IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Benício Schettini Frazão, vou fazer agora no dia 13 de julho, 54 anos, nasci em Salvador e atualmente moro na cidade de Niterói. FORMAÇÃO Me formei em engenharia civil em 1978, quando então prestei concurso para o CEP - Curso de Engenharia d...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Benício Schettini Frazão, vou fazer agora no dia 13 de julho, 54 anos, nasci em Salvador e atualmente moro na cidade de Niterói.
FORMAÇÃO Me formei em engenharia civil em 1978, quando então prestei concurso para o CEP - Curso de Engenharia de Petróleo, entrando para a Petrobras em 24 de janeiro de 1979.
INGRESSO NA PETROBRAS Naquela oportunidade já tinha um irmão petroleiro que havia entrado na Petrobras no mesmo curso em 1975. Então, já na faculdade vestia a camisa da Petrobras. Vislumbrava um dia também trabalhar na Petrobras. Era o meu sonho. Naquela época a Petrobras ainda não era o sonho dos universitários, principalmente para engenheiros civis, onde o cálculo estrutural era a nossa vocação. Hoje, a situação é bastante diferente, quando trabalhar na Petrobras e um sonho de parcela considerável dos formandos das diversas universidades. Mas, mesmo assim, já era um ícone no Brasil trabalhar na Petrobras. Me formei em dezembro de 78 e entrei na Petrobras em janeiro de 79.
Fui para Salvador, era uma coisa bacana também porque voltei para a cidade que nasci para ficar lá durante 14 meses estudando. Fui para fazer um curso de engenharia de petróleo que era uma extensão da faculdade. Para a atividade que exerci durante esses 30 anos na Petrobras, era fundamental ter participado desse treinamento, que como engenheiro civil teria que trabalhar numa outra área da Petrobras, numa área de construção civil, uma área de projetos, etc. A área que trabalhei, área de produção de petróleo, esse curso é fundamental. Fiquei em Salvador durante esses 14 meses estudando e recebendo salário para isso. Só estudar para mim já estava de bom tamanho. A questão de morar numa cidade como Salvador com 23 anos de idade, a questão de ficar sozinho numa cidade bela e maravilhosa, apenas para estudar, foi o melhor momento desses meus 30 anos da minha vida profissional na Cia.
PREPARAÇÃO PROFISSIONAL Naquela época, há 30 anos, a grande Região de Produção da Petrobras era a Bahia. A Bahia representava o que hoje representa a Bacia de Campos. Macaé já estava despontando, a Bacia de Campos estava começando, mas nos campos da Bahia ainda era onde tudo acontecia, onde se formava todas as pessoas, razão pelo qual esse curso de engenharia de petróleo era realizado lá.
A Universidade Petrobras, na época era em Salvador, era lá que tinha o prédio administrativo, lá que tinha a escola de formação para esse curso.
Existiam outros cursos oferecidos pela Petrobras e a escolha pelo CEP foi em função das conversas com o mano durante seu trabalho naquele segmento da Cia.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL No dia 24 de janeiro de 2009 faço 30 anos de Petrobras e a Bacia de Campos também está completando 30 anos. Todos esses meus 30 anos da companhia foram fortemente ligado ao crescimento da Bacia de Campos.
Foi uma coisa interessantíssima, fortemente gratificante e desafiadora. Hoje está bem mudado, mas na época, após terminar o curso de formação na Bahia, e participar de um processo de decisão da nova área de atuação, fomos em março de 1980 com mais 7 colegas, transferidos para o Disud – Distrito Sudeste em Macaé.
Alguns colegas optaram em trabalhar em Salvador, outros optaram pelo Rio Grande do Norte, alguns em Sergipe.
Realmente muita gente optou em permanecer pelo Nordeste. A Bacia de Campos estava apenas começando, apenas os cariocas e paulistas disputaram essas vagas. Como Niteroiense foi a minha única opção, pois já tinha conhecimento que para um dia chegar na Sede da Cia, teria que “ralar” bastante nas unidades operacionais, sempre imaginava que tem que ter uma certa experiência de campo, para você um dia ir para a sede numa atividade de petróleo. O meu estilo e vocação encaixavam muito mais com a parte operacional. Então falei: o meu negócio é ir para Macaé, onde as coisas começavam a desabrochar. Após então, optar pelo antigo Distrito Sudeste, que hoje é a UNBC/UN-RIO, na cidade de Macaé. Era uma célula bem pequena, uma base bastante “enxuta”, ainda com poucas unidades em produção (SS-6,SS10, SS14 e PP Moraes). Ao chegarmos a Macaé, no primeiro dia de trabalho de recém formandos da turma do CEP-79 I, foi uma grande surpresa, porque tínhamos uma idéia que a Petrobras, principalmente a Bacia de Campos, existia toda uma estrutura, organização para receber esses oito “borrachas” oriundos da Bahia. E quando chegamos a Macaé, o nosso chefe tomou um susto. Quando da nossa apresentação, fomos recebidos pelo Eng.Jose Silvio Sales de Almeida, o nosso primeiro chefe. Apresentamos-nos e o chefe não sabia da nossa chegada, logo o nosso primeiro chefe.
“O quê vocês estão fazendo aqui?” “Ué, nós acabamos o curso do CEP e fomos transferidos para Macaé.”
Na época, a vinculação do Espírito Santo ainda era com Macaé. Hoje tem a UNBC, UN-RIO e UN-ES. Anteriormente, o Espírito Santo tinha uma área, um setor que era vinculado a Macaé. E percebemos que o nosso chefe estava meio sem saber o que fazer com a gente. Ele então falou: “Vocês vão para São Mateus no Espírito Santo e serão recebidos pelo gerente do Seter – Eng. Luiz Amaury Rediguieri, hoje trabalhando na Bacia de Santos. “Eles ficarão por lá um período até ver como é que a gente programa um estágio efetivo para eles.” “Então, nos liberou e convocou todos para no dia seguinte estarem preparados para viajar para São Mateus.” Pensávamos que iríamos de avião. Não. Ele arranjou uma Kombi, oito engenheiros dentro de uma Kombi, doze horas de viagem até São Mateus. Acredito que nesse intervalo, ele ligou para o Amauri informando dessa programação. Chegamos lá, o Amauri já sabia e dividiu o grupo em dois grupos de quatro engenheiros e elaborou o programa de estágio. Um grupo iria iniciar o estágio na produção na estação coletora de Fazenda Cedro e o outro iria para o estágio na perfuração acompanhando os trabalhos de completação que estavam sendo realizados naquela oportunidade através da SPT-11. Não sei se por sorte ou azar, caí no grupo da produção juntamente com o Juarez, Álvaro e Nicolau. Na época não sabia, hoje sei que foi uma grande sorte. O programa do estágio contemplava um rodízio após completar uma quinzena, ou seja, o grupo de Fazenda Cedro iria para a SPT-11 e vice-versa após esses primeiro 15 dias de estágio. Recebemos então todo o material necessário para o estágio, botas, luvas, uniformes e capacete e no dia seguinte um transporte iria passar em frente ao Giliatti Hotel para levar-nos para os locais de trabalho. A SPT11 é uma sonda de terra que faz trabalho de completação de poço, é uma atividade muito dinâmica, às vezes acabou um poço tem que movimentar para outro poço. Tem então todo um trabalho chamado DTM, que é uma desmontagem, transporte e montagem para outro local. O trabalho na Fazenda Cedro, que foi a nossa primeira quinzena, era um trabalho de rotina, sem o mesmo dinamismo do trabalho de uma sonda, seria como acompanhar um processo bastante simples e primário de uma estação coletora de petróleo, mas apenas atividades de controle de nível e pressão de vasos de pressão, verificar nível e temperatura de tanque, era uma coisa de muita rotina e simplicidade. No segundo dia já não tinha mais novidade. Segundo dia, terceiro dia, falei: “Juca, isso aqui não tem novidade”, também não tinha nenhum cansaço, registrar medições e fazer as anotações pertinentes e esperar a hora passar. Almoçávamos através de quentinha, mas num container limpo e agradável, era uma coisa assim muito administrativa. Quando nós chegamos ao hotel à noite, ainda no primeiro dia de estágio, o grupo de Fazenda Cedro estava com os uniformes, luvas e capacetes, todos limpinhos, e vimos os nossos colegas que vieram da SPT11, tivemos um susto, pois literalmente estavam num estado de final de quinzena. Os uniformes, capacetes, botas e luvas eram para ser jogado fora, isso ainda no primeiro dia de trabalho na SPT-11. Aí a gente ficou estupefato e bastante intranqüilo com a próxima quinzena. Após essa quinzena de trabalho, onde a rotina da estação era a mesma e cada encontro com os colegas do outro grupo, mais assustados ficávamos, retornamos para Niterói para os merecidos 15 dias de folga, onde depois então retornaríamos em posições opostas. Após esses 15 dias de folga, nos encontramos na rodoviária Novo Rio e pegamos um ônibus da São Geraldo para São Mateus. Mais uma vez, fomos todos juntos para um novo período de 15 dias. Quando chegamos a São Mateus, tinha uma Kombi aguardando agente na rodoviária para nos levar ao hotel. Um dos colegas, que estava no grupo da sonda, brincava com a gente: “Agora vocês vão se ferrar.” “É, chegou nossa vez.” Teve então um momento que eu comentei com ele: “Rapaz, bem que aquela SPT11 poderia ter tido um problema para cancelar esse nosso período de estágio nela, bem que ela poderia ter quebrado algum equipamento e ficar todo essa quinzena na manutenção”. “Aí o motorista da Kombi comentou: “Vocês souberam do ocorrido? Vocês não souberam, não leram no jornal? “O mastro da SPT11 caiu.” A gente começou a rir. O mastro caiu, não teve nenhuma vítima, mas o mastro da sonda caiu e a sonda ficou inoperante. Daí o pessoal: “Pô, baiano, você é cheio de macumba.” No dia seguinte, o nosso grupo todo satisfeito, apresentamos ao Amauri para saber a nossa programação, e ele comentou do ocorrido com a SPT-11 e então o nosso grupo voltou para Macaé para embarcar nas plataformas da Bacia de Campos. Infelizmente ou felizmente perdemos o estágio de campo na SPT-11
PRIMEIRO EMBARQUE Embarquei na S8. Foi uma mudança radical de trabalho. Embarcar numa plataforma de completação na Bacia de Campos é totalmente diferente de um estágio na SPT-11. A plataforma é um hotel em alto mar, você tinha um conforto muito maior e um trabalho muito mais dinâmico. Agora, a gente não viveu essa experiência dos amigos lá da SPT11, de ter trabalho na completação, mas hoje a gente vê, acho que não ia agregar muita coisa e a gente não passou pelo aquele sufoco aquele perrengue que eles passaram naquela quinzena.
VIDA DE EMBARCADO Eu trabalhei embarcado por quatro anos e morava em Niterói. Tinha uma namorada que hoje é minha esposa e achava que ia ficar embarcado o resto da vida, porque era bom demais. Eu falava assim: “Gente, eu tenho todo mês 14 dias de férias.” Porque trabalhava, na época, 14 por 14. Hoje ainda é melhor, são 14 dias embarcados e 21 dias de folga. Eu acho até merecedor, o esquema de embarque é muito estressante. É muito mais o confinamento, é aquela questão de você não poder sair daquele ambiente, você não poder ir ao cinema, você não poder tomar uma cerveja com os amigos, jogar um futebol, apesar de lá ter campo de futebol, ter quadra e tudo, mas sair daquele ambiente. Confinamento você se sente preso, isso é o que mais incomoda, mas são fases da vida e fases talvez até da idade das pessoas. Eu tinha 24, 25 anos. E achava que isso seria eterno, porque era gostoso trabalhar, primeiro porque você estava aprendendo, na fase de aprendizado, então o trabalho off-shore, os primeiros quatro, cinco anos você aprende muito, você visualiza tudo aquilo que você aprendeu no curso teórico você vê na prática. Esse período de namoro transformou em noivado e posteriormente em casamento Quando me casei, dois meses depois, já estava incomodado com esse negócio de embarcar. E o meu gerente percebendo o meu estilo, julgou que deveria chamar alguém para trabalhar em terra em Macaé, para começar a cuidar das plataformas. Ele viu em mim uma pessoa com esse potencial. Então me chamou para trabalhar em Macaé.
Nunca passou pela minha cabeça morar um dia em Macaé, queria continuar trabalhando embarcado. Eu morava em Niterói, e tinha acabado de fazer uma reforma, durante o período de folgas, no apartamento da minha esposa no Rio de janeiro. Eu tinha acabado de casar, fui para a lua-de-mel, voltei para o apartamento zero quilômetro e fiquei nesse apartamento dois meses. Daí o chefe: “Ó, você vai ter que vim morar em Macaé.” “Então, vamos lá.” Recém-casados, minha esposa fazendo faculdade. Isso foi em maio de 83. Vendi meu carro, minha moto, o carro da minha mulher, ou seja, vendi tudo para poder fixar residência em Macaé.
CIDADES / MACAÉ / RJ Fui pra Macaé e fiquei lá por 16 anos. Meus filhos não são macaenses por nascimento, mas se criaram naquela cidade. Eu tenho uma filha com 20 e um filho com 22 anos. Saímos de Macaé há cinco anos. Morávamos na praia dos Cavaleiros, um local muito agradável. A cidade não era o que é hoje, era uma cidade muito mais tranqüila de se viver. Ali nos Cavaleiros tinha apenas três casas, hoje praticamente a rua está toda ocupada por prédios e ainda algumas casas.
COTIDIANO Na plataforma, a gente já trabalhava na atividade de gerente de plataforma, os Geplats. Na época era chamado de fiscal da plataforma. Então eu era um representante da Petrobras, chamado de fiscal. Então eu exerci nesses primeiros quatro anos essa atividade de fiscal das plataformas S6, S8, S10, S14, S17. Desses oito colegas de curso que vieram comigo, alguns não foram muito bem nessa atividade de liderança, de supervisão, uma atividade gerencial, de controle, de coordenação, então tem umas pessoas que não tinham muito esse estilo, esse dom, Você tem que buscar sempre, é um trabalho do gerente, em adequar bem a pessoa ao perfil que ela tem. Então, exerci nesses primeiros quatro anos off-shore essa atividade de fiscal. A gente quando é jovem assume alguns riscos, parece que é eterno, a gente faz muita coisa que depois vai falar: “Meu Deus do céu, como é que você autorizou isso, aquilo?” Algumas coisas que a gente fez no passado, hoje não faria de maneira nenhuma. Determinadas atividades que eram feitas na época, em que você assumia determinado risco e que não tinha ninguém dizendo para você que não devesse assumir. Hoje as nossas atividades off-shore são praticamente todas procedimentadas. Tem procedimento para tudo dentro do segmento E&P, dentro das atividades da Bacia de Campos. Naquela oportunidade, o procedimento era minha intuição, minha iniciativa. Por exemplo, quando era o fiscal da SS6, a plataforma ficava em cima de um poço, chamado Enchova 1, na época era o poço de maior produção da Petrobras, produzia 10 mil barris. E esse poço ia ser transferido, interligado a uma outra plataforma chamada S10. Depois da transferência do poço para a SS10, a plataforma SS6 ia para Niterói para fazer um serviço de manutenção e voltar para a Bacia de Campos, em outro campo. E eu trabalhava nessa SS6. Estava no meu período de folga. Quando embarquei já estava concluindo os trabalhos para a SS6 sair daquele campo e vir para Niterói. Aí, teríamos que tirar as âncoras da plataforma para que ela fosse rebocada para Niterói, o rebocador Maersk Fighter estava trabalhando nesta oportunidade e iria então fazer esse reboque até Niterói. Quando eu embarquei estavam faltando somente três âncoras para serem retiradas. Estavam aguardando condições de mar para mexer nessas 3 âncoras e achei que isso seria feito facilmente. Quando então chegou no sétimo dia, falei assim: “Zé, eu tô achando que daqui a pouco não vou chegar mais de SS6 em Niterói, porque vai passar a minha quinzena toda e não vou conseguir tirar essas âncoras”. E ainda tinha mais um complicador, pois uma dessas âncoras tinha um cabo do poço Enchova-01 que estava próximo a ela, tinha então o risco do dano desse cabo quando da retirada da âncora. Eu sei que depois de certo tempo ficou naquele negócio de indecisão.
Então no final de semana, quando a cobrança da gerência diminui, chamei o Eng. José Luiz, que trabalhava na época no Gespa e falei: “Zé, pega esse rebocador aqui e vamos iniciar o puxamento da ancora, vá lá para o rebocador, que hoje vamos puxar essa âncora de qualquer maneira, nós vamos puxar esse negócio”. Aí ele foi para o rebocador e eu falei assim: “Vamos começar o puxamento da âncora e você monitora o tempo todo a operação e qualquer anormalidade você informa imediatamente”. Aí ele começou a puxar a âncora e fiquei com o radio walk talkie na plataforma, e ele num rádio lá no rebocador, eu: “Puxa a âncora”, autorizei a puxar a âncora, e ele saiu então puxando a âncora para cima do deck do rebocador. Passados uns dez minutos ele me chama no rádio: “Benício, Benício – era Maersk Fighter, nome do rebocador.“ O quê foi?” “Olha, a âncora chegou aqui, mas trouxe enrolado um cabo preso a ela.” Aquilo, eu gelei E falei: “Cabo? Que cabo é esse?” “Um cabo preto” “Ô, Zé, pega esse cabo e joga de novo no fundo. Aí liguei para o Felipe, que era o fiscal da S10, que tinha recebido esse poço para ver se tinha acontecido algum problema por lá. “O Felipe, aconteceu alguma coisa com a produção do EN01 na S10? Felipe, verifica aí se tem algum problema com o poço Enchova 1, algum problema na produção, na sinalização elétrica dele, na parte das aberturas e fechamento da válvula, teve alguma problema, na parte hidráulica, teve alguma...?” “Não, Benício, sem problema, não tem nenhum problema aqui não.” Então: “Ô, Zé, joga no fundo esse cabo que a gente não sabe o que é. Vamos então puxar a âncora”. Na situação das seis da manhã, de segunda-feira, eu coloquei a seguinte redação: “Plataforma sendo rebocada para Niterói”. Aquilo para mim era uma realização, iria chegar a Niterói de SS-6. Só que na mesma segunda-feira, meu chefe, José Everaldo dos Santos, me liga e fala: “Olha, eu to mandando um helicóptero para pegar você aí na plataforma enquanto é rebocada.” A plataforma já estava quase em frente a Cabo Frio, ao meio dia o helicóptero chegou para me pegar, tirar da S6, para levar para Macaé. Voltei de 1001 para Niterói.
MUDANÇAS Hoje você receberia o procedimento e você iria cumprir. Porque antes de se fazer aquilo você tinha que passar o ROV, o veículo submarino, para verificar distância, e você não iria puxar se as condições de mar não permitissem. Tinha essas ferramentas, mas não com quantidade suficiente para atender a... E não tinha a tecnologia que tem hoje e não tinha esses procedimentos. Mesmo que tivesse às vezes a ferramenta, o procedimento não estaria obrigando você a utilizar isso. Você puxa a âncora, você sabe como é que vai puxar, agora, a expectativa de ter um cabo ali, a gente sabia que o alinhamento do poço passava próximo, mas tanto é que não foi o cabo do Enchova 1, tanto é que não foi, não tem nada haver, na verdade até hoje a gente não sabe o que é, até hoje a gente não sabe o quê que a gente puxou; ou se foi um cabo que estava jogado no fundo, ou alguma coisa de um rebocador, ou alguma coisa que a gente não sabe o que é. Mas a gente sabe que a gente trouxe um cabo do fundo, na época não era tão fundo, hoje nós estamos a 1500, 2mil metros, mas na época ali era coisa de 120, 130 metros, a gente puxou isso aí até a superfície e jogamos no fundo.
COTIDIANO Eu tinha essa competência. Era a minha atribuição. Hoje, se eu estivesse lá com meus 50 anos, eu não faria isso. Porque, com certeza eu já saberia o risco que... Tem um cabo ali? Vamos verificar que cabo é esse, vamos verificar que distância tem esse cabo da âncora, vamos verificar isso antes de puxar. Mas na época eu tinha por trás chegar em Niterói de S6. (risos) Graças a Deus não teve nenhuma conseqüência, mas hoje é diferente, hoje as coisas são procedimentadas e como devem ser mesmo, porque hoje nós temos uma quantidade imensa aí de operações, na Bacia de Campos, e se a gente for deixar isso na expertise de cada um com certeza vários acidentes estariam acontecendo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Depois de trabalhar em vários sistemas antecipados de produção, fui então transferido para a base em Macaé. Fiquei trabalhando ligado diretamente ao Jose Everaldo dos Santos, cuidando da produção das plataformas existentes naquela oportunidade.
Logo depois aconteceu uma reorganização na estrutura da Dirol (Divisão Regional de Óleo ) e foi criada uma gerência de setor de produção antecipada – SETAN. Após algum período de trabalho e com a transferência do Everaldo para o CORPREO (Coordenadoria de Pré-Operação ), fui então designado para a chefia do SETAN no lugar do Everaldo. Em menos de 1 ano de Macaé, já havia então sido designado para gerente, posição essa que estou até hoje.
Os chamados Sistemas de Produção Antecipados da época, eram alguma coisa como hoje está sendo o Piloto de Tupi no Pré-Sal que além da produção, visa a obtenção de dados, informações, problemas operacionais, etc no sentido de adequar de forma otimizada o sistema definitivo para instalação naquele campo.
O chefe da Divisão Regional de Óleo era o Eng.José Silvio Sales de Almeida, onde então por cerca de 3 anos trabalhamos no SETAN, ficando responsável pela produção de óleo e gás da Bacia de Campos na década de 80. Passados esses 3 anos, o José Sílvio recebeu um convite para trabalhar no Rio de Janeiro e aí veio a grande e inesperada surpresa. O Superintendente da época Eng. Alfeu Valença me desafiou para assumir a Gerência da DIROL com apenas 26 anos de idade e menos de 5 anos de Petrobras. Foram cerca de 20 anos totalmente dedicados aos desafios operacionais da Bacia de Campos. DIROL, COPER, DIOP, P50, foram desafios que se apresentaram durante todo esse período que deixaram uma marca de comprometimento e dedicação com a história do desenvolvimento da produção da Bacia de Campos que me enche de orgulho e agradecimento a Deus da sorte que me foi emprestada.
ATIVIDADE ATUAL A questão de um mês atrás eu estou trabalhando na área internacional. Antes disso,
eu trabalhei como gerente operações da P-50, essa plataforma que ficou como ícone da autossuficiência de petróleo Brasil. Eu tive a sorte, de entrar nesse projeto em 2001.
P-50 Em 2001 fui mais uma vez desafiado para assumir a gerencia de operações da P50. Iríamos então desenvolver o campo de Albacora Leste, e a P-50 seria a plataforma para produzir esse campo. Então, desde 2001 até 2008 completei um ciclo de trabalho que talvez tenha sido a atividade por mim desempenhada mais rica de aprendizado e desafio. No início do desenvolvimento do projeto, existia uma dúvida se seria uma unidade própria ou afretada. Eu seria um mero fiscal de um contrato ou o Gerente de uma unidade própria de produção. Naquela oportunidade, ainda existiam dois navios da antiga Frota Nacional de Petróleo - Fronape, que estavam em disponibilidade, o Barão de Mauá e o Felipe Camarão. Eram dois navios que tinham um casco disponível para serem convertidos em uma unidade de produção e instalar as facilidades de produção necessárias para atuar como um FPSO. Após toda uma análise técnica e econômica a Petrobras optou pela conversão do Felipe Camarão na P50. E aí tudo começou Lembro-me que a gente foi a bordo do Felipe Camarão aqui na Baía de Guanabara, antes de ele ir para a conversão em Singapura e o comandante Milhomem estava lá. Entrei na sala do comandante, e achei uma coisa fantástica, um palacete, uma sala muito bonita e tinha o retrato da madrinha do Felipe Camarão, a esposa do ex-ministro Aureliano Chaves, dona Risoleta. Na verdade, o Aureliano Chaves, na época que o Felipe Camarão foi construído, em 1980, era o ministro das Minas e Energia.
Como sabia que aquilo tudo seria retirado quando da conversão, peguei o retrato da dona Risoleta, onde até hoje guardo comigo para colocar futuramente na P-50.
Fui então em 2002 com toda a família transferido para Singapore acompanhar esse trabalho de conversão. Foi uma coisa muito bonita e tremendamente desafiadora, porque você participa e coordena todo esse trabalho de transformação do NT Felipe Camarão num FPSO.
A P-50 é a estrela maior na Bacia de Campos, a plataforma mais bonita da Petrobras. Você participa da montagem daquela unidade, você seleciona a equipe de operação da plataforma, você tem que admitir capacitar, desenvolver, colocar todo esse efetivo da teoria à prática, fazer todo o trabalho de capacitação da equipe para o trabalho de comissionamento da unidade. Construir uma plataforma dessas é uma coisa como se fosse um Lego... A parte naval, é você transformar o Felipe Camarão e adaptar as suas condições de armazenamento e tancagem para permitir o armazenamento de 2 milhões de barris de óleo do campo de Albacora leste quando da sua produção. Essa conversão foi realizada em Singapore. O pacote de turbo-máquinas foi construído na França e montado em Niterói. O pacote de geração foi feito na Itália e também montado aqui em Niterói. Quando falo da montagem de um módulo em Niterói, estou falando de algo como um prédio de 4 andares para geração, compressão e facilidades. A parte de utilidades foi fabricada nos Estados Unidos. Você tem que pegar todos esses módulos com um guindaste de até 2000 ton. E colocá-los sobre o convés do navio após a conversão naval e posteriormente uni-los de tal maneira que eles “conversem” entre si. Seria como montar um boneco, braços, pernas, e cabeça e posteriormente faze-lo andar e falar. Todo esse trabalho foi realizado no estaleiro Mauá em Niterói.
Fiz meus 50 anos na P50. Houve toda aquela coincidência, aquele fato da produção da P-50 ter sido aquele percentual a mais que permitiu que o Brasil atingisse a auto-suficiência de petróleo. Durante mais de 30 dias a mídia não falava outra coisa do que o inicio da produção da P50. Foi Lula com as mãos sujas do óleo do poço ABL-8, marcando os seus 9 dedos uma camisa da P50. Aquele 21 de abril de 2006 entrou então para a história de sucesso da Petrobras e nos enche de orgulho por estarmos na liderança desse trabalho.
Até chegar naquele momento, tivemos que apostar e vencer muitos desafios. Receber mais de 100 novos empregados recém admitidos da escola técnica e ou mercado, capacitá-los e deixá-los aptos para partir uma planta complexa de produção de 180 mil barris/dia foi bastante desafiador. Durante esse trabalho de conhecimento da equipe e formação, desenvolvíamos alguns trabalhos de aproximação com essa equipe. Quando vi uma menina que foi admitida como operadora da P50, com os seus 18 anos de idade, olhava para ela, bem mais nova que a minha filha e pensava que essa mão de obra que seria responsável em fazer aquele LEGO produzir, foi maravilhoso e muito bacana
Quando do inicio da produção da P50 estava a bordo da plataforma. Não poderia estar ausente da equipe naquele momento ímpar e tão esperado. Apesar do treinamento desenvolvido, existia um medo, pois sabiamos que treino é treino, mas na hora em que subimos a escada do gramado do Maracanã vestindo a camisa do Flamengo o “buraco é mais embaixo” e não tem experiente que não fica com um friozinho na barriga. Será que essa garotada vai amarelar? Será que a Camila com os seus 18 anos vai saber controlar o nível e pressão de um vaso? Será que ela vai saber fazer isso? Uma coisa é você entrar na sua casa ligar o chuveiro e a água cair, outra coisa é você entrar na sua casa ligar a luz da sala e a luz não acender, aí você fala: “Eh, acendeu um quarto”, aí você vai lá ao quarto “Eh, acendeu a sala”. Você só vê isso quando você aperta o botão. Apesar de todo o trabalho de comissionamento, algumas coisas numa plataforma só acontecem quando você coloca o poço em produção, enquanto você não coloca o poço em produção você não consegue testar alguns pontos. Várias dessas coisas a gente testa no período do estaleiro. O funcionário diz se esse dedo vai mexer vários dias isso é testado e avaliado, algumas outras coisas de fato somente serão testadas quando o coração bater, não tem jeito, você pode simular, mas o coração tem que bater para ver se tudo está de acordo, se o cara vai falar e se vai se mexer com o dedo certo. Então existia o medo era quando a gente botar o poço em produção será que não vai ter nenhum problema? E o Maracanã estava com a sua lotação plena, a tribuna de honra lotada capitaneada pelo Presidente Lula, a ministra Dilma, Presidente do Senado, Presidente da Câmara, Presidente e Diretores da Petrobras, demais autoridades e uma equipe de jornalistas testemunhando esse momento do apito inicial e do inicio da produção da P50. E se o poço não produzir? E se ocorrer um shutdown? E se algum equipamento falhar? Olha que coisa feia. (riso) Então tinha tudo isso por trás. O mico. Evidentemente a gente não é bobo e alguns desses testes foram feitos nos dois dias anteriores e o ABL-8 de fato produziu 1200 BBL dois dias antes desta data, onde alguns pontos e falhas foram corrigidas.
FATO MARCANTE Uma coisa que no caso da P-50 foi para mim muito marcante, foi essa questão de apostar na garotada. A Petrobras passou um período de 10, 15 anos sem admitir ninguém. Estrategicamente, desde o início quando a gente começou a produzir, a gente colocava as plataformas com certa gordura de pessoas, até para treinar e capacitar. Várias dessas gorduras a gente foi sangrando, foi puxando para essas plataformas novas. Quando chegou a vez da 50, como eu conhecia todo mundo, já não tinha muito mais gente experiente, porque já haviam sidos absorvidos por essas plataformas. Então a P-50 ficou numa situação que não tinha mais gente experiente, pelo contrário, quando as pessoas queriam me dar pessoas experientes vinham nomes de pessoas que eu conhecia que eu falei “esse pessoal não vai conseguir tocar uma plataforma como uma P-50”. Então eu apostei no novo, eu apostei na garotada, porque eu sabia que o curso de formação da Petrobras é muito bom, e que passar num concurso da Petrobras é muito difícil, então quem está passando no concurso... Então veio uma garotada com fácil manuseio do computador, impressionante, o sistema de controle de processo de uma plataforma é tudo computadorizado, tudo com automação. Então a garotada deu um banho, eles pegavam com uma facilidade. Evidentemente, a nossa liderança tem experiência, o nosso Geplat, os nossos coordenadores são experientes. Agora, a nossa equipe de operação, manutenção e facilidades é 100% de adolescentes entre 18 e 23 anos.
PETROBRAS INTERNACIONAL Atualmente, após o comprimento do meu compromisso de ficar na P50 até 2 anos do primeiro óleo, em junho de 2008 fui mais uma vez desafiado para trabalhar como Gerente Geral de Desenvolvimento de Negócios de E&P fora do Brasil. Hoje sou o responsável pela prospecção de Negócios de E&P nas demais partes do mundo excetuando apenas o Brasil.
É uma coisa muito gratificante e com os meus 54 anos voltei a ser estagiário. Estou trabalhando numa atividade bem diferente de tudo aquilo que exerci nesses meus 30 anos de Petrobras, apenas mantém o segmento de negócios E&P como atividade comum, mas prospectar negócios é muito diferente de operar uma plataforma de produção de petróleo. A motivação é permanente e espero desenvolver oportunidades para o crescimento da produção e reservas da Petrobras no mundo. A aposentadoria, com esses desafios que se apresentam, ficam sempre num plano secundário e acho que ainda tenho muito para contribuir e aprender com essa juventude que se avizinha.
FUTURO O futuro hoje é pré-sal, o futuro hoje está no Brasil. A Petrobras e o Brasil estão com um portfólio muito promissor, coisa que nesses 30 anos a gente nunca imaginou. A Petrobras agora é uma empresa de energia, ela não pode se furtar que enquanto companhias querem vir para o Brasil também para ajudar a Petrobras a alavancar esse futuro, nós também queremos ir lá fora para junto com eles, criarmos oportunidade para o crescimento da nossa Cia. Então hoje a nossa atividade é juntar, ver o quê que tem no mundo na atividade do E&P que seja uma coisa importante para o Brasil, importante para a Petrobras. Devido ao crescimento do país, a nossa curva de demanda de gás vai suplantar a curva de oferta em 2014, teremos que buscar alternativas para vencer esse desafio e suprir essa lacuna. Precisamos então prospectar no mundo países que tenham vocação para a produção de gás e ambiente político e regulatório que propicie interesse da Petrobras na aquisição de blocos exploratórios para descobrir esse suprimento. O recente desenvolvimento da tecnologia do GNL permite fazer que o gás também seja importado e “plugado” num terminal, onde então é conectado a malha de gasoduto existente e distribuído para os nossos consumidores. O nosso limite então passou a ser o mundo
ATIVIDADE ATUAL Confesso que depois de 30 anos de E&P na
Bacia de Campos, caso tivesse a possibilitar de optar em trabalhar em outra área, não saberia assim rapidamente responder, entendeu? Na verdade eu nunca quis ter saído de Macaé. Quando me tiraram de Macaé, vim com a família para Niterói. Eu não queria ser o que o meu chefe fazia, não era uma coisa que me atraía; vamos pensar na área gerencial que sempre fui - ah, então eu vou ser o chefe de mim mesmo, ficar no lugar do meu chefe Eu queria fazer alguma coisa diferente de tudo que tinha feito até agora, uma coisa peculiar, o desafio seria fazer alguma coisa totalmente diferente do que havia feito até hoje. Aí então, veio esse convite do Diretor Zelado para trabalhar na área internacional. Além do convite de uma pessoa que tivemos a oportunidade de conviver desde Macaé e agora como Diretor da Petrobras, a motivação também
teve uma forte contribuição da nova atividade, do aprendizado, do desconhecimento, enfim do desafio que a atividade apresentava. Agora você vai fazer negócio Foi uma coisa que me desafiou Fazer Negócios de E&P no resto do mundo, onde o Brasil ficava fora Então eu acho que aprumei a minha vela para o Rio de Janeiro, houve essa oportunidade na área internacional muito bacana, estou muito motivado, acho que tenho muito a contribuir nessa atividade, acho que tenho muita capacidade de fazer isso. Por sorte, ao chegar nessa atividade aí, agora no início do mês de maio de 2008, encontrei uma equipe brilhante, jovens de diversas idades e com a capacitação desenvolvida para a atividade de negociação. Na próxima semana vai acontecer a World Petróleo Conference, em Madri, o colega Jaime Naveiro, um garoto que ainda não completou 25 anos, vai receber das mãos do rei da Espanha o prêmio do melhor trabalho desta Conferência Mundial na categoria de jovens talentos. O cara trabalha lá comigo Então tem uma garotada que terá todo o meu apoio, aposta e reconhecimento. Vou me juntar a essa garotada e tentar sugar o máximo tudo o que eles fazem. Com os meus 54 anos vou me juntar a esse grupo e trocar a minha experiência de vida com o ímpeto e ousadia deles para um crescimento conjunto.
MEMÓRIA
PETROBRAS Gostaria de agradecer a oportunidade de estar participando desse evento de 30 anos da Bacia de Campos, acredito ser um trabalho muito bacana que a Petrobras está fazendo, tentando reconhecer e deixar esse registro para futuras gerações. Sinto-me lisonjeado em poder participar desse trabalho que vocês estão desenvolvendo e na certeza que com os meus 30 anos de Petrobras ainda tenho muito que aprender.Recolher