Projeto Instituto Camargo Corrêa - Responsabilidade Social Faz Parte do Nosso Negócio
Depoimento de Andreia Rabetim
Entrevistado por Isla Nakano
Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2013
Realização Instituto Museu da Pessoa
CC_HV020
Transcrito por Iara Gobbo
Revisado por Carolina Diniz Bastos
P/1...Continuar leitura
Projeto Instituto Camargo Corrêa - Responsabilidade Social Faz Parte do Nosso Negócio
Depoimento de Andreia Rabetim
Entrevistado por Isla Nakano
Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2013
Realização Instituto Museu da Pessoa
CC_HV020
Transcrito por Iara Gobbo
Revisado por Carolina Diniz Bastos
P/1 – Bom Andreia, primeiro queria agradecer você pela presença, de você ter tirado um pouco do seu tempo para dar seu depoimento para o projeto. Para começarmos e deixar registrado, eu queria que você falasse o seu nome completo, a data do seu nascimento e onde você nasceu.
R – Meu nome é Andreia Rabetim, eu nasci no Rio de Janeiro no dia 18 de julho de 1972.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – Minha mãe chama Vera Lucia de Azevedo Rabetim e o meu pai Antônio Carlos Rabetim.
P/1 – E dos seus avós, você sabe?
R – É Efigênia Guimarães Rabetim e Luís Rabetim. E o meu avô por parte de mãe é Nelson Duarte de Azevedo e avó Emilce Menezes de Azevedo.
P/1 – E qual é a história da sua família? É todo mundo do Rio de Janeiro? Como vieram parar aqui?
R – Foi uma história muito bacana. A minha mãe... o meu avô materno, Nelson, era mecânico aqui dos guindastes do cais do porto e a família então nasceu, a família se constituiu, meu avô casou com minha avó e vieram morar no Morro da Providência. E os meus tios foram estivadores, enfim, a família toda morando na primeira favela do Rio de Janeiro. E o meu pai veio de uma família de Minas Gerais, da cidade de Mar de Espanha e ele foi o filho caçula de nove.
Então quando a minha avó o teve, a minha tia já era casada e ele, enfim, teve alguns problemas de saúde e a minha tia pediu então que ele viesse para o Rio de Janeiro. Ele foi criado pela irmã que se casou com uma pessoa também muito bacana, um tio do coração que assumiu a criação do meu pai. Esse meu tio foi uma pessoa pobre, muito batalhadora na vida, que conseguiu melhorar de situação financeira. Então a minha tia foi morar na Tijuca, depois no Leblon, e o meu pai era o filho, entre aspas, que conheceu uma moça da favela do Morro da Providência. Então teve um dilema aí, mas que eu acredito que se não fosse o irmão, seria um pouco... se fosse filho, seria um pouco mais complicado.
E aí a minha vida toda, quer dizer, quando a minha mãe se casou com meu pai, ela foi morar em Brás de Pina, que é o subúrbio aqui do Rio de Janeiro, e eu lembro assim das festas na favela. Então era muito gostoso porque eu lembro que a minha avó, a gente sempre foi muito do samba, muita festa. Juntava todo mundo, não tinha nenhum motivo, mas trazia os instrumentos e ali a gente passava o dia todo em festa, na favela. Isso no domingo e no sábado a gente ia para a casa da minha tia no Leblon, e a empregada toda uniformizada, então tocava a campainha para ela retirar a mesa do almoço e eu convivi muito tempo nesses dois mundos. E acho que o resultado disso foi, enveredei pela área social. Então a minha vida eu acho que veio muito disso.
A gente trabalha aqui acreditando na importância do diálogo intersetorial e eu sempre trabalhei no terceiro setor e eu tive muitos amigos que falavam: “Nossa, você está lidando com a iniciativa privada, você está mudando de lugar. Você tá aderindo a um posicionamento contrário”. E eu acho assim, três coisas na minha vida fizeram toda a diferença. Uma família que veio da favela sim, mas com muitos valores. Então acho que essa coisa do valor está acima de tudo, então eu só tenho boas lembranças desses momentos. Tive a oportunidade, fiz concurso para o Pedro II, que é um colégio público. Meu pai não tinha condição de me manter numa escola privada, então eu fiz o concurso, passei. Tive um bom colégio, amparado pelo poder público, e tive também muita articulação. Fazia todos os cursos do Rotary Clube, que na época, e até hoje existe, mas eu acho que na época, na década de 1980, era o auge. E tinham vários programas de desenvolvimento das lideranças comunitárias.
Então eu sempre fui muito amparada pelo poder público e pela relação com empresários, o setor privado. Eu acredito mesmo, de verdade, pela minha própria história, de que é possível. Quer dizer, a soma da sociedade civil, do poder público e da iniciativa privada, pode gerar muitas oportunidades. Eu acho que o que aconteceu comigo é viável que aconteça com outras pessoas. Essa construção coletiva precisa ser mais estruturada, mais sistematizada para a população. É difícil, às vezes a gente fala, aqui na Vale, quando eu vou para a comunidade as pessoas falam: “Ah, você não tem noção desse mundo”. Eu tenho sim, tenho muita noção desse mundo porque minha vida foi brincando em favela e vendo amigos meus passando por situação de cair na bandidagem, de perder colegas para o tráfico. Então eu sei sim, mas acho que essa construção, essa articulação me impulsionou e graças a isso eu pude estudar.
P/1 – E Andreia, conta uma coisa. Nessa sua fase de infância, conforme você foi crescendo, você tinha alguma coisa que você queria ser ao crescer? Tinha algum sonho, alguma projeção?
R – É, eu sempre gostei muito de história e eu sempre me interessei por entender a situação econômica. Por que as coisas são assim, né? Acho que essa busca por entender o sistema, o nosso sistema, foi uma coisa que me mobilizou muito para a militância. Quer dizer, eu estudei Revolução Francesa, estudei Marx... estudava. Lá no Pedro II a gente tinha grupos de estudos muito interessantes, com professores que realmente tinham essa questão de lecionar além dos bancos escolares, de realmente formar cidadãos.
Então eu acredito que foi sempre muito bacana. Eu sempre soube que eu ia trabalhar na área social. Isso eu sabia, só não sabia em que. Então eu comecei trabalhando no Centro de Integração Empresa Escola, que trabalha com a questão do estágio e ali eu desenvolvi várias atividades, entendendo o momento do jovem como um momento fundamental para um planejamento de carreira e a gente sofria muito quando o jovem fazia uma opção por uma carreira, porque o pai é médico, engenheiro ou enfim, alguém sonhou para ele uma profissão que ele não consegue se conectar ou que o estágio é importante para que ele consiga se manter na escola. E a gente sabe que é o momento fundamental de construção de carreira. Quer dizer, é o alicerce e se isso não for bem feito, você vai levando alguns passivos. Então a gente, dentro do CIEE [Centro de Integração Empresa Escola], criou um Instituto de Competências e Cidadania e a gente trabalhava muito isso. Como é que o jovem consegue construir, acho que muito da minha história, né, que eu acho que eu me encontrei por ter a minha história, por poder ousar. Ali tinha um grupo também muito bacana, com histórias similares e com vocação para trabalhar com jovens, que pensava muito isso, em construir um ambiente em que o jovem pudesse ser capaz de construir o seu próprio destino.
P/1 – E Andreia, eu vou querer saber um pouquinho por que você escolheu fazer administração, mas antes eu queria te perguntar. Da sua infância... você falou um pouquinho do samba, de crescer entre essas duas realidades, mas tem alguma memória de alguma brincadeira que você gostava muito? Se você puder contar uma coisa que tenha marcado também a sua infância.
R – Eu gostava muito de ir para a cidade dos meus avós, em Mar de Espanha, uma cidade pequena. Então eu lembro assim, no Rio de Janeiro, imagina, a gente não podia ficar muito solto, o tempo todo dando satisfação: “Vou ali, vou aqui. Vai com quem? A que horas vai? ”. E lá em Mar de Espanha a gente se sentia muito livre porque para você ter uma ideia, eu lembro... os presos dormiam na cadeia. Então eles saíam de manhã e iam dormir na cadeia. Lembro de uma televisão na praça central da cidade e que ia todo mundo para ver televisão, novela juntos ou o que fosse. E a gente brincava muito de queimada lá. A gente brincava na rua mesmo. Parava, às vezes, para um carro ou outro atravessar.... E da gente brincar de cipó assim, de pular riacho com cipó, de subir e descer do bambu. Brincadeira de montar num cavalo e só sair de noite, cheio de carrapato. Eu lembro muito, foi uma época assim muito boa de brincar de coisas que no Rio a gente não conseguia brincar.
P/1 – E tem algum amigo de infância que você tenha trazido com você até hoje? Que tenha marcado?
R – Eu tenho uma amiga que nós somos comadres. Ela é madrinha da minha filha, eu sou madrinha das gêmeas dela e a gente se conheceu na sexta série. Eu me lembro que ela tinha passado por várias reprovações e como eu gostava de estudar história, essas coisas, eu contava os casos. Ela falava: “Nossa, parece uma fofoca, parece uma coisa gostosa”. Então eu lembro assim, da gente ser muito amiga e dela começar a prosperar por essa amizade, da gente ir junto, da gente estudar em casa, ela ficou muito tempo. E depois ela perdeu a mãe, e aí a gente, minha mãe meio que abraçou. Então o vestido de noiva dela foi bordado pela minha mãe. Uma amizade que até hoje é muito linda. Uma irmã de coração.
P/1 – E Andreia, por que você escolheu fazer administração de empresas? Tem algum professor que tenha influenciado? Conta para a gente.
R – Então, eu acho que isso também foi uma das questões que me fez valorizar tanto. Quando eu saí para fazer o vestibular... primeiro assim. Numa família que você não tem gente com nível superior, é muito difícil você acreditar que você pode. A minha família foi criada para ter uma carteira profissional. Você não foi criada para ser um engenheiro, um médico ou alguém com status. Eu me lembro que as minhas tias, essa minha tia mesmo do Leblon, a tia Lurdes falava assim: “Ah, quando você crescer você vai ser uma secretária”. Nada contra secretária, mas era assim, o máximo que a gente podia sonhar, era ser uma secretária, ou seja, não demandava um nível superior.
Então você quebrar isso, você acreditar que você realmente pode fazer alguma coisa, é muito complicado. Eu acho que é a maior barreira para quem não tem uma referência na família. Eu passei muito por isso e quando eu fui fazer administração, eu me lembro que eu fiz para odontologia, para psicologia, não tinha a menor noção. Isso o Brasil não trabalha. Por exemplo, na Argentina você tem um plano... uma análise das possibilidades de novos negócios, de novos incrementos na economia do país, e que eles trabalham cinco anos para trás, ou seja, uma visão de cinco anos para frente. Quais são as tendências das profissões e começam a fazer um trabalho de informação nas escolas. Então, por exemplo, aqui no Rio de Janeiro eu me lembro que há um tempo atrás, houve o boom das telecomunicações e não tinha gente formada para fazer. E assim como outras coisas. O próprio petróleo também. Você teve uma demanda por profissionais que você não consegue cobrir por quê? Porque não houve um preparo. Quer dizer, quando a gente fala em bancos escolares, você tem que preparar três, quatro, cinco anos antes as pessoas. Isso é muito ruim para o país porque é uma perda de oportunidade.
Eu acredito que no formato de hoje o nosso sistema de ensino é muito perverso com o jovem. Porque você não fala... você fala das carreiras quando você é pequenininho assim: “Qual é a profissão do seu pai? Da sua mãe? Do seu tio?”, não sei o que. E você só vai ter novamente contato com isso no pré-vestibular, que você tá totalmente absorvido pela possibilidade de prestar um concurso. Então você não para e vai estudar as carreiras. Isso é muito ruim. Eu fui também um pouco vítima desse sistema. Quando eu fiz a opção, foi meramente... aliás eu fiz economia porque o meu namorado fazia economia. Aí, ao fazer economia, eu falei: ”Não, não é isso”, e mudei para administração. Mas gostei de fazer administração e fui em frente. Depois eu consegui uma bolsa no Ibmec [Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais] para fazer marketing e aí foi muito interessante porque eu já trabalhava com o terceiro setor e eu queria fazer o olhar do marketing sobre o terceiro setor. E a minha banca aqui no Rio de Janeiro foi formada por gente de São Paulo, porque na época não tinha professor aqui que tivesse conhecimento sobre essa área. Depois eu estava na Alemanha fazendo um curso e soube que tinha um mestrado do governo da Alemanha, para 60 pessoas na América Latina. Fiz o concurso, passei e aí recebi uma bolsa para fazer o mestrado. Então sou diplomada pela Universidade de Lueneburg no curso de gestão para sustentabilidade, mas ainda preciso fazer os créditos para o mestrado.
P/1 – E Andreia, me conta um pouquinho talvez das suas experiências mais marcantes do terceiro setor, antes de entrar na Fundação Vale. Fala um pouquinho o que você trouxe com você.
R – Eu acho que o que mais me marcou por ter tido essa experiência no Rotary e por ter trabalhado no Centro de Integração Empresa Escola, é justamente o gap que há entre o mundo acadêmico e o mundo do trabalho. Eu me lembro que eu sempre falei isso aqui. Para você se conectar, enquanto terceiro setor, numa ONG [Organização não governamental], para captar recurso, você entra num ambiente empresarial, você tem cinco minutos para se conectar. Se você não conseguir, esquece. Sabe, sai assim de perto, espera uma outra oportunidade porque naqueles cinco minutos, se você não der o recado, não criar conexão, acabou. Já se uma pessoa do ambiente empresarial for falar com o mundo das ONGs em cinco minutos, ele vai ser linchado. Porque você realmente tem que contextualizar sua fala, tem que trazer.
Eu sempre, ao trabalhar com esses mundos, percebi a importância de criar um canal de articulação intersetorial. É um desperdício porque na verdade você encontra muita sinergia e pontos de interesse comuns, mas como você trabalha com tribos diferentes, são linguagens que muitas vezes não se encontram pelo próprio desconhecimento. Não é nem por uma dificuldade. Muitas vezes você consegue identificar que o que um quer o outro também quer, mas estão falando em línguas diferentes, portanto não se conectam. Eu acho que no terceiro setor essa visão é muito importante. Não é só no terceiro setor, acho que em todos os setores você tem perda de esforços, de recursos, de possibilidades de pensar coisas inovadoras, porque cada um fica dentro do seu mundo e é muito desconfortável criar uma conexão, no primeiro momento. Eu acho que na minha vida eu me especializei nisso e quando a gente se especializa nessa questão de facilitar as conexões, implica em conhecer esses mundos para poder identificar de que forma você pode contribuir.
P/1 – E Andreia agora conta para gente da tua entrada na Vale, conta um pouquinho como foi essa coisa.
R – Ah, foi muito engraçado. Quando eu estava no CIEE fazendo palestras, de como a gente captava recursos, identificávamos pessoas interessantes no mercado de trabalho que pudessem dar o seu depoimento. Porque todos os calafrios que as pessoas têm, os grandes executivos também sentiram um dia e dizer isso, que sentiram, é muito importante para quem está começando. Parece que é uma questão inacessível você chegar a um cargo de diretor, e aí é muito bom quando você diz: “Olha, eu senti calafrio, eu tive medo, eu tive escolhas, eu tive desafios, eu tive que dar três passos para trás”, enfim. E a gente fazia muito isso. Então era uma forma também de despertar nas pessoas o interesse de contribuir e de certa forma você abria um canal dentro da empresa para conseguir a oportunidade de estágio ou de desenvolvimento de cursos para os jovens.
E aí a gente ia fazendo isso e eu chamei a Olinta Cardoso que era diretora aqui da Vale. Aí no final ela falou: “Nossa, eu gostei tanto de você. Você não gostaria de fazer uma entrevista comigo?”, “Ah, então tá bom, vou lá fazer a entrevista”. E aí ela falou: ”Andreia...”, me perguntou um monte de coisa, no final ela falou: “Olha, o cargo é seu. Você está contratada para ser.... Não era analista... coordenadora de educação”. Eu falei: “Ah Olinta, educação? Educação não”. Claro que ela associou, o CIEE à Educação. Falei: “Não, não, eu não quero educação”. Aí ela falou: “Ué” - ela é mineira, muita engraçada, “Ué, mas o que é que você quer? ”, eu falei: “Ah, eu queria fazer articulação intersetorial”. Ela falou: “Uai, aqui não tem isso não” [risos], “Ah, então está bom, então se você não quer”. E eu saí, eu me lembro assim, que a família falou - eu ia ganhar três vezes mais que ganhava na ONG -, “Mas meu Deus, como você disse não? Que loucura”, e tal. Mas foi ótimo porque logo depois eu fui convidada para fazer um trabalho muito legal e cuidar de gênero no Canadá, pela Associação Brasileira de Recursos Humanos. E logo depois também por conta do CIEE, da gente ter trabalhado em um projeto para conseguir fazer com que jovens de favela pudessem acessar curso superior, além de docência ou alguma questão ligada à área social, mas que fosse medicina, direito.
Esse projeto até hoje existe, chama Mais, que é fazer com que as pessoas acreditem no potencial que elas têm, que elas podem seguir adiante. E aí a gente começou a fazer essa experiência. Eu me lembro que um ícone assim, a gente conseguiu que uma menina da Favela da Maré... ela conseguiu prestar vestibular pra UERJ [Universidade do Estado do Rio de Janeiro] em direito, e passou. Então o Jornal Nacional falou sobre... A mãe dela era pipoqueira, e era a primeira vez que a mãe estava entrando numa faculdade. Imagina a emoção das duas, foi lindo. E a Esso [ExxonMobil Corporation ] falou para mim: “Ah escuta, você, a gente reconhece em você uma liderança”. Aí eu já estava casada, tinha a minha filha com um aninho e pouco, “Você não quer fazer parte de uma organização que chama CEDPA [Centre for Development and Population Activities], em Washington, que forma mulheres líderes no mundo? ”. Aí eu achei legal, falei: ”É, pode ser”.” Aí então a gente faz de dois em dois anos, em duzentos países, a gente seleciona as lideranças”. Aí eu falei: “Tá bom”, e aí foi afinando o processo. Quando chegou em 10 pessoas, a Esso falou: “Olha, você vai ficar entre as 10 e tal”. Aí eu fui começar a ler sobre o que era o CEDPA e comecei a ver as barbaridades que acontecem lá fora com as mulheres. Falei: “Ah, imagina, o Brasil não vai ser selecionado”. Aí eles me ligam dizendo: “Olha, você foi selecionada e você vai representar o Brasil nesse grupo”. Foi um momento assim dúbio, mais forte na minha vida, porque a felicidade de poder passar, representar o meu país nesse grupo. São sempre 25 mulheres no mundo e foi uma alegria. Mas como que eu ia deixar um bebê? Foi um misto de felicidade e de dor, mas meu marido me apoiou muito, falou: “Não, você tem que ir”. E lá a gente se ajudou muito porque eram mulheres realmente do mundo todo, que tinham filhos também. Então a gente se ajudou e a gente passou uns dois meses trabalhando muito. A gente foi recebida pela Hillary Clinton e outras. Realmente mudou a minha vida esse trabalho.
Aí lá, nesse trabalho de formação, eu pensei assim: “Gente, eu acho que eu vou fazer a diferença se eu for para a iniciativa privada, porque a gente tem tanta coisa para passar que eu acho que vale a pena”. Voltei para o Brasil e falei com o pessoal do CIEE que eu estava saindo e que eu ia procurar outras empresas e tal. Por coincidência, uma grande amiga que ficou no meu lugar, na vaga de educação, depois falou: “Andreia, mas é sua cara”.... Era desenvolvimento territorial, mas eu não sabia nem o que era desenvolvimento territorial. E aí falou: “Não, vem para a Vale, porque tem tudo a ver com o que você está falando e tal”. Aí lá fui eu fazer entrevista de novo. Quando chegou... aí passei pelo processo, e falaram: “Agora você vai falar com a Olinta”. Falei: “Agora ferrou”, porque ela falou: “Como você diz não para a Vale, né? ”. Aí quando ela soube, ela nem me entrevistou. Ela falou: “Ah, é a Andreia Rabetim? Pode aprovar”, aí eu vim para a Vale. E foi muito bom porque a gente foi muito estimulada, a gente teve a orientação da professora Tania Barcelar, que é uma assumidade em desenvolvimento territorial e ela estimulava muito a gente a pensar de que forma a fundação poderia contribuir para o desenvolvimento dos territórios onde a Vale existe.
Então é assim, eu estou muito satisfeita. Acho que eu tomei a decisão certa na minha vida. Acho assim que eu posso contribuir muito com esse ambiente empresarial, porque a gente tem um outro lado e acho que essa mudança é muito salutar. Pessoas do governo que vem para a iniciativa privada, da iniciativa privada para o governo, a sociedade civil se envolvendo. Eu acho que isso cria na gente, uma capacidade de análise exponencial.
P/1 – Andreia, então conta um pouquinho agora da sua trajetória aqui na fundação, os trabalhos que você desenvolveu. Fala o que você puder.
R – Bom, aqui na fundação é um prazer. Eu acho que a gente, se botar na balança, assim o saldo é muito positivo para mim porque realmente eu sou levada a desafios que eu acho que só me fazem crescer enquanto profissional. Tenho uma equipe maravilhosa também, uma turma muito comprometida e acho que a gente o tempo todo é levado a pensar como melhorar.
Primeiro entendendo que muitas vezes é até um pouco angustiante porque você quando sabe do outro lado e está chegando nesse lado empresarial, ás vezes fica assim: “Ah, mas eu precisava falar isso”, e às vezes você não encontra a forma certa de se conectar no ambiente empresarial. Eu acho que isso eu estou aprendendo muito. Porque a minha origem é o terceiro setor. Eu fui convidada há pouco tempo para fundar uma rede de mulheres aqui na América Latina, independente da Vale. E fui. Primeiro meu coaching me falou assim: “Poxa, mas qual é a sua ambição profissional na Vale?”, falei: “Mas a minha ambição? Eu não tenho”, porque realmente assim, o meu olhar é comunidade. Então eu falei: “Meu Deus, mas será que eu tenho problema? ”, porque eu não tenho essa vontade de competir nesse ambiente tão competitivo. “Ai meu Deus, será que é comigo? ”, “Não, mas procura dentro de você, você tem”, “Meu Deus, o que está acontecendo? ”.... E quando eu tive com esse grupo de mulheres, me encontrei muito na fala das mulheres da América Latina. Aí falei: “Nossa, minhas raízes aqui”. Só que elas também falavam coisas que eu já discordava, por viver um ambiente empresarial. Falei: “Nossa, eu sou um ser híbrido [risos], porque já consegui assimilar bastante coisa e poder levar para esse questionamento, mas também reconheci a minha essência nesse grupo. Eu acho que isso é muito bacana.
A gente poder contribuir com o trabalho de uma fundação, de uma empresa como a Vale, que é realmente assim, um orgulho para a gente enquanto empregado, você poder contribuir trazendo uma leitura, ampliando, ou estimulando uma leitura desse ambiente social, numa relação ganha-ganha. Porque hoje ainda é muito estigmatizado esse coisa da empresa como a poderosa, que não agrega e muito sinceramente, eu acredito que pode agregar sim. Eu acredito que se trabalharmos numa visão de filantropia, nós não vamos agregar. Quer dizer, o social ele pode e deve ser parte do negócio. E olhando dessa forma, que o social é parte do negócio, como a gente consegue criar uma relação ganha-ganha? De fato, para a empresa e para a sociedade? Acho que o mais importante é entendermos assim: primeiro quem é a fundação. A fundação são recursos privados para fins públicos. Portanto ela não pode ser um departamento da Vale. Mas ela pode ser mantida sim, pela empresa. É legítimo, não é feio. E ela pode ser uma fundação corporativa, ao buscar potencializar os impactos positivos da empresa. Quer dizer, o impacto negativo que a Vale gera enquanto mineradora, deve ser gerido e mitigado pela empresa. Os impactos positivos que o empreendimento gera podem ser potencializados pela fundação. Essa é a lógica que a pensamos.
Então quando você traz um empreendimento por exemplo, para um lugar, você pensa: “Ele pode atrair mão de obra sim. Aliás, ele trás crescimento econômico sim. Esse crescimento econômico vai gerar uma demanda também por serviços e por infraestrutura. Tem esse crescimento populacional, mas ele pode ser um ciclo vicioso ou virtuoso. Então o crescimento econômico não é desenvolvimento, mas ele pode se tornar desenvolvimento. Depende da maneira que for construído. E a gente acredita que essa maneira só é possível se houver uma construção coletiva. E aí construção coletiva, como a gente faz num país que não existe essa cultura? Como fazemos se não existe uma linguagem que seja inerente a todos? São linguagens diferentes. Esses são os desafios que movem, acho que pessoas como eu, que tem várias e melhores dentro da... com mais experiência dentro da fundação, para refletir. Quer dizer, como é que a contribuímos para esse desafio?
P/1 – E Andreia, agora conta um pouquinho das parcerias com a fundação, se você puder contar um pouquinho. A parceria com o Instituto Camargo Corrêa.
R – Então, a gente tem... eu começaria falando das lições aprendidas. Se desenvolvimento territorial não se faz sozinho, e precisa ter realmente uma articulação com os demais setores, a gente entendeu isso e não sabia fazer. Daí aprendemos algumas lições. A primeira é: se o poder público é a referência, ele realmente foi eleito para representar o povo, vamos trabalhar com esse grupo.
Daí começamos a fazer diagnósticos socioeconômicos sobre a região. Por quê? Porque não dá para sentar aqui no Rio de Janeiro e decidir que estratégia vamos tomar no Maranhão, no Pará, no Rio, em Minas, enfim. Até porque primeiro cada região é uma região, com as suas culturas, com a sua história. E o próprio empreendimento é diferente. Quando estamos falando de mina, por exemplo, no Pará, você é indutor do desenvolvimento. Você traz geração de renda, impostos e tal. Quando o trem passa pelo Maranhão, ele já não é, ele está passando pelos municípios. Então a forma de lidar com eles precisa ser diferenciada. Quando ele tá no porto, idem. Se não conseguirmos fazer um diagnóstico específico daquela região, a gente não consegue atuar de forma estruturante. E aí mostrávamos esses diagnósticos para os prefeitos e falávamos: “Olha, prefeito, não vamos financiar o show do Chitãozinho e Xororó. Olha aqui o diagnóstico, veja as demandas que essa população tem, para podermos interagir com a demanda”. E assim fizemos. “Ah não, eu quero asfalto”, “Ah, eu quero saneamento”, e a gente começou a fazer projetos para busca desse recurso. Por quê? Porque no governo federal existe um volume de recursos disponíveis para suportar a infraestrutura necessária e a infraestrutura necessária está na constituição. Ele é uma situação que pertence ao governo, e nas suas diferentes instâncias. E aí vamos fazendo, vamos fazendo. Só que a gente descobriu algumas coisas.
Primeiro que o tempo do público é diferente do privado e a gente não conseguiu preparar a Vale para isso. Então a estratégia foi lida na velocidade que uma empresa privada pensa. E quando você casa com outro são velocidades distintas. Então a primeira lição foi essa. E o recurso voluntário naquela época, foi todo canalizado para isso. E a gente identificou que você tem que disponibilizar parte deste recurso, porque parte deste recurso pode casar com outros recursos e tem o seu tempo de maturação. Mas se cai um, sei lá, se tem uma ação específica voluntária da Vale para ser feita naquela região, ela não pode estar comprometida totalmente com esse tempo. Você também tem que ter o recurso, para dar conta dos desafios de curto prazo. Então esse equilíbrio nós não tínhamos muita noção.
A outra lição é que ao se relacionar diretamente com o poder público e não envolver a sociedade você fica frágil, porque esse recurso vai chegar. Mas quando ele vai chegar? E se não chegar? Então a gente aprendeu que, primeiro precisávamos estar atrelados às ações da fundação, as políticas públicas. E nas políticas públicas existe uma série de atividades de engajamento da sociedade civil. Estamos aprendendo a fazer isso. Vou dar um exemplo. A gente fez uma cooperação técnica com o Ministério das Cidades. E os municípios precisam fazer o seu plano municipal de saneamento. No passo a passo do ministério você tem o gestor seguindo o passo a passo e tem duas, três reuniões de validação com a comunidade. Mas se a comunidade não entende o que é saneamento, ela fica refém. Então a gente pediu licença, fizemos uma parceria com a Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] e com o próprio ministério. Montamos um material para ensinar a sociedade civil e os gestores públicos o que é saneamento. Então a ideia é que ao elaborar um plano de saneamento municipal, essas pessoas sejam envolvidas e consigam, conhecendo sobre o assunto, se engajar da melhor forma. Então essa é uma contribuição estruturante que a fundação pode dar. Ela está seguindo a política pública, está somando, porque ela consegue fazer uma inclusão social e a população também consegue perceber isso.
P/1 – Bacana. Então fala um pouquinho mais agora, fala o que você puder falar do contato com o Instituto Camargo Corrêa.
R – Então, o Instituto Camargo Corrêa foi assim, um encontro histórico porque o instituto tem isso também. Tem essa visão de que a gente consegue ser mais estruturante quando se está atrelado a uma política pública e ao se perceber na forma de agir do instituto, o interesse em estar articulado. Ou seja, ele reconhece também que a questão da intersetorialidade é um fator decisivo para o desenvolvimento das regiões. E aí foi um grande encontro. Agora a gente tem com eles uma longa obra de ampliação da estrada de ferro Carajás e pela primeira vez estamos entrando no início.
Então é um desafio muito bacana porque a ideia é juntar os nossos saberes, buscar um conhecimento e planejar a nossa atuação de forma integrada. É muito bacana ver o Instituto Camargo Corrêa, Fundação Vale, pensando juntos e pautando, orientando a execução do investimento social das nossas empresas. Eu acho que é a primeira vez que isso está acontecendo. Pelo menos é a primeira vez com a gente, eu acredito que seja também com o instituto. E é uma oportunidade incrível para mostrar que... às vezes a gente fala intersetorialidade, mas muitas vezes você está no seu próprio setor e não se comunica, não se integra. Então eu acho que é uma oportunidade de mostrar que podemos fazer toda a diferença quando partimos do planejamento. Quer dizer, é entender o que queremos juntos. Como é que vamos fazer, juntos. Quando a gente vai fazer juntos, qual é o resultado que a esperamos. E é isso que a estamos fazendo e eu acho que a equipe deles também é sensacional. A gente percebe uma qualidade técnica muito bacana e que tem aquecido o nosso debate. Eu acho que é uma soma aí muito inspiradora para pensar fora da caixa.
P/1 – E Andreia, se você puder falar um pouquinho do que você espera para o futuro dessa parceria, desses resultados que vocês esperam juntos.
R – É, eu espero que a gente consiga de fato mostrar que é possível, que o investimento privado pode ser estruturante para um controle social importante da sociedade civil. Se olharmos para a história do país, essa participação das comunidades é uma coisa muito recente. E que a iniciativa privada pode ajudar muito a fortalecer essa consciência e esse poder que a sociedade civil tem. Tanto para atuar no controle social das políticas públicas, como na própria atuação da empresa nessas áreas em que ela implanta os seus negócios. Então eu acredito que é uma... eu espero que seja, uma possibilidade de demonstrar, de construir um processo de articulação intersetorial sistematizado, que possa inspirar outras organizações, outras empresas, a potencializar o seu investimento social.
P/1 – Andreia, agora para gente finalizar, só vou te fazer voltar para questões mais pessoais. Eu queria te perguntar. Você falou que é casada, você falou um pouquinho de ser mãe. Como foi para você ser mãe?
R – Nossa, eu acho que é para toda mulher, né? Para mim foi excelente em vários aspectos. Primeiro porque eu sempre fui muito workaholic. Quando você trabalha no social você já não sabe que horas você já está trabalhando, que horas é tempo livre. É uma missão. Eu tenho prazer de trabalhar em alguma coisa que eu acredito que é uma missão. Então eu não tinha tempo, não tinha hora, não tinha dia. Eu acho também que os excessos nunca são... precisam ser equilibrados. Acho que equilíbrio é a palavra.
Então quando eu passei, quando eu soube que estava grávida, eu tinha passado no mestrado na UFRJ, chorei horrores. Falei: “Ai meu Deus, e agora?”. Eu me lembro que uma chefe minha disse assim: “Não, vai curtir a sua gravidez, porque você não sabe como vai ser a sua gravidez e você precisa desse tempo para você interagir com o nenê” e tal. E assim eu fiz. Foi a melhor coisa, porque eu acho que realmente eu aproveitei a minha gravidez, me acostumando com a ideia de ser mãe e hoje assim, eu te digo, sem medo de errar, que de longe, mas assim disparado, é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. De todos os papéis que eu tenho, seja como filha, como executiva, como esposa, como cidadã, ser mãe para mim, de longe, não tem nem o que comparar. Ser mãe é o melhor de tudo.
Você ter uma pessoa que você pode contribuir. Lá na escola eles estavam falando: “Nossa, ela tem uma inclinação para o coletivo”, “Ai, graças a Deus” [riso]. Porque a gente quer realmente é que os filhos tragam os valores e acho que para mim é isso assim, a gente tem que passar os valores e uma boa educação. O resto se constrói, cada um constrói a sua história. Mas eu acho que o papel de um pai, de uma mãe é realmente dar ferramentas para os desafios que virão. Eu acho que valores e educação, a gente já faz um grande papel.
P/1 – E como é que você conheceu o seu esposo?
R – O meu esposo... eu estudei no sexto ano com uma amiga e eu tinha 13 anos... estava passando na praia e encontrei essa amiga. Só que aí meu marido disse que estava estacionando o carro e falou assim: “Nossa, que gatinha”, ela falou: “Ah, é minha amiga da escola” e tal. Ele pediu para apresentar e a gente começou a namorar. Então eu comecei a namorar com 13 anos. Depois a gente deu uma separada e aí voltei a namorar com 15 anos e estamos até hoje. Já se vão... estou com 41 [riso], vinte e poucos anos.
P/1 – E Andreia, quais são seus sonhos, perspectivas para o seu futuro pessoal e profissional?
R – Acho que o que eu desejo, de coração, é fazer com que esse mundo seja melhor, contribuir um pouquinho. Quando eu era adolescente eu tinha certeza que eu ia mudar o mundo. Hoje eu tenho certeza que a minha contribuição é importante. A gente vai nivelando a expectativa. Acho que a maturidade traz isso. Mas eu acredito sim que a gente consegue, tem um mundo de muitos desafios. Mas eu acho que quanto mais o social for percebido como parte do negócio, mais qualidade para essas relações intersetoriais e mais ganho para a sociedade civil. Quer dizer, acho que não existe, vai chegar uma hora que a gente vai entender que está tudo conectado e que um esbarrão no ambiente econômico é um empurrão no ambiente social. Quer dizer, não dá para dissociar Socioeconomia, é muito integrado. Mas ainda olhamos muito setorizado. Eu acredito que, volto a dizer, é perda de esforço, perda de recurso, perda de oportunidade. Então assim, acho que a minha grande contribuição para essa vida é de alguma forma debater e estimular esse debate, criar ambientes para essa discussão.
P/1 – E o que é que você acha de resgatar a história dessas parcerias, através da experiência vivida de quem está por trás disso?
R – Ah, eu acho que uma fala ela tem uma essência. Você tem a oportunidade de conhecer o outro e refletir de uma forma mais interessante. Se você pega o meu depoimento isolado você vai ter uma absorção. Se você sabe da minha história, você vai ter outra. Eu acho que esse é o grande diferencial. É através do momento de conhecer um pouquinho da história de cada um, conseguir fazer uma assimilação mais profunda do que dos credos e das mobilizações que estão postas. Eu acredito que você para e fala: “Poxa, eu não tinha pensado dessa forma”. Acho que você abre os canais. Contar a história de vida das pessoas é, para mim, abrir os canais e conexões.
P/1 – E agora, para finalizarmos, como é que foi para você contar tua historia, voltar lá atrás?
R – Eu achei que precisava de mais tempo. Pena que eu não tenho [risos]. Falar da gente é muito bom, né, eu adoro. Eu acho que toda vez que eu falo, eu penso: “Caramba, como que meus pais foram importantes, como meus avós foram importantes”, como que a gente é fruto mesmo de convivências e interações. Então falar disso é sempre muito bom. Eu me lembro que uma vez lá no CEDPA, eu falei. Depois eu liguei pra esse meu tio que eu falo que criou o meu pai e comecei a chorar. Ele falou: “Mas o que que aconteceu? ”, “Não, é porque eu te amo muito” [risos]. Porque é uma oportunidade de você falar “Caramba, eu tenho que dizer te amo para uma pessoa que ajudou tanto”. Acho que é muito bom. Parabéns pelo trabalho.
P/1 – Parabéns pela tua história. Em nome do Museu da Pessoa e Instituto Camargo Corrêa a gente agradece a sua participação.
R – Obrigada. Obrigada a vocês, o Instituto Camargo Corrêa, o Museu da Pessoa, pela oportunidade de contar a minha história.Recolher