IDENTIFICAÇÃO Sou Guilherme Campos Junior, nascido em Campinas em 20 de novembro de 1962. FAMÍLIA Meus pais são Guilherme Campos e Leni Terezinha Gildeci Campos. O meu avô paterno é filho de imigrantes portugueses e a minha avó, filha de imigrantes italianos. Minha mãe é filha de imigrantes italianos. Eu só conheci os avós paternos. Meus avós maternos eu só tive o contato até um ano de idade. Quando os meus pais se casaram o meu avô paterno já era falecido. Meu avô materno era dono de uma venda de secos e molhados na cidade de Torrinha, no interior do estado. Eles eram italianos do Veneto, da cidade de Treviso. A minha avó materna era dona de casa. Minha avó paterna era professora. Aquelas professoras sem formação do início do século passado, que serviam pra ajudar no processo de alfabetização das pessoas. Já o meu avô começou a vida como empacotador nas Casas Pernambucanas de Olímpia, interior de São Paulo. Depois passou a gerente das Casas Pernambucanas de Olímpia, abriu a sua loja em Olímpia, na década de 40, a Casa Brasileira, e partir daí passou de Olímpia pra Tanabi, de Tanabi pra Rio Preto e de Rio Preto pra Campinas. Meu pai se formou em Direito. Era advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas por uma exigência da minha avó materna, Dona Palmira, a mulher mais brava que eu conheci na minha vida (risos). Ela queria que meu pai fosse juiz e fez todo o esforço pra que ele seguisse essa carreira. Mas essa nunca foi a vocação dele. Tanto que ele deu sequência no negócio do meu avô. Somos em três irmãos. Além de mim tem Marcelo, que é de 63, e tem o Luiz que é de 64. A família toda está dentro do comércio. Tivemos um pai-patrão e fomos explorados desde a mais tenra idade (risos). Nesse processo em que meus avós queriam que meu pai fosse juiz, por problemas da época, não deram sequência na empresa, na Casa Brasileira. Meu avô teve um começo de vida muito...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Sou Guilherme Campos Junior, nascido em Campinas em 20 de novembro de 1962. FAMÍLIA Meus pais são Guilherme Campos e Leni Terezinha Gildeci Campos. O meu avô paterno é filho de imigrantes portugueses e a minha avó, filha de imigrantes italianos. Minha mãe é filha de imigrantes italianos. Eu só conheci os avós paternos. Meus avós maternos eu só tive o contato até um ano de idade. Quando os meus pais se casaram o meu avô paterno já era falecido. Meu avô materno era dono de uma venda de secos e molhados na cidade de Torrinha, no interior do estado. Eles eram italianos do Veneto, da cidade de Treviso. A minha avó materna era dona de casa. Minha avó paterna era professora. Aquelas professoras sem formação do início do século passado, que serviam pra ajudar no processo de alfabetização das pessoas. Já o meu avô começou a vida como empacotador nas Casas Pernambucanas de Olímpia, interior de São Paulo. Depois passou a gerente das Casas Pernambucanas de Olímpia, abriu a sua loja em Olímpia, na década de 40, a Casa Brasileira, e partir daí passou de Olímpia pra Tanabi, de Tanabi pra Rio Preto e de Rio Preto pra Campinas. Meu pai se formou em Direito. Era advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas por uma exigência da minha avó materna, Dona Palmira, a mulher mais brava que eu conheci na minha vida (risos). Ela queria que meu pai fosse juiz e fez todo o esforço pra que ele seguisse essa carreira. Mas essa nunca foi a vocação dele. Tanto que ele deu sequência no negócio do meu avô. Somos em três irmãos. Além de mim tem Marcelo, que é de 63, e tem o Luiz que é de 64. A família toda está dentro do comércio. Tivemos um pai-patrão e fomos explorados desde a mais tenra idade (risos). Nesse processo em que meus avós queriam que meu pai fosse juiz, por problemas da época, não deram sequência na empresa, na Casa Brasileira. Meu avô teve um começo de vida muito difícil. Imaginar Olímpia no meio do século passado, no período da Segunda Grande Guerra, na época do gasogênio, na época em que os sertões do Estado de São Paulo ainda estavam sendo desbravados... Houve todo um crescimento. Um crescimento que era no dia-a-dia, no trabalho. Acredito que essa braveza da minha avó era por causa das lembranças do passado. Quando se chegou num determinado nível, ela tinha medo de perder aquele status. E tudo calcado no trabalho, nunca em cima de nenhum tipo de falcatrua, nenhum tipo de negociata. Ela levava tudo ali firme, muito firme. Encerrou a empresa e daí meu pai foi trabalhar de caixeiro, vendedor aqui em São Paulo. Depois de muita briga, meu avô conseguiu convencer a minha avó e meu pai começou o negócio dele que é a Casa Campos. CASA CAMPOS A Casa Campos começou em 1961, em Campinas, na Avenida Campos Sales. Uma loja modesta. Se a Casa Brasileira faturava 100, meu pai retornou para o negócio faturando um. Teve que recomeçar praticamente do zero. Ele se casou, eu vim logo na sequência, daí ele se mudou para um outro ponto, que era do meu avô, na Rua Treze de Maio, com uma loja maior. Meus avós reabriram um negócio menor chamado Casa Blumenau, vendendo basicamente confecções da região de Santa Catarina, de Blumenau, confecções, as malhas famosas Hering, Sulfabril, Malwee, todas as marcas já consagradas ao longo do tempo. INFÂNCIA Minhas lembranças de infância são que na Campos Sales tinha a loja da minha avó, a Casa Blumenau. O quintal no fundo, com galinha e cachorro, um corredor ligando essa loja. A Casa Campos ficava na outra rua, na Treze de Maio. No primeiro andar moravam meus avós e nós morávamos no segundo andar. Na época que se trabalhava de segunda a sexta, das oito às dezoito horas. Campinas naquela época, década de 60, início da década de 70, era uma cidade com pouco mais de 200 mil habitantes. Não tinha essa configuração de cidade de hoje com um milhão e cem mil habitantes. Era muito mais restrita, as pessoas se conheciam mais, tinha um caráter muito mais acolhedor. Onde nós morávamos não era nenhum palacete, mas também não era nenhum local que nos faltasse alguma coisa. Era pequeno, mas era tranqüilo. O que me lembro de criança é de ficar o dia inteiro dentro da loja, pra cima e pra baixo. Ajudava uma coisa pra cá, uma coisa pra lá. Saíamos muito com a minha mãe. Minha mãe é professora de história aposentada pelo Estado. Durante todo o início da vida, na época em que o professor tinha um outro status dentro da sociedade, um outro posicionamento, foi ela que sustentou a casa e deu a segurança pra que o papai pudesse evoluir dentro do negócio. Então, se não fosse pela participação da minha mãe, no início, nessa época, a situação em casa seria muito mais complicada. Ela sempre foi muito presente e muito correta. Como é que eu vou colocar a figura da minha mãe? Muito cobradora, sempre cobrou muito. Cumprindo seu dever dentro da escola e todos os afazeres da casa. A gente ia passear com ela onde é hoje o terminal central de ônibus. Era o Parque do Viaduto Miguel Vicente Curi. Tinha os cisnes e tinha o maior relógio solar da América Latina. Hoje está no Parque do Taquaral. Tem um bosque que ainda existe em Campinas, o Bosque dos Jequitibás é que é o único remanescente de Mata Atlântica dentro da cidade. Está meio judiado, mas ainda é um local muito bonito. Pra quem gosta de Ramos de Azevedo é uma das suas primeiras obras; lá e mais algumas praças da cidade, Largo Carlos Gomes. A minha mãe, pra aguentar três moleques dentro do apartamento, não era fácil. Outra coisa que me vem a lembrança é que essa Avenida Campos Sales, uma avenida bonita, larga, em paralelepípedo, era duas mãos; hoje é uma mão. Então, para os mais antigos em Campinas é do tempo que a Campos Sales era de duas mãos ainda. COMÉRCIO DE CAMPINAS O maior distribuidor de secos e molhados da época era o Pires Atacadista. Tinha um movimento fantástico. Eu sempre gostei de armazém com aquelas castanhas, aquelas frutas secas, bacalhau, queijos, vinho, azeite, pão. São boas lembranças. A primeira loja do Eldorado foi em Campinas, na Avenida Senador Saraiva, que depois pegou fogo. O supermercado nunca mais voltou. Lembro que quando o Eldorado veio pra a cidade foi um avanço pra época. Outro avanço foi o funcionamento do comércio no sábado após o meio-dia. Foi uma revolução. Isso causou furor na cidade. E depois, tentou abrir aos domingos e não conseguiu. Na época não tinha legislação que permitisse que ele trabalhasse. As casas tradicionais da cidade eram ali na Rua Treze de Maio. A Casa Lorde, Calçados Eduardo, Casa Ezequiel, Casa Picoloto, Secato, Pitar, e tinha a nossa vizinha, que era Binoca. E mais a Casa Tomé, na nossa frente, a Ultralar, também na nossa frente, Casa Paratodos, as Lojas Americanas, com a lanchonete no meio da loja... Quando eu trabalhava no final de ano, o máximo pra mim era poder comer um sanduichinho lá; o Clube Social era um sanduiche frio, não tinha nada demais, mas pra mim era uma festa. Lembro da Casa Armani, na esquina da Treze de Maio com Senador Saraiva, tinha só quinquilharia, canivete, relógios. Tinha a Sears... A Sears tinha uma loja muito grande lá, mais tarde teve a Murici, então, tem toda uma história ali que deixa saudade. No fundo tinha a Casa Raia, artigos esportivos, a Baby Calçados, Casa Golgo de calçados. Onde está a C&A, hoje, no passado, que eu me lembro era uma área de estacionamento. Tem o Giovanetti, o Restaurante Rosário... Na época era o Bar e Restaurante Rosário. Tem o Éden Bar, Café do Ponto, tinha o Mercado Central. O Mercado Central hoje está meio judiado, mas na época tinha uma grande variedade de produtos, antes do advento dos supermercados, que vieram de uma maneira muito forte, de uma maneira muito marcante. Hoje, em frente ao mercado, tem um terminal de ônibus urbano. Antigamente era um terreno que estava destinado para a construção da Câmara Municipal e isso nunca se concretizou. Eu lembro que veio o circo e se instalou ali. Isso é coisa de 67, 68, faz tempo, faz tempo... (risos) TRANSPORTE Esporadicamente, meu pai e meu avô iam a São Paulo por necessidade comercial, para questão dos negócios e na condução da negociação com as sedes das grandes empresas. Iam de ônibus ou trem. Tinha o Cometa e a Litorânea. O trem era da Paulista. Ir pra São Paulo de trem eu não me recordo. Me recordo de ir para Torrinha, interior do estado. Pra São Paulo já me recordo mais do “cometão” que saía da Campos Sales perto do Fórum. Só ia pela via Anhanguera, cheia de curvas. Pra uma criança, Campinas-São Paulo era uma distância que não acabava mais. FORMAÇÃO O pré-primário e o primário eu fiz na Barão do Rio Branco, uma escola de origem alemã. Era no centro da cidade, próximo ao Viaduto Miguel Vicente Curi, na Rua Visconde do Rio Branco. Foram cinco anos ali. A quinta e a sexta séries fiz no Colégio Estadual Vitor Meireles que fica no bairro São Bernardo. A sétima e a oitava séries fiz no centro da cidade, na Escola Normal Carlos Gomes. O colegial fiz no Colégio de Aplicação Pio XII e a faculdade eu fiz aqui em São Paulo, na Poli da USP [Universidade de São Paulo]. Nunca fui induzido pra lá ou pra cá. Quis seguir a carreira militar, entrei na escola preparatória de cadetes, mas não tive sequencia. Então fui fazer engenharia em São Paulo, fiz a Poli. Nunca tive nenhum tipo de cerceamento na família. Sempre gostei do comércio. A vida inteira gostei e não me imagino fazendo outra coisa, apesar de estar hoje numa outra etapa da vida, dentro de uma ocupação pública. Sou deputado federal, mas não me imagino fora do balcão, fora do varejo. ADOLESCÊNCIA No nosso caso específico, existia uma diferença muito acentuada em relação aos nossos colegas: fora do horário de escola, estávamos na loja. Mas quando dava, a gente fazia o normal de todo mundo: jogar bola, sair, ir ao cinema. FAMÍLIA Sou casado há 14 anos. Minha mulher é de Campinas, a Adriana, é arquiteta e tem uma loja de artigos para decorações e confecção de cortinas; produtos pra decoração, sempre com tecidos. Tenho dois filhos, um com três anos, o Guilherme, e uma menina com dois anos, a Mariana. A primeira vez que eu vi a Adriana foi no casamento do meu irmão Luiz. Começamos a ter alguma coisa junto mesmo em Camburiú, Santa Catarina, não na cidade de Campinas. Hoje ela diz que se casou enganada porque na época eu não tinha nada de carreira política na vida. Agora virei político e ela diz que eu a enganei (risos). POLÍTICA Nunca me imaginei estar onde estou. Meu pai sempre gostou de política. Ele foi presidente da Associação Comercial de Campinas durante 22 anos. Foi candidato a prefeito de Campinas em 76 e viveu uma das maiores desilusões da vida dele; levou alguns anos pra ele se recuperar do resultado eleitoral que teve. Analisando a política, hoje, meu pai não tinha o perfil pra ser político. Ele sempre foi um homem público. Isso sim, um homem público sem mandato. Ele era ativo, marcante, sempre sem meio termo: ou o adoravam ou o odiavam. Pôde exercer mais na plenitude a sua função de homem público na Associação Comercial. Com a morte dele, eu passsei a frequentar as entidades de classe. Primeiro dentro da câmara de dirigentes lojistas, onde eu fui presidente, e depois dentro da associação comercial, onde eu comecei como diretor, vice-presidente e presidente. Estou ainda hoje na associação. Eu estou no meu terceiro mandato da associação comercial. Eu fui pra Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo, onde por oito anos eu fui o vice-presidente da Regional de Campinas. Com a minha eleição, eu deixei de ser o vice-presidente da Regional e estou na Executiva Estadual como vice-presidente. E a partir da participação política na cidade, ganhamos algum destaque. Tem outro fator que é preponderante e decisivo nisso: eu sou amigo de faculdade do atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; nós somos contemporâneos de Poli, ele estava a duas turmas na minha frente, mas desde aquela época nós mantemos contato. Depois os contatos se estenderam na associação comercial e a partir daí, surgiu uma oportunidade dentro do partido, o PFL [Partido da Frente Liberal], o atual Democratas, por uma mudança de comando local e ele veio para mim. Pudemos trabalhar dentro do partido, houve todo um processo de negociação na campanha à prefeitura de Campinas, onde eu saí vice do atual prefeito, que é o Doutor Hélio, do PDT [Partido Democrático Trabalhista]. Então, na primeira eleição fui vice do Doutor Hélio e na sequência veio a oportunidade de ser candidato a deputado federal. Tive a felicidade de ser eleito e a possibilidade de ter sido ajudado por Gilberto Kassab, que é o grande responsável por eu estar onde estou. FUNCIONÁRIOS A loja começou com dois funcionários. Hoje pegando todas as empresas varia um pouco de 90 a 100 funcionários. Chegou a ter mais de 300. O começo da história da Casa Campos, em 61 foi difícil, pré-revolução, um período cheio de altos e baixos. Mas teve um crescimento a partir do final da década de 60 até final da década de 70. Foi muito acentuado, muito acentuado mesmo. A partir do momento que meu pai foi pra Campos Sales, que era uma loja de 500 metros de chão e que se uniu a outro imóvel do meu avô em 71, 72. E a Casa Campos foi crescendo. Foi crescendo em cima de uma oportunidade. Na época, em função da cidade ter uma influência muito grande na região, conseguia atrair muita gente. A indústria não tinha uma política de comercialização tão pulverizada como tem hoje, então, surgia oportunidade de negociar e trazer muita mercadoria, muita oportunidade. Existia muito daquela questão da compra de oportunidade, então, se negociava grandes lotes, grandes volumes e podia se trabalhar. Outra grande diferença do passado para o presente é a carga tributária. A carga tributária no passado era infinitamente menor que a carga tributária de hoje e no passado o percentual da sonegação ou da informalidade, era muito menos representativa. Hoje não. Hoje no varejo a participação da informalidade, que além da sonegação, traz um porta-bando, traz a carga roubada, traz um monte de outras ações que dificultam demais para quem a vida inteira foi formal e se pautou por essa característica. No final da década de 70, com o crescimento muito representativo, era a maior loja de varejo de Campinas. Foi marcante, começou com tecidos de cama, mesa e banho. Notabilizou-se pela cama, mesa e banho. Depois foi abrindo outras frentes, trabalhou com brinquedo, presentes, perfumaria e cosméticos, móveis, decoração. Mas o carro chefe, a referência, é cama, mesa e banho. Teve lanchonete, na década de 80 até seus meados, até o Plano Cruzado mais precisamente e trabalhou com supermercado. E sempre de uma maneira muito agressiva, muito marcante na questão dos preços, do sortimento. Era uma referência mesmo, numa época em que não existiam tantas opções de varejo como hoje. Não só em Campinas como em todas as cidades do Brasil. Então, o seu auge foi no final da década de 70 e início da década de 80, onde teve mais de 300 funcionários. A partir de meados da década de 80, uma experiência não muito feliz de uma filial aqui em São Paulo, inicialmente na Rua 25 de Março, depois na Rua Direita, nos trouxe um revés muito forte. Voltou novamente pra Campinas, se concentrou, se recuperou e foi trabalhando. Um período difícil pra nós foi o final da década de 80 por essa característica do meu pai de homem público. Ele abraçava algumas causas e foi presidente do Aeroclube, dirigente da Ponte Preta, foi diretor do Hospital Cândido Ferreira - que é um sanatório em Campinas - e foi finalmente provedor da Santa Casa de Misericórdia. Ali houve vários problemas - não vamos detalhar - mas isso trouxe uma série de problemas para a empresa e para o meu pai. Culminou com a morte dele. Foi uma morte por desgosto, principalmente pelo acontecido na Santa Casa de Misericórdia. A partir da década de 90 houve um novo reposicionamento de mercado. Focamos mais nas lojas de shopping, entrando na comercialização de produtos pra classe média alta, abrindo mão do mercado dos produtos populares, onde pra você ser competente, tem usar alguns artifícios que nós não nos sujeitamos. Então, nós abrimos mão desse tipo de mercado e nos concentramos num outro tipo de atividade que dava condição de sobrevivência. Passamos a ter uma loja no Shopping Iguatemi de Campinas. No início da década de 80, abrimos mais outra loja num shopping que fica entre Santa Bárbara e Americana, o Tivoli Shopping. Abrimos outra loja no Maxi Shopping de Jundiaí. Hoje temos uma loja no Shopping Eldorado, que trabalha com o nome de uma marca que nós desenvolvemos. A loja se chama Domani. Abrimos uma loja no Cambuí e fechamos, em outubro de 2006, a nossa matriz na Rua Treze de Maio, depois de 45 anos de funcionamento. Isso aconteceu por causa da configuração do mercado. MUDANÇAS Hoje o mercado é muito mais vendedor do que comprador. Comparando a década de 70 com os dias de hoje, o nível de opções para o consumidor é incomparavelmente maior do que era. É o horário de funcionamento, por exemplo. No passado era de segunda a sexta das 8 às 18, sábado até o meio-dia e se ganhava dinheiro. Hoje é 24 horas o ano inteiro, acabou. Eu, enquanto trabalhador do comércio sou contra, mas reconheço que dificilmente vai ser revertido esse novo cenário. Além disso, agora tem os meios eletrônicos de compra. No nosso setor, que é o de cama, mesa e banho, não tem uma presença expressiva, porque o consumidor, que é em 99% a mulher, quer ver, quer sentir, quer ter um contato mais íntimo com aquela peça que ela leva pra sua casa. Não é tão fácil, tão frio assim na compra como uma mercadoria da linha branca, uma commodity de mercado; é uma mercadoria que ainda tem muito o apelo emocional. Todas essas transformações nós vimos. COMÉRCIO DE CAMPINAS A transformação da cidade é extremamente vigorosa, é muito impactante. E eu sou inconformado com o estado de degradação que ficou o centro da cidade de Campinas. Isso, por desleixo dos proprietários, por um comodismo das autoridades públicas. E para um aproveitamento, primeiro das necessidades daqueles que tem que achar um meio de sobrevivência, segundo por espertos, na sua maioria fora da lei, que em cima das necessidades dessas pessoas as colocam nas ruas pra exercer todo tipo de atividade. E o centro da cidade foi sendo deixado pra trás, quem tinha uma melhor condição ia embora e deixava lá. Quem assumia, assumia naquela configuração e convivia com aquilo que era irregular e a operação de resgate da região central de Campinas ainda não começou. São Paulo está na frente em relação a isso. “A cidade limpa”, que deu uma mudada na cara da cidade de São Paulo. O processo de revitalização do centro da cidade. O que se sente do Brasil como um todo é um processo de restauro do centro, um processo de retomada do centro da cidade. O centro de cidade é a alma, é o que dá personalidade, é o comércio local que tem a cara da cidade. Sou um fora da curva, porque eu gosto do comércio de rua. Hoje a grande maioria prefere o comércio em shopping centers, que na minha avaliação pessoal, não profissional, é um comércio pasteurizado. Aquele padraozão. Em qualquer lugar que você vai é tudo igual. Já no comércio local, as pessoas que operam ali, são as pessoas da cidade, são as pessoas que você tem um contato. Tem a personalidade da cidade mesmo. Sentimos isso ainda em boa parte das cidades do Estado de São Paulo que nós temos a oportunidade de visitar. Ou enquanto político, ou enquanto dirigente de entidade. Sentimos nas suas festas, nos seus eventos aquela característica marcante dos centros de cidade. Mas do jeito que está evoluindo o comércio pelo mundo, o que vai ser? A grande organização que vai para as cidades com incentivos, atrativos, isenções e o dirigente público local acha que isso está levando ao progresso. Não Ele está dizimando uma parcela expressiva do comércio da sua cidade. O grande tem que trabalhar em igualdade de condições.Não pode vir com toda a presença que vem, onde uma loja em duzentos pode dar prejuízo. Mas para a loja daquele comerciante que está brigando com a grande loja significa a ruína. E as grandes franquias? Você deixa de ser dono do seu próprio negócio pra ser um operador de franquia. É o que tem ficado no comércio como uma característica marcante e alguns sobreviventes locais conseguindo se manter ao longo de todas essas transformações. ATENDIMENTO Para garantir uma possibilidade de escolha para o cliente, ter o sortimento, sempre nos baseamos na qualidade e no compromisso daquilo que está se vendendo. Sempre atualizado, sem esquecer a inovação. Atualização nas lojas, atualização dos produtos, atualização dos meios de pagamento, atualização nas formas de aproximar o cliente ainda são marcas da nossa empresa, que vende há muito tempo. É o atendimento do vendedor que funciona. Você é atendido por uma pessoa especializada da loja e a característica de estar sempre presente no dia-a-dia do processo, no dia-a-dia da loja. Estar sempre presente, acompanhando a venda, acompanhando o pós-venda, acompanhando o cliente, acompanhando os funcionários, pra que se tenha dentro do estabelecimento aquilo que esteja em consonância com o que o cliente quer. Fazemos treinamentos periódicos e temos uma característica: o funcionário que está conosco, principalmente funcionário de venda, é um funcionário que fica 10, 20, 30 anos junto com a empresa. Então tem essa adesão ao tipo de comercialização da empresa. FIDELIDADE Já foi mais marcante no passado. Hoje não tem tanta fidelização, mas nós temos a oportunidade de ser o primeiro nome na cabeça das pessoas da nossa região quando o assunto é produtos de cama, mesa e banho. E temos a oportunidade de ter a mulher que veio com avó, depois com a mãe ou está com a filha. Então é o tipo de produto em que a influência da família é muito forte. É o tipo de produto ligado ao lar. A mulher que inicia a sua vida enquanto esposa, enquanto mãe, que gosta de ajeitar a sua casa, depois passa isso pra frente. Então, nós temos essa característica de sermos os primeiros lembrados e temos que aproveitar essa oportunidade. E reconhecemos que hoje todos os clientes têm a oportunidade de experimentar em outros lugares. Dizer que só compra com você é mentira, tem sempre uma oportunidade aqui ou lá. Nós temos de nos preocupar em atender bem. Como é o nosso lema. FORMAS DE PAGAMENTO Hoje, especialmente nesse segmento que nós trabalhamos, o grande meio de pagamento é o cartão de crédito, parcelado. Depois vem o cartão de débito e por último o coitadinho do nosso dinheiro. Saudade do tempo que se pagava em dinheiro, que se contava nota (risos). Era algo gostoso pra quem trabalhou no caixa. Contar dinheirinho, fazer o troco é uma das lembranças que eu tenho do passado. Minha avó no caixa da loja pedindo para o cliente ou um ou dois pra arredondar, pra trocar nota, pra poder acertar o caixa... Eu tenho a mania de observar como é que a operadora de caixa está trabalhando, na hora que ela abre a gaveta, se a gaveta dela está bonitinha, as notas todas do jeito assim, aquela é uma boa caixa, aquele caixa que está com tudo, tem que ter método para o caixa. E hoje é o império do cartão de crédito. O varejo é o grande financiador do cartão de crédito. No passado, primeiro a venda era à vista, no dinheiro; depois se iniciou a venda à crédito e o meu pai entrou na associação comercial, porque os mecanismos de proteção ao crédito eram muito incipientes. Foi quando se iniciou o processo dos SPCs, Serviço de Proteção ao Crédito, dentro das entidades. Ele foi lá pra poder sistematizar um processo. A presença de Campinas foi muito marcante em cima de um contexto do Estado e mesmo do Brasil, de um sistema que está aí hoje, que é o melhor sistema de informações de crédito da pessoa física do Brasil. Esse sistema das Associações Comerciais e das Câmaras de Dirigentes Lojistas, pra poder se implementar a venda à crédito, do famoso crediário, o carnezinho. Isso teve uma presença marcante na década de 70, década de 80. A partir do controle da inflação houve um decréscimo do carnê e uma ascensão do meio de pagamento eletrônico, principalmente, o cartão de crédito. O cheque morreu. Não existe mais o cheque. O cheque é um instrumento de pagamento que praticamente acabou. Quem tem um cartão próprio, um crediário próprio, arca com os riscos da sua inadimplência. E varia um pouco de setor pra setor, mas via de regra, a questão da inadimplência ficou para as operadoras de cartões de crédito. Só que nós pagamos e pagamos muito mais do que é a inadimplência real. Isso é um grande negócio, cartão de crédito é um grande negócio. Hoje nenhum cliente pede tanto o “fio de bigode”, porque pra ele é mais fácil, mais prático usar um meio de pagamento eletrônico qualquer. O “fio de bigode” está em desuso há muito tempo. Eu praticamente posso dizer que não peguei essa fase. É uma fase que ficou na geração do meu pai. No passado a inadimplência não era da dimensão de hoje. No passado, as comunidades eram menores, as pessoas se conheciam mais. A questão de “eu sou pobre, mas tenho o meu nome limpo”, era muito mais forte, era muito mais marcante. Hoje existem os profissionais do calote, que se escondem em cima das proteções legais. Foi dada muito mais proteção pra pessoas que não mereciam. Do mesmo jeito que pode existir maus comerciantes, existem maus clientes, que fazem o uso indevido das proteções que o Código de Defesa do Consumidor garante. PROPAGANDA A grande publicidade da empresa sempre foi uma agressividade em cima de ofertas e compra de oportunidade. Era o grande chamariz da empresa. E meu pai fez durante muito tempo um trabalho junto às professoras. No aniversário delas ele mandava uma muda de rosas. Na época, a configuração da cidade permitia um tipo de ação dessas. Isso foi uma ação marcante, que ainda hoje as pessoas se lembram. “Tem uma rosa que seu pai mandou para mim no meu aniversário.” Das ações promocionais não há nada de diferente, mas a mais marcante pra mim é essa das rosas. Fazíamos liquidações 365 dias do ano. É um processo de compra de oportunidades. Ir até os fabricantes. Algum produto com algum problema de comercialização, um produto com pequeno defeito, algum produto que teve a sua exportação comprometida. Os grandes lotes. Dava pra fazer negociação com grandes preços. Com a evolução dos processos produtivos e dos controles, esse tipo de oportunidade foi ficando cada vez menor. Hoje o que se tem é uma produção muito mais programada, muito mais equilibrada com a oferta. Não existem mais aquelas diferenças que existiam no passado. Também pela diversidade de distribuidores. As indústrias hoje não se sujeitam mais a uma negociação mais agressiva. O grande mote do grande aumento foi isso daí. Fazendo uma comparação, o que era Blumenau no passado é o que seria a China hoje. Era uma coisa diferente. Você tem que ir até lá pra acertar e na China, pra empresas do nosso tamanho, é extremamente complicado. Não tem volume, não tem a possibilidade de estar sempre lá pelo custo de toda essa operação. Hoje o que se trabalha em cima do desenvolvimento de coleções, se trabalha em cima do desenvolvimento de uma programação ao longo do ano e de um processo mais programado mesmo. Você tem as oscilações, as sazonalidades e trabalha em cima disso. MARCA Essa marca nasceu há quase 10 anos de um consórcio de empresas do nosso setor. É um empresa de Santa Catarina, a Casa Flamingo, uma empresa de Minas Gerais, a Enxovais Donato, nós e uma empresa de Blumenau, a Casa Blumenau.Todas do mesmo setor, todas com características muito parecidas.Também, as segundas e terceiras gerações do comércio, que por uma necessidade do mercado precisavam ter um diferencial. O diferencial foi a marca e todos juntos conseguimos ter um tamanho que é interessante pra ir aos fornecedores. Nós determinamos aquilo que tem que ser produzido, como tem que ser produzido e nos abastecemos. É um diferencial nascido dessa oportunidade de usar toda essa rede de lojas pelo Brasil. Esses produtos representam dentro da Casa Campos algo em torno de 40% do faturamento. É um produto do médio bom, ao médio. Tirando aquele top de linha nesse nicho de mercado. É um produto bom, saindo daquele daquela commodity dos produtos. Aquele produto que você vai na padaria, compra, te atende, mas não tem uma durabilidade maior, uma característica mais elaborada, não tem um requinte maior. E nós procuramos isso: um produto do médio para o bom, ocupando uma faixa que hoje no mercado não é tão explorada pela indústria, porque a indústria se preocupa muito mais com o grande volume pra que possa dar a ela condição de tocar as suas empresas. INFÂNCIA Eu realizava todas as atividades na loja quando era criança. Limpeza, estoque, venda, cobrança, liberação de cheque, administrativo. Só uma que eu nunca tive habilidade: fazer pacote pra presente. Essa aí eu nunca consegui. Reconheço que eu morreria de fome se dependesse disso (risos). EMBALAGEM Nós tínhamos um papel, na época, que era bem marcante. Era um listrado azul, vermelho e beje. Eu achava um negócio muito exuberante, mas funcionava, o povo gostava. Tinha também o papel pardo para os grandes volumes. Aquele papel mais grosso que servia para os volumes maiores, evoluindo, depois para o saquinho de papel e finalmente no que está aí hoje, que é uma grande discussão da questão do meio ambiente, se degrada ou não degrada, a sacola plástica, que vem ocupando o varejo nos últimos 20 anos de uma maneira marcante. CLIENTES No passado você tinha que preparar bem cedo a loja. Ela abria às 8 horas. As clientes vinham das 8 até 10 horas e tinham que voltar rápido pra casa, pra fazer o almoço. Só voltava a ter movimento das 3 até as 6 horas. Então tinha essa característica e os produtos não eram tão práticos. Hoje a praticidade é um grande definidor da compra. Então, tem que ser um produto, além de bom, bonito, encantador, prático para o dia-a-dia. Você não pode pensar naquela cliente que tinha a ajuda daquela senhora passadeira, que ficava ali durante três horas só pra engomar o tecido do lençol. É essa a mudança da mulher inserida no mercado de trabalho, buscando a praticidade. Hoje a mulher é muito mais objetiva naquilo que quer. Apesar de ser mulher e gostar de olhar as coisas, é bem diferente do passado. No passado, a compra da mulher era mais extensa, ela gastava mais o tempo olhando os produtos. Hoje não. Ela já tem mais ou menos na cabeça o que ela quer. DESAFIOS O grande desafio no nosso setor é o inverno. Por causa da sua sazonalidade. No passado, pelas características de produção, tinha de se fazer um grande estoque de cobertores. Isso era como safra. Quando o preço da batata está lá em cima todo mundo tem dinheiro, quando o preço da batata está lá em baixo todo mundo perde dinheiro. Com a ausência do inverno, você podia contar que ia ter uma dureza durante muito tempo. Um inverno ruim só era compensado por quatro invernos bons. Sempre foi um grande desafio, sempre foi uma aposta. Você tinha que comprar apostando que ia fazer frio e tinha que fazer frio nas épocas adequadas pra ter frio, que era no início de maio, junho e julho. Não adianta fazer frio em agosto que não resolve nada. E no passado recente, a questão da informalidade. A informalidade é o grande desafio; como sobreviver com a informalidade. CIDADES / CAMPINAS/SP Campinas tem hoje uma grande vantagem, que foi a sua grande desvantagem no passado: estar perto de São Paulo. São Paulo que tem um peso específico, uma intensidade, uma luz, que nos coloca sempre em segundo plano. Campinas em qualquer outro lugar do país seria capital, mas por estar perto de São Paulo ela começa a ter algumas vantagens, que São Paulo não tem mais. São Paulo está quase saturada nas suas oportunidades, quase saturada na sua capacidade de receber mais gente, receber mais investimentos. Está se voltando especificamente para o setor de serviços, está virando uma cidade cosmopolita. São Paulo está fora da curva, é uma cidade de classe mundial. Campinas e região estão trazendo uma série de investimentos, principalmente investimentos na área de tecnologia, investimentos voltados à pesquisa científica. Tem se consolidado como pólo de serviços e na área do comércio tem se consolidando como um setor que é referência para o país. No passado, era muito centralizado no centro comercial de Campinas. Nos últimos anos, houve fortalecimento do comércio nos bairros da cidade de Campinas e das cidades circunvizinhas. Hoje, pra se fazer a compra do dia-a-dia, qualquer uma das localidades te atende e muito bem; qualquer uma, indistintamente. Agora, se quiser ter um programa mais elaborado com lazer, com compra, com cinema, com restaurantes, a cidade de Campinas ainda é a grande atração. A cidade de Campinas está inserindo uma região metropolitana com mais outras 18 cidades. Campinas que tem hoje um milhão e cem habitantes e na sua região metropolitana são dois milhões e meio. Ela tem uma influência numa área de mais de 90 cidades do Estado de São Paulo, tem todo um atrativo que a torna uma cidade extremamente privilegiada para o futuro, tem condição de crescer, porque tem área pra crescer. O trânsito não está tão saturado como está em São Paulo, a questão de abastecimento está com condições de absorver um crescimento. Na questão do saneamento, vêm sendo feitos investimentos. Nós estamos próximos de 70 a 75% de investimentos para o tratamento de água e 100% para os próximos 30 anos. O crescimento da cidade foi muito acentuado. Hoje mais da metade da cidade não nasceu na cidade de Campinas, veio de fora. É uma região que foi desbravada. Olhando no mapa você tem o centro de Campinas, a Anhanguera e depois a Bandeirantes. Campinas estava aqui, acabava aqui na Anhanguera, depois chegou na Bandeirantes e hoje extrapolou criando aí 50% da população da Anhanguera pra lá e 45% pra cá. É uma cidade que inchou, não cresceu. Cresce quando é com planejamento, com um norte a ser seguido. Ela não. Ela foi indo no barranco, já que as autoridades da época não conseguiram dar conta desse afluxo de pessoas, de trabalhadores que vieram em busca de oportunidades. Agora está se acomodando e colocando a sua dívida social em dia. É uma das regiões que mais cresce no país e até do mundo. A questão da tecnologia é algo que salta os olhos dos institutos de pesquisa do Estado de São Paulo, a grande maioria está centralizada lá. A pesquisa agrícola no Brasil nasceu no IAC, são 112 anos de existência do Instituto Agronômico de Campinas, tem lá o laboratório do Síncrotron, o ITAL [Instituto de Tecnologia de Alimentos], o CPqD [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações], a Fundação Luís Archer, o Instituto de Zootecnia aqui na cidade visinha de Nova Odessa, a UNICAMP, a PUC, todo um caldo de cultura e tecnologia que atrai, cada vez mais, empresas de tecnologia pra região. Outro diferencial é o Aeroporto de Viracopos. O Aeroporto de Viracopos tem sido aproveitado de uma maneira muito inteligente e produtiva para o setor de cargas, principalmente, cargas de maior valor agregado, tanto para importação quanto para exportação nos setores de tecnologia de informação e telecomunicações. MEMÓRIAS DO COMÉRCIO DE CAMPINAS A Casa Campos é uma das sobreviventes locais do comércio de Campinas. Nós vamos sobreviver. Vai passar ainda por um período de muitas transformações, não vejo um cenário que seja tão claro ainda nos próximos anos. O varejo no mundo ainda vai passar por momentos de transformação. A questão do varejo eletrônico ainda no Brasil se posiciona de uma maneira um tanto incipiente. Vai evoluir mais, a nossa atualização vai ser constante, para a cidade somos um referencial muito forte, nós temos ciência disso e zelamos muito por isso. Temos uma honra muito grande de sermos lembrados e sermos uma referência dentro da cidade de Campinas. Apesar de tudo aquilo que vem acontecendo aí, de tudo aquilo que veio pra cidade de Campinas. Todos os empreendedores e os novos tipos de comércio que surgiram, principalmente, nos últimos 10, 15 anos, quando teve o grande afluxo de empresas do setor de varejo. Vamos achar o nosso novo tamanho, nosso novo foco, nosso novo nicho de mercado pra poder sobreviver; com certeza vamos. Conhecemos o ramo, conhecemos a clientela e não temos medo de trabalhar. Temos a equipe que está bem entrosada e sabe atender bem aos nossos clientes. E com certeza vamos estar presentes, quem sabe, pra frente, a outra geração que venha depois de nós e possa dar uma outra entrevista. Acho boa a iniciativa de promover o resgate da memória do comércio do Estado de São Paulo. O comércio da cidade de Campinas. Porque o comércio tem a característica da cidade, do local onde ele está. Ele tem essa personalidade, muito forte, muito marcante. O comércio é onde as pessoas tem um maior relacionamento; é um pouco diferente da indústria. Na indústria, quem se relaciona? Aquele que trabalha na indústria com aquele que vende para o varejo. O varejo é uma gama de pessoas que se relacionam todo dia, ao longo de todo ano. O comércio tem essa característica do relacionamento interpessoal. A minha apresentação, enquanto homem público, começa sempre do jeito que eu comecei aqui hoje: sou comerciante, filho de comerciante, neto de comerciante.
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