P – Primeiramente eu gostaria de saber o seu nome completo, data e local de nascimento. R - Meu nome completo é Aluízio Rebouças Peixoto, sou natural de Brasília e nasci em 27 de agosto de 66. P – E quando é que você entra no Aché? R - Eu entrei no Aché em 15 de julho de 98. ...Continuar leitura
P – Primeiramente eu gostaria de saber o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Meu nome completo é Aluízio Rebouças Peixoto, sou natural de Brasília e nasci em 27 de agosto de 66.
P – E quando é que você entra no Aché?
R - Eu entrei no Aché em 15 de julho de 98.
P – E em que circunstâncias? Conta para a gente como é que você conseguiu entrar no laboratório.
R - Que circunstâncias? Foi única e exclusivamente acho que de bom atendimento. Eu fui bancário por 10 anos e certa vez um ex-colega que foi do Aché chegou no banco para procurar informação de um outro colega, que estava sendo contratado. Ele não foi lá para me contratar como olheiro, como alguma coisa. O que chamou a atenção dele foi a minha forma de atendimento. Além de eu poder dar as melhores informações, que não tinha outra para dar sobre esse colega, ele gostou muito do meu atendimento, da minha apresentação. Então ele me convidou para poder fazer o teste. Com 4 dias eu estava já trabalhando no Aché. Sem sombra de dúvidas.
P – Que bom. E a região em que você trabalha hoje?
R - Eu faço Brasília, é o que a gente chama de giro, eu faço Brasília e um pouquinho também de giro de Minas Gerais. Entre Cristalina, Goiás, Paracatu e Unaí. Compreendendo aí uns 3 dias.
P – Você podia contar um pouquinho como é essa região? Descrevê-la?
R - Essa região é até interessante, pela proximidade de Brasília. É assim, situações climáticas, tipo de vegetação e tudo, é parecida. Mas com relação à afinidade que a gente tem com os médicos, por ser um pouco interiorano, a afinidade é outra. São pessoas que você pode chegar e conversar mais abertamente. Você pode contar uma história, entendeu? Você pode às vezes cobrar um pouco do médico. Ele te dá essa liberdade. Existe uma certa carência do propagandista nesses setores. São carentes de informação, né? Então nós que chegamos lá e conseguimos levar para eles, às vezes sanar algumas dúvidas e principalmente novidades também.
P – Você é um viajante, então?
R - É, eu sou um viajante. Não é bem essa expressão que a gente utiliza, né? Mas para eles e para quem não conhece como você, a gente fica com esse rótulo de viajante. Mas realmente, de fato, fica um pouco de viajante. Caixeiro viajante, como diziam antigamente.
P – Você chega a se hospedar em algumas dessas cidades ou são roteiros onde você vai e volta para casa?
R - Não, a distância não permite. Então, eu rodo aí uma viagem... Por exemplo: saio em uma terça-feira e volto na quinta. Rodo 1000, 1.100 quilômetros. Então, eu me hospedo, por exemplo, saio de Brasília para Paracatu, 250 quilômetros, ficaria inviável retornar. É cansativo. Então a gente dorme em Paracatu. No dia seguinte a gente já segue para Unaí, já fizemos o nosso trabalho. Se fluiu bem, a gente vai embora aí pelas 10 horas da manhã, já para Unaí. Em Unaí a gente torna a dormir de novo, e quando é na quinta-feira a gente retorna para casa.
P – E tem alguma história interessante dessas hospedagens nessas pequenas cidades?
R - Que eu me lembre agora, fatos, histórias, não. Agora, não. Realmente aqui é um setor que apesar da receptividade, tem uma viagem também muito corrida. A curiosidade é que a gente tem essa facilidade, essa troca de informações com os médicos, a gente tem mais como entrar e às vezes, por exemplo, contar uma história, um causo, como eu já fiz lá em Unaí. E eu fiquei conhecido lá no setor como contador de causos, né? Lá os médicos me conhecem já por essa característica.
P – Inclusive você participa de eventos médicos como contador de histórias?
R - É, inclusive nós fizemos uma ação em Brasília que agora está virando uma tradição. De um futebol contra os médicos de Brasília. Acho que nós somos uma única equipe que conseguiu, por exemplo, lotar um ônibus de 25 médicos. Fazer com que eles viajem 180 quilômetros para jogar um futebol com os propagandistas. Acho que em nenhum outro lugar é possível fazer uma coisa dessa e a gente conseguiu. Um mês a gente joga lá, depois de três meses eles vem aqui e jogam. Então, nesse intervalo depois do futebol, a gente tomando uma cervejinha e começam os causos, as histórias. Por isso é que ficou com esse conhecimento.
P – Só voltando um pouquinho, como é que você explica esse sucesso? Essa maneira de abordar o médico e conquistá-lo para jogar até um futebol?
R - É, realmente a receptividade é um fator importante. Mas, realmente, você tem que lutar com as armas que você tem. Então além de toda uma estratégia que você segue, você passa a fazer também alguma coisa que você saiba. Lutar com alguma outra arma. Então, a gente buscando, no interior a gente sabe que geralmente tem aquelas pessoas mais simples, os caras mais abertos, e você pode passar a contar um pouco mais da sua história pessoal, além da profissional. A gente acaba misturando as coisas, sai uma coisa agradável de conquistar o médico. E é o que a gente tem conseguido e com sucesso, nesses 4 anos. A gente está com uma relação muito boa.
P – Essa sua forma de contar histórias, você atribui a quê? À sua família, à influência da família?
R - É, primeiro à influência de leitura. Gosto muito de ler. E também depois pela família. Eu tenho um irmão que é um boêmio, é um tocador de violão nato. E ele conta algumas histórias. Então, nas viagens que ele faz, ele traz algumas histórias. E a gente vai complementando e vai ajustando. E outros colegas que eu tenho lá em Brasília também, que são músicos. E eu precisava, por exemplo, de um causo que eu estava querendo aprender e ele tinha. Eu fui e aprendi. Depois eu falei: “Eu só vou te devolver esse material quando eu aprender. Eu te conto e te devolvo.” Então, é através da família, do meu irmão que é esse cantador. Já participou de festivais de música lá em Brasília e porque eu gosto realmente de coisa regional. De coisa caipira regional. Não aquela coisa sertaneja, aquela coisa que é feita só para vender. Aquela coisa comercial. Mas se for uma coisa de raiz, qualquer coisa que se diz em relação a raiz, eu gosto bastante e tenho prazer em aprender.
P – Você podia contar um desses causos para nós?
R - A gente pode contar aqui. Ilustrar para vocês um desses causos aí. Está jóia, Eliana?
P – Se você puder fazer isso nesse momento. (risos)
R - Posso fazê-lo. Está bom?
P – Então...
R - Vou contar uma história para vocês, mas antes de contar esse causo, eu queria contar primeiro, como eu estava falando de raízes... Esse causo é de um cantador nordestino, um pernambucano por nome de Edgar Mão Branca. Então, além de ser um excelente músico, um instrumentista, ele também conta alguns casos. Alguns causos nos CDs, nos discos dele. Nos antigos vinis, né, bolachão, como a gente costuma chegar. Como costuma chamar. Então, esse causo chama assim, esse causo tem o nome de Maria. Está bom? Esse causo diz assim: “Nasci num sítio de Belém e por lá mesmo me criei. E dês lá de novo jurei, nunca casar com ninguém. Por arte não sei de quem, com Maria me encontrei. Passei dois mês namorando. Passei mais treis me arrumando, quando foi no cinco me casei. Me casei na boa fé. Mas por pintura do diacho, lá perto morava o macho iludidor de muié. Um tal de Joca Romeu, homem que certo dia me apareceu lá na casa onde nós vevia. Com aquele jeitão estranho e dois oião desse tamanho embutecado para Maria. Hum Com pouco tempo passado eu notei que tinha um sócio. Pois ela inventou um tal de nóis dormi apartado. Inventou um bucho inchado, dor de cabeça e ouvido. Um tar de estamo doído e umas frieira nos pé. Essas coisa de muié, quando quer largar os marido. Pensei cá comigo: “Ói, talvez eu não me acostume.” Eu morreno de ciúme e o amor deles cresceno. E pra encurtar a novela, ele tratou de vim buscar ela na outra noite da frente. Que quando Joca Romeu chegou, perguntou pur ieu. Daí, Maria respondeu: “Qual? O bestaião tá drumindo.” E nisso aquelas coisa eu veno e me alevantei também. Daí, Maria disse: “Ele vem. Mas não vá ter-lhe arroxo que aquele João Branco é frouxo. Nunca brigou com ninguém.” Já era de madrugada quando Joca Romeu levou Maria. Que quando eu assuntei, eles iam lá descambando uma chapada. Lasquei o pé na estrada gritando para ver se ela atendia. Gritando assim: “Vem cá, Maria Maria Maria Vorta pá donde tu morava Morava Morava” Que quanto mais eu gritava, aí é que a diaba corria. Sabe o que assucedeu com esse amor de nós dois? Uns 10 ano despois, home, Maria me apareceu. Chegou toda deferente, com uns oito fio na frente, uns com tosse, outros com zais e outros com gogo. Óia, o que eu tenho comido é fogo pra mó de sustentar tanta gente.” Esse é um dos causos, Eliana.
P – Nossa, muito bom.
R - (risos)
P – Muito bom. (risos) Você é um verdadeiro artista.
R - Como eu ia te falando, para a gente poder contar, eu gostaria de aprender mais coisas. Mas não tem. Eu tenho pesquisado na Internet, mas não tem aquela coisa caipira, né? Então você tem que ter aquele fundo de regionalismo, de caipirismo para poder contar.
P – E isso deve encantar os médicos, não é?
R - É, geralmente quando a gente fala que é a primeira vez, aí realmente eles ficam aquela coisa... E querem ouvir de novo para ver se aí se lembra. Inclusive, quando eu fazia, eu já fiz Catalão aqui também, aí os colegas de pasta às vezes me chamavam de Joca Romeu, que é o personagem que rouba a mulher do cara. (risos) Aí, os caras não me chamam, lá em Catalão, não me chamavam de Aluízio, falavam: “Ô, Joca Romeu” Aí, fiquei com esse negócio. Aí, a partir desse causo é que eu aprendi mais uns dois, e uns outros aí. Poesia, poema, eu gosto muito dessas coisas, sabe?
P – Na propaganda médica tem espaço para isso? Para arte?
R - Olha, o tempo cada dia está diminuindo, né, dentro do consultório. Mas quando você vê que aquela pessoa tem abertura, que gosta, então, às vezes não dá para contar um causo. Dentro do consultório fica difícil. Já contei umas duas vezes. Mas é mais quando você tem um evento médico onde você está participando, você fica mais descontraído e também é uma coisa que eu acho que fica melhor falar para uma platéia, né? Que entre duas pessoas ali, fica quase um monólogo. Quando você faz para a platéia, às vezes você inclui um colega. Você ao invés de botar o nome do João Branco, você bota o nome do Carlos, você bota o nome do Roberto. Então, você chama a platéia também, né? Mas dentro do consultório, fica mais difícil. Aí, fica mais um pouco de piada para poder quebrar o clima, né? Você fica mais tranqüilo e o médico também.
P – Você acha que isso é um diferencial do Aché? Essa maneira de lidar com o médico?
R - Olha, realmente é. Apesar de eu já antes do Aché, eu tinha um pouquinho desse negócio, mas eu não tinha assim aquela curiosidade de entrar um pouco mais a fundo. Mas a partir do Aché você fica mais motivado em aprender certas coisas para poder extravasar no dia-a-dia. Para você poder estreitar os laços e diminuir a distância. Dizem que a menor distância entre duas pessoas é um sorriso, né? Então a partir do momento que você sorri, a distância já ficou bem menor.
P – Alguma vez você conseguiu aliar um verso à um produto? À um medicamento?
R - Deixe-me ver. Não. Agora, de fato não estou lembrado. Às vezes, algum poema, alguma poesia, mas não estou lembrado.
P – Você gostaria de contar um outro caso?
R - Olha, até que eu tenho causo, mas...(risos) Fica assim, depois eu fico restrito, não tenho mais carta na manga, entendeu?
P – Ah, é? (risos)
R - Aí, não é? Você tem uma piada, uma coisa, você conta para uma certa platéia, você tem que guardar um pouquinho. Mas se você quiser, eu posso contar outro também. Acredito que pessoas diferentes, platéias diferentes vão assistir esse vídeo aí.
P – Com certeza. É uma faceta do propagandista que ninguém conhece, não é?
R - É, às vezes, porque o tempo é curto. Então só quando a gente consegue criar aquele laço de amizade é que a gente consegue apresentar esse outro lado do propagandista. Isso não é com todo mundo, é lógico. Você não vai falar com todos os médicos sobre essas suas características. Mas a grande maioria da parte deles, por exemplo, numa cidade do interior como Unaí e Paracatu, eu já fiquei sendo conhecido. Mas é uma pena que realmente o tempo seja escasso. Se tivesse um pouquinho de mais tempo, então a gente poderia trabalhar dessa forma. A gente sabe que tem pessoas diferentes, que às vezes não são tão abertas a ceder esse espaço, que é preciosíssimo e que a gente tem que aproveitar da melhor forma possível levando a mensagem dos nossos produtos. E também tentando vender a tua imagem. A partir do momento que você vende a tua imagem, aí você está vendendo a imagem da empresa.
P – É verdade. E como que é um dia-a-dia de um propagandista hoje? O seu dia-a-dia?
R - O meu dia-a-dia. Olha, uma coisa é certa, quando você está preparado para fazer uma coisa, você age com naturalidade. Você consegue desenvolver um trabalho, né? Agora, a partir de um momento que você não tem preparo, se fosse uma empresa que não te desse um suporte... O Aché me dá um suporte para você trabalhar que é uma constante. Haja vista essas reuniões que estão completamente mudadas, né, mudou o conceito. Você sai de Brasília como eu saí, poxa, você larga a família, mas o que você ganha em conhecimento indo para uma reunião dessa, né? O benefício é bem maior do que essa deixa momentânea da família. Então, o nosso dia-a-dia, agora mesmo com essas reuniões diferentes, você passa a assimilar mais coisas. Você traz histórias, experiências de pessoas de localidades diferentes. Então tem sempre algumas particularidades, coisa que a regional você acaba levando para o teu setor. E no dia-a-dia realmente hoje você dizer que é fácil, não é. Você só sendo um acheano para você sentir o que é ser respeitado frente a outros concorrentes. Quando vê um acheano chegando, sabe que ali ele tem um certo domínio. E ele não tem muito espaço para ele trabalhar, não. Ele vai ter que ficar ali e trabalhar também no espaço que sobrar para ele. Porque, realmente, a característica do acheano é de chegar e envolver o setor, a pessoa. Desde secretária, porteiro, guarda. Indiscriminadamente, você vai conquistando a amizade de todo mundo. Não é porque o porteiro está lá que você vai passar e não vai dar um bom dia, não vai ler no crachá o nome dele. Quatro ou cinco vezes que você faz isso, 4 anos que você passar por ali e por 4 anos você não saber o nome do cara? Pô, o cara está ali, pô. Já te conhece às vezes pelo nome, você está sempre de crachá. Eu acho que é chato. Eu acho que você, no mínimo, deve conhecer a pessoa pelo nome. É muito mais agradável.
P - Com certeza. Os porteiros e as secretárias são importantes também?
R - É importante para o nosso trabalho. Importantíssimo. São eles que são a nossa chave de entrada. Que vai, às vezes, facilitar um pouco, não é? Porque, se de repente você não tem uma afinidade, ele pode até ser chato e querer te barrar. Mas ele não precisa de saber que você acha isso dele. Você vai tratar ele super bem e é assim que você vai conseguir seguir o teu caminho e fazer o teu trabalho da melhor forma possível. A partir do momento que você trata um porteiro, uma secretária, você vai chegar no médico já com as portas bem abertas. Bem mais relaxadas, mais tranqüilo. Sem estresse.
P – E o que mais te agrada no Aché?
R - O que mais me agrada no Aché é essa constante mudança de conceitos. Não ficar sempre em coisas antigas, né? É lógico que cultura mesmo, a gente às vezes tem que respeitar. Mas o Aché está sempre renovando, sempre buscando alguma coisa nova. Sempre trazendo alguma novidade para que você possa não ficar assim naquela mesmice, né? Sair um pouco da rotina. Então, isso aqui é fugir um pouco da rotina. Esse trabalho que você está fazendo agora realmente é uma coisa muito legal. É o que estou achando de poder contar aqui para o Aché. Eu não sei no futuro, quanto tempo eu tenho no Aché, eu não sei o dia de amanhã. Mas eu tenho certeza que com esses 4 anos que eu já tenho, essa passagem por aqui, sem sombra de dúvida vou ter boas lembranças no futuro. Dependendo do que eu vou fazer.
P – É, porque minha última pergunta era exatamente sobre isso: o que você achou de ter contado um pouquinho da sua história? Dessa experiência, desse momento?
R - Pois é, eu me adiantei... (risos) Acabou que eu me adiantei e é isso. Você partir, sei lá, daqui uns anos você estar noutras paragens e você de repente verificar que você fez a diferença. Você fez alguma coisa. Você era lembrado e a partir de alguma coisa que você fez, você vai se tornar, às vezes, eterno para algumas pessoas. Você vai ficar na memória de muita pessoa. E isso é que é importante. A memória, a cultura. Não só para a pessoa, mas para uma empresa, isso é muito importante.
P – Muito obrigada.
R - De nada, Eliana.
P – Muito legal.Recolher