BUGRES NO SUL DO BRASIIL: UMA BREVE VIAGEM SOBRE SUAS CRENÇAS - No princípio dos tempos, segundo as crenças indígenas, a Terra era habitada por criaturas abomináveis. Eram os "Pamba'e Djaguá" (Feras Extraordinárias). "Nhanderu ete", o deus supremo do universo, decidiu eliminar os "Pamba...Continuar leitura
BUGRES NO SUL DO BRASIIL: UMA BREVE VIAGEM SOBRE SUAS CRENÇAS - No princípio dos tempos, segundo as crenças indígenas, a Terra era habitada por criaturas abomináveis. Eram os "Pamba'e Djaguá" (Feras Extraordinárias). "Nhanderu ete", o deus supremo do universo, decidiu eliminar os "Pamba'e Djaguá" lançando sobre a terra uma estrela incandescente, a "Djatchir Tata'i guatchú".
Tidos como criaturas do mal, os "Pambá é Djaguá", que a civilização ocidental chama de "Dinossauros" ("Lagartos Terríveis" em grego), foram mortos pelo terrível calor provocado pelo cometa. Sobre as cinzas deste mundo, "Nhanderú etê" decidiu repovoá-lo com um novo ser, o "Homem".
Em guarani, "Nhanderú etê" significa "Deus Verdadeiro". É o Deus de forma humana cujos olhos refletem a infinidade das cores. Onde aparece, reflete luz. Vaga pelo cosmos num veículo voador chamado "Bairý".
"Nhanderu ete" percorreu o "Nhe'ê Rekuagui", o "lugar das almas", o mundo dos espíritos. De lá trouxe "Nhande ypy", o "Primeiro Homem", transportando-o em seu "Bairý" até a Terra.
Chegando aqui em nosso planeta, "Nhanderu ete" advertiu a "Nhande ypy" que sua missão era povoar a Terra e não permitir que o egoísmo tomasse conta dos corações de seus descendentes. Acrescentou o Deus que o egoísmo tornar-se-ia a raiz de todo o mal da humanidade, pois desencadeia as guerras e toda sorte de violência do homem contra o homem. Advertiu para que os homens prezassem por sua memória, cujo exemplo inspiraria os homens a praticar o bem. Nascia ali a religião guarani.
Nunca pense em si para que a humanidade não sofra, aconselhou profeticamente o Deus na língua do mundo dos espíritos que se transformou no primeiro idioma da Terra, segundos os guaranis mbyás.
"Nhandeý pý" era um espírito. Chegando à Terra, transformou-se num "homem" de carne e osso. Um espírito (se quiser) e tiver a energia necessária, pode se materializar em forma de um corpo, diz a tradição dos índios guarani.
"Nhandeý pý" , o "Adão" dos guarani mbyá, ficou dois anos sozinho na Terra. "Mokõi aragudjê" (dois anos depois), eis que o deus "Nhanderú etê" voltou ao mundo espiritual "Nheé Rekuaguí" para trazer uma "Nhande Tchir pý" (A 1ª mulher). Tomando-a como esposa, "Nhandeý pi "teve seis filhos cujos nomes são: 1) Kraí í (Poder Divino), 2) Nhamandú (Reflexo do Sol), 3) Djatchir (Dona da Noite), 4) Wherá Tupã (Deus da Chuva), 5) Wherá Nhimbodjerê (Dia e Noite, o giro da Terra) e 6) Pará Guatchú (Oceano).
Eram cinco homens e uma mulher ("Djatchir"). Eis o grupo inicial do qual, segundo os guaranis, descende a humanidade. Os mbyá têm o costume de adotar como sobrenome um dos seis filhos do casal "Nhandeý pý" e "Nhande Tchir pý". Segundo eles, tal costume visa indicar de quem descende os atuais índios entre os seis primeiros filhos da humanidade.
O primeiro casal e seus filhos são os primeiros homens "mortais" da humanidade, de acordo com a mitologia guarani mbyá. O deus supremo "Nhanderú etê" gerou três deuses secundários principais para serem seu intermediário junto aos homens. Trata-se de: 1) "Kraí" (Iluminado), 2) "Kraí Rendy Vydjú" (Poder da Luz) e 3) "Kraí Kendá" (Anjo que mostra o Bem e o Mal).
Este último, "Kraí Kendá", é quem os católicos chamam de "Anjo da Guarda" pois é um espírito que adverte os homens sobre o Bem e o Mal. É aquela voz interior que chamamos "Consciência". Ao mesmo tempo que os deuses vindos do espaço sideral percorriam a Terra, o Adão e Eva da mitologia guarani mbyá vivia num mundo de bonança e prosperidade. Mas faltavam os netos. O casal tinha seis filhos, cinco homens e uma mulher. Os filhos não tinham esposas. Se quisessem ter filhos, só com a irmã. Porém, mesmo nos primórdios da humanidade, respeitava-se o tabu do incesto, isto é, irmão não poderia manter relação sexual com a irmã.
Em virtude desse problema, o deus supremo do universo "Nhanderú etê" voltou ao mundo dos espíritos, o "Nheé Rekuaguí", no qual buscou três mulheres e um homem. Transportou-os em seu "bairý", a nave voadora que atravessa os confins do universo numa velocidade inimaginável.
As três mulheres tornaram-se as esposas dos cinco irmãos. Já o homem trazido pelo Deus, tornou-se o marido da filha Djatchir (Dona da Noite). Desses casamentos, nasceram filhos, netos do primeiro casal da humanidade. Os netos, todos primos, casaram-se entre si. Houve também casamentos com tios. Assim foi-se passando o tempo e a população humana multiplicando-se no planeta Terra.
A população cresceu acentuadamente ao longo do tempo. Todos falavam a mesma língua. Ao contrário dos católicos, os guaranis mbyás não possuem lenda semelhante à da bíblica Torre de Babel. Dizem que a primeira língua do mundo, surgida por inspiração divina, foi modificando-se ao longo do tempo quando grupos foram afastando-se da tribo original com o objetivo de conquistar a Terra. Com o distanciamento e a falta de comunicação, tais grupos foram inventando novas palavras que se tornaram particulares da tribo. Com o tempo, passaram a falar idiomas cada vez mais diferentes, de sorte que chegou um tempo em que as diferentes tribos não mais se entendiam.
As mudanças apareceram não só apenas nas línguas. Os povos, mesmo primos, foram diferenciando-se em costumes, hábitos, cultura, vestuário e, principalmente, religião. Dois eram os principais grupos humanos. O primeiro era os da tribo dos "Kurupí" (egoístas). O segundo tratava-se dos "Iapó Gú" (os que vivem nas rochas).
Os "Kurupís" formavam uma coligação de povos em cuja religião já não mais se cultuava o verdadeiro deus, o "Nhanderu etê", mas "espíritos ruins da Terra". Segundo os guaranis, os "Pambá é Djaguá" (as criaturas terríveis dos primórdios da Terra- "dinossauros") eram guiados por espíritos ruins. Com a morte das criaturas, os espíritos desprenderam-se dos animais e ficaram vagando pela Terra. Com o tempo, povos como os "Kurupís" passaram a cultuar tais espíritos que apareciam em forma de "fantasma". Conforme os índios, os "fantasmas" são os espíritos ruins que os católicos chamam de "demônios". Só vivem na Terra. São tão medíocres que não vieram do cosmos. Nasceram da própria Terra, um mundo de provação. Em guarani, recebem o nome de "Baipotchir" (Raiva de Gente).
Já os "Iapó Gú" eram os povos que viviam em aldeias de casas de pedra nas quais contavam com iluminação moderna. Seria a eletricidade?
A religião dos "Iapó Gú", ao contrário dos "Kurupí", não invocavam demônios "Baipotchir" como deuses. No entanto, esse povo também não acreditava em "Nhanderú etê". Havia alguns entre eles que eram "puros de alma", mas a grande maioria não passava de gente corrupta moralmente.
Antes poucos, os "kurupi" multiplicaram-se demasiadamente de sorte que passaram a ambicionar a conquista do mundo. Entre os "kurupi", havia um chefe chamado "Karambá", chefe de um poderoso exército. Sua alma fora dominada por um diabo "Baipotchir”.
Alucinado pelo mal e de alma perversa, "Karambá'
ambicionou conquistar os "Iapó Gú".
Eis que um dia começou uma gigantesca guerra entre os "kurupi" e os "Iapó Gú". Ambos povos não dispunham de tecnologia. Fora uma guerra de "machados de pedra". Mas as batalhas impressionaram pelo número gigantesco de combatentes. Somavam milhões de guerreiros.
A guerra toda durou apenas dois meses, mas foI devastadora. Matou tanta gente que a humanidade ficou reduzida ao mínimo. O local da batalha final situa-se hoje num ponto do oceano, surgido após o dilúvio, a catástrofe que ocorria na Terra séculos após a grande guerra dos "kurupí" e os "Iapó Gu".
O chefe "Karambá" sobreviveu à catastrófica guerra, mas não viveria por muito tempo. Sucumbiu a uma doença misteriosa. Já os poucos sobreviventes entre os "Iapó Gú" tornar-se-iam, milênios mais tarde, os pais dos povos da antiga Atlântica, a misteriosa ilha do meio do oceano atlântico, e os incas, conforme diz a lenda guarani mbyá.
Não se sabe quanto tempo foi, mas as poucas milhares de pessoas que sobraram após a grande guerra foram multiplicando-se novamente nos séculos de paz que se prosseguiram. No entanto, as novas gerações tornaram-se mais perversas ainda. Continuaram a não acreditar no Deus verdadeiro, o"Nhanderú etê". Sucederam-se séculos de inúmeras breves guerras de pilhagem. Tratava-se de um mundo de mentira, persevidade, pecado e crueldade.
Poucas tribos eram as que acreditam em "Nhanderú etê". A maioria dos povos tornou-se idólatra de deuses "baipotchir" .
E a Terra tornou-se novamente um mundo de total corrupção moral. Numa de suas passagens pelo planeta, "Nhanderú etê" concebeu a idéia de que o mundo deveria ser destruído para recolonizá-lo com homens mais puros como "Nhamanduráý" (Filho do Sol). Concebeu a ideia do "Dilúvio".
"Nhamanduráý" acreditava em "Nhanderú etê". Sua fé era persistente. Numa certa noite, "Nhanderú etê" apareceu em sonho, dentro de seu veículo voador "Bairý", para "Nhamanduráý"
No sonho, o deus avisou-lhe que iria destruir o mundo com uma chuva torrencial. Descendente de uma mortal com o deus "Kraí Kendá", "Nhamanduráý"foi aconselhado a subir na maior montanha da terra, único lugar em que a água do Dilúvio não alcançaria. Com ele e sua mulher "Nhandetchir Ypy", outros dois casais foram avisados para se salvarem no alto da mesma montanha.
Eis que quando tinha 86 anos de idade, o grande Dilúvio começou com uma tempestade nunca antes imaginada. Foi então que a humanidade inteira foi destruída, sobrando os três casais, sob liderança de "Nhamanduráý" .
Antes a Terra era um imenso continente. Após o Dilúvio, surgiram os "Para Guatchú" (oceanos) que dividiram a Terra em vários continentes. Foi então que o hoje conhecemos como América ficou separado da Europa, África e Ásia. Antigos rios transbordaram formando mares. Montanhas viraram ilhas.
A humanidade “voltou à estaca zero” com três casais. Logo "Nhamandu Ra'y" ficou viúvo pois sua mulher, que havia perdido a fé em "Nhanderu eté", falecera de "Ikaruguapá" (paralisia). Outras doenças dizimaram os outros dois casais pelo mesmo motivo de não terem fé no verdadeiro deus.
Eis que "Nhanderú etê" buscou uma mulher para "Nhamandu Ra'y"em outro mundo espiritual chamado "Nhanderu Vutchu" (Onde o Sol nasce).
Os índios guaranis acreditam que a alma boa vai para o céu e o mal fica na Terra com os diabos. Estes últimos são invisíveis, mas segundo os índios, as pessoas sentem suas desagradáveis presenças.
Eis que um dia veio à Terra "Nhanderu Ra'y" para a missão de ensinar os homens o verdadeiro ensinamento de "Nhandery etê". Segundo os índios, "Nhanderu ra'y" era "Jesus Cristo".Recolher