P - Alfredo, muito obrigado por ter aceitado o convite de nos dar esse depoimento. Eu queria que o senhor começasse dizendo o seu nome completo, a sua data e local de nascimento. R - Meu nome é Alfredo de Queiroz Viana, nasci em 12 de janeiro de 1966 aqui em Monteiro. Sou filho de produtor rural ...Continuar leitura
P - Alfredo, muito obrigado por ter aceitado o convite de nos dar esse depoimento. Eu queria que o senhor começasse dizendo o seu nome completo, a sua data e local de nascimento.
R - Meu nome é Alfredo de Queiroz Viana, nasci em 12 de janeiro de 1966 aqui em Monteiro. Sou filho de produtor rural e continuo ainda a mesma atividade.
P - O nome do seu pai e da sua mãe, por favor.
R - O nome do meu pai é Célio Viana, e o nome de minha mãe é Maria de Lourdes Queiroz Viana.
P - O que fazia o seu pai?
R - Era produtor rural também.
P - E a sua mãe?
R - Produtora também. Ainda hoje é.
P - A produção está no sangue da família. O senhor conheceu os seus avós?
R - Não cheguei a conhecer.
P - Nem da parte do pai, nem da parte de mãe?
R - Não.
P - O senhor tem idéia de onde eles vieram, se eram daqui mesmo?
R - Não, meus avôs, parece que tinham um pouco de descendência de português.
P - Seus pais não contavam alguma história de seus avós?
R - Contavam muitas histórias.
P - Mas nada que o senhor se lembrasse?
R - Não, assim de momento, não lembro.
P - Certo. O senhor tem irmãos?
R - Duas irmãs.
P - O nome delas, por favor.
R - Luciene Viana e Lucélia Viana.
P - Moram aqui também?
R - Não. Hoje uma já foi embora, mora em Brasília e, a outra, mora aqui em Monteiro.
P - O que elas fazem?
R - Uma é Assistente Social e a outra é formada em Cooperativismo.
P - Como era essa Monteiro da sua meninice, como era essa cidade?
R - Era um pouco atrasada, porque não tinha tanta renda. Era calma e onde a gente tinha uma grande tristeza, porque o filho do produtor era obrigado, se queria uma coisa melhor, a ir embora. Procurava os grandes centros sem preparação nenhuma e trazia um grande sofrimento para a família. Como ele saía daqui sem ter uma mão-de-obra qualificada, sem nada, só vai para o grande centro sofrer.
P - E como foi a sua infância aqui na cidade? O senhor não morava na cidade, morava no sítio...
R - Morava no sítio, depois fui para o jardim, para a cidade. Foi ótimo porque sempre teve criança brincando no difícil. Sempre com muitas dificuldades, mas a gente tirava de letra, como diz o matuto.
P - E quais eram as brincadeiras que o senhor tinha na infância?
R - Eram várias que acho que nem existem mais. Era o badoque, a baleadeira.
P - O que é isso?
R - Badoque é mais ou menos uma vara entortada com um cordão, o cara fazia as bolas de barro, deixava endurecer para brincar, jogar um no outro.
P - Mas do que o senhor brincava?
R - Brincava de baleadeira, de badoque, de nadar nos açudes. Tinha uma bicicleta, que naquela época era um sucesso.
P - E como era o sitiozinho que o senhor vivia com a família?
R - Lá meu pai produzia leite de vaca e criava cabra só para comer e vender um cabrito de vez em quando. Sempre teve a dificuldade de leite que não achava a quem vender. Quando chega a época da estiagem, tem a quem vender, e não tem o leite. Chega a época quando chove, que é um período muito curto aqui, você tem o leite e não tem a quem vender. A gente sempre foi criado com esse grande dilema.
P - E como é que isso se refletia no cotidiano da família?
R - Em dificuldades. Às vezes um ia embora, como foi o caso da minha irmã, de procurar outro meio. Quando eu estava desistindo para ir embora, foi quando começou esse programa e eu voltei. Voltei no momento certo.
P - Eu queria que o senhor contasse um pouquinho da rotina do sítio. Quando o senhor era criança ainda, o senhor ajudava nos trabalhos?
R - Ajudava. No dia-a-dia você acorda muito cedo, na zona rural, e começa a juntar o gado. Na época tirava leite de criação e depois ordenhava as vacas. Quando terminava, fazia aquele queijo, de tarde ia estudar e à noite retornava de novo, já cansado, para dormir logo cedo, porque não tinha energia. Então, a gente ficava meio à parte das coisas que estavam acontecendo.
P - O senhor nasceu e a sua família tem origem, num lugar metido no coração da Caatinga. Como é que o senhor definiria a Caatinga?
R - Eu acho que a Caatinga é um fenômeno, uma coisa da natureza, onde ela se renova sempre, apesar do homem ter agredido muito ela, ter desmatado sem orientação, ter desmatado demais, estragado. Mas a Caatinga, acho que é uma das grandes coisas que, mesmo nesse período da estiagem, ainda dá sustentação para os homens daqui.
P - Por que o senhor diz isso?
R - Porque quando houve o desmatamento desordenado, vai virando deserto. Não tem mais pasto, não tem onde o bicho comer nada, pastar, nada. Quando está a Caatinga, o bicho mesmo daqui, que é acostumado da região, passa muito bem porque tem a folha, tem o mel de cupira, tem muitas vantagens. Por isso que para desmatar, acho que hoje tem que repensar muito.
P - Mas já existe uma consciência de preservação do bioma?
R - Graças a Deus hoje, depois das nossas reuniões que a gente vem fazendo tanto, também tem energia, tem televisão e todo mundo assistindo. Hoje já tem uma grande consciência, principalmente nessa turma nova que vem chegando.
P - Voltando um pouquinho lá no seu sítio, é Cacimbinha que chama?
R - É Cacimbinha.
P - O senhor estudou lá, onde é que foi a sua primeira escola?
R - Primeira escola foi aqui mesmo em Monteiro. A gente vinha de lá estudar aqui e voltava à tarde.
P - Qual é a distância do sítio para a cidade?
R - Nove quilômetros.
P - O senhor fazia esse caminho todo dia?
R - Todo dia.
P - E como é que era essa vinda para cá?
R - De bicicleta ou, às vezes passava um transporte, um carro. Depois, agora já no final, já estava aparecendo moto. Na época praticamente não existia.
P - O senhor se lembra do nome da sua primeira escola?
R - Me lembro. É Colégio Nossa Senhora de Lourdes, das freiras, aqui em Monteiro.
P - E alguma professora que o senhor tenha lembrança, que tenha marcado a sua vida escolar?
R - Dona Nilza [Martins Feitosa]. Quando você sai um pouco do sítio, vai meio assombrado com tudo. E quando chegou aqui, começou a tratar a pessoa ótima. Porque a gente tinha outra visão dela, tinha ela como uma mãe. Ainda hoje.
P - O senhor chegou a mudar para a cidade?
R - Depois cheguei a mudar para cá.
P - Quando isso?
R - Já com 16, 17 anos.
P - E esse jovem fazia o quê na cidade?
R - Aqui era jogar bola, já tinha os campos mais modernos. Porque lá no sítio chamava pelada, aqui já tinha os campos de futebol, as quadras, tinha outras atividades.
P - A família continuou no sítio, o senhor já morava aqui e ficou fazendo o quê? Continuou os estudos?
R - Continuando os estudos.
P - No Ginásio?
R - Ginásio. Eu terminei o Científico, aí fiz vestibular, não passei. Foi o tempo que eu parei.
P - O senhor prestou vestibular para quê?
R - Veterinária.
P - E o que levou o senhor a pensar em Veterinária?
R - A gente já nasceu no campo, com atividade de criar a cabra, a vaca, as coisas. Eu achava no momento que era a coisa que mais se identificava comigo, que já era acostumado com aquilo.
P - E esse talento para a lida com essas coisas se deu lá desde a sua primeira infância? O senhor aprendeu no sítio isso?
R - Foi. A gente foi criado com aquilo lá, acompanhando o dia-a-dia, aquelas coisas. Às vezes você é obrigado a fazer um parto mesmo sem saber, mas, às vezes, você é obrigado. Você vê uma criação, ela tem um cabrito. Às vezes, você precisar ajudar, mesmo sem saber, você tem que fazer os primeiros socorros, que é mais ou menos aquilo que você sabe fazer.
P - E o senhor lembra a primeira vez que o senhor fez isso?
R - Lembro. Foi uma cabra, estava morrendo. Minha mãe gritou que ela estava morrendo, muito aperriada na hora de ter os cabritos e berrando muito. Procurei uma pessoa para me ajudar e não tinha. Então, fui obrigado a fazer aquilo naquela hora, ajudar a puxar os
cabritos. E me assustei muito até, na hora, porque é na hora que a bolsa estoura e vem muito sangue, me assustei. Mas a gente vai acostumando, o dia-a-dia do sítio obriga você a fazer isso.
P - E os bichinhos sobreviveram?
R - Sobreviveram.
P - O senhor se sentiu orgulhoso com isso?
R - A gente sente orgulho daquilo.
P - Me diga uma coisa: a criação de cabra, a ovinocultura, nunca foi uma coisa muito bem vista. Era geralmente um trabalho menor, uma cultura menor, secundária. Por que o senhor se interessou por isso?
R - Eu já vinha acompanhando o meu pai desde criança e a vaca come muito, principalmente na nossa região que chove poucos meses, a maioria é seco, e a vaca come demais. Todo ano era aquela mesma coisa: ganhava um dinheirinho, quando chegava no fim do ano, chegava faltando. Tenho lembrança de quando chegava o período, como diz aqui, na cidade, ele tinha a alegria de ser Natal, eu tinha tristeza de ser Natal, porque é a época que no sítio está mais difícil. A época seca aqui, ele está liso, sem dinheiro para comprar uma roupa para ele e para o filho, porque ele está pegando o dinheirinho que tem e está comprando as rações para as vacas. Então, fiquei muito gravado com isso. Quando eu comecei a criar cabra, foi outra coisa que todo mundo disse: “Rapaz, isso não dá certo, isso é coisa que não dá renda. A cabra é criada só para a gente comer o cabrito, comer a buchada dele”. E, graças a Deus, foi o momento certo. Quando a gente reuniu vários amigos e começamos a produzir. A primeira produção que a gente chegou aqui foi com 40 litros de leite. Todos. Dez ou 12 pessoas, chegou com 40 litros de leite. E foi se juntando, no segundo foi 60 e, hoje chegando na produção que está.
P - Como é que se deu esse processo de convencimento para que os produtores investissem tempo e algum dinheiro na ovinocultura?
R - Nós já tínhamos as cabras e os amigos que você conhecia, que a gente já
comprava uma cabra a um, o reprodutor a outro, e a gente sabia da condição de cada um, que eram todos muito apertados, muito sem renda, sem crédito para comprar no pequeno mercadinho. E, às vezes, não é você ser mal pagador, você não pagava porque não tinha com o que pagar. Acabava que você ia fazer, comprava alguma coisa. Seu pai mandava você ir comprar na feira e o cabra reclamava: “Rapaz, quando é que ele vem pagar?”. Mas ele não vinha porque não tinha a renda dele. Quando começou essa oportunidade foi que a gente se juntou, de conversar com os amigos, de sentar, de ver que foi a única saída que a gente achou no momento. Depois do fracasso do algodão, que foi o ouro branco do Nordeste, depois do fracasso do sisal por vários motivos, foi esse que a gente apostou todo o resto das fichas.
P - O senhor chegou a se envolver com a cultura de algodão?
R - Cheguei já no final. Era na época que o cabra não entendia bem. Criança, só via meu pai e os outros, os tios.
P - E o que aconteceu com o algodão?
R - Algodão, aqui, foi o besouro. Veio o besouro e acabou, praticamente. Tanto o besouro deu, como deixou de plantar. O produtor deixou de plantar, as duas coisas.
P - E o sisal, o que aconteceu?
R - O sisal foi o estímulo, o preço muito baixo que não compensava pelo trabalho, e ele começou a abandonar também.
P - Quando o senhor e os seus companheiros identificaram essa oportunidade na ovinocultura, como foram as primeiras reuniões, o que ligou essa turma?
R - A gente estava na necessidade. Chegou também, convencemos, partimos para a prefeitura. Também convidamos o prefeito, o secretário rural e tudo começou. Ele começou a creditar pulso, também meio desanimado, porque era aquela coisa, mas disse: “Eu vou ajudar vocês. Eu vou comprar 200 litros de leite por dia de vocês para dar a merenda escolar”. “Não, mas abaixa para 40, só tem 40 litros.” “Mas vou comprar 200, vão crescer.” Foi uma coisa imediata. Com 60 dias a gente já estava juntando os 200 litros. Foi quando começou o programa no estado inteiro, que era governador, na época, o José Maranhão. Ele visitou e disse: “Já que a prefeitura está comprando 200 litros, eu vou comprar 400”. Aí, o prefeito disse: “Eu vou comprar mais 200. Você compra 400 e eu, 400, 800”. E a gente dizendo a ele que não fizesse aquilo, porque a gente só tinha 200. Como seria 800 por dia? Aí foi mais aquela correria e chamando produtor, mostrando a ele que já tinha renda, que era um leite que ele vendia e recebia. Aí, foi onde teve todo ano e começou a produzir. Daqui a pouco a gente estava produzindo mil e já estava correndo atrás do mercado de novo.
P - Que ano foi isso, Alfredo?
R - Foi no final de 96.
P - E aí resolveram criar a associação?
R - Aí fez a associação.
P - Como é o nome da associação mesmo?
R - Aocop, Associação dos Ovinocapinocultores do Cariri Paraíbano. Hoje está passando para Cooperativa. O Cooperar foi orientar a gente. A gente se juntou, fomos ao Cooperar e fizemos aquela usina, foi com o dinheiro do Cooperar. Na época, em torno de cem mil reais, formou a usina aqui, e foi um sucesso. Hoje não existe mais nada dela, com o próprio dinheiro dos produtores, hoje nós já investimos em torno de 600, 700 mil.
P - Um dinheiro aplicado pela associação?
R - Sim, esse para renovar os equipamentos. Porque os equipamentos eram ótimos no dia, mas depois, quando não passou na qualidade, foi preciso comprar novos equipamentos. E isso é um grande orgulho que a gente tem, foi comprar com o dinheiro dos produtores mesmo.
P - Isso dá mais segurança.
R - Mais segurança, onde passaram várias políticas. Agora está terminando outra e nunca atingiu a gente. Porque a gente nunca deixou entrar a Política lá. A gente aceita o político trazer as coisas, não o político entrar dentro.
P - Na verdade, isso é uma garantia de autonomia das decisões da associação, não é?
R - Exato.
P - Quem toma as decisões são os associados. Como é a relação dos associados com a Associação? É uma relação franca, como é a rotina?
R - Aberta, a prestação de contas, de todas as coisas, funciona desse jeito. Todo produtor tem direito, a qualquer momento, de ver as contas, reclamar, reinvindicar, como nós temos o direito de cobrar a ele. A eleição é feita abertamente. Tenho o prazer de ter sido o Presidente da Cooperativa duas vezes, por unanimidade. Mas as prestações de contas são abertas todos os dias e o produtor sabe disso, é ele quem manda.
P - E como é a rotina dessa relação? Quando e como ele recebe o leite?
R - Ele tem o horário de entregar o leite, de sete às nove e meia da manhã. Porque Monteiro é uma cidade, desloca, e ele tem esse período para entregar. E quando ele entrega o leite, a gente não recebe de imediato, faz o teste do leite. Se o leite estiver com qualidade nós recebemos, se não tiver, ele devolve.
P - Que tipo de teste é esse?
R - É feita a análise de água e se tem algum produto, alguma mistura. Na seqüência o leite vai para dentro para ser pasteurizado.
P - E o produtor, quando é que ele recebe alguma coisa?
R - Ele recebe por quinzena. Às vezes atrasa um pouquinho por causa de documento, que a gente depende de documento para mandar para o governo do Estado e para o Governo Federal, mas, geralmente, nunca passa de 30 dias. Ele tem a certeza que recebe.
P - E a Associação oferece algum serviço para ele, algum tipo de assistência?
R - É onde entram os Agente de Desenvolvimento Rural, quando dá um problema, adoece uma cabra, ele precisa de um reprodutor, de vacinar as cabras, de remédio. É onde entram os ADRs, que acompanham ele todos os dias, todas as horas que ele precisa.
P - O que quer dizer ADR?
R - ADR é um Agente de Desenvolvimento Rural, que é mais ou menos um Agente de Saúde da casa, que acompanha o produtor, como é está a criação dele, se ele deu remédio de verme, se vacinou, se está fazendo a higiene do curral. Para todas essas coisas tem um ADR. O ADR é da comunidade, é um amigo que tem que, quando precisa, está ali à disposição.
P - E qual é a relação do ADR com a Associação?
R - Hoje o programa, até agora, não renovou com a Fundação Banco do Brasil, nem mesmo com o Banco do Brasil, nem o SEBRAE [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas]. Hoje, quem paga os ADRs é a Associação, que é tirado do dinheiro dos produtores mesmo, para manter os ADRs.
P - Mas é um investimento rentável?
R - É, porque quando não tem os ADRs, geralmente fica aquilo, o cabra se esquece de uma coisinha. O ADR é aquele que vem fiscalizando você todos os dias.
P - A produção, o senhor definiu muito bem. E como é que se dá a distribuição desse produto?
R - A gente ganha cotas do Governo do Estado, que é o convênio que tem o Governo do Estado e Governo Federal. Mas quem toma conta disso é o Governo do Estado. Em Monteiro, a cota é de 1100 litros por dia. Em Camalaú a gente bota mais 280. Em Boqueirão, a gente bota 200; Santa Cecília, mais 600 e vai dando um total de 2200 litros por dia. A gente tem um caminhão e entrega aqui em Monteiro. Quando é nas outras cidades, a gente se junta com as outras usinas para ficar mais, dividir os fretes e fazer aquela rota, entregando aquele leite.
P - E o grande cliente é o Governo Federal e Estadual?
R - Hoje só temos um cliente, o Governo Federal e o Governo do Estado. Já estamos avançados com apoio do SEBRAE, de todas organizações e estamos entrando na iniciativa privada.
P - E como é que isso está se dando?
R - Estamos ainda amadurecendo. Tem que fazer estudo de mercado para a gente poder entrar no mercado privado. Não é porque esse que a gente já tem não é exigente, é porque o mercado privado é mais. A gente tem que garantir de ter aquela produção direto e a gente está se preparando para isso, para no momento certo entrar.
P - E diversificando a produção ou mantendo o mesmo tipo de produção?
R - Diversificando a produção, fazendo queijo, o iogurte, a bebida láctea. Fazer isso e entrar no mercado. Hoje a gente já tem um estudo completo para entrar principalmente nas grandes cidades que ficam próximas daqui: Natal, João Pessoa, Recife, Fortaleza. A gente tem como fazer isso, porque as associações trabalham unidas. Hoje, a gente produz aqui no Cariri, em torno de 18 mil litros de leite de cabra por dia e todos os presidentes de associações, todos os dias a gente está se comunicando.
P - Vou lhe fazer uma pergunta óbvia, mas eu queria que o senhor respondesse com reflexão. O que tem de bom no leite de cabra? O que ele tem de diferente?
R - Diferente, até o gosto dele, você tomando, você nota que é diferente. É mais sadio, tem menos gordura.
P - Quer dizer, isso pode suscitar um desejo de mercado mais exclusivo em grandes cidades?
R - Em grandes cidades. É um leite mais caro que o de vaca, então, o mercado para você fazer uma coisa dessas, tem que ter um poder aquisito melhor. E, infelizmente, onde tem um mercado que tem isso é nas grandes cidades. Campina, João Pessoa, Recife. É onde tem um mercado melhor, em que as pessoas têm um poder maior e vão poder comprar um queijo desses.
P - Vai ver que esses novos planos da associação, de ganhar novos mercados, de repente, em vez de 14 mil litros, vão precisar de 25 mil litros. E aí, como é que faz?
R - Aí, é onde a gente vai recorrer, de novo, às agências financeiras, como elas nos ajudaram a dar o pontapé de financiar, de novo, a comprar matrizes e botar o homem no campo para trabalhar. Porque é o que eu sempre digo hoje: É no campo que ele ganha o dinheirinho dele hoje. Tranqüilo, tomando conta do que é dele mesmo, não precisando sair, trabalhar o dia por 15 reais, por dez como era. É um pequeno negócio que ele mesmo toma conta do que é dele. Ele, a esposa, o filho. É agricultura familiar, porque só quem fica nesse é mesmo a família. Se for para você pagar isso para uma pessoa de fora, até hoje eu não conheço um que tenha dado certo.
P - E que papel tem a mulher nesse processo todo?
R - É fundamental o papel da mulher. Até porque a mão dela é mais delicada. A teta das cabras é muito sensível, geralmente o homem fica fazendo aquele papel mais grosseiro, que é tirar a ração, trazer. E a mulher faz o mais delicado, que é tirar o leite da cabra. Ela é mais higiênica e tira o leite com mais qualidade. Então, o papel da mulher nisso é importante.
P - E entre os associados, as esposas e as filhas estão todas mobilizadas em torno da produção?
R - Estão. Agora tem uma coisa engraçada. Na hora de receber, sempre quem vem é o marido (risos).
P - O senhor falou nos agentes financiadores. Como o Banco do Brasil apareceu nessa história junto com a associação?
R - Foi quando estávamos precisando. Estava numa altura que a gente estava achando que estava ótimo, de 800 litros diários e ganhamos uma cota de 1500. Foi quando a gente procurou o Banco, procurou o gerente, e uma surpresa grande que a gente teve. Eu já disse isso anteriormente, várias vezes, e vou dizer agora. Foi que o pequeno produtor tinha medo de entrar no banco, e foi o contrário. Foi o Banco, quando a gente fez o convite, que veio, nos procurou e arrumou financiamento e os ADRs. Foi um pontapé ótimo, porque nós, os pequenos, tínhamos medo de entrar no banco, aquele medo de todas as coisas.
P - E como se deu essa relação? Era direto com o gerente, como era a rotina dessa relação?
R - Essa foi quebrada pelo gerente, senhor Sonielson [Jovino da Silva]. A gente chamou ele, explicou para ele as coisas que a gente estava querendo. Ele entendeu demais, saiu do Banco, veio para a Associação e, junto com a gente, fez esse plano. A maioria tem a terra, não tem o documento, é aquela terra que já é de herdeiro, já vive dentro. E juntou, um avaliou pelo outro, ele confiou, acompanhou a gente na compra das cabras, teve um papel fundamental. Foi isso a grande coisa que deu.
P - Na compra das matrizes, quem foi escolher, de onde elas vieram?
R - A maioria veio da Bahia, outras de Pernambuco. O melhoramento genético era uma coisa que não existia. Você tirava quinhentos gramas, meio litro de leite de uma cabra, já achando ótimo. Quando chegou esse ponto, falou uma coisa que a gente nunca pensou na vida: melhoramento genético. Aí, foi onde foi ver essas cabras melhores, os bodes, onde hoje está tendo uma coisa incrível, que é aquele melhoramento daqueles bodes. Falou o prazo, hoje está chegando cabra produzindo três litros diários, três e pouco, então, foi a conseqüência daquilo que chegou. Melhoramento genético, a gente não sabia o que era isso. E assistência técnica que a gente não tinha.
P - Quer dizer, então mudou de figura aquela idéia que se fazia da ovinocultura antigamente.
R - Mudou totalmente.
P - Quem está fora, está querendo entrar?
R - Hoje está querendo entrar. Estamos esperando esse mercado para abrir as portas. Porque hoje está produzindo três mil litros. Mas se você for hoje numa rádio daqui da cidade convocando os produtores, dizendo que está precisando de cinco mil litros, eu garanto a você que com 60 dias a gente tem esses cinco mil litros. Desde que tenha apoio dos parceiros, que a gente trabalha com parceiros.
P - Quer dizer, na verdade, isso não é um projeto solitário.
R - Não, envolve a Prefeitura, Governo do Estado, Governo Federal, SEBRAE, todos os outros órgãos: Banco do Brasil, Fundação Banco do Brasil, Banco do Nordeste, todos os parceiros. A Universidade tem vindo com os veterinários, os zootecnistas têm nos ajudado. Tem muita parceria, por isso que está funcionando.
P - A Associação está segura no meio desse conjunto de parceiros? Ela está sendo pró-ativa, colocando suas demandas de forma mais intensa?
R - Com todos os parceiros que nós temos, com a gente e mesmo com a vontade dos produtores, eu garanto a você que o leite nosso, de hoje, é um dos melhores que tem. Pode não ser o melhor, mas é um dos melhores que tem, com qualidade.
P - A Associação tem quantos associados têm hoje?
R - Tem 180 sócios.
P - E o que está levando a Associação em se transformar em Cooperativa?
R - É a burocracia da lei, a Associação não pode movimentar dinheiro, por vários motivos, eu nem sei nem explicar. Por motivo da lei que está sendo obrigado a passar a Cooperativa. A Cooperativa pode movimentar dinheiro e a Associação não pode.
P - Na forma da Cooperativa, o grupo vai ter mais liberdade de ação?
R - Vai ter mais liberdade de ação, vai diversificar as produções, não só do produtor, só do leite. A gente está querendo fechar a cadeia produtiva.
P - O que significa isso?
R - Fechar a cadeia produtiva é o abatedouro que tem, onde já foi investido um milhão e quinhentos, mais ou menos, dinheiro do Governo Federal, que é matar, hoje, também o cabrito. Porque o cabrito hoje que tira leite, a maioria do produtor dava ele porque não tinha interesse em criar. Mas com o abatedouro que tem aí, ele vai criar também o cabrito, que é gerar renda, vai matar e vender a carne, vai ter quem compre o couro por um preço melhor. Esse é o nosso sonho, é fechar, hoje, a cadeia produtiva, que é isso. Com esse abatedouro funcionando, curtume funcionando, aí sim. É gerar, renda mesmo, porque o produtor, ganhando dinheiro pode investir na propriedade e sua vida melhorar.
P - Eu queria que o senhor me dissesse se há condições objetivas de concretizar esse sonho, de fechar a cadeia produtiva e por quê.
R - Só tá faltando hoje uma vontade política. O abatedouro está pronto. Dinheiro nosso, que dinheiro federal é dinheiro nosso. Está pronto o abatedouro onde gastamos um milhão e quinhentos. Está aí pronto, com todos os equipamentos de última geração. Então, acho que só falta os políticos esquecerem a politicagem e realmente botar ele para funcionar. Chamar os produtores, todos os outros parceiros e botar para funcionar. O abatedouro está pronto, tem o ovino e o caprino. E tem mercado para vender. Eu acredito que, no máximo, agora no final do ano, a gente tem esse sonho realizado.
P - Essa organização da ovinocultura aqui na região, sobretudo em Monteiro, deve ter causado um impacto grande na economia da cidade.
R - Enorme. O comércio do Monteiro melhorou demais. Pessoal tudo sentindo, da construção, porque ele começou a ajeitar a casa dele. Os mercadinhos, todos viraram supermercados. Porque primeiro a gente chamava de bodega, hoje tudo é supermercado. O produtor, quando chega, tem crédito: “Ele é produtor rural”. Ele já sabe que tem dia certo de receber. Isso gerou renda, emprego. Ainda tem o emprego indireto, tem aquele hoje que tem a motinho para carregar o leite para o produtor. Ele ganha cinco, seis centavos por litro, depende. Gerou emprego, renda. A coisa mais importante nossa, hoje, aqui na região.
P - Também tem uma segurança pelo fato de que essa produção não sofre tanto quanto a produção leiteira de vaca, não é?
R - É engraçado. Na época do inverno, aqui, como a gente chama, que é curto, tem, a cabra diminui o leite, ela não gosta de tanta chuva. Então, na época aqui é o contrário. Na época quando o produtor tá aliviado, o leite dela é pouco, ele não compra a ração. Quando chega agora nesse período do calor, como está, é a época que a cabra gosta, que aumenta o leite, que ela se dá no tempo. Quando chegava o Natal e o fim do ano que você estava preocupado que não tinha um tostão e estava gastando, hoje está chegando o Natal, vai chegando com felicidade. Você sabe que tem aquela produção de leite e tem o dinheiro para, pelo menos no Natal, você dividir com a sua família.
P - E o que o senhor destacaria como um fato marcante desse processo de redenção da produção de leite de cabra aqui em Monteiro?
R - Acho que foi na hora que entrou o Banco, que nos financiou, apoiou, trouxe essa Genética. Ninguém nem sabia o que era isso, melhoramento genético, nem sabia o que era isso. Acho que o grande impacto que houve foi isso.
P - Como é que se dá a relação com o Banco hoje?
R - Uma coisa que não tinha antes, que o pequeno tinha medo de ir até o Banco. Hoje o Banco nos procura, o gerente nos visita. Quando nós precisamos de uma coisa, hoje temos orgulho de entrar e sermos recebidos como qualquer outro.
P - Essa imagem, digamos, de distância, hoje não existe mais.
R - Não, hoje não existe.
P - O senhor diria que isso derivou para uma relação de parceria intensa?
R - Exato.
P - Que importância o senhor dá a ações desse tipo? O que um Banco tem para fazer nesse tipo de produção local? Que tipo de importância ele tem no sentido de estimular a produção local como fez com o leite de cabra aqui em Monteiro?
R - Eu acho que agora é a mesma coisa que fez com o leite de cabra, onde hoje a gente, se não é o maior, é um dos maiores produtos da Paraíba, do Nordeste. Acho que o Banco poderia entrar também fazendo com o abatedouro, chamando de novo os produtores, vindo aqui à Associação visitar, financiando aquele pequeno produtor. Não é grande soma, não, pode ser pequena. E melhorar, de novo geneticamente, para a gente ter esse cabrito de qualidade no mercado. Porque hoje a gente sabe, onde o mundo hoje é o da concorrência enorme, vale a qualidade que a gente tem. Aqui a gente tem condições de produzir isso. Às vezes, precisa de um pequeno ajuste, um pequeno financiamento. Acho que o Banco, estava na hora de dar esse passo à frente de novo.
P - O senhor acredita que é possível pensar inclusive numa possibilidade industrial, aqui mesmo, na utilização desse couro dos animais?
R - Pode, pode. Até porque a pele que nós temos aqui, é uma pele ótima, de qualidade. Falta apenas orientar, voltar, a mesma coisa como foi feito com o leite, fazer também o mesmo, com o criador, para ele criar o cabrito, a ovelha, num canto separado, para ter um couro de qualidade. Tem um abatedouro desse pronto para funcionar a qualquer momento. Acho que está faltando outro pontapé desse.
P - E o que é feito da pele hoje?
R - Não é feito nada. É vendida por dois reais, por três, ninguém sabe nem onde vai parar.
P - E seria uma forma de manter mais esse insumo aqui?
R - E dar preço a ele, agregar valor. Há grande interesse em fazer isso, porque o produtor só pode fazer isso quando o produto dele tem preço.
P - Hoje ninguém mais reclama de ser chamado de vaqueiro de cabra, então?
R - Não, a gente se sente orgulhoso. Teve uma época que fazia vergonha. A primeira vez que eu trouxe dois litros de leite e botei, eu botei escondido. O cabra perguntou: “O que é isso?”. Eu disse: “É um leite de cabra”. E botei escondido porque a gente tinha vergonha de dizer que era um leite de cabra.
P - E para a comunidade, os mais jovens, como eles olham a Associação? É uma perspectiva, também, de vida a seguir, como é isso aqui?
R - Claro, claro. Hoje o jovem já tem a certeza, já tem uma visão melhor, independente daquele mais velho, que não acreditava, já vinha de várias tentativas frustradas, de outras associações e cooperativas que não deram certo. Ele já vinha muito frustrado, ou chegava um político e tomava conta, só fazia aquilo na época de eleição. E o jovem, não, viu o que a gente fez, ele já sabe que não tem nada a ver, independente de política. Já passou presidente, prefeito, deputado. Não nos atinge porque a gente tira totalmente diferente. Isso aqui é um negócio nosso e tem muito orgulho de dizer isso. É um negócio nosso, é da gente, dos nossos filhos. O jovem está entrando com outra mentalidade, é onde o melhoramento genético acontecendo, é o jovem já fazendo. Já pensando em fazer aqui inseminação artificial, coisas que há cinco, oito anos, ninguém nunca imaginou. E os jovens já estão pensando nisso, em
trazer de outras regiões melhores e melhorar seu rebanho. Outro preservando mesmo aquela nativa da Caatinga para termos o melhoramento, mas nunca desprezando o que tem. Hoje, o jovem é totalmente importante e já tem a confiança.
P - Durante esse tempo de formação da Associação, o senhor lembra de uma situação, um caso curioso que tenha ocorrido?
R - Lembro muito de um depoimento que uma senhora deu. Talvez possa até dizer o nome dela, a esposa de um cooperado nosso, de Ronaldo [Berto], dona Lourdes [Berto], que chegou a dizer que tinha muito orgulho de ser cooperada e de vender, porque terminou de formar um dos filhos dela com o dinheiro de leite de cabra. Disse que nunca imaginou isso e disse que tinha muito orgulho de dizer isso. Ela disse isso numa reunião e eu estou passando, porque fiquei muito orgulhoso. A gente diz ter participado, não só dela, como de outras pessoas. Mas esse foi o mais marcante, que ela levantou-se na presença de todo mundo e disse ter orgulho de ter terminado de formar um filho dela com dinheiro de leite de cabra.
P - Isso gera também uma auto-estima muito forte, não é?
R - Eles se sentem ali empresários, donos do que é dele, têm muito amor. Se você chegar ao pequeno produtor rural, ele tem muito amor de mostrar ali, e aumentar os troféus que ele tem.
P - E a sua família pensa assim também, como o senhor?
R - Pensa, hoje eu já tenho um filho com 18 anos e é onde ele está tomando conta e já há pensamentos totalmente diferentes. Graças a Deus, já está pensando em fazer a inseminação artificial. Ele mesmo já faz os currais, já é melhor. Porque quando a gente vai ficando um pouco mais velho, vai ficando descuidado com outras coisas. E a turma mais nova vem com novos pensamentos, com novas tecnologias.
P - Quantos filhos o senhor tem?
R - Três.
P - Qual é o nome deles?
R - Célio Viana Neto, Raiane Feliciano Viana e Pedro Henrique Viana.
P - E é o mais velho que já tá interessado?
R - E o mais novo também, é engraçado. Quando sai daqui, vai direto, já toma, já tem suas cabras, suas posições. Já mexe e ordenha também.
P - O senhor, nesse seu trabalho, nessa sua produção, fora a produção propriamente dita, é uma atividade de grande inserção comunitária. O senhor não está sozinho, não é?
R - Não.
P - Como é que o senhor avalia essa relação que o senhor tem mantido para levantar o seu negócio e levantar o negócio de todo mundo?
R - Para a gente chegar nessa posição que está aqui, tem o apoio de todos os produtores, dos pequenos, daquele que tira dois litros ao que tira dez. É fundamental. Se não fosse isso, o apoio de todos juntos, do pequeno funcionário, do que traz o leite, que chega de manhã cedo. Se não fosse a união de todos, a gente não tinha chegado aqui. De todos, sem exceção de nenhum.
P - O senhor estava falando dessa atividade comunitária. Esse espírito comunitário é uma
coisa que acaba sendo necessária para viver em um local como a Caatinga, um local que exige até um pouco mais para poder sobreviver.
R - Foi fundamental. Se não fosse isso, você não viveria isolado dentro de uma Caatinga, você produz cinco litros de leite e eu produzo cinco. Se for para você trazer todo dia os seus cinco e eu cinco, não compensa. Mas, quando nós nos juntamos, um dia eu trago o seu, uma viagem, no outro dia você traz o meu, outra viagem. Então, o Cooperatismo, a Associação, foi uma necessidade, uma obrigação. Para a gente sobreviver, fomos obrigados a nos unir. Às vezes a gente têm diferenças, todo mundo tem diferença disso ou daquilo, mas a gente foi tirando todas essas diferenças. Foi muito difícil ter de chegar, deixar a política de lado, deixar muitas coisas de lado, mas a gente teve que se unir nisso por obrigação, foi a maneira que a gente teve de sobreviver. E hoje, ainda digo, todo dia em toda reunião. Enquanto a gente estiver de mãos dadas, a gente vai longe. Mas, na hora que houver qualquer problema, a gente morre. Porque somos pequenos produtores, não tem condições de parar hoje muitos dias. Às vezes tem, na época da chuva: “Vamos parar”. Mas a gente não pode parar dia nenhum, nem feriado, dia santo, dia nada. A gente não pode parar porque a gente precisa desse dinheiro. Mas tem que estar unido, direto. Pode até ter divergência, mas a gente não pode nunca deixar de ser unido.
P - O senhor acha que com essa conformação nova da Cooperativa, pode ficar mais bem sucedido, vai ficar mais fácil de trabalhar nesse meio?
R - Vai, porque até eu já tenho uma turma nova entrando na Cooperativa, que quer não só produzir o leite, nem a carne, ele já quer produzir a mamona, quer agregar outras coisas à Cooperativa. Porque a Cooperativa não é só de leite, que seja outra coisa. Então, a turma nova já está vindo com outros pensamentos para trazer outras coisas, o que é ótimo.
P - E os insumos para produção, Alfredo? O senhor não tem muito controle sobre o preço desses insumos. Como a Cooperativa pode ajudar para fazer mais rentável a compra desses insumos e reverter em benefício dos associados?
R - A gente já está recebendo aí, onde já tem um dinheiro do Governo Federal, uma fábrica de ração para ser instalada aqui. Foi parada agora, claro, nesse período político, sempre tem um ou outro que queira tomar o proveito. Para não haver nada, foi parado, mas agora vai voltar. A Política passou, mas nós, produtores, agora estamos aqui e precisamos. E a gente tem que ver isso, como é que faz para comprar o milho, que é uma das coisas que está barato nesse momento, onde tem a algaroba, que pode ser feito, que já tem as coisas. A gente está esperando agora, esse momento, para a gente começar a fazer reuniões e ver como é que a gente vai fazer isso.
P - E a ração consiste basicamente em quê? Qual é a ração básica dele?
R - Farelo de soja, farelo do caroço de algodão e o xerém.
P - O xerém o que que é?
R - Xerém é do milho.
P - O senhor poderia dizer qual foi o seu maior aprendizado nesse processo todo de relação comunitária e de associativismo com seus companheiros produtores? Qual a grande lição que o senhor leva de tudo isso?
R - Eu acho que foi o momento que a gente passou mais difícil e todo produtor chegou, investiu, mesmo o pouco dinheiro dele, dez, 15 reais, mas botou as coisas na organização a todo momento. Ele mesmo querendo vir botar as coisas, acho que foi isso o mais importante. A gente teve um momento difícil onde foi fechada a usina, até porque, hoje a gente reconhece que o leite não estava de qualidade. E os produtores vieram imediatamente: “Vamos ver o que precisa, vamos fazer um estágio, vamos atrás de um cabra para dar um treinamento para a gente. A gente banca do nosso bolso, mas ela vai funcionar”. E o que eu achei mais importante de tudo foi a união que levou a isso tudo. Porque no momento difícil, geralmente o povo corre. E aqui foi o contrário, foi que a gente se uniu, trabalhou e voltou com um leite de qualidade. E investiu, mesmo, do bolso. Porque se na primeira dificuldade a gente tivesse corrida, viria tudo por água abaixo.
P - O senhor teria alguma coisa que o senhor gostaria de ter dito e a gente não perguntou ao senhor?
R - Só agradecer a todos os produtores, a todos os parceiros que a gente está junto nisso, e espera a gente continuar junto, com os parceiros. Porque sem parceria, se for só a gente, a gente não vai chegar a lugar e nenhum. E o grande sonho que eu tinha, e tenho ainda, e sei que vai concretizar, é entrar no mercado privado, com produtos de qualidade que nós temos.
P - E como o senhor avalia, o que parece ao senhor, essa idéia do Banco do Brasil, de comemorar os 200 anos contando uma história que tem a ver com esses Biomas onde ele está presente? Como é que o senhor vê essa idéia?
R - Ótima, para contar uma história dessas para outros também, para as outras comunidades, para outros verem o incentivo que nós temos e o orgulho de ter chegado a isso e ter o Banco do Brasil participando foi fundamental, um parceiro nosso na hora que a gente precisou.
P - E o senhor, como é que se sentiu dando esse depoimento para a gente aqui?
R - Senti mais uma vez orgulhoso de estar participando junto com vocês.
P - A gente só tem a agradecer a sua memória e as suas histórias porque foram muito úteis para o nosso projeto.
R - Muito obrigado.
P - Muito obrigado o senhor.Recolher