Projeto Mulheres Empreendedoras Chevron
Depoimento de Andreia Souza de Oliveira Rosário
Entrevistada por Rosana Miziara
Itapemirim, 2 de maio de 2012
Realização Museu da Pessoa
Código: MEC_HV010
Transcrito por Ana Paula Corazza Kovacevich
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 – Você pode co...Continuar leitura
Projeto Mulheres Empreendedoras Chevron
Depoimento de Andreia Souza de Oliveira Rosário
Entrevistada por Rosana Miziara
Itapemirim, 2 de maio de 2012
Realização Museu da Pessoa
Código: MEC_HV010
Transcrito por Ana Paula Corazza Kovacevich
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 – Você pode começar falando seu nome, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Andreia Souza de Oliveira Rosário. Moro na localidade de Graúna. Sou nascida no dia 7 de fevereiro [abril?] de 1975.
P/1 – E seus pais são de Graúna?
R – São de Graúna.
P/1 – Os dois nasceram lá?
R – Não sei… Não. Não nasceram em Graúna, não. Um é de Cachoeira, o meu pai é de Cachoeira. A minha mãe... Ela nasceu... Esqueci o lugar em que ela nasceu. Mas ela não nasceu em Graúna, não. Ela é campista, a minha mãe. Ela nasceu em Campos.
P/1 – No Rio de Janeiro?
R – É. Nasceu lá.
P/1 – E seu pai nasceu em Cachoeira?
R – Nasceu em Cachoeira.
P/1 – Terra de Roberto Carlos.
R – É.
P/1 – E como é que seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Depois, ele foi... Ele era ainda criança, ela falou que os pais dele se separaram, a mãe foi embora pro Rio. Aí, deram ele pra outras pessoas, adotaram ele. Dali ele saiu assim, aí veio.... Não sei como se conheceram direitinho, o local exatamente em que eles se conheceram, mas eles... Parece que foi... Ele conheceu, acho que, a família do meu avô. Que até chegou até minha mãe. Aí se conheceram, casaram…
P/1 – Seus avós também são campistas?
R – É. Meus avós são campistas, todos campistas.
P/1 – Como é que eles vieram pra cá?
R – A minha avó é campista, o meu avô é mineiro. O meu avô era mineiro. Eu não sei, assim, como eles vieram, não tem como saber... Eles são todos mortos. Não deu tempo de perguntar. E foi assim, só sei que se conheceram…
P/1 – O que que seu pai fazia?
R – Meu pai, ele cortava cana, lavoura, pescava. Duas profissões. Ele pescava muito. Há muito tempo, ele pescou bastante.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe era na lavoura mesmo, na usina, trabalhando desde cedo cortando cana.
P/1 – E você tem quantos irmãos?
R – Eu sou... Oito irmãos.
P/1 – Oito irmãos? Vocês moravam todos na mesma casa?
R – Na mesma casa.
P/1 – Como é que era a casa?
R – Minha casa era simples. Sempre foi simples. Nós somos de uma família simples. E vivia tudo junto na mesma casa, mas minha mãe trabalhava muito pra poder conseguir botar a gente até aqui, graças a Deus, deu estudo até onde ela pôde dar. Muitos estudaram ainda depois de casado, mas estamos aí.
P/1 – E como é que... Quem que exercia autoridade na sua casa, seu pai ou sua mãe?
R – Acho que era mais mãe. Pai também era bem duro. Mas mãe... Como ele pescava, dormia muito fora de casa, aí era com ela, a autoridade toda ali dentro de casa era com ela. Nós somos oito irmãos, mas nós sempre tivemos que respeitar eles. Que, o que eles gritavam, era aquilo mesmo.
P/1 – Vocês eram de aprontar muito?
R – Aprontava. Nós éramos levados pra caramba. Muito levados. Nós aprontávamos bastante. Assim, brigava em escola, brigava mesmo com os colegas, assim, na beira de casa... Era assim a vida nossa.
P/1 – O que que vocês aprontavam?
R – Ih, menina, só briga. Nós brigávamos muito, na escola, assim, qualquer coisinha era briga. Era... A nossa vida era assim. Lá por perto, vizinho mesmo, tinha vezes que ia brincar, aí começava a brigar, desentendia na brincadeira, começava a brigar. Mas eram todos assim.
P/1 – Quais eram suas brincadeiras de infância?
R – Nós brincávamos de boneca, pular corda, era pique, essas coisas assim.
P/1 – E, pra escola, você ia como? A pé?
R –É, porque a escola... Nós morávamos... Onde nós moramos era uma localidade distante de Graúna um pouquinho, o nome era Boa Vista, mas era pra frente de Graúna pouca coisa. Aí, nós... A escola era perto lá de casa, era muito perto, nós íamos pouca coisa, daqui ali fora assim, pra andar, pouquinha coisa mesmo.
P/1 – Você gostava da escola?
R – Gostava. Porque naquela época era boa a escola.
P/1 – O que que você lembra, assim, desse período, alguma coisa que tenha te marcado na escola, alguma professora, um fato?
R – Não... O que me marcou muito mesmo só foram as brigas mesmo, mais nada, na escola. Porque a gente, quando criança, a gente não tinha aquela noção que hoje em dia a gente tem. Aí era aquilo. Mas era muito boa a escola. A gente estudava, a gente... No começo vivia separado das outras... A nossa vida era aquela rotina assim, o dia a dia. Era o dia todo brincando, fazia o serviço de casa e ia brincar no terreno lá com os amigos, era cantando, era brincando de boneca, essas coisas.
P/1 – O que vocês cantavam?
R – Tinha música... Nós acompanhávamos igreja desde novinhos.
P/1 – Hã?
R – Desde novinho nós fomos criados praticamente dentro da igreja. Meus pais sempre foram de igreja.
P/1 – Igreja católica?
R – Não, Assembleia.
P/1 – Assembleia.
R – Assembleia. E ali... Eu sou de antigamente. Desde quando eu nasci, eu nunca saí da igreja, nunca saí. Meus irmãos aí, tem alguns que saíram, não estão na igreja. Mas meus pais são todos ‘assembleianos’, todos os dois.
P/1 – Você se lembra de alguma música que vocês ficavam cantando?
R – Não tenho recordação, não. Agora não... Na brincadeira, a gente cantava, a gente brincava, mas hoje em dia já não dá pra lembrar direito.
P/1 – Nem um trechinho você lembra?
R – Não.
P/1 – Vocês iam muito à igreja, então?
R – Direto. Nós íamos direto pra igreja, muito pra igreja mesmo.
P/1 – Onde que era a igreja?
R – Era onde é hoje, aqui mesmo dentro de Graúna mesmo, mais dentro de Graúna mesmo. É... Ela sai no asfalto, aí anda pouca coisa, ela chega à igreja… Até hoje, nós permanecemos nela, até hoje. Nós vínhamos de lá, porque era uma distância maior pra gente andar. Todo dia a gente ia pra igreja. Todo dia a gente ia pra igreja. Aí, é a mesma igreja…
P/1 – Todo dia?
R – É. Nós nos zangávamos quando nós não íamos. Eles choravam quando nós não íamos pra igreja. E a gente todo santo dia ia pra igreja.
P/1 – Por que você gostava tanto de ir pra igreja?
R – Eu acho que é porque era a única diversão da gente, antigamente era aquela, porque se não fosse à igreja nós não íamos pra lugar nenhum. Ou em casa, ou na escola, ou na igreja, era assim, sempre foi assim.
P/1 – Vocês se arrumavam pra ir à igreja?
R – Nos arrumávamos. Aí a gente se arrumava, era uma alegria imensa na hora de ir pra igreja. Nossa vida era assim, a gente ia pra igreja, da igreja pra escola, da escola pra casa.
P/1 – E na escola, tinha alguma... Você gostava de aprender?
R – Sim. Alguma matéria?
P/1 – É.
R – Praticamente, eu gostava muito de Português, as outras eram muita... Leitura também, alguma coisa, era melhor do que a Matemática mesmo.
P/1 – Você se lembra de alguma coisa que você tenha lido que tenha te marcado?
R – Não, é porque nós líamos em livro, mas só que eles eram muito antigos, não tem como lembrar... Alguma leitura elas pediam, a professora dava pra gente fazer, mas era tudo livro.
P/1 – E daí, da escola, você ajudava sua mãe em casa, na lavoura, o que você fazia?
R – É. Porque eu ainda cheguei a ir pra lavoura com ela. Cortava cana. Cortei cana, tanto solteira, tanto depois de casada.
P/1 – Com quantos anos você começou a cortar cana?
R – Eu fui pra roça mais ou menos de quinze anos pra cima, que eu fui pra roça com ela. Mas era porque eu mesma gostava de trabalhar, sair acompanhando ela e ela levava pra poder aprender alguma coisa, que o único jeito, a única coisa que antigamente nós tínhamos pra fazer era aquilo. Pra sobreviver era a lavoura mesmo. Aí, eu ia cortar cana, a Luciana também, cortamos bastante cana juntas. Era aquilo. Ia, plantava alguma coisa, aqui na porta, ajudava meu avô que morava do lado. Isso tudo…
P/1 – Seu avô também era usineiro?
R – Vovô? Não.
P/1 – O que ele fazia?
R – Vovô ele era mais do negócio de ser carpinteiro, ele mexia muito com negócio de carpinteiro. Sabe como? Gosta de mexer nesse negócio de... Fazia muito esses negócios daqueles banquinhos de madeira. Aquelas bacias, antigamente, furava o fundo e ele botava outro de madeira. Tudo assim.
P/1 – E na adolescência, o que você fazia? Também só ia à igreja ou tinha alguma outra diversão?
R – Na igreja. A nossa, na minha adolescência, principalmente, só ia na igreja.
P/1 – Não ia a bailinho, festinha?
R – Não. Eu nunca fiz isso. Eu nunca gostei. Até a data de hoje eu sou daquilo mesmo, é da igreja pra casa, da casa pra casa de mãe, da casa de mãe pra casa, vou à escola levar as crianças e pronto.
P/1 – E as paqueras?
R – Isso aí foi na igreja mesmo.
P/1 – Você paquerava muito?
R – Não. Eu só namorei três rapazes. Mais nada. Aliás, no terceiro eu casei.
P/1 – Como você conheceu seu primeiro namorado?
R – Foi até através de uma irmã minha que eu tinha que morava perto da casa dele. Morava perto da casa dele e dali como ela pedia pra ele fazer, ir lá, lá em casa pra ela poder pegar alguma coisa emprestada, aí dali nos conhecemos ali mesmo. Nos conhecemos ali mesmo, casamos…
P/1 – E quando que você parou de estudar?
R – Eu parei de estudar depois que eu passei da quarta, aí não pude mais estudar, porque, como a vida era tão dura, não dava pra dar estudo, trazer a gente, descer cá pra baixo, pagar ônibus pra poder vir estudar cá no Washington. Aí ficava distante também pra nós. E, como ela trabalhava, ela não confiava em deixar a gente, menina, sair sozinha, que até pegar o ônibus era muito longe pra nós andarmos sozinha, se não tinha quem trazer, aí paramos. Aí eu comecei, voltei de novo na quinta, estudava lá, mas parou as aulas também, aí parei.
P/1 – Você ficou chateada quando você parou de estudar?
R – Não. Não fiquei, não. De um lado pode até ter ficado, do outro lado não fiquei porque sabia que eles não tinham condições. Eles não tinham condições de levar, que eram oito filhos. Não ia dar conta de trabalhar pra comer, pra vestir e pra manter escola. Aí tivemos que parar.
P/1 – Com quantos anos?
R – Eu parei de estudar com quatorze anos.
P/1 – E você conheceu seu marido com quantos anos?
R – Com dezessete.
P/1 – Conheceu ele onde?
R – Lá no terreno lá de casa mesmo, onde nós morávamos.
P/1 – Ele era seu vizinho?
R – Não. Vizinho da minha irmã. Mas ele ia lá pra ela, que ela pedia pra ele ir lá fazer alguma coisa e nos conhecemos lá mesmo.
P/1 – Aí você se apaixonou?
R – É. Aí, só deu casamento mesmo.
P/1 – E como é que foi o dia do casamento? Como é que ele pediu para os teus pais?
R – É. Ele chegou, já tinha pedido pra namoro. Depois noivamos, aí falamos. Depois passou uns dias, um tempo, ele pediu pra casar.
P/1 – E aí, o que você falou?
R – É. Aceitei, né?
P/1 – É? Aceitou casar?
R – Aceitei e até hoje vivo muito satisfeita. A gente vai fazer vinte anos de casado. Vinte anos de casados, graças a Deus.
P/1 – Como é que foi seu casamento?
R – Pra mim, foi bom.
P/1 – Não, mas a festa, como é que foi o dia?
R – Foi um dia corrido. Assim, de negócio de arrumação das coisas, que nós nos casamos lá no Frade, nosso casamento foi pra lá. Aí foi assim. Foi muito bom o casamento. Muita coisa…
P/1 – Muita coisa, o quê?
R – De comida, bebida... Bebida assim, refrigerante, essas coisas. Bolo, essas coisas. Aí como era distante de Graúna, nós... Aí as coisas mesmo, a festa mesmo foi na casa da minha tia, aqui dentro de Graúna, porque onde eu morava era muito distante. E a maioria era só carro pra ir pra baixo, aí pra nós ficava distante. Aí, ela emprestou a casa pra casar lá na casa dela.
P/1 – E teve baile? Como foi?
R – Não. Não teve baile nenhum. Só teve culto da igreja mesmo e a festa mesmo, e acabou.
P/1 – Você já tinha feito dezoito anos ou tinha dezessete?
R – Já. Eu casei com dezoito anos.
P/1 – Sei. E começou a ter filho quando?
R – Um ano depois, eu tive meu primeiro filho.
P/1 – Mas aí você ajudava seu pai ainda no canavial?
R – Aí, quando eu casei, eu já saí da casa dos meus pais. Aí quando... Eu não estava... Assim, antes de eu engravidar eu trabalhei bastante. Trabalhei algumas vezes na casa de família, trabalhei cortando cana. De qualquer maneira tinha que, assim, movimentar pra ter alguma coisa. Aí depois que eu tive o primeiro filho também, aí ‘brandei’, aí já saí da roça, não cortei mais cana…
P/1 – Aí você o quê? “Brodou”?
R – ‘Brandei’.
P/1 – Abrandou?
R – É. Negócio de cortar cana, aí já não cortava mais cana, depois que tive meu primeiro filho, já não cortei mais cana.
P/1 – E qual é a atividade... O que seu marido fazia nessa época?
R – Ele sempre, também, trabalhou na roça. Ele era assim... Ele trabalhava de ajudante, tratorista, na usina, ele trabalhava nessas coisas assim. Porque a única firma lá que o pessoal ia trabalhar, antigamente, era só na usina mesmo, só era o serviço da usina. Aí não tinha jeito. Aí só trabalhava na usina. Hoje que tem, que estão abertas certas vagas pra quem tem estudo.
P/1 – Hoje em dia ele trabalha onde?
R – Ele ainda continua na usina.
P/1 – Fazendo o quê?
R – Ele é vigia à noite. Trabalha à noite. Passa o dia vigiando o negócio de maquinário da usina.
P/1 – E você nunca trabalhou fora depois...?
R – Trabalhei.
P/1 – Depois que teve filho?
R – Depois ainda que tive meu filho, que minhas meninas começaram a crescer mais um pouco, aí eu comecei a trabalhar de novo, que ela olhava já a casa, tinha idade de doze pra treze anos, aí ela ficava junto, perto da avó, eu saía de manhã e levava eles todos pra casa da avó, pra casa da minha mãe. Aí eu ia trabalhar.
P/1 – onde?
R – Na lavoura também. Aí depois eu parei de trabalhar na lavoura, aí arrumei... Aí só trabalhava também no verão, na casa de família, que, quando não era na lavoura, era na casa de família, mas só os verões, só os verões que eu trabalhava.
P/1 – Tem alguma casa de família que tenha te marcado mais, que você se lembre?
R – A única casa de família que me marcou foi esse último emprego que eu tive aqui em Marataí... Umas pessoas muito boas, sabiam tratar direito. Eu lidei muito com as pessoas lá daquela casa onde eu trabalhei. A última casa em que eu trabalhei foi essa e essa me marcou bastante.
P/1 – Por quê? O que aconteceu?
R – Ah, por causa de ser uma pessoa… Das pessoas, assim, que te dão atenção, me davam atenção, não pessoa enjoada de ficar em cima de mim. Eu fazia as coisas, ela sentava, conversava comigo. Que hoje em dia está difícil ter patroa que goste de sentar pra conversar com empregado. E ela não. Ela me ajudava a fazer as coisas dentro de casa. Ela era muito boa patroa mesmo. Essa me marcou bastante.
P/1 – Como é o nome dela?
R – Janete.
P/1 – E por que você saiu de lá?
R – Não. Eu saí porque é só nos verões. Aí, nesse verão que passou agora, ela foi pra Cachoeira, eu trabalhei lá. Aí quando ela voltou desse verão, ela tinha tratado comigo: “Andreia, vou te ligar pra você trabalhar comigo de novo”. Falei: “Tá”. Esperei. Quando eu liguei pra ela... Aí tinha outra menina que arrumou outro serviço pra mim. Aí, eu esperando esse serviço, a menina disse pra ela que eu já estava trabalhando. Eu não estava trabalhando, estava em casa. E arrumou outra pessoa pra ela. Aí foi a hora que eu liguei pra ela... Ela: “Minha filha, você não está trabalhando?”. Falei: “Não”. “Fulana arrumou outro serviço pra pessoa aqui em casa, tem outra pessoa aqui em casa.” Falei: “Não tem problema, não. Deus não deu só pra mim, não. Os outros também precisam. Tá bom”. Aí foi por isso que eu parei de trabalhar lá. Mas essa deixou bem marcado pra mim. Muito boa mesmo. Eu nunca trabalhei na casa de uma pessoa tão boa que nem essa. Mas não deu.
P/1 – Aí depois disso você voltou pra casa?
R – É. Aí fiquei em casa, também desanimei, não queria arrumar serviço mais nenhum em casa de patroa. E, por mim, eu não arrumo mais. E entramos trabalhando por aqui mesmo.
P/1 – Trabalhar onde? Aqui na...?
R – É, aqui na cozinha, aqui mesmo.
P/1 – Como é que você foi chamada? Como é que você ficou sabendo do projeto?
R – Foi pelo... Que tiveram lá... Aí começaram lá e me avisaram: “Ó, Andréia, tem um grupo aí que eles estão... É da Chevron. Está fazendo... É do Instituto Aliança... Estão fazendo... Vão fazer reunião, uma reunião conosco e estão querendo arranjar umas mulheres pra trabalhar no grupo”. Aí eu fui, comecei acompanhando a reunião…
P/1– Mas eles que te avisaram, quando eles foram lá?
R – Eu soube pela minha irmã, a Luciana, que ela estava mais próxima. Aí falaram com ela, e ela foi lá pra ver e era mesmo. Aí foi dali que tudo começou.
P/1 – O que que falaram pra você?
R – Nós fomos lá, aí eles conversaram com a gente. Perguntaram se nós estávamos interessados, se interessava reunir as mulheres, um grupo de mulheres pra poder fazer esse curso, que era o curso depois que eles iam dar, depois dessa reunião. Fizeram a reunião, tranquilo, depois só foi fazendo os cursos. Aí nós começamos encaminhando nesse curso, fazendo o curso e dali começou. Hoje estamos chegando aqui.
P/1 – O que que você esperava do curso quando você entrou?
R – Quando eu entrei, vou dizer logo a verdade, eu não esperava, pra mim, não ia dar em nada. Era muita desanimação. Muitos falavam: “Isso aí é bobeira. Isso aí não vai dar nada. Vocês não vão levar. Vocês vão trabalhar de graça”. E aquilo só ia desanimando a gente. Porque, poxa, a gente entrou com toda coragem, toda garra, aí chega na frente toca aquela pessoa dando aquela pancada pra desanimar a pessoa. Aí, nós quase paramos. Aí eu, Luciana e minha tia, tia Elena, ela falou: “Eu vou ajudar vocês”. Só ficamos nós duas, nós três. Ela, daquela idade, ela falou assim: “Eu vou ajudar vocês. Vocês não vão desanimar, não”. Eu chegava na casa de pai e falava: “Pai, tem esse curso, nós estamos fazendo o curso, mas já estou até desanimada”. E pai falou: “Minha filha, vá em frente pra ver no que vai dar isso”. Aí nós ficamos só nós três, sofrendo porque era muita pressão, assim, por parte dos outros. Um falava que não ia dar certo, outro falava que não ia dar certo, e a gente com medo de não dar certo. Mas, graças a Deus, nós estamos vencendo.
P/1 – E, quando vocês começaram, vocês só eram em três?
R – Só éramos em três.
P/1 – Quem? Você...?
R – Fizeram muito o curso. Muita gente fez o curso, mas na hora de começar mesmo só foi eu, essa minha irmã, a Luciana, e a tia Elena, que vocês foram na casa dela hoje de manhã. Só foi nós três... Só nós três.
P/1 – Vocês pensaram em desistir?
R – Pensamos. Eu? Não vou mentir, não. Pensei em desistir mesmo desse curso porque era muita coisa, a gente pensava que não ia conseguir chegar a esse ponto. Chegava na casa de fulano: “Ah, vocês são bobas, isso não vai dar em nada, não vai levar vocês a nada, vocês estão perdendo tempo”. Sempre era assim. Só pra desanimar a gente. Mas a gente levantou a cabeça, ergueu a cabeça e falou assim: “Não, nós vamos seguir em frente, vamos ver onde vai dar esse curso, porque começamos, vamos terminar”. Aí, está aí. Graças a Deus estamos chegando aqui.
P/1 – E como é que vocês aprenderam a fazer os doces, os licores?
R – Foi através da Elaine. A instrutora que veio de Vitória pra cá, que ela que deu o curso pra gente. A gente aprendeu tudo com ela. E ali não foi muito tempo também, a gente [?] muito tempo com ela fazendo esse curso, aprendendo, não. Porque ela mesma ficou assustada porque nós fomos rápidas. Porque nós três sozinhas, mas pegamos logo, foi com poucos dias e nós já estávamos sabendo fazer bastante coisa. Portanto, ela não ficou nem tanto tempo conosco.
P/1 – Você aprendeu a cozinhar com ela? A fazer esses...?
R – É... Negócio de doce, essas coisas, ela veio e ensinou a gente, e a gente aprendeu.
P/1 – Mas vocês faziam isso e depois? Tipo assim, colocar no pote, vender, vocês começaram a fazer tudo? Como é que foi?
R – É. Começamos a fazer e dali custou ainda pra venda. Custou porque a gente estava ainda no processo de aprendizagem. Aí depois que nós aprendemos, ela viu que estava tudo certinho, tudo ok, aí liberou, foi pra venda mesmo. A gente faz, vende…
P/1 – Quem coloca o preço? Quem que diz quanto que vai custar?
R – Pois é. A gente mesmo que está colocando o preço porque eles ainda... Tem uma pessoa que vai vir pra poder olhar isso tudo aí pra nós. Que até ele veio aqui na cozinha já, mas não tinha todo mundo aqui, não deu pra ele ver. Até eu mesma que anotava as coisas no caderno não estava nesse dia, cheguei mais tarde, aí ele vai voltar outra vez pra gente poder... Mas a gente mesmo está botando os preços nas coisas.
P/1 – E todo mundo sai pra vender?
R – Geralmente, quem fica nos rolos sou eu e a Luciana. Geralmente só nós duas. Quando tivemos a feira lá em Itaipava, nós duas que fomos, foi eu e a Luciana e a outra mulher que estava lá conosco. Pra sair na Graúna, vendendo alguma coisa, a gente, nós duas que saímos. Agora que a Paola está ajudando também a sair nas vendas pra vender. Oferecer nas vendas é a gente que sai.
P/1 – Como é que foi? Essa feira em Itaipava foi a primeira feira que vocês participaram?
R – Foi. Itaipava? Não, a primeira feirinha que nós participamos foi em Graúna mesmo. Uma festinha que teve lá e a gente levou salgado, levou essas coisas lá... Aí foi a primeira feirinha que nós tivemos foi lá, a festa que teve lá em Graúna. A segunda foi em Itaipava.
P/1 – Como é que foi essa festinha? De quem que era?
R – Na Graúna?
P/1 – É.
R – Lá em Graúna fizemos a festinha lá, negócio de uma festa que teve lá, negócio da comunidade que teve lá. Aí nós aproveitamos, aí falamos com Cintia: “Cintia, nós podemos? Nós vamos fazer as coisas que nós vamos levar pra Graúna, pra botar lá na barraca lá”. Aí nós fizemos, deu certo. Deu certo, conseguimos vender o que levamos. Aí depois veio essa feira de Itaipava. Nós fomos também pra lá.
P/1 – Há quanto tempo você está no projeto?
R – Um ano. Já tenho um ano já de projeto.
P/1 – E, nesse um ano, qual foi o fato mais marcante, assim, alguma história que tenha te acontecido?
R – Ih, menina. O fato mais marcante desse projeto, durante um ano, foi o fato de quando nós estávamos lá ainda fazendo o curso. Nessa... Numa cozinha no vestiário do campo. Não tinha cozinha lá em Graúna, não tinha cozinha e a mulher foi obrigada a usar a cozinha do vestiário. Aí, daqui a pouco começou uma... Um tipo assim, coisa de gás, o gás estava escapando demais, muito forte, aquela zoeira de gás e a porta era muito estreita, e muita mulher lá dentro. Na hora de sair, só via mulher agarrada na porta pra correr e não conseguia correr. Muitas corriam e muitas ficaram gritando ali dentro sem poder correr porque a porta era pequena, não cabia todo mundo. Aí, foi a hora que a Paola foi correr, a tia Elena estava praticamente por baixo da Paola, que a Paola deu uma trombada na tia Elena, jogou tia Elena de bunda no chão. Tia Elena... Aí, o fato mais marcante, pra mim, foi esse, durante um ano que nós tivemos nessa cozinha. E aquele dia foi pra dar muita risada porque todo mundo correu pra fora, gritando por causa do gás, que ia explodir, que ia explodir, que ia explodir. E a tia Elena, coitada, foi a pior, que levou, o tombo que ela levou. Aí, deu tudo certo. Nada explodiu. Deu tudo certo, graças a Deus. Aí voltamos de novo pra cozinha…
P/1 – Quais foram... O que mais mudou na sua vida desde que você entrou no projeto?
R – Mudou bastante coisa na minha vida, sim. Porque é uma coisa que não ganha... Não está... Não estamos ganhando ainda direito muito dinheiro, mas pelo menos o pouquinho que ganha já ajuda bastante, já me ajuda bastante, assim eu evito ir pra roça, evito... Já tenho algum trocadinho todo mês. Pra mim, foi uma boa coisa.
P/1 – Quais são as principais perspectivas que você tem? O que você espera do curso?
R – O que eu espero?
P/1 – Do curso, não, dessa atividade.
R – Além do que nós já chegamos, chegar muito além disso. Eu espero amanhã ou depois estar, assim, ganhando muito mais. Sabe como? Tendo uma renda suficiente pra gente... Pra conseguir manter, ajudar a manter a minha casa.
P/1 – E seu marido, quando você começou, como é que foi? Ele apoiou?
R – Sempre apoiou. Ele nunca disse “não”. Sempre quando eu falava em desistir, ele falava comigo assim: “Por que você vai desistir agora? Muitos... Por que você vai desistir? Você continua, vê aonde vai dar”.
É por isso também que eu não desisti, porque sempre quando eu falava “Vou parar com esse curso”, ele falava: “Não, Andreia, vai, veja aonde vai dar, você já está nesse curso, vai parar agora pra quê?”. Ele sempre apoiou e até hoje ele apoia.
P/1 – Você consegue ter uma renda?
R – É... Dá pra ganhar um pouco…
P/1 – Em quantas vocês são hoje no projeto?
R – Nós estávamos, praticamente, em umas doze, trezes mulheres ou mais, mas saiu todo mundo, desanimado. Aí, só ficaram agora umas oito, sete ou oito mulheres só.
P/1 – Quem são as oito? Você sabe de cabeça?
R – É a Luciana, a Paola, a tia Elena, a Márcia, e entrou outra agora, a Silvia, e eu mesma, e a Grace, que estão nesse projeto. Aí estava a Carla e a Mitia, mas elas também estavam desanimadas. Não sei se elas vão continuar.
P/1 – Sei.
R – Umas nove ou oito pessoas nesse projeto, trabalhando…
P/1 – Se você pudesse mudar alguma coisa na sua vida, você mudaria?
R – Mudaria. Mudaria... Eu, assim, mudaria assim... Acho que... Sei lá, melhoraria, mudaria a minha casa, essas coisas.
P/1 – Como assim melhoraria a sua casa?
R – Porque a minha casa é uma casa, mas é simples. Eu ainda estou tentando ainda conseguir, ver se consigo mais renda pra poder ajudar a mexer, acabar de terminar ela. Sabe como? Porque eu tenho cinco filhos, graças a Deus ninguém dorme na... não precisa sair de dentro de casa pra dormir, cabe todo mundo... Mas, assim, eu queria ver assim, mais... Ela toda terminada... Porque ainda está devagar, terminando devagarzinho ainda, mas eu tenho pra mim que eu mudaria era isso.
P/1 – O que que você acha, assim, qual é sua perspectiva, o que você deseja em relação ao projeto? Em relação ao futuro do projeto, o que você acha que o projeto pode te dar ainda?
R – É... Eu acho que muita coisa, principalmente na questão de renda, financeira. Porque eu tenho... É por isso que nós estamos nos esforçando porque, pra gente ter a renda, a gente tem que se esforçar bastante, a gente... Assim, pra não voltar mais pra serviço nenhum, trabalhar pra ninguém. Eu queria só focar nisso, nesse projeto, nessas coisas que nós estamos fazendo pra poder trabalhar por conta própria da gente mesmo.
P/1 – Você sabe por que é que chama... É... E as embalagens, como é que vocês conseguem?
R – As embalagens, essas coisas?
P/1 – É.
R – Ainda quem está comprando, quem está... A Cintia que compra. Ela vai a Cachoeira ou Vitória, ela traz de lá. Ela traz. Por enquanto a gente está com ela ainda…
P/1 – E quem decide, assim, por exemplo, quem vai fazer o quê? Quem vai cozinhar? Quem vai vender?
R – É a gente aqui mesmo na cozinha. Ela também dá a maior força. Ela também, o que ela puder ajudar também a fazer, ela ajuda a fazer. Assim, dá o conselho, dá uma... Ela ajuda bastante quando ela pode, ela me diz: “Eu acho que vocês deviam fazer assim e assim”. Aí a gente tudo concorda também. Mas é a gente mesmo que decide aqui no meio, entre nós aqui mesmo. A gente mesmo faz, a gente mesmo sai em duas ou três pra vender. É assim.
P/1 – E vocês têm alguma atividade no projeto que vai ajudando vocês a melhorarem, tipo algum aperfeiçoamento?
R – Como assim?
P/1 – Tipo assim, vocês só tiveram a oficina de doces, tem algum outro tipo de oficina que vocês tenham, pra ajudar na comercialização, pra...?
R – É igual eu estou falando, tem o doce, mas a gente mexe com negócio de salgado, nós resolvemos mexer com salgado, casadinho, esses negócios assim, pra gente poder aumentar a renda da gente. Que é igual a geleia, a geleia, a gente faz e deixa aqui. Mas, se sair encomenda, ela sai. Mas, fora da encomenda, ela é mais difícil, assim, sai menos. Agora, salgado, essas coisas que nós fazemos assim já sai bastante, principalmente numa festa. Se tiver uma festa grande e levar bastante salgado, sai todo o salgado, e pra nós é melhor. É por isso que nós estamos tentando investir no salgado, negócio de casadinho, pra poder ajudar.
P/1 – Pra poder aumentar a…
R – Pra poder aumentar.
P/1 – E no projeto, fora esse dia, tem alguma história que valha a pena deixar registrado?
R – Eu acho que não tem, não. Só essa... Que eu lembre, durante um ano, só essa aí mesmo... No campo lá.
P/1 – E hoje, qual é seu maior sonho?
R – Meu maior sonho? É mudar de vida. Mudar de vida assim: ter minhas coisas direito, ver meus filhos cursando a faculdade, emprego bom... Meu sonho é esse.
P/1 – Deve ter várias perguntas que eu devo ter feito aqui, devo ter deixado de fazer aqui, tem alguma coisa que você ache importante a gente deixar registrado?
R – Não.
P/1 – Eu estou achando que você quer falar.
R – Não. Não. Não. Está bom. Está ótimo.
P/1 – O que o projeto mudou na sua vida?
R – O projeto mudou muita coisa. É igual a questão de eu sair pra trabalhar em roça, essas coisas assim, hoje em dia eu já não saio, hoje em dia eu sei que eu tenho meu compromisso aqui na cozinha... Aí, pra mim, foi boa coisa. Esse projeto, pra mim, veio na hora certa. Que agora está tudo encaminhando, graças a Deus, tá tudo encaminhando. De longe, nós viemos. Teve muitos apertos, muitos erros, mas agora, graças a Deus, nós estamos indo. E, pra mim, é uma boa coisa. Só peço a Deus que aumenta, que a gente consiga chegar a alcançar os objetivos da gente. O meu objetivo é mais e mais e mais nesse projeto. Foi um projeto que veio na hora certa. Porque eu, na minha parte, eu amei esse projeto.
P/1 – Por que você amou?
R – Eu amei esse projeto porque é uma renda maior, melhor, assim, pra ajudar mais na minha casa. Porque já ajudo bastante e meu esposo também. Porque ele tem trabalho lá do lado dele, mas, eu tendo um ganho também, já é melhor pra mim. Pra mim, esse projeto veio em boa hora, porque aí já é uma coisa que já eu invisto nos meus filhos, é um estudo pra eles, pra poder ajudar mais dentro de casa.
P/1 – E seu marido apoia?
R – Apoia. Ele nunca deu um palpite “não”. Nunca falou “não” pra mim. Nunca falou “não”. Nunca ele me deu palavra de desanimo. Sempre palavra de otimismo, palavra de ânimo pra mim. Sempre, todas as vezes. Ele, meu pai, sempre falaram: “Não desanima, não. Vá em frente porque é tudo com luta mesmo. No começo é luta, mas amanhã ou depois vocês podem estar aí, ó”.
P/1 – Teve algum momento que você falou assim “Ah, vou desistir”?
R – Vários momentos…
P/1 – É? Quais foram?
R – Quando se aborrece na cozinha... Quando vem três ou vem duas, as outras não vêm, prometem que vem e não vem, aí fica sobrecarregado. Principalmente quando pega encomenda, que só vem duas, só vem três, aquilo sobrecarrega muito a gente, e a gente fica muito estressada naquele momento, a gente pensa em desistir desse projeto. Aí, quando a gente para pra pensar, a gente fala: “Poxa, a gente não tinha nada disso. A gente nunca viu uma oportunidade dessas pra gente. Agora que veio, que está chegando, a gente vai soltar, vai deixar ir embora?”. É isso aí que dá mais força à gente. E chega em casa, também, tem apoio também da família que estão sempre suspendendo a gente pra cima. Aí a gente volta ao normal de novo. Mas, tem horas que se for olhar mesmo certinho, aborrecimento demais, a gente larga.
P/1 – Qual que é... O que você mais gosta de fazer?
R – Eu? Eu gosto mais de mexer... Eu gosto de mexer em duas coisas, negócio da geleia e do casadinho. Pra mim, as duas coisas.
P/1 – Qual geleia? Tem um sabor especial que você prefere?
R – O sabor especial, pra mim, é melhor mesmo pra mexer é da goiaba.
P/1 – Por quê?
R – Eu não sei, acho que é porque é a que eu gosto mais... É a goiaba. O abacaxi também. Eu também gosto de mexer no abacaxi também. Abacaxi.
P/1 – Você vende também ou só faz?
R – Vendo. Ajudo a vender. Porque, na hora de vender, é só duas ou três. Aí, saí eu e a Luciana pra conseguir vender. Se a gente leva casadinho, aí a gente tem que passar nas casas vendendo, ou nas vendas entregando as encomendas. É assim. É isso aí.
P/1 – E como é que vocês foram aprendendo? No começo, vocês não acertavam esse ponto, acertavam? Como é que foi? Como é que vocês foram...?
R – É a Elaine. A Elaine mesmo. Não estou falando? Ela veio e ajudava a gente, tinha paciência. A Cintia também, ela também, do lado também sempre dando um apoio, a gente conseguiu. Cada uma na cozinha quando pegava, pegava junto, cada um ajudava, fulano bota o açúcar, fulano corta o abacaxi, fulano faz... Aí conseguimos chegar. Foi tudo junto.
P/1 – Tem algum dia, assim, que você lembre que foi engraçado, que aconteceu alguma coisa engraçada enquanto vocês estavam cozinhando?
R – Não. A não ser esse dia lá da Graúna. Não.
P/1 – E, quando vocês estão cozinhando, vocês ficam conversando?
R – Ah, é muita conversa. É muita gargalhada aqui. Mas não pode. Agora a gente aprendeu que não pode também ficar muito em cima das coisas conversando, não pode, por causa da, assim, a saliva, alguma coisa cair. Não pode ficar muito conversando em cima das coisas. Mas a gente diverte muito aqui dentro da cozinha, se diverte muito. Conversa. Uma brinca com a outra. É assim.
P/1 – Tem mais alguma coisa que você queira deixar registrado?
R – Não. Assim como?
P/1 – Que você queira falar, alguma história que a gente não falou que você queira deixar contada.
R – A única coisa que eu queria deixar registrada é o nascimento dos meus filhos que, pra mim, foi uma benção, uma grande satisfação, e o aniversário de quinze anos da minha filha, que realizou o sonho dela e o meu.
P/1 – Ah, como é que foi?
R – O aniversário dela foi a coisa mais linda. Foi na igreja também. Porque, na igreja de onde nós somos, não permite negócio de baile, essas coisas assim, mas foi muito bonita a festa dela na igreja, veio muita gente, tinha muita coisa pra comer…
P/1 – Quem que organizou?
R – Quem organizou a festa foi uma amiga lá da Graúna mesmo. Ela tem um salão de festas, negócio de noiva, essas coisas assim, aluga roupa. Aí ela que foi... Ela alugou a roupa das meninas, de dama, cavalheiro, a minha menina. Aí ela arrumou a igreja. Organizou tudo certinho.
P/1 – Como é que eram as roupas?
R – As roupas das damas eram brancas e da minha menina mesmo foi lilás, de algumas damas tinha lilás no meio, misturado.
P/1 – E os meninos?
R – Os meninos eram de terno preto e blusa branca por baixo, e gravata.
P/1 – O que vocês tinham pra comer?
R – Bolo, torta, salgado, doce, essas coisas.
P/1 – Um bolo enorme lá que eu vi…
R – É. Aquela foi a torta, do bolo mesmo não estava ali, porque a foto do bolo está com outra menina, na máquina dela, e ela ficou de passar pra mim e até hoje não passou. Aí eu tenho que ir atrás dela pra poder ver essas fotos. Essa data foi muito marcante porque eu pensava que não ia dar pra fazer o aniversário dela. Porque como a renda era pouca... Pra mim, fazer aniversário, festa de quinze anos dela, eu recebi ajuda da prima dela do Rio e eu tive que trabalhar, porque meu marido ajudou, mas também não dava pra poder fazer tudo sozinho. Aí eu trabalhei pra conseguir fazer a festa dela. Foi um sonho tanto meu quanto dela. Ela sempre pedia: “Mãe, meus quinze anos vêm aí. Eu quero minha festa”. Eu falava: “É? Vou pedir a Deus que dá tudo certo”. E deu. Essa foi a marcante pra mim. Que ela foi uma menina... Pra mim, ela é uma menina muito boa. Ela é sempre trabalhadeira, só vive dentro de casa mesmo. Sempre me ajuda. Eu saio de casa, venho trabalhar, ela olha os irmãos, ela fica em casa. Depois que ela chega da escola, eu saio tranquila, ela faz tudo.
P/1 – E, além dessa festa de quinze anos, você ia contar outra história, o nascimento dos teus... Quantos filhos você tem?
R – Eu tive... Eu tenho cinco filhos. O mais velho está com dezoito anos, já está beirando os dezenove, e aí essa de quinze anos, que ela fez quinze anos, está com dezesseis anos, tenho um que está com treze anos, e os dois menores, que tem um que vai fazer oito anos e o outro vai fazer seis anos.
P/1 – E esse de dezoito está onde?
R – Está comigo em casa também. Ele estuda. Está terminando os estudos dele agora. Esse ano, se Deus quiser, os dois, tanto ele quanto a menina de dezesseis anos, terminando os estudos deles e no curso, fazendo cursos pra poder ser alguma coisa na vida depois. Eles estão criados tudo dentro de casa comigo, nenhum deles fora de casa.
P/1 – Eu acho que a gente está chegando mesmo ao fim, você quer contar gravado mais alguma coisa?
R – Não. Pra mim, é suficiente.
P/1 – O que você achou de contar, poder contar a sua história de vida e a história do projeto?
R – Pra mim, foi bom demais, foi muito bom. Pra mim, que estava cheia das vergonhas... Deu pra poder, assim, rever o passado. Mas é muito bom ver marcada essa história da gente.
P/1 – Então queria agradecer em nome do Museu da Pessoa a sua participação no projeto.
R – Eu é que agradeço.
P/1 – Obrigada.Recolher