Meu nome é Francine. Sou a segunda de quatro filhos e tenho vinte anos. Nasci no interior, a minha casa ficava na roça. Lá a gente plantava banana, cacau, maracujá… Tudo. Era uma cidade pequena mas que tinha de tudo. Meus pais trabalhavam na roça plantando. Minha mãe acordava cedo, pega...Continuar leitura
Meu nome é Francine. Sou a segunda de quatro filhos e tenho vinte anos. Nasci no interior, a minha casa ficava na roça. Lá a gente plantava banana, cacau, maracujá… Tudo. Era uma cidade pequena mas que tinha de tudo. Meus pais trabalhavam na roça plantando. Minha mãe acordava cedo, pegava o ônibus e ia pro centro pra poder vender as coisas. Me emociono em lembrar da minha infância. A gente trabalhava na fazenda mas também gostava de brincar, jogar bola. Ajudávamos nossa mãe a vender também na barraca. Primeiro ia pra escola e, então, quando chegava da escola, ia trabalhar. A gente ia de caminhão até um certo ponto e, de lá, a gente pegava um ônibus e ia para a cidade.
Depois eu vim de vez para o centro da cidade. Eu ficava na escola e trabalhava numa loja. Saí da casa dos meus pais porque na roça era muito chato. O trabalho era diferente. Vim sozinha e fiquei na casa de uma colega, que era amiga da minha mãe. Ganhava oitenta reais por mês. Era uma loja de roupa. Estudava de manhã e trabalhava à tarde. Não deu muito certo ficar sozinha, então voltei para a casa dos meus pais por um tempo. Depois de um ano acabei saindo de lá para morar aqui. Minha mãe me mandou vir pra cá arrumar trabalho.
Foi bem difícil no começo, mas logo eu cheguei no Projeto. Nessa época eu comecei a ficar no projeto de manhã e de tarde no curso, ou vice-versa. Uma prima minha que foi que me indicou. Eu gostava muito de fazer o curso de cabeleireira, uma coisa que eu jamais imaginei fazer. A cada dia era uma transformação. Qualquer coisinha errada já pegavam no nosso pé. A gente não podia chegar atrasado senão descontava na bolsa. Tinha disciplina mesmo.
Me faltava um pouco de responsabilidade. Aqui eu comecei vida nova. Eu decidi: “Vou mudar e vai ser agora.” E mudei totalmente. Hoje eu me considero uma uma mulher responsável! Todo mundo me olha e fala: “Poxa, você parece ser mais velha pelo seu comportamento, por tudo.” É muito bom você ouvir isso. Hoje em dia minha relação com a minha mãe é ótima. Ela vem pra cá, eu vou pra lá. Eu não ganho muito, mas com o pouco já dá para ajudar os meus pais. Perceber a felicidade e orgulho da minha mãe me deu ainda mais vontade de mudar. Meu pai parou de beber, de fumar. Eu tinha até medo de deixar a minha mãe sozinha quando ele chegava. Hoje a gente já fica tranquilo. Antes de entrar no Projeto eu ficava na rua curtindo, não tinha o que fazer. Ia pra praia, saía pro barzinho. Depois não tinha mais tempo. Chegava em casa já cansada, tinha que dormir pra acordar cedo no outro dia.
Terminei o projeto no mês de novembro do ano passado. Em dezembro eu tinha entrado no salão. É muito bom trabalhar lá porque faço o que eu gosto. Lá tem cinco cabeleireiros e nenhum sabe fazer penteado. Só pedem pra mim. Nele eu sou auxiliar, mas como eles não sabem fazer o penteado, sou eu que faço. Hoje em dia tenho o meu marido, meu trabalho, minhas preocupações. No futuro eu me vejo no meu salão, trabalhando pra mim mesma. Penso em ter o meu próprio negócio mesmo. Quando participei das Olimpíadas do Conhecimento e tive uma boa colocação no país inteiro meu orientador disse que ia me dar um salão. Ele ficou muito orgulhoso de mim. Orgulhoso por toda a transformação que eu tive, fruto do trabalho todo do Projeto ViraVida.
Nesta entrevista foram utilizados nomes fantasia para preservar a integridade da imagem dos entrevistados. A entrevista íntegra, bem como a identidade dos entrevistados, tem veiculação restrita e qualquer uso deve respeitar a confidencialidade destas informações.Recolher