P/1 – ...Que a sua loja é muito antiga!
R – É uma das mais velhas
P/1 – É uma das mais velhas. É verdade. 68 anos?
P/1 – Nós gostaríamos de agradecer a sua presença como participante do nosso projeto e gostaríamos que o senhor nos dissesse seu nome completo, local e data de nascim...Continuar leitura
P/1 – ...Que a sua loja é muito antiga!
R – É uma das mais velhas
P/1 – É uma das mais velhas. É verdade. 68 anos?
P/1 – Nós gostaríamos de agradecer a sua presença como participante do nosso projeto e gostaríamos que o senhor nos dissesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – É Roberto Alceu Bevilacqua. Nasci dia 23 de Agosto de 1950.
P/1 – Em que local?
R – Campinas.
P/1 – Campinas... Qual os nomes dos seus pais?
R – Antônio Bevilacqua
e Rute Castilho Bevilacqua.
P/1 – A origem da sua família pelo lado paterno?
R – É, o lado paterno, os meus avós eram italianos. E materno, o meu avô era descendente de espanhol e a minha avó de português.
P/1 – O Senhor lembra-se deles?
R – Não, eu só conheci a minha avó, as duas avós. Os dois avôs não.
P/1 – E elas contavam como vieram, mais ou menos o período que vieram?
R – A minha avó paterna, ela veio criança. Mas, assim, não lembro dela... que ela morreu, eu era pequeno. Agora eu convivia mais com a minha avó materna.
P/1 – E o que ela contava?
R – A minha avó, ela tinha vários irmãos. Alguns nasceram aqui e outros em Portugal, porque eles ficavam viajando. Eu não sei porquê, meu avô viajava daqui pra lá e vice-versa. Então ela tem, um irmão é daqui, um irmão de lá, um irmão daqui um irmão de lá.
P/1 – E qual era a atividade deles?
R – Não sei. Eu não sei o que ele fazia.
P/1 – O seu bizavô. E a sua avó, o que fazia?
R – A minha avó, o meu avô trabalhava na Fazenda Boa Vista.
P/1 – Era agricultor?
R – Ele tomava conta da fazenda.
P/1 – Ah, tomava da fazenda...
R – É.
P/1 – E qual é a atividade profissional dos seus pais?
R – O meu pai sempre teve a loja. Desde 17 anos, ele trabalha lá.
P/1 – Foi ele que fundou a loja?
R – Não, o meu avô montou a loja e deu pra ele trabalhar, em 39.
P/1 – Em 39?
R – É.
P/1 – E desde então eles, a família...
R – Ele está lá desde quando montou a loja. O meu avô tinha um armazém ali na mesa rua, e pôs o meu pai pra trabalhar na loja.
P/1 – Então ele saiu da fazenda e foi trabalhar.
R – Não. Quem trabalhava, morava na fazenda era a minha mãe.
P/1 – A sua mãe.
R – O meu pai trabalhava aqui perto, na 13 de... na Campos Salles.
P/1 – Certo.
R – O meu avô tinha um armazém na 13 de Maio. O meu avô paterno.
P/1 – Certo... Porque que... O senhor sabe porque que eles vieram pra Campinas? Nesse movimento de saída das suas terras de origem?
R – O meu avô, o pai do meu pai, ele morou em Amparo um tempo, não sei o que ele fazia lá. Depois eles vieram pra Campinas. Aí ele montou um armazém aí. Mas que quando casou, ele casou em Amparo, porque meu pai nasceu lá, em Socorro. Eles moravam ali...
P/1 – Perto.
R – ...Perto. Ali em um lugar ali. Aí depois de um certo tempo ele montou uma loja e deu para o meu pai trabalhar.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe nunca trabalhou lá na loja. Minha mãe era do Lar, mesmo.
P/1 – Certo... Eles comentavam as impressões deles, que tiveram, quando chegaram aqui em Campinas? Porque que eles escolheram Campinas para viver, eles comentavam porquê?
R – O meu pai veio criança para cá. Acho que tinha... Era bem criança.
P/1 – E a sua mãe já estava aqui?
R – A minha mãe também. A minha mãe nasceu aqui.
P/1 – Nasceu aqui, já estava aqui. Ela era Campineira. então o senhor falou que nasceu aqui, nos contou que nasceu aqui. Em que bairro o senhor nasceu?
R – Eu nasci, eu morava no Cambuí, do lado do Regatas.
P/1 – então como era a cidade, o bairro em que o senhor nasceu, o senhor passou a infância? Como era? Fala um pouco pra gente.
R – que eu me lembro eu morava na Rua Baía Monteiro e era a última rua calçada ali do Regatas. Para baixo era tudo terra. A rua da minha casa era a única que era calçada ainda. quer dizer, daqui... para o centro. Para baixo já era terra. Isso eu lembro, quando era pequeno.
P/1 – E a cidade de Campinas, como é que o senhor via a cidade de Campinas?
R – Olha, que eu me lembro a cidade era pequena, porque o Cambuí acabava ali. Dali para baixo não tinha mais nada, tinha algumas ruas de terra. Aqui na vila tinha, que eu me lembre, tinha... (__?__) do mesmo jeito, né? A (__?__) industrial onde a gente está. Nova Campinas estava montando. O Castelo, até a escola de cadetes, depois... Que eu acho que é a mesma coisa até agora, né? Porque lá depois tem o exército. São Bernardo era o último bairro que tinha, que eu me lembro, depois não tinha mais nada. Campinas era pequenininha.
P/1 – O que o senhor gostava de fazer quando criança? Quais as brincadeiras que o senhor gostava de fazer?
R – Eu andava muito de bicicleta. Andava a cidade toda de bicicleta.
P/1 – Então a cidade era tranqüila para andar de bicicleta?
R – Era.
P/1 – O senor tinha muitos amigos?
R – Tinha.
P/1 – Quais eram as suas brincadeiras além da bicicleta?
R – A gente tinha carrinho de rolimã, que a gente andava bastante também. Depois que asfaltaram ali a rua de casa, porque antes era só terra. Mas isso eu já tinha um pouquinho mais de idade, quando asfaltaram.
P/1 – O senhor tinha muito amigos?
R – Ia muito no Regatas. Eu ia todo dia nadar. Todo dia eu ia nadar no Regatas, que eu morava a uma quadra.
P/1 – E o senhor ia sempre? Todos os dias? E o senhor ia com amigos para lá?
R – Tinha turma que ia. Todo mundo ali era sócio.
P/1 – E irmãos? O senhor tinha irmãos?
R – Tenho uma irmã. Uma irmã quatroi anos mais velha.
P/1 – E qual é a atividade dela?
R – Agora está aposentada. Ela casou, foi morar em Santos, agora mora aqui.
P/1 – ela não tinha nenhuma atividade no comércio?
R – Não.
P/1 – Não tinha outra atividade?
R – Não. O marido era médico e ela não trabalhava.
P/1 –
Trabalhava em casa. O senhor ia à lojas com a sua mãe? O( senhor fazia compras com a sua mãe?
R – Que eu me lembre, ia muito às Lojas Americanas. Comprar bugigangas, buscar carrinho. Eu adorava carrinho e a gente ia comprar.
P/1 – E quais outras lojas que o senhor, além das Lojas Americanas, como que o senhor lembra das lojas em Campinas?
R – Ia muito nas Lojas (__?__), que eu buscar peças de bicicleta. Mesmo naquela época, ele tinha um tio que tinha uma outra loja perto, ali na Três Avenidas, que tinha uma outra loja de bicicleta. Assim, que eu ia mesmo assim, que eu mais me recordo são as Lojas Americanas mesmo.
P/1 – E como eram as fachadas, como eram as lojas, a distribuição delas pela cidade?
R – Agora está voltando, tiraram as fachadas, né? Esse ano que passou agora, eles fizeram a limpeza na Treze de Maio, né? então os prédios voltaram a aparecer, porque estava tudo escondido com aqueles cartazes, né? Aquela fachada que andaram pondo.
P/1 – Como é que vocês compravam, na sua casa, compravam os gêneros alimentícios? Onde compravam e o que consumiam para o abastecimento da casa?
R – Olha, onde comprava eu não sei dizer pra você não.
P/1 – Não?
R – Eu acho que tinha o mercadão, né? Não tinha supermercado naquele tempo. Era só mercado velho, que eu me lembro. Tinham as mercearias, né? Na Barão... eu tinha um parente que tinha uma mercearia, que era antiga, que todo mundo conhece até hoje, a Seleta, que eu lembro que eu ia lá.
P/1 – E ela existe até hoje?
R – Não, não existe mais.
P/1 – O senhor se lembra da sua família, sua mãe, o senhor, a sua irmã, de fazerem compras em São Paulo? Irem a São Paulo para fazer compras de artigos?
R – Não. Só quando eu era adolescente que eu ia comprar roupa, mas quando eu era pequeno, não.
P/1 – Adolescente o senhor ia? Conta um pouco.pra gente.
R – Eu ia sempre comprar roupa, que era roupa da moda no caso, né? então eu ia com amigo meu, a gente ia comprar roupa em São Paulo, comprar sapato em São Paulo, apesar do meu pai ter loja. Mas a gente... era sapato da moda, então a gente ia buscar.
P/1 – E como vocês iam pra lá? Qual era o meio de transporte?
R – Ah, ia de ônibus.
P/1 – De ônibus, já? O senhor morou no Cambuí desde cedo.
R – desde quando eu nasci.
P/1 – desde quando nasceu. quais escolas que o senhor freqüentou?
R – A escola normal, que é na avenida Anchieta, depois eu fui pro Ateneu. Ateneu... Primeiro para o Cesário Mota, depois para o Ateneu, porque o Cesário fechou. Eles derrubaram lá, fizeram o centro de convivência ali em cima. Aí derrubaram o colégio e fomos tudo para o Ateneu.
P/1 – E assim, o senhor fez, o senhor cursou até...
R – Até o colegial.
P/1 –...Até o segundo grau. Havia na família do senhor alguma expectativa de que o senhor seguisse determinada carreira profissional?
R – Meu pai sempre queria que eu fosse médico. Era o sonho dele. Mas não era o meu. Nunca gostei disso.
P/1 – E o senhor já sentia inclinação para o comércio?
R – Eu sempre gostei de mexer com alguma coisa, né? Então depois que eu saí do quartel, eu trabalhei um ano no banco Itaú, depois fui para a loja. Aí não saí mais.
P/1 – E o seu trabalho na loja permitia? como era o horário do seu trabalho na loja? O senhor tinha um horário regular?
R – Eu procurava ir o dia todo. Mas sempre saía para fazer alguma coisa, né? Como até hoje, às vezes tem tanta coisa que a gente sai para resolver, então sempre foi assim.
P/1 – Na sua juventude, o senhor freqüentava bailes, festas, cinema...
R – Ah sim, tinha bastante em Campinas.
P/1 – Conta pra gente.
R – Tinha o Clube Concórdia, que tinha bastante baile. O Cultura, o Tênis. Depois, mais na adolescência, tinha
a Hípica, que tinha baile de carnaval. É que agora não tem mais, não tem mais nada disso.
P/1 – E cinema?
R – cinema tinha alguns no centro.
P/1 – Como era este costume de lazer?
R – A gente ia sempre no cinema, quando adolescente ia.
P/1 – Tinha algum momento especial, como era?
R –
Não, não, não tinha, assim, nem dia, nada.
P/1 – Na sua família, costumavam fazer viagens para outras cidades?
R – A minha mãe tem muito parente em São Paulo, então a gente ia bastante para São Paulo, na casa dos primos.
P/1 – E iam sempre com que transporte?
R – Sempre de carro.
P/1 – Sempre de carro?
R – Em Santos também. Meu pai tem parentes em Santos, a gente sempre ia pra Santos também.
P/1 – De carro. O senhor chegou a andar de trem?
R – Cheguei.
P/1 – Como era a viagem?
R – A minha mãe tinha um parente que tinha uma fazenda em Ibitiúva. Todas as férias a gente ia de trem para lá.
P/1 – Fala um pouco sobre a viagem, como era a viagem.
R – Era aquele trem que ia, assim, devargazinho, né? Então a gente almoçava no trem. Lembro que a gente ia de manhã, almoçava no trem e à tarde estava lá. apesar de ser perto hoje, mas de trem demorava.
P/1 – E a viagem era confortável?
R – Era, era gostoso.
P/1 – O senhor lembra qual era a companhia ou não?
R – Eu acho que era a Paulista. Se não tiver errado, eu acho era a Paulista. Pegava aqui do lado e, demorava não sei quanto tempo, a gente ia para a fazenda de trem. Porque, todas as férias, a gente passava um certo tempo na fazenda e um certo tempo em Santos, na casa das tias do meu pai.
P/1 – O senhor falou que, terminando o quartel, o senhor fez um ano de trabalho no Itaú.
R – No Itaú.
P/1 – O depois o senhor já começou a...
R – Já fui para a loja.
P/1 – ...para a loja. Antes disso, o senhor ia eventualmente ou não?
R – Na loja? Ia de vez em quando. Mas nunca ficava muito tempo lá, não. Ia só um pouco, fazia alguma coisa e ia embora.
P/1 – Como é que o senhor, quando começou o trabalho, como é que eram as suas atividades na loja? as funções do senhor na loja?
R – A loja é uma loja pequena, né? então... na loja eu sempre fiz de tudo, porque eu sempre gostei de fazer de tudo. Eu consertava as coisas, vendia, recebia, ia no banco. Fazia de tudo, sempre fiz de tudo.
P/1 – Como o senhor ia para o trabalho? Qual o meio de transporte que o senhor utilizava para ir para o trabalho?
R – quando eu comecei a trabalhar na loja eu já tinha um carro, eu já comprei um carro.
P/1 – Já ia de automóvel?
R – Já ia de carro.
P/1 – Próprio, né?
R – Próprio.
P/2 – E quando o senhor decidiu mesmo trabalhar na loja, o seu pai queria que o senhor fosse médico...
R – É, mas aí ele já tinha desistido.
P/2 – ele aceitou bem.
R – É, ele já tinha desistido.
P/1 – Qual era o horário de funcionamento da loja?
R – Sempre foi das oito às seis. Nunca foi diferente.
P/1 – Nesse período que o senhor entrou, o senhor devia ter uns 19, 20 anos.
R – É, 21.
P/1 – Então hoje estaríamos em 1972, mais ou menos?
R – É, 72.
P/1 – Por aí. Então o senhor poderia dizer como era Campinas naquela época? Fal um pouco sobre a cidade, o movimento da cidade.
R – Campinas era diferente do que é hoje. A gente conhecia todo mundo, a cidade era sossegada, tinha pouco carro na rua. A gente tinha, vamos supor, quando ia em algum lugar, conhecia todo mundo, no Tênis... à noite ia no Cultura. Tinham os barzinhos que tinham antigamente, tinha o Armorial que era assim mais para... Eu comecei a ir lá, eu era mais adolescente, mas era mais para o público adulto, que tinha piano, essas coisas, né? Que era ali na rua General Osório. Enfim, não tinha muita coisa pra fazer, mas era mais... era gostoso, a cidade era muito boa.
P/1 – E assim, nesta época de – já adulto, né, Jovem, a sua juventude mesmo -
quais eram os passeios que o senhor fazia fora esses? O senhor fazia passeios com a sua turma de amigos, viajava com a turma de amigos? Porque já é diferente. Um momento diferente.
R – Assim na adolescência, eu ia... às vezes eu ia pra São Paulo ou para a praia. Mais ia para
a praia, de carro, com a turma de amigo. Depois eu comecei a namorar, ia a namorada, ia o pai dela, coisas assim.
P/1 – Como é que foi o começo de namoro?
R – A minha esposa, quando eu comecei a namorar, o pai dela tinha um amigo que tinha uma casa em Bertioga. E a gente ia muito para lá. Do lado do CESC em Bertioga. Então a gente ia bastante. Todo ano a gente ia para lá, na casa. Ia a turma toda, né? O meu sogro tinha uma Kombi, então a Kombi ia também cheia de gente, além dos outros carros que iam.
P/1 – E como era a estrada para ir? Qual era a estrada que vocês já usavam?
R – Era a Estrada Velha de Santos. Não tinham essas duas pistas novas, né? Aquela estradinha.
P/1 – E daqui de campinas à São Paulo?
R – era Anhanguera já. Anhanguera, passava por dentro de São Paulo, depois pegar aquela estrada fininha para Santos, e Bertioga era aquela mais fininha ainda. Não tinha essa nova.
P/1 – Como é que o senhor conheceu a sua esposa?
R – Eu conheci na casa de uma amiga.
P/1 – Em que circunstâncias?
R – Tinha uma reunião lá, e eu fui lá e conheci ela lá. Tinha 20 anos. 21.
P/2 – Quando o senhor fala assim: “ia para a praia”, vocês iam para a praia e ficavam lá ou vocês faziam passeios de um dia e voltavam, como era?
R – Bom, muitas vezes eu ia e voltava. Mas muitas vezes também ficava bastante tempo. Quando ia por conta própria, às vezes a gente ia em um dia e voltava no outro. Ou dormia na casa de um amigo, ou na casa do meu primo, coisa assim. Mas quando eu ia com a família, então a gente ficava bastante tempo.
P/1 – Quais os estabelecimentos comerciais que o senhor citaria como os mais conhecidos em Campinas na época da sua juventude, na época em que o senhyor começlou a atuar no comércio?
R – Bom, vamos supor... de restaurante é o Rosário, que é o tradicional, né? (__?__) que sempre teve. Que ainda tem hoje, você quer dizer, né?
P/1 – Não necessariamente. Para o senhor lembrar, para o senhor narrar, contar para a gente.
R – É, tinha a Sears, que a gente ia comprar roupa, que era atrás da catedral, que não tem mais. Comprava roupa na Casa Ezequiel, que ainda tem, né? Que mais que tinha? Acho que o que eu posso lembrar assim, mais antigo, era só isso aí.
P/1 – Depois pode ser que o senhor se lembre.
R – É.
P/1 – O senhor se lembra quantos funcionários existiam na loja quando o senhor começou a trabalhar na sua loja?
R – Lá, geralmente, sempre tem três vendedores.
P/1 – três vendedores?
R – É. Três.
P/1 – Naquela época tinha três.
R – Três ou quatro, no máximo.
P/1 – E agora?
R – Agora tem três outra vez.
P/1 – Três também. Quais foram os maiores desafios que o senhor acredita que tenha enfrentado na sua atividade?
R – Olha, lá na loja não teve grandes mudanças, não. Porque a loja sempre manteve, o meu pai sempre manteve, nunca foi uma pessoa muito atirada. Então a loja sempre mantém um padrão, sempre a mesma coisa. Entra crise, sai crise, a loja está sempre igual.
P/1 – Se mantendo.
R – É. Acho que por isso que está há muito tempo. Porque ele não...
P/2 – E a sua loja é de sapatos.
R – É.
P/2 – E vende sapatos de que tipo? feminino, masculino...
R – Sempre foi de todo tipo.
P/2 – todo tipo?
R – É.
P/2 – Feminino, masculino, infantil...
R – É. Inicialmente, antigamente, vendia os melhores que existiam na época. Depois o povo, eu acho que foi empobrecendo, e a gente acabou vendendo coisas mais inferiores.
P/2 – Que tipo de pessoas, assim, compram na sua loja? Compravam no passado e compram hoje?
R – Agora é artigo mais popular. Porque o povo da treze de Maio agora é assim mais popular.
P/1 – Então fala um pouquinho para a gente sobre isso. Porque houve essa mudança? Como o senhor interpreta essa mudança? Porque que aconteceu essa mudança na demanda do consumidor?
R – eu tenho a impressão que o povo que compra, assim, coisa mais cara vai para o Shopping.
P/1 – Desde quando que o senhor observa isso, da chegada de todos os Shoppings?
R – Acho que uns 20 anos que tem shopping, mais ou menos por aí.
P/2 – E o impacto do Shopping neste comércio de rua, digamos assim, como que o senhor vê isso?
R – eu acho que só mudou o jeito de fazer, entendeu? Não tem assim, mais freguês ou menos freguês. Tem, mais ou menos, se mantém a mesma proporção. O que mudou foi o que se vende.
P/1 – E quais os artigos, por exemplo, que o senhor poderia dizer que não se vendiam... o senhor disse que vendem hoje mais populares, artigos mais populares.
R – É hoje eu vendo artigos mais populares.
P/1 – E que artigos que os senhores não vendiam antigamente e que vendem agora? Por exemplo, não quanto à qualidade, mas o tipo.
R – Não, antigamente não se vendia muito tênis, né? Agora se vende muito tênis. Cada vez mais, eu acho que se vende tênis. Eu mesmo, antigamente, não usava tênis, agora uso. Então eu acho que é o que, assim, do tipo de coisa que mudou, foi isso.
P/1 – E qual a necessidade que o consumidor apresenta quando ele vai comprar um artigo na sua loja?
R – Por exemplo, homem, os rapazes que a gente vende de masculino é mais, tipo, para trabalho. É o artigo que mais vende na loja é coisa pra trabalho. Tipo botina, um sapato de trabalho mesmo, mesmo porque eu falei que não tem mais coisa assim, sapatos finos não tenho mais na loja.
P/1 – Então, fala um pouquinho sobre esses sapatos finos que o senhor tinha na loja.
R – É, antigamente vendia sapatos sociais, aquele sapato de cromo. Não é da minha época. Quando eu entrei já tinha mudado um pouco.
P/1 – As marcas, os fabricantes, o senhor se lembra? Nomes de alguns fabricantes de calçados?
R – Não, não lembro.
P/1 – Esses calçados, como eles eram feitos? Eram industrializados, semi-industrializados?
R – Não, todos infidstrializados. Indústria grandes, no caso.
P/1 – E como vocês compravam estes produtos?
R – Sempre, aí na loja sempre vem, ou viajante ou a gente liga na fábrica, eles mandam, coisa assim. Quando a gente já tem o produto conhecido, não tem necessidade de vir ninguém.
P/1 – E assim, você tinham, na época, uma visão de quais produtos eram oferecidos pelos representantes, vamos dizer assim, de calçados? De onde vinham estes calçados? Onde eram estas indústrias?
R – Sapato feminino sempre veio mais do Sul. Até hoje, né? E sapato masculino é mais de Franca. Assim, a maioria. Tem de todo lugar, mas a maioria vem de Franca e feminino, do Sul.
P/1 – E vocês eram visitados pelos...
R – É, pelos viajantes, pelos representantes. Porque todas as fábricas têm, né? Agora, com a Internet, ficou diferente de comprar. Então, mas...
P/1 – Como é agora então?
R – Agora a gente até compra por email, por catálogo, por site, né? Porque a gente Vê o produto, a gente já conhece a qualidade, então você vê o modelo e pode comprar. Mas muita gente, muita... a maioria é viajante que vai na loja. Representante, no caso.
P/2 – representante comercial.
R – É.
P/2 – e esses representantes, eles trazem amostras?
R – Trazem.
P/2 – Sapatos para vocês verem.
R – Trazem.
P/2 – analisarem...
R – Ou traz, vamos supor, um e o resto é catálogo. um para ver a qualidade e os modelos de catálogo.
P/2 – Certo.
R – Senão fica com... ás vezes com muita bagagem para trazer.
P/2 – e o senhor comentou assim, o tipo de sapato que vende mais para homem, que é o de trabalho. E o feminino? qual é o perfil assim?
R – então, antigamente se vendia muito sapato de salto. Hoje não trabalho mais com esse tipo de sapato. Hoje, para mulher, eu só tenho sandálias, um sapato baixinho, ou vamos supor, enfermeira, que compra muito na loja, sapato branco. Mais é sapato de trabalho mesmo.
P/2 – E em função de quê, o senhor acha que houve essa mudança? De passar de sapato de salto para sapato baixo. O senhor fez isso em função de uma preferência do público ou o senhor mudou o ramo?
R – Não, eu acho que na Treze de Maio não tem esse público que compra sapato melhor, assim, xmais caro no caso. Então não adianta comprar porque...
P/2 – É um comércio mais popular.
R – É. É um comércio mais popular.
P/2 – Certo.
P/1 – O senhor poderia falar um pouquinho sobre as embalagens, por exemplo? Como é que eram as embalagens, as propagandas nas embalagens, como eram as propagandas...
P/1 – você diz a que a gente faz?
R – Não. que vinham nas embalagens.
P/2 – As caixas.
R – As caixas?
P/1 – As caixas. Como eram as caixas, as embalagens, as sacolas? Como é que se embrulhavam os sapatos... falar um pouquinho sobre isso.
R – Tudo o que a gente compra, vamos supor, que tenha uma qualidade melhor, vem em uma caixa mais bonita. Uma caixa, como é que fala... colorida, com escrita, né? E sapatos mais populares, às vezes vêm em caixa sem nada escrito. Vem só o modelo, a cor e não tem nada escrito, às vezes.
P/2 – E quando o senhor começou para hoje, tem assim uma mudança que o senhor percebeu na embalagem? Ela foi mudando com o tempo?
R – Não, eu acho que a proporção é a mesma, viu? Porque a mercadoria que a gente compra, só o que é o mais barato mesmo é que não vem em embalagem melhor. O resto, sempre todas têm.Mesmo caixa tem escrito, propaganda...
P/2 – Mas eu digo assim, de repente o tamanho da caixa era menor, agora é maior...
R – Não, não. Isso é sempre a mesma coisa.
P/1 – E a padronagem assim, a estampa da caixa, o senhor tem alguma lembrança, alguma marca que tenha marcado assim a sua memória a respeito da propaganda? Por exemplo, hoje, sapato Picadilli. O sapato Picadilli tem uma caixa...
R – Tem uma caixa escrita, né?
P/1 – Isso.
R – O Picadilli tem escrito no fundo como você lava o sapato, como você cuida, como limpa para pôr no sol, coisas assim.
P/1 – Por exemplo, existiam, quando o senhor iniciou, existiam algumas indicações na caixa, do tratamento, instruções de como...
R – É, tem sapatos que vem as instruções no fundo da caixa. Não são todos, alguns. Alguns vêm.
P/1 – E quando o senhor começou existia isso...
R – Também tinha isso.
P/1 – Também?
R – Tinha, tinha.
P/1 – Você lembra de alguma marca?
R – As marcas assim, tipo, mais famosas, sempre veio escrito.
P/2 – E quais eram as marcas mais famosas, mais para trás, no rtempo em que o senhor começou, o senhor lembra?
R – Olha, o que mais vendia na loja, que eu me lembre, acho que tinha uma marca que chamava Maquelli. Acho que era o que mais vendia na loja. Coisas das Alpargatas, que vendia muito. Alpargatas mudou também o jeito de fazer os produtos, né? Muita coisa que manteve foi as Havaianas, o resto mudou tudo. Sempre vendeu bastante na loja.
P/2 – E a Maquelli era feminino e masculino?
R – Não, era só masculino. Só um sapato assim, médio. Não era um sapato nem muito caro, nem muito barato. Era um sapato médio. Vendia muito. Vulcabrás, que agora não tem mais, mas já teve muito. Então, alguma coisa assim, pouca coisa ainda a gente continua vendendo. Da alpargatas eu só vendo Havaianas agora. Não tem mais nenhum produto que eu venda deles.
P/1 – E hoje, dentre as marcas, o snhor disse que antes o senhor não vendia tênis e agora vende tênis. O senhor já disse que vende tênis porque assim o deseja os consumidores. Que marcas de tênis o senhor vende?
R – Então, mesmo na loja, antigamente eu só vendia, vendia até os melhores, né? Vendia Rainha, vendia Topper, vendia Puma, Adidas. Hoje eu não vendo nenhuma marca dessas. A única marca mais conhecida que eu vendo éw o All-Star. O resto é tudo, não é sem marca, coisas talvez mais acessíveis para o público.
P/1 – E a disposição dos artigos na loja? Como é que o senhor fazia essa disposição?
R – (toque de celular) Está tocando aqui.
P/2 – Estou ouvindo dali, mas é o fone.
R – É, deixa eu desligar que eu esqueci...
P/1 – Eu estava perguntando para ele sobre a disposição. Como eram organizados os artigos, os produtos na loja?
R – É, lá na loja sempre teve vitrine.
P/1 – Fala um pouquinho desta organização. Como é que vocês distribuíam esses produtos, os artigos? Tinha uma intenção nessa organização dos sapatos na vitrine?
R – Antigamente, antes de reformar a loja, eu tinha vitrines pequenas. Então, vamos supor, a loja tinha duas vitrinas na frente e do lado, como tem três portas, tem vitrinas separadas. Depois que a gente reformou, a gente fez duas vitrines grandes, uma de homem de um lado e outra de mulher do outro. Então agora são só o que a gente separa, põe tênis, depois sapato, depois bota, coisa assim.
P/1 – E o senhor tem alguma intenção quando o senhor arruma? Quando o senhor organiza a vitrine?
R – É a gente arruma de acordo, vamos supor, às vezes muda a mercadoria, então você tem que pôr em outro lugar. Ou aumenta uma coisa e diminui a outra, então você tem que mudar um pouco. Mas, mais ou menos, é sempre igual.
P/1 – Feminino de um lado...
R – E masculino do outro. Como masculino tem bem mais, tem uma vitrine bem maior de sapato masculino.
P/2 – Mas, por exemplo, o senhor coloca na frente aqueles que...
P/1 – Quais, né?
R – Eu só mudo quando é inverno e verão. Eu só mudo quando é inverno e verão. Quando é verão, eu ponho sandália na frente e sapato no fundo, de mulher. E quando é inverno, eu faço ao contrário.
P/2 – E de homens?
R – Não, de homem não. De homem tá sempre igual, porque de homem não tem o que mudar.
P/1 – Não muda...
R – Não.
P/2 – Só os tênis na frente?
R – É, sempre tem tênis, bota e sapatos, assim, no mesmo lugar.
P/1 – O senhor falou que mudou, o senhor fez uma reforma e mudou o número de vitrines e o tamanho das vitrines.
R – É, lá na loja eu tenho seis portas. Tem duas na frente e quatro do lado, que é loja de esquina, né? Então, nessas portas do lado eram vitrines pequenas. Era.. antigamente faziam vitrine pequenininha, só na frente do vidro. Depois, quando reformou, fez uma vitrine inteira.
P/1 – Porque?
R – Ah, eu acho que fica mais... Bom, fica mais moderno e
mais prático também. Fica uma vitrine bem maior e mais prática de arrumar também. Que antes era de madeira, agora é alvenaria. Antes era porta de abrir, agora é de correr. entçao fica sempre... facilita.
P/1 – E quem arruma a vitrine? É o senhor, os seus empregados, ou o senhor contrata um vitrinista?
R – Não, por muito tempo fui eu que arrumei. Eu e alguém que ajudava. Depois
minha prima, que trabalhou na loja por um tempo, ela fazia. Então sempre algum funcionário ou eu ajudo, coisa assim.
P/1 – E quando o senhor organiza, quando o senhor arruma a vitrine, o senhor diz que muda a feminina nas estações, na mudança das estações...
R – Isso.
P/1 – e quando o senhor tem algum produto novo, um artigo novo, como que o senhor age?
R – Bom, a vitrine não é muito grande, né? Não tem muito o que mudar. É só questão de pôr mesmo o do inverno e verão de um lado e de outro. Não tem muito o que mudar.
P/1 – E as cadeiras? Fala um pouco sobre as cadeiras, que são bastante importantes em um estabelecimento de calçados, né?
R – Antigamente era, a que tinha a loja era tipo um sofazinho. De uns trinta anos para cá tem cadeiras, tem poltroninhas sim. Já andaram reformando, mas a poltrona é a mesma ainda.
P/1 – e como é a permanência do cliente na loja, para a compra dos sapatos. Fala um pouco sobre a abordagem, o atendimento do cliente. Como o cliente, a demanda dele, como ele entra, como ele...
R – Olha, eu, pelo que eu vejo, quando a pessoa entra disposta a comprar, ele compra rápido. Então ele olha na vitrine: “me dá um desse”, compra, experimenta e vai embora. Ou, às vezes até nem experimenta. Às vezes a pessoa está com pressa: “me dá um sapato desse número tal” e vai embora. E algumas pessoas ficam experimentando, experimenta um, experimenta outro, esse acaba até nem comprando. Porque ele está passeando, e muita gente, às vezes, está passeando. Então ele não entra necessariamente para comprar. Às vezes acaba até comprando, mas não é o intuito dele não é comprar, é passear.
P/1 – E qual é a abordagem do vendedor...? Pode.
P/3 – Quer tomar uma água?
P/1 – Qual é a abordagem que os funcionários, que vocês vendedores das lojas, quais, assim, os tipos de abordagens que vocês tem para chegar aos clientes? O senhor poderia falar um pouquinho sobre estas abordagens?
R – Olha, uma coisa que eu noto, antigamente, as pessoas com mais idade, parece que sabiam vender melhor. Eu tenho notado que, hoje em dia, você vai em toda loja é semre jovem que vende. Eu acho que o jovem hoje vende melhor, passa uma imagem melhor. Mesmo lá na loja, as pessoas, quando os vendedores, as vezes entra vendedor que nunca trabalhou, nunca vendeu nada, ele entra e em 15 dias está vendendo bem. Jovem.
P/1 – E o que ele faz para isso?
R – Não sei, eu acho que é o jeito de conversar, de ser mais descontraído, eu não sei assim...
P/2 – O senhor (___?___) porque?
R – Ou passa uma imagem melhor, não sei assim dizer.
P/1 – E o senhor disse que, antigamente, os que eram, tinham mais idade...
R – Lá na loja, nunca se trabalhou... sempre teve vendedores mais velhos. De um tempo para cá é que entraram gente mais jovem.
P/1 – E eles vendiam bem.
R – Eu acho que o jovem, hoje, funciona melhor.
P/1 – E naquela época...
R – Nquela época, eu acho que era diferente. Não tinha muita gente muito assim... Já eram pessoas já casadas já, com família, tudo, que eram vendedores de loja. Hoje a gente já nota que toda loja é sempre gente com 20 anos, com 18. Não tem gente assim com mais idade vendendo.
P/2 – Interessante essa sua observação. Agora o senhor não chegou em uma conclusão do porquê, né?
R – Eu não sei, mas... a pessoa se sente mais à vontade lá.
P/2 – O comprador.
R – O comprador.
P/1 – O senhor lembra quando o senhor começou a atuar na sua loja, na loja da sua família, quais eram as lojas de calçados, como era essa... O senhor fez um marcono seu relato, o senhor disse que era de uma forma antes dos Shoppings, da entrada dos Shoppings, e depois da entrada dos Shoppings mudou o perfil da sua clientela. Então, antes dos Shoppings, quais eram as casas concorrentes de calçados dos senhores?
R – Bom, antigamente não tinha muito. Tinha a Picolotto, que já fechou. Tinha a Modelo, que está fechando, porque eles só vendem coisas mais finas. Você vê que eles estão fechando a loja.
P/1 – Eles estão fechando na Treze de Maio, no Centro.
R – Na Treze de Maio. A Modelo diz que não vai abrir em lugar nenhum, a Picolotto ainda tem no Shopping. Mas no centro já fechou. A Baby, que tem a mesma idade da loja, embora já mudou bastante de dono, mas a loja ainda continua lá. Não tinha muita loja de sapato. Acho que só tinha essas, naquele tempo.
P/1 – E depois do advento dos Shoppings, como são os calçados nos Shoppings?
R – Eu acho que no Shopping vende as coisas, assim, mais de moda.
P/1 – E existem muitas lojas de calçados?
R – Ah, tem bastante. Hoje tem muita. Tem bastante. No shopping tem bastante, na cidade aqui tem bastante.
P/1 – O senhor poderia citar alguma outra loja?
R – Grande assim não tem muito. Mas tem bastante lojinha pequena, né?
P/1 – Pequenas.
R – É, que vende sapato. Na frente mesmo tem uma loja que vende um monte de coisa e vende sapato também.
P/2 – Diversificou então, né? Além de vender, hoje as lojas vendem várias...
R – Várias coisas.
P/2 – Vários artigos na mesma loja.
R – Supermercado vende sapato, né?
P/2 – Verdade.
P/1 – Os grandes supermercados... quando, mais ou menos, chegaram?
R – Acho que em Campinas... Ah, deve ter sido... Não me lembro muito bem, mas eu acho que foi em 70, mais ou menos, que começou... que veio o Eldorado, né? Foi o primeiro, acho. Depois, em 86, pegou fogo, né?
P/1 – Pegou fogo, aí fechou. Não reabriu.
R – É, o Carrefour comprou, né, aquilo lá. Eles mudaram para lá, depois ficou sendo Carrefour, que agora está abrindo outra vez aí, no mesmo lugar.
P/1 – Então, o senhor disse que houve uma mudança no perfil da sua clientela. O senhor precebe, percebia antes do advento dos Shoppings, e percebe agora alguma fidelidade dos seus clientes, dos clientes da sua loja?
R – Pouco. Não tem muito não. Tem pouco.
P/1 – Pouca fidelidade.
R – É. Tem algumas pessoas que sempre compram, mas não é muito assim não. A cidade, acho que cresceu muito, então pessoa cada hora compra em um lugar.
P/1 – E antigamente? Antes do advento do Shopping...
R – Antes tinha mais gente que ia, que era mais fiel à loja.
P/1 – E como que eram as...
R – Tanto é que hoje, eu acho que o povo daqui é tudo, a maioria é de Hortolândia, que o pessoal passa muito na Treze de Maio.
P/1 – A Treze de Maio é passagem? Porque, tem uma rodoviária perto, tem coisa assim?
R – É, tem uns pontos de ônibus, né? O pessoal sobe e desce por ali. Então, antigamente, o pessoal saía de um lugar para vir aqui comprar. Hoje eu acho que a maioria é povo que está trabalhando, que está passando. Tanto é que, se você abriu a loja, vamos supor, no feriado, não tem ninguém. Porque não tem gente trabalhando. O maior público hoje é o pessoal que trabalha.
P/1 – Nesse caso, o sistema, vamos dizer assim, rodoviário, facilita muito?
R – Ah sim.
P/1 – Quais são as rodovias que servem essas pessoas, por exemplo? O senhor tinha falado da Anhanguera, né? Não é isto?
R – Não, eu quero dizer assim que o pessoal que toma ônibus mesmo, que passa na Treze.
P/1 – Os ônibus da cidade, os ônibus do circuito...
R – Hortolândia, pessoal que mora na periferia...
P/1 – Na grande Campinas, então.
R – Por isso eu acho eu udou o público da Treze de Maio.
P/1 – E eles não se servem da Rodovia.
R – Não, eu acho que não.
P/1 – Explica um pouco do surgimento das Rodovias. Como que o senhor viu, o senhor sentiu uma mudança na presença da... porque o senhor assistiu a integração do sistema rodoviário aqui de Campinas, não é?
R – É, a cidade, assim, mudou, parece que a gente mora em um outro lugar, né? Porque, hoje você pega o carro, tem grandes rodovias para todo lugar. Antigamente era diferente. A gente, vamos supor, ia para Indaiatuba em uma estrada pequenininha, ou ia de trem. Tinha o trem que pára em Indaiatuba, aquele trem que agora é só, só tem o trem para passear, não é? Que vai para...
P/1 – Jagariuna.
R – Para Jagariúna. Eu acho que é aquele trem que ia para Indaiatuba antigamente. Eu ia muito na fazenda em Indaiatuba de um amigo. Então era naquele trem. Hoje não, hoje mudou o jeito de viver.
P/1 – E o senhor acredita então que as rodovias, essa integração das rodovias todas que foram planejadas e construídas aqui em Campinas tenham modificado algum aspecto?
R – Ah, muito. Por exemplo, hoje dá para você fazer uma compra em São Paulo, que você vai em uma hora e volta. Às vezes até menos de uma hora, se não tiver trânsito. Antigamente, para ir para São Paulo, era uma viagem mesmo. Hoje já não é mais.
P/2 – E a história do comércio, assim? O comércio, o senhor acha que acompanhou este crescimento?
R – Então, o comércio mudou muito, porque pulverizou as lojas. Hoje você tem loja em todo lugar. Tem loja em Bairro, em shopping, tem “shoppinho”, tem galerias, né? Então por isso que o comércio da Treze de Maio, acho que mudou nesse aspecto.
P/2 – A Treze de Maio é o centro, digamos assim, antigo da cidade...
R – Antigo, é.
P/2 – Aonde se concentrava o comércio.
R – Isso.
P/2 – Anteriormente. Agora ele...
R – Por isso que eu acho que, hoje em dia, eu vendo lá muito sapato de trabalho.
P/1 – E as
formas de pagamento? Como...
R – Cada vez mais cartão.
P/1 – Cada vez mais cartão.
R – Teve um tempo em
que eu tinha maço de cheque. Hoje eu não tenho cheque nenhum. Agora eu não estou nem aceitando mais cheque, porque não funciona mais. Hoje é, 50% é cartão.
P/1 – E a loja tem financiamento próprio?
R – Não, só cartão. Financia no cartão.
P/1 – Financia no cartão.
R – É, divide no cartão.
P/1 – E o senhor está na loja desde o início da década de 70.
R – Isso.
P/1 – Como era a questão da inadimplência dos clientes. Fale um pouquinho.
R – Na loja nunca teve crediário. Teve um tempo que andou tendo um pouco de cheque. A gente toma conta, nunca teve problema com isso.
P/1 – O senhor chegou a vivenciar o compromisso da venda tendo o fio do bigode como aval?
R – Não.
P/1 – E o seu pai falava sobre isso?
R – Não. Acho que no tempo dele já não tinha isso ai não. Acho que era antes, no tempo do meu avô, acho. Acho que era mais em armazém que fazia assim.
P/1 – Como era a sua família, fala um pouquinho da sua família em relação ao seu estabelecimento. Fala um pouquinho da sua família. O senhor se casou em que ano, mais ou menos.
R – Em 74.
P/1 – O senhor teve filhos?
R – Não.
P/1 – Não teve filhos. Sua esposa?
R – Ela trabalhou um tempo, agora não trabalha mais.
P/1 – Ela trabalhava na loja?
R – Não. A gente chegou até a ter uma oficina de jóias.
P/1 – Ah, que interessante.
R – Mas fechou porque mudou até o jeito de vender. Hoje não se usa mais um monte de ouro, então não, acabou acabando.
P/1 – Certo. E quais os tipos de promoções que vocês fizeram antigamente. Vocês fizeram promoções antigamente? Fazem promoções agora?
R – Na loja não chega a ter porque é uma loja pequena, começa a não vender uma coisa é só não comprar mais e a gente já muda pra outra coisa, não sobra coisa não.
Não sobra mercadoria de ter que queimar.
P/1 – Não faz liquidação então. Nunca fez nenhum tipo de promoção?
R – Não, nunca fez.
P/2 – Promoção tipo dia dos pais, dia dos namorados.
R – As vezes eu ponho alguma coisa assim mais barato. Uma coisa assim pra acabar mais depressa, mas não chega a ser uma coisa grande não.
P/1 – E as propagandas?
R – O meu pai nunca gostou de fazer propaganda.
P/1 – Por quê?
R – Não sei. No tempo dele nunca fez. Eu, uma vez mandei fazer sacolas, timbrados, mas depois ele nunca mais deixou fazer.
P/1 – Por quê?
R – Ele é mais tradicional e aquele jeitinho dele. Ele nunca quis mudar nada nem aumentar a loja nem abrir uma filial.
P/1 – E o senhor e ele ficam juntos?
R – Eu já cheguei a ter uma lojinha, mas foi por pouco tempo. Ele ainda vai na loja todo dia. Ele abre a loja e fecha. Com que idade ele está?
P/1 – Com que idade ele está?
R – Oitenta e quatro. Ele começou a trabalhar lá tinha dezessete.
P/1 – É uma vida, não é?
R – Então até o fim ele vai.
P/1 – E vocês conhecem as pessoas, como as pessoas contactam vocês? Existem pessoas que freqüentam a loja?
R – Muito pouco. Hoje tem muito pouco cliente fiel. Hoje tem muito pouco.
P/1 – Não, eu digo assim pessoas que freqüentam a loja para conversar.
R – Ah, eu tenho alguns amigos que vão lá, sentam lá, conversam um pouco. Na loja do Lonaige eu vou todo dia tomar café. De manhã a gente vai até o barzinho, toma um café, volta.
P/2 – Um relacionamento entre os próprios comerciantes. Como funciona isso.
R – Ah, eu tenho uns vizinhos ali (FALHA NA GRAVAÇÃO), amizade mesmo só com o Lonaige.
P/1 – Como é que o senhor poderia dizer que o segredo da sua, que o senhor teria um segredo, o senhor e o senhor seu pai, vocês teriam um segredo para a permanência dessa loja.
R – Acho que a loja durou até hoje por esse motivo, ele nunca teve a vontade de tentar aumentar muito. As
vezes a pessoa tenta aumentar e acaba indo pra trás. Então ele sempre manteve a loja em um patamar. Se os negócios começam a ir mal ele tem de onde tirar, se começam a ir bem ele guarda um pouco, então acho que a loja esta lá até hoje por causa disso.
P/1 – Então esse é o segredo, não arriscar?
R – É, ele nunca arriscou grandes coisas. Nunca fez. O Collor, quando tirou o dinheiro de todo mundo, ficou muita gente desesperada, lá não compro e não vendo nada a prazo. Quer dizer que se amanhã não vender nada ninguém vai bater na porta cobrando. Então não existe esse problema. Então por isso que eu acho que a loja está lá até hoje.
P/2 – E no caso o senhor segue o que o seu pai.
R – É , no caso hoje acho que as coisas são do mesmo jeito.
P/2 – O senhor mudaria alguma coisa.
R – Agora a loja é minha.
P/2 – E o senhor mantêm do mesmo jeito? O senhor fez algumas inovações?
R – Inovações sim. Até o jeito de vender. Por exemplo, hoje eu tenho computador que antes a gente não tinha, mas coisa assim pra melhorar o atendimento. Cartão que antes não tinha. Se não tivesse posto essas coisas a loja teria ficado muito pra trás. Hoje em dia tem certas coisas que você precisa ter. Tem que acompanhar.
P/2 – Mas o senhor não mexeu na...
R – No funcionamento da loja assim não.
P/1 – Como o senhor percebe então a cidade de Campinas. Como o senhor veria a
região metropolitana de Campinas hoje em um sentido amplo de depois mais especificamente no comércio. A presença do aeroporto, a presença das universidades, como o senhor vê?
R – Hoje a gente tem contato com todo tipo de gente de tudo que é lugar. É diferente de antigamente que tinha pouca gente de outros lugares. Hoje é difícil você ter uma pessoa que nasceu em Campinas, vamos supor. Porque você conversa com gente de todo lugar, tem gente de todo lugar, a facilidade da locomoção. O pessoal muda de cidade para trabalhar. Antes tinha muito pouco isso daí. Você arruma um emprego aqui hoje e amanhã está em outro lugar, não é mais aquele. Acho que antes era muito centralizado e não é mais hoje. Na internet você compra em outro pais. A facilidade de carro de ir de um lugar para o outro. Nesse sentido acho que mudou muito a vida de todo mundo.
P/1 – E as universidades?
R – Então, esse público eu acho que aumenta muito a venda de toda a cidade. Vende sapato, vende restaurante, vende barzinho. Acho que aumenta bastante, tem muito estudante.
P/1 – E no Estado de São Paulo, como o senhor veria?
R – É, eu não tenho tanto contato assim. São coisas que a gente compra mesmo. Não tenho tanta (FALHA NA GRAVAÇÂO) nem de ir em algum lugar, eu não viajo tanto pelo Estado, não muita visão disso ai.
P/1 – Economicamente, como o senhor vê a região metropolitana de Campinas e o Estado de São Paulo.
R – Eu acho que a gente vive no Primeiro Mundo porque se você muda para outro lugar, apesar de eu não ter muito contato, mas pelo que a gente vê acho que a gente vive no Primeiro Mundo, porque aqui tem tudo. Os melhores hospitais, a cidade, o Brasil, nessa região aqui. Quem não conhece, mudar da Europa pra cá, não vai notar nada pior.
P/1 – O senhor trabalha no comércio, trabalhou desde criança, mas efetivamente o senhor trabalha desde 72. O senhor poderia nos dizer que lições de vida o senhor tirou da atividade comercial? Quais as contribuições que o comércio, que a atividade comercial teria realizado na sua vida?
R – Eu acho que todo mundo que trabalha procurando fazer uma coisa boa, procurando favorecer não só a gente como os outros, você contribui com muita coisa. Você não pode, se você vender um sapato, vender uma comida, você tem que vender uma coisa boa, porque senão além de você não contribuir para a melhora de nada você não aprende a fazer nada melhor.
P/1 – E isso o senhor acha que é possível transferir para a vida pessoal?
R – Eu acho que a gente deve procurar na vida sempre fazer uma coisa, sempre procurar dar o melhor de si porque senão...e mesmo assim as vezes da errado, procurando fazer o melhor as vezes da errado.
P/1 – O que o senhor pensa desse projeto de recuperar a memória do comércio de Campinas e região que o Sesc Campinas e o Sesc São Paulo estão implementando?
R – Eu gosto de coisas antigas, fotos antigas, coisas antigas, embora eu não tenha muita coisa assim. Mas eu gosto de saber das coisas, é gostoso.
P/1 – E o senhor acredita que seja importante em que sentido?
R – Para preservar a memória. Porque senão daqui pra frente como as pessoas vão saber como a gente era, não é?
P/1 – Como o senhor avalia a sua participação, como o senhor interpreta sua participação nesse projeto?
R – Alguma coisa a gente sempre oferece e sempre aprende. Eu nunca tinha dado entrevista, a gente aprende alguma coisa.
P/1 – Claro, claro. Nós agradecemos muito a sua participação, ela foi muito valiosa e nós esperamos encontrá-lo no lançamento do nosso produto.
R – Claro. Eu que agradeço.Recolher