Pensei que ao escrever o primeiro relato, seria uma tentativa única e solitária de quem tem saudades, entretanto foi como se eu abrisse uma porta do passado e esta continuasse aberta, pois aqui vai mais um momento saudoso.
Numa bela manhã ensolarada nos meados dos anos 1970, eu, com uns 12 anos ...Continuar leitura
Pensei que ao escrever o primeiro relato, seria uma tentativa única e solitária de quem tem saudades, entretanto foi como se eu abrisse uma porta do passado e esta continuasse aberta, pois aqui vai mais um momento saudoso.
Numa bela manhã ensolarada nos meados dos anos 1970, eu, com uns 12 anos de idade, fui para a escola pensando no grande dia que ia ter: Inauguração da quadra de esportes do Grupo Escolar “Matilde Macedo Soares”. Até então fazíamos a nossa Educação Física em um canto do pátio da escola, onde a nossa competente professora procurava dar a sua aula da melhor forma possível, pois o espaço era inadequado. Assim sendo, a inauguração da quadra era um momento muito esperado e assistíamos ansiosos o andar da obra pelas janelas da sala de aula. Entretanto, este dia tão esperado me marcou não só pelo fato de ganharmos um novo espaço para as aulas, mas também porque nos haviam dito que teríamos a presença do grande esportista da época, conhecido como “Galinho de Ouro”, ele mesmo Eder Jofre. A nova quadra herdaria o nome dele.
Era um misto de entusiasmo e descrença. Até que finalmente o dia “D” chegou. Será que ele vem mesmo? Eu havia sentado do lado de fora da nova quadra, numa das laterais, e dali não levantei, pois não queria perder aquele lugar especial. Foram minutos que não vou esquecer: a agitação dos professores e da diretora, indo de um lado para outro, esfregando suas mãos, pois pareciam que suavam de nervosos.
Eu não conseguia desviar meus olhos do portão que dava acesso ao interior da quadra. Com minhas mãos seguras nas grades, percebi uma pequena multidão vindo em direção onde estávamos. Sim, ele próprio: Eder Jofre, acenando e sorrindo para todos, entrou quadra adentro e começou um pequeno discurso sem microfone, a escola não tinha condições na época para este tipo de regalia, mas não importava, todo mundo se aquietou e pode-se ouvir perfeitamente o agradecimento dele pela honra de ter seu nome adotado numa quadra esportiva. Aí veio a revelação que me fez admirá-lo ainda mais: ele próprio havia crescido e jogado bola nos terrenos baldios nas redondezas daquele bairro e do bairro vizinho da Casa Verde, e também na escola em que estudou não havia uma quadra como aquela.
Bom, aquele foi um dia e tanto, voltei pra casa e comentei o fato com meus pais que me olhavam descrentes, como se eu estivesse num devaneio de criança. E, a partir daí, sempre que pisava naquela quadra sentia a honra de ter pisado no mesmo chão de cimento que Eder Jofre pisou.
Este acontecimento não me fez uma atleta de nenhum tipo. Só relatei este fato por ser mais um fato ligado a minha infância neste bairro que me viu crescer e amadurecer. E também pela minha fascinação por celebridades, a qual eu acho que tem a ver com meu lado sonhadora. Sempre fui de ficar perdida em pensamentos e devaneios, o que me fez adotar o teatro como parte da minha vida anos mais tarde. Não fiquei famosa não, foi só um hobby para aquietar a minha mente sonhadora. Bom, mas esta história fica para próxima. Tá vendo, não consigo fechar esta tal porta do passado
(Depoimento de outubro de 2008)Recolher
