Projeto Kinross Paracatu
Depoimento de Alan Carlos Miranda Gonçalves
Entrevistado por Fernanda Prado e Marcelo da Luz
Paracatu, 05/06/2017
Realização Museu da Pessoa
KRP_HV05_Alan Carlos Miranda Gonçalves
Transcrito por Mariana Wolff
P/1 – Queria agradecer por você ter aceitado o convite para essa entrevista.
R – Por nada. Eu fiquei feliz assim de saber que as pessoas lembram da gente.
P/1 – Que legal e aí, pra gente começar, pra valer, eu queria que você falasse pra gente o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Alan Carlos Miranda Gonçalves, eu nasci aqui em Paracatu, no dia sete de maio de 1990.
P/1 – Tá certo, Alan, fala pra gente o nome dos seus pais.
R – José Afonso Gonçalves de Oliveira, meu pai e minha mãe, Iracema Tavares de Miranda.
P/1 – Fala pra gente um pouco da atividade deles, o quê que eles fazem, seus pais?
R – A minha mãe trabalha desde sempre para uma mesma família. Ela trabalha como doméstica na mesma família desde quando eu me entendo por gente, inclusive, é uma família que acompanhou o nosso crescimento e os filhos da patroa também acompanharam a gente, a gente acompanhou o crescimento deles. Eu não me lembro da minha mãe trabalhando em outro lugar, assim, até hoje. Meu pai trabalhava sempre na área de segurança, quando eu era mais novo, ele sempre trabalhou como vigia em alguns lugares e tudo, depois, ele entrou para uma empresa que chama DGE, que era prestadora de serviços do Grupo Rio Tinto, na época, que atualmente é a Kinross Paracatu e onde ele está já desde quando eu me entendo por gente. Acho que só de Kinross, meu pai tem uns 20 anos, sempre trabalhando nessa área de segurança e de segurança patrimonial e enfim, sempre trabalhou nessa área.
P/1 – E fala pra gente da origem da sua família, o que você sabe da família dos seus pais, de onde que elas vieram, se elas são daqui mesmo.
R – Todo mundo daqui, assim, a família inteira daqui, tanto a família do meu pai, quanto a família da minha mãe, todo mundo sempre morou mais ou menos ali no JK [bairro de Paracatu]. Nascidos e criados na fazenda, tanto o meu pai, quanto a minha mãe, todo mundo criado na roça e depois que eles vieram aqui pro JK, quando eles vieram pra cá, não tinha quase nenhuma casa, era só eles e algumas famílias, minha mãe também a mesma coisa e todo mundo sempre relacionado aqui em Paracatu, a minha família, praticamente, toda por parte de mãe e de pai, com exceção de um primo ou outro que foi embora para outra cidade, todo mundo mora aqui em Paracatu e todo mundo cresceu e constituiu família aqui em Paracatu.
P/1 – E você falou da sua avó, né, você conheceu os seus avós?
R – Eu conheci minha avó por parte de pai e o meu avô por parte de mãe. A minha avó, Dona Abadia ainda é viva, o meu avô, Idelfonso, faleceu quando o meu pai tinha 11 anos, então, não sei se 11 ou dez anos, então não tive contato com o meu avô e a minha avó, também por parte de mãe, Dona Geralda, eu não a conheci. Conheci o meu avô por parte de mãe, o Zitto, mas ele já faleceu também, faleceu quando eu era adolescente, com uns 13 anos.
P/1 – E o que você se lembra quando você pensa na convivência com os avós, com a sua avó e com o seu avô? O que você lembra, ou pensa?
R – Eu fui criado com muito contato com a minha avó, minha avó por parte de pai, Dona Abadia. Eu era daqueles meninos que apanhava todo final da tarde, porque eu passava o dia inteiro na casa da vó, sempre ficava na casa da minha avó e a gente morou durante muito tempo com a minha mãe, na mesma casa que o meu avô, que era pai da minha mãe. Então, eu sempre tive muito contato com o meu avô também, de ser aquele avô ranzinza, aquele avô bravo e tal, tive muito contato. Depois que a gente fica adulto que esse contato diminui um pouco. Hoje, minha avó por parte de pai, Dona Abadia, ainda é viva, eu a vejo com menos frequência, mas a gente ainda tem muito contato e a minha avó, assim, sempre muito presente: “Você tá namorando, por que você não trouxe a menina aqui? Até hoje ela não veio aqui”, então, sempre, no aniversário dela. Hoje menos, mas a gente sempre tinha uma tradição de passar os natais na casa da minha avó, então, a minha infância, a relação com a minha avó sempre foi muito boa de, realmente, meio que fugir de casa, da mãe falar que vai bater, você: “Vou morar com a minha vó, então”. Então, sempre tive uma relação muito boa com os meus avós.
P/1 – O que tinha lá na casa da sua avó que fazia você querer ir pra lá e ficar lá com ela?
R – Eu acho que mais era a minha vó mesmo. A casa da minha avó era pequenininha, mas o lote era imenso, então, cachorro e fruta, a minha infância foi toda assim, brincando com cachorro e subindo em pé de manga e pé de tudo que tinha na casa da minha avó, mas o principal, assim, era ela, tanto que se a minha avó não tivesse em casa, nenhum dos netos ia, tipo, não tinha graça ir, o principal era ela e o engraçado é que a minha avó não era brincalhona, que a gente tem uma ideia de vovó que brinca. Minha vó era brava e ainda assim, a gente adorava ficar lá, mesmo ela sendo brava e brigando com a gente e tudo, mas a gente gostava muito de ficar lá e também porque era o lugar de encontro dos primos, né, minha vó tem 11 ou 12 netos e todos os primos se reuniam lá e tem muitos primos, mais ou menos, na mesma faixa etária, então lá era o ponto de encontro, assim, dos primos todos.
P/1 – Conta pra gente, você tem irmãos, Alan?
R – Tenho muito irmão, tenho irmão pra caramba, assim. Do meu pai e a minha mãe, nós somos três, que é eu, Acácio e Maicon. Eu sou o mais velho do meu pai e aí, tem o Acácio que é dois anos mais novo que eu e o Maicon que é dois anos mais novo que o Acácio. Só que além disso, a minha mãe, quando se casou com o meu pai, ela já tinha três filhos, então, são três irmãos mais velhos que eu, que é o Roni, a Tais e o Irlan e depois do Maicon, que a minha mãe teve com o meu pai, ela teve mais dois filhos que foi o Leonardo e o João Vitor. O Leonardo é o mais novo, hoje, é o caçula, que a gente tem mais contato, porque o João Vitor não mora com a gente, ele mora com uma tia nossa em João Pinheiro [MG]. E a gente fala que a gente tinha muitos irmãos, porque assim, quando o meu pai se separou da minha mãe, eu tinha mais ou menos uns oito anos, ele se casou novamente com a minha madrasta, Marta, e ela tinha mais quatro filhas. Como a gente foi criado junto, elas são mais velhas que eu, mas o contato não acabou e a gente ficou meio que a grande família, mesmo, com muito irmão de todos os lados. Hoje, meu pai, há uns três, quatro anos, ele se casou novamente, e aí, agora tem a Giovana que é pequenininha, tem uns oito anos, que virou irmã também, então quando vai contar, eu sempre tive muitos irmãos e muitas mães também, porque a Iracema é a minha mãe biológica, a Marta ajudou na nossa criação desde os sete anos e, assim, eu chamo ela de mãe também, a gente tem relação de mãe também e ao longo da vida, fui ganhando assim, outras mães, duas delas eu até trato como mãe. Eu acumulei muitas mães ao longo da vida, eu conheci muita gente que eu tomei como mãe, além da minha mãe e da minha madrasta, que quando me perguntam: “Quem é a sua mãe?” Eu tenho duas mães, minha mãe Iracema, que é a minha mãe biológica e a minha mãe Marta que era minha boadrasta, assim, era nossa madrasta, mas ajudou muito na nossa criação e enfim, nunca tive esse negócio de que a madrasta é ruim, não sei o que, no nosso caso, não tinha não, a gente teve boadrasta.
P/1 – E como é que era para um menino ter várias mães? Muitos olhos em cima…
R – Ah, era legal. Era legal pra caramba, era muito bom. Muito bom, assim, eu tinha minha mãe Marta, a minha mãe Iracema, depois, com o tempo, tinha a mãe de um cara muito brother meu, que é o Diego, aí eu chamava ela de mãe e ela também interfere de brigar com a gente por fazer alguma coisa errada e tal, aqui na Fundação tem uma funcionária que me recebeu na época dos projetos e tal e que ficou meio como mãe também, que é a Bethânia, e eu tenho uma consideração muito grande com ela que é de mãe, assim, de ver a gente fazendo as coisas e falar, e sempre foi muito legal. Sempre foi muito divertido ter muitas mães e muita gente que zelava pela gente, né? E pai, eu tive o meu pai, José e ao longo da vida teve uma pessoa que a gente criou um vínculo de pai e filho que foi eu e a pessoa que era superintendente aqui na Conscienciarte que era o Lucivaldo que contribuiu demais para a minha formação profissional e que a gente criou uma relação também de pai e filho. Quando tem qualquer intempérie na vida que eu vou conversar com o meu pai, eu converso com o meu pai e com o Lucivaldo. Então, a gente criou muitos pais e muitas mães e eu fico muito feliz com isso, muito feliz, porque a gente sabe que são pessoas que têm uma consideração e que te tomam como filho, então, se te tomaram como filho, é porque gostam de você de verdade, então, eu fico feliz demais.
P/1 – E aí, conta pra gente um pouquinho da sua infância. Do que você se lembra ainda dos seus pais juntos? Quando você era bem pequeno…
R – Olha, eu tenho poucas lembranças. Meus pais se separaram eu tinha sete anos, mais ou menos, sete pra oito anos, acho que nem isso. Então, tenho algumas lembranças dos meus pais juntos, muito vagas, principalmente, porque meu pai sempre trabalhava e eu tenho muitas lembranças da minha mãe, da minha mãe fazendo biscoito e mandando a gente pra escola e tal. Tinha uma relação muito próxima da minha mãe e um apego muito grande ao meu pai, assim, eu consigo me lembrar que por mais que eu era novo e o meu pai chegava tarde, que eu só dormia depois que o meu pai chegava. Às vezes, ele chegava, a gente já tava deitado, para todos os efeitos, a gente já tava dormindo, não podia levantar e eu tinha assim, muito claro na lembrança do meu pai chegando e eu ouvia ele chegando, tal e depois que ele chegava, eu dormia. Além disso, a gente tinha algumas lembranças do meu pai de brincar com a gente que não acontecia com muita frequência, a gente via ele pouco e tal, mas eu tenho algumas lembranças dele sentado no chão, brincando com a gente. Sentava no chão e brincava com a gente ali um pouquinho e depois levantava e saía. Então, a gente tem muito essas lembranças de ver a hora que ele sentava no chão, sabendo: opa, ele sentou no chão, então a gente vai. Mas deles juntos eu tenho poucas lembranças assim da minha infância. Como eles se separaram muito cedo, as outras lembranças que eu tenho são mais deles separados, dos meus pais separados.
P/1 – E quando ele sentava no chão, vocês brincavam de quê?
R – De tudo, assim, a gente tentava subir em cima dele, o pai tinha mania de pegar a coberta e colocava a gente debaixo da coberta e tampava você com a coberta, segurava pra você tentar sair, aí a gente começava achando que era engraçado, depois ficava com medo e virava o negócio e, às vezes, de brincar de puxar a gente, de botar você para correr para pegar as coisas. Eram poucas lembranças da gente brincando.
P/1 – E você falou também da sua mãe, fazendo biscoito, dessa cena, como é que era? Que biscoito que era esse? Você se lembra do gosto do biscoito, do cheiro de quando ela fazia?
R – A minha mãe fazia muito bolo, muito biscoito. Ela fazia bolinho de chuva, fazia mentira, que é um biscoito frito assim, que acho que é de goma, que eu passei a infância inteira comendo mentira e bolinho de chuva que, na época, a gente não chamava de bolinho de chuva, chamava só de bolinho, depois que o pessoal falou: “Bolinho de chuva” “Que raio é bolinho de chuva?”, depois que eu fui ver que era o bolinho que a minha mãe fazia pra mim sempre, mas que a gente só conhecia como bolinho, mesmo, era bolinho e mentira, que eu também não sei porquê que chama mentira, mas eu aprendi chamando de mentira e comi muita mentira, minha infância toda comendo mentira.
P/2 – E o que mais ela cozinhava? E qual era o seu prato preferido?
R – Da minha mãe, não tinha um prato assim preferido, porque a coisa que marcou muito a minha infância até hoje, depois de velho, lá em casa e tudo, eu ainda faço de vez em quando é misturar farinha e açúcar. Só farinha e açúcar. Não me lembro qual foi a primeira vez que eu comi, mas eu lembro que na infância, da minha mãe, não tinha nada pra comer, né: “Tem farinha e açúcar, mistura aí e come”, e aí, muitos momentos da infância que não tinha mais nada para comer mesmo, aí a gente comia farinha com açúcar. Em muitos momentos da minha infância, eu comi farinha com açúcar. E depois de adulto, até hoje, assim, tem dia que eu acordo, trabalhei à tarde toda, eu chego em casa… Não falta farinha lá em casa, falta qualquer coisa, mas não falta farinha e nem açúcar, porque vira e mexe, eu acordo e falo: “Vou comer farinha com açúcar”. Da minha mãe, o que a gente tinha assim que marcou muito e que eu gostava muito de comer na época… Engraçado, porque a minha mãe falava pra gente pra comer farinha com açúcar e com um certo pesar porque não tinha outra coisa, mas eu adorava, adorava, tanto que como até hoje. E da minha madrasta, a minha madrasta já cozinhava mais. Ela sempre trabalhou com comida, até hoje ela trabalha com comida e ela sempre fazia pra gente um bauru, que é um pãozinho com presunto, queijo e tomate e aí, já mais na adolescência também, o prato que eu mais me lembro é esse bauruzinho, mas mais que tudo assim, da infância toda na adolescência e até hoje adulto, é farinha com açúcar, só misturar farinha com açúcar e comer. Farinha de mandioca.
P/1 – Aí, voltando para quando você era pequeno, conta qual era a sua brincadeira favorita, né, do que você gostava de brincar?
R – Jogar bola. A minha infância foi jogar bola. Todo mundo brinca de bete, de pega, não sei o que, não sei o que... A minha infância foi jogar bola e continuou assim, a minha infância foi jogar bola, o que eu gostava de fazer, jogar bola. Soltou pipa? Não soltei pipa, joguei bola, só. E aí, na adolescência, jogava bola, a gente vendia doce durante o dia, à tarde, jogava bola. No ensino médio, só matei aula pra jogar bola, mais nada, povo matava aula pra namorar, eu achava perda de tempo matar aula pra namorar, mas pra jogar bola, eu matava aula pra jogar bola, só fazia isso.
P/1 – Certo. Fala pra gente como é que foi pra você o momento da separação dos seus pais, de ver aquela rotina que você tinha de esperar ele pra dormir ter acabado? Como foi se adaptar, entender essas mudanças.
R – Eu acho que a gente sentiu um pouco. Eu era muito novo, ainda tinha muito as pessoas falando que madrasta era ruim, não sei o que, então acho que a coisa mais difícil foi quebrar um pouco esse paradigma de que a madrasta é uma pessoa ruim que vai fazer mal para você e que tomou o seu pai da sua mãe. Então, o mais difícil foi passar por isso, quebrar essa barreira e de repente a minha madrasta é uma pessoa legal. Essa barreira foi a mais difícil, na minha infância, foi a mais difícil. Depois que a gente rompeu essa barreira de entender que a casa do meu pai era minha também, porque a gente tinha assim, eu morava com a minha mãe, depois que eu fui morar com o meu pai e, pra mim, era assim, a casa minha era a casa da minha mãe até um bom tempo, depois que eu morava com o meu pai, pra mim, a casa minha era a casa da minha mãe, não era a casa do meu pai. A casa da minha mãe era minha e a casa do meu pai era a casa do meu pai mas, com o tempo, isso foi quebrando assim. A minha madrasta teve muita paciência de esperar o meu tempo enquanto criança também, até aceitar ela como madrasta. E eu lembro que a gente chamar elas de mãe, assim, tinham uns tios do lado dela que questionavam: “Por que você não chama ela de mãe?”, mas a gente só passou a chamar ela de mãe, pelo menos, eu passei a chamar ela de mãe depois que eu me senti à vontade para isso. Foi naturalmente, não foi uma coisa forçada de: “Chama a sua madrasta de mãe”, não, desde muito pequeno, eu tinha uma certa resistência para coisas forçadas assim, isso me acompanhou na personalidade até hoje, se quer que eu não faça, é só para falar: “Você tem que fazer”, acabou, eu não faço. Não senti um trauma deles se separarem, meu maior desafio era me acostumar a ter uma madrasta e ignorar um pouco o que outras pessoas falavam até na escola: “Minha madrasta é ruim demais, minha madrasta me bate, não sei o que”, e minha madrasta nunca me bateu. Então, essa foi a principal barreira, assim.
P/2 – Você jogava futebol, né?
R – Eu era muito ruim (risos).
P/2 – Pensou em ser jogador de futebol? Qual era o seu time? Ou ainda é seu time e se você tinha um ídolo no futebol?
R – Eu sempre gostei de ver o Flamengo jogar, gostava de ver o Flamengo jogar. Na minha época, a maioria das pessoas era Cruzeiro, Atlético, tal e eu gostava de ver o Flamengo jogar, até hoje, eu gosto de ver o Flamengo jogar, mas não sou uma pessoa que acompanha o futebol, se me falar tipo: “Quem tá liderando o campeonato?”, eu não faço ideia, qual que é o time do Flamengo? Não faço ideia, mas a minha diversão era muito jogar bola, eu gostava muito de ver o Flamengo jogar mas, por exemplo, se tivesse passando, sei lá, a final de campeonato e o Flamengo estivesse jogando e tivesse uma pelada na rua, eu ia jogar a minha pelada. Mas eu nunca tive um sonho assim: “Ah, vou jogar igual fulano”, nunca tive, o meu negócio é porque eu gostava de jogar bola mesmo, não tinha sonho de ser jogador, não tinha. Desde pequeno, ali com os meus sei lá, 12 pra 13 anos, eu comecei a entender como que as coisas funcionavam, a minha ideia sempre foi de ter uma empresa, sempre assim. Há um tempo atrás, a minha irmã mais velha, que é filha da minha madrasta, Daiane, ainda tava me falando: “Eu lembro quando você era menor que você já falava que você ia ter uma empresa”, tipo assim, eu sempre quis ter uma empresa e lembro que tinha uma vez, que eu tinha uns 12 pra 13 anos, e a gente vendia cartucho – minha madrasta fazia e a gente vendia doce e meu tio começou a mexer com melancia. Aí, o meu tio sempre vinha da roça e deixava duas, três melancias lá na casa pra gente, eu falei: “Tio, como é que eu faço? Eu vendo as melancias pro sacolão, como é que é?” “Não, nós entrega só quantidade grande” “E o povo que vende? Como é que faz?” “Aí, vende”, aí acho que o meu tio percebeu: “Você quer vender?” “Quero, quanto que é cada melancia?” “Vou vender por 50 centavos”, aí ele deixou cinco ou seis melancias, eu comprei dele. Vendia cada melancia a um real, saí no carretãozinho, nas ruas perto e vendia as melancias. Aí, de dia, eu vendia cartucho; no final do dia, eu pegava o carretão, vendia as melancias e vendeu rapidinho. Falei: “Tio, quero dez melancias agora”, aí ele trouxe dez melancias, aí eu fui, vendi, aí juntei com a grana que eu tinha que eu vendia o cartucho, juntei essa grana e liguei para o meu tio: “Tio, pode trazer pra mim agora umas 30 melancias”, aí o meu tio: “Não, não posso levar melancia” “Não, tio, eu vou comprar” “Não posso vender e tal, isso aí só pode levar pouquinho, não posso levar muito, não”, aí acabou o meu negócio de melancia. Mas eu sempre tive a ideia assim, eu queria abrir uma empresa, não sabia de que, não tinha muita ideia de que, mas eu queria vender alguma coisa, eu queria ter a minha empresa.
P/1 – E como eram essas vendas, né? O que precisa para ser um bom vendedor? Como você fazia para vender os doces e as melancias?
R – Cara, não sei. Hoje, depois de toda formação e tudo, a gente entende, mas quando eu comecei a vender doce, eu era extremamente tímido, eu sempre fui muito tímido. Eu lembro que assim, a primeira vez que eu falei em público pra apresentar qualquer trabalho de escola, já tava no segundo ano do ensino médio, antes disso, todas as notas eu perdi. Eu não ia e realmente, não ia. Quando a gente começou a vender cartucho, o meu pai sempre falava assim: “O homem tem que começar a trabalhar, o homem tem que aprender a trabalhar desde cedo”, eu cresci com o meu pai falando isso: “Homem tem que aprender a trabalhar, se não aprender a trabalhar, vira vagabundo”, cresci com o meu pai falando isso, então quando eu fiz 11, eu tinha 11, meu irmão tinha nove… A minha mãe sempre fez alguma coisa para vender, seja sorvete, seja pastel, ela sempre fez alguma coisa para vender. Quando a gente tinha 11, ela fez cartucho, que é um doce de amendoim, né? E a gente começou a vender cartucho, eu comecei com 11 e eu lembro que com 11 anos, eu comecei a vender cartucho e aí, a gente vendia e juntava a grana, ia juntando, que dava pouquinho, mas todo dia ia juntando. E aí, tinha uma loja aqui em Paracatu que vendia com 100 dias direto no cheque e meu pai levava a gente pra comprar a sua própria roupa, aí o que o meu pai fazia? Ela dava um cheque e falava: “Você tem 100 dias para pagar”, aí antes de ir na loja, eu sentava, distribuía assim, os 100 dias, contando os finais de semana e tal, mais ou menos, uma média de quanto eu ganhava por dia, ganhava um real e pouquinho, aí colocava pra eu saber quanto que eu podia gastar trabalhando 100 dias. E aí, o pai dava o cheque, a gente comprava as roupas, a gente comprava já penando assim: eu tenho 100 dias para pagar e eu tenho 100 dias para juntar x de grana. Ali, foi a primeira vez que eu comprei as minhas roupas, nunca mis meu pai me deu roupa, a gente sempre comprou as nossas roupas, os calçados, tudo. Nunca mais o meu pai teve que… lógico que assim, Natal, aí ele dava roupa de presente, tal, tipo: “Tô precisando de uma roupa”, não tinha mais isso, então desde os 11 anos, aí eu já comprava as minhas roupas, já, meus calçados e era assim: “Tô precisando muito” “Trabalhe mais, se vira”. Era a gente que comprava a nossas roupas, então, acho que isso é o que fez muito a gente abrir esse espirito de empreender, de juntar a sua grana, de fazer as suas correrias e buscar as suas coisas, você quer as suas coisas? Então, corre pra comprar, porque a gente sempre entendia que o pai tinha muitos filhos e pai sempre falava: “Vocês são muitos, como é que eu vou dar roupa legal para todo mundo de dois em dois meses? Não consigo”. E as minhas irmãs que eram mais velhas que eram filhas da minha madrasta, todo mundo já trabalhava, que elas já eram maiores, né? Então, elas já trabalhavam e o meu pai cresceu falando que homem tem que trabalhar, as mulheres já estavam trabalhando, então, a gente já começou também.
P/1 – E agora, eu queria que você falasse da escola, quais são as suas primeiras lembranças da escola? De começar a ir para a escola, aprender?
R – A primeira aula foi numa escola chamada Comecinho de Vida, lá no JK, que hoje nem existe mais essa escola. E a minha irmã Tais, minha irmã por parte de mãe, da minha mãe biológica, ela me ensinou a ler cedo. Eu lembro que eu aprendi a ler em rótulo de manteiga. Eu lia todas as letrinhas dos rótulos de manteiga, de tudo. A Tais me ensinou a ler, então quando eu entrei na escola Comecinho de Vida, eu já sabia ler, já sabia assim, mais ou menos juntar, então, a lembrança que eu tinha da escola, eu entrei e aí, os meninos ainda estavam juntando as letras e eu já lia, aí quando tinha atividade, a professora tinha que me separar dos outros meninos, porque eles estavam montando ainda e eu já escrevia porque a minha irmã já tinha me ensinado e isso é legal, é uma lembrança boa que eu tenho dessa primeira infância e desse primeiro contato com escola e ali, já rolava um bullying porque eu não misturava com os outros meninos direito, porque na hora da prova, eu me separava dos outros meninos. E normalmente, os exercícios de colorir, essas paradas, a minha irmã já fazia tudo comigo, ela já me passava tudo que ela pegava dos primos e tal, e aí, acho que pra gente ficar quieto em casa, não ficar saindo pra rua e era ela que olhava a gente, aí ela passava esses exercícios, essas coisinhas. A gente ia comprar pão, ia lendo as placas, os negócios e aí, foi assim que eu comecei a minha primeira infância foi assim. No restante, no ensino fundamental, eu tenho algumas lembranças de muita timidez e normalmente, eu nunca fui um aluno de dar trabalho, sempre fui muito de boa, muito tímido, poucos amigos, assim, conversava com poucas pessoas na sala. No mais, as matérias, o desenrolar das coisas, eu nunca tive muita dificuldade e ali pra sétima, oitava série é que eu comecei a ter mais amigos e conhecer mais pessoas e muito por causa do futebol. Meu pai se mudava muito, toda vez que ele se mudava, a gente mudava de escola, então ele mudava muito de um bairro para outro e eu sempre mudava de escola com isso. Quando fui ali para a sétima série, eu fui para uma escola nova e, nessa época, eu era goleiro, cheguei para jogar e como sempre falta goleiro, eu comecei a ter mais amigos muito por causa disso: “Chama o Alan, que ele é goleiro, ele não vai reclamar para jogar na linha, ele é goleiro”, e nessa época, eu jogava bem no gol e, por isso, eu comecei a ter mais amigos por causa do futebol, assim e conhecer mais pessoas e tal, mas nessa época de ensino fundamental, era bem tranquilo, assim, jogava bola e tal, nunca tive problema de briga, nunca tive problema com isso, sempre me dei bem com todo mundo, mesmo as pessoas que eu não conhecia. Eu sempre me dei bem com todo mundo, porque eu era sempre muito calado, então, conversavam comigo, eu conversava também, eu sempre fui muito de boa. No ensino médio, aí já foi um pouco mais diferente, porque aí, eu mudei de escola de novo, no fim da oitava série para o primeiro ano, para uma escola completamente diferente, fui para Afonso Roquete que era do outro lado da cidade, então não conhecia ninguém na escola e tal. E aí, muito por causa do futebol também que a gente começou a conhecer a galera, porque jogava bola e a galera jogava também e aí, foi ruim, porque comecei a aprender a matar aula para jogar bola, mas nunca tive muita dificuldade com as disciplinas. A minha primeira nota vermelha foi no primeiro ano, que eu tirei uma nota vermelha em Literatura. E assim, eu sempre tive muita nota boa, professora chamava Maria Santana e ela gostava muito de mim e eu tirei uma nota vermelha, ela acabou comigo na sala e tal. E aí, o engraçado é que ela acabou comigo na sala e falou um monte: “Tá perdendo o compromisso, blá, blá, blá…”, já para o final do ano, que você tem que se espelhar na Aline, que a Aline é uma grande aluna, não sei o que, que tinha quase fechado Literatura. Eu falei: “Essa Aline é muito...”. No outro ano, a Aline era da minha sala e ela foi a minha melhor amiga durante um bom tempo, assim, e é uma lembrança massa que eu tenho de ensino médio, que aí eu já era do segundo, terceiro ano, eu já era amigo de todo mundo da escola, assim. A galera do futebol, a gente era amigo, porque jogava bola junto; a galera que estudava muito, a gente era amigo, porque eu também estudava; a galera que brigava, a gente era amigo eu não sei porque, porque eu não brigava, mas a gente era amigo também, então, era brother de todo mundo da escola, conhecia todo mundo, não tinha problema com ninguém, quando qualquer menino falava assim, que: “O Alan é folgado, vou bater nele”, nem chegava em mim, porque todo mundo falava: “Você não vai bater no Alan”, então, eu já conhecia todo mundo da escola e aí, o meu ensino médio foi muito divertido. A época em que eu mais me diverti na escola foi no ensino médio, porque como eu era amigo de todo mundo, a gente sabe de tudo o que acontecia na escola, assim, tipo, jogava bola com a galera e se todo mundo matasse aula para jogar bola, eu também matava aula e a gente jogava truco na escola, aprendi a jogar truco com o meu pai, vendo ele jogar e aprendi a jogar truco, jogava truco na escola, e era escondido, era proibido jogar, e sempre quando a diretora ia para ver quem que tava jogando, o que estava acontecendo, os meninos: “Alan, a diretora tá procurando aí, querendo saber do truco e tal”, aí eu ia na frente, porque a diretora gostava de mim, era eu e a Aline, aí a diretora: “Vocês dois estão jogando truco? Isso é um absurdo, não sei o que” “Mas foi só um dia”, a diretora esquecia dos outros e ficava só ali batendo papo com a gente, aí pronto, a gente livrara a cara de todo mundo. Ela não ia dar um corretivo, dar suspensão em mim e nem na Aline de uma vez. E aí, como ela não queria castigar nem a Aline e nem eu, ela não castigava ninguém, toda vez que tinha alguma treta de truco, de qualquer coisa na escola, aí ia eu e a Aline assim, na frente, os dois na frente para fazer uma parede ali e a diretora sempre passava. O ensino médio foi uma época, que nossa, eu me diverti muito. Era a época que eu tinha certeza absoluta que eu ia terminar o ensino médio, entrar na faculdade de Administração e abrir uma empresa, eu só não sabia do que. Eu tinha certeza, já tinha o meu plano de vida todo traçado, assim, na minha cabeça.
P/1 – E aí, o que aconteceu quando acabou o ensino médio?
R – Aí, com 16 anos, eu entrei no Conscienciarte e aí, mudou tudo assim, inverteu tudo. Eu entrei no Conscienciarte para um projeto primeiro que chamava Meu Jardim, era um curso de jardinagem, horticultura que a gente ficou um ano nesse curso e esse curso é engraçado porque, quando eu entrei, eu comecei a vender cartucho com 11 e já tinha 14, né? Quase 15. Era uma época em que eu vendia cartucho e a gente tirava, mais ou menos, 70, 80 reais no máximo, por mês vendendo cartucho. E eu vendia cartucho aqui na Conscienciarte e a galera sempre me chamava: “Vamos fazer um projeto, vamos participar disso e tal”, e eu nunca entrava porque eu tinha que trabalhar, tinha que ganhar dinheiro e quando a Bethânia falou: “Vou colocar você num projeto chamado Meu Jardim, é um curso de jardinagem e horticultura”, eu pensei comigo: o que eu vou fazer com jardinagem e horticultura? “E tem uma bolsa de 100 reais” “Eu topo entrar, vamos entrar”, que eu pensei: ganhava 70, 80, a bolsa dava 100, vamos fazer isso daí. E entrei. E lá que começou todo esse processo de mudança, porque a gente fazia o curso de jardinagem e horticultura, meu professor chamava Haroldo e o Haroldo começou a dar para a gente atribuições assim: “Estuda sobre coleta seletiva que você vai apresentar para os seus colegas”, “Estuda sobre, sei lá, poluição ambiental, poluição da água, que você vai dar uma palestra para os meninos adolescentes aprendiz”, que era um outro projeto. E aí, foi ali que eu comecei também e é por isso que com 14, e com isso eu já tava com 15 pra quase 16, que eu tava no ensino médio, aí que eu partindo do Conscienciarte de apresentar os trabalhos de meio ambiente é que eu tive coragem de apresentar, a primeira vez que eu fui pra frente na escola foi uma apresentação sobre clonagem e a professora de Biologia pediu para dar esse trabalho sobre clonagem, chama Marcia Roquete essa professora e deu esse trabalho sobre clonagem, eu apresentei. Assim, e eu lembro que eu me preparei tanto, mas tanto que treinava de frente para o espelho, testava, fazia, porque tinha um negócio já que junta fulano com beltrano para clonar que deu a ovelha Dolly, tinha essa referência da ovelha Dolly e aí, eu lembro que eu ficava treinando em casa, supondo que a minha mãe é a primeira ovelha e o meu pai é a segunda ovelha, que clona e dá não sei quem, estudei muito para falar sobre esse tema de clonagem e gostei. Ali, eu vi que eu gostava de falar na frente, que foi divertido, não só pela nota depois, que foi uma nota boa mas, durante, eu me diverti falando para a turma e achei legal fazer e depois, as palestras no Meu Jardim, eu também achava legal, e ali, eu comecei a escrever e aí, você vira meio que referência: “Se tiver que apresentar, o Alan vai lá e apresenta”, e eu comecei a me divertir com aquilo, assim, de apresentar, de falar na frente e tal e depois, o Meu Jardim encerrou, eu entrei para um projeto chamado Adolescente Aprendiz que acontece aqui na Fundação Conscienciarte, que é iniciação ao primeiro emprego. Fui trabalhar numa concessionaria na Primavia, que é uma concessionaria da Fiat, eu trabalhava lá como office-boy e fiquei um ano e dois meses, mais ou menos trabalhando como office-boy e encerrou o meu contrato na Primavia e o gerente da Primavia, na época, que chamava Ailton me chamou pra trabalhar lá na Primavia. E paralelo a isso, tava tendo um negócio de consciência negra no Conscienciarte, que todo ano eles fazem, até hoje, e os alunos do Adolescente Aprendiz tinham que escrever um texto falando sobre esse tema de consciência negra. Eu lembro que eu tava na Primavia, terminei o serviço de office-boy, sentei de frente para o computador lá, escrevi um texto rapidinho, digitei rapidão e imprimi lá na Primavia mesmo escondido (risos) na época, aí levei para a professora e esse texto sobre a consciência negra que fez o Lucivaldo que era o superintendente na época despertar a atenção para mim. Ele já tinha me visto um momento ou outro e aí, esse texto que eu fiz sobre consciência negra, minha professora gostou, que passou para a coordenadora, que gostou demais, que passou para uma outra coordenadora que falou que era para eu ler esse texto num evento maior que eles faziam na porta da prefeitura. E aí, eu fui para ler esse texto na porta da prefeitura e depois, o Lucivaldo me falou que foi naquele momento que ele despertou a atenção de: nós precisamos trazer esse menino para perto. E eu lembro que na época assim, eu escrevi o texto e comecei a ler e eu tenho um problema até hoje que eu sou trêmulo, então quando eu vou falar para qualquer pessoa segurando o microfone, aí o microfone fica tremendo, aí parece que eu que tô nervoso, só que eu não tô nervoso, é que eu tremo. Só que o fato das pessoas acharem que eu tô me deixa nervoso. E aí, eu segurei uma pasta assim com o texto, tô tremendo, por fim, eu fechei a pasta e terminei de falar o texto do jeito, aí dei uma mexida, falei da minha cabeça mesmo, porque as pessoas estavam achando que tava nervoso, aí: vou ficar nervoso. Então, fechei a pasta e terminei de falar o texto. Depois, o Lucivaldo veio aqui, me chamou aqui na verdade, eu vim e falou: “Nós estamos encerrando o seu contrato, a Primavia, já sei que a Primavia quer te contratar, mas eu também quero te contratar aqui no Conscienciarte”, e aí, o Lucivaldo é uma pessoa extremamente persuasiva, é a pessoa mais persuasiva que eu conheço, e ele falou muito sobre os projetos e sobre as possibilidades e tal e falou muito assim, uma coisa que ele falou que fez eu me decidi vim pra cá na época, falando menos inclusive, porque ele falou assim: “Pensa o quê que você quer ser daqui cinco anos”, e aí, eu pensei e decidi que vendedor de peças não era e eu ia ser contratado na Primavia para vender peças. Eu lembro que na época, a Fundação ia me pagar acho que 675 reais e a Primavia, os meninos recebiam quase mil, isso assim, eu tinha acabado de fazer 18 anos. Pra mim era… mil reais, nossa senhora! E mesmo assim, eu vim para o Conscienciarte, que eu falei: “Eu não quero ser vendedor de peças, então eu vou para a Fundação”, e vim. Quando eu cheguei aqui, o Lucivaldo falou comigo: “Alan, nós temos duas vagas que eu posso te oferecer, uma delas é no financeiro e uma delas é na comunicação que é onde eu tô precisando mesmo”, aí eu falei assim: “Posso te responder amanhã?” “Pode”, aí fui pra casa e comecei a pensar: esse cara tá… tem o financeiro, o financeiro eu me ambientava mais, ele falou que tava precisando muito, era na comunicação, se eu for para o financeiro, esse cara vai me mandar embora e eu já dispensei a Primavia, eu vou para comunicação, sem saber nada do quê que era, não fazia ideia. Aí, voltei, falei: “Lucivaldo, vou para a comunicação”, e aí, foi onde todos os meus planos foram assim, mudados, que aí eu entrei na comunicação e aqui no Conscienciarte que eu tive o primeiro contato com tudo, assim, saber o quê que era comunicação, como que era comunicação interna e externa deles, e fotografia e site, e saber como é que funcionava e tudo. O Paulo Fabricio que era o coordenador de comunicação na época e hoje assim, é um pai para mim, inclusive, hoje no sentido religioso, ele é o meu pai, que eu sou do Candomblé e ele é o meu pai de santo, o Paulo Fabricio e acabou que eu me encantei pela comunicação, comecei a fazer fotografia, tinha uma oficina de fotografia aqui e não tinha nenhum funcionário que fotografasse os eventos, cada evento era uma pessoa e aí, o Lucivaldo falou: “Você faz oficina de fotografia para você fotografar todos os eventos”, aí eu fiz oficina num ano com um fotografo chamado Zé Ruas aqui e no outro ano, eu passei a dar oficina de fotografia, que eu lembro que eu ia no Zé Ruas todos os dias, ele tinha uma loja duas ruas aqui pra cima e aí, toda dúvida que eu tinha de fotografia eu ia lá e perguntava a ele, aí ele sanava essa dúvida e eu voltava pra cá e começa a fuçar de novo, até a hora que eu travava, a hora que eu travava eu ia lá, então eu ia lá todo dia, conversava com o Zé todo dia, no outro ano, eu comecei a dar essa oficina de fotografia e comecei a fotografar os eventos da Fundação e tal e tava me divertindo, fotografando e mexendo no Photoshop e tal. Com isso, aqui tinha oficina de fotografia e de vídeo e aí, e um dia teve um evento não sei das quantas que o Lucivaldo falou: “Alan, tem que filmar” “E aí? não sei fazer isso” “Chama Moacir, pede a ele para te explicar mais ou menos, tem que filmar”, aí o Moacir me explicou e eu filmei esse evento, que era uma reunião. E aí, eu fiquei assim, tinha o equipamento de filmagem, tinham as ilhas de edição aqui e não tinha ninguém para mexer. E aí, eu comecei a fuçar assim. Fuçar, e olhar e mexer, tinha um evento, a gente filmava, aí o Lucivaldo viu que eu tava mexendo, falou: “Alan, se você aprender, eu vou te mandar para São Paulo, pra você fazer um curso de filmagem”, falei: “Então tá, vamos aprender”, aí eu comecei a fuçar e aí, fiz o curso de filmagem, aí eu parei de dar aula de fotografia e fiz o curso de filmagem aqui na Fundação também e aí, a gente começou a filmar os eventos daqui, me mandou para Belo Horizonte para conhecer projetos de audiovisual, aqui tinha o cineclube na época, até hoje ainda tem, hoje, a TV Caroço Cineclube e aí, a gente tinha esse cineclube e fui fazer esse curso lá de filmagem, achei uma galera muito massa que fazia cinema, que já produzia e fazia uns docs e montava muita coisa e me deram muitas dicas, assim: “Faz assim, faz assado, me manda e-mail que eu te mando”, e aí, foi assim, essa troca e aí, eu comecei a me encantar para o audiovisual, mas eu fazia Administração, eu fazia faculdade de Administração, mas comecei a debruçar em audiovisual e fazendo, fazendo e viajei de novo para fazer e aí, por fim, eu assumi a oficina toda. Aí, eu dava fotografia e dava vídeo. E sempre era assim, era um curso de 90 horas, os meninos vinham, aprendiam a filmar, a prendiam a fotografar, montavam uma exposição fotográfica por ano, então uma turma fazia umas fotos, a outra turma fazia outras fotos, a gente juntava tudo e fazia uma exposição no final do ano. Só que eu via a galera de uns projetos sempre com resultado em vídeo e eu falei: “Lucivaldo, vamos mexer nesse projeto? Não tem um produto, vamos fazer um filme no final” “Pode fazer”, aí a gente começou a fazer. Os meninos começaram a produzir documentários. Aí, em 2010, teve uma turma que terminou a oficina de audiovisual, eles fizeram um vídeo acho que sobre saúde pública, a gente foi no hospital, gravou com a galera e tudo, entrevistou secretario e aí, essa galera falou: “Alan, como é que eu faço pra continuar?” “Acabou” “Mas nós queremos continuar filmando”, e em paralelo a isso, eu tinha conhecido uma galera da TV Ovo lá no Rio Grande do Sul, o Lucivaldo tinha me apresentado essa galera da TV Ovo, me mostrou uns vídeos deles e tal, falei: “Vamos montar uma TV aqui?”, e nós éramos sete, eu e mais seis alunos, que assim, eu tinha 20 anos, os alunos tinham praticamente a minha idade, assim. “Vamos montar uma TV?” “Vamos montar uma TV” “E o que é a nossa TV?” “A nossa TV é feita por adolescentes, nós somos adolescentes”, e ficou isso: nós somos da TVA, TVA, TVA e tinha uma galera que ainda zoava aqui na Fundação, falava: “Essa TVA é TV Alan”, e tal. E não era, a gente chamava de TVA de TV Adolescente. Vamos para a TVA, vamos para a TVA e aí, a gente chegou no Lucivaldo: “Lucivaldo, nós queremos equipamentos emprestados para gente começar a montar a TVA” “Não, vocês vão fazer o seguinte, Conscienciarte vai fazer 18 anos, vocês vão fazer um vídeo de comemoração dos 18 anos do Conscienciarte, se esse vídeo ficar bom, vocês podem mexer com a TV aqui, se não ficar vocês não podem. Aí foi assim, o vídeo da vida de todo mundo (risos)! Eu lembro que foi um doc gigantesco, deram 25 minutos de documentário falando da Fundação. E aí, a gente fez o doc, entrevistou uma galera, gente antiga, entrevistou funcionário, aluno, fez um doc gigantesco. Aí o Lucivaldo: “Nós temos um evento, o evento é tipo daqui dois dias, só que esse vídeo tá muito grande, vocês têm que cortar para no máximo dez minutos”. Eu aprendi a editar para editar esse vídeo aqui de 25 minutos, como é que eu vou enxugar esse negócio agora para dez? E aí, a gente foi, mexeu, mexeu, tirou um monte de coisa, regravou outras coisas, fechamos um vídeo de dez minutos. E foi um sucesso! A galera gostou muito, os funcionários gostaram e o Tiago que era dono de um jornal aqui na época, hoje ele é fotógrafo de casamento, e Tiago veio do Rio Grande do Sul e a minha referência positiva era a TV Ovo. Quando terminou, que passou o vídeo, o Tiago tava apresentando o jornal, aí tava o Lucivaldo, eu, aí o Tiago falou: “Quem foi que fez esse vídeo?” “Foi a gente que fez” “Vou te falar, viu, esses vídeos seus aí tá batendo a TV local, ó, anos luz na frente, vocês estão muito bons. E vou te falar m negócio, não tem porque eu puxar saco seu, não, o vídeo ficou bom, ficou muito bom”, Lucivaldo ouvindo, né? Os meninos ali, todo mundo achando muito bom, depois, a gente chamou o Lucivaldo, o Lucivaldo falou assim: “Vocês podem tocar a TV, nós vamos dar para vocês equipamentos e nós vamos fazer melhor, nós queremos que vocês comecem a produzir as coisas da Fundação, além das coisas que vocês quiserem. Aí, você pode me falar o que você precisa além dos equipamentos”, aí eu não pensei duas vezes: “Preciso de uma sala, quero uma sala só para nós”, aí o Lucivaldo: “Beleza”, a gente ficava na sala que é nossa até hoje, aí o Lucivaldo: “Pode pedir para a Flavia e o Paulo – que eram os outros dois da comunicação – saírem da sala e passarem para outra sala que aquela sala, agora, vai ser só de vocês. Só que tem uma coisa, vocês têm que mudar esse nome, porque esse nome tá muito ruim”, aí a gente foi para a sala e chamei a galera: “Eeeh! Nós ganhamos uma sala e a Fundação vai ajudar a gente e tal e vamos pensar um novo nome”, aí a gente juntou os sete e chamamos Lucivaldo pra ajudar também, para fazer, na época, a gente não tinha ideia que a gente tava fazendo um brainstorming ali de pensar o nome e saiu muito nome ruim, assim. Muita porcaria. Até que um dos meninos falou: “Vamos chamar TV Caroço. Não tem TV Ovo? Nós vamos ser TV Caroço”, e todo mundo: “Que porcaria de nome, não vai ser isso, não”, aí a Jessica que era uma das meninas que tava ali no início, falou: “TV Caroço é massa” “Que massa, o quê? Jessica! Que nome ruim, vamos pensar em outra coisa” “Porque caroço é uma semente, a gente não quer plantar um senso crítico na galera e tal? E o caroço é meio que uma semente, meio bruto, ali e tal. Rola”. E aí, a galera abraçou a ideia. “Vamos chamar TV Caroço”, e eu achei muito ruim o nome TV Caroço. Só que assim, a gente tinha uma ideia de democracia, a galera que montou, a galera decidiu, beleza, não concordo, mas vamos deixar TV Caroço. E aí ficou TV Caroço. Até hoje, nesse final de semana eu tava em Belo Horizonte e a gente foi conhecer uma galera lá de um projeto, o pessoal lá da Favelinha, do Plug Minas e tal, e todo mundo que a gente falava: “Nosso projeto chama TV Caroço”, todo mundo: “Que máximo”, todo lugar que a gente ia que eu falava na TV Caroço, todo mundo: “Nome massa”, não tem condição, não, esse nome é muito ruim (risos), eu detestava, eu me acostumei com o nome TV Caroço, porque eu não gostava. E ali, nasceu a TV Caroço. Quando nasceu a TV Caroço, acabou o sonho de Administração. Se eu tivesse editando, não ia pra faculdade, aí se eu tivesse que viajar para produzir: “Mas você não tem aula?” “Não tem problema, não”. Seis meses depois, eu já tinha saído da faculdade de Administração, eu já tinha debruçado na TV Caroço e, com quatro meses, um amigo nosso de Belo Horizonte mandou um edital de um concurso de roteiros para Vitoria, no Espírito Santo. E aí, eu falei com a Bethânia, e as meninas que mexiam na parte pedagógica: “O quê que vocês acham?” “Alan, você sabe fazer roteiro?” “Sei do meu jeito, não sei se é certo” “Faz e manda, ué” “Vou mandar” e aí, mandei. A gente mandou um roteiro para falar sobre os griôs, os mestres e griôs que têm em Paracatu. Que o griô é um termo usado para uma pessoa de origem negra que carrega uma tradição oral muito grande e que repassa isso. E por coincidência, tinha rolado a semana de consciência negra aqui em 2010 e aí, a Fundação tinha certificado vários griôs, inclusive, um deles trabalha aqui até hoje que é o Pelezinho. E eu achei aquilo legal: “Vamos fazer dos griôs?” “Vamos fazer dos griôs”, aí a gente mandou, o filme podia ser documentário ou ficção, mas o nosso era um doc que falava sobre a história de três griôs aqui de Paracatu, que era Pelezinho, que é carnavalesco, e tal, Dona Cristina, que é lá da Comunidade Quilombola, chamada São Domingos, que se vocês não tiverem entrevistado ela, eu super indico e o terceiro era o seu Ilídio, que era um músico de Paracatu que igual ao Douglas, quem é músico, certeza que conheceu o seu Ilídio, assim, metade de Paracatu foi ele que ensinou a tocar. E aí, a gente mandou. E eu lembro que como eu não tinha muita ideia de como é que funcionava, eu liguei lá na Oficina umas dez vezes, assim: “Mandei minha inscrição, vocês receberam? O roteiro era isso mesmo? Qualquer coisa…” Todo dia eu ligava lá, até que a moça: “É isso mesmo, pode deixar”. Passou um tempinho, eles anunciaram que a gente tinha sido selecionado, selecionaram 14 roteiros no país e um deles era o nosso. E aí, eu lembro que eu fui pra Vitoria. Fiquei num mosteiro lá em Ibiraçu numa formação intensa em audiovisual. Foi o momento maior de formação audiovisual que eu já tive na vida, foi lá, até hoje, que foram dez dias com uma galera muito massa, tinha roteiro... Todo mundo formado, todo mundo com um currículo gigantesco e foi muito bom, porque vinha um profissional por dia: roteiro, o cara de roteiro ficava hoje. Amanhã, era outro. Aí tipo, o cara ia ficando, ficando, ficando, a gente tinha oficina até às dez, mas a gente ficava com ele até tipo três da manhã e ficava assim, louco, porque eu tinha que aprender muito com ele, mas eu tinha que dormir porque amanhã era outro cara. E foi assim, dez dias, um profissional atrás do outro. Eu fui um profissional e voltei outro de lá. A gente passou por essa formação, voltamos e a gente que tinha aqui uma câmera, na época, aí o Lucivaldo já tinha acreditado mais na gente, aí já começou a colocar mais recursos pra comprar equipamento, aí a gente já tinha outra câmera, já tinha mais tripés, aí já tinha uma tele e tal e quando eu voltei, a gente que ficava praticamente correndo de cima pra baixo a pé para gravar. Nesse caso da Oficina Galpão, a gente tinha recurso para gravar o nossos filme, aí já era maior massa, você tinha dinheiro para pagar lanche, você tinha dinheiro para motorista, você tinha dinheiro para comprar pilha... A gente mandava um orçamento, eles respondiam aprovando o orçamento e a gente produziu, gravou com esses três mestres e fez o filme, o filme ficou maior massa, quando eu fechei, terminei, falei: “Nossa, ficou ótimo, gostei muito ”, e a primeira edição que eu fiz no première, que era um programa mais… A galera lá em Ibiraçu que me apresentou o software para edição e eu falei: “Não, esse ficou muito bom”. Doidinho para exibir e eu lembro que eu encerrei o filme numa quinta e liguei para os mestres, liguei para Pelezinho, liguei para Dona Cristina e liguei para Seu Ilídio, falei: “Encerrei o filme, ficou legal, quero que vocês assistam primeiro e aí, eu pego a autorização de uso de imagens de vocês”, porque na minha cabeça, eu tinha que fazer o filme primeiro, mostrar e depois pegar autorização. E aí, eu encerrei numa quinta, no sábado, o Seu Ilídio faleceu, aí tipo, eu nunca passei esse filme, acabou-se, falei: “Pô, como é que eu vou fazer isso?” O primeiro filme, primeira vez que você faz um filme, e aí, Seu Ilídio faleceu no sábado, aí eu não sabia como é que eu conduzia, como é que eu fazia. Peguei autorização de Pelezinho, peguei autorização de Dona Cristina, liguei para Beatriz que era da Oficina Galpão lá em Vitória e falei: “Beatriz, rolou isso, isso e isso, o quê que eu faço?”, ela: “Ah, Alan, põe uma dedicatória no final do filme dele, mas nós precisamos da autorização, preciso que você mande o filme”. Ao longo de todo esse tempo, eu já produzi muito, eu já dei aula pra muita gente, passei muita cena bacana, muita cena que eu guardo, mas o trecho que mais me emociona de toda minha vida como produtor até hoje, da minha vida toda foi eu levar o filme, perdi total a vontade… O negócio foi que a gente fez e ele cantando, e o final do filme, porque tem essa questão do griô que é um caminhante, é um cara que vai caminhando e espalhando a história e aí, a gente fez uma tomada de um deles subindo para o São Domingos, vocês devem ir lá, a estrada faz uma curva e aí, na época, era estrada de chão. O cara foi, subiu, era nosso motorista, só que ele era bem velhinho, a gente colocou a câmera de baixo. Ele foi subindo, subindo até fazer a curva e sumir, esse era o fechamento do meu filme, saca? E aí, quando eu pus esse fechamento do meu filme, no final, tinha o Seu Ilídio cantando: [cantando] “Se o mundo inteiro me pudesse ouvir, tenho muito pra contar…”, e aí, pra mim, o Seu Ilídio foi a pessoa mais especial do filme, porque a música dele fechou o filme, a entrevista dele era a última. Eu fui sozinho, ele tem dois filhos, um menino e uma menina e a esposa e eu precisava que a esposa assinasse, aí eu passei o filme para ela, ela assistiu, tal, gostou, parabenizou, tudo de bom, assinou a autorização e aí, eu tava louco para sai de lá, a hora que ela assinou a autorização, que ela falou comigo assim: “Põe de novo, antes de você sair”, e aí, eu sai, eu ouvi… Foi aquela coisa assim, eu lembro claramente, eu tava sentado no sofá, e tava os dois filhos de cá, o menino e a menina e a mãe assim, perto de mim, eles assistiram, a hora que eu pus de novo, que eu sai, aí eles se juntaram todos assim, para ver o filme de novo, para chorar. Eu não passei esse filme, guardei o filme e a Beatriz falou: “Tem que exibir o filme” “Não vou exibir o filme, não dou conta de exibir o filme” (choro/emoção) Aí, eu fiquei um tempo parado, parei, parei de produzir, assim, tinha a galera da TV, a TV tava rodando, mas eu parei de dirigir, saca? Fiquei um tempo sem dirigir os filmes e aí, a TV começou um corpo jornalístico, porque eu não conseguia mais fazer docs (choro/emoção), saca? Enfim, aí foi isso, assim. Muito tempo depois, muito, muito tempo depois, que a TV ganhou outro corpo, saiu dessa ideia de doc, começou a fazer jornalístico, 2014, mais ou menos, quatro anos depois é que Terezinha falou: “Alan, nós estamos fazendo um negócio sobre griô e tal, você tem algum…”, ela é historiadora da secretaria de cultura e ela tava fazendo uma parada sobre griô e ela falou que tava querendo alguma coisa para rodar, aí eu falei: “Eu tenho um filme, tenho o Griô, que é um filme que a gente fez, é um doc, tem 14 minutos e tal”, e aí, ela exibiu esse filme que foi a primeira e única vez que esse filme foi exibido. É o único filme que eu sempre falo até hoje nas minhas oficinas que pra galera que faz filme, o melhor que fazer o filme, a melhor parte, mais do que produzir é ver as pessoas assistindo o seu filme, não tem coisa melhor para o cineasta, pelo menos pra mim enquanto produtor: a melhor parte de fazer um filme e ver a galera assistir o seu filme e falar que o seu filme ficou bom. Isso é o que paga, saca? Não é a grana que paga a gente ir na escola da oficina, o que paga é os meninos assistirem e falarem: ‘Nossa, ficou ótimo, ficou bom, que louco, gostei”, e a diretora fala: “Nossa, ficou muito bom, eu vi vocês fazendo a maior bagunça com os meninos, achei que não ia sair nada e produziram um filme”, então, o que paga é a galera assistir o seu filme e esse foi o único filme que eu produzi, que eu não mostro, não tinha mostrado. A única vez que rodou foi nesse evento, depois disso, eu guardei, não exibi mais, não rodei o filme. É uma parte da minha vida, que eu gosto, me sinto orgulhoso de ter feito o filme. Fiquei feliz, hoje eu sou feliz de ter feito esse registro, que é uma pessoa muito querida da cidade, é o único registro que tem, mas na época, tava muito empolgado, foi meu primeiro filme, o primeiro que a gente fez: “Vamos fazer um filme” e tal, e aí, rolou essa coisa e eu fiquei um tempão parado, parado assim, a gente vinha, trabalhava e tal, mas não tinha mais aquela: “Vamos fazer um filme, tal…”, fiquei muito tempo sem produzir. Aí, em 2010, 2011, eu já tinha certeza que eu queria produzir filmes, queria fazer isso, queria trabalhar com comunicação, queria trabalhar com fotografia e tal e não ia ser administrador. Ali, eu já sabia, não vai rolar. Depois disso, eu fiz Assistência Social, porque eu comecei a perceber já que eu tô trabalhando com projeto, vamos fazer serviço social para ver o que rola. Só que, na época, íamos eu, Lucivaldo, que ele era pedagogo e queria fazer serviço social, a Leci que era pedagoga também e trabalhou na Conscienciarte muitos anos e Nubia que também era pedagoga e tal. Todo mundo com uma vivência nova de projeto e uma vivência nova de serviço social prática e fomos todo mundo junto de uma vez fazer serviço social, só que tanto para eles quanto pra mim, o conteúdo não tinha nada de novo. Eu lembro que quando tinham as discussões, era à distância, aí o professor dava uma discussão pra gente fazer, a gente se irritava: “O que esse cara tá falando? Não tem nada a ver, assim. O que ele tá falando com a prática não tem nada a ver”. E aí, com isso, aí fui saindo. O Lucivaldo saiu porque passou num concurso público e saiu, aí a outra saiu e aí, fiquei sozinho, sai também. E eu tenho essa dificuldade assim de querer sair para estudar cinema ou para estudar publicidade, mas sou muito atrelado a Paracatu. No ano passado, eu tava com a minha empresa e tinha me afastado do Conscienciarte e a Cris que era minha aluna tava mexendo na TV Caroço, aí a Cris foi embora para estudar. A TV Caroço ficou com o Guilherme na direção, só que o Guilherme não tem um perfil de diretor e aí, o Conscienciarte me liga: “Alan, aprovamos a TV Caroço na lei, Kinross vai patrocinar e nós precisamos que você volte para conduzir a TV de novo”, e eu tava com um plano assim: vou juntar uma grana para eu ir embora, comecei a representar uma agência de Patos [de Minhas, MG], falei: “Vou para Patos fazer Publicidade lá”, aí não fui, porque: “Nós precisamos que você reconduza a TV Caroço. Precisa que seja você porque vai ter a Lei Rouanet por trás, tem a prestação de contas, tem que ser tudo muito certinho”, aí nem pensei duas vezes, voltei de novo pra conduzir a TV e, hoje, a minha ideia de trabalhar com Administração e montar a minha empresa não existe mais, hoje eu só toco a minha produtora e os projetos, que não param, né? E é uma preocupação porque a gente sabe que o projeto é muito difícil, você viver de projeto, né? E chega um momento em que a gente precisa deixar isso, até para fechar esse ciclo e começar um novo. Enfim, vamos ver se a gente fecha aí uma hora e começa outro novo (risos).
P/1 – Eu queria voltar lá atrás para aquele Alan mais novinho que foi ler o texto sobre consciência negra. O que tinha nesse texto? O que você se lembra dele, o que tinha lá escrito? Se você lembra de alguns pedacinhos ou sobre o quê que era que ele tava falando?
R – Tava a minha vida, ali. Tavam coisas que eu percebia ao longo dos anos. Eu já tinha 15 anos, mais ou menos, tava no Adolescente Aprendiz, 15 para 16 anos, e eu comecei a vender doce na rua com 12, 11, então, lá tinha muito do que eu percebia, saca assim? Um pouco por causa da formação do Conscienciarte, mas muito do que eu percebia e via no dia a dia. Então, lá tinha o que a gente percebia que a mulher negra estava para servir o café e que o homem negro era segurança, meu pai era segurança e tava o que eu percebia: que a gente, às vezes, muitas vezes, passava na rua e tipo, você via que a senhora que tava na frente andava mais rápido, saca, que você passava e via porta de carro travando e tal. Então, lá tava um pouco da minha vida nesse texto muito sobre preconceito. Na época, eu não sabia o que eu estava falando. Eu colocava muito a questão que a gente precisava muito ter umas pessoas que pensassem em fazer o bem para o coletivo, de fazer o bem para todo mundo, de olhar o negro não como a pessoa que vai servir uma xicara de café, mas como um ser pensante que pode contribuir e nessa época assim, mesmo sem saber, eu já falava de política pública, que depois que eu fui descobrir que a palavra era a política pública, mas nesse texto, muito do que tinha era eu falando um pouco sobre essa questão de ter políticos que se dedicassem a isso e que percebessem essas coisas e muitos dos exemplos que eu colocava, de a senhora negra que serviu café que era a minha mãe que era doméstica, de olhar um homem negro e não achar que ele é só o porteiro ou o segurança, porque o meu pai foi porteiro e segurança. Pra mim, meu pai era uma pessoa inteligentíssima e até hoje, eu vejo o meu pai como uma pessoa extremamente inteligente. E na época, eu ficava: “Meu pai é muito inteligente”, e as pessoas falavam: “Alan, você é muito inteligente”, eu tenho que fazer alguma coisa com isso, porque o meu pai também é inteligente e ele é segurança…
PAUSA
R – Então, assim, as coisas que eu escrevia, sempre gostei de escrever… Toda coisa que eu ia escrever, normalmente, eu me espelhava em mim mesmo, nas coisas que aconteciam comigo, daí a facilidade de escrever sobre consciência negra, porque eu via muita coisa, percebia muita coisa, nasci de família pobre, em bairro de periferia, o meu pai sempre se preocupava. A gente mudava muito porque o meu pai teve uma preocupação que ele visualizava: se eu deixar os meus filhos morando aqui, onde é muito propenso e muito vulnerável, é claro que do jeito dele, no pensamento dele, mas hoje eu já entendo que ele percebia, mesmo muito humilde na época, ele já percebia que se ele deixasse, eu e o meus irmãos ali, num ambiente de vulnerabilidade, a gente estava correndo um risco maior, né? Ele sempre tentava se mudar mais para perto do centro e por isso que a gente se mudava tanto, porque à medida que o meu pai ia conseguindo, trabalhando e juntando mais grana, sempre tinha o trabalho, o comércio, o negócio, e aí, ele ia mudando mais para o centro, à medida que ele ia conseguindo, ele ia trazendo a gente mais pro centro. Isso foi legal porque realmente, hoje mesmo, eu voltei a morar no JK e hoje eu percebo que todos os meus amigos que jogavam bola comigo na época dos dez, 11 anos, tá todo mundo drogado ou preso, uma galera morreu e é muito difícil isso, porque tem muito cara que chega: “Fulano morreu”, eu vou ver a foto, joguei bola com esse cara, conheci esse cara, conheço a mãe dele, e tal. Ali a gente percebe que realmente podia ser eu. Se o meu pai não tivesse esse pensamento do jeito dele, mas esse pensamento de levar a gente mais para perto do centro, de levar a gente para morar e conviver num outro tipo de ambiente e tal, mas muito também desse preconceito aflorado era por causa desse ambiente, também. Todos os meus amigos na rua, no quarteirão ali, todo mundo estudava em escola particular, todo mundo estudava de manhã e ficava de boa à tarde, todo mundo tinha videogame e a gente não. A gente estudava de manhã, estudava longe, ia vender doce à tarde. Meu pai era mais rígido, mais sistemático e tal. Então, tinha essa diferenciação na época, a gente sentia e a galera também sentia, né? Mas que foi bom pra eu ter um pouco dessa sensatez de enxergar como que o mundo funciona desde muito cedo, perceber as diferenças desde muito cedo e de não ser mais um das estatísticas, de não ser mais um que vende droga ou que se droga ou que morre ou que mata e tal. E eu tenho muito isso. Eu lembro que uma vez eu tava indo para a casa da minha vó, que a minha vó sempre morou no JK e aí, eu tava subindo a pé, mais ou menos à noite e vinham dois caras lá de cima, dois meninos, mais novos que eu, só que os moleques olhando com aquela cara ruim pra gente e tal, e o moleque veio para o meu lado para me assaltar, saca? Aí, um cara lá em cima falou: “Oh, não mexe com ele, não”, aí que eu saquei que o cara lá de cima era brother e depois eu descobri que ele que mandava na coca do negócio de tudo, controlava tudo. Aí, ele falou: “Esses meninos mais novos não têm respeito com nada, não”. E a galera mais nova que tava lá não me conhece, mas a galera mais velha que tava me conhece. Recentemente, a gente foi fazer um trabalho para a prefeitura num bairro novo que inaugurou que chama Sarah Kubistchek que é um plano habitacional e o pessoal não tinha mudado ainda, estavam só as casas vazias e a gente foi fazer umas tomadas lá, era um comercial, tinha uma apresentadora e ela tinha que fazer a cabeça lá e foi uma equipe antes, eu não fui e a equipe voltou: “Alan, não dá para gravar não” “Como assim, não dá para gravar?” “Não, o cara lá tá olhando ruim com a gente, xingou a gente, o cara falou que se aparecesse a cara dele, ia matar todo mundo, não sei o que”, e eu sempre fui muito ignorante nesse sentido, tipo, tem que fazer o job? Tem. Então, vamos fazer, velho, não tem essa conversa, não. Vamos lá, vamos gravar. Não tem disso não, eu não vou filmar o cara, vamos gravar. O cara é vagabundo, mas não é bicho, não. E chegou lá, o cara era brother, na hora, (risos), eu falei: “Olha quem é, Marcelo!”, aí eu falei: “O cara bravo que vocês estão falando é Marcelo?”, os caras: “Não fala assim, não”, o cara foi criado com a gente e o cara com a maior pompa: “Não pode entrar aqui, eu meto bala em vocês”. Isso mostra muito do reflexo da vulnerabilidade que existia na época, que hoje, eu consigo tratar com naturalidade. Uma coisa que eu me orgulho muito é assim, de quando precisa sair daqui e ir na prefeitura e conversar com o prefeito e falar do que precisa e falar: “vamos fazer isso, assado…”, quando o prefeito vai fazer alguma ação de juventude, dele me chamar e falar: “E aí, Alan, o que você acha?” Ter esse trânsito livre numa esfera mais alta, mas também de não perder essa raiz que a gente tem, eu vou no JK e é lá que eu nasci… Você vai andar lá a pé de noite? Vou, não tem conversa, não. Isso é uma coisa que eu acho importante, estar lá, ter conseguido sair dessa vulnerabilidade, mas de não “nunca mais vou voltar lá, porque eu tenho medo de lá”, não tenho medo, tem que ir, uai. Eu tive infância junto com eles, os que estão vivos, então não tem conversa, não. Acho que é um pouco isso, assim.
P/1 – Alan e como é sentir esse preconceito e perceber isso na pele? De ver que a senhora andou mais rápido, ou o exemplo que você deu, ou de lutar por estar numa posição de influenciador e conseguir fazer a sua parte para reverter esse cenário?
R – Eu tinha uma ideia antes, ali pela adolescência e tal, que eu sempre ouvia a falar de preconceito, eu comecei a ouvir falar disso na Fundação, né? Eu sempre tinha ideia que o povo falava: “Ah, porque tem esse negócio do preconceito, do racismo, não sei o que”, e eu sempre falava: “Pode me chamar de preto, eu não ligo, não tô nem aí pra isso, não, não tem isso, não”, até a gente começar a perceber as coisas, as oportunidades e eu acho importante ter consciência disso, saber disso, perceber isso e, principalmente, nos dias de hoje, porque hoje a gente tem um politicamente correto que dá uma maquiada nisso, de: “Você tem preconceito com preto?” “Lógico que não, adoro preto, acho lindo, não sei o quê…”, mas se o moleque for preto de bermuda: “parece vagabundo”, né? Então por que parece vagabundo? É uma discussão que eu gosto de promover porque não acabou, o pessoal tenta colocar isso que o racismo não existe mais, que nã, nã, nã, mas não acabou. Basta a gente hoje, em 2017, visualizar quantos pedreiros negros você conhece e quantos médicos negros você conhece, né? A gente ainda tá muito naquela questão, até tanto para negro quanto para gay, que não tem preconceito nenhum, isso é besteira, mas eu não gosto perto de mim, então o preconceito existe, né? E o negro tem uma ideia agora de que ser preto é moda, não sei o que, mas que não é assim, a gente sabe que é assim em alguns momentos, é assim quando você se veste, é assim para dançar, é assim para capoeira, é assim para festa, mas não é no mercado de trabalho, não é assim na faculdade, né, não é assim quando você tá sendo atendido no banco... Eu mesmo trabalhava numa produtora que tem aqui na cidade e, na época, e prestei serviço para o Conscienciarte, e aí, ambos pagavam pelo Banco do Brasil. Eu peguei da produtora o salário mais hora extra e mais um adicional de um trampo gigante que a gente tinha feito e tal, tinha uma “combina” por fora desses trampos e aí, eu fui no banco. Eu lembro como se fosse hoje. Eu fui no banco com uns três cheques e os três davam, sei lá, uns seis, sete mil reais e fui descontar, normal, né? Peguei o RG e fui descontar. A minha conta não era nesse banco, não era no Banco do Brasil, eu descontava para depositar em outra conta. A moça pegou os cheques e foi lá pra dentro, sumiu a moça. E eu tô lá… Que diabo… Ainda brinquei com a menina que tava lá: “Esse banco tá faltando é dinheiro, que a mulher tá juntando pra me dar”, e aí, demorou, a mulher veio e entregou o dinheiro. Quando eu cheguei na produtora, tava a menina do financeiro rachando de rir de mim, ela chamava Fernanda, eu falei: “O que foi, Fernanda?” “Alan, o povo do banco ligou aqui para saber se você trabalhava aqui mesmo e se a gente tinha dado esse cheque para você mesmo”. Aí, liguei para a Fundação:” “Ligaram aqui também para saber se a gente tinha dado esse cheque para você mesmo”. A gente percebe que talvez, se eu tivesse um outro estereotipo, se eu tivesse vestido de maneira diferente, se eu não fosse negro, se não tivesse toda essa questão que é cultural e que eu não coloco assim, como uma má fé da menina do caixa, não é, é cultural isso, tá impregnado nas pessoas, mas talvez, ela não tivesse ligado para conferir, se fosse uma pessoa um pouco mais velha, branca, bem vestida, normal, sete mil reais. E eu sou muito largado, então às vezes, eu contribuo também, vou no banco, de bermuda, chinelo. E eu sou muito largado, eu sou muito solto com essas coisas, eu morava aqui na Vila Covilhã que é perto do centro, perto assim, uns cinco minutos do centro. Um dia, cheguei, minha namorada ficou brava comigo, porque eu saí pra comprar um leite num barzinho só que o barzinho tava fechado, eu subi, eu tava na padaria aqui perto, aqui no centro de bermuda, sem camisa, sem chinelo, descalço pra comprar o leite, mas foi porque eu fui indo, não vou voltar, não, fui indo. Só que as pessoas veem você na rua desse jeito: ou esse menino foi roubado ou ele é um indigente, não tem condição. Mas isso é muito cultural da gente, de levar em consideração o que a pessoa tá vestindo e isso rola o tempo todo. Eu já conduzi equipes enormes aqui em Paracatu e fora daqui com produção audiovisual que a gente chegava para gravar e aí, tava assim, eu, os meninos e toda equipe toda contratada e tinha o Japão que era o meu sócio, na época, na produtora, antes dele ser meu sócio, ele trabalhou muito comigo, prestando serviço para mim e a gente muito amigo, a gente sempre chegava meio que junto e aí, a produtora ia na frente e falava: “Tem isso, isso, o Alan é nosso diretor e tal e ele vai vim pra ver como que faz”. Na hora que chegava, primeira coisa que as pessoas faziam era ir no japa: “Tudo bom, Alan?”, porque o diretor não podia ser eu. Quando a gente tinha a produtora – ele é japonês, de origem oriental, a gente sempre falava para os clientes que a agente era preto no branco. Realmente, a gente era preto no branco com as coisas, e sempre tinha essa parada assim. O Japa, ele é um excelente cinegrafista, mas sempre a direção era minha. E sempre, se você ligasse ou a produtora falasse: “Não, o diretor é o Alan, ele tá chegando”, aí chegava nós dois, o diretor era sempre o Ricardo. Ninguém deduzia que o diretor era eu e isso sempre aconteceu, assim, até hoje. Tem gente que acha que eu sou funcionário da minha produtora, já teve muita gente de prefeituras, que a gente atende prefeituras de cidades vizinhas, e o prefeito de Guarda-Mor [MG], por exemplo, que é uma cidade aqui vizinha, falou: “Essa empresa sua mexe só em Paracatu?” “Nossa produtora começou em Paracatu e mexe só lá” “mas como é que faz? Quem que é o dono lá?” “O dono sou eu”, porque acha que vê o cartão, a identidade visual, imagina que seja uma empresa maior, né: “Você é o dono? Achei que você trabalhava”, por que eu não posso ser o dono da produtora? Sendo que fui eu que liguei, fui eu que negociei, e fui eu que apresentei todos os produtos e eu que falei com ele o tempo todo, o que a produtora fazia e quanto custava, ele não teve contato com mais ninguém. São coisas muito subliminares e que fica muito subjetivo e, às vezes, passa desapercebido e isso é cultura. Isso não me incomoda, o fato às vezes das pessoas não deduzirem que você é o diretor, que você e o dono, pode ser a pessoa que está à frente, não me incomoda. O que me incomoda é as pessoas tentarem colocar como se não fosse necessário uma conversa sobre isso e como se não fosse necessário políticas públicas voltadas para isso, então, isso me incomoda. Isso não só para o negro, mas para a mulher, para todas as minorias e que eu falo que ano são minorias, são maiorias, a pessoa fica: “Daqui a pouco tem que ter cota para gordo, tem que ter não sei o que e tal… não é assim, né? Tem uma história e uma tradição cultural por trás disso que faz com que seja, necessárias essas políticas públicas. Mas vamos mudar de assunto, senão, eu vou falar demais.
P/1 – E Alan, quando você passava aqui na frente com os doces e tal, o que você sabia da Fundação? Como foi, de fato, começar a participar dos projetos e depois, o processo de passagem de aluno para professor, quer dizer, estar nessa função de estar à frente dos meninos, de incentivar a participação nos projetos.
R – Quando eu comecei a passar aqui na Conscienciarte, eu não tinha muito ideia… Pra mim, era um lugar só de curso e que mandava para o primeiro emprego, uma ideia que muita gente tem até hoje, acha que o Conscienciarte é um lugar que encaminha para o primeiro emprego. É porque o projeto é o carro-chefe da Fundação, mas quando eu vinha aqui vender doce, via, principalmente, a galera do teatro, eu via a galera muito feliz, saca, tipo assim, felicidade sem motivo? Povo passava rindo toda hora, isso me chamava a atenção, sempre me chamou atenção. Até hoje, os meninos começam a vir para a Fundação, de repente, os meninos estão aqui toda hora, o tempo todo. Sempre me chamou muita a atenção, da galera aqui ser feliz, dos meninos virem e como se tivessem divertindo muito, se divertindo muito. Foi o que mais me chamou a atenção. Quando eu entrei, que eu comecei a ver essa relação do Conscienciarte e eu vi porquê o pessoal gostava tanto de ficar aqui, porque a gente tinha voz. O principal do Conscienciarte é a metodologia, porque eles têm uma metodologia… Normalmente, a escola convencional é uma metodologia assim: “Entra, senta, cala a boca que eu vou te ensinar”, e no Conscienciarte é assim: “Entra, senta se você quiser e fala aí o quê que você manda”, então tinha isso, da galera falar: “O que você quer? Por que você veio? Pra que você tá aqui? Por que você tá aqui? O que você já passou? O que já rolou na sua vida?”, e sabe assim, que tem uma galera que se importa com o que já passou na sua vida é legal. Isso pra juventude é legal, porque hoje, eu tenho muitas teorias sobre juventude, algumas que eu venho percebendo, mas são todas teorias porque só eu que falo, né? Mas uma das coisas que eu percebo na juventude é que ela quer falar, ela quer muito falar. Às vezes, a gente fica assim: “O jovem não participa, o jovem não fala, o jovem não falou o que ele quer”, eles falam, eles falam, sim, então, depende da forma como você deixa ele falar. Ele quer falar do jeito dele, por isso que a gente tem alunos aqui que são extremamente calados, mas se você der um microfone e falar: “Faz um rap”, o cara conta tudo, depende da forma… Ele quer falar, a juventude quer falar. E essa transição de aluno para professor, eu quase não senti, porque eu era aluno, aí o Haroldo sempre falava: “Ah, estuda sobre isso para você apresentar para a galera”, e foi indo, aí depois, eu escrevi um texto, a galera ouvia, aí depois eu entrei no Adolescente Aprendiz, no Adolescente Aprendiz, eu tive uma professora chamada Fátima. A Fátima é exatamente o que eu sou hoje com os meus alunos, até tem profissionais aqui mais antigos que são da época da Fátima que olham pra mim e falam: “Você é Fátima purinha”, porque ela era de Uberlândia [MG] e veio pra cá para dar aula, morava sozinha aqui, tal, e ela criava um vínculo com os alunos, assim, cansei de ir para casa de Fátima ajudar ela a fazer o planejamento da aula. Tinham duas turmas, uma básica e uma avançada e eu era da básica, mas eu ajudava a Fátima a fazer o plano da avançada e ajudava ela com a aula da avançada, até que depois de um tempo, eu saí da básica e fui para a avançada e fiquei com ela lá. E aí, esse contato com a Fátima de: “Não, vou fazer isso por isso, nós vamos fazer uma dinâmica por causa disso. Nós vamos apertar fulano porque fulano tá conversando demais. Vamos apertar fulano porque fulano tá conversando de menos”, então ela conversava comigo sobre isso, o que ela ia fazer na aula e tal. Então, por causa da Fátima, eu não senti muito essa transição. O único choque que eu tive de dar aula foi porque eu comecei a fazer fotografia e comecei a fotografar os eventos da Conscienciarte e o Lucivaldo falou assim: “Alan, ensina o pessoal de Vazante [MG] – que é outra unidade da Fundação – fotografar lá os projetos e as coisas”, aí eu fui lá, ensinei a galera e voltei. “Você ensinou eles?” “Ensinei” “Você deu conta?” “Dei” “Então, agora você vai dar aula” “Como assim?” “Se vira, eu te contratei, eu preciso de alguém que dê aula, você tem que dar aula”, aí na minha cabeça já acionou: se eu não der aula, esse cara vai me mandar embora. Aí, eu comecei a estudar e a dar aula. E eu tinha uma grande barreira quando eu comecei a dar aula, que foi o quê? Comecei a dar aula com 18 anos, os meus alunos tinham entre 15 e 20 anos, então tinham alunos da minha idade, alunos mais velhos que eu. E como era fotografia, a maioria das alunas eram meninas. E aí, a Claudilene que era coordenadora pedagógica chamou a gente e falou: “A gente não permite relacionamento entre professor e aluna, você já subiu um patamar, você não é mais aluno, você é professor.” Falou isso, só que isso me travou. Eu era meio sargentão: é para fazer, vamos fazer e até hoje, eu tenho um negócio que é muito de cumprimentar pessoa, pegar na mão e não tinha muito de abracinho, esse negócio e tal. Foi assim, toquei isso durante muito tempo. Aí teve um dia, eu já tinha a TV Caroço, já tinham muitas turmas, eu tive uma aluna que tinha 14 anos e ela tinha sido violentada pelo padrasto, violentada sexualmente pelo padrasto e eu não sabia, ela veio fazer oficina de fotografia, fez oficina, de boa, e a oficina já tava quase que terminando, ela era boa aluna e a gente tinha um programa que era assim: a galera fazia oficina e migrava para TV Caroço, fazia os trabalhos e migrava para TV Caroço, alguns e eu já tinha meio que escolhido ela pra ir para a TV Caroço e um dia, ela me chamou na praça aqui perto, falou que queria conversar comigo e tal, aí eu falei: “O que você quer?”, e ela não falou nada, ela só me abraçou, mas ela me abraçou tão forte, chorando, chorando, chorando, sabe: “o que essa menina tá me abraçando aqui, gente, o que tá acontecendo?” Eu meio que querendo empurrar ela, ela me abraçou muito forte, chorando, chorando, chorava, chorava: vou deixar chorar então, chorou muito e depois que ela me contou devagarzinho, entre um choro e outro, o que tinha acontecido. O que aconteceu foi que ele violentou ela e aí, a mãe descobriu, se separou dele, tal, mas por a mãe ter outro filho com ele, ela não deu queixa, se separou, se afastou, mas ela não deu queixa e por ele ter outro filho com ela, ele ia na casa da menina todo final de semana para buscar o menino e quando ele chegava, ela entrava em pânico e ela não tinha contado isso para ninguém e aí, por uma relação de confiança, aí ela me contou isso e aí, eu chamei a equipe da Fundação, porque eu não fazia ideia do que eu fazia, né, e aí, o pessoal do pedagógico, e assistente social, enfim, chamou a mãe, tomou todas as medidas, acionou o conselho tutelar, deu a medida preventiva para o homem, para ele se afastar, fez todas as coisas. Naquele momento, é que eu percebi: a gente tem uma influência muito grande sobre a vida das pessoas que a gente coloca na turma. Eu não tinha ainda essa proporção tão grande, sabe, hoje, eu tenho, que a TV Caroço teve meninos que estavam perdidos e teve menino depressivo e entrou, a Jessica, por exemplo, que é uma pessoa que eu sei que me permite falar que tava na formação, a Jéssica já era minha amiga, fez oficina de fotografia e montou a TV Caroço junto com a gente e a Jessica tava num quadro de depressão muito forte e do mesmo jeito que eu debrucei na TV, ela também se debruçou na TV e foi o auge da TV e as coisas dando certo e tal, fizeram ela ganhar a confiança, para sair dessa depressão e entrar na faculdade, enfim, seguir a vida dela. Hoje, ela já é adulta, não mora mais aqui em Paracatu, mora em Unaí [MG], mas ela tem toda essa gratidão com a TV. Ao longo do tempo, tiveram vários que entraram na TV assim, meio depressivo, meio rebelde, rebelde é quase todos, e a TV dá uma causa pra eles. Eu falo com os meninos que tem muito adolescente que chega para a TV Caroço, rebelde sem causa e a gente só dá uma causa boa pra eles se apegarem. A gente vê a evolução nos cabelos. A Cris, mesmo, que é uma menina que passou aqui que hoje tá fazendo jornalismo, ela entrou, loirinha, bonitinha, do cabelo escorridinho, até lá embaixo, na cintura. Com o tempo, ela foi fazendo oficina, com o tempo, cortou o cabelo, aí de repente, ela cortou mais, aí ela rapou esse lado, aí ela pintou de vermelho e toda essa evolução… Ela pintou de vermelho, focou uma rebeldia, e de repente, ela voltou a ser loira, aí o cabelo cresceu de novo, agora, tá com o cabelo aqui de novo, e a gente percebe a evolução deles, de ter uma rebeldia porque na TV Caroço, eu não deixo os meninos se uma rebeldia. A gente não guarda ela, não, a gente deixa ela aflorar, porque é a única forma dessa rebeldia acabar, deixa pôr pra fora esse negócio e aí, a gente converte a rebeldia em alguma coisa produtiva. Tem um exemplo clássico disso: a primeira vez que a mãe da Cris me viu, a gente tava indo para uma gravação, a mãe dela tava vindo e aí, a Cris: “Minha mãe” “Ah, mãe, esse aqui que é o Alan”, a mãe dela olhou pra mim” “Então você que é o Alan? Tá explicado”, e foi embora, falei: essa mulher não vai deixar a Cris voltar na oficina. E ela não gostava de mim, a mãe dela não gostava de mim e achava que a rebeldia da Cris era muito por causa da TV Caroço e aí, a Cris, na TV, a gente falava sobre essa questão de preconceito, não sei o que e ela vinha pra casa e falava e aí, às vezes, o irmão dela, era muito preconceituoso e ela falava com o irmão dela e o linguajar dos meninos vai mudando, a medida que eles vão passando pela formação e, depois que a Cris ficou um ano e pouco com a gente, teve a formatura deles, aí na formatura, a mãe dela deu um depoimento e, no depoimento, ela falou: “Eu não gostava de Alan, que a Cris era uma rebeldia, não sei o que, depois que eu fui vendo que a Cris tava, na verdade, era melhorando, eu achei que ela tava piorando, mas não, ela tava melhorando, ela tava amadurecendo e hoje eu agradeço”, e aí, são coisas que fazem a gente não parar de fazer a parada, não parar de ministrar oficina e ser apegado aos alunos e ver os alunos tipo: “Tô querendo mexer com foto” “Mete a cara, aí, velho, compra uma câmera, divide aí em dez vezes e vai fazendo”, de estimular isso no menino, porque a gente viu muito disso, né? Essa transição minha de professor e aluno, não senti. E se você me vir andando na rua com os meus alunos, você vai achar que eu sou mais um também, porque eles passam fazendo piada, eu passo também; eles passam rindo, eu passo rindo também (risos). A gente chega na escola, acontece uma parada engraçada lá em cima, os meninos viram, eu vi também, tipo, as piadinhas internas, o bom da TV e da maioria das minhas turmas é que aquelas piadinhas internas que normalmente, o professor não vê, eles compartilham tudo comigo, as piadinhas são entre a gente mesmo e rola muito isso. Eu acho que rola uma aceitação muito boa assim, nas juventudes que a gente trabalha, um pouco por causa disso, da juventude saber que ele pode falar o que ele quiser. Sempre a primeira aula, quando eu termino, eu falo com os meninos: “Eu quero que vocês definam o dia de hoje, o que rolou e tal em uma palavra e vale o que vocês quiserem, vale palavrão, vale tudo”. Tem um caso engraçado de uma turma que eu ministrei a oficina, que era uma galera mais barra pesada e tal que a gente foi e aí, chegou todo mundo, eu entrei, ficou todo mundo me olhando, todo mundo tipo: esse cara é professor? Quem que é esse cara? Eu não era da cidade, falei: “Quê que vocês estão com essas caras todo mundo pra mim?”, acabou, aí todo mundo rachou de rir, a oficina já fluiu e a turma que era assim, metade dos meninos vendia droga e era tudo bravo, todo mundo: “Vou te matar amanhã”, não sei o que, a galera produziu muito e produziu bem e assim, da diretora chegar e falar assim: “Tá tudo bem?” “Tá, por quê?” “Não, por que não estão fazendo barulho?” “Porque agora eu tô falando, daqui a pouco, eles vão fazer, daqui a pouco é a vez deles”, e rolava assim, de boa. Então por isso que eu falo que a juventude, ela quer falar, sim, e por mais que o menino já matou, já roubou, já traficou, não sei o quê. Adolescente é adolescente, juventude é juventude. As experiências deles podem ser mais pesadas que as nossas e tudo, mas tem uma juventude ali. Todo jovem que vende droga, o sonho dele não era vender droga, não. Eu acredito muito nisso, acredito muito nisso, que tudo é uma questão de relação de oportunidade, saca? Tem gente que é ruim? Tem gente que é ruim. Mas em sua grande maioria, a juventude é uma questão de saber dialogar e uma questão de oportunidade, né? Às vezes, a gente fala: “Fulana é rebelde, mas eu não sei o que o fulano passou. A gente tem alunos aqui que o pai bate na mãe, que o pai bate muito nele, o pai bate muito nela, que a menina foi violentada… A gente não sabe qual é a realidade de cada um. E a relação de confiança, eles é que têm que se sentir à vontade e confiar em mim para falar, se eles não se sentirem à vontade nunca, não precisam falar nunca, se não se sentir à vontade para isso.
P/1 – E fala pra gente, agora, qual que é a importância da Fundação Conscienciarte para Paracatu, por que vale a pena vim e tá aqui, fazer os trabalhos com os projetos?
R – Olha, eu acho que a Fundação Conscienciarte é a fundação, a base pra coisa fluir, porque eu sou um que entrou, que conheceu o projeto e tal, saiu da vulnerabilidade, agarrou oportunidade, mas se for fazer uma lista, tem milhares que só tiveram oportunidade através do Conscienciarte, da Fundação. Eu não consigo imaginar o que seria da minha vida sem a Conscienciarte, não consigo, porque primeiro que foi na Fundação que eu saí de um menino tímido pra alguém que conseguia se expressar, segundo que foi na Fundação que eu descobri a minha profissão, foi na Fundação que eu descobri tudo, assim, e eu sei que não sou só eu, tem uma galera assim. Agora mesmo, a gente foi para Belo Horizonte, fomos em cinco, quatro eram ex-alunos que hoje são funcionários. Então, a Fundação Conscienciarte fazendo os projetos que faz, desenvolvendo as atividades que faz e do jeito que faz é primordial para Paracatu é primordial e é importante frisar assim, que existe uma juventude que anseia por isso, a grande prova é que a gente abre inscrição para o Projeto Adolescente Aprendiz, por exemplo, são 30 vagas, tem quase duas mil inscrições, então tem uma juventude que anseia por isso. Toda hora, de cada dez pessoas que passam ali, você pode sentar ali no tempo que vocês ficaram, toda hora chega um pai perguntando: “Meu menino passou na seleção?”, chega um menino falando: “Eu passei na seleção?” Não só isso, Conscienciarte já abriu os olhos pra muita gente sobre muitas coisas, sobre senso crítico, a primeira vez na minha vida que eu ouvi a palavra protagonismo juvenil foi aqui, que é a coisa que eu carrego comigo e prego o tempo todo, que a juventude tem que ser protagonista do processo, de todos os processos, econômico, político, tudo. Isso tudo é através do Conscienciarte. Eu sou muito grato às pessoas que fundaram, as pessoas que não deixaram, porque a Fundação foi instituída por um processo político, né? Era um senhor, o Almir Paraca que era vereador, e hoje é ex-deputado, já se aposentou, mas, quando ele abriu, era um processo político, ele era vereador. Então, agradeço muito a ele por mais que, é claro, político visa voto, um cara que visa voto, mas que faz uma parada massa, ele tem que ser reconhecido. E também reconheço uma galera que tirou das mãos dele e falou: “Daqui, a gente toca pra ele continuar fazendo a política paralela e a Fundação crescer de maneira independente”, tanto que o Almir Paraca, por exemplo, é um cara de esquerda, um cara petista, que sempre foi do PT [Partido dos Trabalhadores], desde vereador, eu não lembro do Almir em outro partido, ele sempre foi do PT, nós já tivemos situações infelizes por ele ser do PT e ser fundador, mas hoje o atual prefeito é do PSBD [Partido da Social Democracia], e o atual prefeito abraçou assim, total, e muito porque ele vê a importância, porque ele vê o processo e porque, claro, ele vê votos também, então, o voto é a ferramenta que a gente tem para usar, mas muitas vezes, outros prefeitos que viam a importância, viam o tamanho, a força, viam os votos, mas a questão partidária não deixava ele mexer e nessa gestão que é o segundo mandato do prefeito, não impediu, muito porque ele não é muito político, saca, assim? Ele é fazendeiro, virou prefeito, não liga para esse processo político todo, muito não entende, também mas não deixou... O Conscienciarte, hoje, basta parar qualquer pessoa na rua e perguntar assim: “Você conhece a Fundação Conscienciarte?”, todo mundo conhece, todo mundo conhece.
P/1 – Como que você definiria a Fundação, em poucas palavras, uma palavra, de repente?
R – Esperança. A Fundação Conscienciarte é a tradução de esperança na vida de muita gente, assim. Na vida de muita gente. Foi na minha e é na vida de uma galera que eu conheço assim, de esperança, de esperança de melhorar a sua vida, de esperança de ter uma cidade melhor, de esperança de ver pessoas crescendo nesse processo, então, se você dá uma volta na periferia da cidade e vê muita coisa ruim, dá uma volta aqui, depois. Você vai ver que ainda tem esperança. Pra mim, Conscienciarte é isso. Ela é o sinônimo de esperança para todo mundo que passa aqui. Todo mundo é assim, é antes da Fundação e depois da Fundação, não tem como você entrar aqui e participar dos projetos e não sair diferente, não sair melhor do que você entrou. A gente sofre a cada situação, por mais que a gente fique feliz a cada menino que se sobressai, a cada menino que era aprendiz e passou a ser empregado, a cada menino que atuou na TV Caroço e agora produz, às vezes, não produz, mas se achou, se encontrou, a gente fica feliz e a gente também fica triste, às vezes, quando a gente vê menino que foi baleado e era aluno nosso, que tá se perdendo e que foi aluno nosso, então, é esperança.
P/1 – E o que você poderia dizer da sua personalidade que tem relação com a cidade, Paracatu, porque você não conseguiu sair daqui, ainda, né, o que te faz ficar? O que tem aqui que te fez, moldou, ajudou a construir…?
R – As pessoas, né? Povo… Uma vez, eu ouvi uma pessoa falando: “Qual que é a maior riqueza de Paracatu?” “Ouro”, e não é, a maior riqueza de Paracatu são as pessoas. O fato de eu conhecer tanta gente, tanta gente boa aqui em Paracatu é que faz com que a gente não saia, eu acho que eu sou muito bem amparado aqui em Paracatu e isso é que faz a gente ficar assim, até com o trabalho. Você fala assim: “Nós precisamos de um marceneiro” “Nós vamos achar” “Nós precisamos de alguém que…” “Nós vamos achar”, então assim, e quando eu abri a minha produtora, eu tive muita ajuda, muita gente que falava: “Vai no fulano, vai na prefeitura, fala com beltrano” ”Vou conversar com outro fulano, com outra pessoa”, e as minhas mães, os meus pais e toda essa galera que faz com que a gente esteja amarrado e o que mais me faz estar atrelado a Paracatu, indiscutivelmente, são os meus alunos, todos… Se o moleque foi meu aluno coisa de cinco horas, eu lembro da cara dele. Tem muito menino que eu bato o olho: “Você foi meu aluno, não sei seu nome não, mas que foi, foi”, a galera lembra também. Não tem coisa melhor, o que mais me prende aqui em Paracatu é saber que a gente tá conseguindo contribuir na vida da galera e isso é que faz a gente ficar meio atrelado aqui. O que eu vejo de Paracatu que me moldou são as pessoas e o fato de as pessoas daqui serem tão receptivas comigo. Eu gosto daqui, eu me sinto parte daqui, já fui a alguns lugares, já rodei um pouco, mas tem muito lugar que eu gosto de ir, mas não teve nenhum lugar, por mais que eu conhecesse a galera e a galera fosse gente boa, que a vontade de vim embora não fosse enorme. Eu viajo, passa quatro, cinco dias, eu já fico meio: tenho que voltar. Esse negócio de voltar para casa, não é o voltar para casa e só voltar para a minha casa, é o voltar para Paracatu e ver a galera e conhecer a galera, e principalmente, conhecer as pessoas, eu conheço gente demais aqui, muita pessoa boa, então é isso que faz a gente ficar aqui.
P/2 – Alan, você falou que foi muito aqui na Fundação que você descobriu a sua profissão, que se descobriu, seus pais, as suas mães, você falou que é do candomblé, gostaria que você também falasse sobre isso, se você descobriu aqui o candomblé ou foi criado no candomblé. Você pode falar sobre essa trajetória e a importância da religião do candomblé, matriz africana, né, pra você?
R – A minha proximidade com a religião se deu há pouco tempo, sabe? Eu até tenho um chão enorme pra trilhar aí dentro da religião. Mas o que acontece? Eu sempre fui um pouco deslocado religiosamente falando. Eu fiz catequese, eu lembro que eu já era grandão e os meninos pequenininhos, porque quando eu era pequeno, eu comecei a fazer catequese porque eu fui meio que obrigado, meu irmão foi lá e fez a inscrição e minha mãe falou: “Vamos fazer todo mundo”, aí nós fomos. Aí, eu fiz catequese, fiz Primeira Comunhão, mas eu não me achava ali, eu questionava muito, não tinha as respostas e isso me irritava muito. Depois, conheci a religião Protestante, minha mãe, na época era evangélica e tal, mas também não me identifiquei. Depois eu acredite se quiser, eu namorei uma testemunha de Jeová, namorei, ali, eu me irritei muito com a religião, porque eu era muito novo, tinha uns 18 anos e namorava uma testemunha de Jeová e era meio escondido, justamente por causa da religião. Era um escondido que tava na cara, tipo, ela era adolescente aprendiz também, a gente ia pro curso junto, voltava do curso juntos, final de semana a gente tava junto, mas a gente não podia se assumir como namorado. Teve um dia que eu falei: “Eu vou na sua igreja”, aí eu fui, porque na minha cabeça era assim: bastava eu ir que aí podia namorar, tava de boa. Aí, eu fui na igreja dela e fiquei lá, terminou, ela foi me explicar assim, que pra gente namorar que teria que esperar a gente ter uma certa idade porque só ali que a gente ia se julgar maduro pro namoro. Eu falei: “Mas como é que faz?” “Eu poderia namorar uma outra pessoa da igreja que fosse mais velho”, porque a igreja entendia que o outro sendo mais velho podia namorar com ela e tal. E aí aquilo já me irritou, porque já pagava minhas contas, morava sozinho, não morava sozinho, não, morava com os meus pais, ainda. Aí eu: posso tudo, tenho idade para tudo, já posso ser preso, já posso tudo, mas não posso namorar, que “disgrama”. E uma coisa que me irritava muito era que a gente saía, a gente se relacionava, por mais que não podia, a gente já tinha uma vida sexual ativa, e segundo a igreja no podia e, como é que rolava? A gente saía, aí a gente transava, mas não podia andar na rua de mão dada, saca como é? Eu tinha 18 anos, você tem 18 anos, você tá namorando, é sua segunda namorada… A primeira efetivamente, porque a primeira tinha sido muito rapidinho, então, a primeira, de fato que durou um tempo e não podia dar a mão, não podia fazer nada, e aquilo foi me irritando. Depois disso, eu entrei na Fundação, quando eu entrei na Fundação, como funcionário, aí eu encerrei esse namoro e uma das primeiras coisas que eu filmei foi uma cerimônia de candomblé, o Lucivaldo que era superintendente aqui já era do candomblé e aí, ele é gay, ele era casado e ele e o marido dele eram do candomblé. E o marido dele trabalhava aqui também, o marido dele foi meu mentor na parte de comunicação. E aí, Lucivaldo falou comigo: “Alan, nós temos uma cerimônia lá na minha igreja e eu queria que você filmasse, a gente podia combinar”, eu falei: “Ah Lucivaldo, eu filmo” “Mas tem um problema” ‘O que foi?” “É candomblé e, às vezes, você fica com medo, às vezes, você não conhece…” “Não, eu filmo”, e o engraçado é que eu nunca tive medo do candomblé, acho que um pouco porque eu confiava muito no Lucivaldo: “Vamos”, e fui. E aí, eu filmei, uma cerimônia que demorava muito e aí, eu fiquei muito mais curioso do que com medo. Aí, essa primeira vez, o Lucivaldo me chamou, aí depois eu falei: “Na próxima, eu quero ir”, aí eu fui, filmei umas duas vezes, sempre ia pra filmar, para fotografar, perguntava muito e eu viajava muito com o Lucivaldo, porque ele ia para os eventos e eu ia fotografar e durante a viagem, a gente ia conversando, a gente conversava sobre tudo. Foi dentro do carro, viajando com o Lucivaldo que a minha formação pessoal e profissional mais se deu, assim. E o engraçado é que quando eu entrei na Fundação, todo mundo falava: “Lucivaldo vai levar você para viajar? Se prepara porque é uma conversa complicada”, porque ele perguntava sobre tudo, sobre preconceito, sobre homofobia, tudo, ele não escondia, falava dele ser gay e tudo, não escondia de ninguém e isso em 2010. E aí, 2010, não, 2008. E eu gostei de viajar com ele e aí, rolaram altas brincadeirinhas, inclusive, porque o pessoal falava: “Viajou com o Lucivaldo? Ficou com medo? Ficou nervoso?” “Não, gostei, o cara é de boa”, eu gostei de conversar com ele, desde a primeira vez, eu gostei de conversar com ele, achava uma conversa produtiva. E ainda rolou umas piadinhas, porque o Lucivaldo era gay, tinham muitos héteros na fundação que trabalhavam: “Você tá gostando de viajar com o Lucivaldo…”, e eu gostava. E o que é pior, o Lucivaldo senta assim, de perna cruzada e eu peguei esse tique, até hoje eu sento de perna cruzada, por causa do Lucivaldo, não sentava. A gente é meio que acostumado, de sentar assim, o pai: “senta direito”. De tanto conversar com o Lucivaldo, eu peguei muitos trejeitos dele, jeito de sentar, jeito de conversar, alguns termos que ele usa que eu passei a usar. A gente conversava muito, isso me influenciou muito. E aí, começou essa questão do candomblé. Paralelo a isso, eu sempre ia, filmava e ficava na minha, e um dia eu fui numa palestra aqui para fotografar, tinha uma moça que trabalhava na Fundação que falou: “Olha, minha sobrinha gostou muito de você” “Que bom, quantos anos ela tem?” “Ela tem 15” “Você tá me tirando, eu tenho 18 anos, a menina tem 15? Não, não vou mexer com essa menina, Não” “Mas olha lá, você fotografou ela e tal”, vamos olhar, quando olhei a foto, achei a menina linda, falei: “Essa que é a sua sobrinha?” “Minha sobrinha” “Como é que é essa sobrinha? Vamos conversar e tal”, e ela foi me contando: “Inclusive, você filmou ela porque ela tava lá no terreiro no dia que você filmou” “Você tá brincando”, aí eu já tinha dois motivos pra eu ir, porque eu gostava e tinha a menina. E aí, eu comecei a ir. E, assim, sempre indo, sempre perguntando, sempre conversando sobre a religião, mas ainda sem me decidir. Gostava muito, mas não tinha me decidido por um pai de santo. Aí, eu comecei a namorar com essa menina, com essa sobrinha dela e ela era da casa, aí acabou-se. Toda festa que tinha, eu ia. Eu não tinha uma identificação muito grande com o pai de santo dela, respeitava e tudo, mas não via ele como uma liderança para mim, isso meio que me travou. Eu ia, participava, gostava e tudo, entendia muito, mas não participava. Depois disso, eu namorei com essa mesma menina durante cinco anos e depois a gente terminou e eu parei de ir no terreiro lá e o Lucivaldo e o Paulo que eram desse terreiro aqui, esse pai de santo dela faleceu e aí, quando ele faleceu, tem uma questão no candomblé que se o seu pai de santo falece, você tem que tirar a mão do pai de santo da sua cabeça e passar para um outro pai. Aí, o Lucivaldo e Paulo foram para outro pai de santo, que é para Ribamar lá em Brasília e eu voltei a ir lá em Brasília. Sempre gostando muito. E aí, o Paulo que trabalhava aqui, ele é de Oxum, ele é filho de Oxum e Oxum pediu casa que é o que a gente chama quando o orixá te dá um caminho pra você ser pai de santo, ter uma casa de santo. Oxum pediu casa, quando Oxum pediu a casa, ali eu já falei: “É ali que eu vou”, sem falar com ele e tal, mas ali eu já falei: “É ali que eu vou”. E nisso, a Oxum falou pro meu pai na época que o primeiro filho dele já tava com ele, mas não falou quem era, aí depois de um tempo, aí eu falei: “Paulo, eu quero, se o senhor me aceitar, quando o senhor abrir a casa, eu quero ser seu filho”, e ali começou todo o processo de abrir búzio e olhar, de fato, de qual santo que eu era. Eu sempre tive uma relação muito forte com Ogum, era um santo que me chamava atenção e eu gostava de Ogum. E teve um caso interessante lá em Belo Horizonte, que eu tava numa daquelas feiras enormes lá, e aí, uma senhora veio, uma senhora negra bem velha, chegou em mim assim: “E Ogum quer alguma coisa?”, aí eu olhei assim: “Quê?” “Nada, você quer alguma coisa?”, só que não entendi o que ela falou, na época, eu não conhecia muito da religião, eu fiquei assim… sabe? Que “disgrama” é essa que essa mulher falou? E depois, quando foi abrir o búzio, aí eu descobri que eu sou filho de Ossain. Mas no búzio, Ogum pedia a minha cabeça o tempo todo, teve não sei se vocês são da religião, se vocês estão entendendo, mas quando joga ao búzio, aí o orixá que é da sua cabeça, ele se manifesta e se manifestaram Ossain e Ogum e Ogum se manifestando o tempo todo. E aí, o pai de santo teve que pedir uma terceira opinião de Oxumarê para falar de quem que era a minha cabeça. Aí, Oxumarê falou que minha cabeça era de Ossanha. E aí, eu sou filho de Ossanha, mas sempre no búzio, Ogum aparece, assim, Ogum me acompanha, sempre me acompanha, sou filho de Ossanha, filho de Oxum, que é a mãe da casa. O candomblé foi onde eu me achei no processo espiritual, porque a gente tem muita coisa que a gente não entende, muita coisa que a gente não aceita, muita coisa dos processos da vida que a gente é afoito, quer que as coisas aconteçam rápido e eu sempre entendi que a gente precisava de uma religião pra se apegar a alguma coisa, né? Durante muito tempo, as pessoas achavam que eu era ateu, porque as pessoas: “Você é católico?” “Não” “Você é evangélico?” “Não”, e na época, eu não era espirita também “Mas você não é nada?” “Não, não sou nada” “Você acredita em Deus?” “Acredito, acho que acredito”, e aí, muita gente achava que eu era ateu e hoje, eu sei que eu nasci para ser do candomblé, não adianta. Conheço muitas religiões, já tive com monge, já namorei uma testemunha de Jeová e tudo, meus pais são evangélicos, o meu pai é evangélico, minha mãe é evangélica mas, mesmo assim, eu sou espirita e sou do candomblé e não tem jeito. Gosto, sinto falta, hoje por exemplo, o meu pai de santo, porque o Lucivaldo saiu do Conscienciarte porque ele passou num concurso pata trabalhar no Instituto Federal lá de São Paulo, de Jundiaí e o Paulo passou para o concurso aqui e foi transferido para lá. Os dois estão em São Paulo, então, consequentemente, a Oxum foi com ele e agora, a gente tá vendo que a Oxum quer a casa, e o meu pai já vai fazer sete anos daqui dois anos, então assim que ele fizer sete anos, ele tem que abrir a casa e ainda existe essa questão, de onde vai ser a casa, se vai ser aqui em Paracatu, se vai ser em São Paulo, tal, e recentemente, até, no final do ano passado, meu pai falou: “E se a casa de Oxum for lá em São Paulo, como é que faz?” “Não tem problema, eu vou para lá”. E eu não sou iniciado na religião muito por isso porque eu poderia, meu pai já pode começar a me iniciar na casa com a orientação do meu avô, que é o Pai Ribamar, só que quando pai me perguntou: “Alan, como é que é? Você quer de repente iniciar?” “Não, só vou iniciar na casa de Oxum” “Mas você vai esperar?” “Vou”, e aí, quando jogou o búzio, Oxum falou a mesma coisa, pra esperar. Então, existe já uma relação que eu acredito, sou muito apegado a isso, de saber que ela zela por mim, de saber que de chegar a um lugar, gosto muito de ir a cacheira, já gostava antes e hoje gosto mais, acredito que por causa dessa relação com Oxum, todo início de ano, eu vou na cachoeira pra pedir para Oxum, de entrar na mata assim, pedir licença para Ossanha, de saber, de acreditar na religião. Eu fico feliz de entender sobre o candomblé, que é uma religião que sofre preconceito também por ser de matriz africana, toda essa questão do medo das pessoas, ter esse conhecimento até para provocar discussões nas aulas, porque eu promovo essas discussões dentro da sala de aula, porque a questão do candomblé é muito de referência, é a mesma questão da homossexualidade, né, assim, eu tenho uma ideia de homossexual, até eu conhecer o Lucivaldo, que é um cara que era homossexual, que é e que eu conheci, falei: “Pô, o cara é gente boa, não é todo viado que é pessoa ruim, não, ele é gente boa”, e a mesma coisa da religião, que você fica: que toda pessoa que faz candomblé é macumbeiro, não sei o que, são pessoas ruins, não, mas espera aí, eu conheço o Paulo, eu conheço o Lucivaldo, eu conheço a minha namorada é do candomblé e são pessoas boas, eu sei que são pessoas boas. Então, eu tento partir muito dessa premissa. Uma coisa que eu sempre falo para Oxum, para o meu pai é que eu quero ser uma referência positiva para as pessoas, para todo mundo, para quando for falar de candomblé, as pessoas terem a referência eu, que se você tiver uma referência boa, você tem outra visão. Hoje, os meus amigos têm outra referência de candomblé, eu tenho amigos que são extremamente católicos, de ir na folia, e que se eu chamar e falar que é para ir na casa da minha mãe, eles vão. Com medo, morrendo de medo de acontecer alguma coisa, mas vão, porque existe uma relação de confiança e é isso que a gente precisa para quebrar os preconceitos, né? Acho que é isso, todo mundo acha que loira é burra, até você conhecer uma loira inteligente, né? Minha relação com a religião é bem essa.
P/1 – Agora, eu queria que você comentasse assim, para aquele menino que queria empreender, vendendo os doces, as melancias, ter conseguido montar a sua produtora que também é uma empresa de empreendimento. Então, como é que foi chegar nesse ponto, ter realizado esse sonho de infância, né, essa vontade de menino?
R – Eu sou muito feliz com a produtora. Hoje, eu já falo para o pessoal que tudo que der pra vender, a gente vende, então, na produtora, eu sou muito feliz de trabalhar com o que eu gosto. Então, sou feliz hoje de viver e me sustentar e tal sendo produtor audiovisual e ministrando oficina. Isso me deixa muito feliz. Eu sou muito satisfeito com a produtora, quando eu abri a produtora, antes de abrir, eu conversei com a secretária da Ação Social daqui, que é muito amiga minha, a Ana Amélia e ela falou: “Alan, se você abrir a produtora, eu consigo te contratar para você ministrar oficinas”, e aí, tinha um amigo meu na época que mexia com teatro e a gente decidiu abrir. E eu sempre fui muito de acreditar nas paradas. Quando eu fui abrir a produtora, eu fui na Oxum e perguntei e ela alafiou de pé para a produtora, que é quando você joga os búzios. Alafiar é quando os búzios param numa posição todos com a coisa pra cima e quando ela afia de pé é um búzio em cima do outro, né? Eu lembro como se fosse hoje, assim, meu pai jogou: “Abre logo” “O que foi, pai?” “Oxum alafiou de pé pra você abrir” “O que é isso?” “Ela nunca tinha feito isso, ela alafiou de pé pra você abrir a empresa”, porque alafiar eu sabia o que era, “O quê que é alafiar de pé?” “É como se ela levantasse e falasse: ‘Vai, não há dúvidas’”. Ali, o tiquinho de medo que tinha acabou. E eu morava numa casinha pequena, numa casinha de fundo, morava sozinho, tal, achei uma casa gigantesca, com quatro quartos, sala, copa, quarto em cima e lote, aí eu lembro como se fosse hoje. Eu tinha três mil e 500, três mil e 600 reais que era um acerto que eu tinha do Conscienciarte, porque eu decidi abrir a empresa assim: “Ano que vem não vou voltar para a Fundação, vou abrir a minha empresa”, e fui. Não juntei uma grana, não estudei para isso, nada. E aí, eu tinha esses três mil e 500 reais e aluguei uma casa que custava mil e 200 o aluguel. E aí, chamei esse cara do teatro e ele falou: “Alan, 500 eu posso te pagar” “Então, 700 eu posso pagar, vamos meter a cara”, só que ele pagou só o primeiro mês e depois, saiu. E aí, eu fiquei numa casa e o que eu tinha cabia tudo num cômodo. A casa era gigantesca, vazia. E aí, eu abri, abri minha produtora sem placa, sem cartão de visita, sem nada. Só tinha logomarca que eu mesmo fiz e comecei, a pé, boto uma camisa, bonitinha, engomadinha e fui visitar o povo. E aí, comecei, a primeira coisa que eu fiz foi falar: “Tá, todo mundo me conhece como Alan da Conscienciarte, então, as pessoas têm que começar a me conhecer como o Alan da Dream Up”, e aí, eu fui a pé. Visitando todo mundo, comecei visitando prefeitura, empresa, fundação, aqui, a Fundação Conscienciarte, Fundação Casa de Cultura, fui visitando todo mundo, simplesmente, para falar: “Cheguei, abri minha empresa, se precisar”, fui na TV local, muito querendo produzir com a TV local, aí tomei um banho de água fria, porque o cara da TV: “Nós não produzimos e nós não indicamos”, depois eu descobri que ele indicava para um outro cara de uma outra produtora. E ali, eu comecei fazendo muita coisa pequena e tal, passando muito aperto, porque era mil e 200 contos. E aí, eu descobri que a Secretaria de Ação Social podia me contratar, mas era um processo longo, ela não podia tipo: “Olha, você vem amanhã”, tinha que licitar, eu tinha que arrumar um tanto de papel, que eu nunca vi tanto papel na vida, licitação, e aí, eu não sabia onde eram as paradas, eu não sabia onde que eu pegava as certidões, e não sabia como é que funcionava e aí, o cara da Ação Social falava: “Não, você tem que ter atestado disso, atestado daquilo…” “Onde que eu pego isso?” “Você que faz” “Como que eu faço?”, e ao mesmo tempo, o aluguel caindo, paguei o primeiro aluguel e a grana acabando e foi difícil o início. Sempre apegado nisso: “Vai dar certo, não tem como dar errado, não. Oxum tá comigo, galera acredita, todo mundo sabe o que eu faço, galera me conhece, vão bora”, e nessa época também aqui, na Fundação, não tinha demanda, tipo, por ser fundação, não tinha como eles contratarem audiovisual, não tinha oficina também. Aí, a Casa de Cultura que virou minha cliente pra fazer umas fotos e alimentar o site deles, na verdade, fazer as fotos e postar no Facebook que eles não tinham site. E aí, eu abri a produtora, aí eu comecei a perceber assim: vou ter que me organizar de acordo com a demanda. A diretora da Casa de Cultura falou comigo assim: “Você faz site, Alan?” “Faço” “Quanto que custa?” “Eu tenho que ver com a minha equipe, mas eu – era só eu, sozinho – mas eu te dou um orçamento amanhã, pode ser?” “Pode”, aí comecei a ligar para uns brothers: “Você sabe fazer site?”, achei um: “Sei” “Vamos fazer um site junto?” “Vamos” “Quanto você me cobra?”, me cobrou mil e 200 pra fazer um site, eu pensei: nem sei quanto custa um site, aí achei uma empresa de site fora, liguei para os caras: “Tô precisando de um site, quanto vocês cobram?”, aí eles mandaram o orçamento, custava dois e 800 um site. Aí, eu mandei dois e 800 pra ela o site, aí ela: “Vamos fazer o site”, e aí, começamos a fazer o site e eu: “Que trabalheira!”, tinha muita coisa e eu não fazia ideia de como era e o moleque também, era o primeiro site dele e maior fita. E aí, a gente foi, fomos. Vai, vai... Paralelo a isso, a gente começou a produzir uma ediçãozinha aqui de 50 reais, um negócio ali de 100, outro negócio e uma coisa que eu pus na minha cabeça: eu não vou abrir produtora para fazer casamento, porque não era o que eu gostava. Eu gostava de fazer publicidade, então, coloquei na minha cabeça: eu não vou fazer casamento, não vou fazer casamento. E em quatro anos de produtora, eu fiz três casamentos, que foi assim, dois de amigos e um de uma menina que era muito amiga minha e ela é da ADESP [Agência de Desenvolvimento Sustentável de Paracatu], fez vários trampos com a gente e de repente, ela falou: “Alan, pelo amor de Deus, filma o casamento da minha irmã?” “Vou filmar”. Mas foram os únicos casamentos que eu fiz e me orgulho muito disso porque eu acho que o cara que abre uma produtora e quer mexer com publicidade e começa a fazer casamento, é porque ele tá encerrando a carreira. E eu namorava, nessa época e a minha namorada trabalhava aqui no Elizeu, na época, e o [Colégio] Dom Elizeu também virou meu cliente, escola particular aqui, aí, eu já tinha uma certa sustentação, porque eu tinha ali uns três, quatro clientes, mas o meu lugar era caríssimo, cara, e eu sempre atrasava, então, era mil e 200, se atrasasse, era mil e 300, e eu sempre atrasava, então, sempre mil e 300 contos e aí, sempre era a conta do aluguel. E o meu pai ligava: “Como é que tá aí? Como estão as coisas?” “Tá massa” “Como é que a empresa?” “Tá massa” “Você tá comendo? Já comeu hoje?”, não tinha comendo nada em três dias “Tô comendo, acabei de almoçar agora, tá de boa”, e aí, na época, a minha namorada via isso, e aí ela: “Eu vou ali no sacolão…” “Não, não compra nada, não”, aí ela ligou para o meu pai e contou para o meu pai o que tava acontecendo. Aí, o pai me ligou: “Vamos ali no mercado mais eu” “Vamos”, e nós fomos conversando e jogando uns três, tal, e ele: ”Esse arroz aqui presta?” “Presta”, ia colocando “Essa bolacha aqui presta?” “Presta”, aí no meio do mercado, aí o pai: “Passa essas coisas lá que é pra você levar, que você tá sem comida em casa, você tem família, você não precisa disso, não” “Não, pai, não precisa” “Você vai levar, você não tem em casa, Carol já me contou", então, você vai levar”, e aí, foi um negócio que ali que eu vi que não precisa ser sozinho, tem gente que pode me ajudar, meu pai pode me ajudar. E ali foi outro momento que eu falei: “Tem que dar certo, tem que dar certo”. O meu pai me ajudou e, o engraçado é que foi assim, batata, o pai fez a compra pra mim numa semana e aí, na outra semana, as coisas já foram acabando e tal, passou ali uns dez dias e tal e aí, saiu a licitação do projeto. Era tipo, na época, quase 40 mil reais em dez parcelas: “Agora eu racho, agora tenho um contrato de quatro mil que paga o meu aluguel, sustenta minha comida, agora eu posso vender para todo mundo. E foi o que eu fiz, peguei esse contrato, era um contrato de aula, aí o Japão que era o cara que ia comigo nas produções e todo mundo achava que ele que era o diretor, colocou também, aí o Japão virou meu sócio e aí, a gente fazia oficina nos CRAS [Centro de Referência de Assistência Social], a gente tinha um espaço chamado Quintal da Juventude, tirava a galera do CRAS, levava para o quintal que era nessa casa que eu tinha alugado essa casa gigantesca, justamente para fazer essa parada. E aí, a gente começou a fazer o Quintal da Juventude e aí, eu fui para Guarda-Mor e vendi o Quintal lá em Guarda-Mor, aí, fazia lá e o prefeito começou a ver também… A gente foi fazer o encerramento da primeira turma, o prefeito foi e viu o potencial, viu os meninos todos lá e tal: “Por que você não produz para a prefeitura?” “Porque ninguém me chamou”, aí a gente começou a fazer VT para a prefeitura, aí com o portfólio da prefeitura, a gente vendia para outra e aí, um dia, eu vi o Ricardo desenhando, ele era artefinalista, cinegrafista e artefinalista e aí, como ele era artefinalista, passei a pegar vídeo e arte também, aí a gente vendia logomarca, vendia tudo, né? Se você falasse: “Tô precisando” “Nós fazemos”, e aí, a gente vendia tudo isso. Um dia o Ricardo me mostrou um desenho dele que ele desenhava no Corel, um negocinho em vetor, 2D, muito parecido com Turma da Mônica, eu falei: “Japão, que parada é essa?” “Eu faço esses desenhos aqui, quando eu era mais novo, meu sonho era fazer gibi, tal, até mandei meu currículo para o Mauricio de Sousa, uma vez” “Por que você nunca fez?” “Sei lá, não rolou e tal” “Vamos vender isso”, aí a gente começou a vender gibi. Aí, a gente foi na Secretaria de Cultura e a Secretaria de Cultura tava com ideia de fazer uma historinha de gibi contando a história de Paracatu, aí, juntou fome com a vontade de comer, né? Aí, fui no secretário e falei: “Posso fazer essa parada aí. Vou pensar e nós volta”, aí fritamos à noite toda, chegamos na Turma do Ourinho, que era a história de Paracatu. Aí, a gente fez a Dona Barriguda, que é uma árvore conhecida da cidade, aí a Dona Barriguda contava a história para os meninos de Paracatu. Falei: “Japão, desenha a Dona Barriguda” “Mas não contratou” “Desenha que nós vamos vender isso aí, se não vender, a gente vende pra Kinross”, aí eu vim no secretario e falei: “Já estamos fazendo Isac”, mostrei pra ele a Barriguda, aí acabou, o cara apaixonou com a Barriguda: “Vamos fazer, vamos fazer”, e aí, veio as burocracias, porque de novo eu liguei na outra cidade": “Quanto que custa?”, o cara cobrava caríssimo por um gibi e aí, eu falei: “Isac, como que nós faz?” “Alan, tô querendo te contratar, mas tem licitação e tal”, e licitação era tipo, até oito mil, passou de oito mil, tem que fazer licitação. “Vamos ver o que nós fazemos”, liguei para o Japa: “Japão, vamos fazer esse trem por sete mil?” “Alan, o povo fora cobra 20 mil” “Mas o povo fora é mais experiente que nós, se tiver uma licitação, eles vêm e ganha de nós” “É, né?” “É, vamos fazer isso por sete mil. Se a gente fizer uma, a gente faz um negócio lá na prefeitura, amarra um contrato lá que eles só podem fazer com nós, só você que faz, mais ninguém para fazer a Barriguda, não, ninguém vai fazer igual ao seu”. Aí, a gente fez. A gente fez o primeiro gibi por sete mil reais. Eu lembro como se fosse hoje, que tava muito apertado, porque à medida que você começa a ter mais contrato, você também tem os custos, muita coisa, tinha que pagar o meu salário, salário do Japa e tal e a gente almoçava numa mulher que tinha uma cantina só lado, assim, da casa e aí, a gente tava muito sem grana, de novo sem grana. Já tinha feito o gibi, faltava só receber e prefeitura demora, demorou 60 dias para pagar. Aí, eu fui na moça que a gente pagava por mês, todo mês a comida, falei: “Nós vamos atrasar, porque estamos esperando um dinheiro da prefeitura e, – era uns 400 reais – nós vamos atrasar” “Não tem problema, não”, no meu entendimento é assim, se eu não paguei, não posso continuar comendo, né? E parei de pegar marmita. Ela foi lá em casa: “O que aconteceu? por que você parou de pagar as marmitas?” “Porque eu não tô te pagando” “Mas como é que você tá comendo?” “Nós estamos dando um jeito aqui” “Vocês estão ficando com fome, que eu sei, pode pegar lá, na hora que pagar, vocês paga, eu sei que você vai pagar”, e assim foi, a gente ficou pegando quase um mês, ainda, aí caiu o pagamento, aí a gente pagou ela e continuou e sempre assim, um trampo atrás do outro, uma correria atrás da outra. Por isso que eu falo muito das pessoas que ajudam a gente, a Iara nem me conhecia, eu já tava devendo a ela e ela: “Você tá ficando com fome, vai pegando, pode pegar almoço. Vocês estão jantando? Pode pegar a janta também”, e fomos assim e a coisa começou a fluir. A gente fechou um monte de coisas para a Kinross, atravessado, que era para uma associação quilombola, São Domingos e o patrocínio era da Kinross, e aí, a gente fechou um monte de coisa, um monte de vídeos. Aí, a esposa do Japa engravidou e aí, esse mês recebia e o mês que vem e o outro não, aí tava muito difícil, e aí, o Japa: “Alan, não posso ficar” “Não pode, não pode, né? Você tem um filho”, e ele tinha muita vontade de ter um menino, falei: “Velho, não dá pra você ficar aqui, com filho, não dá, a gente tem uma instabilidade danada, não dá”, aí ele se afastou. Como eu entrei e abri a empresa, assim, não tinha nada, quando o Japão entrou também, ele não precisou dar nada, mas a gente tinha comprado equipamento, a gente conseguiu… A esposa do Japa trabalhava no banco e a gente conseguiu um empréstimo com juros horríveis, mas conseguiu e com essa grana que a gente comprou todo nosso equipamento. E aí, a gente tava pagando o empréstimo e tal, mas dividindo os trampos, né, eu fazia metade e o Japão fazia metade. De repente, o Japão saiu e eu falei: “Japa, vamos fazer o seguinte, deixa o equipamento comigo, eu vou honrar esse empréstimo”, tava no nome dele. A outra opção que a gente tinha era vender o equipamento tudo mas foi o que eu falei: “Se a gente vender tudo, não dá para pagar o empréstimo por causa dos juros e nós ficamos mal, porque aí, a gente não tem dinheiro, não tem equipamento, como a gente vai trabalhar pra pagar o resto que falta?”, e aí, mais uma vez, outra pessoa confiou em mim. Aí, o Japão: “Beleza, você paga o empréstimo, no final, os equipamentos ficam pra você”, e aí, eu entrei numa esparrela, porque a gente tinha muito job, mas só tinha eu agora, aí o Japão tinha saído e eu tive que terceirizar um monte de coisa, aí a margem de lucro baixou e aí, de novo, a gente se embananou, e aí, falta grana e aí, eu não atrasava mais o aluguel, mas atrasava o empréstimo e aí, virou uma bola de neve e tal, até que depois, a gente foi indo, tudo, vira e mexe, a coisa apertava, a gente vendia uma câmera (risos), aí assim foi até hoje. Já paguei os empréstimos, já paguei tudo, a gente continua fazendo os trampos, a gente continua produzindo audiovisual, eu continuo vendendo audiovisual que eu produzo, vendendo gibi que o Japão produz, não parei de vender, vendo marketing digital que outra galera produz e tudo que é de comunicação e a galera fala: “Eu faço isso aqui, tal, não sei quem compra” “Dá aqui que eu sei quem compra”. A minha paixão é audiovisual, mas eu sei que a produtora ainda tem muito pra caminhar para sobreviver somente como produtora, mas eu sou muito feliz e muito grato por isso, pelas pessoas que me ajudaram e pelo fato de ter aberto a produtora do nada, sem nenhuma influência, sem nenhum, tipo, meu pai trabalha na Kinross e ele de repente, poderia conversar com fulano que conhece fulano para eu prestar serviço na Kinross e não foi assim, eu passei a prestar serviço para a Kinross ano passado porque eles viram o trabalho e foram vendo e eu produzi uma coisinha aqui que eles viam, produzia para ADESP e eles patrocinavam a ADESP e viam o material final e foi aparecendo e eu sou muito apegado a isso, assim, de construir as coisas por mim. E é por isso que eu vim trabalhar no Conscienciarte e não fui trabalhar na Kinross, como acontece muito, tipo: meu pai trabalha lá, eu vou trabalhar lá. E eu nunca quis, assim, pelo contrário, eu tinha horror da ideia de ir trabalhar onde o meu pai trabalha e as pessoas terem uma referência do meu pai por ser um bom profissional e aí, você vai, você não é o Alan, você é o filho do José Afonso. E eu nunca quis ser o filho do José Afonso, eu queria ser o Alan. Então, passou muito por isso, eu abri a minha produtora também muito por isso, de querer uma grana, de querer andar sozinho e eu fui morar sozinho com uns 18 anos, e aí, morando sozinho, você precisa de grana, o salário da Fundação não dava e aí foi assim que eu abri a produtora. Na época, na verdade, quando eu fui abrir, a minha ideia não era ser uma produtora, a minha ideia era trabalhar com edição só, assim, os meus cálculos eram o quê? Eu ganhava 90 reais na Fundação e tinha um cara de um programa de TV daqui que pagava mil reais para o editor dele, para editar um programa de 15 minutos, duas vezes por semana. Falei: “Isso aí eu faço em dois dias e o resto dos dias todos eu vou procurar outra coisa”, e foi isso que fez eu sair da Fundação e abrir a produtora, que na verdade, eu só queria comprar um computador e ditar lá em casa mesmo, só que eu sempre acreditei muito, então quando a Amélia falou comigo: “Você pode dar aula e eu vou te pagar para você dar aula”, falei: “Se tem alguém para pagar, por que não fazer?”, aí comecei a dar aula. Então, essa questão do empreender que na época eu não entendia o que era sempre esteve muito aflorado, assim, de dar para ganhar dinheiro com isso, dá para fazer isso? Vamos fazer. Então, a história da empresa passa muito por isso. Até hoje, a gente vê oportunidade e tenta agarrar elas.
P/1 – E Alan, pra gente encerrar, eu queria que você comentasse como que você vê essa iniciativa da Kinross de promover um projeto que vai contar a história da cidade através da memória oral, buscando representantes para contar um pouco da sua história e a gente trabalhar a história da cidade a partir dessas histórias. Como é que você vê esse projeto?
R – Eu vejo com muito bons olhos, quando eu falo que a maior riqueza de Paracatu não é o ouro, mas são as pessoas e a Kinross faz uma iniciativa que valoriza as pessoas, pra mim é muito massa, muito bom, porque essa questão da tradição oral e de valorizar as pessoas. Isso é muito importante. A gente vê que tem empresas que estão fazendo isso por mais que o objetivo final seja capitalista e lucro, saber que no meio do caminho existe essa preocupação social e essa preocupação de envolver a comunidade onde ela tá inserida é fantástico, porque é valorizar as pessoas e é valorizar a maior riqueza do município, a maior riqueza de Paracatu que são as pessoas, então, é legal isso. Assim, porque o ouro, ele vai estar aqui até um dia, a Kinross vai estar aqui até um dia. A gente sabe que existe um momento em que ela não vai estar mais, mas as pessoas vão estar aqui, sempre, quando não eu, meus filhos, meus netos… e quando a Kinross valoriza as pessoas é uma forma dela também se perpetuar na cidade, a própria Kinross se afixar na história da cidade. As pessoas falarem dela e isso é legal, porque existir essa preocupação do futuro é importante e ter isso partindo de uma empresa é singular, eu acho que é muito importante, eu super valorizo, super apoio a iniciativa de se valorizar as pessoas. Acho que é isso.
P/1 – Perfeito Alan. A gente, em nome da Kinross e também do Museu da Pessoa agradece a sua entrevista. Muito obrigada.
R – De nada. E o legal é que eu já tinha ouvido falar do Museu da Pessoa há um tempão, foi numa das idas a Belo Horizonte que alguém falou sobre o Museu da Pessoa e eu achei…
P/1 – A gente tá na internet.
R – É, e na época, eu pesquisei, olhei umas coisas e tal, porque eu tinha uma ideia assim, qualquer dia assim, podia fazer uma parada parecida aqui e tal, TV Caroço podia fazer um parada parecida e ai, depois que o pessoal falou: “Pessoal do Museu da Pessoa quer te entrevistar” “Que massa”, mas foi legal.
P/1 – Obrigada.
R – Obrigada eu.
FINAL DA ENTREVISTA
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