Pés sujos e descalços. Não sei porque na lembrança eles vem descalços; tenho certeza que minha mãe não me deixaria brincar na rua sem sapatos. Pelos nascendo nas pernas brigando por espaço entre ralados e pequenos cortes. Joelhos que não clareavam nem com bucha no banho. Cabelo preto, bem p...Continuar leitura
Pés sujos e descalços. Não sei porque na lembrança eles vem descalços; tenho certeza que minha mãe não me deixaria brincar na rua sem sapatos. Pelos nascendo nas pernas brigando por espaço entre ralados e pequenos cortes. Joelhos que não clareavam nem com bucha no banho. Cabelo preto, bem preto e liso, de índia como dizia meu pai, lavados dia sim dia não com Shampoo da Mônica. Unhas cortadas rentes à carne para não juntar muita sujeira como dizia minha mãe. Cutícula do polegar direito empurrada, afundada graças aos petelecos no jogo de fubeca. Pele morena, um pouco pelo sol um pouco pela genética. Sobrancelhas cabeludas, grossas demais, mas não para a época. Coxas e panturrilhas musculosas, genética de novo combinada com o ballet clássico dessa vez. Solta pela rua sem saída de casa. Rua comprida com um terreno baldio, o barranco, na sua extremidade final. Barranco que ameaçava e atraía. Mais meninos do que meninas, mas todo mundo brincando junto. Sem panelinha, sem brincadeira de menina ou de menino, sem o olhar protetor e podador adulto. Com a única obrigação de voltar para casa às 7h para jantar.Recolher