Tive uma infância feliz, pelo menos não lembro de nada ruim, saí da minha terra natal com 6 anos de idade e nunca mais voltei para lá, sempre digo que se um dia tiver muito dinheiro vou conhecer o Ceará, pois com essa idade não dá para lembrar de muita coisa. O que sei é o que ouço, e o que...Continuar leitura
Tive uma infância feliz, pelo menos não lembro de nada ruim, saí da minha terra natal com 6 anos de idade e nunca mais voltei para lá, sempre digo que se um dia tiver muito dinheiro vou conhecer o Ceará, pois com essa idade não dá para lembrar de muita coisa. O que sei é o que ouço, e o que ouço é muito ruim, as pessoas conhecidas de minha família dizem que lá é uma pobreza total e que na capital que é Fortaleza só tem 2 médicos, sendo que um é o atual prefeito filho da madrinha de minha irmã Gorette e a outra é uma médica, ouvindo tudo isso sei que não conseguiria viver em um lugar assim, mas tenho curiosidade em ver essa terra de perto e algumas pessoas que para mim são apenas lendas.
Tive um infância feliz e uma adolescência maravilhosa, bastante privada porém, muito feliz. Foi então que briguei em minha casa e fui embora, minha mãe chorou muito e eu então, que fui morar em uma pensão chorei mais ainda, vivi e presenciei muitas coisas no mundo fora de casa, serviu de experiência e também de arrependimento por ter saído de minha casa, minha mãe e minha irmã mais velha são muito importantes para mim.
Depois de um tempo minha irmã do meio Gorette veio morar comigo, ela conseguiu alugar uma casa bem rústica da tia de uma amiga onde nós dividíamos tudo, foi muito difícil. Depois fomos morar no melhor bairro de Guarulhos, na casa de um ex-patrão de minha irmã Gorette, agradecemos muito, mas a verdade é que não foi muito bom, não tínhamos uma vida muito normal, aprendemos a agradecer por tudo, ou bom ou ruim.
Passada essa fase fomos morar na Vila Galvão, alugamos a casa da avó de nosso atual patrão. Foi ótimo morar lá, abrimos uma quitanda e foi um horror, saí do meu emprego para cuidar da quitanda, os "sócios" eram eu, a Gorette e o meu irmão José, falimos por falta de experiência, mais valeu a lição.
Hoje estou na mesma empresa que estava trabalhando antes, depois de tantos anos fora voltei para casa e agora me sinto muito melhor perto de todos, é como se eu não fizesse parte da sociedade, foi preciso passar por tudo isso para valorizar mais ainda as coisas e pessoas. O motivo pelo qual voltei para casa é que briguei feio com minha irmã, nós dividíamos tudo, eu estava desempregada e ela comprou um fax e deu para um aproveitador barato, me senti muito mal com isso, afinal ela provou que não tinha confiança em mim. Larguei ela mas, quando vi que ela estava passando por uma situação ruim, falei com minha mãe e minha irmã, e hoje ela está morando em casa, nos damos bem.
Eu queria que as coisas tivessem sido diferentes, hoje eu me sinto vazia, sem rumo, trabalho numa empresa de informática, na área de marketing, visito clientes (às vezes sou alugada), dou cursos em empresas, não me valorizam no meu emprego, faço tudo - dedução -, acho que tenho que passar por isso. Não sou feliz, mas agradeço por ter saúde, por estar viva, vegetando ou não, muitos gostariam de estar no meu lugar. O que espero da vida? Quase nada, às vezes tenho esperança mas é muito raro acontecer isso. Quero morrer logo, mas jamais cometerei suicídio, vou morrer quando Deus quiser.
Não sei se minha história é interessante, espero que sim.
(Maria Socorro Vieira deu o seu depoimento ao Museu da Pessoa no dia 13 de janeiro de 1999 através do nosso site da internet)Recolher