empresário também precisa cuidar disso, como Campinas está crescendo oito por cento ao no, a empresa precisa crescer acima de oito, porque se a empresa dele estiver crescendo oito, não está crescendo coisa nenhuma, está estacionado, tem esse cuidado!
P/1 – O senhor mencionou o comércio de Campinas, a região metropolitana como pólo tecnológico e comercialmente, a região metropolitana? Quer dizer, v tem Campinas que é o pólo, e os outros 19 municípios que compõe a região metropolitana de Campinas, como é que...
R – Eles estão começando

a ter vida própria também, a ______ depender de Campinas ,cada vez mais, percebi isso pelas vendas regionais que vão diminuindo, então eles começam a ter vidas próprias, células auto-suficiente.
P/2 – Os desafios? Quais foram os maiores desafios que você enfrentou nesse ramo do comércio?
R – No comércio? Achei que fosse na vida que foi parar de fumar e consegui (RISOS), eu acho mais fácil ter que fazer outra empresa do que parar de fumar de novo. Eu sou ex-fumante e quando eu parei de fumar há oito anos atrás eu comecei a correr em maratona, fui maratonista também depois, mas esse foi o meu maior desafio, a empresa é diversão, para mim é uma diversão. Eu conheci o ________ _____ em São Paulo e conheci pessoalmente ele e ele é uma pessoa que eu me espelhava muito no começo e até hoje. Acho que as refgerencias nunca se apagam e ele falava: “Eu venho aqui para me divertir, não venho para ganhar dinheiro!”. Eu venho no comércio para isso mesmo, o comércio é uma grande diversão.
P/1 – Você estava falando dos desafios no comercio, o desafio na vida pessoal! Fala um pouco sobre...
R – São bem parecidas, né? Então, um dos grandes desafios foi me tornar um ex-fumante. Eu fazia esporte até uns 30 anos, o cigarro não fazia muita diferença e um grande desafio que eu tive que enfrentar foi realmente parar de fumar, porque eu acho que o cigarro, eu tenho certeza disso, o cigarro não é uma coisa que age no seu consciente, ele age no (hipotámolo?), que é o lugar do cérebro onde você não tem controle, e é uma droga, comprovadamente, dificílima de você se ver livre dela. É mais difícil você se livrar da nicotina, isso cientificamente comprovado também, do que da cocaína. A cocaína te prejudica mais que a nicotina, tanto que...Agora uma droga que está começando aí de uns tempos para cá é o álcool. O álcool, a cervejinha, tudo no diminutivo, ela começou pegando o jovem, agora a mulher também, a mulher jovem, tentou pegar a criança, mas aí perceberam e tiraram, mas eu acho que a droga da vez é o álcool, que é o grande desafio da juventude. Eu tenho sorte, pura sorte, dos meus filhos não gostarem de álcool, mas é sorte, eu acho que é a droga da vez. E na geração da nossa juventude foi o cigarro que pegou muito a população, mas que foi um grande sacrifício ter que parar, tive até que, depois, para parar eu comecei a correr em maratona, cheguei a fazer, para quem entende de maratona, duas horas e cinqüenta e oito minutos, 42 quilômetros é um tempo razoável para 41 anos, que me deu a classificação de oitavo no Brasil na época, na minha categoria. E depois eu acabei engordando, ganhei um pouco de peso porque quebrei a perna andando de moto em trilha, quebrei a perna e parei de correr e engordei um pouquinho, mas já fui maratonista sério de treinar todos os dias.
E na empresa, como eu disse, não é desafio, é prazer, tem os desafios, os cuidados, preocupações com o futuro da empresa, com o que ela vai se comportar, são gerações novas que vão entrar, então é a empresa tem que crescer ainda

mais, gerar espaço para essas gerações, aí a dúvida se você cresce só no faturamento, que pode ser uma opção e tem uma série de faturas aí para o Brasil inteiro, ou se você começa a abrir filiais, então tudo isso até está em estudo, tem até algumas coisas que nós já estamos fazendo aí para pesquisa, que é o grande desafio acho que do futuro.
P/1 – Como é que você poderia dizer, você já falou isso em muitos momentos, mas fazer uma síntese nesse momento, que lições que você acredita que o comércio tenha, que atividade comercial que você transpôs para a sua vida pessoal, que lições que o comércio...
R – E como se eu quisesse dar uma lição para quem estivesse começando jovem, seria isso, não?
P/1 – Não necessariamente!
P/2 – Não, as lições que você tirou para você mesmo.
R – Então, uma das grandes lições que eu acho que eu aprendi, essa mesmo, que eu acho que eu aprendi, quer dizer, eu acho uma pretensão um velho de 98 anos tentar explicar o porquê ele chegou nessa idade, coisa comum, né, entrevistar um velhinho: “O que fez você chegar nessa idade?”, “Ah, foi porque eu comia todos os dias aquele pezinho de galinha ou tomava aquela água...”, pretensão dele achar...Então é pretensão minha também te dizer o que fez eu ter sucesso ou que fez dar certo, eu não sei o que é. Eu aposto em algumas coisas, acho que são essas coisas, mas eu posso estar enganado de não ser essas coisas que eu aposto que seja, pode ser que, uma coisa que eu acho que é por pura, aquele motivo que está dando certo, não ser aquele motivo, e isso eu aprendi pelo seguinte, às vezes tinha lá alguma coisa que eu achava muito importante, mandar tantos catálogos todos os meses para todas as empresas de Campinas, eu achava que aquilo fosse muito importante, que fosse um fator de crescimento, e em certas ocasiões eu fiquei sem mandar catálogo e não alterou. Outras coisas que eu achava que não alterava, eu parei de fazer e alterou, quer dizer, eu não sei o que é hoje, muito menos o que vai ser amanhã, e quem fala que sabe está sendo pretensioso. Apostar em economia, apostar no que a humanidade vai fazer é uma pretensão. Então tem que ser sensível para ir surfando a onda, que esse é o segredo, mas se alguém disser: “Olha, o segredo é fazer isso todos os dias, não acredite não!”, acho que é esse o segredo.
P/1 – E assim, como é que você vê a idéia desse Projeto Memória do Comércio de Campinas e Região que o Sesc está implementando agora através da coleta de depoimentos dos comerciantes?
R – Eh, eu fiquei assim, lisonjeado pelo convite, de ser reconhecido, eu acho que é uma coisa que vai mexer com o orgulho do cidadão de Campinas, porque eu sou cidadão campineiro, eu não sou campineiro, mas sou cidadão, estou aqui desde quando eu tinha quatro anos de idade, quando eu vim para cá, mas enfim, me orgulho de ver a cidade reconhecida, acho que esse é o principal, a cidade reconhecida como metrópole, como uma cidade séria que investe, mesmo na precariedade, investe em educação, a minha esposa é professora da Unicamp, eu vejo a precariedade de recursos que ele tem, mesmo assim eles conseguem ser ainda um centro importantíssimo de pesquisa, então é isso, massagear o orgulho do campineiro principalmente.
P/1 – E a sua participação nessa entrevista? Como é que você se sentiu? A sua participação no Projeto concedendo essa entrevista?
R – Eh, quando você vai plantando coisas durante a vida você não tem noção do tamanho que elas vão ficar e acaba se assustando. Meu sogro é Artista Plástico aqui em Campinas, foi também um dos fundadores de Educação Artística na Unicamp, né, e ele fala isso, ele espalhou tantos quadros, que de repente ele vê quadro dele onde ele menos espera. E acontece isso, as pessoas comentam de uma coisa que você fez, ou de um artigo que você vendeu, a sua própria loja ou de uma frase que você falou: “Ah, uma vez você me falou isso!”, “Eu não lembro!”, então é interessante você ver essas coisas crescendo por conta própria, já em Campinas essas referências do comércio, quem começou essas referencias já perdeu até o controle sobre isso, o corte já é uma instituição da cidade, não é mais minha, nessa coisa de ser conhecido e tal, eu tenho que cuidar disso, é uma responsabilidade grande.
P/1 – Quais considerações finais você gostaria de tecer agora?
R – Que continuem incentivando qualquer coisa que venha melhorar a cultura de Campinas que é considerada muito precária, nós temos dois teatros muito mal conservados e não é todo o fim de semana que os dois estão em atividade, numa cidade de um milhão e dois mim habitantes, isso é pouquíssimo, né, mais bibliotecas, então tudo que se fizer para a cultura eu acho que é importante, por isso que eu estou aqui, para ver ser resgata um pouco esse orgulho do campineiro, a vontade que Campinas funcione de novo, como era nas fotos que eu trouxe que tem o local da minha empresa, 90 anos, há 50 anos, há 35 anos e atual, e é triste você observar que o atual é uma das fotos mais feias, que está muito deteriorado, poluição visual, enfim, então é isso, tentar resgatar um pouco.
P/1 – A gente só tem a agradecer a sua participação, muito obrigada.
R – Obrigado você!Recolher