Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé – Ouvir o Outro / Compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Douglas Monteiro De Resende Santiago
Entrevistado por Tereza Ruiz
Linhares, 02 de junho de 2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV016_Douglas Monteiro De Resende Santiago
Transcrito por Maiara Ariadine Leones
P/1 – Então, primeiro, Douglas, queria que você falasse pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Douglas Monteiro de Resende Santiago, 14 do 11 de 1986, Viçosa, Minas Gerais
P/1 – E agora o nome completo do seu pai e da sua mãe e se você souber data e local de nascimento também. Se não souber, não tem problema.
R – Meu pai, Joao Golberto Santiago, nasceu em São Miguel do Anta e minha mãe, Mimorina Maria De Resende Santiago, nasceu em Cajuri, Minas Gerais, os dois.
P/1 – E que que seus pais fazem?
R – Meus pais trabalham na UFV. Na, meu pai, ele trabalha no RH com arquivos e minha mãe trabalha no departamento de Nutrição.
P/1 – E fala um pouco pra gente como é que eles são como pessoa, assim, se você fosse descrever, temperamento.
R – Meus pais são fantásticos, assim. É! São bem parceiros, muito amigos. É um casal que, você vê assim, se existe aquela amor entre casais é bem, é bem visível isso neles. Eles sempre foram muito carinhosos com a gente. São fantásticos!
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho um irmão mais velho, dois anos mais velho. Ele é engenheiro florestal e tá lá no Maranhão.
P/1 – Como é que ele chama?
R – Bruno.
P/1 – Você se lembra bem da casa onde você passou sua infância. Você nasceu em Viçosa, você falou, mas você morou em Viçosa na infância?
R – Nasci em Viçosa, fiquei lá até os meus oito anos, aí meus pais se mudaram, todo mundo mudou pra São Miguel por causa dos meus avós. Que meus quatro avós moram em São Miguel, que é uma cidade que fica a 20 quilômetros de Viçosa. A gente não tinha casa própria em Viçosa, e...
Continuar leituraPlano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé – Ouvir o Outro / Compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Douglas Monteiro De Resende Santiago
Entrevistado por Tereza Ruiz
Linhares, 02 de junho de 2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV016_Douglas Monteiro De Resende Santiago
Transcrito por Maiara Ariadine Leones
P/1 – Então, primeiro, Douglas, queria que você falasse pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Douglas Monteiro de Resende Santiago, 14 do 11 de 1986, Viçosa, Minas Gerais
P/1 – E agora o nome completo do seu pai e da sua mãe e se você souber data e local de nascimento também. Se não souber, não tem problema.
R – Meu pai, Joao Golberto Santiago, nasceu em São Miguel do Anta e minha mãe, Mimorina Maria De Resende Santiago, nasceu em Cajuri, Minas Gerais, os dois.
P/1 – E que que seus pais fazem?
R – Meus pais trabalham na UFV. Na, meu pai, ele trabalha no RH com arquivos e minha mãe trabalha no departamento de Nutrição.
P/1 – E fala um pouco pra gente como é que eles são como pessoa, assim, se você fosse descrever, temperamento.
R – Meus pais são fantásticos, assim. É! São bem parceiros, muito amigos. É um casal que, você vê assim, se existe aquela amor entre casais é bem, é bem visível isso neles. Eles sempre foram muito carinhosos com a gente. São fantásticos!
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho um irmão mais velho, dois anos mais velho. Ele é engenheiro florestal e tá lá no Maranhão.
P/1 – Como é que ele chama?
R – Bruno.
P/1 – Você se lembra bem da casa onde você passou sua infância. Você nasceu em Viçosa, você falou, mas você morou em Viçosa na infância?
R – Nasci em Viçosa, fiquei lá até os meus oito anos, aí meus pais se mudaram, todo mundo mudou pra São Miguel por causa dos meus avós. Que meus quatro avós moram em São Miguel, que é uma cidade que fica a 20 quilômetros de Viçosa. A gente não tinha casa própria em Viçosa, e pela decisão de continuar pagando aluguel ou reformar um sobrado velho que tinha do lado da casa dos meus avós, meu pai e minha mãe decidiram reformar esse sobrado pra tá morando perto dos meus avós e também cuidando da coisa que é nossa.
P/1 – Como é que era o sobrado? Você se lembra? Descreve um pouco pra gente.
R – Antigo, antes de reformar?
P/1 – É. Antes e depois. Quando vocês mudaram ele ainda tava sem reforma?
R – Sem reforma. É um sobrado antigo...
P/1 – Eu vou voltar uma pergunta atrás antes de você falar do sobrado. Você sabe a origem da sua família?
R – Tereza, tem português, tem alemão, tem índio, tem de tudo.
P/1 – Tem de tudo? Seus avós nasceram no Brasil, já?
R – Já são brasileiros. Eu escuto as histórias de família, tem pai de uma das minhas avós, ele é alemão, a mãe da minha avó é portuguesa e tem os ciganos também. Então tem de tudo.
P/1 – Tem ciganos também?
R – Tem.
P/1 – Mas, você sabe da onde de que região?
R – Não, não sei.
P/1 – Não?
R – Não sei. Tem português, então tem tudo.
P/1 – Você falou que é o que? O avô, o pai da sua vó que é alemão, é isso?
R – É. Tem o pai da minha avó paterna é alemão e o pai do meu avô paterno é português.
P/1 – E você conheceu? Chegou a conhecê-los?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Não, nenhum. Nenhum bisavô.
P/1 – E você sabe quando eles vieram pro Brasil no que que eles vieram trabalhar? Se eles vieram trabalhar no campo?
R – Não. Eu tenho da parte do meu pai que é a fazenda onde a gente mora, eles sempre foram ali donos da região, então, de quando veio essas histórias, assim, não é tradicional na minha família. Não tenho essa tradição, veio trabalhar, veio da Itália, não são tradicionais.
P/1 – Tá, mas, é bem brasileiro. Tem todo tipo.
R – É bem brasileiro.
P/1 – Formado por vários imigrantes assim, né?
R – Exatamente.
P/1 – Tá bom, vamos retomar o sobrado, queria que você contasse como que era esse sobrado quando vocês se mudaram pra São Miguel, desculpa, esqueci o nome.
R – São Miguel do Anta. Ele era um sobrado bem antigo, que essa família dos meus pais é a minha bisavó ela teve um problema de saúde, de não conseguir andar e a subida pro sobrado era uma escada externa. Aí, ao invés de eles fazerem uma escada interna ou fazer um quarto do lado, eles resolveram construir uma casa ao lado. Então, eles acabaram construindo essa casa ao lado pra minha bisavó que chamava Maria e aí, acabou que a família mudou pra essa casa. E esse sobrado foi cada dia mais ficando abandonado, vamos dizer assim, servindo pra guardar ferramenta, guardar feijão, essas coisas assim. E foi ficando, foi mesmo quase caindo o sobrado, foi ficando bem abandonado. Tinha esse espaço, a gente tava em Viçosa e meus pais decidiram que ao queriam mais pagar aluguel, de ficar pagando aluguel. E aí, resolveram reformar esse sobrado. Então, era bem antigo mesmo, tava caindo aos pedaços e aí, eles resolveram reformar. A gente até brincava muito lá com morcego, com essas coisas assim, era bem empoeirado, imagina, abandonado mesmo.
P/1 – Você sabe de que ano era sobrado, mais ou menos, assim?
R – Não tenho. Eles falam de 300 anos, assim. Mas, não sei se chega a ser isso tudo não. Mas, é bem antigo, é uma fazenda bem, bem estilo mineira, bem antiga mesmo.
P/1 – Era numa fazenda o sobrado, é isso?
R – É isso. O sobrado é a fazenda, é isso.
P/1 – Qual que é o nome da fazenda?
R – Fazenda São Sebastião do Sem Peixe.
P/1 – É a casa principal, é isso?
R – É a sede principal.
P/1 – E é grande? Descreve um pouco pra gente como é esse sobrado.
R – É um sobrado de dois andares. É bem grande (risos) com salas bem grandes e...
P/1 – Então, você tava descrevendo, tava terminando de descrever o sobrado. Que é um sobrado grande, né? Com muitos cômodos grandes.
R – Mais?
P/1 – Isso (risos). E é na região rural, vocês foram morar na região rural, é isso?
R – É, região rural.
P/1 – Mas, tinha um centro urbano próximo?
R – Tem uma cidadezinha próxima do sobrado, que fica a um quilômetro, e é uma cidadezinha que tem sete mil habitantes no município e dentro da cidade é três mil habitantes, quatro mil habitantes. Então, é bem pequena.
P/1 – Que que tem mais, assim, serviços, é isso?
R – Lá é uma região também de café, é granja de frango e leiteiro. É, de gado de leite. São as principais atividades.
P/1 – Na fazenda em que vocês moravam tinha alguma atividade, ela produzia alguma coisa?
R – É, nos momentos de ouro dela...
P/1 – Então, você estava contando que a fazenda em que você morou, né, pequeno foi um engenho de cana, é isso? Conta, então.
R – É, tinha um engenho antigo lá de cana e aí, depois quando meu bisavô morreu acabou dividindo e aí, foi ficando pras partes dos filhos, né? Aí, meu avô ficou cuidando da sede.
P/1 – Mas aí cultivava quando você foi viver lá, eles cultivavam alguma coisa?
R – Não, não. Quando eu cheguei lá já não cultivava, era mais boi mesmo. Já era leite. E, aí, hoje, já não é mais leite e tá com boi de corte.
P/1 – E aí, você passou a infância nessa fazenda? Nesse sobrado, nessa fazenda?
R – Mudei pra lá com oito anos. Morava, e acabei indo estudar na escola lá em São Miguel, estudei só dois anos lá. Meus pais preferiram que a gente continuasse estudando em Viçosa, aí a gente ia e voltava de ônibus todo dia pra tá indo nos colégios em Viçosa que é 20 quilômetros. Aí, quando eu tava na oitava série, meu irmão já tava no terceiro ano, a gente foi morar em Viçosa. Eu e meu irmão morava lá. Meus pais como trabalhavam lá, eles sempre davam assistência todo dia, e a gente acabava mesmo, só dormindo, mas sozinhos, lá. Mas de lá eu já continuei morando lá. Quando meu irmão entrou na UFV, a gente morava junto e quando eu entrei na UFV ele tava saindo e aí, eu fui morar em república.
P/1 – Vou voltar um pouco, então, pra infância lá. Queria saber como era as refeições na sua casa durante a infância, na juventude. Quem que cozinhava, o que vocês comiam.
R – Bom, meus pais sempre trabalhavam, né, sempre trabalhavam. É, minha mãe, na verdade não. Pegar a infância, minha mãe, até eu ter sete anos, minha mãe cuidou da gente. Então, sempre foi refeição em casa, minha mãe cozinhando e sempre lá em casa tem a tradição de todo mundo sentado na mesa, almoçando junto. Café-da-manhã, almoço, na hora do jantar, todo mundo junto. Sempre – eles nunca abriram mão de ser todo mundo na mesma hora, todo mundo junto. Mas aí quando a minha mãe voltou a trabalhar, a gente mudou pra São Miguel, então nesses horários não conseguíamos; era sempre o café-da-manhã junto e aí, na hora do almoço já era uma pessoa que tava com a gente, trabalhando com a gente que fazia o almoço e a gente almoçava.
P/1 – E que que vocês comiam, assim?
R – Ah (risos)! O tradicional de Minas: arroz, feijão, couve. Normal.
P/1 – Você tinha um prato preferido?
R – Frango com quiabo.
P/1 – Era o prato preferido?
R – Era o prato preferido.
P/1 – E doce?
R – Nunca gostei muito de doce, eu não tenho doce preferido, assim não.
P/1 – E vocês tinham o hábito de beber café na tua casa?
R – Sim. Sempre tem o hábito, né, não tinha, tem o hábito de beber café. Sempre café, umas duas garrafas de café por dia. De manhã e de tarde, café. Café com leite, café puro, todo tipo.
P/1 – E como é que é preparado o café na tua casa? Como é que era preparado?
R – É o café de coar, né? É o torrado e moído, que a gente fala. É, passando no coador. É isso (risos)?
P/1 – Queria saber também na fase de infância quais que eram as brincadeiras, assim. Do que é que você brincava, com quem você brincava.
R – Ah! Então, (risos) a gente mudou pra roça, eu e meu irmão, a gente tem a idade muito próxima, então aí tinha mais um primo meu que morava lá, que meus avós moravam do lado e aí, esse primo meu morava com meus avós. E é casa na árvore, é bicicleta o dia inteiro. É, a gente mudou pra lá e aí, meus pais, a gente arrumou um garnisé, então era uma função danada de comprar garnisé, vender garnisé, trocar garnisé com os vizinhos. Garnisé é uma galinha pequenininha (risos).
P/1 – Aí, vocês participavam disso, de comprar vender?
R – Isso aí era, era a gente. Meus pais deixavam com a gente, tá. Aí, lá tinha um monte de garnisé, tinha muito.
P/1 – Era uma criaçãozinha, assim?
R – Era uma criaçãozinha. Meu pai fez um galinheirinho pra gente, tudo, e a gente que tomava conta.
P/1 – E que que tem que ter de cuidado, assim?
R – Com garnisé? Ora, tem que tratar, por água. Aí, a galinha tá chocando, aí sai os pintinhos, aí tem, né, colocar num lugar separado, é, tem de tudo.
P/1 – Então, na infância era bicicleta, o cuidado com os garnisés, é isso?
R – Era mais isso.
P/1 – Tinha uma brincadeira favorita, assim?
R – A gente já começa a entrar na época do videogame, também, né? Então, a gente tinha videogame, jogava bastante videogame. Mas preferida, não. Não sou um cara que gosta de futebol, não é isso não. A gente gostava mesmo era de bicicleta, andar de bicicleta.
P/1 – E tem alguma história, assim, dessa época que seja coisa que você sempre se lembra? Um causo que você conte pra amigos?
R – De bicicleta?
P/1 – É, de qualquer coisa da infância, pode ser bicicleta.
R –Fica feio contar aqui (risos).
P/1 – Não, fica feio não.
R –Eu já rasguei o saco a bicicleta (risos).
P/1 – Hm.
R – (risos)
P/1 – Foi um acidente, assim?
R – Foi. A gente tava andando de bicicleta no pasto da menina e aí tinha uma moita, assim, e eu resolvi passar com o pneu na moita e tinha um toco no meio da moita. Aí, eu voei lá na frente, assim, e bati o saco. Aí, quando vi teve que dar três pontos, dois pontos!
P/1 – Foi pro hospital, tudo?
R – Fui. Tive que ir pro posto de saúde, deu ponto, tudo mais.
P/1 – E você e seu irmão eram levados, assim, eram de fazer muita arte.
R – Bem bagunceiro.
P/1 – Eram?
R – Bastante.
P/1 – E uma história, assim, com os bichos? Tem alguma coisa com o gado, com as galinhas?
R – Hum, que eu lembre de cabeça, assim não.
P/1 – Não?
R – A gente sempre teve muito cachorro, mas nenhuma história, assim, que eu lembre agora.
P/1 – Mais marcante, assim, não, né?
R – Mais marcante não.
P/1 – E aí, com que idade você começou a frequentar a escola?
R – Eu fui tarde. Fui com sete anos, fui pro pré. Que eu não gostava de escola, não ia. Meu irmão com dois anos foi e ficou. E aí, eu ia, meus pais tentavam me colocar e colocava chorando e voltava chorando. E não passava com uma, duas semanas, sempre, eu sempre tava. Aí minha mãe desistiu de me deixar, de me colocar na escola (risos). Só quando fui pro pré, que eles me colocaram na escola mesmo.
P/1 – E qual que são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Ah, não da escola em si, mas quando eu fui a primeira vez pra escola era lá em Viçosa e aí, a gente tinha uma vizinha que é da mesma idade que eu, Celeste, e eu lembro da gente indo pra escola junto, as primeiras imagens são essas, assim.
P/1 – Isso já com sete anos?
R – Sete anos.
P/1 – E aí, como é que era a escola? Os espaço, mesmo. Era uma escola grande, pequena?
R – Era uma escola estadual, era bem grande, bastante espaço, muita criança. Era grande mesmo.
P/1 – Você lembra o nome ou não?
R – Edmundo Lins.
P/1 – Existe ainda?
R – Existe. Fica na Santa Rita, lá em Viçosa.
P/1 – E você tinha uma professora preferida? Teve uma professora marcante? Pode ser dessa fase, pode ser um pouquinho posterior.
R – Nunca fui muito bom de escola, não, viu? Então, não tenho essas de menino que era estudioso, que gostava de escola, de professora. Não tinha muito disso não.
P/1 – Você nunca gostou muito?
R – Eu nunca gostei muito não. Eu sempre gostei de estudar sozinho, nunca gostei muito de professora, essas coisas, assim, eu nunca gostei não.
P/1 – E de estudar sozinho, assim, tinha uma matéria preferida? Um assunto preferido?
R – Eu era bom em História, em Geografia, eu sempre fui muito bom, assim, sempre passava, sempre fechava os semestres, assim, muito rápido. Mas gostar... Eu tinha um desafio com Matemática, assim. Eu gostava de Matemática porque eu sempre, acho que sempre foi o meu desafio, assim: de eu conseguir resolver, mas sempre tinha muita dificuldade, então eu sempre buscava muito, eu sempre tinha aquele desafio com Matemática. Eu nunca deixei de gostar porque eu não sabia; eu sempre queria saber resolver aqueles problemas que pra mim era mais complicado, assim. Então acho que Matemática sempre gostei, assim. Mas, nunca tive muita facilidade, eu gostar não era ter facilidade.
P/1 – Era mais o desafio mesmo.
R – Era.
P/1 – E você lembra o que você queria ser quando crescesse? Tinha isso, assim?
R – Eu já quis ser caminhoneiro já (risos). Já quis ser veterinário, já. E aí, acabei sendo agrônomo.
P/1 – Você fez essa escola que você falou agora, em Viçosa, escola estadual, você fez lá toda, terminou até o ginásio?
R – Não. Dos sete anos, aí nos mudamos pra São Miguel, que é a cidade vizinha aí, estudei dois anos lá. E aí, depois fui pra aí, quando a gente voltou pra Viçosa, já voltei na sexta série, se eu não me engano. E aí, na sexta série eu já fui pro Pitágoras que é uma escola particular e aí, depois mudei para o Equipe quando eu tava na oitava série. Mudei pra uma escola particular que chama Equipe aí fiz oitava, primeiro, segundo e terceiro ano.
P/1 – Então você fez o Ensino Médio no Equipe e no Pitágoras terminou o Ensino Fundamental, é isso?
R – É, fiz duas séries lá.
P/1 – E como é que era o Pitágoras? Era muito diferente da escola que você tava habituado? Teve alguma mudança, assim, na turma, no jeito de ter aula?
R – Não. Eu nunca fui muito sensível pra essa questão de escola, não (risos). Mesma coisa, assim, era só turma diferente e professores diferentes. Eu nunca tive muito...
P/1 – E nessa entrada, assim, na adolescência, por que aí, você já tava, já tinha entrado na adolescência, né, quando você tá no Pitágoras.
R – É.
P/1 – Você falou, que ano você foi fazer lá, sexta?
R – Sexto.
P/1 – Sexto ano, né? E aí, como é que era, que que você fazia pra se divertir, assim, quais eram as atividades, fora a escola e a sua casa? Você saía, pra onde saía? Tinha um grupo de amigos?
R – Nossa, me lembrar assim! Ah! É porque quando a gente estudava lá no Pitágoras, que foi a mudança, a volta pra lá, a gente sempre voltava pra casa depois do colégio, então, eu ia de ônibus pra escola, ou às vezes com os meus pais e terminava a escola a gente almoçava e já pegava o ônibus pra ir embora. Então realmente foi uma fase ruim, porque acaba que você não tinha muito, é, os amigos de escola, eu não tinha uma vizinhança, não tinha uns amigos vizinhos de escola e nem nada porque lá na roça não tinha vizinho. Acabou que a gente não tinha muito amigo nessa época, assim. Era mais no período da escola ali, e ia pra casa. E ficava mais em casa mesmo.
P/1 – Mas, aí, assim, mudaram as atividades do que você se divertia, assim, de lazer? Da infância pra adolescência? Que normalmente mudam os interesses.
R – Ah! Você acaba tendo, a gente sempre foi muito grudado. Quando eu falo a gente é porque eu e meu irmão a gente sempre foi muito junto, assim, então as nossas atividades sempre eram as mesmas. E a gente tinha os mesmos amigos em São Miguel, que é a cidade vizinha, então a gente sempre voltava pra São Miguel no final de semana tava com esses amigos, assim, saía. Como a cidade é pequena você sempre ia pra praça, né, pra casa de amigo fazer uma festinha, alguma coisa, assim. Então era, era mais sair com os amigos mesmo, era mais aquela bagunça inicial de adolescência, de tá com amigo, namoradinha, não sei o quê e tal.
P/1 – E essas festinhas eram como? Festinhas na casa de amigos? Conta um pouco.
R – Era. De novo, é uma cidade que é perto, então, às vezes as pessoas iam pra... tinha duas casas: tinha a casa em São Miguel e a casa em Viçosa. Então, tinha sempre um amigo, os amigos nossos lá que tinham os pais que moravam em Viçosa. E nem todo final de semana eles iam. Às vezes, os meninos iam, que é Renato, Júnior. Eles iam e a casa deles era a onde ia todo mundo, a gente fazia as festas lá, ia todo mundo pra lá pra fazer bagunça.
P/1 – E aí, essas festas tinham música? Como é que é?
R – Música, tinha violão, tudo. Algumas já começaram a ter bebidas, essas coisas. É coisa de adolescente.
P/1 – E de música assim, você gostava? O que que você ouvia?
R – Bom, a nossa época, né, a minha época é mais a época de rock nacional, né? Então, os primeiros shows que eu fui, foi em Engenheiros, Titãs, Engenheiros do Havaí, Nenhum de Nós, então é isso que me remete mais a minha adolescência, mais esse estilo de música, mais o rock nacional.
P/1 – E você teve, assim, um show mais marcante? Tem alguma história relacionada a um show?
R – Ah! Bom, é um dos primeiros shows, eu fui com a minha primeira namorada, então o que eu lembro assim é mais esse primeiro show com essa namorada, assim.
P/1 – E qual que foi esse show?
R – Foi do Engenheiros do Havaí, foi o primeiro que eu fui.
P/1 – E você tinha uma música preferida deles nessa época?
R – Não, é meu irmão que era mais fã do Engenheiros, então como irmão caçula eu sempre fui atrás, né? Mas, não tenho essa música preferida, não. Mas, é que quando aconteceu o show, eu sempre escutava as músicas, tudo mais, e acabei indo.
P/1 – E essa, do Engenheiros não, você disse que não tinha uma música preferida, mas tem alguma que tenha sido marcante, assim, nessa fase de adolescência? Ou algum grupo?
R – Ah! Nossa, minha época é do Legião Urbana, né? Então, “Faroeste Caboclo” é uma coisa que todo mundo tinha o desafio de saber cantar, de saber tocar no violão e cantar ela inteira. Então, falar de música, eu lembro dela.
P/1 – Você toca também, não?
R – Não. Meu irmão toca, eu não (risos).
P/1 – E o ‘Faroeste Caboclo” você sabia cantar inteira ou não?
R – Ah! Teve uma época que sim, hoje eu não sei mais (risos).
P/1 – Conta um pouco, então, dessa tua primeira namorada. Eu ia perguntar, assim, dessa questão de namoro, paquera a época da adolescência. Conta como é que vocês se conheceram.
R – A gente tinha, eu tinha amigos, né? E aí, ela era prima de um amigo meu. E aí, eu tinha 14, 13, tinha uns 13 anos, por aí. Aí, eu fiquei amigo dela. Ela, da Elisa, aí, a gente começou a conversar e ficou muito amigo, a gente ficou bem próximo. Aí, a gente fazia tudo junto, eu ia pra casa dela, ela ia lá pra casa, ficou junto, mas ainda como amizade. Aí, depois, um dia, a gente ficou e aí começou a namorar.
P/1 – Vocês namoraram bastante tempo?
R – Namoramos um ano e pouco. Que foi de namoro, assim, bem de 14 anos, então é namorinho que você acha que vai acabar o mundo.
P/1 – E vocês saíam juntos pro cinema? Tinha cinema na cidade, que vocês costumavam frequentar?
R – Não, na época ainda não tinha cinema em Viçosa, não. Era mais filmes dentro de casa. Ela tinha irmãs, aí a gente sempre acompanhava essas irmãs. Ela tinha tios dela que moravam na roça, então ia a família inteira ia pra roça, na casa desses tios. Era mais isso.
P/1 – Amigos e família, assim?
R – Amigos e família. Eu sou bem familiar (risos).
P/1 – E aí você falou que você mudou pra Viçosa depois da oitava série, foi isso?
R – Isso.
P/1 – E aí, quando você foi, me conta como foi essa mudança. Como é que vocês decidiram, né, em família, que você ia mudar, esse novo colégio, que é o Equipe?
R – É porque lá em Viçosa tem um colégio de Ensino Médio que chama Coluni, que ele é federal. Então, é tipo, como um dos melhores colégios de Minas Gerais. Então tem todo um processo que parece um vestibular pra tá entrando nesse colégio, ele é seletivo. Então, a gente foi, eu tava na oitava série. Então tem cursinhos preparatórios pra você fazer a prova para entrar no Coluni. E eu fui para fazer esses cursinhos. Meu irmão já tava no terceiro ano e além do colégio, ele fazia também cursinhos preparatórios pra o vestibular. Então era uma fase que a gente tinha muita aula e acabava ficando o dia inteiro em Viçosa. E a gente tava só dormindo em São Miguel. Então, esse deslocamento de só dormir, meus pais acharam melhor a gente ter um local lá em Viçosa pra tá morando pra não ter esse desgaste e ficar mais cansado ainda. Aí, a gente acabou morando, eu e meu irmão lá, junto.
P1 e como e que foi a mudança, pra você, pra Viçosa?
R – Ah! eu gostei, né? Então, a gente acabou morando sozinho, achando que vai ter toda uma independência, né? Nada, nem tinha, mas é, aquela, você acha que tem porque tá morando sozinho, só que com meu irmão, então foi muito gostoso, assim, quando, quando teve a mudança.
P/1 – Mudou seu cotidiano?
R – Mudou, assim, era uma fase que mudou muita coisa. Então, mudou. Eu tinha muita aula, tinha um pouco aquela pressão de tá fazendo uma prova no final do ano pra tá entrando num colégio bom e não sei o quê, então, você acabava estudando muito e a pressão dessas aulas. Então, você vai mais no embalo, né? Você nem diverte tanto assim. Tem mais aquela obrigação de estudar.
P/1 – Passear, essa coisa de passear, sair, mudou alguma coisa em Viçosa ou não? Era mais focado no estudo?
R – Não, era mais focado no estudo, e no final de semana a gente passava em casa.
P/1 – E como é que é o nome do colégio que você falou que era federal?
R – Coluni.
P/1 – Coluni? E que ele tinha de especifico, assim? Era um colégio técnico?
R – Não. Eu acho que o colégio, ele se faz mais pela seleção dos alunos do que realmente pela excelência. Tem excelentes professores, não vou falar que não tem. Eu acho que eles mudam um pouco a forma de estudar, que eles exigem que os alunos estudem, já é mais parecido de quando você entra numa universidade. Então, quando você tá no ensino em escolas particulares você – eu acredito, é a minha visão – é mais paternalista, né? Faça isso, se não fizer, sempre dá um jeito. No Coluni já é um pouco mais sério, é mais exigente. Então, você acaba selecionando professores e selecionando alunos, você tem um time muito bom e sempre consegue ótimos resultados de passarem nas melhores universidades, primeiros lugares e tudo mais.
P/1 – E você foi estudar no Coluni?
R – Não. Não passei na prova. Foi a primeira (risos), a primeira vez que não consegui.
P/1 – E aí, como é que foi isso?
R – Ah! Lá você não passa, mas são milhares de pessoas que não passa, né, então vários amigos seus que também tentou e que não passou, então não, pra mim não, não encarei como uma derrota, como uma coisa ruim, marcante na minha vida não.
P/1 – E ai, que você decidiu, seus pais decidiram que você ia estudar no Equipe, foi isso?
R – Não, eu já estudava, fazia a oitava série lá.
P/1 – E continuou no Equipe?
R – Continuei fazendo.
P/1 – E como é que era o Equipe? Ele tinha alguma particularidade, assim, em relação aos colégios anteriores que você estudou ou não?
R – Não. Só os amigos mesmo que mudaram (risos).
P/1 – E aí, depois que você deixa de estudar pra tentar entrar no Coluni. Você continuou estudando muito no Equipe? Tem essa coisa de estudar pro vestibular? Como é que era?
R – Viçosa, ela tem essa atmosfera de estudar pra passar em vestibular. Então tem cursinhos, tem a UFV, né, que é a Universidade Federal de Viçosa, que ela é bem conceituada, então todo mundo estuda pra tá passando em Federal. Então, não só a de Viçosa, mas tem essa raiz muito forte de você ter que passar em uma Federal. Então você acaba estudando pra tá passando em uma Federal dentro de Minas Gerais.
P/1 – Você já tinha esse foco também? Pra você já era claro?
R – Já.
P/1 – E quando você decidiu que curso você ia prestar? Como é que foi essa decisão?
R – Eu tenho tios, tenho muitas pessoas na família que são agrônomos. Então, eu tenho quatro tios agrônomos, se não me engano, e tenho sete primos mais velhos que já eram agrônomos. Então, era uma profissão que eu conhecia, que eu sabia, então acabei decidindo, cursei também.
P/1 – Você lembra quando você decidiu? Foi próximo de prestar o vestibular já era uma coisa que você tinha na cabeça há bastante tempo?
R – Eu já sabia.
P/1 – E aí você prestou em Viçosa?
R – É.
P/1 – E entrou.
R – E passei.
P/1 – E como é que foi? Eu queria saber o que que mudou, assim, na hora que você entra na faculdade, começa a fazer o curso universitário, o que que muda na sua vida.
R – Bom, quando você tá, você estuda pra vestibular, você sempre acha que você estuda demais, que é a, né, que você quer estudar pra ficar mais tranquilo e tudo mais. E quando você muda, é tudo muito diferente, né? Então como a UFV, ela tem vários departamentos, ela tem vários prédios onde você faz aula. Então você tá fazendo aula aqui no Departamento de Biologia e você tem uma aula no Departamento de Exatas, você tem aí uns dez minutos pra você descolar de um departamento pro outro pra tá fazendo essas aulas. Então primeiro muda essa dinâmica de sala de aulas. Não tem apenas uma sala de aula que vai trocar os professores, é você que troca e vai até onde tá acontecendo a escola. Lá tem gente do Brasil inteiro, então, você começa a ter contato não só com pessoas da sua região e com gente que pensa igual você. Já começa a ter essa visão um pouco mais de que não é mais só aquele mundinho que você vive, que existe um mundo maior. E você começa a ver, não tem ninguém pra passar a mão na sua cabeça, então você tem que correr atrás se você quer realmente conseguir, por exemplo, passar numa matéria. Então, eu lembro de que no primeiro semestre, no segundo semestre que a gente virava noite estudando pra prova que ia acontecer no outro dia, às oito horas da manhã. Isso pra mim nunca tinha acontecido. Então, é, mudou bastante, assim, era. Mas, eu namorava na época, então eu tinha isso ao meu favor, eu acabei não indo no início muito para as festas. Eu tinha uma namorada e a gente sempre, as primeiras matérias, são matérias de base, então, todo mundo faz mais ou menos as mesmas matérias. Então a gente estudava junto pra tá passando nas matérias aí.
P/1 – Ela era da faculdade também?
R – Ela entrou junto comigo.
P/1 – Era o mesmo curso, não?
R – Não. Ela fazia Laticínios.
P/1 – Como é que é, conta um pouco como é que é a Universidade, a estrutura, assim, da Universidade de Viçosa. Como e que é, de uma maneira geral, como é que é o campus.
R – Bom, não sei se conhece.
P/1 – Eu não conheço.
R – É uma coisa, parece que você não tá no Brasil. São vários gramados, o jardim de lá é muito bonito. É muito grande a UFV, é muito grande, tem mais de 30 cursos e é uma universidade que ela é destinada à pesquisa, então ela tem vários departamentos e laboratórios de pesquisa. Então é como se o professor, ele não tá ali pra ele dar aula, ele tá ali pra fazer uma pesquisa e tem também na rotina dele dar aula sobre aquele assunto que ele domina. Então, a gente tem departamento dentro da Agronomia: Departamento de Solos, em vários professores que entendem de solos e que fazem várias pesquisas pra tá dentro dessa área de solos, e aí alguns professores dão aula pra gente pra tá passando esse conhecimento que eles têm para os cursos, pros cursos que tem aquela matéria de solo, relacionada. Então, quando a gente tá lá, você não estuda só com o pessoal de Agronomia, a minha turma não é, ela é bem dinâmica. Ela tem o dia inteiro pra você ter aula e é você que escolhe seus horários. Eles abrem várias turmas e você vai tá escolhendo qual que é o seu melhor horário. Então seu melhor horário não é o melhor horário da sua turma de Agronomia; é o melhor horário do cara que faz Biologia e resolveu estudar solos, é o melhor horário pro cara de Zootecnia, que vai estudar solos, entendeu? Você vai e junta vários cursos dentro duma sala com uma mesma ótica, assim.
P/1 – Tem uma diversidade, assim, de pessoas?
R – É uma diversidade bem grande.
P/1 – E além das aulas teóricas, você tem aula de campo, assim?
R – Tem aula pratica também, que junta ônibus e vai pra o local pra fazer. É bem dinâmico.
P/1 – E como é que são essas aulas práticas? São feitas dentro do campus mesmo?
R – Dentro do campus. Ela tem uma área própria pra isso, é bem grande a Universidade Federal, e ela tem pra nós. O nosso campo era mais demonstrativo, então, por exemplo, vai estudar trigo, eles plantavam o trigo e aí, tinha uma roça de trigo. Vai estudar feijão, tinha a área do feijão. Pessoal do gado de corte, tem a área do gado de corte. De leiteira, tinha a área leiteira. Isso assim, quando eu falo só a área agrária, porque tem o departamento de Nutrição, de Medicina, de Biologia, que as áreas de Humanas, Biológicas, tem a área deles também.
P/1 – Deixa, eu sei que é uma pergunta muito ampla, mas, assim, de uma maneira geral, entender um pouco qual é a função, qual que é a carreira de um engenheiro agrônomo.
R – É, engenheiro agrônomo vai bem amplo, né? Resumido, é cuidar de planta, né? Então é o médico de plantas, assim. Então você vai... Eu defini pela área de cafeicultura, então você vai estudar todo aquele ciclo de cafeicultura: doenças, pragas, como se produzir melhor, o que que se exige, adubação, a nutrição, então é mais nessa linha, assim. Mas você pode, Agronomia é tão amplo que a gente fala que você pode ser qualquer coisa, assim. Dentro de Agronomia, você se especializar na área de Veterinária, você não vai fazer uma cirurgia, mas você vai tá li todo envolvido, em todo o processo de nutrição, de tudo de um gado de corte, por exemplo. Eu tenho amigos que tão em área de gado de corte, tenho amigos meus que tão em soja, tenho amigos meus que não tá área de pesquisa, de paisagismo. Então, assim, é bem amplo. É tudo que você imaginar que uma planta precisa, tem um agrônomo envolvido, né? E aí, pode tá confundindo na hora que eu falei de gado de corte, porque o gado, ele come uma gramínea, então é onde entra a parte do agrônomo. Ele vai saber tudo sobre aquela gramínea, e aí, como um diferencial, ele acaba sabendo sobre nutrição al do bovino e ele vai poder desempenhar as atividades dele.
P/1 – E você gostou da faculdade logo de cara, assim? Que você falou que nunca foi de escola, assim, né? Isso mudou na hora que você entrou na universidade? Como é que foi?
R – De novo, eu não gosto muito de estudar. Eu nunca fui um ruim aluno. Igual, eu fui reprovado só em duas matérias, e pra nós isso é bem pouco. Eu nunca fui o pior, mas nunca fui o melhor. Eu nunca me estudei, me dediquei tanto pra ser o número um. Mas eu também nunca deixei de estudar pra não conseguir passar em uma matéria. E aí, no início, quando você entra, você não tem muito uma noção do que é o curso. Logo, como eu te falei, dos dois primeiros anos da Universidade Federal de Viçosa, você faz sempre matérias de base, matérias que todo mundo faz, faz o nivelamento. Então, você acaba não, não pensando muito. Como é tudo muito diferente, você conhece muita gente diferente, eu tenho amigos, 15 amigos, tenho contato diários com eles que vem dessa época. Então, você acaba ali ficando mais pela amizade e tudo, e você acaba não pensando muito no futuro. Acaba, quando você começa a fazer sua, do terceiro ano em diante que são as suas matérias mais especificas do curso, que aí você começa a ter uma noção do que é Agronomia. E aí sim é onde as pessoas desistem, e a pessoa continua. Aí que eu vi que eu gostava, e que eu ia continuar.
P/1 – Quantos anos são de curso?
R – Cinco anos.
P/1 – E quando é que você decidiu que você queria trabalhar com café?
R – Foi uma oportunidade, na verdade, que eu tive. É – deixa eu lembrar – no quarto ano eu entrei e aí eu fui participar de Empresa Júnior de Agronomia. Então, tava sempre envolvido com projetos de extensão. Eu nunca gostei muito de pesquisa, sempre gostei mais de extensão, de estar indo pro tour, vendo o que ele precisa, buscar maneiras pra solucionar os problemas deles, eu sempre gostei bem dessa parte. E aí, eu fiz Empresa Júnior, e dentro dessa Empresa Júnior eu tive a oportunidade de tá fazendo um estágio em uma empresa que prestava serviço pro SEBRAE. E aí, ela era com o café. Era na área de Economia, de Administração Rural, fazendas de café. Aí foi quando eu comecei a ter contato com cafeicultura. Eu já tava no terceiro ano, né, no quarto ano, e aí, já entendia mais de agronomia e aí fui fazer um estágio que pra mim era mais direcionado com café e com a parte administrativa, que é o que eu gostava também, de número.
P/1 – Deixa eu perguntar, antes de falar de formar, então você pode falar qual é o nome da empresa?
R – O nome da empresa é Labor Rural, mas o projeto do SEBRAE, que ele ainda existe, chama Educampo. Ele existe tanto com o café, como com o leite também.
P/1 – Você fazia parte desse projeto, do Educampo?
R – Fazia parte desse projeto.
P/1 – Conta um pouco o que que era o projeto então, assim, o que o projeto realizava.
R – O projeto, ele é, ele tá na área administrativa de fazendas de café como de gado, então é de custo de produção. Então, é um, é um dos poucos projetos que conseguiram dar certo, ele já tem mais de 15 anos, e que os técnicos deles vão mensalmente nas fazendas pra recolher dados econômicos. Então vai saber o que que o produtor tá gastando. E aí ele vai montar o custo de produção dele, vai ver onde tá gastando dinheiro, onde não tá e vai propor melhorias dentro daquele esqueleto de custo de produção, onde que ele pode tá melhorando pra gastar menos dinheiro.
P/1 – E aí, como é que você atuava como estagiário? Qual que era exatamente a sua função?
R – Eu recolhia, eu era responsável por pegar todos esses dados de todas fazendas, que era de 510 fazendas na época, e ver se os técnicos não tinham errado em um dos dados que eles tinham enviado. Porque, às vezes, quando eles iam digitar, eles digitavam algum número que não fazia sentido. Então eu tinha que calibrar o olho e jogar isso em planilhas de Excel, não tinha muita experiência na época com Excel, e aí eu acabei tendo um aprendizado muito grande pra criar ferramentas dentro dum Excel, que eu jogasse aqueles dados e visse que o produtor tinha feito, na verdade podia ser um erro. E não que a gente admitia de cara que era um erro, a gente via que aquilo poderia ser um erro e aí, mandava pra ele perguntando de volta se aquilo ele ao tinha errado na hora de lançar. Então eu comecei assim.
P/1 – Quais que eram essas propriedades, essas fazendas de café, elas eram da região ali de Viçosa?
R – Não, em Mias Gerais inteira, Sul e Serrado, Zona da Mata, todas as áreas de Minas.
P/1 – E durante o estágio você chegou a visitar alguma fazenda?
R – Não, durante o estágio não fui. Na época do estágio, não. Eu fui participar de encontros, né, quando tinha um encontro com todos os agrônomos, eu participava, eu fui nas regiões. Eu lembro que foi em Araxá quando eu fui a primeira vez. E a gente foi e visitou algumas fazendas nesse encontro, tudo mais, mas não fui pra acompanhar o supervisor não. Fui para esse encontro.
P/1 – Pra conhecer?
R – Pra conhecer e tudo mais.
P/1 – E essa foi a sua primeira experiência, assim que, de mercado de trabalho?
R – Isso.
P/1 – Seu primeiro estágio?
R – É.
P/1 – Era remunerado?
R – Era remunerado.
P/1 – Você se lembra que que você fez com os primeiros bolsas que você ganhou de estágio?
R – É (risos). A UFV é uma cidade que tem muita festa, então, a coisa juntou a turma e paguei um churrasco, uma caixa de cerveja e aí, depois gastava o dinheiro mais com festa mesmo (risos).
P/1 – Tudo com festança?
R – Tudo com festança.
P/1 – Tá certo. E ai, queria saber, você mencionou as festas, então, nessa coisa da vida social durante a universidade, você falou bastante sobre a parte de estudos, tal, o que mudou? Eram as festas?
R – É. Na UFV você tem que ter cuidado pra você não se perder em festa, que toda semana tem a melhor festa do semestre – é a melhor festa na sexta, melhor festa no sábado também. Então, você tem que decidir pela qual melhor você vai. E aí, como eu, você começa a ir em muitas festas, e se você não tiver um foco você acaba ficando só por conta daquilo. E aí, como a gente tinha uma turma muito grande de amigos, então toda semana tinha festa e companhia pra você ir. É um local que tem muita festa, e você tem que acabar tomando cuidado mesmo pra você não viver em festa. E o que acontece muito lá, às vezes o pessoal chega lá e deslumbra com a quantidade de festa e toma pau em todas as matérias nos primeiros dois semestres. Então acaba perdendo um ano aí, porque chega lá e fica deslumbrado por causa de festa mesmo, de tanto que acontece. Então, foi assim, foi onde que eu comecei a realmente a ir pra festa com pessoas de vários lugares e tudo mais. Era, a gente tinha um grupo de amigos muito unidos. Que, assim, o pessoal: “Ah! Tá! Era cinco, seis?” Não, eram 20 amigos que eram muito unidos. Então, eram 20 amigos que iam pra todas as festas, juntos, assim. E aí, a época que ninguém tem carro, nem nada e vai todo mundo de ônibus, volta de ônibus, então era bem, bem divertido (risos).
P/1 – E eram mais festas universitárias, mesmo?
R – Festas universitárias.
P/1 – Você morava, você ainda tava morando no mesmo lugar que você morava com seu irmão?
R – Ah! Não. No mesmo, isso, é.
P/1 – Tá, então voltando um pouco pra coisa da escolha do café, você contou que esse estágio ajudou muito, né, te direcionar pra isso. E a especialização, como é que é essa especialização no curso a partir do terceiro ano? Você escolhe em que áreas, exatamente?
R – Não. Na Agronomia não tem tanto essa especificação durante o curso, você acaba formando com um leque muito amplo que você pode atuar. Existe lá que você pode fazer dez matérias optativas, que são obrigados, que você vai tá escolhendo de acordo com aquilo que você mais se identifica no curso. Então é nessa época que você vai acabar pegando mais matérias que você acredita que vai fazer diferencial no seu mercado de trabalho.
P/1 – E aí, que você direcionou.
R – É. Até que a UFV, ela não tem tantas matérias pra café, então não foi nessa época que eu me especializei. Foi, assim, a minha especialização veio mais da pratica do que realmente de uma matéria que eu tenha feito.
P/1 – Então, conta como foi, depois que você faz esse estágio, você ia continuar contando...
R – É, porque aí, parte pra parte profissional. Que aí esse projeto me chamou pra ser um dos supervisores em Minas, também. Então na época tinha dois, e aí eu ia ser o terceiro supervisor que taria viajando e vendo se a metodologia do projeto tava sendo aplicada pelos outros agrônomos e tá fazendo reuniões com produtores, tá fazendo uma atualização do agrônomo de campo, né, com a metodologia. E aí, foi aonde que eu comecei a entrar na área do café, mesmo, no profissional.
P/1 – Você já tava formado?
R – Já tava formado. Esse é o meu primeiro ano de formado. Primeiro ano de formado, eu tinha que falar com agrônomo de 35 anos de formado o que ele tinha que fazer ou não.
P/1 – E como é que foi isso?
R – Ah, isso pra mim era uma loucura, né (risos)? Porque quando você forma, você não tem muita firmeza nas coisas. Meu chefe acreditou em mim, né, acreditou o meu profissionalismo e ele me colocou numa posição em que eu tinha que fazer esse tipo de coisa. Então – como diz – eu fechava o olho e ia, fazia o que tinha que ser feito.
P/1 – E como é que era essa interlocução? Como é que você era recebido, normalmente?
R – Eu sempre, eu sempre apostei na empatia, né? Então eu nunca cheguei, eu nunca fui um supervisor que ia chegar de forma arrogante com esses, com os agrônomos. Então, eu sempre ia, batia um papo, conversava, procurava saber da história dele, das coisas que ele precisava e aí quando eu via que tinha alguma coisa errada a gente entrava, pedindo pra tá mudando, dessa forma, nunca fui de uma forma arrogante. Então, é uma coisa que sempre me falaram do meu perfil: eu nunca, eu sempre busquei essa empatia primeiro pra depois tá fazendo alguma modificação.
P/1 – E teve alguma situação, assim, que tenha te mercado nesse começo de carreira ou com um agrônomo ou com? Você chegava, tinha uma interlocução direta com o produtor rural, também, às vezes?
R – Pouco. A gente sempre fazia mais, a nossa parte era dos treinamentos, e às vezes a gente juntava uma turma de produtores e fazia uma apresentação, uma palestra sobre um assunto. Então, assim, marcante sempre é a primeira reunião que você faz isso, né? Então, a primeira reunião que eu fiz, foi lá em Patrocínio, e aí juntou numa turma de produtores, que na sala tinha uns 40, uns 50 produtores. Então você sai da faculdade, e você se coloca na frente de gente que fez aquela vida inteira, fez aquela cultura, e você vai falar de adubação, vai falar alguma coisa, mesmo que era sempre voltado pelo foco administrativo, Economia Rural, mas é uma coisa que eles entendem e que eles vão te debater ali. Eles vão perguntar se aquilo tá certo ou errado, e você tem que ter postura firma pra falar que aquilo é certo. Então isso pra mim foi marcante demais, de primeira, assim. E aí você saber responder tudo aquilo que eles te perguntam. Quem faz as palestras sabe que a pergunta, você nunca consegue responder de imediato. Você sempre tem que ter um ou dois minutos pra pensar o que você vai falar. Então você saber esse tempo e não falar besteira pra mim foi a coisa marcante, assim.
P/1 – Eles tinham uma resistência? Você sentia por parte dos produtores? Como é que era no começo, né, essa interlocução, porque eles não estavam habituados.
R – É. O diferencial do projeto é que é uma coisa que eles pagam pra estar participando. Então eles não pagam a nós, nós os supervisores da época que fazia lá. Eles pagavam os técnicos que tavam indo nas propriedades deles pra fazer esse tipo de trabalho. Então é um consenso. Então, não é uma coisa que você vai chegar e impor ou exigir alguma coisa. Tem que partir deles. Então resistência a esse assunto, a gente via que eles tinham muita dificuldade, realmente, administração rural, no Brasil, é uma parte bem que poucos têm acesso.
P/1 – Por que? Conta um pouco a dificuldade. Que tipo de dificuldade?
R – É o, no Brasil, eu posso dizer assim, ainda no Brasil há muita diferença do produtor pro empreendedor. A maioria dos nossos produtores rurais, seja ele qual área for, ele é muito mais produtor, de saber produzir, querer produzir do que saber empreender. Então, às vezes, eles gastam muito dinheiro pra tá fazendo aquilo e não enxergam onde tão os gastos deles. Eles não sabem onde tão colocando aquele dinheiro e aonde eles podem reduzir e continuar com a produção, né? Ou igual ou ideal de, dependendo do custo. Então isso é uma visão que eu tive dentro desse projeto, que a maioria dos produtores não tem. Eu mantenho tendo essa, rodando pela Nestlé, eu continuo tendo essa mesma ideia.
P/1 – Você lembra de algum exemplo, assim, concreto pra gente? Um exemplo, de você tá falando de ter essa consciência do custo, né, de pensar em administrar um pouco a sua propriedade como um negócio, como um empreendimento. Você se lembra de algum exemplo, assim, que você tenha acompanhado, algum produtor que você tenha conhecido diretamente? Que vocês tenham orientado, que isso tenha mudado?
R – Eu não participei de aberturas de projeto. Então quando eu fui os projetos já estavam em andamento, então os produtores sempre já tinham tido a época ali de – eu acabei de lembrar (risos) – de café. Mas, eu também fiz custo de produção na área de morango, poncã (mexerica poncã), de eucalipto e de mel. Então, assim, aí, volta, eu realmente comecei a visitar, fiz a primeira reunião de abertura, falando o que seria. E aí visitei produtores que nunca tinham tido essa ideia de custo de produção. Então é uma coisa nova que você mostra. Igual, você vai num produtor de mel que eu tinha, e que ele não anotava nada. E aí, você fala: “Ó, tem que anotar tudo que você vai gastar”, e ele “Ah! Então vou passar pra minha mulher pra fazer isso que ela, ela sabe anotar, ela gosta mais de anotar”. Aí quando você vai na visita seguinte, eles já tão com o caderninho ali por dia, por tudo anotado, o que eles fazem. Então, você acaba vendo essa diferença. Eu acabei de lembrar.
P/1 – É bacana. E, assim, da sua parte, porque você tem uma, eles são muito diferentes, assim, você tem uma formação teórica. Tem uma parte prática, sim, mas vem de uma universidade, tal. E o produtor, às vezes, é uma pessoa que aprendeu aquele ofício na pratica, aprendeu com o pai, aprendeu com a família. Você tá falando um pouco daquilo que vocês iam levar de ajuda, mas você enxerga ou reconhece algum aprendizado que você tenha tido com algum contato com eles?
VALOR COMPARTILHADO – 59” a 1’33”13”’
R – Nossa! Qualquer produtor rural, seja ele nessa parte de custo, ou hoje mesmo quando a gente vai falar de sustentabilidade com um produtor, você primeiro tem que entender a realidade dele e saber o que que é a vida dele. Então, assim, por mais que você acredite que estudou uma coisa durante cinco anos e que aquela é a melhor forma de fazer, ela não é assim pra todo mundo. Então, primeiro, você tem que conhecer a pessoa, saber o que ela faz, como ela faz, porque que ela faz daquela forma pra depois você julgar se aquilo é correto ou não. É assim que eu faço com os meus produtores. Eu vou, visito, conheço. Eles sempre são muito receptivos, abrem a porta pra mim, a porta da cozinha, né, que a gente fala. Então a gente senta, conversa, vê o que que é, como que ele faz aquilo, durante quantos aos que ele vem fazendo aquilo, por que é que ele faz daquela forma, pra depois você falar com a pessoa eu faz isso a vida inteira se aquilo é correto ou e errado.
P/1 – E tem algum aprendizado pra você no caso, você sente que aprendeu?
R – Ah! Você cresce mais como pessoa, né? Porque você vê ali dificuldades, de gente, de famílias que têm dificuldade mesmo de renda, pra tá produzindo aquilo, tirando a vida daquela cultura. Então você ganha muito mais como pessoa, assim. Você tem um aprendizado de batalha de vida, assim, das outras famílias, não só da sua.
P/1 – E tem algum produtor, alguma família que tenha sido mais marcante pra você, assim? Que tenha, por qualquer razão?
R – Ah! Não, eu gosto de todo mundo (risos), não tenho.
P/1 – Nenhuma história, assim, que você tenha vivido especificamente durante todo esse processo de trabalho?
R – Não. Eu não sei diferenciar, eu sou igual ao pai que não sabe diferenciar filho (risos). Eu gosto de todos os meus produtores, tenho carinho por todos assim que eu visito. É lógico que cada um tem seu perfil. Tem os que você chega e ele faz questão que você senta na mesa e toma café e tudo mais, até aqueles que vai sentar com você pra falar de mercado de café futuro, que é coisa que, às vezes, nem eu entendo, bolsa de valores. Mas, assim, todos eu tenho carinho bem grande por cada um deles.
P/1 – E na prática deles, assim, você reconhece ou percebe aquilo que é um saber que, porque eles têm aquilo que vocês podem levar de conhecimento, mas tem aquilo também que eles abem como fazer porque é coisa natural, que passou de pai pra filho, aprendizado. Vocês reconhecem, assim, esse saber que não é da universidade, mas que é um saber da prática?
R – É que o saber da universidade vem do saber dessas pessoas. A universidade não criou uma maneira correta de fazer a coisa e depois foi pro campo. Veio do campo pra, pra dentro da universidade. Então, a universidade só vai te falar a melhor forma de fazer aquilo. Mas, toda a experiência dela veio mesmo do campo. Então a gente vê que essas pessoas que nunca tinham tiveram acesso aos estudos, ela faz aquilo porque o pai fazia, porque o avô fazia, porque o bisavô dela fazia. Não é por - como vou dizer – não é por um agrônomo que foi lá e falou: “Ó, é dessa forma que faz”.
P/1 – Bom, queria que você contasse um pouquinho então quanto tempo fica nesse projeto e aí, como é que é a sua, como é que você é convidado pra trabalhar na Nestlé.
R – Eu fiquei um ano como supervisor, né? Fiquei de janeiro até março, de janeiro de 2012 até março de 2013, que foi em dezembro, na Nestlé surgiu essa vaga de agrônomos pra trabalhar com o café. Aí, meu chefe viu a oportunidade, e ele tinha um contato com o pessoal da Nestlé, da parte de leite e foi aonde que ele ficou sabendo e me indicou. Ele viu que poderia ser uma boa pra mim, pra minha carreira e aí como amizade mesmo, ele me indicou pra tá participando do processo seletivo e tudo mais, pra eu estar participando do corpo da Nestlé.
P/1 – Isso foi em Viçosa?
R – Isso. Foi em Viçosa, por telefone.
P/1 – E aí, você fez o processo.
R – Fiz o processo, as entrevistas e aí, fui chamado pra tá com eles no projeto.
P/1 – Você falou que foi em 2013?
R – Em 2013.
P/1 – Começo do ano ou final do ano?
R – Final do ano.
P/1 – Então, você acabou de entrar, assim, acabou. Faz uns seis meses que você tá?
R – Que eu estou no projeto?
P/1 – É.
R – Não, foi no final de 2012. E aí, início de 2013. Eu entrei no projeto em abril. Dia 26 de abril de 2013. Então, fez um ano há pouco tempo.
P/1 – E aí, quando você começou era pro Nescafé Plan já?
R – Já era pro Nescafé Plan. Quem tomava conta na época do projeto era o Terence Bynes. E aí ele que foi responsável pela nossa contratação. Nós entramos em abril, né, final de abril e em julho ele deixou o projeto. Ele mudou de empresa e aí a gente ficou sem gerente até novembro. Em novembro entrou o novo gerente, que é o Pedro Malta e aí que a gente retomou realmente com mais fôlego as atividades.
P/1 – Me conta um pouco como é que você, quando você entrou, foi contratado, você já sabia do projeto?
R – Não.
P/1 – Ou você teve assim, teve uma formação logo que você entrou pra entender o que era o projeto, me conta como é que foi isso.
R – Não conhecia o projeto, não sabia da existência, aí quando surgiu a vaga e tudo mais, fui pesquisar na internet tudo que se tratava e aí vi algumas reportagens pelo Incaper que eles tinham divulgado, que era um projeto que tinha se iniciado na cidade de Águia Branca, alguns produtores que falavam de sustentabilidade. E a, que eu fui saber o que que era Nescafé Plan, até então também eu não tinha ouvido falar. E aí quando a gente entrou teve toda uma preparação, né, a imersão na empresa, do projeto e tudo mais que a gente ficou sabendo o que de fato era o projeto. Até então eu achava que seria uma assistência técnica, dia-a-dia, com algumas fazendas, eu seria responsável por algumas fazendas, que eu teria que fazer a parte técnica delas. E depois que entrei que vi que não era bem isso.
P/1 – Eu quero te perguntar o que que é exatamente o projeto, assim, mas antes, como é que foi a mudança pra Linhares, assim? Assim que você foi contratado você teve que se mudar, como é que foi?
R – Não. Eu vim pro Espírito Santo, eu e mais um agrônomo, nós ficamos em hotel. A gente veio em março, final de março, que a gente passou todo um mês em São Paulo e tudo mais pra tá fazendo, pra tá entendendo o que que é a Nestlé, o que que ela esperava pra gente, o que que seria o trabalho, né? Treinamentos, tudo mais. E aí, a gente veio pra cá no final de março, só que a gente ficava em hotéis. Ficava em Águia Branca, ficava aqui em Linhares, mas tudo em hotel. E aí eu mudei realmente pro apartamento que eu tô em, no início de agosto. Que ai eu comecei, que foram divididas as áreas aonde cada um ia ficar, aí eu fiquei responsável por essa área aqui, por essa região de Linhares, aí eu vim pra cá.
P/1 – E como é que foi essa mudança pra você, assim? Na sua vida pessoal?
R – Ah! Eu tô num Estado que eu tenho só um primo aqui, então minha família não tá aqui, eu não tenho amigos, né, não tinha amigos, não tinha nada. Então, mudança completa, né? Novo emprego, nova cidade, nova rotina, sem ninguém nem nada pra ancorar, né, escorar. Então foi bem difícil esse início, assim. Mas não tenho medo de mudança, não.
P/1 – É muito diferente de Viçosa, Linhares?
R – Ah! Com certeza, né? Viçosa é uma cidade universitária, né? Tem gente nova e evento, vamos dizer, assim, todos os dias quase. Linhares, por mais que seja uma cidade grande de 150 mil pessoas, é uma cidade que tem uma rotina meio de rural, né? Então, você vai na rua sete, oito horas da noite e não tem ninguém mais. Final de semana são poucas coisas que tem pra fazer. Então você acaba, essa questão de atividade social, a minha quase acabou (risos). Então a gente saiu daquela muvuca, daquele tumulto pra uma coisa mais calma.
P/1 – É um cotidiano bem diferente?
R – É, bem, bem diferente.
P/1 – E você falou que teve um treinamento em São Paulo, né, antes de vir que que é esse treinamento, no que consiste?
R – É que eles mostram pra você o que que é a empresa, o que que é a Nestle, vai te dar as ferramentas pra você tá acessando os sites dela, como você acessa. Mas não foi agronômico, não, foi mais do que é a empresa em si.
P/1 – E a apresentação do Nescafé Plan, teve alguma apresentação?
R – Não de formal, mais informal, assim. O Terence tava durante esse mês, ele ia passando pra gente o que que seria, o que eu que é o projeto.
P/1 – E explica um pouco pra gente, então, o que é o projeto.
R – O projeto: o café do Espírito Santo, ele é utilizado pra fazer o nosso Nescafé, né? Que é aquele café que se dilui em água quente. Então o Nescafé, ele é feito na fábrica de Araras e a grande parte desse café, ele é exportado pra Europa e pros Estados Unidos. Hoje, a gente pode falar um movimento social, o consumidor ele busca, ele busca cada vez mais saber de onde que é a origem daquele produto que ele tá consumindo, como ele é feito, de que forma que ele é feito. Então o Nescafé Plan, ele vem falar dessa parte, ele vai dar uma rastreabilidade daquele produto e vai falar pra você que aquele produto foi feito, né, o café, que aquele produto foi feito, ele vem de fazendas onde as pessoas se preocupam com a parte sustentável. O Nescafé Plan, na sua base, é isso: É você ter fazendas sustentáveis, né, que se preocupam com o meio ambiente, com o social, com o econômico, né, que eles têm que ganhar dinheiro, afinal de contas, e tá vendendo esse café pra nós, esse é o projeto.
P/1 – E ele tá num estágio inicial? É recente essa implementação no Brasil, nessa região?
R – A assistência mais direta com alguém na Nestlé, ela começou em janeiro. Em janeiro desse ano que a gente foi, é, começou a visitar todas as fazendas. Até então, ela não tinha ninguém, a Nestlé não tinha ninguém aqui no Estado pra fazer essa parte. Ela era feita toda de São Paulo. Então, ela começou mesmo com os produtores em 2010, foi quando começou. Então colocou alguns produtores e aí eram feitos sempre palestras, treinamentos, apresentações e tudo mais, mas não era uma coisa do cotidiano, não era todos os dias. E aí, então, veio a contratação dos agrônomos pra tá fazendo essa parte de assistência às fazendas e conhecer todo mundo, ver se aquilo que a gente tá propondo é realmente feito.
P/1 – E essa, esse início em 2010, que era mais por encontros, né, de palestras, é, qual que era o conteúdo dessas palestras, qual era a aproximação com esses produtores?
R – Os produtores que participavam do projeto, eles sempre recebam treinamento nessa parte de o que era o projeto primeiramente, qual que é a ótica dele, o que que ele, o que eu que ele busca e melhorias, né, eles indicavam, sugeriam melhorias a partir de um foco inicial. Igual o problema agrotóxico, então não utilizar muito agrotóxico e utilizar agrotóxico que não fazem muito mal ao meio ambiente. E aí então juntavam reuniões, trazia um especialista que iam debater esse tipo de assunto com eles.
P/1 – Você sabe como é que eles eram chamados ou convidados, esses produtores?
R – A gente tem uns parceiros que chama de parceiros comerciais, que são as cafeeiras. Então eles têm esse contato mais próximo com o produtor, e aí a Nestlé em conjunto com essas cafeeiras fazia o convite com os produtores. Acabava que as cafeeiras que faziam esses convites.
P/1 – E aí nessa etapa inicial que ainda não tinha esse grupo de agrônomos pra acompanhar no dia-a-dia, quais que eram as ações que eram propostas pra o projeto pros agricultores? Teve algum início de ação além das palestras, que é uma ação de conscientização, de mudança da prática. Teve alguma outra proposta de ação, assim? Tô te perguntando, porque, por exemplo, ontem no Sítio Canal eles falaram da questão das mudas, do viveiro. De trabalhar junto com aqueles produtores que tem viveiro pra bancar uma parte do valor dessas mudas e viabilizar, né, uma distribuição maior, uma compra mais vantajosa pro pequeno produtor.
R – É, de início, a gente focou mais nessa parte de mudas. O que é que é esse projeto de mudas, essa ação de mudas? A gente disponibiliza pra eles a muda nos viveiros que a gente cadastra uma muda com um preço mais barato. E essa muda, não é só o fato de ela ser mais baratas, são mudas que tem uma melhor tecnologia, que é uma muda que ela foi desenvolvida junto com o Incaper. Então essas mudas, elas são plantas que são mais resistentes à água, resistente à agua, não, desculpa, resistente à seca. São plantas que são mais resistente à doenças, que tem uma produtividade melhor. Então essa pesquisa, que a Nestlé também tem essa parceria junto com o Incaper, que é um instituto de pesquisa aqui do Espírito Santo, então a gente traz pro produtor mudas, com uma tecnologia melhor e com preço mais acessível. Então, a gente estimula que eles reformem a suas lavouras pra tá tendo nas suas lavouras uma planta mais produtiva, que vai exigir menos água e que ele vai conseguir uma produção melhor. Então isso que são as mudas que vocês ouviram falar lá.
P/1 – E aí esses produtores, eles são fornecedores da Nestlé, eles produzem e esse produto volta pra Nestlé?
R – Isso. Esse produto volta pra Nestlé. Eles não têm um contrato fixo de obrigatoriedade de fornecimento, mas eles vendem pra essa cafeeira que é o nosso comprador direto deles.
P/1 – Então, ao mesmo tempo que eles melhoram a produção deles, melhoram a qualidade do café que vocês...
R – Que nós vamos comprar.
P/1 – Com o qual vocês estão trabalhando.
R – É.
P/1 – E essas mudas, esses viveiros de mudas, eles pertencem a alguns pequenos produtores, é isso?
R – Alguns pequenos produtores ou empreendedores que decidiram ter somente o viveiro. Não é, como diz, não é sempre um produtor, ele pode ser apenas só um viveirista.
P/1 – E como é que foi feito, você sabe como é que foi feito esse mapeamento dos viveiros? O Incaper que ajudou vocês nisso?
R – Não. Foi mais por região. Que o nosso grande foco, ele iniciou em Águia Branca. Então começou com 70 produtores e depois deu um salto pra 230 produtores só no município de Águia Branca. Então é onde que a gente precisava de vários viveiros pra tá disponibilizando a muda pra eles. E aí, a própria Nestlé, na época, mapeou os viveiros e aí, exigiu toda a documentação pra que eles poderiam tá fornecendo as mudas pros produtores.
P/1 – Qual que é essa documentação? Pra gente entender, assim, em linhas gerais, também, que que significa essa documentação? Certificado de qualidade? O que que é isso?
R – É mais um certificado, são documentos que são exigidos pra que ele possa tá vendendo mudas mesmo. A parte de certificado que a gente pode falar, ela vem depois, né? Quando ele entra, é passado pra ele tudo sobre o 4C, que é o nosso selo de verificação de sustentabilidade e ele tem que se enquadrar aí nessas normas.
P/1 – Explica um pouco então o que que é o 4C.
R – O 4C, ele é um selo de verificação de sustentabilidade. A gente não pode falar que é certificação de sustentabilidade porque há uma diferença em termos, porque a verificação ela faz por amostragem. Então a gente tem um grupo, que de três em três anos, a Secretaria do 4C, desse selo aqui do Brasil, a gente marca pra eles tarem vindo e fazendo auditorias pra comprovar que tudo aquilo que a gente fala que os nossos produtores fazem, realmente está sendo feito. Então ela faz uma amostragem pra confirmar isso. Quanto à certificação, a certificadora, ela tem que ficar indo em todas as propriedades. Então o diferencial é só isso. Por isso, que eu falo em selo de verificação e não de certificação. Então, a gente escolheu o 4C. A Nestlé escolheu o 4C porque foi ela que desenvolveu, ajudou a desenvolver esse selo lá na Suíça e na Alemanha, então aí eles conseguiram, eles só ajudaram a desenvolver, não que eles são detentores desse selo. Eles ajudaram a desenvolver e depois voltou a se utilizar pra tá certificando, verificando essas fazendas nossas como se tivesse essa sustentabilidade. Ou eles são independentes e não tem nenhum vínculo com a Nestlé, mas só que nesse início, o início teve junto essa parceria. Então é uma coisa um pouco meio de casa, assim. A Nestlé, ela já conhece esse selo desde o início, ajudou a desenvolver essa ferramenta e por isso que ela optou por utilizar ele. Mas é um selo hoje mundial que verifica cafés do mundo inteiro.
P/1 – E quais que são essas normas ou esse padrão que esse selo verifica?
R – O selo, o 4C significa “Código Comum da Comunidade Cafeeira”, isso que são os quatro cês. Ela é dividida entre ambiental, social e econômico. E existe dez práticas que são inaceitáveis de tá fazendo nas lavouras de café pra tá participando. As dez práticas que é mais fácil eu lembrar pra você: não pode ter trabalho infantil, não pode ter trabalho escravo, não pode ter tráfico de pessoas, não pode fazer um despejo forçado sem fazer compensação adequada de um funcionário seu, de um parceiro seu, você tem que disponibilizar água pra beber, água potável, você tem eu fornecer moradias adequadas, dignas de viver, não pode tá fazendo desmatamento, não pode ter desmatamento na propriedade. Deixa eu lembrar, são muitas. Você sempre fazer a comercialização da forma mais clara possível; aqui a gente fala sobre bloco de produtores, ter toda essa nota fiscal. Não utilizar produtos proibidos, pesticidas proibidos pela nossa legislação. Então, assim, essas são as práticas que não podem ter na propriedade pra existir esse projeto. E aí quando você não tem essas dez praticas, elas acabam, aí as outras na dimensão social, ambiental e econômica, ela tem várias coisas que vai falar de sustentabilidade. É segurança do trabalho, né? É você sempre aplicar esses produtos com equipamento de proteção individual, que é o EPI que a gente chama na fazenda. É ter, quando vai o produtor tem os secadores e tudo mais, secadores de café, esses secadores, eles sempre terem aquelas proteções de polir e tudo mais pra quem tiver operando não se machuque. Na parte ambiental não pode ter desmatamento, não pode ter caça, não pode ter extração de plantas protegidas na reserva, né? Ter essa área reservada pra APPs e tudo mais, segundo o Código Florestal. Tá preocupado com a nossa água, de não tá gastando água em excesso, de não tá contaminando a nossa água. Mesma coisa o solo, né? Não tá adubando o solo demais, pra não tá salinizando esse solo, e usar de maneira também racional. São várias medidas que no final você vai confirmar que sua propriedade só vai estar trabalhando de forma correta e sustentável.
P/1 – Então tem um trabalho de orientação desses produtores pra que eles possam ir melhorando a qualidade da sua produção dentro de toda essa ideia de sustentabilidade, é isso?
R – Exatamente.
P/1 – Eu queria entender, assim: primeiro, começa com essas palestras, desse trabalho com viveiro que já começa em 2010, logo sem seguida, né? E quando entra a equipe de agrônomos, o que muda? Qual que é essa nova fase do projeto? Qual que é exatamente a sua função, por exemplo, no projeto?
R – Quando ainda não tinha os agrônomos, você não tinha a total realidade do que seria esse grupo de produtores, porque você sempre tinha amostragens, né? Então na amostragem, você não conhece cada um e o seu dia-a-dia. Quando você tá com todo mundo que tá com você nessa, nesse objetivo, que é produzir café sustentável, você vai saber do problema de cada um e vai resolver, né, vai tentar ajudar, tentar ajudar a ter as soluções pra cada problema. Então é isso que muda para o produtor, né? Até então ele tinha só ações que eram feitas por causa de um conjunto. Agora começa a ser uma coisa mais pessoal, começa a ser fazenda a fazenda. E o meu trabalho é tá indo neles e vendo isso, vendo os problemas deles e buscando soluções pra cada problema.
P/1 – Todas as fazendas vinculadas ao projeto recebem visita de um agrônomo?
R – Isso.
P/1 – E é como é essa visita? Qual é a função de vocês, o que vocês fazem nessa visita? Como é que é a interlocução com o produtor rural?
R – Nessa visita a gente tem esse primeiro contato, quando o produtor tem essa primeira visita nossa. A gente reforça pra ele o que seria o código 4C, o que eu que a Nestlé espera que esse produtor faça na fazenda dele pra que ele possa tá participando do nosso projeto. A gente passa pra eles quais seriam as vantagens de estar no nosso projeto, quais são os bônus que por ele ter decidido a tá com a gente nessa iniciativa, o que que a Nestlé bonifica ele, com isso que seria esse desconto em mudas, seria três reais que a gente fala, por saca, que a gente paga pra esse produtor, por ele ter acreditado nesse projeto. E aí, a gente entra em cada um desses itens e vê no que que a fazenda dele ainda não tá adequada. E aí, em cima desse problema, a gente começa a buscar soluções.
P/1 – Vocês orientam?
R – Orientação.
P/1 – E como é, e como tem sido, desde quando vocês tem feito isso? Desculpa.
R – Desde janeiro.
P/1 – E como é que tem sido a interlocução com os produtores? É fácil essa orientação? Você encontra alguma resistência? Queria entender como está o processo.
R – Porque um produtor, ele enxerga, ele tem nos recebido muito bem. Então ele sempre tá, como diz, com a porta aberta pra gente tá indo e tá conversando. Eles se sentem muito lisonjeados por ver que uma empresa começa a se preocupar com eles aqui, desde o início, no que que eles tão precisando. Porque, às vezes, muitos produtores produzem e tem que vender e não sabe nem pra onde vai esse café. Então quando você mostra pra eles toda a cadeia, né, que eles tão produzindo pra fazer o nosso café, eles começam a ver sentido do porquê eles produzem café. Eles começam a ver que é não é só pra produzir, pra vender, pra ter dinheiro. Que todo aquele carinho que eles dedicam, 12 meses do ano, eles sabem que aquilo tá se transformando em algo, e que tá sendo medido e que outras pessoas tão consumindo e tudo mais. Então pra eles, a gente viu que isso é um diferencial, eles ficam muito agradecidos, muito satisfeitos de saber disso tudo.
P/1 – E você acha que, que que você acha que transforma, você falou que você chega, tem uma abordagem, né, de falar pra eles que que traz de benefícios pra eles nessa parceria, que que pode ser bacana. Queria que você me falasse, assim, do seu ponto de vista: por que que você acha que esse projeto é bom pro pequeno produtor rural.
R – Ele é um projeto informativo, que além de toda essa parte de sustentabilidade, que é um tema cada vez mais presente na vida de todos nós, a gente começa a dar exemplos pra eles do que uma legislação exige. Então, além de sustentabilidade, esse é um projeto que ele vai começar a falar pro produtor o que que uma lei exige deles que eles não sabem, né? Que muitas vezes não tem consciência de que tudo isso que, às vezes, a gente prega, né, que a gente fala que teria que ser feito e tudo mais, isso a nossa legislação, ela já exige deles e que fazer isso de alguma forma. É logico que de início não é uma forma radical, mas é uma coisa que, aos poucos, a gente vai criando pra ele essa coisa de identificação de sustentabilidade. E mostra pra eles que sustentabilidade é uma coisa bacana de participar. Por mais que não seja só o que é exigido em lei, você estar fazendo uma coisa sustentável, você tá ali ajudando o meio ambiente, garantindo que aquilo seja mantido, que outras gerações estejam participando disso, tenham isso também nas próximas gerações. Então, é mais nesse sentido.
P/1 – E tem uma mudança, você acha, que na prática cotidiana deles ou pretende atingir uma mudança, uma prática cotidiana?
R – Tem. Tem pequenas coisas que de imediato você já vê que eles mudam, como por exemplo não queimar lixo, que é juntar o lixo da fazenda e levar no Patrimônio que fica a dois quilômetros dali. Que até então, eles: “Ah! Não! Junta e queima!”. Queima plástico, queima tudo, aí você fala: “Ó, isso aí, gente, não vai sair da sua propriedade tão cedo, você vai queimar, mas não vai sumir. Isso vai poluir o ar, vai poluir sua propriedade e tudo mais. Será que não teria como levar ali pro Patrimônio que fica a um quilômetro?”, “É mesmo, né, vou começar a levar o lixo ali, toda sexta-feira eu vou levar ao invés de queimar”. E aí, você já vê que ele conseguiu mudar uma pequena coisa, mas que pro nosso meio ambiente é muito.
P/1 – E pra você, pensando na sua experiência profissional mesmo, pode ser também de caráter pessoal, porque as duas tão interligadas. Que mudanças você acha que traz, mas pra a sua prática profissional ou pra sua perspectiva de carreira, trabalhar num projeto como esse?
R – Bom, eu acredito que eu tô fazendo a diferença em todo esse projeto, essa idealização de construir coisas sustentáveis que é uma coisa que eu acredito, que eu acho que se a gente não fizer dessa forma, o que a gente tem hoje vai acabar. Então eu acredito que eu faço a diferença, estando nesse projeto eu posso fazer a diferença nesse sentido. E pra mim é gratificante, porque eu estou aí convivendo com várias famílias com, criando essa ideia na cabeça deles, mostrando pra eles a minha ótica, a ótica da Nestlé sobre isso, e que pra eles também, que pode ser a ótica deles também. Então é mais o que eu acredito.
P/1 – E você acha que mudou alguma coisa, assim, desde que você entrou na Nestlé, mais especificamente no projeto, em relação a são perspectivas de carreira, não imaginava, não era tão claro, que se abre como uma possibilidade?
R – É, eu tô numa multinacional que dentro dela tem várias áreas, e várias posições que você pode estar, e que cada uma delas tem a sua importância. E quanto mais você subir, quanto mais importante você ficar, você consegue fazer essa mudança no que você acredita. Então, assim, eu quero crescer na Nestlé pra eu poder aplicar tudo que eu quero, tudo que eu acredito em uma dimensão maior. Que hoje eu consigo fazer aqui com os meus produtores; se eu tiver uma opção maior, mais privilegiada, vou poder fazer isso em um ambiente maior.
P/1 – E o que que você acha que te trouxe de aprendizado, assim, o projeto? Esse sucesso, esse trabalho no projeto? Profissional e pessoal.
R – Essa parte sustentável, que eu não tinha muito contato. Até então minha outra experiência era bem focada em números, em custos, em administração, e então é saber como tá gastando, porque que tá gastando e pra você reduzir. Então a parte ambiental, ela não era muito conversada, quase passava desapercebido pela gente. Então eu voltei um pouco mais pra essa parte ambiental, sustentável, de preservação e que pra mim é um aprendizado, é o que tenho de cada dia. O que que eu tenho que fazer, o que o produtor tem que fazer pra tá preservando uma coisa que já vem aí de gerações.
P/1 – Eu vou encaminhando um pouco pras perguntas finais, agora. Queria te perguntar antes de encaminhar, se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado que você gostaria de dizer?
R – Não.
P/1 – Não? Nada?
R – Não que eu saiba.
P/1 – São três perguntas finais. A primeira é: o projeto, se você sabe quais são os próximos passos, assim, você já disse em que etapa vocês tão agora, que é de acompanhar mais de perto esses produtores, e aí, o que que ele pretende fazer? Quais são as próximas ações?
R – A gente tá acabado de mapear o que seriam os principais problemas desse grupo de produtores. Então, quando acabar esse mapeamento a gente vai ações pra tá, realmente, resolvendo os problemas, não só propondo ou ajudando. Não! Vamos resolver pra que ele não volte, o problema, assim.
P/1 – Quando você fala resolver, você quer dizer uma atuação mais direta?
R – Uma atuação amis direta, é. Igual, por exemplo, você vai falar de – deixa eu ver um problema – Segurança no Trabalho. Então é uma coisa que pra nós como empresa é super importante, que nossos produtores estejam preocupados com a segurança de quem trabalha pra eles. Então não é só você, de uma forma informativa, virar pra um produtor e falar: “Você tem que dar o EPI”, o produtor para o trabalhador. Você vai, mostra ele como é que faz treinamentos de como ele deve utilizar, como que ele deve aplicar. Mais nesse sentido. Então, não é só mostrar o que fazer, mas como fazer também.
P/1 – Então essa é a próxima etapa do projeto?
R – É a próxima etapa do projeto.
P/1 – E, agora, pra finalizar, a penúltima: quais que são seus sonhos, hoje, de qualquer natureza.
R – Sonho?
P/1 – É.
R – Ah! É difícil pensar, assim, num sonho.
P/1 – Pode ser qualquer coisa, um sonho pessoal.
R – Ah! Eu tenho o sonho e conhecer o mundo, eu acho que nesse projeto, até juntando o profissional com o pessoal, nesse projeto eu tenha a oportunidade de conhecer vários países, ver a cultura do café, onde fazem em vários lugares. E não só pela cultura do café, mas realmente conhecer outros lugares, outras culturas, eu tenho esse sonho de rodar um pouco o mundo.
P/1 – Tem, assim, uma cidade, um país, lugar especifico que seja um destino que você tem muita vontade?
R – Tenho vontade de conhecer a Índia (risos). Eu acho bacana, acho um choque cultural muito grande.
P/1 – E agora para fechar: como é que foi contar sua história? Como é que foi dar o depoimento pra gente aqui?
R – É bacana! É legal relembrar tudo (risos). Que às vezes a gente não para o dia-a-dia com a correria pra ver de onde que a gente veio, porque que a gente tá aqui. A gente às vezes nem se pergunta, e essa retrospectiva é bem interessante.
P/1 – Tá, certo. É isso, então. Muito obrigada. A gente encerra aqui.
FINAL DA ENTREVISTA
Recolher