Filha de mãe costureira e pai almoxarife, tenho orgulho de dizer que foi no Bairro do Limão que passei minha infância, adolescência e parte da minha fase adulta. Sempre achei o nome do bairro inusitado, nome de fruta azeda? Bom, nos inícios dos anos 1970 iniciei meus estudos no "Matilde", Grupo...Continuar leitura
Filha de mãe costureira e pai almoxarife, tenho orgulho de dizer que foi no Bairro do Limão que passei minha infância, adolescência e parte da minha fase adulta. Sempre achei o nome do bairro inusitado, nome de fruta azeda? Bom, nos inícios dos anos 1970 iniciei meus estudos no "Matilde", Grupo Escolar localizado na antiga Rua Anita, no alto da Rua Carolina Soares. Foi ali, guiada pelas mãos da minha primeira professora, Dona Claudete, que conheci a famosa cartilha "Caminho Suave", e onde aprendi a gostar de estudar.
Perto de casa havia uma pracinha chamada Canaã onde, de vez em quando, eu e minha irmã brincávamos. Este era, e sempre foi, o ponto alto da semana. Na rua onde morava, metade dos residentes havia chegado da Itália fazia pouco tempo, ao falarem o português possuíam ainda a eloqüência e musicalidade da língua italiana, o que me fascinava. Dito isto, lembro do "Seu Tomas" pedindo aos meninos que brincavam na rua para ajudá-lo a amassar a uva que ele tinha numa tina grande para fazer o seu vinho caseiro. Vale a pena mencionar que os pés dos meninos eram religiosamente lavados com uma mangueira, pois eles estavam ali na rua brincando de bola, de carrinho de rolemã ou empinando pipas. Ah E como eles se divertiam com a tarefa, e eu depois de crescida vim a experimentar o vinho, uma delícia
Lembro-me da Dona Maria, nossa vizinha, pendurando roupas no varal e cantarolando uma cantiga em italiano, talvez lembrando da sua própria infância. Aquela cantoria está gravada na minha memória para sempre, como também o cheiro e sabor inesquecíveis do macarrão que ela preparava. Não vou deixar de citar o Empório Santa Filomena, também de italianos, onde comprávamos tudo que se precisava em casa, e onde eu e minha irmã admirávamos o baleiro colorido e os doces na pequena vitrine, esperando pacientemente a hora de deliciá-los. Com toda esta convivência inusitada, "roubei" um pouco desta cultura, aprendi algumas palavras em italiano e adoro escutar música ou assistir filmes que me lembram a Itália. Ai, que saudades. Enfim, sou o que sou hoje por ter tido esta convivência com uma comunidade peculiar, num bairro com nome não menos peculiar: Limão. Nome de fruta azeda sim, contudo me deixou doces lembranças.
(Depoimento de outubro de 2008)Recolher