BNDES: 50 Anos de história
Depoimento de João Batista Mendes
Entrevistado por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 12/04/2002
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: BND_CB031
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Luiza Gallo Favareto
P/1 – Bom dia, João.
R – Bom dia.
P/1 – E...Continuar leitura
BNDES: 50 Anos de história
Depoimento de João Batista Mendes
Entrevistado por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 12/04/2002
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: BND_CB031
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Luiza Gallo Favareto
P/1 – Bom dia, João.
R – Bom dia.
P/1 – Eu gostaria de começar o nosso depoimento, pedindo que você me dê o seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R – Eu me chamo João Batista Mendes, nasci em Carangola, Minas Gerais, uma cidade que fica há quatrocentos quilômetros daqui, do Rio, e...
P/1 – Que dia você nasceu?
R – Eu nasci no dia 23 do dez de 1952, por coincidência, no mesmo dia do nascimento do Pelé (risos).
P/1 – Bom, em relação a sua origem, teus pais, avós, conhece um pouquinho a história da sua família?
R – Eu não conheço muito porque quando eu nasci os meus avós já eram falecidos e eu sou o caçula de... Os meus pais tiveram oito filhos, então quando eu nasci já... O meu pai já faleceu há algum tempo, a minha mãe, hoje, já está com 85 anos, então a história mais… Eu conheço mais dos meus pais, da minha família que vivia mais junto da gente.
P/1 – E como é que se deu a sua vinda para o Rio de Janeiro?
R – É, eu vim para o Rio e com dez anos de idade cheguei no Rio de janeiro em 1962, 1962? 1963. Aliás, um ano antes da Revolução, e foi até interessante porque eu... O meu irmão, o meu irmão mais velho já tinha vindo para o Rio, estava trabalhando aqui no Rio e aí comprou uma casa em Jacarepaguá e veio toda família, eles vieram para cá. Na época, fizemos uma viagem para cá, viemos de trem, que era o antigo Maria Fumaça, hoje já não existe mais, já para aquela região de Minas. E a viagem demorou 22 horas. Foi uma viagem bastante interessante, porque eu, com dez anos, achei aquilo...
P/1 – O máximo!
R – O máximo, mas foi uma viagem bastante cansativa, porque nós saímos de lá, no dia 31 de dezembro, às quatro horas [da tarde] do dia 31, chegamos aqui no Rio dia primeiro às duas horas [da tarde], no outro dia, 22 horas de viagem. Um pouco escuro de... Daquela fuligem da Maria Fumaça, você botava o rosto na janela, vinha aquela... Carvão, aquelas coisas assim. Bem interessante. Se eu fosse escritor, até daria para escrever alguma coisa sobre isso, mas a minha veia de escritor é só para escrever relatório mesmo, não daria para fazer isto.
P/1 – Em relação a sua formação, quer dizer, de escola e profissional?
R – É, eu estudei em Minas no colégio primário e terminei aqui no Rio, porque eu saí de lá com dez anos. Naquela época só se entrava no colégio com sete anos. Hoje tem colégio que aceita até com seis anos, e estudei no Rio, em Jacarepaguá, aí o fiz o primário, depois eu fiz o técnico, era em Contabilidade, e fiz a faculdade na celso lisboa.
P/1 – Qual foi o curso que você fez?
R – Eu fiz Ciências Contábeis.
P/1 – Em relação ao BNDES, como é que se deu, quando e como é que se deu o ingresso ao BNDES?
R – Tinha um colega que estudava comigo na faculdade, naquela época no Banco, eu fui a última turma que se entrava de estagiário por concurso, porque hoje o estagiário do Banco são pessoas contratadas e tem um prazo determinado. Terminou o contrato, eles são obrigados a sair. E na época então, um colega já trabalhava aqui no Banco, aí ele me disse: “Olha, vai ter um concurso para estagiário lá para o BNDES e as pessoas entravam como estagiário”, depois você tinha um período, que chamava de adestramento, que você era um contratado, você não era do quadro efetivo, mas era contratado do Banco. E depois, aí tinha um concurso, uma prova que era na época. No meu caso específico teve um concurso interno, quem não passasse nesse concurso sairia do Banco. No caso eu passei, por isso estou aqui. E foi esse colega que me avisou: “Olha, vai ter um concurso e tal.” Aí eu me inscrevi, passei na prova, e entrei no Banco, e depois passei também no concurso interno, e já se vão 24 anos.
P/1 – Nossa, já são 24 anos. E nesse período, quer dizer, você se envolveu em algum projeto que tenha lhe marcado muito? Se você puder citar algum?
R – É, eu... No início eu comecei a trabalhar na... Porque o Banco, ele é setorizado, ele... As áreas operacionais elas são divididas por setores da economia, e quando eu entrei eu vim trabalhar no antigo (EPIB?), que era AP 1, (EPIB?). O bom é que, ao longo do tempo, ele foi mudando, mas eu praticamente continuo no mesmo lugar, só mudou de nome ao longo do tempo, as áreas do departamento. E eu trabalhava, era voltado para Indústria de Bem de Capital, que (EPIB?) era indústria de bens... Indústria pesada e, na época, eu me lembro que a primeira viagem que eu fiz eu fui para o Estaleiro, depois começamos a visitar empresas de material ferroviário, fundição... Empresas a fim, de metalurgia. Depois eu trabalhei... Nesses setores, eu trabalhei por volta de uns três ou quatro anos, aí eu saí, eu fui trabalhar, o que nós chamamos aqui no Banco de complexos eletrônicos, são hiper eletrônicos, telecomunicações, e fiquei durante quinze anos praticamente trabalhando nesses setores. Visitei também algumas indústrias têxteis e, atualmente, eu estou trabalhando no Setor de Agroindústria. Com essa estruturação do Banco eu passei a ser gerente e estou trabalhando agora na área de clientes, no setor de Agroindústria.
P/1 – Mas, quer dizer, o que representa para você... Como profissional, quer dizer, você era jovem quando entrou... Ainda é jovem, mas assim, o que profissionalmente representa para você estar trabalhando no BNDES, fazer essa carreira que você vem desenvolvendo?
R – O Banco é bem conceituado no mercado, a história do Banco sempre foi de muita competência, as pessoas que estão, que trabalham no Banco são considerados pelo mercado de pessoas de bom nível técnico e o Banco tem um... Te dá uma... Como é que eu diria? Te dá condições muito boas de trabalho. Então você tem, ao longo do tempo, já fiz cursos pago pelo Banco, te dá condições de ter um conhecimento profissional muito bom, porque você interage com as empresas. Isso você vai aprendendo ao longo do tempo.
P/1 – Mas isso era uma expectativa sua quando você entrou aqui? Você entrou como estagiário em 1968?
R – Entrei como estagiário. É, quando eu entrei já tinha a expectativa de que fosse continuar no Banco. Esse meu amigo falou: “Olha, o Banco... Você entra como estagiário, normalmente as pessoas ficam lá, depois você faz o curso e entra para o quadro do Banco”. E já tinha essa expectativa... Quer dizer, não conhecia muito o Banco porque, na época, o BNDES não era muito conhecido. Hoje já está sendo um pouco mais conhecido, mas o grande público... Na época ninguém sabia o que era o BNDES. Hoje, como tem muito mais propagandas, a privatização ajudou um pouco a mostrar um pouco o BNDES, porque ninguém sabia o que era o BNDES.
P/1 – Como que é hoje, um dia-a-dia seu, aqui no Banco?
R – Hoje eu trabalho... É, o nosso trabalho é um pouco diferente do que era... Do que eu fazia o ano passado. O ano passado a gente fazia análise de projeto, fazia acompanhamento de projeto, algumas solicitações que a empresa fazia em relação a contrato de alterar algumas cláusulas, alterar, liberar garantias, essas coisas todas. E hoje nós estamos trabalhando na área de clientes, então tem muito contato com empresas, muito via... Por telefone, via telefônica, muitas reuniões. Normalmente eu trabalho em torno de sete horas ou mais por dia. Chego aqui nove, nove e meia, em torno de nove meia e dez, e acabo saindo por volta das dezenove horas, quase sempre.
P/1 – Então, o que é o BNDES para você?
R – O BNDES é... Quer dizer, hoje eu vivo muito mais no BNDES, nesse... Se for olhar o tempo que eu passo, saio de casa, vivo muito mais o BNDES do que dentro de casa. Então isso aqui, para mim, é uma grande família também. O ambiente de trabalho é muito bom, as pessoas também são muito amigas. Você não tem assim, problemas de atrito. Ocorre uma vez ou outra, mas nada que não seja contornável. Então o Banco é para mim... Quer dizer, já faz parte da minha vida. É difícil me imaginar... Nem sei como é que eu vou fazer quando eu me aposentar.
P/1 – Você já está pensando?
R – É, faltam seis anos (risos), mas eu tenho que... Eu já coloquei para mim que eu tenho que começar a me preparar para o dia que eu acordar e dizer: “Olha, eu não preciso mais ir para o BNDES”. Então é uma coisa que, para algumas pessoas, isso é muito difícil. Inclusive, tem colegas nossos aqui do Banco que já tem tempo de aposentadoria, não saíram em função de não saber o que vai fazer no dia seguinte.
P/1 – Por que? Por esse elo com a empresa, com o trabalho?
R – É o elo, e também as pessoas... O se aposentar para algumas pessoas é muito fácil. Para outras pessoas é um pouco difícil porque você sente um pouco inútil, entendeu? Não sei se esse vai ser o meu caso, porque eu já estou pensando, imaginando coisas que eu vou fazer depois que eu sair do Banco. Não de trabalho, mas pelo menos de ocupar o tempo.
P/1 – O que, por exemplo?
R – Ah, viajar ou.... Tentar ter uma atividade extra, porque hoje eu não tenho, de eu não estar totalmente ainda...
P/1 – Seis anos, né?
R – É, seis anos. Aí, até lá eu consigo imaginar coisas.
P/1 – Está bom. Para finalizar, o que achou de ter dado esse depoimento para o projeto de memória cinquenta anos do BNDES?
R – Eu acho importante, mesmo porque... Quer dizer, o Banco está fazendo cinquenta anos, eu também vou fazer cinquenta anos esse ano agora. Praticamente eu nasci junto com o Banco e o Banco é... Ele teve um papel muito importante no desenvolvimento do país, então nesses cinquenta anos, se você for olhar grande parte do que foi feito no país, tanto em infra-estrutura, quanto implantação de empresas, você tem lá... Você vai ver que o BNDES foi o propulsor disso tudo. Quer dizer, hoje o país está desse tamanho, grande parte disso é graças ao apoio que o Bando deu, tanto para infraestrutura, como para implantação de empresas, para expansão das indústrias. Eu acho muito importante por isso, porque eu acho que o Banco ainda vai viver muito mais do que cinquenta anos, ou cinquenta
anos virão... Espero que... Eu acho que muito dificilmente eu estarei vivo até lá, mas se eu estiver, pelo menos eu poderei ver um pouquinho do que está acontecendo hoje em dia, e espero que, no futuro, o BNDES seja muito mais importante do que está sendo hoje ainda.
P/1 – Muito obrigada, João, pela sua participação, obrigada.Recolher