IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Waldeci José da Silva. e a data de nascimento é 9/2/42. Nasci em Pernambuco na cidade de Ponte dos Carvalho. Fica estado do Pernambuco, né? Recife, né? Já fica mais distante. Do Recife para onde eu morava é uma hora e meia de ônibus. INFÂNCIA Tr...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Waldeci José da Silva. e a data de nascimento é 9/2/42. Nasci em Pernambuco na cidade de Ponte dos Carvalho. Fica estado do Pernambuco, né? Recife, né? Já fica mais distante. Do Recife para onde eu morava é uma hora e meia de ônibus.
INFÂNCIA Trabalho na roça Não, antigamente lá no, na Ponte dos Carvalho eu não trabalhava em roça não. Não. Mas só depois de Ponte dos Carvalho para cima é que a minha mãe trabalhava muito na roça. Entendeu? Aí já fica para o lado de Salgadinho, Inhaúma, Maçangana. Isso aí tudo é estado do Norte, entendeu?
FAMÍLIA Descrição das tias É estado do Norte. Mas aqui na Ponte dos Carvalho não. Nós tinha nossa casa lá Aí que a minha irmã morava aqui, minha tia. Aqui no Rio. Era 12 irmão. Minha tia veio primeiro que a gente. Não tinha uma tia só não. Era umas quatro tias. Parte de mãe. Aí foram apanhar a gente. Aí viemos todo mundo junto. Era 12 irmão.
Ó,
nome da minha irmã? Era dona Sebastiana Maria da Silva. Que já faleceu, já. Ah, a minha avó eu não me lembro muito bem não. Não lembro. Eu tinha 6 anos.
Irmãos Foi que nós morou aqui um bocado de tempo. Aí a minha irmã comprou um terreno lá em Miguel Couto aí levou minha mãe para lá. Aí ficou lá o resto da vida até morrer. Morreu do coração. Aí acabou. Aqui tem uma irmã só. Uma mora aqui na Tavário Bastos. Somos três irmãos só aqui. Uma mora na Tavário Bastos. Minhas duas irmãs mora uma na Miguel Couto, outra é na Santa Luzia lá em Niterói.
Somos cinco.
MIGRAÇÃO Mudança para o Rio de Janeiro de navio Viemos de navio. O navio mais velho que tinha. Era o Duque de Caxias, entendeu? Acho que nem existe mais. Já está até no estaleiro, já. Isso aí eu me lembro tudinho. Saímos bem. Mas sabe por quê? Dá aquele vômito, né? Aquele balanço do mar, né, aí que o cara faz aquele vômito. Só tem uma irmã minha que não fez. Só uma irmã minha, só. Ela mora lá em, em Miguel Couto. É a caçula. Ela tem uns 30, 30 e poucos anos agora.
Chegada ao Rio de Janeiro Não, foi o seguinte. Quando eles chegavam na Baía de Guanabara a gente via o Cristo. Aí falou assim: Ih, estou chegando no Rio de Janeiro. Aí todo mundo batia palma. Aí via o Cristo lá em cima. Ah, já estamos chegando no Rio de Janeiro. Aí pronto. Chegou lá no cais do porto, saiu e todo mundo satisfeito. Apanhamos nossa mala e veio embora. Para cá. Para aqui para o morro. Porque a minha tia, a minha tia, tinha a minha avó, morava por ali.
EDUCAÇÃO Eu estudei naquele colégio ali em baixo, na Gomes Lopes. Na Gomes Lopes de Almeida. Estudei ali. Trabalhava aqui na Rua da Glória. Estudava. Trabalhava de dia, estudava, pegava no colégio era 7 e meia. Saía de lá 6 horas. Aí eu vinha em casa, tomava um banho e ia para o colégio. Estudava até umas 9 e meia, 10 horas. Aí vinha para casa. Fiz o primário, estudei até a sexta série. Estudei. Eu tenho o curso primário aí.
INFÂNCIA Relacionamento com os amigos Não, isso aí, aí eu conhecia pouca gente. Conhecia pouca gente porque eu era garoto ainda, né? Aí quando foi me dando com a rapaziada aí tudo. Sempre me trataram bem e eu sempre tratando bem eles também, entendeu? E agora tenho muitos amigos aí, entendeu? Não tenho um inimigo aqui, graças a Deus. Tem muita gente aí ainda.
FUTEBOL Clube dos Dois Irmãos
Eu gostava muito era de futebol. Tem um campo aqui em cima. Que aí eu mostro à senhora o campo.
Tinha um outro campinho, aí depois nós abrimos outro lá em cima. Tem um campinho. Todo domingo tem jogo aí. É. Eu joguei muito em Queimados. Ó, de Deodoro para cima, Mesquita, Olinda. Joguei muito. Nova Iguaçu, Nilópolis, Queimados, joguei muito. Engenheiro Pedreira.
Tinha um time aqui do Dois Irmãos. O primeiro time que eu joguei foi aqui do Dois Irmãos. Time do Dois Irmãos. Eu sempre agarrava no gol. Tinha tudo uniforme Era um verde e amarelo.
Time muito bom. Eu joguei lá em Queimado em um time chamado Olaria Futebol Clube. Era o melhor time que tinha. Nosso time ia para a liga. Mas sabe por que não foi para a liga? Porque o presidente faleceu. Aí desistiram do time. Aí pronto. Acabou.
Campo de futebol O melhor campo, o melhor time que tinha era o de Queimados. Eles mandavam um ofício para a gente, para a gente jogar com eles. Ele pensou que o nosso time era mais fraco que o deles. Aí nós recebemos a carta, escrevemos e nós fomos jogar com eles. Batemos de cinco a dois, eles pediu revanche. Ganhamos mais dele de três a dois e pronto, eles acabou. Já não quis mais. Nosso time era muito bom. Muito bom. Era muito bom. Eu fiquei até sentido, menina, o presidente morreu. Era gente muito boa. E lá conheci muita gente também. Muito, como eu estava aqui em Engenho de Dentro, Rua Conselheiro Agostinho.
PROFISSÃO Trabalho na Fábrica de chá Ipiranga Trabalhava lá. Chá Ipiranga. Trabalhei mais ou menos 3 anos e pouco lá.
Era uma fábrica de chá Ipiranga. Lá trabalhei 3 anos e pouco. Aí aconteceu um problema lá comigo lá e eu, aí eu peguei minhas conta fui embora. Mas eu trabalhei após que eu pedi minha conta, após eu voltei de novo. Me aceitaram.
Saía daqui era, era 5 e meia. 5 e meia, pegava 7 horas, 7 e meia. Eu apanhava o bondinho saltava aqui no Largo da Carioca, ali no ponto final e ia a pé até a Central. Aí apanhava o trem e ia embora.
ENTORNO Bonde Meus parentes sempre trabalharam. Porque a minha tia ela trabalhava lá no, não sei se a senhora conhece, aqui no Colégio Sion? Minhas tias trabalhavam lá. Duas tias minha trabalhava lá. Eles têm umas amigas aqui que sempre que eu descia para trabalhar eu descia junto com eles, entendeu? Eu descia o Morro do Chico ali. Conhece o Morro do Chico? Que vai descendo aqui, ó, lá para baixo. Aí eu descia todo dia junto com eles. Com elas, entendeu? Ela ficava, ia para o colégio. Tem uma escadaria aqui. aqui na rua nossa aqui, não tem uma escadaria grande? Aí descia por lá. Aí eu descia pela matinha lá. Aí apanhava o ônibus. Naquele antigamente era bonde. Era o número três. Pegava o número três. Ia até no Tabuleiro da Baiana. Tinha o 13. E tinha o 14, tinha o 13 e tinha o 12. O 12 ia lá para Ipanema. Passava lá pelo túnel novo até Copacabana.
MORRO DOS PRAZERES Moradia Nossa casa era aqui, olha. Pegava daquela ponta ali. Não tem aquela estaca ali? Estaca de ferro. Era isso tudinho aqui, entendeu? Vinha tudinho aqui. É, da minha família. Aqui, não tinha isso aqui não. Isso aqui botaram agora. Aqui tinha uma touceira de bambu aqui. Uma touceira de bambu. O bambu arriou, nós cortamos.
A casa de estuque. Quem construiu a casa? Foi meu parente mesmo. Meu tio, entendeu? Aí aqui o meu irmão vendeu para um rapaz aí. Aí eu não estava aqui não. Eu estava em Queimados. Aí eu vim. Telefonaram para mim que o barro estava caindo. Aí eu vim. Essa parte aqui de baixo estava caindo sim. Eu peguei uma corda, amarrei ali. Aí fui só arrebentando. Arrebentando. Minha irmã, meu irmão vendeu a parte para um rapaz que morava aqui. Vendeu. Veio um rapaz novo para morar aqui. Aí teve uma guerra aí e eles abandonaram o barraco, entendeu? Veio a Prefeitura e derrubou e fez esse serviço aqui. Onde eu moro fui eu que construí isso aí. Ó, tem bastante ano já. Tem mais de 6 anos já.
Fogão a lenha Tinha um fogão ali atrás eu fiz, meu irmão fez, cozinhava na lenha. E a lenha a gente pegavam aqui em baixo na mangueira. No chão, mesmo. No chão mesmo. A vida era fogo rapaz. Não era mole não. Agora não. Agora graças a Deus está, botar a mão para o céu que tem tudo aqui.
Vista do Rio de Janeiro Esta vista para nós é maravilhosa. Eu não tenho nada de reclamar nada. Eu gosto. Porque eu gosto daqui. Eu sou mais carioca do que pernambucano. Porque eu moro aqui sabe quantos anos? Tem 53 anos aqui. Vê só. Eu vim para aqui com 6 anos. Estou com 59. sábado agora eu faço 60.
Descrição do Morro dos Prazeres Aí, é como eu falei: o pessoal aqui tudo eu conheço. Todo mundo me conhece aqui. Eu sou querido aqui. Graças a Deus. Deus é grande. Não tenho nada que falar de ninguém, entendeu? Isso aqui era tudo mato. Era tudo mato. O mais que tinha, máximo aqui, tinha uns 10 barracos ou seis barracos.
É. Isso aqui tudo era mato.
Aqui em cima não tinha barraco nenhum. Só tinha esse aqui, esse barraquinho aqui. Esse aqui tinha. Aquele ali. O resto não tinha não.
Esse barraco aqui não existia. Aquele não existia, entendeu? aquele não existia, aquele não existia. Só existia aquele ali, esse aqui. Meu irmão era que morava ali, olha. Naquela pirambeira tinha o barraco do meu irmão ali. Já faleceu também, meu irmão.
CARNAVAL Bloco O nosso bloco era aqui em baixo. Aqui no Dois Irmãos. O nome, eu sei que era o bloco do Dois Irmãos. A gente descia do bloco a gente descia tudo. Botava corda assim, ninguém entrava não. Ia de bonde. Ia todo mundo de bonde. Aí já vinham dois, três bondes, aí descia todo mundo. Era muita gente aqui. Muita gente descia. Para a cidade. Era a, como é que chama? Avenida Rio Branco, Cinelândia. Por aí andava aquilo tudinho. Não tinha problema. Eu nunca fui fantasiado. Não, eu ia sempre esporte. Sempre esporte. Eu batia só bumbo.
Só bumbo. O treme-terra. Que a gente fala treme-terra, né? Ele é grande. Não, mas ele não precisa, força mais é aqui no braço.
Baile de carnaval Eu nunca gostei de baile? Não, eu gostava muito era aqui, sempre tinha uma, era uma brincadeira aqui. Não sei se a senhora se lembra que veio o Tenório Cavalcante? Eu sei que faleceu, né? Faleceu. Ele já veio aqui umas duas vezes. A gente ia para lá, ia brincar. Todo mundo brincava. Aí tinha, como é que se diz, tinha, é, é, é leilão. Tinha sempre uma leilão, né? A gente chegava lá com uma merrequinha, aí arrematava frango, era bebida. Arrematava aquilo tudo lá. A gente comia a vontade lá. Não trazia para casa não. Comia lá mesmo. Era festa mesmo. Tinha um forró e tudo. Botava forró e tudo. Aqui em baixo. Ali na barreira ali. Na Santa.
Não tem a quadra? Ali na quadra. Antigamente... Antigamente não tinha a quadra ali. Era tudo aberto. Era barreira. Sempre foi barreira. Sempre foi barreira ali.
CASARÃO DOS PRAZERES Reforma do casarão Depois que montaram esse casarão aí. Fizeram aquela quadra ali. Não tinha não. Era tudo aberto. O casarão é o seguinte: o casarão ali era de uns padre. Não sei se você lembra não? Ali era dos padre. Eu trabalhei ali também. Não, foi agora. Mais ou menos tem uns 2 anos e pouco. 2 anos e pouco eles reformaram aquilo ali, entendeu? Vai fazer uma base de 3 anos, mais ou menos. Não, antigamente eu era servente, né? Eu era servente. Não, mas antes os padres já tinham ido embora a muito tempo. Já tinha muitos anos já. Depois que entraram uma firma aí e tomaram conta aí. Eu não sei se compraram, eu não sei. Eu não sei o que é que houve.
Trabalho como servente Trabalhei de servente na obra de recuperação do casarão. Nesse projeto do Favela-Bairro. Porque ali era duas, era três, era, tinha uma lá em baixo, tinha uma aqui em cima, tinha uma aqui. Tinha quatro, quatro firma assim. Assim de empreiteiro. Era empreiteira.
Eu sempre passava por lá mas não, nunca brinquei ali. Não, porque estava caindo. Estava despencando tudo. Aí começaram a reformar tudinho.
Reformaram. Agora está linda. Agora está muito bacana.
Já. Já fui
lá dentro. Já sim. está muito lindo ali.
INFRA-ESTRUTURA Água A água aqui é o seguinte. A água aqui era precária. Tinha um senhor que morava aqui na lagoinha, era Edgar Pires Ferreira. Que mora aqui na lagoinha. Ele se candidatou para botar água aqui em cima. Teve uma votação, entendeu? Hoje ele está lá acho que é Argentina. Ele está para lá. Ele não quer vir aqui de jeito nenhum. Sabe por quê? Só ganhou um voto. Só ganhou um voto.
Mas a água está aí.
Falta de água
Antigamente não tinha nada disso não. O nego, por exemplo, deu falta água aqui uma vizinha:
Me empresta uma lata d’água aí, já tem. Naquele antigamente não tinha não. Vai apanhar lá em baixo.
Luz Aí depois que entrou outro presidente, aquele tal de Zé Bernardo, ele agora não mora aqui mais não. Mora lá no, na Martinha. Não sei se a senhora conhece a Martinha. Aqui naquela rua que vai lá, direto ali.
Chama-se Martinha. Ele mora lá agora. Ele que conseguiu botar luz aqui para a gente. Antes não tinha não. Era lampião. Lampião. Isso aqui era tudo barro. Pisando. Água descendo direto. Então era isso.
Chororó A água, a gente ia apanhar lá no Chororó, nas Caboclas, ia no doutor, aqui na mina. Era caçando água aqui no bambuzinho. Botava a balança no ombro e ia apanhar. Balança é duas latas de 20. Botava assim um pau aqui assim, olha. No ombro. Um pau no ombro com duas latas. É, duas latas. Uma na frente e uma atrás. Vez em quando o bombeiro dava água aí para a gente. Depois cortaram também.
E era com essa água que as mulheres cozinhavam, lavavam. Tinha um senhor que morava ali, ali atrás ele ia lá com dois barril daquele de 200 litros, ia puxando e carregando. Chegava lá nos bombeiros enchia as latas todinhas e carregava pra vender água. Vendia água para o pessoal aí. Não, o nome dele não lembro não. Aí ele subia vendendo, oferecendo água.
Não, o pessoal pedia. Pedia: Fulano, pode trazer duas latas, três latas, quatro latas? Aí ele ia lá e trazia, entendeu?
PROFISSÃO Vendedores Naquele tempo não tinham muitos vendedores. Tem agora. Agora tem. Desce o morro, corre o morro todinho. É roupa, é móvel, é tudo. É tudo. Cadeira, mesa de passar roupa. Tudo o que tem aí agora. Gás. Tem tudo aí. Oferece aí. Pão. Já vende pão na porta. Tudo aí.
MORRO DOS PRAZERES Abastecimento Comida nós mesmo que trazia. Não tinha Kombi, não tinha ônibus. Ônibus tinha. Vinha no ônibus, saltava no Dois Irmãos, vinha nas costas.
Antigamente fazia muita compra ali no, na Rua da Carioca, entendeu? Meu irmão ia muito ali. Lá no Catumbi ali, entendeu? Tinha, tinha muito. Aí tinha uma, na Rua da Carioca, conhece o cinema Íris? ra cá, para lá um pouco. Tinha uma casa chamada era, Ceasa. Ceasa não. Pôxa... Tem uma ali também na, Casa da Rainha. É na Rua da Carioca mesmo. Ainda tem. Antes de chegar na Praça Tiradentes. Casa da Rainha. Ainda tem ali. , igual um armazém. Igual a um mercado.
É igual a um mercado. Não é armazém. Ele tem de tudo.
Abastecimento antigamente Agora já está tudo mudado, cara. Está tudo mudado. Eu ia com meus irmãos. Meu irmão mais velho. Só duas pessoas mesmo davam. Para trazer até aqui? Eles enrolavam no papel. Papel meio amarelado. Aí enrolava bem amarradinho e botava nas costa e ia embora.
Aquela de nylon. Era papel, barbante. Mas bem embrulhado, né? Aí não dava para arrebentar não. Dava para vim.
Vizinhança Ó, vou dizer uma verdade para a senhora. Eu nunca gostei de ir na casa de ninguém. Por exemplo, assim, eu estou aqui um pessoal, um vizinho meu me oferecer para mim ir lá, aí eu vou. Agora se não me convidar eu não vou. Eu vou assim, na casa de meu irmão. Também caso o seguinte: se ele me chamar eu vou, se não me chamar eu também não vou. Mora lá atrás. Aqui no mesmo morro. Depois daquele barraco o primeiro portão azul ele mora ali. O nome dele é José Clarindo da Silva.
PROFISSÕES Vendedor de peixe Para nós aqui, somos pernambucanos, comemos de tudo. Come tudo. O que botar no prato a gente come. Não tinha aquele negócio de uma coisa que não come, outro que não come. O pessoal come é tudo. Adoro muito é peixe. Sábado eu vou pescar. Se Deus quiser. Eu e um rapaz que mora aqui. Pescar. Tinha vendedor de peixe aqui às vezes. Um tal de Sebastião. Mas não mora aqui mais não. Tinha um bocado deles aí, mas já sumiram tudo. Eu nem me lembro o nome deles. Um eu me lembro, esse, é o Sebastião. Ele também não mora aqui mais não. Quando eu vendia, comprava para revender. Eu ia lá no, ia lá na Praça XV. É, agora mudou, né? Agora mudou. Está lá em Niterói. Lá no São Pedro, né? Agora mudou para lá. Lá compra até peixe vivo. Siri. Tudo ali. Compra tudo vivo.
LAZER Pescaria
Hoje nós vai para lá naquela pedra lá, mais para lá. Aí depois vai para de baixo da ponte lá. pesca tudinho. Muito bacana. Só no anzol. Anzol e linha. Ali no Arpoador, conhece o Arpoador, não conhece? Ali pescava muito peixe-espada, ali. Agora que está dando. Mas o peixe-espada é bom de pescar à noite.
PROFISSÕES Padeiro/confeiteiro Não, eu daqui não saio não. Porque eu gosto daqui. Porque o que é que adianta eu sair daqui e ir morar no Estado do Rio? Para mim ir trabalhar tem que sair 5 horas, 4 e meia, 4 horas. Trabalhar aqui em baixo. Então fico por aqui porque eu vou até a pé. Já fui muitas vez. A pé. Trabalhei na Rua da Carioca, trabalhei na Praça Mauá, trabalho aqui em Santo Cristo. Trabalhei em Laranjeira. Trabalhei só em padaria. Ah, na Manon eu trabalhei na padaria. Eu entrei para lá, eu entrei como para lá como faxineiro. Até um rapaz que morava aqui aí arrumou uma vaga para mim. Aí eu fui trabalhar de faxineiro. Eu me acostumei e fui, fui, fui, fui. Aí estou na hora do almoço eu ia entrar para a padaria, né, ajudar eles, entendeu? Era o padeiro e o ajudante de mesa. Aí eu olhava assim: Sabe de uma coisa? Eu vou meter o pão nessa máquina aí. Aí fui, fui, fui, fui aprendendo. Aprendi. Aí o padeiro falou assim, falou para o patrão: É, o Waldeci vai trabalhar aqui. Passa o Waldeci para cá. Aí eu comecei, né? Aí eu comecei eu coloquei na padaria. E pronto, eu meti o pau. E fui embora. Trabalhava na padaria mesmo, na padaria mesmo. É. fazia tudo. Mas também eu só fazia bisnaga e
pão francês. Aí fui bem. Trabalhei 3 anos e pouco. Aí ele falou, aí faltou um lá na confeitaria: Ah, vou levar o Waldeci para a confeitaria.Fui trabalhar na confeitaria. Mas trabalhava só de noite. Chegava as 7 horas, 7 e meia. Ali que é dose, é ruim. Trabalha muito. Pegava 7 horas, 7 e meia, saía sabe que horas? 15 para as 5 da manhã. Não tem nada não, vamos à luta. Aí aconteceu: eu limpando aquelas bandejas grande assim, limpando, né?
Acidente de trabalho Aí eu, eu não estou agüentando não. Então faz o seguinte, apanha uma bandeja, uma bandeja de alumínio, enche de água e bota o rosto ali dentro. Falei: Está bom. Aí eu fui, botei, abri o olho assim, aí refrescou. Mas a caloria do, do forno, do forno, aí começa a minar água. Aí eu, Não está dando condições não, rapaz, vou no médico. Aí saí. Fui no Souza Aguiar. Cheguei lá era 3 e meia. Bati, bati, nada de ninguém atender. Chegou o médico, uma doutora lá.
Que é que foi? Isso é hora de chegar aqui?
Eu falei:
Ó, eu trabalho à noite, chefe. Vou fazer o quê?
Que é que foi? Não, caiu um bocado de cisco no meu olho, trabalho na padaria, na confeitaria e caiu um bocado de cisco dentro do meu olho.
Então senta aí. Aí sentou, arregalou meu olho para lá. Pegou uma pinça, mas tirou aqueles cascão, aquele negócio preto dentro do meu olho. Aí:
Você tem INPS? Falei: Tenho. Assinou lá. Escreveu um negócio lá, ele, aí me deu um papel: Leva para o seu patrão assinar. Foi de manhã, eu nem vim para casa. Fiquei lá mesmo. Entreguei o papel ao homem lá, ele assinou. Aí fui para o INPS. Passei quase 1 ano no INPS. E eu fazendo meu bico por fora. Não, enxergar eu enxerguei. Mas chegou um médico lá. Tinha uma mesinha, aí sentei. Fecha o olho aqui. Aí botou um bocado de letra lá. Duas letras. Eu olhei assim, tapei a vista a lá, a esquerda eu não estou enxergando nada não chefe. Mas a direita eu estou enxergando a letra lá. Mas isso aqui não. Aí está bom. Botaram lá para a, botaram lá para a Mendes Sá. Uma clínica que tem lá na Mendes Sá. Da Mendes Sá vim para aqui para a Riachuelo. Lá que eu me tratei. Enxergo, enxergo. Graças a Deus. Passei quase 1 ano lá. 9 meses e 20 dias.
SONHO Nunca voltei ao Recife. Nem vou. Fazer o quê lá? Fazer o quê? Não tem parente nenhum lá. Gastar dinheiro à toa? Ai, Deus. Nem sei quanto está a passagem lá. Deve estar cento e pouco para ir para lá. Que nada. Vou nada. Fico por aqui mesmo. Nada. Não tem parente nenhum lá. Não tem ninguém. Não.
É, que é o seguinte, eu peço sempre a Deus para dar vida e saúde para nós todos, entendeu? Eu não tenho arrependimento de nada. Fizemos meus amigo aí, todo mundo me considera bem. Não tem problema nenhum.
COTIDIANO Dia-a-dia Acordar, eu acordo cedo. 5 horas eu já estou acordado. Aí eu fico aqui, eu sento aqui.Sento no banco ali. Ah, fico só olhando. Ver o avião passar, ou o navio entrando, saindo. Maravilha para mim. Às vezes quando eu não estou fazendo nada eu vou para a mata. Vou apanhar jaca, apanhar manga. Amanhã mesmo eu vou para a mata apanhar jaca. Na mata aqui atrás. Foi antes de ontem que eu fui. Apanho taioba. Eu apanho lá na mata. Apanho lá na mata. Foi antes de ontem que eu trouxe. Eu trazia para o vizinho o ano inteiro aí, eu trago. Meto o feixe no ombro assim e subo, vou embora.
Bicos Agorinha mesmo fiz um biscate ali agora.
Não, ali para o vizinho ali.
Tinha muito serventes aqui. Ter tinha. Mas agora acabou, né? Agora acabou. Ficou fracassado mesmo. Antigamente existia muito mesmo. Tinha muito biscatezinho aí. Agora está ruim.
As casas eram de tijolo mesmo. Laje, tudo. Laje. E o material tinha que subir com ele. Pela Santa aqui em baixo. É muito pesado. É muita escada alta.
MORRO DOS PRAZERES Moradia A maior parte das casas que eu construiu já eram de tijolo. Só reforma, né?
De estuque
tem a minha casa de estuque que é uma das últimas quase aqui, né? E tem essa aqui, tem essa aqui. Tem, tem aqui. tem uma, duas, três, quatro, a da Lola ali cinco, e essa aqui seis. É, da mesma época. A mais nova mesmo é a minha aí.Recolher