Gostava de criar e inventar histórias. Colocar-se no lugar do outro, pensar em argumentos de uma discussão imaginária, imaginar os cenários mais variados. Ir para o espaço ou para o parque de diversão, ser uma sereia ou uma bruxa, ser da máfia ou lutar contra ela. Infinitas possibilidades de ...Continuar leitura
Gostava de criar e inventar histórias. Colocar-se no lugar do outro, pensar em argumentos de uma discussão imaginária, imaginar os cenários mais variados. Ir para o espaço ou para o parque de diversão, ser uma sereia ou uma bruxa, ser da máfia ou lutar contra ela. Infinitas possibilidades de ser dentro de um quarto sozinha.
Até que no auge dos seus nove anos teve contato com uma escola que a permitiu dar asas para sua imaginação, que a permitiu criar até cansar e, o melhor de tudo, com outras pessoas, com novos personagens para compor as histórias inventadas.
"Nossa, mas você acorda todo sábado de manhã pra isso?" SIM!, respondia a menina com um pouco de indignação e euforia. Foi assim, desde muito nova, que decidiu que precisava fazer parte desse universo pelo maior período de tempo possível. E seguiu.
A fase adolescente rebelde alcança todas as meninas doces de nove anos e dessa vez não foi diferente. A menina-garota de treze anos estava triste pensando nas possibilidades de seu futuro, uma preocupação, que não era pra sentir naquele momento, tomou conta de sua mente, do seu ser e um pensamento a assolava "será que se eu seguir por esse caminho eu vou conseguir realizar o que eu quero?". Sabia que sua mãe, se pudesse, moveria rios e montanhas para a realização desse sonho, porém não possuía tempo para tal ação. Estava decidido então! É apenas um hobby e não se fala mais nisso.
Matemática, física, química...Engenharia? É, pode ser...eu resolvo isso depois.
O depois ainda demorou um pouco para chegar, sua angustia durante a semana crescia, mas ainda sim tinha os sábados de manhã para respirar e deixar sua imaginação voar livre. Por alguns instantes, podia se imaginar fora de sua realidade, passando por "Peixe Grande", "Clube dos Cinco", Contos de Fadas e "Romeu e Isolda".
Até que o momento em que a sua alma ansiava e que sua razão temia chegou.
Seus dezesseis, quase dezessete anos. Sentia-se sufocada com a decisão não tomada, com a palavra não dita. Só queria que o mundo ficasse em suspensão para que ela pudesse fazer o que mais amava, porém não queria admitir para si mesma, muito menos para os outros.
Até que conheceu Celeste e os integrantes do circo Colore, um grupo de pessoas quebradas que encontravam acolhimento uns nos outros.
Algo de especial aconteceu nesse e em muitos outros encontros que aconteceram no decorrer dos meses. Uma chama que estava se apagando reacendeu, uma luz na beirada do palco mostrou um novo caminho para a garota percorrer.
Medo e insegurança. Tentou a rota segura com alguns percalços, porém a porta fechou-se antes que conseguisse ultrapassá-la. Ficou frustrada. Por que não conseguia seguir os caminhos que escolhia?
Dezoito anos. O que se fazer na idade das decisões? Seu mundo estava dividido entre o automático e o criativo, entre a terra firme e o alto mar, porém tinha medo de ficar a deriva sem estrelas para guiá-la. Lembrava da porta fechada, da luz na beirada do palco e do sonho da menina de nove anos que coincidia ser o mesmo da de dezoito. Comprou as passagens seguindo a recomendação da conselheira e encontrou as forças que precisava nos passageiros que a acompanhavam - Gaia e Hermes, seus principais companheiros. Desistiu da terra firme e se refugiou nas marés.
Porém, sentia que faltava algo, ainda havia uma escolha para ser feita, não poderia ficar para sempre nas marés, precisava encarar o alto mar. Houve retaliações, tentativas de motins, alucinações causadas pelo ar que despertavam seus maiores medos e angustias. Ainda não estava fortalecida, mas houve um consenso entre todos os passageiros, eles abandonariam o barco juntos, mas cada um teria uma estrela guiando seus caminhos.
A garota-menina-mulher pulou do barco e nadou em direção ao alto mar com o objetivo de encontrar seu caminho de origem.Recolher