Minha Casa, Minha Cara, Minha Vida - Cabine São Bernardo do Campo
Depoimento de Elenildo Alexandrino Sobral
Entrevistado por Márcia Trezza e Gisele Rocha
São Bernardo do Campo, 09 de Março de 2014.
Realização Museu da Pessoa.
ASP_CB14_Elenildo Alexandrino Sobral
Transcrito por Iara Gobbo
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Minha Casa, Minha Cara, Minha Vida - Cabine São Bernardo do Campo
Depoimento de Elenildo Alexandrino Sobral
Entrevistado por Márcia Trezza e Gisele Rocha
São Bernardo do Campo, 09 de Março de 2014.
Realização Museu da Pessoa.
ASP_CB14_Elenildo Alexandrino Sobral
Transcrito por Iara Gobbo
P/1 – Pra gente começar, fala o seu nome completo.
R – Meu nome completo é Elenildo Alexandrino Sobral.
P/1 – O senhor nasceu onde?
R – Eu nasci em Pernambuco. Sou Pernambucano, nascido em 1963.
P/1 – Que dia?
R – Eu nasci no dia quatro de Abril.
P/1 – Que cidade de Pernambuco?
R – Cabo de Santo Agostinho.
P/1 – O senhor viveu lá até que idade, mais ou menos?
R – Eu vivi lá... Quando eu saí de lá eu saí na faixa de uns... Eu cheguei aqui em 94, faz 20 ano que eu tô aqui. Então vou completar 51, deve ser na faixa de uns 31 anos de idade.
P/1 – E quando o senhor, antes de vir pra cá o senhor sempre viveu na mesma cidade que o senhor nasceu?
R – Em Cabo de Santo Agostinho, vivi.
P/1 – E que lembranças o senhor tem da sua infância?
R – O que eu tenho lembrança é que não foi uma infância muito boa. A gente passava necessidade, fome, não gosto nem de lembrar. Quando meu pai morreu, meu pai morreu, minha mãe ainda tá viva. Quando meu pai morreu eu tava com 12 anos de idade, então a gente foi cortar cana. A gente saía de madrugada pra cortar cana, duas horas, três horas da manhã. A gente andava assim numa faixa de uns... deixa eu ver, de três a quatro quilômetros. Saía de uma hora da manhã, chovendo, passando necessidade. Chegava no corte de cana, só andando a gente passava umas quatro horas andando de pé. Chegava lá já cansado.
P/1 – Com 12 anos?
R – É, 12 anos. Fazia a comida, nossa mãe, na época a gente era em cinco irmãos.
P/1 – E todos iam pra roça?
R – Iam, cortar cana, todos.
P/1 – Tinha meninos e meninas?
R – As minhas irmãs só tinha três. Mas que ficava em casa, estudando. A gente era em cincos “irmão”.
P/1 – Só os meninos iam pra roça?
R – É, iam cortar cana, só os meus irmão. Enquanto minha mãe ficou pra receber a aposentadoria do meu pai, que meu pai trabalhava na usina. Você sabe, esses negócio de aposentadoria demora muito. Aí depois que minha mãe começou a receber, aí minha mãe mandou a gente parar um pouco. Aí ficamo em casa só trabalhando por ali, na roça.
P/1 – E a escola?
R – A escola? Eu parei.
P/1 – Nessa época o senhor parou?
R – Antigamente chamava-se ensino fundamental, né?
P/1 – Sim.
R – Eu parei na oitava.
P/1 – Mas nessa época que o senhor trabalhou na roça, o senhor ia na escola?
R – Ia não. Não vou mentir, não ia. Eu era pra ser uma pessoa mais elevada, ter um estudo bom, mas naquele tempo eu parei de estudar. Hoje eu não sou nada não. Sou, né, porque eu tô na presença de Deus. Só Deus que me deu valor porque antigamente nada...
P/1 – Mas o senhor estudou, fez o ensino fundamental?
R – Foi.
P/1 – Então eu queria entender assim se nessa época que o senhor trabalhava na roça, também dava pra ir na escola.
R – Dar, dava, mas a gente sabe, né? Que a gente só quer jogar bola quando chegava do corte de cana, jogar bola, nos campinho de terra lá. A gente esquecia, você sabe, antigamente a gente não tinha aquele... povo do Norte, não tinha UM conhecimento. Agora você vê que meu pai morreu dentro da usina, ele passou 28 anos de trabalho. Ela perdeu tudo porque ela não tinha conhecimento das leis. Quando foi procurar a lei era muito tarde, parece que passou quatro ano. Então perder tudo. Pra não dizer que nós não ficamo, ficou só com a casa da usina mesmo, pra morar naquele tempo. Passemos bastante necessidade. E quando aí depois meu irmão veio aqui pra São Paulo, o mais velho, o João, veio pra aqui pra São Paulo, aí começou a criar... morou aqui em São Bernardo do Campo, aí por um tempo ele foi lá pra Pernambuco, aí falou: “Mãe, eu vou levar uma pessoa daqui pra São Paulo”. A minha mãe disse: “Vai? Qual?”, “Eu vou levar o Una”, que sou eu. Eu fiquei muito alegre de conhecer São Paulo. Qual nordestino que não quer conhecer São Paulo? Mesmo que seja ruim, mas ele quer conhecer. Sair daquela roça. Aí eu fiquei muito alegre, digo: “Vou”. Cheguemo, ele me trouxe pra cá. Não vou dizer que passei vida boa.
P/1 – Mas aí foi dessa vez que veio pra cá e não voltou mais?
R – Não voltei mais não. Até hoje não vi minha mãe mais. Vinte ano.
P/1 – Olha só.
R – Aí eu só falo assim por telefone, mas eu vou lá. Eu tô pra receber um dinheiro aí, aí eu vou. Constituí minha família aqui em São Paulo.
P/1 – Quando você veio você ainda não era casado?
R – Não. Eu era completamente sozinho. Meu irmão me trouxe pra aqui, aí eu comecei a entrar no alcoolismo. Uns colegas meu lá de Pernambuco, já sabe, que quando a gente vê assim jovem, aí eu conheci meus amigo aqui, aí fumos pra uma balada. Aí conheci uma balada. Eu já vim de Pernambuco, eu já bebia lá, aqui eu multipliquei. Conheci umas amizades, aí eu comecei a beber. Através dessa bebida eu... Gastei tudo com bebida, mas trabalhava, né? Aí eu comecei a conhecer a Maria, a minha esposa, ela era evangélica. Era não, é, ela é evangélica. Aí comecei a namorar com ela, aí que aconteceu. Meu irmão foi criando raiva de mim, expulsou-me de casa.
P/1 – Expulsou você de casa?
R – Expulsou.
P/1 – Você ainda era solteiro?
R – Era, aí já tinha engravidado naquela época, fiz uma doidice, engravidei a Maria. Eu sem casa, ela sem casa, aquele verdadeiro sofrimento.
P/1 – E aí como foi?
R – Como fiquemo? Aí eu fui... Ele botou eu de casa pra fora, aí fui pra rua. Aí da rua meu colega disse: “Não, você não vai pra rua não. Você vai morar comigo”. Um colega meu, desempregado, casado, até hoje ele mora lá em cima. Até hoje agradeço a ele. Aí foi Deus que me iluminou, ele disse: “Não, você vai ficar comigo”, o nome dele chama Cedrinho. Aí “fiquemo”: ele desempregado, com a família e eu...
P/1 – E mais a Maria. A Maria não ficou junto nessa época?
R – Não, a Maria tava na casa da mãe dela. Mas a mãe dela tinha ido pra Bahia, e a família dela tinha expulsado a Maria.
P/1 – Porque tava grávida?
R – Tava grávida. Sabe que os irmão dela ignorante, baiano e nordestino, né? Aí fiquemo nessa vida. Aí com o tempo arrumei um serviço numa obra, em São Paulo. Aí foi que Deus iluminou nossa vida. Aí fui e arrumei um barraquinho na Vila São José. Daquilo ali eu fui arrumando a minha vida, mais ela. Aí daquela firma que eu trabalhava, eu saí de lá, comprei um terreno na favela do Oleoduto. Fica por trás da Creche Margarida, que é do Padre Leo Commissari. Aí comprei um terreninho, foi oitocentos reais.
P/1 – Quanto?
R – Oitocentos reais, um terreno na favela, heim? Um matão. Aí comprei as madeira velha lá e comecei a construir. Disse: “Maria, agora nós temos nosso lar”. Fomo lá, “construímo”. O esgoto passava uns quatro metro assim. Quando dava enchente, amiga, era aquele sofrimento.
Pergunte a Nice! A Nice, aquela morena ali, ela morava de frente comigo. Eu vivia 24 horas dentro daquele esgoto lá. Não sei como eu não peguei uma doença.
P/1 – Puxa.
R – Ali eu bebia cachaça. Eu “butava” um litro de pinga, pergunte à minha esposa.
P/1 – Sei.
R – Meti a enxada pra cima, ficava preto. Não sei como não pegava uma bactéria.
P/1 – Mas você entrava no esgoto?
R – Entrava.
P/1 – Pra que?
R – Prá limpar o esgoto, pra quando a enchente vim, não cair pra dentro da minha casa. Mas não adiantava. Os povo de cima sujava, metia guarda roupa véio, cama, tudo, sofá. Aí quando enchente vinha, caía tudo pra minha casa. As minhas criança, eu saía agoniado, meia noite, uma hora da manhã. Eu alcoolizado, bêbado. Oxe, tinha dia que a água dava quase um metro assim. Quando ela vinha, vinha quebrando cerca, vinha quebrando com tudo. Eu não sei como não morria. Mas aconteceu, a habitação passou lá pegando os nomes das pessoas pra esse apartamento. Aí dali, nessa enchente, eles mandaram a gente pro alojamento na José Fornari, onde é esse apartamento nosso agora. Ali foi luta!
P/1 – Elenildo, você falou que tinha um esgoto ali perto. Era um rio que passava ali?
R – Era esgoto.
P/1 – Esgoto, mas não era rio?
R – O esgoto, ele... Quando eu cheguei a morar lá, o esgoto só tinha assim uma faixa de um metro, mas eu abri o esgoto, acho que no máximo de uns dois metro a três metro.
P/1 – Não era córrego? Era esgoto?
R – Não era rio, não. Córrego foi o que eu fiz, eu meti a enxada pra cima, sozinho, comecei a cavar, a limpar. O córrego era bem estreitinho.
P/1 – Você abriu?
R – Eu abri, limpei tudo. Eu não peguei doença...
P/1 – Sozinho?
R – Sozinho, era eu sozinho.
P/1 – E os outros moradores?
R – Os outro morador tinha medo de pegar bactéria.
P/1 – E você nunca pagou nenhuma doença?
R – Não. Eu nunca senti mal. Eu acho que era talvez a cachaça que eu bebia, ela corta.
P/1 – Você acha que a cachaça de certa forma...
R – Me ajudou na época. Que eu bebia um litro. Eu bebia mais de litro, pergunte à minha esposa.
P/1 – Por dia?
R – Por dia. Eu só vivia alcoolizado.
P/1 – E o trabalho, quando, com esse álcool, como é que fazia? O senhor arrumou um trabalho?
R – Eu trabalhava.
P/1 – E aí?
R – Eu bebia, quando eu chegava do serviço, cinco hora da tarde. A minha esposa... Dali que eu chegava, eu bebia de cinco hora da tarde até 10 hora, 11 hora da noite. Aí eu dormi. Cinco hora da manhã eu tava em pé. Tomava meu banho e ia de novo.
P/1 – Aí não bebia?
R – Não.
P/1 – Trabalhava.
R – É, ela nunca passou fome nas minha mão! O povo dizia: “eu não sei como esse rapaz…”. Coisa da vida, né, nós fomos levando, levando. Hoje eu tenho esse apartamento, através desse serviço.
P/1 – Mas aí você disse que o pessoal da prefeitura, aí você ia contar que eles tiraram vocês desse lugar?
R – Foi, tiraram. Foi através de uma enchente.
P/1 – Conta como que foi.
R – Nessa última enchente que deu, que eles tirou nós, a gente quase que morria, viu?
P/1 – Como foi?
R – Como foi? Essa enchente pegou nós de surpresa. No fundo lá da minha casa, eu fiz uma ponte bem grande. Oxe, eu tava bebendo em casa, começou a chover.
P/1 – A ponte era pra atravessar esse esgoto?
R – É, esse esgoto, pra ir pra minha casa. Aí começou a chover devagarzinho. Aí eu falei: “Ah, mas a chuva tá... Começou a chover já, mas...”. Aí fechei a porta, aí comecei a assistir o jogo. Acho que foi Deus, rapaz. Quando eu vi, a água começou a entrar pra dentro de casa. Disse: “Ó Maria...”. E naquilo ali a ponte, ela já tava lotada já. Ela já tinha levado a ponte, a enchente. E tinha um pé de árvore na porta de casa, a enchente já tava quebrando ele, e levando os barraco. Naquilo ali eu peguei e disse: “Maria , vamo carrer”. Já não dava tempo por trás. Aí comecei a gritar socorro, os meus vizinho vieram, começaram a quebrar os barraco e saí eu, com um monte de vizinho lá. Foi aquela verdadeira destruição. Aí “fomo”, aí foi na época que a habitação veio com defesa civil. Vieram pegando o nome das pessoas, aí levando pro alojamento. No alojamento foi luta, na José Fornari.
P/1 – Luta? Como foi?
R – Como a luta? Olha, o barraco era pequeno, só era um cômodo. Lá convivia com tráfico de droga, prostituição, tudo. A moça falou que pegou fogo no alojamento lá? Pegou fogo no alojamento, os ladrão invadiram os alojamento pra roubar. Se a senhora visse, faltou energia, polícia rodeou com helicóptero o alojamento todo, e o povo tudo correndo, naquele fogaréu. Subiu tudo nisso ai, tudo madeira sequinha, né? Agora através de que? Acho que foi um curto circuito na tomada que deu, aí vieram culpar a mulher. Mas não foi a mulher, foi um curto circuito que deu na tomada e tudo que era madeira pegou fogo. Até hoje o povo fala que foi essa mulher, mas não foi. Por isso que até hoje lá em casa, porque lá é cano encanado, aquele gás encanado, eu tomo o maior cuidado com as minha criança. Por quê? Porque a gente que tem criança, tem que tomar cuidado, né? Não é porque a gente mora em apartamento de bloco agora, de alvenaria, que a gente não vai ter cuidado. A gente tem que ter cuidado no que? Nas criança, né?
P/1 – É. E aí lá no alojamento vocês ficaram quanto tempo?
R – Eu fiquei lá cinco ano e seis meses.
P/1 – E era um cômodo pra toda a família?
R – Era! De madeira. Quem falava aqui com as pessoas é quem tá lá atrás já sabe, né, que a gente pode entrar em diálogo. A gente vivia naquele verdadeiro caos. Só Deus ali: droga, prostituição.
P/1 – E cozinhava ali mesmo?
R – Cozinhava.
P/1 – Tudo ali?
R – Tudo ali dentro. Mas graças a Deus a gente passou...
P/1 – Quantos filhos, na época?
R – Quatro. Quando saí da favela lá tinha três, e no alojamento aí mulher teve mais outro, aí foi quatro.
P/1 – E depois desses seis anos, como foi?
R – Como foi?
P/1 – Depois, vindo pra cá.
R – Aí depois, quando a gente foi pro alojamento, de lá do alojamento já saímo já pro apartamento já.
P/1 – Pra esse que você mora?
R – Não, pro aluguel, pra bolsa família! Aí do aluguel a gente veio pro aluguel. Passemo dois ano no aluguel.
P/1 – É o aluguel, a bolsa, né? Uma bolsa.
R – É, a bolsa aluguel.
P/1 – Sei.
R – Aí da bolsa aluguel viemo pro apartamento.
P/1 – Quanto tempo vocês ficaram no bolsa aluguel?
R – Eu fiquei dois “ano”.
P/1 – Agora, bolsa aluguel, você que escolhe a casa. Como que é?
R – A gente procura, que é aluguel, a gente procura. Aluguel que eles dava na época, a bolsa aluguel, eles dava 315 reais. Sabe quanto era a casa? A casa era seiscentos. Tinha casa de seiscentos, setecentos.
P/1 – Não tinha mais em conta, por aqui?
R – Eu tive uma sorte que uma moça que é conhecida lá de Pernambuco, ela falou: “Eu ia alugar a outra pessoa, mas já que nós somo conhecido, eu vou te alugar bem baratinho”, porque lembro que eu tava desempregado. Ela falou assim: “Você me dá trezentos reais agora, você não fala pra ninguém”. Aí eu aluguei por trezentos reais, uma casinha boa com dois cômodos. Apesar que era apertado, mas dava pra nós. Dormia um em cima do outro, que nem morcego. Aí foi quando depois nós ganhemos os apartamento, aí melhorou mais, né?
P/1 – O apartamento é maior que a casinha?
R – Não. A casa é maior.
P/1 – A casa do aluguel era maior?
R – É, a casa do aluguel é maior. Mas também isso aí dá pra gente, apesar que nós somos em seis, que é quatro filho. Quatro filho homem, né?
P/1 – Os quatro meninos?
R – É, quatro filho homem. A gente, dá pra nós viver. A gente dorme meio apertado, mas dá.
P/1 – Mas vocês não tavam já acostumados na casinha pra depois vim pro apartamento?
R – Ah, tava.
P/1 – Sentiram assim alguma mudança?
R – Não, eu não senti nada. Eu só senti que foi bom pra nós.
P/1 – Por que que foi bom essa mudança? Porque você tá numa casinha, de repente vai pro apartamento. Você acha que foi melhor?
R – Foi melhor.
P/1 – Por quê?
R – Por quê? Porque eu acho assim, que o apartamento é nosso. Apesar que o povo diz assim: “Não, mas é do governo”, eu sei que é do governo. Até a casa que a gente compra documentada é do governo, porque se você não pagar imposto, quanto você vai ficar na casa? Tudo tem que... A energia, a água que a gente usa, a gente tem que pagar. A gente tem que pagar um condomínio. Por quê? Porque o condomínio vai fazer o que? Vai fazer as nossas melhoras. Colocar o que? Um piso, pintar, limpeza, a gente tem tudo, a gente tem que ver isso. Não é favela. Eu sei que tem aí: “Ah, eu gostaria de morar na favela”.
P/1 – Por que que eles falam isso?
R – Porque tem quem gosta, porque tem gente que não gosta de mudança. Gosta de viver naquela, como chama? Naquela maldição de ser um favelado. Eu não quero! Eu quero melhoria pras minha criança, é ou não é? Um estudo digno, uma moradia digna. Eu gostei da moradia que o prefeito deu. Até hoje, se ele voltar a se candidatar a prefeito de São Bernardo, eu votaria nele. Pra mim ele foi o melhor prefeito, foi Manoel Marinho.
P/1 – Por que você acha que ele foi bom?
R – Porque ele, não só porque ele deu nossa moradia. Através das escola, ônibus que leva os alunos, ele dá material escolar, que tem muitos pais que não pode, alimentação nas escola. Eu mesmo não tenho nada a falar dele, só tenho só a falar de bom.
P/1 – Elenildo, você disse que o apartamento, falam que é do governo, mas vocês vão pagar alguma coisa desse imóvel?
R – Eu acho certo pagar.
P/1 – Mas vão pagar?
R – Vamos.
P/1 – Como que é?
R – Mas se vamos pagar, vamo pagar...
P/1 – Como que é? Além do condomínio, vai ter algum carnê?
R – Disse que vai ter, diz que tem um boleto, né?
P/1 – É?
R – Diz que vai ter um boleto, agora eu não sei de quanto é.
P/1 – Sei.
R – O povo fala que é pela Caixa Econômica Federal, não sei de nada.
P/1 – Entendi. Eles já explicaram isso pra vocês?
R – Não, até agora não explicaram.
P/1 – Entendi.
R – O que nós estamos pagando agora é uma pequena quantia em 30 reais que a gente tá pagando o condomínio. A gente paga água, paga energia. Energia, sabe, né, energia, água, isso é certo que a gente tem que pagar, né? Tomar um banho, assistir uma televisãozinha, né, aí tem tudo que pagar. Agora o povo, sei que muita gente não quer pagar. Onde eu moro mesmo, só Jesus, viu?
P/1 – É? Por que seu Elenildo? O que acontece?
R – Muita gente não quer pagar.
P/1 – Entendi.
R – Não quer pagar. Sabe o que que é? Vive numa boa. Eles pensa que a energia vem da onde? Tem que pagar, pessoal. A água vem da onde? Vamo ter que pagar. Que nem eu falo lá: “Tem que pagar. Isso é bom pra nós, ter uma aguinha, uma energia, ter uma limpeza no condomínio”. É o que falta, tá faltando ainda, viu? A senhora já foi lá?
P/1 – Fui, mas não subi nos prédios.
R – Deus me perdoe. Olhe, se a senhora ver o vandalismo.
P/1 – Nos prédios?
R – Tem gente boa, tem gente ótimas pessoas, mas também tem umas coisa que a gente, é desagradável pra gente falar.
P/1 – E o senhor acha que tem jeito de mudar isso?
R – Tem.
P/1 – Como que podia ser?
R – Tinha jeito de mudar sim, sabe como? Segurança. Se o prefeito, se quando fez o condomínio tivesse colocado uma base policial, por exemplo, não ia diminuir cem por cento, mas ia diminuir uma faixa de uns 60 a 50 por cento. Porque ele não ia livrar, né, de tudo, mas pelo menos ia baixar mais um pouco.
P/1 – Entendi.
R – Porque a gente vê uma adolescente se prostituir, de 12, 14 anos, chega a dar dó. Eu tenho quatro filho criança, eu tenho medo. De que? De ele vim a entrar nesses caminho. Eu sempre quando eu saio de casa, eu digo: “Mulher, quando as criança sair, cuida dessas criança pra eles não entrar no mundo das droga”. Por quê? Porque a droga é o seguinte, a droga ela tem entrada, mas ela não tem a saída. Não é mulher? O traficante ensina ele fazer, mas não ensina ele sair. Só ensina ele a fundir a cada vez mais. Você vê o maldito crack, leva o povo à perdição, e o governo taí, não tá nem aí. Os adolescentes matando o povo aí..
P/1 – Senhor Elenildo, eu vi que o senhor tá com a bíblia. O senhor quer falar alguma coisa sobre isso, que o senhor trouxe a bíblia?
R – Eu só tenho a dizer que eu sou evangélico.
P/1 – Sei.
R – O único caminho que tem é Jesus.
P/1 – Por isso que o senhor trouxe a bíblia?
R – Não, eu só ando com ela.
P/1 – É mesmo?
R – É.
P/1 – É sua companheira?
R – É, é minha companheira. Aqui tem as coisas maravilhosas que é palavra de Deus.
P/1 – O senhor leva o dia todo? Pro trabalho?
R – Eu levo.
P/1 – É mesmo?
R – Aqui na minha mente.
P/1 – Mas assim, o livro, pro trabalho?
R – Levo, pro trabalho. Eu levo, boto na minha bolsa, na hora do descanso, meio dia que eu almoço e... Lá em casa, pergunte pra minha esposa, eu boto o rádio pra dormir, só escutando louvor.
P/1 – Senhor Elenildo, e pra ler, como que o senhor faz? O senhor escolhe, o senhor abre, assim? Como que é?
R – Assim, assim, eu chego aqui, eu abro a palavra. Por exemplo, o livro de Jó. Quem era Jó?
P/1 – Esse que o senhor abriu?
R – Abriu.
P/1 – Então pode ler.
R – Quem era Jó. A senhora sabe quem era Jó?
P/1 – Não. Queria que o senhor lesse.
R – Jó era um homem temente a Deus. Aqui: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó. Este era um homem sincero, reto e temente a Deus. E desviava-se do mal. E nasceram-lhe sete filhos e três filhas e era seu gado sete mil ovelhas e três mil camelos e quinhentas juntas de boi, e quinhentas jumentas. Era também muitíssima a gente de seu serviço, e de maneira que este homem era maior que todos do Oriente. Iam seus filhos, fazia banquetes em casa de cada um dos seus dias.” Agora aqui, a palavra aqui que ele vai dizendo. Por que ele era reto a Deus? Temente? Porque tudo que ele fazia ele se humilhava a Deus.
P/1 – É isso que o senhor entendeu?
R – É isso que eu entendi.
P/1 – Aí o senhor vai lendo e vai entendendo o que queria dizer?
R – Deixa eu falar aqui, que quando o diabo veio à Terra, o que foi que ele fez? Ele veio derrodear a Terra e ver aquela pessoa que era temente a Deus. E quando ele voltou, ele transformou-se em anjo, porque ele era anjo de luz de Deus. Quando Deus expulsou ele pra Terra, ele veio pra que? Pra fazer o mal. É o que ele falou a Deus. Deus perguntou a ele: “Satanás, onde tu vieste?”, ele falou: “Vim derrodear a Terra”. Deus perguntou pra ele assim: “Viste um homem temente a mim?”, ele disse: “Vi, também tu dá de tudo pra ele” Como assim? Como uma coisa que ele tava falando que Deus dava de tudo a ele. Por isso que ele tinha medo de Deus. Ele disse: “Então vai na Terra, toca tudo o que ele tem. Só não toca no espírito porque o espírito dele me pertence”. O que foi que ele fez? Ele veio na Terra, matou os filhos de Jó, tirou toda a riqueza de Jó, tirou tudo, colocou doença, enfermidade, mas Jó nunca deixou de adorar o seu Deus.
P/1 – Entendi agora.
R – Entendeu? A palavra de Deus é assim.
P/1 – Elenildo, a gente tá terminando porque o nosso tempo, a gente já tinha combinado, e o senhor que falar uma última coisa sobre essa mudança pro condomínio, que o senhor ainda não falou.
R – O que eu gostei, eu gostei da mudança do condomínio, principalmente meus filho tá morando numa moradia digna. Quando eu saio, eu não fico pensando neles. Porque quando eu morava na favela, no alojamento, ficava pensando, né, vai acontecer coisa ruim. Mas quando eu saio eu fico com a minha alma livre, assim. Eu digo: “Meu Deus do céu, minha família tá morando numa moradia que só Deus quis me dar”. Porque a gente não, quem ia pensar que a gente ia morar num apartamento ali? E vai ter melhoria ainda, mais melhor. E eu peço a Deus que Deus conserve sempre assim. Muito obrigado pela...
P/1 – Obrigada você, viu Elenildo. Foi ótimo.
FINAL DA ENTREVISTARecolher