As pessoas têm um costume bobo, difícil entendermos. Na escola, puxavam meu cabelo, me empurravam, riam de mim. Faziam uma aposta entre eles: em quanto tempo ela vai chorar? Cada um dava sua opinião.
Eu não chorava. Minha mãe dizia que eu era ruim. Não importavam as tacas, as lágrimas não ...Continuar leitura
As pessoas têm um costume bobo, difícil entendermos. Na escola, puxavam meu cabelo, me empurravam, riam de mim. Faziam uma aposta entre eles: em quanto tempo ela vai chorar? Cada um dava sua opinião.
Eu não chorava. Minha mãe dizia que eu era ruim. Não importavam as tacas, as lágrimas não caiam. Poderiam cair depois, misturadas com um rancor, um praguejar, mas na frente de mamãe, não! Cresci acreditando que não deveria deixar que percebessem as minhas fraquezas. Não poderia jamais permitir que meu agressor visse que a membrana que envolvia meu coração era sensível. Doía, sangrava.
Eu, dilacerada por dentro! Eu, uma rocha por fora! Menina ruim! _diziam. Peguei a fama.
Mas, eu era apenas uma criança. Com a fragilidade de uma criança. Talvez faltasse a doçura. A doçura que adquirimos nos afagos, nas palavras de carinho. Eu não as ouvi. Ou, ao menos não me recordo.
Acho que minha mãe também não chorava quando criança. Menina ruim, como eu.
Minha mãe deve ter sido testada. Ela era forte. Quando as pessoas não te conhecem, testam você.
Sempre que mudávamos de lugar e eu ia para uma escola diferente, tinha que enfrentar as mesmas provações. Uma cruz de zombarias. Não importa que você seja uma criança! Você terá que carregá-la. Querem o teu tombo. Apostam entre eles.
Mas, vá por mim, não caia! Jesus caiu por três vezes. Um negro não tem a mesma possibilidade. Se cair, cairá sempre. Pois, além do peso da cruz, irão te empurrar.
Por diversas vezes, titubeei. Mas, sabia que não poderia cair. Eu precisava ser rocha, firme. Se caísse, seria minha perdição. Entregue na mão de meus malfeitores, condenada pela minha cor. E, depois, te crucificam. A multidão zomba. E, num gesto último de crueldade, lançam-te uma flecha no peito.
Do meu peito infantil, correu tinta e fel: minhas palavras escritas em meio a extrema dor: “Não vou chorar!”
Na igreja eu aprendia: “Quem se humilha, será elevado”. Na escola eu aprendia: “Quem se humilha, será para sempre humilhado”. Não havia salvação: destino confirmado. Eu sabia que se eu chorasse, as agressões aumentariam. Sim, os risos eram como os aplausos no final de um show de crueldade. Era o que queriam. Minhas lágrimas, o tombo. Aplausos, bis...
Sem meu choro, cansavam, se decepcionavam, procuravam outro para se divertir: em quanto tempo vai chorar?Recolher