Depoimento de Maria Helena Curatolo Coelho
Entrevistada por Demétrio dos Anjos Souza e Marilisa Pinto Franca Battiato
São Paulo, 22 de maio de 2018
Entrevista número MET_HV02
P/1 - Então vamos começar, eu espero que seja um bate papo agradável para a gente, mas para a gente dar início eu que...Continuar leitura
Depoimento de Maria Helena Curatolo Coelho
Entrevistada por Demétrio dos Anjos Souza e Marilisa Pinto Franca Battiato
São Paulo, 22 de maio de 2018
Entrevista número MET_HV02
P/1 - Então vamos começar, eu espero que seja um bate papo agradável para a gente, mas para a gente dar início eu queria, por favor, que você dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento, para daí a gente começar a nossa entrevista.
R - Meu nome é Maria Helena Curatolo Coelho, eu nasci em 15 de agosto de 1953 em São Paulo.
P/1 - Muito bem, e qual o nome dos seus pais?
R - Meu pai chamava-se Domenico Curatolo, e minha mãe De Luca Assunta Curatolo.
P/1 - Chegou, tinha irmãos, era uma família grande?
R - Tenho, eu tenho seis irmãos, o Gaetano Curatolo, depois vem eu, depois vem Vitória Hilda Curatolo, Antônio Carlos Curatolo, Vera Lúcia Curatolo, Cláudio Curatolo, e Eliana Curatolo.
P/1 - Você é a mais, dentro dessa sequência, eu acho que você é a mais velha, do meio...
R - Eu sou a filha mulher mais velha, meu irmão mais velho é o Gaetano Curatolo.
P/1 - Entendi, e fala um pouquinho, já que você comentou da família, você pode contar um pouquinho para a gente, aí essas origens, de repente seus avós, de onde vieram seus pais?
R - Toda família anterior aos meus pais foram italianos, e remanescentes da 2ª Guerra Mundial, meu pai foi combatente da guerra, e meu avô que era pai da minha mãe, ele quando terminou, no meio da 2ª Guerra ele queria muito vir pro Brasil, porque aqui estava muito bem, a situação do país estava boa, a Itália não estava bem, e ele resolveu vir embora, e veio sozinho, e ele veio, lá eles falavam na época, eles contavam que, “Eu vou para América, vou fazer América”, América era o point de vir para cá. E de fato meu avô veio para cá, sozinho, e foram se juntando com patrícios, com parentes também que vieram juntos no mesmo navio, e meu pai quando foi para a guerra, porque ele tinha 18 anos, 18 ou 20 anos, ele já estava de olho na minha mãe, e minha mãe tinha 16 anos de idade, e ele falou: se eu sobreviver à guerra, eu caso com essa mulher. Que era filha de um patrício deles lá, porque eles são de uma região da Calábria muito pequenininha, muito pequena, então eram todos assim considerados, eles falavam patrícios, mas quase parentes porque o filho de um casava com o filho da outra, e por aí vai. Aí realmente ele, quando ele estava achando que ele ia sobreviver, que ia dar, ele não ia morrer, ele sabia que não ia morrer, ele mandou uma carta, pediu para o oficial dele escrever uma carta que ele gostaria muito de casar com a minha mãe. Que era tipo de um sonho dele. E a minha mãe tinha 15 para 16 anos, muito bonita, e era cobiçada na cidade, ele, meu pai se achava, “ah eu vou me casar com essa mulher, essa mulher vai ser minha”, e veio para o meu avô aqui no Brasil a comunicação que a filha de Antônio De Luca estava sendo pedida em casamento pelo filho da Carmela Curatolo, e meu avô fez gosto porque se conheciam. E meu pai, o que meu avô fez? Mandou um auto de chamada, filha, genro e neto. E minha mãe: “eu não ou casar com esse homem, assim, ainda não me casei, também não vou me deixando ficar, já estão me colocando filho na história”, mais ou menos como acontece hoje, meu pai venceu a guerra, voltou para casa, a primeira coisa que ele fez foi na casa da minha mãe e pedir ela em casamento, e minha mãe ficou balançada , que meu pai era bonitão, filho da fulana lá da tal da Dona Carmela, e ficou assim, e minha avó, mãe dela falou assim: “olha, você tem que casar minha filha, porque como que eu faço? O que, que eu vou falar para o seu pai? Se você não quer casar?”, e eles em três meses eles casaram , casaram, tudo bonitinho e tal, aí teve que esperar ela ficar grávida que foi praticamente de imediato, meu irmão nasceu, conheceu os 40 dias da dieta, entraram num navio e vieram embora. E assim é a história dos meus pais, então toda a família, minha família de pai, mãe, irmão para trás, todos são italianos. Então já os meus primos e meu irmão que foram miscigenando a raça com brasileiro.
P/1 - Então seus pais, vieram da Itália para cá...
R - Da Itália, da Calábria direto para São Paulo.
P/1 - Isso, aí chegaram aqui em São Paulo?
R - Chegaram em São Paulo, no porto de Santos.
P/1 - E depois vocês foram morar aonde? A família foi morar aonde?
R - Pois é, a família do meu pai, eles já estavam aqui, meu avô morava no Paraíso, exatamente na Rua Peninos, não sei o número, mas na Rua Peninos, e o meu avô morava lá, e já deixou encontrar uma casa mais ou menos pronta para eles e a família do meu pai, que já tinha alguns que já tinham vindo também, moravam na Penha, foram morar na Penha, e meu pai falou: “E agora? Eu fico perto da minha mãe, dos meus irmãos?”, e minha mãe filha única, não tinha irmãos, minha mãe falou: “Olha, eu não vou deixar meus pais. Eu quero ficar perto deles e meu pai já deixou essa casa pronta, para nós, então vamos ficar aqui, depois a gente vê o que faz”. Então a família do meu pai foi morar na Penha, e a minha mãe ficou lá no Paraíso, na Rua Peninos, por um tempo até que eu nasci, eu nasci, meu irmão nasceu em 47, eu nasci em 53, seis anos depois eu nasci. E aí nisso já estavam todos aqui. E meu pai, ele também foi um filho de seis irmãos, ele era o sétimo caçula, então os irmãos ficavam tudo em cima dele, que ele, minha mãe muito jovem, achava que a minha mãe não tinha competência para cuidar do irmão delas, é uma coisa assim, e minha mãe falou: “Olha, não é por nada não, mas eu gosto de ficar aqui, aqui é Zona Sul, e olha, Zona Leste...”, não, isso é brincadeira minha, mas assim, lá na Penha muito longe, ônibus demora muito para passar, e aqui no Paraíso tem ônibus perto, a gente tá muito mais perto e tal. Aí eles foram ficando, aí surgiu lima oportunidade de eles comparem uma casa na Saúde, bem pertinho da estação Saúde, que foi aí que eu nasci na Peninos, fui morar na Saúde, e fiquei na Saúde até casar. Então eu morei, passei toda a minha infância, juventude, no bairro da Saúde. Então há 50 anos atrás, eu era muito jovem, e é o sonho dourado, imagina, morar perto da estação do metrô, não é assim? Aí todo mundo, antes disso: “não, onde você mora? Você mora no bairro da Saúde? Onde fica Saúde?”, então a gente falava assim: Vila Mariana, Praça da Árvore que é bem mais conhecido do que, “ah você mora no Bosque da saúde?”, “não, eu moro no Bairro da Saúde.”, “não conheço”. E depois, com a chegada do metrô e por coincidência a estação bem pertinho, aí todo mundo ficou conhecendo a Estação Saúde do metrô?
P/1 - Que bom, e resgatando um pouquinho, já que você contou um pouquinho dessa história, de passar da Peninos para a Saúde, como é que era morar lá na sua infância, como é que era o bairro, o que, que você tem na sua infância de recordação?
R - Então, eu nasci na Peninos, mas assim, eu não lembro da Rua Peninos, porque eu deveria ter uns três anos de idade, quando eles quando eles foram para a Saúde. Então foi muito assim, um período relativamente curto, então eu me lembro da saúde sim, por quê? Eu estudei no Colégio Santa Amália, fiz o meu primário lá e até admissão, então eu me lembro bem da minha avó me levando à missa, dia de domingo eu saindo para passear, meu pai levava a gente, meu avô levava a gente para passear na Avenida Indianópolis, levar a gente parar passear no Ibirapuera, tomar sorvete no Ibirapuera, domingo depois do almoço, quando a gente não tinha o compromisso de ir para a casa da minha avó que era lá na Penha, e que era longe para burro, era muito longe.
P/1 - E dessa parte da infância tem mais alguma coisa que você lembra assim com mais afeto, que você gosta mais?
R - Ah eu lembro, tem uma coisa aqui que até hoje eu comento, as festas juninas de rua. E a minha mãe era a festeira, o meu avô, eram os festeiros da família, e o meu avô chamava Antônio, então chegando perto do dia de Santo Antônio, eles faziam uma festa na rua, mas assim, gigantesca. Meu irmão que já era mais moço, fazia balões com os meninos da rua, meu pai trazia lenha, trazia não sei o que, pipoca, e era uma farra, a gente ficava, todo mundo trazia a sua cadeira, da sua casa, e a casa da minha mãe era a que chegava tudo, chegava os caldeirões, chegavam as penas, tudo, porque não era nada em pacote, era tudo feito, as próprias vizinhas que faziam. Isso é uma coisa assim que me faz lembrar bem a minha infância, que era, e natal, que a casa da minha mãe que era a casa onde a família toda se reunia, tanto a família do meu pai, quanto a família da minha mãe, era uma casa grande, que cabia todo mundo então, e era assim, matava porco sabe? Fazia como que fala? Linguiça, fazia os doces típicos de natal, linguiça calabresa apimentada, linguiça não sei o que, e aproveitavam tudo do porco, não fazia feijoada, eu lembro minha mãe com o pé, e o joelho, fazer a tal da gelatina, que é mais ou menos aquela comida alemã, de joelho de porco, então é muita lembrança, e é uma lembrança, apesar de te passado todo esse tempo, ficou viva porque hoje em dia nem interior a gente vê mais isso? Então é isso aí.
P/1 - Muito legal, nossa, você falando veio na minha cabeça?
R - Não é? É muito legal.
P/1 - Deixa eu só fazer uma pergunta e uma hora foi minguando as festas?
R - Foi sabe por quê? Por exemplo, meu avô morreu, meu avô já era um pouco de idade, aí a festa de Santo Antônio ficou uma festa meio triste, vamos falar assim, então foi, aí um vizinho mudou-se, aí o outro ficou de mal daquele, aí eu não lembro exatamente quando, ah veio o asfalto. Aí foi isso, veio o asfalto e veio a iluminação pública, porque aí não poderia mais fazer fogueira. porque o fogo, porque era uma labareda enorme, e não tinha fio nenhum, podia fazer a vontade, a fumaça ia para dentro de casa, mas ninguém estava nem aí que ia ficar roupa defumada, que ia ficar com cheiro no cabelo, era uma coisa assim muito legal, porque, e a casa da minha mãe no dia seguinte ela assim, parecia que tinha passado um trator, porque era milho de pipoca espalhado, casca de pinhão do outro, e minha mãe falava: “vamos ajudar, vamos ajudar”, eu era muito menina, deveria ter uns 6, 7 anos, porque eu já estava na escola , mas assim, uma coisa assim ainda que, quem sobrou da família lembra das festas da casa da minha mãe.
P/1 - Poxa, que gostoso. E é uma lembrança tão viva que você traz para a gente, é muito legal.
R - É, exatamente é.
P/1 - E você comentou de escola. Você falou que já estava com sete, oito anos, nessa época da escola, talvez o primário, você tem alguma lembrança, de repente algum fato marcante, algum professor que foi importante para você ali daquela...
R - Não, era um colégio, ainda existe a escola, Colégio Santa Amália, um Colégio de Freiras, muito energético, a gente não podia, a gente tinha uniforme, de forma alguma a gente entrava sem uniforme, a gente não entrava, não entrava, não tinha conversa. Molhou, não secou, não. E para os alunos mais carentes, as freias davam uniforme. Tinha então, eu acho que associação de pais e mestres, então eles tinham lá uma sala que era como se fosse um estoque de uniforme para os alunos mais carentes, então quando a gente sabia que o uniforme não ia secar, eu tinha mais de uma, mas a minha mãe ia lá na freira e falava assim: “olha, a minha filha infelizmente...”, “ah nós vamos arrumar um uniforme para ela, vamos ver o tamanho dela, ah, esse aqui vai servir”, e tinha que devolver engomado. O uniforme era assim, era branco de fustão, de babadinho aqui, todo xadrezinho azul, babadinho e tal, meia ¾, um sapato que eu não vou lembrar se era preto, devia ser preto, e calça comprida, a nem pensar, tem um fato que me levou, todos os domingos nós tínhamos que ir à missa lá, na Capela de Santa Amália, e estava um domingo muito frio, me lembro muito bem, e minha mãe me pôs uma calça comprida. E uma blusa de lã, e minha avó, de mãozinha dada, me levava à missa 7 horas da manhã no domingo. A freira falou: “não vai entrar”, “mas está muito frio”, “não vai entrar, não vai entrar, não é permitido entrar na igreja de calça comprida” e tinha que ter o véuzinho, aquele tule bonito, rendado, era uma competição, quem ia com o véu mais bonito, era uma competição. Bom, e eu voltei para casa sem assistir à missa, e aí à tarde minha avó me levou na missa de São Judas Tadeu, porque tinha que carimbar a caderneta que nós tínhamos assistido a missa todos os domingos, então a gente não podia faltar um domingo, só doente, a doença sim, então tinha Seu Benedito, que era o Farmacêutico do bairro, que era perto da escola, então a gente ia lá no Seu Benedito, e falava: “Seu Benedito, o senhor tem que ir lá falar com a freira que a gente tá doente, não pode assistir aula”, ele fazia uma cartinha manuscrita , tipo assim, atesto que Maria Helena esteve doente no dia tal, não podendo comparecer à missa hoje, ou ontem, sei lá. E era bem isso mesmo, então é uma coisa assim também que me lembro bem desse período.
P/1 - E você estudou nesse colégio mais ou menos até...
R - Não, estudei até a quarta série primário, que era só até essa série, porque depois, então, o Santa Amália ele tinha um programa de algumas vagas gratuitas, que eles eram uma escola particular, mas tinha o lado, vamos dizer assim, eles tinham uma, não sei dizer bem, uma faixa lá, uma verba para, que era a liga da senhoras católicas, que eram as patrocinadoras e pagavam as mensalidades para quem não podia pagar, e a minha mãe conseguiu essa, vamos falar, minha bolsa , e eu estudei lá. Então até o 4º ano a gente podia estudar, não podia repetir, tinha que ter nota, e a partir do 5º ano a gente tinha que pagar, e aí foi que eu fui fazer admissão para entrar no Colégio do Estado, que era também, quem era burro, ou menos inteligente, ia para o Colégio Particular, e os mais inteligentes estudavam no Colégio do Estado. E eu entrei no Colégio Ruiboi, Ruiboi é uma escola que fica lá embaixo, perto da Rua das Rosas, por ali, lá para baixo. Muito longe, tinha que andar a pé, então a minha mãe conseguiu uma transferência para uma escola perto da igreja São Judas Tadeu, e foi ali que eu fiz a primeira série do ginásio, até o quarto ano, que só tinha também o ginásio, não tinha o Colégio, e o colégio eu comecei no Brasília Machado, na Vila Mariana, e terminei no Professor Miguel Roque, na Vila Guarani porque eu já estava indo trabalhar. Foi aonde eu cheguei, não no metrô, mas eu cheguei no Banco Itaú, por intermédio de um primo meu que trabalhava lá, falou: “oh, você não quer trabalhar lá?”, e meu pai: “imagina? Filha minha trabalhar? O que vão falar? Que eu não tenho competência para criar filho? Estamos morrendo de fome?”, “não pai, eu tenho 18 anos, quero trabalhar, quero ter as minhas coisas”, “por quê? Te falta comida? Te falta...”, “não pai, mas sabe como é...”, porque a minha mãe fazia as nossas roupas , porque até aí, com 18 anos, a minha mãe já estava com todos os sete dentro de casa, e quatro mulheres, então a minha mãe já, logo de cara, um dos primeiros cursos que ela fez quando chegou no Brasil foi fazer corte e costura, então ela sabia costurar, então ela fazia nossos vestidos, nossas calças, pijamas, eu falava: “ah pai, eu não quero usar roupa que a mãe faz, eu quero usar roupa que eu comprar, que não sei o que”, bom, enfim, meu primo que era muito íntimo da família, e arrumou uma cartinha de apresentação no Banco Itaú, e eu fui trabalhar no Banco Itaú, fiquei lá quatro anos, e foi quando eu, uma amiga minha falou assim: “você não quer fazer ficha no metrô?”, “opa, quero”, aí meu irmão: “imagina, metrô é muito difícil, você não vai conseguir”, “você tá me chamando de burra?” porque ele não conseguiu, ele já estava fazendo faculdade de engenharia, e ele foi fazer ficha para fazer estágio de engenheiro, de engenharia no metrô. E não foi selecionado, aí ele falou: “e você aca que você vai passar? Porque eu não consegui, você vai conseguir?”, eu falei: “não, pera aí, você tá me chamado de burra, é isso?”, aí eu peguei como um desafio, falei, então eu fui, cheguei lá, a minha amiga que me levou não conseguiu, ela não foi selecionada, nós fizemos todo o processo seletivo, tudo direitinho, a Marisa Lavorini que me recebeu, a Teresa Dimori, que também, Ademir, e por aí vai, uma turminha que tá ainda lá até hoje, e aí eu consegui, fui selecionada, e fui chamada para entrar, isso foi em Agosto de 1976.
P/1 - Agosto de 76 foi quando você descobriu...
R - Foi dia 12 agosto de 76, não, aliás, 13 agosto, porque era uma sexta feira 13. É, ano bissexto, aí todo mundo falou assim: “nossa, você vai conseguir, você vai ser...”, eu falei: “não, vocês não sabem, o 13 é sorte, ano bissexto é sorte”, eu sempre me divirto quando alguém fala que é azar, eu falo: “não, é sorte, para você pode dar azar, mas para mim não é” e de fato não foi, de fato fiquei, e fui até hoje, estou literalmente até hoje.
P/1 - Que bacana, e essa lembrança que você fala, tão viva, teve esse entrave com a sua família, essa disputa, mas você lembra quando você pisou o pé aqui no metrô, onde foi, como foi esse primeiro dia de chegada? Como que foi isso?
R - Perfeitamente, entrei na Rua Augusta, 1.626, a gente falava G2, que é a garagem dois, que era um andar abaixo do primeiro andar, era onde era a gerência de serviços administrativos, e o gerente era um major, você lembra disso Marilisa?
P/2 - Não.
R - Não, ele era um major, e ele foi, eu fui ser secretária de, não fui ser secretária, entrei na companhia como escriturária I, escriturária I é um grau acima de telefonista, recepcionista, é o primeiro grauzinho, e eu entrei como secretaria do coordenador, quer dizer, tinha um chefe de departamento que tinha um coordenador. E a gente chamava de Doutor Miabarra, um japonês muito bravo, muito sério, o major era mais bonachão, mais brincalhão, mas também todo mundo tinha o maior respeito por ele , mas o Doutor Miabarra devia ser tenente, alguma coisa assim, porque um monte de militar, quando chegou foi trazendo , os militares, e todos reformados , já estavam aposentados estavam seguindo a carreira no metrô, e eles me colocaram na mesa, falou: “oh, você vai sentar, você vai atender telefone, tal, tal, tal”, e eu já tinha trabalhado no Banco Itaú também como secretaria, eu já mais ou menos sabia como era o esquema, e fui ficando. Aí tinha seis meses que eu estava lá, eu fui chamada para fazer um processo seletivo para trabalhar na área de engenharia, e eu passei para escriturária II, que era um auxiliar se secretária de departamento, e fiquei lá mais um ano, e o meu coordenador virou chefe de departamento, que o chefe de departamento virou gerente, que o gerente foi ser gerente de operações. E é o Ailton Brasiliense, ele era coordenador da área onde eu era a secretária da coordenação, que era um grupo de engenheiros que eu atendia. Tudo datilografado, tudo manuscrito, eles escreviam, cada um tinha uma letra, então eu virei, eu nem sabia que eu ia ser promovida, eu estava de férias, aí ligaram para a minha casa pedindo para eu aparecer no metrô que o chefe queria falar comigo. Eu falei: “ah eu acho que eu vou ser demita, eu estou de férias” e naquela época era quem atendesse o telefone, não mandava chamar? “Olha, Maria Helena, é a mãe dela”, “Ah a senhora dá um recado?” E tal, aí cheguei lá ele falou: “oh, eu vou ser o chefe de departamento e você vai ser a minha secretária”, e eu segui a carreira de secretária I. Que é secretária de departamento, bom, aí foi indo, virei secretária II, secretária de gerente e cheguei na diretoria, isso já nós estamos em 1991, 90, 91. E na verdade, na diretoria, eu fui para ser, substituir uma licença maternidade, da secretária titular, e o diretor acabou gostando da minha atuação, e pediu para eu ficar, “por enquanto você fica aqui, você não desce”, aí as coisas foram acontecendo, ela estava com filho pequeno, tinha que sair mais cedo para dar de mamar, e não sei o que, eu fui ficando, ficando, aí terminou a gestão, aí terminada a gestão em abril de 95, foi, 95, a diretoria foi extinta, acabaram com a diretoria, e eu tive que ser remanejada para uma outra área, aí entre as outras áreas que me ofereceram, ou praticamente me obrigaram, que eu precisava ajudar, foi o jurídico, gerência jurídica. E lá eu fiquei oito anos, montei toda a estrutura administrativa, uma gerência que não tinha, aí já tinha a fax, já estava começando os computadores, os telefones digitais, então foi nessa época que eu montei a secretária, o fax era uma coisa muito nova, ninguém sabia mexer, era um bicho de sete cabeças, um monte de tecla. E bom, enfim saí do jurídico, e voltei para a engenharia. E na engenharia agora eu estou desde 2001, 2002.
P/1 - Que legal, você já deu aí uma boa pitada para a gente, só que eu queria explorar um pouco mais dessa caminhada.
R - Ah vamos lá.
P/1 - Quando você chegou aqui na companhia, você comentou que tinha esse pessoal que trabalhava com você, mas o metrô eu acho que era uma coisa, uma das novidades da cidade, qual que era a sensação de trabalhar no metrô, naquela época, tinha alguma diferenciação, que você falava: ah eu trabalho no metrô, qual que era essa...
R - Ah a gente enchia a boca: “metrô, eu trabalho no metrô.” “Metrô? Como você conseguiu entrar?”, “Ah é processo seletivo”, “Você não tem como me indicar?”, “Ah tenho, manda um currículo...”, “ah não sei”, “vai lá na Rua Augusta lá que você preenche uma ficha, tal, tal”, a gente não tinha cacife para indicar, QI para indicar alguém , mas era assim um orgulho, e todo mundo queria trabalhar no metrô, aliás, até hoje é um sonho de consumo porque, agora você vê lá, concurso público, “ai quando abrir concurso você me avisa? Você me fala?”, quer dizer, agora a gente manda por e-mail, por WhatsApp, até aprendiz de SENAI, o pessoal pede para informar quando abrir porque é um caminho , é uma direção de formação mesmo profissional.
P/1 - Que legal, e quando você chegou que estava nessa companhia que eu acho que, tem essa expectativa, clima de ter algum desafio, quais eram as suas dificuldades, ou de repente alguma copias que você gostava muito de fazer quando você chegou, assim, que te motivou?
R - Então Demétrio, eu cheguei sempre como auxiliar, então eu sempre tinha uma pessoa que eu tinha que me reportar, para chegar no nosso chefe, ou no gerente. Então o gerente já era uma barreira para a gente chegar, diretoria nem pensar, presidente então... aí quando eu consegui, quando eu fui para ser secretária de departamento, então eu era primeira dama, então eu falava: “espera, então eu não posso ser grossa que nem aquela secretária, eu tenho que ser educada que nem aquela secretária, eu não posso ser...”, não vou falar feia, mas mal arrumada, e eu fui me moldando, sabe? Com o meu perfil, então a minha vaidade, a minha simpatia, a minha austeridade, que eu já falei que eu fui austera, mas assim sempre mantendo o equilíbrio, sempre mantendo a parcimônia, e de vez em quando tinha que sair da linha, porque ninguém é de ferro. Então esse foi o desafio sabe? Eu chegar, meu chefe não ter vergonha de mim, ter orgulho, ter uma coisa que eu não queria decepcionar, então meu maior medo, além da competência, do trabalho, de fazer direitinho, era a minha pessoa mesmo, o meu perfil de uma pessoa que ele tivesse orgulho, que eu estava trabalhando com ele.
P/1 - E eu vou ter que voltar um pouco a mais, porque a sua história é tão envolvente, você falou que entrou no metrô em 76.
R - Isso.
P/1 - E você disse que morava numa região que era próxima. Você tem recordação, que eu acho que você devia... foi até Vila Mariana se não me engano?
R - É, teve a inauguração, porque aquela época, se não me falha a memória, o metrô ele vinha de Jabaquara até Ana Rosa, não é? Ele não vinha para o centro, depois, quando passou de Ana Rosa, ele foi até luz ele pulava a Sé, então quando eu entrei no metrô a Sé ainda não era, não tinha sido inaugurada então eu datilografava as atas de reunião da estação Sé, então teve a implosão do prédio da Praça da Sé, então todos aqueles relatórios passaram tudo para a minha mão, para eu datilografar e mandar para a companhia e mandava, a gente tinha os relatórios mensais. Então eu tinha que ler, eu era obrigada a ler, eu datilografava mesmo, datilografava em três, quatro vias, com carbono, não podia errar, se errasse uma palavra tinha que jogar tudo no lixo, começar tudo de novo, desde a primeira linha e tal, não sei o que. Então tinha que tomar muita atenção, tinha que ter foco, nisso toca o telefone, alguém chegava na mesa, chefe chamava na sala, então foi aí que a gente, eu comecei a passar isso, porque eu tinha uma auxiliar, mas eu queria ler, porque isso me fazia, fazia parte da história do metrô. E a Estação Sé é uma estação que não sai da cabeça, porque foi muito importante, muita gente, nós ficamos do lado de fora, nós não conseguimos entrar porque tinha muita autoridade, muita imprensa, eu fui como usuária, não fui como convidada. A primeira estação que eu fui como convidada, foi estação Penha, que já era a estação da Zona Leste. Já na estação da linha um, vamos dizer assim, eu não consegui. Depois ela foi indo, já de trecho em trecho e chegou no Tucuruvi, mas a estação que eu ajudei mesmo, que eu trabalhei inaugurando, foi a estação Penha, também uma estação bonita, e a gente tudo uniformizada, recebendo as pessoas e com muito orgulho.
P/1 - Puxa, que legal, então algumas coisas passavam por você, como essas informações, teve algum que você achou mais importante, ou que você ficou mais impactada, ou que você teve uma ação maior durante esse período de inauguração, onde você estava perto das diretorias, teve alguma que te marcou mais, claro, já comentou da Sé mas...
R - É, teve a estação Brigadeiro, que a gente tinha que levar os visitantes, as pessoas que eram, quem quisesse conhecer a estação por baixo, e ela era toda de terra, ela não tinha, era bem obra, obra bruta mesmo. E foi feito o trecho, eu acho que deve ter sido Brigadeiro Paraíso, ou Brigadeiro, um trecho só. E quem quer trabalhar? Não, imagina, eu vou trabalhar, imagina buraco, não sei o que, a terra, não tem ventilação, e todo mundo queria conhecer como era o metrô por baixo, na Avenida Paulista principalmente, então isso também me chamou a atenção, e eu fui, era um domingo, e a gente foi, falei: vou, nossa, pode contar comigo, pau para qualquer obra, vamos embora.
P/1 - Aí você participou dessa visita...
R - Participei dessa visita, eu acho que eram dois finais de semana, e era só aos domingos. E a Paulista por cima, interditada, se não me engano, não tenho certeza, ou era um pedaço, então era, nossa, a Paulista, metrô na Paulista, que chique, ir para a Paulista de metrô, agora a gente fala Oscar Freire. Vai mudando.
P/2 - Maria Helena, eu queria saber como é que foi a sua relação com esses engenheiros do metrô, o metrô é uma empresa que tem muito engenheiro...
R - Muito engenheiro.
P/2 - Você ficou bastante tempo trabalhando com engenharia, como é a relação?
R - Fiquei, é, os engenheiros eles são muito light, eles são assim, pá-pum, então são calçadinhos, são muito não sei o que e tal. Aí eu na verdade, meu irmão é engenheiro, tenho bastante sobrinhos e tal, a minha filha é engenheira, então eu tenho muito contato, vamos dizer assim, próximo, com os engenheiros. A minha, acho que dificuldade, foi maior com os advogados. Os advogados são, todos de gravata, hoje já nem tanto, mas há 20 e tantos anos atrás, advogados andavam só de terno, terninho, não usava calça comprida, os homens de gravata, paletó, e iam para o fórum e eles não carregavam pasta, tinha que ir alguém carregar pasta para eles, porque imagina? E aí as coisas foram mudando e foi, então uma vez, uma das minhas indelicadezas com um advogado, eu falei: “eu prefiro trabalhar com 30 engenheiros, e não com um advogado”, que não tenha nenhum advogado aqui, hoje já mudou, mas naquele tempo eu acho que os advogados eram mais assim, como é que eu vou dizer Marilisa? Mais imponentes, mais assim...
P/2 - Austeros?
R - É, e se achavam doutores, então eu secretária de gerente, ligando para um ramal da gerência e falando: “Doutor Rui?”, eu: “quem está falando?”, “Doutor Rui”, eu falei: “ah, sim, pode subir que o gerente está te chamando”, então assim, ele tem um ramal, ele sabe quem está ligando, então fala doutor, então... e o próprio gerente não gostava que chamava ele de doutor, então e ia essas coisas assim na brincadeira, e numa hora que me pegou meio, eu falei: “ah não”. Mas os engenheiros são ótimos, eles são comunicativos, participativos. E eles são amigos também, eles gostam de conversar e contar, eu gosto dos engenheiros.
P/1 - Legal, e você tinha uma posição, como secretária, de uma gerência, às vezes as pessoas imagino que vinham até você na expectativa de conversar ou passar alguma informação, você via que as pessoas te tratavam diferente, ou olhavam para você com, de repente, por conta de ser secretária, qual que era a sua...
R - Aí tem várias situações, você como secretária, vamos supor, vamos falar de gerência e diretor. As pessoas te procuram porque querem saber o que está acontecendo. “Maria Helena, é verdade?” “Não sei, e se eu soubesse, também não ia te falar.” Então eu já criei logo de início, uma barreira, então se me procurar porque, quer almoçar comigo, quer conversar, quer trocar uma receita, contar uma história, estou até a disposição, mas se me procurassem para tentar saber quem vai ser o novo diretor do metrô, ou quem vai ser o novo presidente do metrô, é verdade que fulano saiu com fulana? Eu nunca respondi, e mesmo que soubesse, não ia responder. E pros chefes eu falava assim: “ah mas você, você foi almoçar com o seu ex-chefe?”, “Fui”, “Ah mas você foi...”, “qual problema? Algum problema?”, “ah mas, acho que não fica bem ?” Eu falei: “mas por quê? O senhor vai ser o meu ex. amanhã, e aí? O senhor vai querer vir aqui conversar comigo, e o atual vai falar isso para mim, o senhor vai gostar?”, “não, veja bem por que...”, e eu falei: “oh, então vamos fazer uma coisa? Eu sou fiel ao chefe que eu sirvo no momento, então eu não vou falar nada, eu não falo nada, e não falei até hoje e não vou falar”, está bom. E sou amiga de quase todos eles analistas que foram, eu tenho assim um colar de chefe, e gente boa, gente boa, aí agora na saída: “ah você vai fazer um almoço?”, “vou fazer um almoço só dos meus ex, só de ex” e são amigos entre si , então, o Ailton que você conhece, tem o Luís Bastos, tem o Marco Antônio agora, então é gente muito legal, que sou inclusive amiga de WhatsApp das esposas , no celular. Então a gente troca o bom dia, brincadeiras, muito legal. Eu sou assim nossa, fã dessa situação.
P/1 - Mas essas informações de qualidade, vinham na sua mão?
R - Vinham, vinham, ou por meio de comunicação interna, ou pela, a gente ouvia também nas reuniões, e muita coisa a gente ouvia, você escutou? Escutei. Eu falei: “já estou surda, já não sei, esqueci”, coisas boas que pudessem ser comentadas, mas coisas desagradáveis, eu preferia não ter ouvido. Então sempre umas notícias, principalmente essas notícias de quem vai embora Marilisa, quem vai ser mandado embora, ou que vai mudar toda a gerência, vai ser extinto, vai isso, vai aquilo, cria um clima tenso mesmo, as pessoas ficam: “será que eu vou ser mandado embora? Será que vai ter que mudar de área? Será que eu vou, ai será que eu vou ter que trabalhar com aquele cara lá?”, então aí você fala: ah não vou, mesmo com a saída do Marco , que eu sabia, desde o início, mas até o dia que saiu o ato, “você sabia?”, falei: “ah sabia. Vou falar que não sabia se eu sabia”. Mas vamos lá.
P/1 - Então você era...
R - É, que é o item número 1 da função de secretária, confidencialidade.
P/2 - A origem da palavra é de secreto, secretária é secreto.
R - É, então você não pode falar assim: “ai você confia nela?”, “ah um pouco”, não. Ou não ou sim, não é assim? Confio um pouco? Então você desconfia de alguma coisa, então, isso acontece com a gente também, você com você mesmo, você fala: “nossa, mas será que eu fiz essa coisa legal?” A consciência falando: você fazendo uma malcriação, uma coisa assim...
P/1 - Bom que não precisa nem perguntar.
R - Sai tudo naturalmente. Se você tivesse me falado: escreve isso, eu não ia conseguir, é a expressão, a expressão às vezes de falar também, não é só a escrita.
P/1 - Então eu vou pegar esse gancho , porque você deve ter essa gama de sentimentos, que eu acho que você foi vivendo pela companhia, de ser detentora dessas informações, às vezes não poder falar, e doer às vezes um pouco dentro, mas durante essa trajetória você consegue, talvez sejam várias, mas escolha para a gente dar início um fato que talvez tenha sido mais relevante, marcante nessa vivência de metrô, que você teve uma posição ali que de repente te marcou um pouco mais, tanto pela parte positiva, ou nem tanto assim.
R - É, teve um fato de um gerente, que eu já era secretária de diretora, que ele foi, foi pedido a prisão preventiva dele. E na época, esconderam ele, para ele não pego, e a polícia cercou o prédio, ali do Setenco, e ali eu vivenciei tudo, a esposa, os filhos, aonde ele estava, e isso é uma coisa assim, que a gente só falava na calada da noite, só tomava as decisões na calada da noite, hoje, aquela época não tinha ainda o telefone grampeado e tudo, então os policiais ficavam na garagem para ver se alguém vinha buscar o carro dele, se alguém ia abrir o carro dele, e foi uma coisa assim muito, muito pesada, e depois acabou tudo bem.
P/1 - Isso foi mais ou menos quando?
R - 91, 92 por aí.
P/1 - Você teve algum papel mais relevante ou era só por questão da informação...
R - Não, não, totalmente bem fora, é só mesmo na, assim, vivendo esse momento entre eles lá, lá dentro. Eu não.
P/1 - Maria Helena, e durante a ditadura militar teve situações assim?
R - Oi?
P/1 - Durante a ditadura militar, você pegou esse processo ali?
R - Não.
P/1 - Você não chegou a pegar não?
R - Não, não. Isso eu peguei na escola, na época do Colégio não é, que eu lembro bem que tinha as coisas na rua, as manifestações, e a gente tinha um pouco de medo de sair na rua, e de ser atacado e tal, pelos militares, mas não vivi.
P/1 - Entendi, o metrô não tinha uma presença muito grande de ex-militares, de militares?
R - Não, os militares no metrô chegaram para serem chefes assim, no corpo executivo do metrô. Mas também foi muito rápido, foi uma gestão e eles foram embora e...
P/1 - Foi quando você entrou?
R - Foi, quando eu entrei.
P/1 - E que área que era, você não citou a...
R - 76.
P/1 - Não, a área? Que você entrou?
R - Na gerência de serviços administrativos, que na época era SAD, não era nem gerência, era departamento em nível de gerência, era ligado diretamente ao diretor administrativo. Que era o major que eu falei.
P/1 - Está dentro do processo de abertura, 76 até 85 ainda é uma ditadura militar, isso tinha uma influência no metrô, não tinha?
R - Não, porque essa época, nessa gerência eram os militares que chegaram que o major trouxe, tenente Arthur que ele cuidava do transporte e tal, mas aí acabou a gestão, eles foram embora, e acabou, os militares...
P/2 - Nessa época quando eles foram embora?
R - 76? Eu não lembro se a gestão estava começando em 76, então deve ter sido até 80. Eu não lembro se eu cheguei no início da gestão, ou no final da gestão deles, porque o Plínio Asman era o presidente do metrô, e em seguida ele foi ser presidente da, ali em Cubatão, Cosipa.
P/1 - E olhando já, que a gente voltou um pouquinho, olhando para a história do metrô, e dentro da sua participação, teve algum momento do metrô assim, dentro da companhia, que o metrô viveu, que você sentiu um pouco mais, algum fato que você teve maias participação, ou que você se lembra assim com maior, enfim, com maior cuidado?
R - Olha Demétrio, todos os momentos eu tinha participação, então tudo é, se alguém chegava, alguém saía, tinha um evento, inauguração, vai inaugurar uma estação ali na Ponte Morumbi, então a gente soltava os convites, com ajuda das outras áreas , a gente espalhava o convite, a informática estava chegando, mas era muita coisa de papel, muito convite de papel que chegava mesmo, e a gente tinha que sair correndo, distribuir, para ter quórum, para não chegar no dia e não ter ninguém lá, então sempre tive uma atuação assim, intensa, não tinha um momento só, tudo era intenso, e um dia você saía e deixava um monte de coisa urgente, de manhã já era um outro urgente, aquele urgente, já não era tão urgente, e aparecia outra coisa , então a gente tinha que se virar, então tinha aquelas coisas para fazer, distribuir, montar pasta, levar e não sei o que, e levar, e gente tinha que sambar, ah tem que dar conta do recado ?
P/1 - Muito bem, bom, tem alguns momentos que a gente pensou, que talvez a gente olhasse como importantes para a companhia, e a gente queria explorar com você se você participou, se você de repente teve vivência, se você, mesmo de longe, como que era o sentimento da companhia. Você falou que entrou em 76 certo?
R - Uhum.
P/1 - Você tem alguma recordação por exemplo, em 88 quando teve uma greve que foi muito grande? Você tem alguma recordação? Como que foi?
R - Então, eu estava, nessa greve, a gente estava na Luís Coelho, numa gerência, a minha filha mais nova estava com quatro anos de idade, eu a levava na creche do metrô, e eu não sabia se a creche ia funcionar ou não, então meu irmão pegou meu carro, me levou, eu deixei minha filha na casa da minha mãe, e meu irmão me deixou lá no metrô dois, e um dos dirigentes do sindicato me pegou pelo braço, e falou: “você não vai entrar”, eu falei: “eu vou, quem é você para me segurar, eu vou entrar”, “pelega” eu falei: “sou pelega, e eles pagam meu salário, e sustentam as minhas filhas, e você não, portanto vou entrar” e fiz assim com o braço, ele tentou segurar a minha bolsa, eu puxei minha bolsa e subi, fiquei sem almoçar, sabe, a gente, naquela época a gente tinha garrafa térmica e chá, eles faziam, deixavam lá pros funcionários tomar. E por azar, assim, sempre tem uma bolacha na gaveta, tem uma maçã, alguma coisa. Aquele dia não tinha nada para comer, nada, nada, e eu fiquei só na água e no cafezinho do dia anterior, porque naquele dia nem a copeira foi fazer.
P/1 - E foi um dia apenas?
R - Foi um dia, não, a greve foram mais dias, mas eu fiquei, só esse dia que ele me segurou, no outro dia eu entrei, ele não falou nada.
P/1 - E qual que era o clima da companhia, dos diretores, como é que...
R - Muito tenso, muito tenso porque, hoje tem o crachá, que identifica se chegou ou não, naquela época, tinha também o ponto, mas era um cartão, que você batia o ponto, então passava lá um cara de prancheta, aí você não podia trazer atestado médico, não podia, tinha gente que até de férias era demitido, porque não estava na mesa na hora que o pessoal passou apontando, a presença do empregado ou não. E aí a gente podia sair de lá, porque a qualquer momento a gente podia chegar, olhar e a mesa estar vazia, e você ser colocado na lista dos demitidos.
P/1 - Então era assim, passava alguém, fulano não estava, se não estava...
R - Passava, eles passavam e anotavam, quem estava e quem não estava.
P/1 - E podia até ser demitido por conta disso.
R - É, depois você defendia: “eu estava de férias”, “ah então tá, desculpa você não vai...”...
P/1 - Puxa vida, muito bom. E você teve contato com alguém, talvez da companhia, que participou um pouco mais da greve, ou que teve uma consequência enfim, efetiva ou não?
R - Não, porque a companhia sempre falava assim: “vocês tentem chegar” Marilisa? Mesmo que for mais tarde, tentem chegar. Então os prédios, hoje eles não fazem mais, as estações são mais difíceis de entrar, os prédios administrativos não são tanto.
P/1 - Puxa vida. Então, adiantando um pouquinho, o metrô em algum momento sofreu uma mudança com essa chegada, por exemplo, da concessão, porque era tudo nosso, do estado aqui a gente trabalhando, e aí começou-se a falar talvez dessa história de linha amarela, concessão, você deve ter pegado toda essa...
R - Eu trabalhava nela na época, na linha quatro. Trabalhava...
P/1 - E como é que foi esse início, esse começo...
R - Então Demétrio, a gente tem muita informação do que é uma PPP, então a gente sabe que é bom, é bom também ser, porque o metrô, dinheiro não chega, a obra atrasa, não sei o que, e na concessão o metrô ele fica mais aliviado, ele administra a obra, ele acompanha a obra, então é melhor, eu acho melhor porque se, de greve no metrô, a luinha quatro funciona?
P/1 - Mas você acha que, você tinha as informações, claro...
R - Tinha, tinha todas as informações, e isso não era uma coisa confidencial, era aberto para todo mundo, então as reuniões que participavam os gerentes, os relatórios que saíam, não tinha problema nenhum não. Era mais o sindicato que pegava contra, porque não eram empregados do metrô, que trabalhavam depois da operação, na operação.
P/1 - E essa fase que foi realmente o dia, que por exemplo, começou a funcionar a Linha Amarela, que não era operária por metroviários originais, teve algum movimento, a diretoria passou por alguma, enfim, movimentação, você teve algum clima diferente nesses dias não, para vocês...
R - Não, não.
P/1 - E do pessoal da companhia? Chegou a falar com as pessoas, elas tinham receio?
R - Não, só se ouvia mesmo o pessoal, os contra serem os do sindicato.
P/1 - Entendi, e durante essa parte da Via Amarela, a gente teve um fato bastante marcante que foi aquele acidente.
R - Isso que eu não queria falar, o único assunto que eu não queria falar. Pois é, eu era secretária da área, recebi a notícia, eles estavam todos na Estação do Auto do Ipiranga, porque também estava acontecendo, a estação também já estava andando, estava bem adiantada, e eu liguei para o meu gerente, e ele falou: “já estamos sabendo, estamos indo para lá”, aí a gente começou a acompanhar pela internet e infelizmente foi um fato que não deveria ter acontecido, foi uma fatalidade realmente e marcou, marcou porque aí sim nós vimos muitos colegas nos acusando sabe? De que nós éramos assassinos, e isso não é verdade, porque aconteceu, é um acidente e era operada, a gente sabia que aquele contrato (inint) [00:55:25] que era fechado, chave ...
P/2 - Fecharam a chave (inint) [00:55:23].
R - Aí quando você vai fazer uma reforma na sua casa, você sai dela, você só volta quando a casa estiver pronta, mas você vai lá ver se tá indo tudo bem, agora se foi feito o que deveria ter sido feito para evitar, até hoje a gente não sabe, mas a gente sabe que teve muita infiltração de solo, teve muito abalo do próprio solo, uma coisa lá por baixo, e foi isso que aconteceu, e estamos sofrendo até hoje as consequências desse acidente, por que marcou, o primeiro e único , espero que pare por aí, não tenha outros. Então é muito desagradável você viver esse momento, muito tenso, sabe? Os colegas de andar, de outras áreas, falando assim: “ah foi essa gerência aí oh, foi ali, de lá que veio o acidente”, e eu escutava, fingia que não ouvia, e eu não levava isso adiante, porque eu não ia deixar mais ainda o gerente que já estava muito fragilizado, não só o gerente, como os diretores também, mas depois aí isso acabou saindo no jornalzinho, eles acabaram lendo, e foi uma coisa assim muito desagradável.
P/2 - Maria Helena, e nesse momento você sente que com o seu jeito de ser você pôde ajudar de alguma forma, a categoria que ficou tão machucada?
R - Olha, Mari, eu só não ajudei, como eu sou testemunha de defesa do processo, e faço, faria, a qualquer momento se tivesse que voltar, não o acidente, mas ajudar, eu fui contornando a situação até mesmo entre os colegas da gerência, porque na época o gerente era uma pessoa altamente participativa, uma pessoa que sempre passou tudo para todo mundo, ele participava das reuniões, tanto é que nas audiências me perguntaram: “como é que você sabe, a senhora sabe que ele ia às obras?”, eu falei: “porque ele chegava, era toda terça feira, e ele chegava com sapato cheio de terra, de barro, de amassar, de entrar numa obra, o carro que eu tinha que assinar (inint) [00:57:55] quantos quilômetros andou, por onde andou e o paletó dele, que as vezes espirrava terra assim, e eu acaba tendo que ajudar para ele ir para reunião, para não ir com o sapato e o paletó cheio de barro .”, então não tem como eu falar que não foi para obra? Como assim, e você sabendo que seu chefe é um executivo de gabarito, competente e responsável? Então, e os colegas a gente foi contornando, falando: “gente, pelo amor de Deus, acidente acontece”, quantas vezes você não está num farol e o carro vem e bate no seu carro. Você foi desatento? Não, quem foi desatento foi o outro, não foi? E assim fui levando e tal, e quando eu ouvia alguma coisa assim que me desagradava muito, eu saía de perto para não criar discussão. Então como eu sempre digo para os meus sucessores, observem, analisem e tirem as conclusões, porque se você sair falando sem fazer isso, você vai acabar falando coisa que não deve.
P/2 - Então Maria Helena, uma das perguntas que a gente queria falar, na linha da história do metrô, dentro desse universo de ter muito mais, até hoje a gente tem um contingente muito maior dentro do quadro de homens do que de mulheres, se você lembra quando começaram a ter as primeiras operadoras de trem, que é um reduto eminentemente masculino.
R - Muito restrito.
P/2 - Se você lembra disso, de uma outra situação, de ter um aporte maior de mulheres.
R - Eu nunca tive muito contato com a parte de operação, e manutenção também, mas eu me lembro que chegou alguém comentando assim: “gente, você sabe que tem mulher operando o metrô?”, “como assim? Não tem que ter tanto de altura, tanto de idade?” Tanto disso e tanto daquilo? Porque na minha cabeça, na minha leiguice, os seguranças sim, mas os operadores não? “Não, isso é para a segurança, operadores não”, nossa que legal, nossa, mulher dirigindo o metrô, aquele monte de botão? Nossa, brecar, de repente? Não, não breca, o metrô não breca, o metrô pé no automático, vai só manual não sei o que, então eu ficava eu me imaginando dirigindo o metrô. Aí meu sobrinho, ele virou e falou assim: “tia, você trabalha no metrô? Aquele trem de suspensório?”, eu falei: “É Joao, a tia trabalha lá”, “ai tia, como é dirigir um metrô?”, eu falo: “não, a tia não dirige o metrô, a tia trabalha no metrô mas não dirige.”, “ai tia, eu falei para todo mundo que você trabalhava no metrô, que voe dirigia o metrô”, eu falei assim: “não, mulher não pode dirigir o metrô, é só homem que dirige”, então quando veio essa informação da mulher, eu falei assim: “nossa, já tem até mulher dirigindo o metrô ”, mas assim, eu nunca tive contato assim direto, mas eu achava o supra sumo, tanto é que eu quis ir conhecer, eu quis ir até uma cabine de metrô, e saber como é e realmente nossa, mas é tudo, ah você senta aqui, você só tem que ouvir e falar, prestar atenção. Nossa é só brecar, eu sou muito loira para isso, eu não daria para isso não. Porque abre porta, fecha, porque agora é tudo automático de gravação, mas na época você tinha que falar. e a gente sabe que se um operador de trem abrisse a porta ou fechasse antes do tempo, ele era imediatamente demitido, eles tinham uma rigorosidade assim fenomenal, não podia errar, não podia errar a estação, não podia errar abrir porta, fechar porta, e tem o apito, o apito era para abrir ou fechar, se você fechasse sem o apito, sabe essas coisas assim, e era assim muito rigoroso mesmo, então tinha que prestar atenção assim, um foco... e hoje você vê que o operador observa que o mesmo usuário toma o mesmo trem, todos os dias no mesmo horário, então eu acho isso legal, mas você já pensou lá atrás você fazer tudo manual e... é a mesma coisa, se vocês me permitem na minha cabeça, como é que dirigir, o metrô andar sem operador? Né? Que a Linha quatro é operara sem operador, tudo computador, então assim, não sei se vocês sabem como funciona, porque eu li e tal, mas é até difícil você conseguir imaginar como o homem chegou num ponto de inteligência desse fazer. O metrô saber onde ele tem que parar, onde ele tem que abrir e fechar e sozinho, eu tenho uma pessoa operando lá dentro, mas é uma coisa assim meio, para mim ainda é abstrato, não é uma coisa concreta.
P/1 - Se me permite, eu queria fazer uma vírgula aqui, você comentou do seu sobrinho, a gente acabou passando um pouco para a história do metrô, mas a sua história aconteceu, eu acho que junto com a do metrô, então você entrou no metrô, você já conhecia ou conheceu depois o seu marido, como que foi essa correção?
R - Não, é um fato muito interessante, no meu primeiro dia quando eu cheguei, muito tímida, eu tinha acabado, eu estava completando 23 anos de idade, eu tinha um namorado, eu achava que eu namorava com ele, ele achava que... hoje eu entendo que ele não namorava comigo, e meu marido, eu fui apresentada para todo mundo, e um deles olhou para mim diferente, ficou me olhando assim: “muito prazer” e no dia seguinte tinha um Sensação na minha mesa, aquele chocolate Sensação, tenha um, bom dia. eu falei: “hum, sei não” aí ele vinha puxar conversa, coisa e tal, e eu tinha um namorado então. E uma segunda feira eu cheguei brava, chateada sei lá. E ele falou: “seu final de semana não foi bom?”, eu falei: “não foi, briguei com meu namorado, eu acho que agora acabou de vez ?”, e ele virou para mim e falou assim: “e eu posso ter esperança então?”, eu falei: “é, pode”, bem assim. Dois anos, 76, isso foi em novembro de 76, eu casei com ele em fevereiro de 79, infelizmente, 10 anos depois ele faleceu, eu tinha uma filha de dois anos e uma filha de seis, a Cláudia e a Renata, e fui, aí o metrô virou meu lazer, meu prazer, meu ambiente familiar, meu tudo. Porque eu fiquei sem chão, eu tinha a minha família, todos os meus irmãos, todos me ajudando, moralmente até, minha mãe, meu pai, todos eles, e eu tive que ficar meio que arrimo, ter que encaminhar essas meninas para o mundo sozinha. Financeiramente, e foi uma parte difícil para mim, e moralmente também, porque eu não sabia então o que, que ia acontecer comigo, porque elas iam estudar? Eu ia ter condições de pagar uma escola? Aí foram para a escola pública, elas estudaram em colégio do estado, no bairro onde eu moro até hoje, que era uma escola modelo do ABC, então isso dava um certo conforto, eu não podia pagar perua, então eu tinha que escolher, tinha que me virar com o que eu tinha na mão, um irmão ou outro me ajudava, mas eu ficava meio receosa, porque eu sou um pouco vaidosa, então o meu medo era que alguém falasse assim: “olha, está vendo? Pintou o cabelo de outra cor oh, já está com outra cor de cabelo, e você dá dinheiro para ela, porque ela diz que está passando fome”, então não que falassem, mas eu tinha essa sensação, essa sensação de que fossem me cobrar ajuda, ou me jogar depois, na cara, que estavam me ajudando, e eu estava desviando o dinheiro para outra coisa. E graças a Deus eu venci, como eu falei, fui sendo promovida, fui fazendo hora extra, e fui me virando, só com meu salário, e Graças a Deus eu venci , então... E eu conheci meu segundo marido, depois de 13 anos que eu estava viúva, e já estava praticamente com uma filha na faculdade, e a outra entrando, e ele também, uma pessoa divorciada, uma pessoa de muito bom caráter, uma pessoa assim muito, deu aquele tchan, mas assim, não pela aparência dele, mas pelo caráter dele, pela forma como ele chegou, porque foi alguém que apresentou, uns amigos que apresentaram ele para mim, e nós fomos apresentados um ao outro, sabendo que um, estava disponível no mercado, eu vou te apresentar minha amiga, você vai me apresentar... e eu falo: “não, pelo amor de Deus, eu não quero saber de confusão, estou mundo bem assim e coisa e tal”. Então, essa fase de, vamos dizer assim, que eu conheci meu marido e ele faleceu, eu fui muito feliz, a gente, falou assim, nós éramos jovens então foi um amor intenso e tal, casamos, tudo dentro dos padrões da sociedade, como os italianos exigiram.
P/1 - Imaginamos como foi.
R - Então eu tinha, eu estava distribuindo o convite e a minha mãe ficava me esperando atrás da porta, porque ela, passava das 10 horas, “você está na rua?”, “não, eu estou distribuindo convite, a tia Concheta está lá, fez a gente jantar, comer o bolinho, a porpeta dela lá, como é que eu ia fazer, não podia sair...”, “não, mas você saber ir a pé, ir a pé”, e eu tinha carro, ele não tinha. Ah não, quando a gente estava distribuindo convite, a gente já tinha carro sim, mas quando eu o conheci, ele fazia faculdade e coisa e tal, e ele não tinha carro, e eu já tinha o meu carro, e ele não gostava de sair comigo, porque ele se sentia um irmão, um amigo. Eu falei: “então vai tirar carta cara, vai lá, entra na auto escola e tira carta ué, eu vou parar de dirigir só porque você tem vergonha de andar comigo dirigindo?” E foi o que ele fez, tirou... aí meu pai chega e fala assim: “você está dando o seu carro para ele? Ele é novo de carta”, meu pai falava igual o Raul Cortez sabe? “Mas filha, mas tu, mas o teu carro? Ele é novo de carta?”, “pai, tem seguro, se bater...”, “não, mas não gosto, não gosto que tu faz assim” é? Gente, é muito, depois isso já virou piada, depois, logo depois que a gente começou a namorar e tudo, o meu marido fala assim: “pô, você judiou de mim aquela vez? Você não deixava nem pegar meu carro, nem dirigir o carro dela?”, “mas eu ia saber o que, que você ia querer fazer com a minha filha?”, sabe aquele jeito? E era uma austeridade de medo, medo sei lá do que, da filha ser estuprada, sei lá, sequestrada. Ser violentada, aquelas coisas assim, eu acho que mais assim machismo, e moralismo, isso foi comigo só, só porque eu era a filha mais velha, porque as outras, depois, até foram morar sozinha, meu pai montou apartamento, ajudou sabe? Então, faz parte.
P/1 - E você comentou que, qual o nome do seu primeiro marido?
R - Agostinho.
P/1 - Agostinho, depois que ele faleceu, você falou que o metrô se tornou a sua casa, o seu dia a dia...
R - Isso, é. Aí a gente saía para happy hour, eu saía com o pessoal, porque eu casada, imagina, sair? Não dava. Você saía, saía em casais, e íamos todos juntos, e em certos lugares quando ia sítio, ia chácara, dava para levar os filhos, quando era um restaurante mais assim, não podia levar, então dependendo da ocasião e da situação, eu levava, ou a maioria das vezes não levava as filhas junto, porque uma era muito pequenininha também, então, a gente acabou tendo que ficar mais restrito , para, mais restrito assim, mais presa, vamos falar assim, aí depois, fiquei viúva e tal, eu falei: “meu Deus, eu preciso pegar esse metrô agora, eu não posso ser mandada embora, não posso pisar na bola, não posso faltar, eu não posso sabe? Dar motivo para eles não gostarem de mim”. Então eu fui, fui, fui, então quando eu chegava no final do expediente, eu tinha uma empregada que eu já era da casa, só que ela não dormia , e eu falava: “Cida, dá para você ficar hoje que eu tenho um compromisso?”, “ah dá Dona Helena, eu fico sim”, então eu aproveitava para sair, que aquela época tinha muito baile de, a nossa balada era nos barzinhos lá da Moema, a coisa assim, e a gente saía, para tomar um chopinho e tal e tudo, metrô tinha muita festa, muita festa de final de ano, o próprio metrô fazia a festa pros empregados , então a gente acabava aproveitando essa ocasião para ter um pouco mais de diversão, então foi aí que eu, vamos dizer assim, relaxei com a minha vida pessoal, porque eu tinha meu momento de responsabilidade, meu momento de mãe, e meu momento de lazer também. Então eu tinha uma amiga que falava: “ah vamos no cinema hoje?”, “ah vamos.”, “ah vamos ver uma peça de teatro?”, “ah vamos”, e assim, a única coisa que eu não fiz, é ir em estádio de Futebol, que eles não iam. Tem uma turma no metrô que são fanáticos, é o Palmeiras, é Corinthians, e vão, até hoje eu tenho o meu time de preferência, mas não sou muito assim fanática por futebol não, ou por estádio. Eu gosto de Copa do Mundo, Olimpíadas, então...
P/1 - Muito bem, aí ok, você teve essa passagem, essa transição, perdeu o marido e aí conheceu o outro, e aí como que foi esse rearranjo da família, como é que foi esse novo começo, e como é que isso se relacionou talvez com o metrô?
R - Pois é, o nome dele vocês já escreveram, aí, eu acho que já escreveram? Pietro Azulini, aí eu chego para o Seu Domenico, e apresento o senhor Pietro, ganhou o cara. O meu pai já fica todo entusiasmado, porque todo mundo me cobrava: “ah, você precisa arrumar alguém, as suas filhas estão crescendo, estão ficando moças, você vai ficar sozinha, aí você não vai ter companhia”, eu falo: “ah mas não tá fazendo falta”, logicamente, nesse período eu tive alguns namorados, como eu falo, uns freelancer, mas assim, eu não queria compromisso, porque o compromisso do, ou morar junto, ou casar, me amedrontava, por conta das meninas, de chegar e querer mandar nelas? Ou elas fazerem uma mal criação para ele, e isso atrapalhar meu relacionamento, então eu tinha muita precaução, um pouco de medo, mas muita precaução com isso, e eu realmente nesses 13 anos, eu não apresentei ninguém para ninguém, então era muito assim, meu pai falou: “minha filha, mas você não namora?”, e eu: “ah pai, eu tenho os tira gosto, meus aperitivos” eu falava com ele, e ele: “ah sim, mas você tem que arrumar...” e meu pai, minha mãe morreu em 94, meu pai, o Pietro chegou em 99, é meu pai, uns 4, 5 anos depois que, não, o Pietro chegou em 99 para 2000, minha mãe morreu em 94, meu pai uns três anos depois, ele arrumou uma namorada, ah não, o Pietro já existia e meu pai arrumou uma namorada logo depois, e eu fui brigar com meu pai, falei: “meu pai, vem cá, trazer uma mulher aqui para dentro de casa?” e meu pai: “mas você não arrumou um namorado? Você não arrumou? Por que, que eu não posso arrumar?”, eu falei: “pai, espera um pouco ”, isso é uma copias que assim, você pode, então posso, não é uma coisa assim, você pode eu também posso. E meu pai ganhou, meu pai falava assim: “ah você tem que arrumar, mas pelo amor de Deus, vê lá quem você vai arrumar”, “tá bom pai, eu vou pensar no seu caso e tal.” E quando ele chegou, porque realmente uma pessoa encantadora como eu já falei, e muito simpático, muito, um caráter incondicional, e falava idioma italiano , então, que eu falo também , então a gente falava o mesmo idioma, todo mundo falava o mesmo idioma , e foi assim que ele chegou, e pelo nome já simpatizou, e depois com a simpatia, propriamente dita, ele cativou todo mundo, minhas filhas ficaram um pouco receosas, porque nunca tinham visto um homem dentro de casa, apesar que não, ele não entrou de imediato na minha casa, ele vinha, a gente passava o dia junto, ou eu ia para a casa dele que era em Atibaia, e elas iam também, numa casa de campo, e mas assim, um pouco receosas, porque era esquisito , ver um homem em casa, então, mas foi, ele foi conquistando elas e agora graças a Deus eu tenho uma família.
P/1 - Que bom. E durante esse processo, você falou que no primeiro momento, o metrô foi essa história de se agarrar e tudo mais, e acho que da companhia, você passou por todo esse trajeto trabalhando.
R - Sempre trabalhando, nunca parei.
P/1 - E você claro, nessa transformação, teve, como o metrô foi importante, alguém daqui da companhia se tornou amigo, participou desse processo, teve, o metrô teve correção nessa construção ou reconstrução da sua vida, como que foi esse momento?
R - Olha, eu escrevi hoje um trechinho que fala assim, que eu tive muitos amigos, e onde eu descobri uma família, eu estou saindo onde eu deixo muitos amigos e descobri uma família. Realmente, o metrô, eu tenho no fundo do meu coração, como minha segunda família. Então os amigos próximos que vivenciaram todos esses momentos, eu sempre fui uma pessoa assim muito otimista, muito, eu nunca deixei a peteca cair, muito pouca gente, aliás, quem me conhece realmente me viram tristes em três momentos, quando meu marido faleceu, quinado minha mãe faleceu, quando meu pai faleceu, e um quarto momento, recentemente meu irmão mais velho que faleceu. Mas assim, isso me dá um pouco de emoção até hoje, porque eu não tenho mais o contato físico deles, mas os quatro não estão mais sofrendo com a doença que eles tiveram. E eu sei que eles estão bem onde eles estão. Mas as pessoas que conviveram comigo viram que assim, o meu bem-estar, o meu bom humor, é nato, é involuntário, eu não consigo ser alegre porque eu quero ficar alegre, eu sou alegre, entendeu? Eu sou feliz, o metrô para mim, me fez feliz, eu saio feliz, ontem eu disse pro meu gerente: “ah, você é feliz?”, “eu sou feliz”, “ah mas o seu marido tá doente”, “ele está doente, ele poderia não estar doente, mas a doença dele não atrapalha a minha felicidade, eu sou feliz do jeito que ele está”, hoje ele tá com doença de Parkinson , então ele tá com comprometimento na perna para andar, mas é uma pessoa que, a gente viaja, a gente passeia, vai de cadeira de rodas, ele é feliz de cadeira de rodas, e eu empurro a cadeira de rodas dele do jeito que eu quero. Então eu brinco que eu faço dele igual carrinho de supermercado, quando eu quero entrar no shopping, quero entrar em um monte de loja, eu falo assim: “oh, você fica, espera um pouquinho que depois a gente vai tomar um sorvete, eu vou até ali e já volto”, posso demorar meia hora, posso demorar demais minutos, eu chego, ele fala: “você comprou tudo que você queria? Você achou o que você estava procurando?”, “ah então tá, então vamos tomar um sorvete? Então vamos comer um doce? Então vamos”, e as vezes ele me cutuca: “olha, essa loja tem aquela bolsa que você gosta”, “ah não vou comprar bolsa não, não estou precisando de bolsa.” Então, é uma pessoa assim que ele não reclama de nada, eu não sei se ele sente dor, ele não fala, se eu pergunto, se ele está sentindo, ele fala: “não, não estou, não estou sentindo dor não”. Bom, e voltando à pergunta que você me fez, então assim, as pessoas acham assim que eu sou milionária, que eu não tenho problema de saúde, que eu não tenho problema de relacionamento, porque eu sou assim, eu sou espontânea, mas também se eu tiver que te chamar a atenção, eu vou te chamar a atenção, eu vou falar por que, que eu estou falando isso para você, mas entre eu e você, e depois de cinco minutos, nós estamos conversando, brincando, eu pelo menos, o meu relacionamento, o meu, meu comportamento não muda, não é porque, a não ser que você me fala uma coisa muito, que me deixe muito chateada ou você me, nunca cheguei nesse extremo, o metrô, nossa, não dá para contar, as vezes que alguém me chateou, mas assim, por ter chateado outra pessoa, me chateou, sabe assim. Você fica chateada, porque alguém te chateou? Não é? E que você está chateada porque ele te chateou e eu fico chateada. Mas comigo mesma, que eu não me lembro assim, de alguém ter me feito alguma coisa assim que me deixou muito mal. Não, porque eu também não absorvo sabe? Não fico ruminando aquilo, então aquilo para mim passou. E eu tenho esse, vamos falar, não sei, não é defeito, mas talvez seja uma qualidade, eu saio da porta para fora eu deleto o metrô, eu não penso nele, só se tem alguma coisa falando, ai amanhã eu tenho que fazer aquela entrevista, eu não posso, ai amanhã eu tenho que arrumar o cabelo mais do que eu arrumo todos os dias, aí, eu preciso ver que roupa eu vou vestir, para ir na entrevista, isso fica na sua cabeça, mas assim, mas na sexta feira, eu saio, as vezes eu saio, eu fico pensando, no domingo à noite, ah o que será que tem amanhã cedo? Mas acaba nada grave, graças a Deus.
P/1 - Voltando um pouquinho, você fala que teve algumas perdas, e tem até a questão da perda familiar, que é uma questão que marca muito a gente, mas durante a trajetória profissional, você teve alguma perda, dentro do metrô, de repente de alguém que mudou de área, ou de repente de até que algum colega, e aí, que de repente entrou num PDV lá de alguns anos anteriores...
R - Ah sim, sempre tem um infelizmente, a gente acaba, teve um diretor que eu era muito amiga dele, que ele trabalhando, no dia seguinte a gente recebe, eu recebo a notícia no celular, uma ligação, que o Celso (Salvadore) [01:23:06] tinha falecido. Eu tinha estado com ele no dia anterior, à tarde, a gente estava conversando, e é uma pessoa assim, muito alegre, muito simpática, muito agradável, e você estava sempre brincando, ele gostava de vinho, eu também gosto de vinho, ele gostava de cachaça, eu falava: “olha, cachaça eu só gosto de cheirar”, sabe aquelas brincadeiras? Assim, ele não tinha tempo mal para nada. É uma pessoa muito legal, uma pessoa que eu senti muito em perder, e já não metroviário mais, um ex-chefe meu que também tinha estado comigo, uns 15 dias antes, a gente almoçou, e ele falou que estava com, muito, com a saúde dele muito comprometida, que ele ia se internar no Sírio Libanês, e que ele não saberia quanto tempo ele ia sobreviver, e eu falei: “imagina, o senhor tá inteiro, tá gordinho ainda, tá corado e tal”, mas foi um câncer fulminante, em meses levou ele embora, também senti muito, era muito amiga da família, dos filhos, e até hoje eu lembro dele, o Doutor Inácio não é? Doutor Inácio, foi com ele que eu aprendi muita coisa jurídica, uma vez ele falou assim para mim: “Filha, ele esse parecer para mim, mas depois você me fala o que você entendeu”, eu falei: “tá bom”, aí peguei o parecer e li, reli, li, reli, não estou entendendo nada, o que, que eu vou falar para ele agora? Aí eu falei: “Doutor Inácio, eu li e reli várias vezes, eu não entendi nada, eu não sei se esse parecer é contra ou a favor”, ele falou: “ah, então tá certo minha filha, pode tirar a sua carteirinha de OAB que você tá pronta para ser advogada”, aí ele falou: “mas era para confundir mesmo, o parecer é para isso, esse parecer é para isso mesmo.”, e você vê, aí ele chamava um advogado lá, e falava assim: “Olha, você faz um parecer para a Hebe Camargo entender”, eu falava: “O que será que é para Hebe Camargo entender? Eu não entendi”, tem que ser uma coisa assim bem fácil de entender, um português claro, não com aquele palavreado que só os advogados sabem escrever. Então eu falava, e até hoje eu uso essa expressão, falava: “oh, tem que ser, para Hebe Camargo entender, tem que escrever para a Hebe Camargo entender”.
P/1 - Que coisa, e esticando um pouquinho também, a gente falou de perda, e também essa questão jurídica, você hoje, eu acho que se inscreveu em um PDV, sem chegar nesse ponto, mas lá atrás, o metrô passou por outros PDV’s.
R - Passou, em 1988? 2000?
P/2 - O primeiro foi 2000.
R - Não, 2000 eu não podia nem pensar, porque eu não tinha idade para nada. Não tinha idade para aposentar, nem para aposentar pelo Metros, e o pelo Metrô, e minhas filhas estavam na faculdade, não é? Então não tinha idade, não pensava mesmo em sair, eu achava que eu era muito jovem para parar de trabalhar, com todos os benefícios que eles ofereceram na época, que eram até meio, interessantes, assediantes. E não entrei por isso. Em 2016 já me acendeu um pouquinho, mas minha filha Cláudia tinha acabado de casar, em abril de 2016, PDV abriu depois, e eu tinha a Renata para casar, que já namorada com o marido dela, aí eu falei não. aí eu cheguei para a nossa gerente de recursos humanos, e ela perguntou: “você vai entrar no PDV?”, eu falei: “não vou”, ela falou: “Por quê?”, eu falei: “porque eu quero sair no final de 2018, se você falar para mim que eu saio no final de 2018, eu faço a adesão, mas se não eu não vou”, ela falou: “Não, quem vai decidir a data que vai sair é a empresa, não é você que vai decidir a data da saída”, eu falei: “ah então não vou assinar, não vou aderir”, aí cheguei no meu gerente, meu gerente falou: “Ah Helena, não sai não, você ainda tem tempo, você tá...”, nós estávamos aís, dois anos praticamente , tem muita coisa acontecendo de inauguração que ia ter e tal, não vou não. aí quando foi em dezembro de 2018, , minha filha já estava casada, graças a Deus, fez um casamento bem satisfatório com relação ao rapaz , bem, eu gosto muito dele, eu peguei e falei, chamei os quatro, meu marido, tudo que eu falo, ele fala sim: “ah tá ótimo, ah não sei o que”, o Pietro não conta, porque ele é o maior beneficiário da situação, mas eu quero, “ah mãe, demorou, vai, não sei o que, vai aproveitar a vida, não, tem que sair, tem que sair, tem que sair” aí em 2016 uma das minhas filhas falou bem assim: “mãe, você tem que fazer um, você tem que ter uma meta, para parar, qual é a sua meta?”, eu falei: “vocês duas casando, ou um neto chegando”, então quando foi agora ela falou: “você não falou que quando nós já estivéssemos casadas, você, estava na hora de parar, então para. Porque neto não vai vir mesmo, pelo menos neto nós já estamos casadas”, então vamos. Aí fui me consultar com umas pessoas que, dentro do metrô , que eu admiro muito, e ouvi opinião, e falaram, todos foram unanimes e falaram: para, tá na hora, você ainda tá inteira para viajar, inteira para aproveitar a vida, cuidar do marido, e assim foi que eu fiz umas continhas lá, aí as continhas não bateram , com meu orçamento, mas eu falei: no frigir dos ovos, eu não empatei, não estou saindo nem perdendo, nem ganhando não é, porque você tem o salário, mas você tem um monte de despesas, por conta do salário inevitável, não tem como você cortar , então eu vou ganhar o liquido, sem os descontos. Então dá para abater, vai empatar. E não tendo mais preocupação de educar filho, sustentar filho, as duas graças a Deus estão financeiramente independentes, então eu acho que chegou a hora mesmo, e eu saio com uma emoção, da falta dos amigos, então assim, esse convívio diário, porque a minha mesa tem dia que parece um confessionário, um sai, outro chega, um sai, outro chega. Mas é para dar bom dia, para almoçar, é para contar que o filho fez isso, que a sogra fez aquilo, que a mãe fez aquilo lá, que vai ter uma festa para organizar uma festa, para ajudar numa festa, então assim, eu vou. Sou muito festeira, então assim, isso eu puxei um pouco a minha mãe. Então eu adoro fazer festa, metrô então eu tenho um monte Marilisa? De coisas que eu andei proporcionando aí. Então, eu falei: bom, então vamos que vamos e Deus vai me ajudar com certeza.
P/1 - Bom, você claramente pensou, foi uma decisão com a família, teve uma avaliação sobre isso, o momento correto que você comentou com a gente. Você, passou por essas sessões de PDV, encontrou alguns lá atrás que não foi o momento, mas você deve ter encontrado pessoas, ou viu como é que foi o movimento da companhia com relação ao PDV, que alguns foi novidade. Teve alguém que saiu, algum caso que você soube de alguém que não estava pronto para sair, que de repente veio e a empresa pediu para sair, sabe? Coisas que...
R - Olha, é impressionante, todas as pessoas que saíram, que eu tenho contato, então felizes. E alguns, alguns disseram a mesma coisa, existe vida fora do metrô, metrô não é só, vida não é só metrô, então existe vida lá fora, então você vai ter muita coisa para fazer. Então, você tem muito gás para fazer coisas aí que você não vai ter tempo, vai faltar tempo para você, e de fato, eu já comecei a fazer um monte de coisa, eu falei: “nossa senhora, não vai dar tempo”.
P/1 - E colocando também, já que você falou, durante, que a gente fez...
R - Deixa eu fazer uma volta, tem duas pessoas que entraram, uma não entrou no PDV, mas já estava na hora de entrar, e uma que entrou e que infelizmente adoeceu, então se tratando, e isso é uma coisa que me amedronta também, você sabe de quem eu estou falando? Da Bete e da Isabel, então, são pessoas que são da minha idade, e que não tiveram a oportunidade, pelo próprio destino, de estarem em casa, mas estarem doentes. E uma coisa que me fez assim, bater o martelo para aposentar de fato, foi a morte do meu irmão, ele trabalhou até os 65 anos, ele não queria parar, porque ele achava que tinha muita coisa para fazer, trabalhando, e ele saiu e dois anos depois ele faleceu, de um outro câncer também, fulminante. Então, mas eu tenho os meus botões que ele já sabia que ele estava doente, porque ele não falou, porque algumas coisas que a gente vai colocando no quebra cabeças, as peças que você vai montando, você fala: ah mas aquela situação lá, que ele não foi, porque ele disse que tinha uns exames para fazer, então já é um indício de que, então eu não quero que isso aconteça comigo, eu quero realmente parar, porque eu quero ter tempo ainda, se sobrar um pouco de tempo, um tempo para fazer as minhas coisas ainda.
P/1 - A pergunta do público leigo aqui, como que é a proposta do PDV?
R - A proposta mesmo, o benefício dado, no meu caso, quatro anos de plano de saúde, só. Aí tem as coisas que é por acordo coletivo, férias, 13º, 40% do fundo e...
P/2 - As verbas rescisórias?
R - Mas isso é para todo mundo porque mesmo quem não sai por PDV, tem os mesmos benefícios de quem, o PDV só tem o, eu não sei, cada, pois com 42 anos, eu ganhei 48 meses de plano de saúde. Eu e meu marido. A minha filha que ainda é minha agregada, ela já não pode participar.
P/1 - E é interessante também comentar que é voluntário, é escrito...
R - Ah é voluntário, não posso pedir seguro desemprego. É voluntário, é um plano de demissão voluntária, quer dizer, você que pede demissão, mas é como se a empresa tivesse te mandando embora?
P/1 - E o perfil são pessoas que já estrão há muito tempo na empresa?
R - Não, pode ser, foi aplicado para qualquer pessoa que quisesse participar. Só que por exemplo, o nosso plano de previdência, ele é suplementar, então para quem sai com 60 anos, acaba ganhando o teto, é mais ou menos que nem o INSS, se você sai antes, você ganha porcentagem menor. Agora o plano dois, que eu estou no um, o plano dois, resgata o que você deu para eles já, o que você pagou, no fundo, você tem um fundo lá, e você resgata aquele fundo e não tem mais nada, eu consigo ainda ganhar uma previdência mensal vitalícia, enquanto eu tiver, eu vou receber.
P/1 - O metrô que está colocando, ele oferece essa opção de previdência complementar que a gente pode acionar, claro que as pessoas que contribuíram há mais tempo, tem mais oportunidade e mais valor, e tem o proporcional também que quando mais tempo você tem, o metrô põe uma contrapartida, que quanto mais tempo você tem, mais você resgata também desse valor, pois que mais tempo acaba sendo mais interessante.
R - Sim, mas o plano um não resgata, o plano um não tem resgate, é só o plano dois.
P/1 - Sim, tem essa divisão.
R - Vocês são muito jovens ainda para pensar nisso.
P/1 - Não, eu estava comentando porque teve uma colega recente de empresa, não tinha tantos anos, e acabou aderindo também ao PDV, por uma oportunidade e opção dela, no momento de vida dela, então inicialmente é voltado, a gente pensa em PDV, é claro, a maioria são pessoas que estão há mais tempo na companhia, mas ele é aberto a...
R - É, eu achei legal, um engenheiro da minha área, chegar para mim, eu estava inclusive escolhendo as fotos para trazer hoje, ele estava me ajudando, ele é bem mais jovem, ele tem cinco anos de metrô, ele entrou no último concurso, ele falou assim: “Maria Helena eu gosto de ver vocês assim, vocês mais velhos, porque vocês são os nossos espelhos, nós seremos vocês amanhã”, eu falei: “então não subestime nenhum empregado acima de 60 anos.” Porque a gente tem muita bagagem, muita bagagem profissional, muita experiência, eles têm a técnica, eles têm a técnica moderna, que eles estudaram, e estão colocando em prática, não... mas é.
P/1 - E já aproveitando que você falou, dessas pessoas com experiência, durante a trajetória no metrô, teve algum momento que você considera para você, o seu momento de realização profissional, um momento marcante?
R - Olha, eu sou uma pessoa altamente realizada profissionalmente, porque quando eu desci da diretoria, para a gerência, os comentários de nossos colegas diziam: “nossa, você vai voltar para gerente? Você vai perder a mordomia da diretoria?”, “que mordomia?”, “ah você vai perder garagem, vai perder cafezinho, vai perder o garçom descascando a sua fruta”. Eu: “isso é demérito? Se fosse mexer no meu bolso, eu poderia achar ruim, mas eu estou sendo prestigiada, para montar uma gerência de ponta, uma empresa com tanta gente que poderia ter sido chamada também”, então isso para mim conta como realização profissional, é uma promoção, acaba sendo. A promoção não é só o financeiro, só, lógico, todo mundo quer ganhar mais? Se eu ganhasse o dobro do que eu ganho, mas a minha auxiliar também queria ganhar o que eu ganho, não é assim? Eu também queria ganhar o que o gerente ganha, e por assim vai, os valores de referências mudam? Mas eu nunca, em nenhum moimento eu me vi assim, injustiçada, aí fulana foi, tinha que ter sido eu. Eu concorri também à outras vagas na vaga de gerência, e perdi, eu não ganhei todas, não foram todas as entrevistas que eu ganhei. E nem por isso eu fiquei de mal da pessoa, ou malo do chefe que me entrevistou e depois não me escolheu, como eu também entrevistei muita gente, e tive que escolher uma pessoa para ficar comigo entendeu? Então é a vida, vida que segue, você me cativa por alguma coisa, ela me cativa por alguma coisa, ou você não me cativou. Então, numa entrevista é difícil você pontuar, quando você tem três pessoas. Você pontuar qual é a melhor, você não sabe, você arrisca, você vai pela competência, vai pelo nível de experiência, vai pela forma como ela conversou com você, então é isso aí, as vezes você acerta, as vezes você erra também, então... mas eu sou uma pessoa altamente, profissionalmente realizada.
P/1 - Legal. E durante esse trajeto na sua vida profissional, teve algum ponto marcante da sua profissão, ou algum ponto que você marcou, que você considera importante na sua carreira profissional? Algum dia, alguma situação que você fez, algum marco que você tenha passado, que você lembra?
R - Olha Demétrio, assim, eu sempre fui elogiada, eu sempre fui assim, a meninada vem e tudo, ah não sei o que, as minhas festas sempre foram bem sucedidas, sai no Jornalzinho, sai não sei aonde, depois vem, tira foto, põe no Facebook, sai um monte de curtida, aí vem aquele que fala, agradece, então assim, não tem um fato específico. Então, o que, que eu vou falar? Quando as minhas filhas nasceram, há 30 e tantos anos atrás, o médico chegou e falou: “tira esse povo daqui, que tanta gente, é tudo irmão?” Eu falei: “é tudo amigo”, porque eu tive uma no Einstein e outra na Paulista, eu enchi mais o quarto na hora do almoço no Einstein do que na Paulista, porque na Paulista elas iam de manhã, de tarde, de noite. E lá, “esse povo é tudo irmão? Você tem esse monte de irmão?”, eu falei: “não, não tem nenhum, é tudo amigo”, então assim, não tem um momento assim que eu falo: “foi esse o momento”, foram muitos momentos, graças a Deus.
P/1 - E como é que foi essa história então, pessoal do metrô foi lá ver o nascimento das suas filhas e fez bagunça no hospital?
R - Olha Demétrio, foram lá, eu tive a Cláudia numa quarta-feira, e ia sair no sábado, na quinta ninguém foi, porque era um dia depois, eu fiz cesárea, um frio, pensa naquele dia gelado, que o nariz sai fumaça sabe? Aí foram todos na sexta feira, então no sábado eu já ia embora, no domingo, então foi todo mundo junto na hora do almoço, eu acho que deve ter tido uma Kombi na época, então, e tem um fato interessante, da Cláudia, ah então, lembrei sem querer, ela ia nascer do dia 1 ao dia 9 de junho, então eu saí de licença no dia 1º de junho. Porque, para ficar uns nove dias antes, me preparar, porque eu estava enorme, eu tinha engordado 20 quilos, eu era magrinha, mas eu fiquei enorme, barrigona, não sabia que era menina. Então fizeram um bolão, na minha área, quem acertava o sexo, quem acertava a data, e quem acertava o peso. Porque pelo tamanho da barriga tinha que ser uma criança enorme. E o bolão, deu o maior sucesso, porque todo mundo queria participar. Deu uma boa grana, verdade, e deu uma boa grana, e todo mundo querendo levar aquele bolão, e eu sabia, porque até então todo mundos comentava comigo. E fizeram uma lista, puseram nome e tal, e vai nascer dia 10 e não sei quanto, vai nascer dia 8, com 5 quilos e bom. Ela nasceu dia 18 de junho, eu fiquei 18 dias em casa esperando essa menina nascer, e dia 18 de junho era aniversário da esposa do meu chefe. Aí começou a gozação, por que: “puxa saco, você fez a sua filha nascer no dia da esposa do chefe, ah é menina, vai chamar Cidinha”, porque ela chamava, e até hoje eu encontro com ele, e ele fala: “E a Cidinha como vai?”, então, e eu acho que até ele, eu não lembro que foi que acertou, mas ele deve que, mas era do dia 1 ao dia 19, eu acho que a data ninguém acertou. E ela não nasceu porque ela não queria nascer, estava dormindo lá quietinha, então nesse dia que elas foram me visitar, o assunto era esse entendeu? Que a Cidinha nasceu no dia da esposa do chefe. E foi uma coisa, nasceu de cesárea, quer dizer, não tinha como, eu fiquei 12 horas em trabalho de parto, para ver se induzia o parto normal, então foi uma coincidência.
P/2 - Essa história você marcou mesmo que essa história está enredada com a história do metrô.
R - Não é, olha...
P/2 - E agora a gente chegou nos 50 anos.
R - Pois é.
P/2 - Como que está essa data aí para você?
R - Olha, é emocionante, porque eu sempre fui prestigiada, não é? Já fiz, várias assim, relatos do metrô, e eu sou uma fã incondicional. Se eu pegar, já peguei amigos nossos falando mal de metrô. Nossa, cheguei no canto e falei: “escuta, quem te sustenta? Quem que põe a gasolina no seu carro? Quem que paga a escola dos seus filhos? Então vai arrumar emprego em outro lugar”, eu não admito que ninguém fale mal do metrô como empresa empregatícia. Ele tem falhas, como nós temos também, agora o metrô para mim é um exemplo assim em todos os sentidos, porque a minha filha falou: “mãe, você é a única pessoa que não quer sair, não quer parar de trabalhar, toda mulher quer estar no seu lugar, muita gente queria estar no seu lugar”, e eu falei: “gente, o que eu posso fazer? É minha vida”, eu passei, imagina, eu acho que não fiz a conta não, mas eu acho que 80% da minha vida eu passei aí dentro, então olha a coincidência, eu entrei no metrô em 13 de agosto, numa sexta feira de ano bissexto, depois eu fiz, estou saindo no dia 22 de maio, amanhã acho que ainda conta, mas com uma entrevista dessa, um relato desse, contando desde o dia de 13 de agosto de 76, e não tenho coisa ruim para contar. Não tenho porque não tenho, não é porque eu não quero contar, as coisas tristes eu falei. Então metrô para mim, tudo que eu falei, que eu vi, é uma lembrança assim que eu nunca na vida vou esquecer nas próximas três gerações se vier, entendeu? E é uma coisa assim, a Marilisa falou: “ah, mas foi preciso a gerente” e é assim, “Maria Helena, vamos participar?”, “vou”, “vamos fazer tal coisa?”, “vou”, “vamos em tal lugar?”, “vou”, “vamos visitar os menores praticantes na FEBEM? Consegue contratar um?”, “consigo”. “Vamos trazer os menores da rua, para trabalhar como boy no metrô?”, “vamos”, e todos os projetos que eu participei eu fui bem sucedida, outras pessoas não foram, porque eu não acreditava que o projeto fosse dar certo e graças a Deus, tudo que eu fiz para o metrô, pelo metrô eu fiz como se tivesse fazendo para mim, como se tivesse fazendo um bem para uma pessoa não é assim? Então vai dar sangue? Vamos dar sangue. Vamos, vamos dar sangue, vamos lá, vamos lá, vamos. Ah fulano de tal está precisando, então vamos lá. Olha, meu primo, meu tio, vamos. Aí chamo meus genros, chamo minhas filhas: “olha, tem uma pessoa...”, eles nem conhecem, “mas ah é amigo seu?” “É mãe da minha amiga, vamos doar sangue”. Entendeu? E que mal tem, você é doadora de sangue? De plaquetas também, e perto de parar, já estou chateada, porque não vou poder doar mais, então eu tenho sangue O negativo. A primeira vez que eu doei sangue, foi para uma prima minha, com menos de 40 anos, que ela pegou uma leucemia, eu nunca tinha doado sangue para ela, ela era mais velha. Eu falei: “será?” Com minhas filhas pequenas, eu falei: “se acontecer alguma coisa? Se eu pegar uma infecção? que a gente fala, uma hepatite?”, “não, não precisa, não pega, não, não é assim, é lá no Sírio Libanês, imagina”, e isso aconteceu uns 30 anos atrás, aí todo ano aí até, não hoje , mas assim, e essas plaquetas você pode doar uma vez por semana, o sangue a cada três, quatro meses, e olha, agora eu dei uma parada, acho que por conta da minha idade, mas teve uma época que eu não vencia, eu tive que falar: “gente, espera”, era Sírio Libanês, Beneficência Portuguesa, Edmundo Vasconcelos, Hospital do Câncer, Hospital das Clínicas, onde eu me cadastrava que eu ia fazendo doação, o povo ia me chamando, e quando descobriram que eu era doadora de plaquetas, aí começou, até quando, uma vez lá no Beneficência Portuguesa, eu doei uma bolsa de plaquetas, um zunzunzum para lá, um zunzunzum para cá, eu lá deitada, esperando eles me liberarem, aí chegou um médico e falou assim: “a senhora tá bem?”, “eu estou bem”, aí ele falou assim: “vamos medir a sua pressão?”, “vamos”, “ah a senhora tá ótima, a senhora não doaria mais uma bolsa?”, eu falei: “mais uma bolsa doutor?”, ele falou: “porque o seu sangue tem o antígeno que é muito raro, é muito raro, e você tem ele, e nós estamos com um paciente aqui internado no hospital, que a senhora vai salvar a vida dele”, eu falei: “vamos lá, vamos lá”, voltei para a máquina e dei, saí de lá assim, não, não estou bem, aí me deram não sei quantas garrafas de suco, litros de água, lanche, fiquei lá até minha pressão voltar, porque caiu, estava um calor insuportável, e não podia sair na rua e tomar aquele sol, eu fiquei a tarde inteira lá, liguei pro meu chefe e falei: “oh, passei mal na doação”. “Fica aí, não vem embora não, fica aí”, aí eu fiquei lá, saí bem e fiquei, também, duas não, uma eu vou, duas não mais. Eu falei para ele, falei: “doutora, olha, sinto...”, porque quando você começa o processo, não pode parar, tem que encher a bolsa, e não dá para parar no meio, e vamos que vamos. Não vai...
P/1 - E desses 50 anos que agora você faz parte, você falou que participou da Ação Aplausos.
R - Participei.
P/1 - Qual que foi a sensação de participar nesse momento, levando em conta que, nesse dia que você falou que adentrou lá, lá atrás e você está vivendo esse momento agora, qual que é a sensação...
R - Ah eu me senti uma criança no jardim de infância, que ia passear. Porque assim, aqueles usuários passando e nos ensaios, já foi assim, uma coisa assim, pessoal passava, olhava meio desconfiado, a gente sem crachá, e olhava e tal, e “o que, que está acontecendo?” “ah um treinamento de empregados do metrô”, a gente não falava o que era, senão entregava a surpresa, e eu fiz o treinamento na estação Jabaquara e até que chegou o dia e o momento de fazer a apresentação na estação Sede, nós fomos pro Jabaquara primeiro, foi muito bom, e o pessoal abraçava, fazia assim, aí eu falaram: “o que, que é?”, aí eu falei: “ah a gente tá fazendo uma homenagem para vocês, dos 50...”, ai me dá um abraço sabe? Me dá um beijo? E foi, e quando chegou na estação Sé então fechou porque foi muito legal, muita gente, muitos empregados participando, e muitos colegas assistindo, além dos usuários. E teve uma usuária que ela saiu do trem, e ela perguntou para mim porque eu estava bem na comissão de frente, e eu falei para ela, falei: “é uma homenagem que nós estamos fazendo”, “ah posso abraçar vocês?”, “pode”, ela foi de um em um, até onde ela conseguiu, que não colocaram ela para fora, ela foi abraçando todo mundo. E é uma coisa assim que a gente achou até que eles não iriam gostar muito do que estava acontecendo e não, eles interagiram muito bem. E estão as fotos aí para a gente levar de recordação.
P/1 - E no auge desses 50 anos de companhia, se você tivesse que falar sobre o metrô, qual sentimento que fica do metrô para você agora?
R - Olha, é uma empresa altamente moderna, apesar de ser 50 anos, ela é moderna, se você fizer uma visão geral dos metrôs aí fora, da Europa, ou mesmo Buenos Aires, o metrô é muito velho, muito sujo, um cheiro de velho mesmo. E o nosso metrô inteiro levando tantas pessoas por dia, milhões e milhões de pessoas, e é uma empresa que é muito bem conceituada, as falhas que tem infelizmente, que todo mundo tem, mas é uma empresa que eu acho que ela é muito bem conceituada, porque você ouve muita gente falar bem do metrô.
P/1 - E o que você vai levar do metrô?
R - Olha, muita coisa boa, muito carinho, muito afeto que eu recebi, muito prestígio, a realização profissional, minha bagagem, tudo que eu sei, que eu aprendi na vida, profissionalmente foi o metrô. Então, eu sei discutir um pouquinho de engenharia, um pouquinho de direito, um pouquinho de administração, um pouquinho de economia, relacionado ao metrô, bem entendido, então você tem muita coisa para conversar, quando as pessoas perguntam de metrô, eu: ah vamos lá, vamos falar, metrô é o meu prato predileto entendeu? Não é gostoso? Você fala que a empresa é um saco, um pé no saco, aquela lá... não, eu encho a boca para falar, e levo comigo assim, uma coisa assim, não dá nem para descrever sabe? Mas é lima coisa que vem lá de dentro, e que me enche os olhos. E o peito, o coração também.
P/2 - E o que, que você pode dizer para os novos, que vão entrar?
R - O novos, pois é, porque eu falo pros meus lá, tenham perseverança, tenham objetivos, e vejam mais o lado bom da empresa que tá te oferecendo as oportunidades que ela tá te dando, porque as oportunidades estão lá, elas existem, se você quiser enxergar, mas você quer ver só o lado negativo da empresa, você não vai porá lugar nenhum, porque todas as empresas vão ser assim, e o metrô é uma empresa boa, é uma empresa que valoriza o empregado, valoriza o profissional mesmo que ele é, e deixa o profissional agir, trabalhar, ele tem a chance de se sobressair, e tem treinamento, tem a parte, operacional mesmo da coisa, eles vão na obra, eles veem o que tá acontecendo, eles sabem o que é, aquilo que eles leem no relatório, e que eles veem nas fotos, eles vê ao vivo ali, no chão crescendo e realizando, que é o transporte coletivo para uma nação, que São Paulo é praticamente uma nação.
P/1 - E hoje é uma data muito marcante para você, é o seu último dia, oficialmente, na companhia.
R - Isso, é, é.
P/1 - Qual que é a sensação desse dia hoje?
R - É esquisito. É esquisito, eu acho que, eu vou continuar, mas assim, quando eu quiser, no dia que eu quiser, eu vou vir trabalhar, mas é uma sensação de, não sei explicar, eu acho que é mais a falta desse convívio, que eu tenho muitos amigos, minha família que eu descobri, eu coloquei na minha mensagem, e eu levo só coisa boa. Só momentos bons, muita alegria, porque eu fiz minha vida. Eu concluí meu ciclo, comecei e concluí de uma forma assim que às vezes eu me pergunto: como eu consegui? Nossa, eu tenho uma filha engenheira e outra farmacêutica, as duas fizeram faculdade particular. E eu quando, eu não imaginava nessa situação, eu falava assim: não vou conseguir, não vou conseguir. Mas Deus foi tão bom para mim, e me deu força, me deu assim aquela garra de não só financeiramente, a vontade de vencer é independente de quanto eu tivesse ganhando, independente de quanto ia me sobrar no final do mês. Então se sobrava, muito bem, se não sobrava, mas também não faltava, entendeu? E é isso que eu levo do metrô, falar para mim, “eu não trabalho porque eu não tenho dois filhos pequenos”, não fala isso para mim, porque trabalho existe, e se você quiser, você consegue vencer. E eu venci.
P/1 - Se você tivesse que definir a sua carreira, a sua vivência no metrô, em uma palavra, um sentimento, qual seria?
R - Faz o que gosta sabe? Se você gosta do que você faz, as coisas fluem sozinhas, tudo se torna fácil, quando você começa a reclamar que isso não vai dar certo, então assim, eu amo o que eu faço, e eu sempre quis fazer o melhor. Errei? Errei, mas tudo que eu errei, eu tentei concertar, eu acho que eu consegui sabe, concertar?
P/1 - Você gostou de contar a sua história?
R - Gostei, amei, adorei.
P/2 - Agora eu queria agradecer.
R - Eu espero que vocês tenham gostado também, a emoção pega sabe? Não tem como você falar, a emoção ela vem, eu sou uma pessoa emotiva, eu tenho um lado assim, alegre, expansivo e tal, mas eu também sou bem sensível, então, mas assim, é muito forte essa emoção que eu estou sentindo hoje, porque não imaginava que eu fosse fazer essa entrevista, não imaginava que eu fosse sair, no dia que eu estou fazendo a entrevista, então assim, a expectativa de que isso fosse acontecer, me deixou tranquila. Eu não estava, não sei se eu transpareci, mas eu não estava assim nervosa, tensa, nada. Eu estava assim mais preocupada assim em não decepcionar vocês, no que eu fosse falar. Então é isso. Mas eu amei, muito bom, muito bom.
P/1 - Fico muito feliz de ter escutado a sua história, de verdade, eu que estou começando eu acho que é uma oportunidade gigantesca de estar com você aqui hoje, muito obrigado pelas suas palavras, pelo seu convite, na verdade, por ter aceitado esse convite, eu acho que, eu falo muito pessoal por mim, eu Demétrio, mas foi uma honra estar com você aqui hoje, ter o prazer de ter escutado a sua história, eu acho que eu também falo por todos que vão escutar depois. E pela equipe toda que está aqui com a gente, mas muito, de verdade, obrigado. Felicidades na sua vida.
R - Eu agradeço, e estou à disposição.
P/2 - Queria agradecer muito por ter conhecido a Maria helena, quando eu vi o seu nominho lá e o nome de outras pessoas eu fiquei contente de poder escolher e casar com a minha agenda, foi uma conversa muito bonita, e eu te agradeço mesmo, e assim, já que a gente falou tanto de italiano, Dio te guarde.
R - Grazie, senhora.Recolher