P/1 – Reinaldo, fala pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Reinaldo Ramos de Carvalho, nasci em São Paulo, 14 de setembro 1957.
P/1 – Agora o nome completo do seu pai e da sua mãe e data e local de nascimento, se você souber.
R – Meu pai, Francisco Ramos de Car...Continuar leitura
P/1 – Reinaldo, fala pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Reinaldo Ramos de Carvalho, nasci em São Paulo, 14 de setembro 1957.
P/1 – Agora o nome completo do seu pai e da sua mãe e data e local de nascimento, se você souber.
R – Meu pai, Francisco Ramos de Carvalho, não sei exatamente o ano dele de nascimento, o da minha mãe, Elvira Batista dos Santos, ela eu sei, é 21 de novembro de 1924.
P/1 – E o local de nascimento deles, você sabe?
R – Foi, se eu não me engano, Ilha do Bananal, deve ser em São Paulo.
P/1 – O que que os seus pais faziam profissionalmente, Reinaldo?
R – O meu pai era motorista de ônibus da CMTC e minha mãe era do lar.
P/1 – E como é que eles eram, assim, de personalidade, se você fosse descrever pra alguém que não conheceu?
R – O meu pai, eu nunca tive uma convivência boa com ele, porque ele, naquela época, acho que ele, quando eu comecei a sentir que eu era mesmo, estava começando, ele bebia muito, então acho que é uma praxe quase de todos os pais na época, e eu tinha mais contato com a minha mãe, poucas vezes eu tive contato, assim, uma conversa com o meu pai. Então meus pais, basicamente foi isso daí. Ele trabalhava, chegava em casa, tinha vez que ele não chegava nem bem em casa, já chegava no bar, então até o próprio rapaz do bar, o Seu Licínio, muitas vezes ele tirava o dinheiro e deixava com a minha mãe, porque lá ele, o negócio, e foi assim a vida dele.
P/1 – O senhor diz, tirava o dinheiro e deixava com a sua mãe, eu não entendi.
R – Ele tirava o dinheiro que ele recebia e deixava com a minha mãe, porque ele sabia que ele ia gastar tudo.
P/1 – O seu pai fazia isso?
R – Sim, sim, ele ia gastar tudo.
P/1 – E a sua mãe, como é que ela era de jeito, de temperamento?
R – Calma, e assim, lidava bem com a gente, ela passava necessidade em favor dos filhos e até do próprio marido, que muitas vezes ela comia coisas que ela não queria, que hoje ela enjoou, que é carne moída, ela fazia muita e pra dar o que tinha, porque ela se virava em passar roupa na época, porque não recebia muito dinheiro dele. E foi assim a vida até que houve a separação dela com ele, que foi um momento muito, eu acho que foi trágico mesmo, ele tentou matar ela, não conseguiu, porque ele já estava meio embriagado quando ele chegou em casa, ela vendo que ele estava daquele jeito, ela pegou e empurrou ele, entrou em luta corporal, tudo, ele tentou dar uma foiçada nela e não conseguiu, e foi aí. Depois ele foi pra delegacia, até o delegado falou que dependia só dela, porque ele ficou lá acho que quase, eu acho que umas 72 horas, na prisão, aí dependia dela, se ela queria ou não soltar ele, até então ele já estava sóbrio, tudo, porque ficou naquele cubículo pequeno, uma goteira em cima dele, eles judiaram bastante dele, né? Minha mãe, de uma certa maneira, ela teve dó, não assinou, ele saiu e foi daí que ele foi, depois teve a separação deles e ele foi pro Rio de Janeiro, Resende, Estado do Rio, que onde tinha uns parentes dele, e isso foi em 73, mais ou menos. Em 74 ele veio a falecer, culpa disso foi a pinga. Nós ficamos sabendo disso depois, ele promoveu uma brincadeira entre mais dois amigos, que quem bebia mais, e ele bebeu uma ou duas garrafas, ele não aguentou. Nesse mesmo dia, que nós ficamos sabendo pelos familiares dele, foi levado para o hospital lá em Resende, fizeram glicose nele, glicose na veia, melhorou, no mesmo dia, voltou pra casa, quando foi mais ou menos de madrugada, ele voltou de novo, só que quando ele voltou deu insuficiência respiratória nele, aí ele morreu, fomos lá no enterro, depois disso eu nunca mais voltei lá. Na época que ele estava ainda com a minha mãe, antes dele sair, ele falou assim, que eu iria ficar na sarjeta também, igual ele, graças a Deus não aconteceu e não vai acontecer, e só isso daí.
P/1 – Quando os seus pais se separaram, você morava com eles, não?
R – Morava com eles, morava com eles, era eu e mais dois irmãos.
P/1 – Qual que é o nome dos seus irmãos?
R – É, como eu falei, a Gleide Aparecida Demi Correia e o meu irmão, José Luís Ramos de Carvalho. Ela, não sei onde que ela está morando agora, porque, depois que ela casou, também sumiu, não sei onde que ela está. E o meu irmão, ele mora em Caieiras hoje, atualmente ele mora em Caieiras.
P/1 – Vocês três moravam então com os seus pais.
R – Juntos.
P/1 – E você estava com que idade nessa situação de separação?
R – Eu deveria estar mais ou menos com uns dez anos, não, mais, acho que uns 11 anos, uns 11 anos.
P/1 – E como é que foi pra vocês vivenciarem isso? Vocês estavam dentro de casa, você se lembra?
R – É, eu estava fora de casa, eu estava com um amigo meu na banca, daí minha mãe veio chorando, tudo, eu vi que ela estava toda rasgada, não sei mais o que, tudo, daí nós fomos pra delegacia e daí ocorreu todo aquele processo.
P/1 – Você sabe qual que é a origem da sua família, Reinaldo, da onde que vieram, assim, seus antepassados?
R – Eu não sei exatamente, eu tenho uma árvore genealógica, só que eu não trouxe, que fizeram, um dos membros da família, depois de muitos anos, que é filha do Sebastião, que era, acho que era irmão, primo do meu pai, que mora na zona norte, ali perto do McDonald’s, se eu não me engano, eles fizeram essa árvore genealógica, está em casa, só que eu não trouxe.
P/1 – Você não se lembra também?
R – Não me lembro, não me lembro, não me lembro mesmo.
P/1 – Você tem contato com a família do seu pai hoje em dia, manteve contato depois que ele faleceu?
R – Ó, eu estou tentando entrar em contato, tem um tio meu que mora lá em Campo Belo, nunca vi, eu já entrei em contato com ele por telefone, a gente estava querendo agendar uma visita a ele. Agora, o meu outro tio, que mora na Vila Sabrina, esse eu já fui, enquanto ele era vivo, porque ele morreu, eu fui lá uma vez e agora estou pra retornar pra falar com a esposa dele, e só isso daí, o único contato que eu tenho aqui em São Paulo, desde quando o meu pai faleceu, nunca fui lá em Resende, Estado do Rio, eu nunca fui.
P/1 – Reinaldo, conta um pouco pra gente como é que era a casa aonde você passou a infância, como é que era a sua casa, como é que era o seu bairro.
R – Era uma casa ao fundo, tinha um terrenão enorme na frente, mas enorme, não tinha nada plantado, era tudo capim, mas era enorme, mais ou menos, devia ter uns quatro, cinco metros, mais ou menos, como é que é? Mil metros, mais ou menos, é grande, enorme. Só que tinha a entrada pelo fundo, que era na Rua Maracá, que era a entrada pelo fundo, que era alugado, e na frente era a Avenida Leonardo Da Vinci e foi ali que eu passei toda a minha infância, estudei.
P/1 – Como é que era essa casa?
R – Era de alvenaria e era dividida, era geminada com uma outra casa, ao lado, meu pai, quando ele estava com a gente, ele plantava, assim, hortaliças, ele fazia hortas, não sei mais o que, e daquela horta muitas vezes minha mãe retirava recursos, porque ela acabava vendendo, era couve, era cenoura, era um monte de coisa, ele plantava, isso ele gostava de fazer, de ter sua hortinha sempre em ordem, sempre. E eu, uma das poucas passagens que eu tive com ele, que ele, eu ia no Campo do Metal, que era lá na Vila Guarani, entre a Vila Guarani e Americanópolis tinha um campo enorme, chamado Campo do Metal, eu ia com ele muitas vezes recolher esterco de cavalo, não sei se era muito bem contra a minha vontade ou não, mas ele ia, a gente fazia isso. Aí a gente, depois ele fazia a horta, a gente semeava tudo aquilo lá em cima e com aquilo lá minha mãe também tirava um dinheiro, além dela passar roupa pra fora, ela tirava dinheiro daquilo lá pra comprar as coisas pra nós, e era isso daí basicamente. Eu cheguei a vender sorvete também, nesse Campo de Metal, quando eu era, assim, os meus 12 anos, mais ou menos, eu saí pra vender sorvete também aí nesse campo.
P/1 – Esse sorvete que você vendia vocês compravam em algum lugar e revendiam ou vocês faziam?
R – Comprava de uma fabriquetinha que tinha de sorvete, na própria Leonardo da Vinci, eu comprava lá e, assim, eu tinha alguns sorvetes, acho que eu tinha sorvetes pra mim, o resto eu poderia vender tudo, tinha vez que eu vendia tudo e ficava com aquele dinheiro pra mim, pra mim sair, fazer alguma coisa, comprar alguma coisa pra mim, e era só isso daí, mais ou menos, que eu me lembro. Estudava por lá, né?
P/1 – Esse dinheiro do sorvete, que você ganhava, você se lembra se você comprou alguma coisa que você queria, assim, com esse dinheirinho?
R – Não, comprava besteira, besteira, doce, refrigerante, naquela época o refrigerante era diferente dos nossos hoje em dia, tinha a Cerejinha, que não existe mais hoje, tinha a Grapette, eu não sei se existe, eu acho que não existe mais. Grapette não existe mais, Cerejinha não existe mais, era uma garrafinha pequenininha assim, que nem Coca-Cola pequenininha, mas não existe mais hoje, né? Então basicamente eu comprava isso, era doce, com o dinheiro que eu ganhava.
P/1 – E as brincadeiras de infância, assim, Reinaldo, do que você brincava e com quem você brincava?
R – Brincava com meus vizinhos do lado, o Cláudio, o Arnaldo, tinha a irmã dele, que eu esqueci o nome dela agora, a gente brincava no meio daqueles mato todo, bandido e polícia, não sei mais o que. A gente chegou a fazer até uma, a gente brincava de índio também, a gente arrumava em construção civil um ferrinho de aço, mais ou menos nessa altura, mais ou menos de o quê? Um metro e meio, dois metros, e a gente fazia aquilo de arma, jogava um no outro, e aquilo a gente podia matar a pessoa, que tinha, era fininho, a gente pegava assim e jogava. E minha brincadeira era assim, era correr no meio do mato, aquelas brincadeiras de rodinha, que a gente tinha um araminho que colocava num pauzinho, punha numa rodinha, ficava igual um, hoje eu falo que fica igual um tonto, correndo em volta inteira, mas eu era magrinho, magrinho, porque eu fazia exercício. A gente brincava de mãe da rua, que era atravessar uma rua, assim, mais ou menos um espaço, e a gente tinha que pegar o colega, só que com um pé só, então a gente tinha que fazer essa brincadeira, que hoje em dia já sumiu isso daí do mapa. Tinha um abacateiro e a gente fazia o seguinte, tinha um galho do abacateiro que parecia uma cama, meia deitadinha, a gente levava açúcar, limão, subia lá no pé, cortava o abacate, tirava o caroço, levava uma colherzinha, que já tinha ali em cima o negócio, fazia o abacate ali mesmo, acabava comendo, tudo brincadeira, tudo, e a nossa brincadeira. Até que um dia nós paramos com essa brincadeira, tanto do negócio, porque eu quase peguei uma pessoa, eu, conforme eu atirei o negócio assim, caiu bem no chinelo dela, conforme ela deu o passo, o chinelo ficou no chão e aquilo entrou, aí nós paramos de brincar daquele jeito, que poderia um dia acontecer alguma coisa pior. E depois eles mudaram, eu fiquei mais ou menos ali sozinho, e entrou um vizinho do meu lado, também a gente brincava, mas brincadeira assim, jogar bolinha de gude, esses negócios todo, pião e acabou. Depois eu mudei pra Pinheiros, foi na época que eu tinha os meus 14 anos, 13 anos e meio, 14, eu mudei pra Pinheiros, na Vila Madalena.
P/1 – Antes dessa mudança pra Pinheiros ainda, você se lembra, antes dos 14, o que você queria ser quando crescesse, Reinaldo?
R – Não, eu não tinha uma noção do que eu queria. Estudei no colégio, colégio de madeira, São Martinho de Lima, e a gente respeitava os professores, porque o professor, naquela época, eram os nossos segundos pais. A gente fazia aquela fila tradicional, cantava o hino, entrava pra dentro da escola e, enquanto o professor não sentava, a gente não sentava, a gente ficava quieto, depois sentava. Depois eu fiz o primeiro ano, o segundo, depois eu fui pro Colégio Monte Alegre, que era perto também, era no outro lado do campo, praticamente, então tinha aquele campo que dividia um colégio do outro, era mais ou menos ali, fizeram uma rua e a gente, eu fiquei lá naquele colégio. Depois de lá, eu fui pra aquele Coronel Domingos Quirino Ferreira, que foi lá perto da Avenida do Café, na Rua Diederichsen, lá, daí eu concluí, vim pra cá. Mais ou menos o que eu me lembro da minha infância por lá, era um circo que tinha do Mário Zan, que eu morava ali perto, foi quando começou o metrô, quando começou o metrô, eu vi todas aquelas escavações. Ali eu já era maior, eu já devia ter uns 13 anos, já ficava andando por lá, eu via todas aquelas escavações do metrô lá na Estação Conceição, que era a mais próxima de mim, era a Estação Conceição, então eu comecei a ver o processo também do metrô lá. Eu não sabia exatamente, eu era crianção, eu não sabia exatamente o que era aquilo lá, eu sabia que depois ia ser um meio de transporte, alguma coisa, mas depois é que, com uma certa idade, eu fui ver o negócio, mas eu vi o processo lá, antes de eu mudar de lá, eu vi o processo no metrô.
P/1 – E esse circo que você mencionou, que lembranças você tem do circo?
R – Palhaços, não sei mais o que, eu ia lá naquele circo e depois ele se tornou, era um cinema, Mário Zan, eu ia assistir os filmes de Mazzaropi e não sei mais o que, era o que eu mais gostava e só isso aí que eu me lembro lá do Jabaquara.
P/1 – Na escola, nessa fase ainda do Jabaquara, você teve algum professor marcante?
R – Eu tive uma professora, se eu não me engano, o nome dela era Alba, foi uma professora que, porque naquele tempo não tinha, assim, muita troca de professores, nada, era um professor e ele dava Matemática, Português, não sei mais o que, era mais ou menos o mesmo, né? Então eu me lembrava dela, a Professora Alba, eu me lembro acho que só do primeiro nome dela, eu não consigo lembrar o resto, mas era mais ou menos isso, era uma professora enérgica, que com ela eu aprendi bastante coisa.
P/1 – E depois, quando você se mudou aqui pra Pinheiros, Vila Madalena, por que vocês fizeram essa mudança, você e sua família, e como é que foi pra você, assim, a experiência dessa mudança?
R – Essa mudança pra Vila Madalena, foi que teve esse consórcio de sistema financeiro da habitação e foi escolhido a Vila Madalena, poderia ser aquele conjunto de 2000, lá na Diógenes Ribeiro de Lima, mas optamos por esse, ainda bem, porque esse daqui é um pouco melhor, eu acho, que lá. E daí eu, aos meus quase 14 anos, eu estava aqui já, e nós mudamos por causa disso, foi uma questão, assim, fizemos o consórcio todo nos bancos e viemos pra cá, minha mãe já era sozinha, veio ela e os filhos pra cá.
P/1 – Pra onde exatamente vocês vieram morar aqui na Vila?
R – Aqui na João Miguel Jarra, 132, apartamento um, nós viemos morar aqui. Eu vi também a construção daqui, enquanto eles estavam colocando a tubulação na João Miguel Jarra inteirinha, a tubulação de, acho que era água, esgoto, alguma coisa assim, aqueles tubos enormes, era tudo de terra ainda, não tinha asfalto, não tinha nada ainda. Porque, quando eu cheguei aqui, tinha o quê? Acho que uma meia dúzia de pessoas no nosso bloco, tinha uma meia dúzia de famílias morando, o resto não tinha ainda.
P/1 – Como é que era essa região da Vila Madalena e Pinheiros naquela época, na época em que vocês se mudaram?
R – Era divertido, a gente, não era esse movimento todo de carro que tinha porque, primeiro, a João Miguel Jarra, na verdade, depois que eles asfaltaram é que começou esse movimento de carros, mas enquanto não tinha o asfalto, não tinha nada, era gostoso de ficar por aqui. Eu, como naquele tempo ainda não, não trabalhava, assim, efetivamente em nada, então eu ficava brincando por aqui mesmo com os amigos. Eu fiquei sabendo que tinha três campos aqui, só isso, a única informação que eu tive, e a gente ficava brincando entre os amigos, que tinham poucos também, porque era vizinho novo, tudo, mas a gente ficava brincando embaixo, chutando bola embaixo do prédio. O pessoal não gostava muito, primeiro que a parede, eles pintavam a parede e parede ficava manchada de bola, depois eram os carros, que a gente chutava, quebrava vidro.
P/1 – E quando, nessa fase que você mudou pra cá, Reinaldo, você já está entrando na adolescência, assim, né?
R – Sim, sim.
P/1 – E aí mudou alguma coisa na sua vida, assim, na adolescência, em termos de passeio, amigos?
R – Mudou, mudou.
P/1 – O que que mudou?
R – Eu, como eu falei pra você, tinha o Gelson, que era um colega meu que eu conhecia, então a gente começou a, aquela vida de adolescente, ele namorava uma menina, que era de um prédio de cima, eu comecei a namorar uma menina daqui também, foi aonde que começou minha adolescência. Ela morava acho que, as duas moravam no bloco, uma no acima do meu, que agora eu não me lembro o número dela, acho que é 104, número 104 hoje, e a outra morava perto da pracinha, e elas eram primas. Depois essa namorada do meu colega, Gelson, ela mudou pro 2000, lá na Diógenes, eu ia, quando eles estavam namorando, eu ia junto com ele, pra ir de companhia com ele até lá, e voltava a pé, a gente ia e voltava, né? E eu comecei meu namoro aqui também, não demorou muito também, acabou terminando logo meu namoro aqui. Aí tinha o problema já do colégio, eu já tinha procurado emprego, achei um emprego, aí eu já estudava à noite, aí começou toda essa minha vida aqui em Pinheiros.
P/1 – Você falou que foi procurar emprego, né?
R – Sim.
P/1 – Em que momento você foi procurar emprego e por que e qual que foi o seu primeiro emprego?
R – Eu fui procurar emprego, porque foi uma, porque, na verdade, quem trabalhava em casa fora mesmo era a minha irmã, e ela sempre falava: “É, já está na hora dele procurar emprego, que não sei que”, ela ficava sempre falando, pressionando a minha mãe, certo, e depois me pressionando também, né? A minha irmã sempre foi assim, meio autoritária, sempre foi, sempre, desde a época do colégio, lá em, na Vila Guarani, quando ela tentava me ensinar as coisas, eu não aprendia, ela pegou, teve um dia que ela pegou e deu um tapa em mim, e eu tava com a caneta, pensando, aqui na cabeça, sabe que entrou a caneta? Então, quer dizer, desde aquela época, ela sempre foi, e ela falou, chegando aqui em Pinheiros, falou: “Já está na hora dele arrumar um emprego”, eu já tava com 14 anos, não sei mais o quê. Aí eu peguei e arrumei, que naquele tempo também emprego, você saía de um aqui, se você ficasse dois dias desempregado, você era vagabundo, porque aqui, naquele tempo, você não escolhia, o empregador não escolhia você, você que ia lá e: “Não, tem emprego aqui?”, tinha uma lista. Eu fui trabalhar na Bijuterias Ido, era uma bijuteria de judeu, ali perto da Oscar Freire com a Cardeal Arcoverde, era um portão verde, hoje em dia tem um portão verde lá, só que eu não sei, lá não está funcionando mais. E o meu serviço aqui era pegar bijuteria, polir a bijuteria, e tinha aquelas bancadas enormes, cada um pegava uma certa quantia da produção, você fazia aquele negócio, não podia errar muito ali, porque eram peças feitas de chumbo, muitas vezes uma lembrança de mesa, de alguma coisa, de repente se você colocasse pra dar um lustro ou alguma coisa, e quebrasse, aí era prejuízo porque ela tinha que voltar de novo, porque eles não cobravam, pelo o que eu vi, eles não cobravam da gente, só que ela voltava de novo, que ela ia ser derretida e fazer de novo, tinha os moldes que o pessoal fazia. E era assim o serviço, até a gente tinha brincadeira, porque tinha a parte debaixo e a parte de cima, onde é que a gente ficava, teve uma época que, eu me lembro, que eu acho que era Vanderlei o nome dele, falou assim: “Vamos fazer uma sacanagem com o pessoal”. Só que ainda bem que eu não entrei nisso daí, não é porque eu estou falando aqui, mas eu não entrei, eles colocaram, uma sexta-feira, todas as sextas-feiras lavavam lá, eles colocaram, e quando dava o horário de almoço ou o horário de saída, o pessoal saía desembestado, que nem uma vaca louca, de lá de cima, pra descer, bater o ponto e ir embora, eles colocaram sabão na escada, fizeram sacanagem. Aí conforme o pessoal estava descendo, caíram, quando eu vi que um caiu, eu vi que estava molhado o piso, aí eu peguei e não caí, mas o que caiu de gente ali, fizeram de sacanagem, que a gente descia todo mundo correndo pra bater o ponto e ir embora. Outra coisa que eu observava muito lá também, eu sempre fui muito regrado ao dinheiro, minha mãe também sempre me explicava isso daí, então os outros funcionários pediam vales, acho que era de dez em dez dias, tinha vale, então o pessoal ia, descia lá embaixo, pedia seus vales, não sei mais o que. E eu nunca pedi, eu sempre era meio, sempre segurando, pra mim ter o dinheiro pra mim sair, passear, deixar em casa um pouquinho e passar, aí, quando chegava o dia do pagamento, o pessoal descia: “Pô”, reclamava: “Eu só recebi papel”, porque a gente recebia um cartuchinho com o valor do dinheiro lá ou os papelzinhos, quando você pegava de vale. Tinha gente lá que só pegava papelzinho, eu pegava o dinheiro inteiro, então o pessoal crescia os olhos: “Ô, não sei o que, está com dinheiro, não sei o que”, eu falei: “Eu não pego vale, graças a Deus eu não estou precisando”, eu sempre fui meio regrado a isso.
P/1 – Nesse emprego, Reinaldo, com esse dinheiro que você guardou, juntou, você chegou a comprar alguma coisa que você quisesse muito?
R – É, eu cheguei, cheguei a comprar tênis na época, um tênis caro, eu ia no cinema, eu ia no cinema, comprava minhas coisinhas, Coca-Cola, esses negócios todo aí, todas essas guloseimas, e ajudava um pouco em casa também, aí eu dava um pouco do dinheiro, metade do dinheiro. Não me lembro quanto, porque era em, acho que era em cruzeiro na época, não me lembro o tanto que eu dava, mas eu dava a metade e a outra metade ficava comigo, comprava roupa. Aí eu já cheguei a comprar roupa pra mim, aquilo que eu queria, era tênis, era uma bermuda, uma calça, enfim, eu comprava algumas coisas, ou então eu dava o dinheiro pra minha mãe, ela ia lá e comprava pra mim roupa. Mas quando eu comecei a ter essa minha vida já de trabalho e tudo, que eu pegava ônibus e já, negócio, eu já comecei a comprar minhas coisas também, na própria Teodoro eu cheguei a comprar bastante coisa. Uma passagem que eu estava esquecendo, voltando ao grupo escolar, nesse terreno que eu falei pra você, que a gente, era grande, tinha uma ladeira, eu, o Cláudio, o Arnaldo, o pessoal lá, a gente pegava pneu, soltava de lá de cima, ele atravessava a rua lá embaixo, mas atravessava numa velocidade. Teve um dia que pegou a porta de um táxi, pegou bem no meio da porta, todo mundo correu, ninguém sabia o que era, ninguém sabia o que era, mas a gente fazia loucura, a gente era moleque, a gente fazia loucura. Outra loucura também, tinha um entreposto de caminhões, que entregava arroz, feijão, não sei o que, tinha um entreposto bem na viradinha, os caminhões tudo parado ali, o pessoal descansando, tudo, e a gente fazia isso, pegava prego, colocava debaixo do pneu do caminhão, tanto faz pra ir como pra voltar, se ele fosse sair pra frente ou sair pra trás, furava o pneu do caminhão. A gente era muito arteiro, muito arteiro, o Marcos, meu primo, já lá na, eu ia na casa dele na Rua Leonardo da Vinci, naquele tempo que eu estava lá no Jabaquara ainda, que eu esqueci de falar isso, a gente fazia o seguinte, tinha brincadeira também. A época do carnaval, que hoje não se faz mais isso daí também, tinha aquelas seringas e a gente fazia o seguinte, tinha uma muretinha, a gente escondia, o Marcos dava sinal e a gente, e eu esqueci o nome do outro rapaz que ficava junto, a gente estava com um balde de água atrás da muretinha, conforme o ônibus abria a porta, a gente subia e jogava água dentro do ônibus, molhava que molhava lá dentro do ônibus. Ou então a gente pegava bexiga, enchia de água, pegava assim a bexiga e jogava, batia no vidro assim, molhava também, isso daí a gente aprontava lá no Jabaquara também. À noite, a gente pegava uma lata d’água, colocava no muro em cima, pegava uma linha, amarrava no poste, isso à noite, uma linha, não branca, preta, a pessoa passava, via aquela linha, em vez de desviar, puxava a linha. Quando ela puxava a linha, a gente, lá de cima a gente estava vendo, derramava a água, porque a gente colocava bem na beirada do negocinho, ele puxava, derrubava, a gente era arteiro.
P/1 – Você falou de cinemas, teve algum filme preferido dessa fase?
R – Não, não, não tinha nenhum filme preferido, não, nenhum filme. Outra coisa também, tinha aquele, a gente, no carnaval também, pegava tomate, passava o pessoal do caminhão, depois da feira, a gente jogava tomate também, neles.
P/1 – Eram muito arteiros.
R – Nossa, lá no Jabaquara foi, aqui não, aqui o negócio, mas a gente foi.
P/1 – E depois que você mudou pra cá, onde que você ia ao cinema?
R – Eu ia no cinema da cidade, o pessoal falava que era violento, tudo, era eu e o Paulo, aquele meu colega de serviço, que arrumou, na verdade era meu único colega mesmo, que eu saí com ele, então a gente ia lá no cinema da cidade, Marabá, todos aqueles cinemas lá, assistir os filmes. Ia também, um filme que, um cinema que hoje não existe mais, que o meu colega, o Marcos, ele falou que ele gostaria de ter ido naquele cinema, é o Cinerama, tinha três telas, acho que era três telas que tinha, uma daqui, uma daqui, uma daqui, certo, você assistia em qual, era o mesmo filme, mas você poderia, a cadeira se movimentava, você assistia em qual que você queria. Assistimos “Terremoto” lá e, nesse “Terremoto”, eles pediram autorização na época pra passar lá, porque o prédio balançava, porque nesse Cinerama tinha muito som, muito, acho que até dentro do banheiro tinha som, então era muito, qualquer filme vibrante, qualquer filme assim, de terror, bem vibrante mesmo, eles passavam lá. E quando foi o “Terremoto”, nós fomos assistir lá, isso eu me lembro bastante, isso daí, porque o prédio, ele chegava a tremer a poltrona, porque tinha som, de parede a parede tinha som, então, quer dizer, e eles pediram ordem pro bombeiro, saiu até no jornal, tudo, se poderia passar ou não lá, porque, conforme passava aquele negócio do terremoto lá, o negócio, estremecia o prédio, de tão som que tinha, então isso daí me marcou muito. Rodoviária antiga também me marcou muito, que eu ia, nessa época acho que eu não estava em Pinheiros, eu estava lá no Jabaquara ainda, eu ia encontrar o meu tio, ou quando ele ia viajar, lá na negócio. Então tinha aquele teto colorido, eu gostava de ver o teto colorido da rodoviária antiga, ali na Duque de Caxias, perto da Estação da Luz, gostava muito, então aquilo me marcou bastante aqui em São Paulo, foi a rodoviária, foi os cinemas que a gente ia. Agora, que nem você falou, aqui em Pinheiros, eu ia muito no Cinema Del Rei, que não existe mais hoje, na Avenida Santo Amaro, o Vila Rica, enfim, eu ia em todos esses cinemas, de negócio. Um fato pitoresco que aconteceu com o Paulo e eu, a gente estava voltando do Del Rei, que nós fomos assistir o “Sexta-feira XIII”, e chegamos ali no Grupo Sérgio, ali na, onde que é o, quase perto do Futurama, ali na Artur de Azevedo com a Rua dos Pinheiros, tinha o Grupo Sérgio, era rodízio de pizza. Chegamos lá depois do cinema, chegamos lá, uma fome, e eles estavam fechando, eles fechavam, normalmente era meia-noite, meia-noite e pouquinho eles fechavam, e não tinha ninguém lá, só estava nós, chegou só nós dois lá, e os garçons querendo ir embora. Chegamos lá, sentamos na mesa e a gente tinha, assim, falamos assim: “Ó, não vamos gastar muito, né”, pegava um copo de suco, ficava tomando e, só que eles vieram só com duas pizzas, só, duas não, quatro pedacinhos de pizza, dois pra cada um, e a gente não saía do lugar e a gente querendo mais e eles querendo fechar. Acho que eles invocaram tanto, acho que pizzaiolo lá, mas fez tanta pizza, mas tanta pizza que você nem imagina, e vinha uma atrás da outra depois, e a gente comendo e eles não acreditavam que a gente estava comendo aquilo lá tudo, e eles querendo fechar. Aí saímos de lá quase, o quê? Quase uma hora da manhã, enquanto tivesse cliente eles tinham que atender, então, mas aquele dia me marcou muito, aí que eu saí de lá, o Paulo, a gente ia sempre de carro, né, praquela região, quando era pra cidade a gente ia de ônibus, quando ia pro Del Rei a gente ia de carro. Aí nós demos risada falando assim: “Puta, os caras queriam fechar e a gente aqui atrapalhando eles”, aí eles mandaram, mas mandaram um monte, só pra ver se a gente enchia a barriga logo e ia embora, mas foi triste aquele dia lá, aquilo me marcou bastante aqui.
P/1 – Reinaldo, quando que você, nessa fase, assim, de juventude, quando é que você decidiu que curso você ia fazer na faculdade? Como é que foi que te surgiu a ideia de biblioteconomia, como é que você tomou essa decisão?
R – É o seguinte, eu estava namorando uma menina aqui na Fradique Coutinho, não sei o número, é perto da Livraria da Vila, o nome dela é Cleonice, eu já estava na biblioteca que o Paulo, esse meu amigo, ele estava de férias, aí ele falou pra mim assim: “Ó, tem um serviço pra você, você procura o Francisco ou o Fernando e você vai fazer um teste lá no serviço”. Naquele tempo, na Bireme ou na universidade, a Unifesp, principalmente na Bireme, porque eu era funcionário deles antigamente, não tinha esse negócio de você fazer concurso e nada, era você, pela apresentação, é como diz o meu filho, QI, quem indica, né? Então o Paulo me indicou, ele falou: “Só que eu estou de férias, você procura esses dois lá”, aí eu fui lá, fiz o teste, passei, em 77, passei e comecei lá no serviço, né? Mas antes disso eu trabalhei na PBK, aqui na Capitão Antônio Rosa, que hoje já não existe mais esse negócio de comércio de prédios, porque eles só faziam aquilo, e na Paulista, porque eles tinham na Quinta Avenida, na Paulista, eles tinham um outro escritório lá, então eu fazia isso daí. Aqui eu cheguei a trabalhar três anos, na Bijuteria Ido eu cheguei quase um ano, quase um ano, depois eu fui pra cá, e depois daqui, eu saí, fui pra cidade, ali na Rua dos Andradas, trabalhei ali também pouquinho tempo, seis meses, sete meses, aí daí eu saí de lá, onde que eu estava desempregado. Aí o desemprego já começou a ficar um pouco mais ruim, já desde aquela época, 77, que eu já estava há um bom tempinho desempregado, minha mãe já estava preocupada, a minha irmã me perturbando, porque apesar dela estar casada, ela estava em casa ainda, depois ela saiu, não vi mais. Daí ele foi, me indicou, eu fui lá, em 77, dia 14 de fevereiro de 1977, eu me lembro, me registraram nesse dia, fui, e comecei ir embora, depois, nesse período que eu já estava lá, mais ou menos, acho que uns cinco, seis anos já na biblioteca, eu, essa minha namorada, Cleonice, falou pra mim assim. Ela trabalhava no Jumbo Eletro ainda, hoje é Pão de Açúcar, era Jumbo Eletro, minto, era no Bazar Treze, tinha o Bazar Treze, depois passou, no mesmo lugar onde que é o Pão de Açúcar hoje, era o Jumbo e depois do Jumbo se tornou o Pão de Açúcar. Ela estava no Bazar Treze, ela falou, que depois acho que o Abílio Diniz comprou, virou Jumbo, ela trabalhou lá na, perto da Brigadeiro Luís Antônio. Ela falou pra mim assim, a gente já estava namorando há um bom tempo, ela falou assim pra mim: “É melhor você arranjar uma faculdade, uma coisa assim, porque, se você sair desse emprego, você vai trabalhar com algum negócio”, e ela me incentivou bastante. Fui, fiz a faculdade, fiz o pré-vestibular na USP, e passei, aí começou minha vida acadêmica mesmo, só que quando atingiu acho que o segundo ano de faculdade, terceiro, porque eram quatro anos, acho que foi o segundo ano e meio, ela, não sei se ela estava enjoada de mim ou, assim, porque eu estava envolvido totalmente no estudo. Eu falei: “Já que você pediu pra mim estudar, eu vou estudar”, só que a gente não saía mais, não ia no cinema, não sei mais o que, aí o que que aconteceu? Ela pegou, terminou, mas quem me deu um empurrãozinho pra mim foi ela, eu não vou negar isso daí. Daí eu peguei, continuei, hoje eu estou formado, né, nesse período todo que eu fiquei lá.
P/1 – Como é que é o seu trabalho na Bireme, como é que foi sua experiência na faculdade, assim, o que você achou da faculdade de Biblioteconomia?
R – É o seguinte, quando eu entrei lá, que nem eu falei pra vocês, era por apresentação, eu fui fazer o exame do DOPS pra saber, naquela época, se eu não era, tinha algum envolvimento na polícia, alguma coisa assim, que era lá perto da Estação da Luz, eu fui fazer um requerimento, fui lá, peguei esse requerimento, como não tinha nada, então eu entrei lá no serviço. Me registraram, mesmo eu entrando o quê? Uma semana depois, eles me registraram desde a época que eu fui lá, e essa passagem foi muito boa pra mim, que depois eu me aposentei por lá. Mas a minha passagem foi a seguinte, quando eu entrei lá, em 77, existia, para os médicos, os profissionais de saúde, duas opções, ou eles consultavam os index médicos, que eram uns livrão desse tamanho, grosso assim, ano por ano, eu fazia isso. Quando eu entrei lá, eu comecei num projeto chamado Lacrip, que o Doutor Fernando era meu chefe na época, eu entrei lá fazendo esse serviço aí. Tinha um colega meu, o meu chefe, assim, o segundo chefe, que lá tinha um monte, é o Francisco, esse que o Paulo falou pra mim procurar, ele lidava com esse serviço, ele tinha uns papelzinhos e tudo mais, e esse Francisco era um pouco enrolão ou quanto mais tempo ele ficasse segurando aqueles papelzinhos pra ele era melhor. Uma passagem também que o Francisco falou pra mim: “Você não devia ter feito isso”, eu, ele saiu de férias e eu fiquei no lugar dele pra fazer todo o serviço. A Celina, que era responsável também, que ela respondia ao Doutor Fernando, ela falou: “Pô, o Francisco, ele demora quase um mês pra fazer isso, você em uma semana, você terminou o serviço dele”. Aí quando o Francisco voltou de férias, falou: “Pô, você não devia ter feito isso, você devia ter feito do mesmo jeito que eu faço”, enfim, ele era muito farrista no negócio, ele era muito inteligente também, ele contava coisa, os jornais, ele lia muito, muito inteligente. E fiquei com o Doutor Fernando, aí depois o Doutor Fernando saiu, aquele negócio, e daí ele foi pra Espanha nesse tempo, ele foi pra Espanha, entrou o Brumini, Rodolfo Brumini, que também fazia a mesma, o mesmo serviço, né? Eu fazia tanto o INAM, que era um negócio de alimentação, como o Lacrip, que era um outro serviço.
P/1 – Qual que era o teu serviço?
R – Eu pegava revista nas estantes, colocava papeletinha no meio e depois levava pro xerox, eu mesmo fazia isso daí, depois que fazia todo esse processo, eu fazia isso daí.
P/1 – Mas era o que, era uma pesquisa?
R – Era uma pesquisa.
P/1 – Você auxiliava na pesquisa?
R – É, eu auxiliava na pesquisa, e foi aí que ela falou pra mim fazer a faculdade e tudo mais, né? Mas nesse meio tempo, enquanto eu estava fazendo a faculdade, que era de quatro anos, que era na Sociologia e Política, lá na General Jardim, eu fiz lá, enquanto eu estava fazendo isso daí, a gente estava fazendo parte de biblioteca. Eu sempre comecei, por isso que eu falo que funcionário antigo lá é legal, porque eu comecei pegando revista, eu sabia todo o processamento, aí quando eu passei pro balcão de atendimento, diretamente com os médicos, lá embaixo, que eu via os index médicos, porque eu só lidava nas estantes, eu tenho até fotografia lá, que eu estava nas estantes pra pegar revista. E a gente também era meio molecão no serviço, quando chegava de sexta-feira, a gente fazia uma bola de papel assim e ficava jogando lá no terceiro andar, porque eram três andares, no terceiro andar a gente ficava jogando bola, bate bola daqui, bate bola de lá. E a gente tinha separado tudo umas papeletinha que era da comutação, que era pra gente, quem mandava por correio, pra gente pegar de outros países, aquilo estava tudo montadinho em cima da mesa, de repente a gente jogava a bola, batia naquele negócio lá, espalhava tudo no chão, estava tudo em ordem alfabética aquilo. Outra vez, uma passagem que me lembro bastante lá, foi que a gente estava jogando bola, o diretor atrás, o Alan Novinsky, ele estava bem atrás, conforme ele entrou assim, acho que foi o Fernando, ia chutar a bola, eu estava no gol, não é que a bola escapa, bate nele, já foi outra bronca que a gente tomou. Outra vez eu estava estudando e o Novinsky falou que, até me chamou pra mandar embora, porque eu estava estudando, não tinha mais serviço, eu já tinha feito todo o serviço, estava estudando na faculdade, ele não gostou de eu pegar e ir estudar, ele era muito rígido.
P/1 – E a faculdade, como é que foi pra você, Reinaldo?
R – Foi ótimo, eu fui, uma passagem também que eu gostei bastante da faculdade, eu estava iniciando a faculdade lá na General Jardim, não passou seis meses, teve aquele processo lá do Governo Federal, do governo, de todos os planos, Plano Verão, Plano Bresser, plano não sei mais o que, tudo. Eu estava pagando, como se fosse hoje, eu estava pagando, assim, mil e 500, vamos supor, na faculdade, e com esses planos a prestação abaixou, ia abaixando, foi o inverso, estava abaixando, tanto é que eu não precisei entrar em financiamento de Caixa, alguma coisa, pra mim concluir o estudo. Nesses quatro anos, a última prestação minha, que eu paguei, que eu me lembre, era mais ou menos assim, era uns 30 reais a faculdade, a prestação começou a cair de uma certa maneira, porque daí o governo viu todos aqueles planos que eles fizeram e começaram a abater no negócio. Quem comprou casa naquele ano, que comprou imóveis naquele ano todo, a prestação começou a decair, decair mesmo, e a faculdade eu terminei irrisoriamente, com 30 reais eu termine minha faculdade. Graças a Deus eu não recorri a banco, a financiamento nenhum, muita gente tinha pego esse financiamento estudantil e no fim dançou.
P/1 – De que a ano a que ano você fez faculdade?
R – Eu terminei em 89 e fiz minha colação em 90, quatro anos atrás, deixa eu ver, 89.
P/1 – Oitenta e cinco você entrou.
R – Oitenta e cinco, por aí, eu comecei a fazer faculdade.
P/1 – E aí a faculdade mudou, assim, a sua relação com o seu trabalho?
R – Mudou, mudou bastante.
P/1 – Em que sentido?
R – Depois que eu já estava na biblioteca, que nem eu falei pra você, eu vi a passagem, depois que veio os index médicos, os médicos tinham dois negócios, ou eles pegavam no index médico a pesquisa que eles queriam, eles tinham que fazer ano pós ano, cada cubículo desse daqui era um ano, aqui, então eles pegavam e pediam. Quando eles pediam pra NLM fazer, que era uma biblioteca norte-americana, então essas bibliotecárias antigas, principalmente a Maria Helena Piegas, a Maria Luiza, e tinha acho que mais uma outra, ela tinha um horário na USP, que só funcionava lá, em 77, quando eu entrei. Então o motorista, o Cícero, pegava, levava elas até a USP, fazia o levantamento, vamos supor, eu, como médico, eu pedia, demorava quase, mais ou menos uns 20 dias pra você entregar a pesquisa, isso feito pelo computador, pro médico. Então ela ia na USP, fazia todo aquele trabalho, que era em 80, que era um acesso que tinha, acho que era duas horas, três horas, não sei quantas horas que eram o acesso, ela faziam uma busca, reunia, ela não ia, pra cada médico ia lá, ela reunia um monte de papel, tudo escrito o que que o médico queria, não sei mais o que. Só um exemplo, o médico queria dar aspirina pra uma pessoa idosa, então ele não sabia a dosagem, alguma coisa assim, ou então um câncer, alguma coisa que ele queria estudar, que lá nos Estados Unidos tinha, que aqui ele estava querendo passar pro paciente a medicação. Então ela ia lá, a bibliotecária, fazia aquele levantamento todo, aqueles papéis grandão, desse tamanho, pelo computador que era matricial, vinha, trazia aquele material, reunia tudo, ligava para os médicos, que não tinha celular, não tinha nada, ligava para os médicos ou consultório, negócio. Eles vinham, buscavam, pegavam aquilo lá e pagavam uma quantia, porque a gente pagava um royalty pros Estados Unidos, pra gente acessar lá. Depois que teve esse movimento, veio, a Bireme começou a comprar umas fitas, que eram uns rolos desse tamanho, os computadores eram quase do tamanho disso daqui, os computadores antigos, e eles colocavam as fitas, era de dois em dois anos, mais ou menos, pros médicos consultarem. Isso daí foi feito há bastante tempo, nesse meio tempo, acho que um pouquinho mais pra frente, a pesquisa começou a diminuir o tempo, em vez de ser 20 dias, já demorava 15 dias, tudo, porque de dois em dois anos a gente ia fazendo a pesquisa, ia trocando os rolos pra fazer a pesquisa do médico. Já não precisava ir lá na USP, vinha pra cá, isso a Bireme comprava, vinha dos Estados Unidos, que eles pediam, depois disso daí, começou a diminuir o tempo cada vez mais. O computador já era menor, já tinha quatro, cinco anos no mesmo computador, então já fazia a pesquisa e, assim, já demorava dez dias a pesquisa, o médico pedia tudo, demorava dez dias, daí ele já vinha buscar, tinha um custo pra isso, e hoje em dia, a pessoa pede online. Nesse processo todo que eu comecei, do computador, que é uma história que eu tenho de lá, é o seguinte, eu cheguei a trabalhar um mês, um mês e pouquinho, quando o meu amigo saiu de férias, no kardex, que era umas folhonas, uns arquivos grandes, então a gente anotava a revista, vamos supor, a New English, Lancet ou American Journal, não sei o que, anotava e a Raquel, o negócio já passava pro computador, foi aonde começou já o sistema quase online, começa lá. Aí começaram a fazer essa transição entre o papel e o negócio, e o computador.
P/1 – Digitalizava?
R – Digitalizado já.
P/1 – Isso em que ano mais ou menos?
R – Acho que foi em 77, 78, 79, mais ou menos nos anos de 80, mais ou menos, começou isso aí. Então, quer dizer, eu fazia essa parte de, porque se desse errado o computador, a gente tinha como recuperar nas fichas, ficou mais ou menos um ano assim.
P/1 – Mas vocês digitavam, era isso?
R – A gente digitava e eu anotava no papel. Depois de um ano que dava, deu tudo certinho, aí eliminou o papel, aí ficou só no computador, chegava a revista, a revista, a gente anotava no computador a revista que chegou, tudo assim, já ia pra estante. Aí o médico já tinha mais acesso, porque, naquele tempo que o médico ficava pesquisando no index médico, se ele não quisesse gastar dinheiro, ele vinha, pesquisava, até ele pedir a revista, porque a revista vinha de duas formas, vinha pela Suets e vinha pela Facsom, a Suets vinha de avião, um pouco mais caro, e quem assumia isso daí era o OPAS, Organização Pan-americana da Saúde, e vinha de navio pela Suets. Só que muitas vezes a revista, não era todas, muitas vezes ela vinha no porão do navio, muitas vezes entrava água, alguma coisa, a revista muitas vezes chegava colada, era ruim por causa disso, não era todas, mas tinha lote que vinha que acontecia isso daí no navio. Esse processo todo, eu sabia informar para o usuário no balcão, quando eu trabalhei lá no balcão de atendimento, direto com os médicos, eu sabia dar toda essa informação pra ele: “Vem de avião essa daqui”, não sei o que, porque vinha sempre as siglas, se era compra Facsom ou Suets. Aí ele vai falar: “Ah, mas essa revista está demorando demais”, eu falei: “Ah, essa daqui veio pela Facsom, ela veio por navio, ela demora um pouquinho mais do que a outra, então eu já sabia dar toda essa informação. E foi assim, cada vez mais diminuindo, hoje em dia é tudo online, as pessoas, que demoravam quase, a revista pra sair dos Estados Unidos, da Europa, e até chegar aqui, mesmo sendo de avião ou não, demorava mais ou menos quase um mês, um mês e pouco. Hoje em dia o pessoal pede online e ainda reclama, a revista está disponibilizada, muitas vezes o artigo aí, o cara acabou de publicar agora, hoje, ele já quer o artigo e aí reclama, naquele tempo os médicos não tinham o que reclamar muito, né?
P/1 – Quanto tempo você trabalhou na Bireme?
R – Na Bireme mesmo eu trabalhei acho que uns dez anos, mais ou menos, na Bireme, depois passamos a ser estatutário, ser da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp, aí eu fiquei trabalhando até a minha aposentadoria, trabalhei 37 anos lá, aí eu saí, agora, dia primeiro de julho de 2013 eu saí.
P/1 – Você deve ter passado, imagino, por diversas funções nesses 37 anos.
R – Quase todas, desde pegar revista, enfim, trabalhei na OPAS, porque tinha um setorzinho lá, uma salinha assim, que era da OPAS-OMS, eu trabalhei nesse setor, a Lurdes e a Zuleica era minha responsável, as duas que trabalhava mais tempo lá, eu tinha entrado novo, então eu trabalhei lá nesse setor. Trabalhei no setor de balcão, de atendimento ao médico, direto, no xerox, enfim, eu trabalhei em quase todos os setores ali dentro.
P/1 – Quando você se aposentou, você estava trabalhando em que área?
R – Eu estava trabalhando no levantamento bibliográfico quando me aposentei, fazendo assim, tinha uma, eu saía, não era desvio de função, porque eu saía, depois de um certo horário, a gente ia lá pro caixa, eu ficava no caixa. Até que era bom pra mim, porque bem antes de eu me aposentar como bibliotecário, eu saía daquele serviço que eu estava fazendo, de fazer o levantamento para o médico, diretamente com ele, era como se fosse um refresco, eu ia lá e ficava trabalhando no caixa um período.
P/1 – O que é esse trabalho no caixa?
R – No caixa, porque a gente, antigamente, tinha o pessoal que tirava xerox dos livros e revistas, hoje em dia está proibido, então a gente fazia essa parte e a gente cobrava, era o quê? Era centavos, acho que era 15 centavos, dez centavos, alguma coisa assim 13 centavos. De vez em quando tinha um problema lá de troco, que a gente ia buscar no banco, muitas vezes não tinha um centavo, alguma coisa assim, e o usuário queria, a gente se estressava muito às vezes por causa disso, por causa de um, dois centavos que o usuário queria. A gente não tinha troco, a gente muitas vezes devolvia cinco centavos pra ele por causa do negócio, mas tinha usuário que não esquentava a cabeça, já tinha outros que queriam o dinheiro, mas era, a gente se estressava muito. Esse meu colega, Paulo, ele ficou com pressão alta por causa disso daí, ele se estressava muito com isso daí.
P/1 – Como é que foi se aposentar pra você, Reinaldo, depois de 37 anos trabalhando no mesmo lugar, como é que você se sentiu, como é que foi?
R – Eu pensei que eu ia sentir muito, primeiro que, quando eu me aposentei, eu saí, fui de férias na casa dos meus primos, como todo ano eu vou pra lá, no interior de São Paulo, uma cidade chamada Itararé, eu fui pra lá, fiquei um mês lá, sabendo que eu estava aposentado. Então aquilo lá, não caiu minha ficha porque era de costume tirar férias e ir pra lá, quando eu cheguei aqui que eu falei: “Agora vai pesar o negócio”, não, muito pelo contrário. Como diz o meu colega Antônio, que ele se aposentou um pouquinho antes que eu, eu peguei, nós pegamos uma carta de alforria, porque muitas vezes você no serviço, preso, querendo fazer um monte de coisa, não podendo, e você muitas vezes, uma, duas, três horas, você pudesse sair e resolver aquele probleminha e voltar, né? Coisas que a gente fazia quando eu estava com os meus amigos lá em cima, a Marli, o Batista, a Décia, a gente era como se fosse uma família lá dentro, ninguém sabia, a chefia não sabia, não sei mais o que, se a Décia tinha que resolver um problema, ela saía, voltava, a gente guardava revista dela, a gente fazia a pesquisa dela, a gente fazia tudo por ela, pra ninguém sentir a falta dela. Hoje em dia já não existe mais isso daí mais, não existe, essa família não existe mais.
P/1 – Teve alguma despedida, você fez uma despedia da Bireme?
R – Fiz, fiz uma despedida, não trouxe fotografia, eu tenho fotografia na câmera.
P/1 – Como é que foi essa despedida?
R – Foi ótima, foi ótima, eu convidei as pessoas que estavam mais próximas, a Cláudia Cavalcante, que é uma amigona muito grande lá, o Marcos Garret, que é esse daí que fala sobre o Atari, ele é muito amigão meu. Agora tem poucas pessoas que eu conheço lá, tinha a Ana, que ela não está mais lá, a Roseli, ela está pra sair. Enfim, são poucas as pessoas que tem lá agora, porque o resto é quase tudo novo que está lá, que fizeram concurso, entraram e não sei mais o que.
P/1 – E aí, depois que você se aposentou, Reinaldo, como é que você organizou, assim, o seu cotidiano, você passou a fazer alguma coisa diferente, o que você faz hoje em dia?
R – Na verdade, eu ainda, eu estou cuidando da minha mãe, que nem eu falei, ela nasceu em 24, no ano de 24, ela está com, vai fazer 90 agora, dia 21, eu estou cuidando dela. Ela sempre foi uma mulher independente, sempre foi, ela não gosta de eu ficar muito do lado dela, que nem ontem, eu fui na Lapa com ela, passear, tudo, assim, mas é uma senhora de idade. Se ela cair, caiu, ela não tem como segurar o corpo dela, então eu fico sempre do lado e ela não gosta, mas eu vim aqui depois que eu me separei, eu vim, fiquei aqui com ela e estou aqui, né? Eu gostaria de trabalhar, mas enquanto ela está viva eu não vou trabalhar, quando ela for, se o mercado de trabalho ainda me quiser em alguma coisa... Eu faço alguns trabalhos pra alguns médicos da escola, eu faço alguns trabalhos, claro que eu cobro, mas é poucos, muito pouco, mas, assim, eu recebo.
P/1 – Que tipo de trabalho?
R – As mesmas pesquisas que o pessoal fazia comigo lá, as mesmas pesquisas, né? Tem um pessoal que trabalha com o Doutor Laranjeiras, que é, que ele fala sobre entorpecente, todo esse pessoal pede pra mim, então eu faço o trabalho, cobro, fico com a minha mãe, a hora que ela tem que ir pro médico, não é um trabalho, assim, que vem toda hora, é muito pouquinho, mas eu fico no meu computador fazendo, quando eles pedem, eu faço, vou, entrego, mando, enfim.
P/1 – Eu quero voltar um pouquinho, Reinaldo, pra questão do seu casamento, eu queria saber, assim, como é que você conheceu a sua ex-esposa.
R – Eu conheci num casamento da minha prima, que eu fui lá nessa mesma cidade, chamada Itararé, eu conheci ela, na verdade eu vinha embora naquela noite, acho que era naquela noite, eu tinha uma passagem pra meia-noite, o meu tio adotivo estava lá e não tinha comprado passagem. Aí o Roberto, meu primo, ele estava namorando a irmã dela, me apresentou, eu comecei aí o namoro e daí eu passei a passagem pro meu tio, isso foi acho que em 90, mais ou menos, por aí, 90, 91, 92, por aí. Nós fomos num baile à noite lá no sítio. Daí o meu primo falou pra mim assim: “Ó, não é hora de você conhecer o pai dela ainda e a mãe”, que foi o primeiro dia, ele falou assim: “Outro final de semana a gente vai”. Aí ele falou assim: “Me espera aqui”, que ele levou a irmã e ela pra casa e de lá ele pegou eu, levou eu pra cidade, que é mais ou menos uma distância de 26 quilômetros, me levou pra cidade, peguei o ônibus e depois eu vim pra São Paulo. Essa vida eu fiquei, eu trabalhei, enquanto eu estava namorando com ela, eu trabalhava também no Colégio São Luís, aqui na Haddock Lobo com a Paulista, eu tinha dois empregos, eu saía da Bireme, que trabalhava até às cinco, seis horas eu entrava aqui e ficava até às 11 horas, eu fiquei durante cinco anos assim, fazendo esse serviço no Colégio São Luís.
P/1 – Em biblioteca também?
R – Em biblioteca também, tinha a bibliotecária lá, eu entrei como auxiliar dela, porque eu não queria, porque lá tinha uma bibliotecária só, eu não ia bater de frente com ela, então eu falei: “Não, vou ficar como auxiliar”. Aí eu fiquei como auxiliar, e na época também eu estava fazendo Biblioteconomia, eu não estava formado, então eu não podia ser bibliotecário também, e eu fiquei lá durante esses cinco anos. Eu saía do Colégio São Luís, pegava a passagem, eu ia pra Itararé, viajava a noite inteira, até o tio dela falou assim pra mim, que tinha namorado lá no interior mesmo que não ia todo final de semana, eu ia todo final de semana. Chegava sexta-feira, eu saía do São Luís, pegava a passagem, já tinha comprado a passagem antecipadamente, que era à meia-noite, eu chegava lá era cinco e meia da manhã, mais ou menos, cinco e meia, seis horas, pegava o ônibus e ia pro sítio do meu primo e depois, que ele trabalhava toda noite, daí a gente ia lá na casa dela. Depois que ele casou, eu já tinha comprado um fusca, daí eu ia mesmo sozinho pra lá, chegava lá no sítio, tal, pegava o meu fusca e ia pra lá, né, fiquei nesse período mais ou menos uns três anos, por aí, namorando, depois eu casei.
P/1 – Quando que vocês decidiram se casar? Você fez um pedido de casamento, como é que foi?
R – Fiz, fiz pro pai dela, porque era de praxe, fiz pro pai dela.
P/1 – E como é que foi o dia que você fez o pedido?
R – O pai dela sentou bastante, ele, eu percebi que ele chorou, não na minha frente, ele foi lá pro pasto, lá eu percebi que ele sentou numa pedra, abaixou a cabeça, acho que ele estava chorando, que ele sabia que a filha dele vinha pra São Paulo, nunca tinha saído de lá, veio pra São Paulo. Eles tiravam leite, era ela e mais duas irmãs, tiravam leite, a quarta irmã ficava, ela não gostava de tirar leite, então ela ficava em casa fazendo café, lavando louça, isso e aquilo, e eles vinham tirar o leite. Sete horas da manhã o caminhão passava no sítio, podia estar chovendo, podia estar frio, podia estar calor ou o que, sete horas da manhã o caminhão passava lá, pegava o tambor e ia pra cidade.
P/1 – Eles eram produtores de leite, a família dela?
R – De leite, e a vida sacrificada dela, né?
P/1 – Como que era o nome dela?
R – É Rosângela o nome dela.
P/1 – E aí como é que foi o casamento de vocês, Reinaldo?
R – No início foi bem.
P/1 – Não, mas digo a cerimônia, assim, o dia do casamento.
R – Foi feito lá, lá no interior mesmo, porque, se fosse feito aqui em São Paulo, olha só, eu teria que pagar a igreja de lá, arquidiocese de Itapeva, a de Sorocaba, a Sé, a minha igreja que eu queria casar, se eu quisesse trazer ela pra cá, eu indo pra lá eu pagava só a igreja deles, então eu fiz lá.
P/1 – E como é que foi o dia do casamento, o que você se lembra?
R – Foi bom, foi assim, teve dois casamentos antes, ia casar eu, de São Paulo, e uma moça do Rio de Janeiro lá também, a minha irmã, combinamos com a moça do Rio de Janeiro, porque era a única que tinha condições de pagar, era eu e ela, as flores pra fazer o enfeite da igreja todinha. Mas, que nem o diácono lá, a pessoa que arrumava a igreja, falou: “Não dá pra colocar”, porque as outras duas eram pobres, não tinham como assumir aquela despesa, e daí eles transferiram o nosso casamento pra o final, porque a igreja já ia ficar montada, eles não pagariam nada, só quem ia pagar era eu e o pessoal do Rio, né? Aí nós pagamos tudo e foi feito os dois casamentos primeiro, abriram uma exceção, não sei se pro Rio de Janeiro, mas pra mim abriram uma exceção, o cartório de lá, porque o cartório de lá, você casa na sexta pra fazer o casamento no sábado. Então o cartório falou o seguinte: “Vocês casam no sábado, a gente vai ficar com o cartório aberto, isso nós estamos abrindo uma exceção porque você é de São Paulo, você saiu da igreja, não cumprimenta ninguém, saiu da igreja e vai direto pro cartório, assina as papeladas e pronto e acabou”, porque daí estava no civil. A única intercorrência foi isso daí, saímos da igreja, fomos, que o cartório era pertinho, na rua debaixo, fomos lá no cartório, assinamos tudo, eu levei os padrinhos, tudo, assinou e de lá nós pegamos o carro, daí foi feita a festa no sítio do pai dela.
P/1 – E aí como é que foi a festa?
R – Cerveja, muito refrigerante, comidas em geral, tudo, ele chegou a matar acho que um ou dois bois, porque, como é filha, ele, o pai é que tem que pagar, lá no interior. Eu fiz a minha festa um dia, dois dias antes, lá no sítio do meu primo, quem pagou foi, isso era pros meus convidados, porque lá no sítio eles separam, só no dia do casamento que eles vão pra uma casa só, no caso a dele. Nós fomos pra lá, fizemos a festa, os parentes quase todos daqui de São Paulo foram pra lá, quem tem mais condição foi pra lá, no sítio, fizemos o casamento no sítio. Um fato pitoresco, o sanfoneiro, não tinham ninguém que levasse ele pra cidade, aí nós colocamos ele no meu fusquinha mesmo, levei ele lá, daí até o meu primo falou assim: “Agora você vai levar mais um na lua de mel”, não, porque a gente levou o sanfoneiro lá pra cidade, que ele morava perto da rodoviária e de lá nós fomos. Aí eles queriam saber onde que a gente ia ficar, que a cidade tinha o quê? Quatro hotéis só, é pequena, e um motel, que fica na rodovia, aí eles queriam saber aonde que a gente ia ficar, aí a gente acabou enganando todo mundo e ficamos no Hotel Globo, um hotelzinho pequeno que tinha lá. E naquele dia choveu, porque antes, três, uma semana antes da gente casar, mas chovia, chovia, chovia, chovia muito, aí o costume deles lá, eles colocaram um ovo no palanque, naqueles mourão, pra ver se a Santa Clara parava de chover naquele dia do casamento, porque estava chovendo muito, muito mesmo, e deu certo. No dia do casamento não choveu, ficou nubladão o tempo, não choveu nada, teve a festa, tudo mais, a noite inteira choveu, depois disso a noite inteira choveu, e eu com o meu fusquinha vinha voltando pra ir na casa da mãe dela. Eu, inexperiente em um lugar de terra, estava descendo um barrancão, uma ladeirona assim, de terra, tinha uma valeta do lado, assim, meu Deus do céu, na hora que eu pisei, pra que paulista vai fazer isso? Pisar no freio no barro, pra quê? O fusca começou a pegar o sentido que ele ia indo praquelas valetas, eu estava voltando, estava chovendo, nem trator tesava passando, eu descendo, o trator estava subindo e eu descendo com o fusca, eu pisei no freio, pra quê? Não faça isso, aí eu pisei no freio, eu vi que eu ia, ainda bem que o fusca pegou uma valeta de água de enxurrada, que ele grudou a roda dele ali e foi embora, e nós viemos assim, o barrancão do lado, assim, pro fusca cair, passamos por ali, fomos, subimos. O único pitoresco que aconteceu foi isso daí na volta, e depois, pra ela se despedir da mãe e do pai, que ela nunca tinha saído de lá, foi um sufoco, chorava muito, muito, muito, muito mesmo. Aí saiu, chegamos aqui em São Paulo, na Zona Norte, onde que ela está com o filho até hoje, ali no Jardim Peri, perto do Horto Florestal, ela nunca tinha vindo aqui, eu sempre mostrava o apartamento pra ela de fotografia, porque ela nunca veio pra cá, nunca. Ela falou: “Não, está bom, qualquer lugar que você for está bom”, eu falei: “Mas você nem conhece direito, você conhece só por foto”, mas ela veio, gostou, era no alto, 16º andar, pra quem sempre ficou lá embaixo, na terra, 16º andar, no início não chegava nem perto da janela, depois foi se acostumando, se acostumando. Uma coisa que também me chamou a atenção, eu pensei que ela nunca ia dirigir em São Paulo, nunca, hoje em dia ela está com o carro dela, ela é cabeleireira, ela tem o carro dela, dirige, nunca ela dirigindo e eu do lado, mas pelo jeito dirige muito bem, porque não bateu, não aconteceu nada de, até agora, então tirou a carta dela, eu pensei que ela nunca fosse dirigir em São Paulo, que ela falou pra mim que nunca ia dirigir. Lá no interior, no meio do mato, pra dirigir isso daí já estava difícil, ela falou: “Não, aqui já está”, quando ela via algum carro no meio da estrada de terra, já achava difícil, eu falei: “Imagina em São Paulo”, não, hoje ela dirige muito bem. Ela nasceu em 71, está com 43, 44 anos, e ela tirou carta nos últimos o quê? Dez anos da vida dela, ela tirou carta, dirigiu, comprou o carrinho dela.
P/1 – Esse apartamento que vocês foram morar juntos era seu, na zona norte?
R – Meu, meu. Depois que nós se separamos, como o valor era muito baixo, tanto pra mim como pra ela, mesmo na hora da partilha, nós achamos de comum acordo deixar pro meu filho, está pra sair a carta de sentença já, eu já fui lá assinar no cartório, fiz quase tudo. Meu advogado falou que em questão de um mês mais ou menos, no máximo um mês, vai sair essa carta de sentença, aí eu tenho que ir no cartório, registrar e passar pro nome dele já, porque já está em nome dele, de comum acordo passamos pra ele
P/1 – Quanto tempo faz que vocês se separaram?
R – Me separei em 2004, vai fazer dez anos, eu me separei em junho de 2004, então já fez dez anos, e ficamos juntos 15 anos.
P/1 – Depois que vocês casaram, Reinaldo, quando que veio a notícia da gravidez, assim, quando é que vocês descobriram que estavam grávidos?
R – Ah, não, não, logo depois, dois anos depois que a gente estava casado, até o tio dela, muito maldoso, lá no interior, que toda pessoa que casa lá no negócio pensa que está grávida já, que vai casar, demorou dois anos, dois anos e meio, pra depois a gente ter o filho. Então o meu filho, ele nasceu em 94, ele tem 20 anos agora, ele vai fazer dia 19 agora 20 anos, Igor.
P/1 – Como é que foi quando vocês souberam que ela estava grávida, como é que foi essa notícia?
R – Ah, foi boa, porque pra nós, a gente estava ansioso também, porque a gente, que nem o tio dela falou: “Não vai vir o filho agora?”, não sei o que, porque ele pensou que a gente estava casando porque estava grávida, depois eu falei: “Não, a gente está tentando”, mas foi muito bacana, né? Uma das coisas também que eu senti muito foi que eu estava trabalhando, porque lá no serviço era meio chato a gente sair, não sei mais o que, o pessoal lá reclamava muito da gente sair, quem acompanhou isso daí foi a minha irmã. A minha irmã, ela acompanhou ela no dia, o médico tinha dado dois dias pra fazer o exame, já pra saber se ia nascer ou não, porque uma semana antes a gente foi pra Ibitinga, ela estava com nove meses, a gente foi pra Ibitinga, o barrigão desse tamanho, foi pra Ibitinga. Aí a gente estava preocupado, daí a minha irmã falou: “Cuidado, pra ver se essa criança não vai engolir mecônio, alguma coisa assim”, porque a gente já estava na data limite já, aí ela pegou e levou no médico. O médico eu até uma bronca nas enfermeiras, no pessoal de lá, porque ele morava perto, foi ali no Dom Silvério Pimenta, ali na Voluntários da Pátria, perto da caixa d’água, então daí o médico morava num prédio pra baixo, ele falou assim: “Não, faz o parto dela agora”. Quando ele chegou no hospital, falou: “Eu não sei porque vocês já não fizeram”, que ela já estava começando a engolir, ele falou: “Faz o parto dela agora”, fez cesárea.
P/1 – Engolir o quê?
R – Mecônio, porque a criança não pode engolir aquela, seria o negócio fecal, não pode, porque senão ele fica com retardo mental, se eu não me engano, é alguma coisa assim, acontece. Ele falou: “Faz agora a cesárea”, aí fez, nasceu, aí ela reclama até hoje comigo de eu não ter acompanhado ela, porque o costume lá no interior, porque lá no interior é diferente. Você aqui em São Paulo, você é empregado, a maior parte você fica no serviço, você, quando vai, a mulher vai ter o nenê, lá no interior o pessoal dois dias antes já está no hospital com a pessoa, o marido, porque lá eles produzem o leite, eles produzem a cana, produz isso, se eles deixarem de produzir, o problema é deles, aqui não, aqui é diferente. Até hoje ela reclama por causa disso, de eu não ter ficado com ela no dia, mas foi minha irmã, daí, quando eu soube da notícia, eu saí do serviço e vim pro hospital.
P/1 – E aí como é que foi ver o seu filho pela primeira vez?
R – Foi muito bom, foi ótimo, foi uma correria também, porque tive que fazer o negócio do, pra tirar a criança do hospital eu tinha que fazer o registro de nascimento primeiro, senão eu não tirava. Fui, fui lá na Amaral Gama, tem um cartório ali perto da Alfredo Pujol, que era o mais próximo dali, que eu tinha que fazer lá, fui lá, registrei e tudo mais. Quando eu chego no hospital, meu filho está com icterícia e eles não liberavam, a minha esposa não queria sair do hospital, ficar com ele, porque ela em hipótese alguma queria sair, ela estava liberada. O que eu fiz? Eu tive que pagar pra ela ficar do lado dele, ele ficou quase uma semana, aí que ele melhorou, daí ele veio pra cá. Quando eu chego em casa, um fato também pitoresco, um carro caiu no meio da escadaria, porque tinha uma rampona que descia e não tinha guardrail, uma Brasília caiu, a mulher acho que não soube brecar, alguma coisa assim. Ela estava subindo, vinha entrando um caminhão, diz ela, as pessoas, né, e ela se assustou, soltou a Brasília, não é que a Brasília me cai onde que o pessoal passa, na escada? Era grande ali, ela pegou e virou o carro assim, capotou e caiu, foi nesse dia aí, isso daí também não me esqueço. Aí fiquei em casa aquele dia, tirei, na Escola Paulista eles deram acho que oito dias, sete dias, uma semana, eu fiquei em casa, aí fiquei lá com ela.
P/1 – Como é que foi ser pai, Reinaldo? O que mudou na sua vida?
R – Mudou bastante coisa, mudou bastante coisa, tudo eu fazia pra ele, eu até esqueci ela um pouco, tudo era ele, não sei mais o que, tal. Depois ela, como ela já tinha bastante seio e a barriga dela ficou flácida, eu consegui, numa dessas pesquisas, eu consegui que uma pessoa, uma santa doutora, esqueci o nome dela agora, eu levei lá no hospital no Ipiranga, acho que João XXIII, alguma coisa assim, lá no Ipiranga, e ela que fazia a seleção das mulheres que queriam fazer pelo SUS a operação.
P/1 – Qual operação?
R – Do seio e da barriga, porque a barriga dela ficou como se fosse um maracujá, e o seio dela, como ela já tinha seio grande e já estava pesando nas costas dela, então eu tinha que diminuir. Essa médica, essa pessoa que foi lá, ela encaminhou ela, eu fui com ela lá e ela conseguiu, daí o médico chegou pra ela, porque era pelo SUS, ela falou assim: “Não é cirurgia estética, já que a gente vai mexer, o que você quer mexer primeiro, a barriga?”, não ele perguntou pra ela primeiro: “Você quer mexer o seio primeiro ou a barriga?”. Aí ela falou assim: “Não, eu quero mexer, vamos supor, a barriga”, daí o médico falou: “Eu aconselho melhor você mexer no seio primeiro”, aí ela mexeu, falou assim: “Já que a gente está fazendo a operação, que sutiã que você quer colocar?”, daí deu, ele falou assim: “Você escolhe o tamanho do seio que a gente vai mexer”. Fez a operação, saiu beleza, sem problema nenhum, e depois fez da barriga, a barriga que eu achei mais, assim, sacrificante dela, porque ela tinha que dormir em casa depois numa posição que o travesseiro ficava debaixo das pernas, assim, de frente, ela não podia virar de lado, porque, quando ela fez a barriga, ele não fez lipo, ele abriu aqui, puxou a pele, tirou toda aquela gordura, esticou a pele, tirou o umbigo, colocou de novo, tal. Então, quer dizer, ela não fez lipo, ela abriu de ponta aponta aqui, tiraram toda aquela gordura dela, e o médico avisou: “Não engorda mais, porque não tem da onde esticar mais, porque nós esticamos tudo”. Enfim, ela ficou como se ela não tivesse filho, colocaram o umbigo nela, mas ela fez duas cirurgias e não paguei nada, graças a Deus, então, mas foi isso daí basicamente. Depois teve a separação, ela ficou lá de, como é que é? Ela está ainda com o meu filho, mas, de repente, se ele resolver casar, eu não sei o que ele pode fazer, mas ela está lá ainda com ele. Ele está estudando, ele está fazendo hoje, estava, eu não sei se ele ainda está, na FIAP, faculdade de Informática ali na Lins Vasconcelos, mas ele está querendo fazer a FATEC, ele descobriu que agora o negócio dele é outro, mas tudo bem, está novo agora, 20 anos, eu vou ver ainda o que que a gente pode fazer.
P/2 – Na volta, assim, da sua adolescência, sua infância ou até hoje, assim, o esporte tem algum significado pra você, algum tipo de esporte que você brincava muito ou gosta até hoje?
R – Não, sim, eu não brinco hoje, eu sinto saudade daquele tempo, uma das coisas que eu fiz por intermédio do meu filho, não sei se vocês conhecem krav maga, é uma arte marcial israelense de defesa pessoal, eu parei agora, eu sinto ter parado, mas eu gostaria de uma outra possibilidade de continuar, ali na Pompéia, lá em cima, na Pompéia.
P/2 – Jogava futebol?
R – Eu cheguei a jogar futebol, muito pouco, era ruim pra danar, normalmente o pessoal jogava eu pro gol, eles viam que não dava certo ali na linha e jogava pro gol, no gol eu também não adiantava, porque eu tomava gol, mas eu joguei muito pouco, né? E era isso daí, a última coisa que eu estava fazendo era krav maga, eu tenho umas, problema no joelho, isso daí talvez, eu estou fazendo uma fisioterapia na Escola Paulista, mas isso daí talvez me atrapalhou um pouco, mas eu gostei, eu gosto dessa arte. O meu mestre lá, o Avigdor, também ele é muito disciplinador, inclusive ele ajudou muito o meu filho na disciplina dele, uma das coisas que eu sempre pedi pro meu filho, não sei se ele vai fazer ou não, eu peço que não, três coisas, acho que foi três coisas que eu pedi pra ele: não fumar, não colocar piercing e não colocar tatuagem. Eu falei: “Filho”, isso desde, acho que ele tinha o quê? Uns 12, 13 anos, eu falei pra ele: “Filho, daqui a pouco, quando você completar 19 anos”, que ele já tem agora quase 20, eu falei: “A gente não tem como comandar tua vida”, eu falei assim: “Mas eu te peço, eu te peço, eu não estou impondo, eu te peço, não faça isso”. Graças a Deus, até agora ele não fuma, eu não vi piercing nele e não vi tatuagem ainda, pode até ser que ele tenha, eu não vi, né? Ele está agora trabalhando numa empresa de, atualmente, eu fui até domingo agora buscar ele, porque não tinha ônibus, tem o ônibus da empresa, mas o ônibus que ele vai pra casa dele não tinha, é ali no Hotel.com, ali na Lapa de Baixo, é uma firma grande, enorme. Eu nunca tinha ido lá, eu fui à noite, tal, cheguei lá era umas 11 e meia, esperei ele sair meia-noite, porque ele está agora no horário das cinco e meia até meia-noite, aí eu levo ele pra casa, nesse domingo eu levei, tranquilo, sem problema nenhum. Até ele perguntou pra mim se de vez em quando dá pra mim ir buscar ele, eu falei: “Sem problema nenhum, eu sou teu pai, eu vou te buscar, a hora que der eu vou te buscar”, porque no domingo, se eu não me engano, eu acho que o ônibus dele não tem e lá ele não tem folga, a folga dele foi sábado. Ele nunca tinha trabalhado de domingo, quando ele percebeu que não tinha ônibus, ele já tinha visto pelo computador, aí eu peguei e fui buscar ele, né, e só isso daí, eu não sei se faltou mais alguma coisa.
P/1 – Tá ótimo, eu vou fazer as duas últimas perguntas finais pra você, a primeira é: quais são seus sonhos?
R – Eu tinha um sonho de comprar um apartamento, comprei esse daqui aonde que estou agora, eu comprei ele, e segundo, eu gostaria de comprar algo a mais, carro, eu não penso tanto no carro, eu pensaria em comprar alguma coisa no interior. Eu tenho que sempre ter uma perspectiva pra eu ter alguma coisa, fazer alguma coisa, se der certo, deu, se não der certo, estou muito bem aqui, reformar o apartamento, eu quero reformar, por isso que também, se não der certo lá, aqui eu vou reformar. Então é uma meta que eu tenho e essa meta, uma coisa que eu sempre aprendi com a minha mãe, se você tem, você gasta, se você não tem, não gasta, porque eu vejo muita gente se enrolar com cartão de crédito. E ela sempre me ensinou uma coisa, se você quer um objeto, essa cadeira, esse projetor, essa câmera, se você tiver dinheiro, você compra, não queira fazer prestação, porque, se você faz uma prestação aqui, depois você faz uma ali, faz uma ali, de qualquer forma, uma hora que chega a fartura do cartão de crédito, você vai ter que pagar. Se você não pagar o total, se você pagar só o mínimo, o que vai acontecer? Tudo aquilo que você pagou o mínimo vai voltar o mês que vem, vai está o dobro e você não vai conseguir e vai virar uma bola de neve, então vai por partes, quer comprar uma casa ou um apartamento, eu agora estou com o apartamento, então eu não posso me enfiar em dívida, eu tenho que ficar no apartamento. Quando eu tiver quase na mais da metade do apartamento pago, aí eu posso ir, eu gostaria de viajar, mas que adianta eu viajar? Vamos supor, eu vou pra Natal, saio de Natal, vou pra, o outro mês ou então daqui seis meses, eu vou pra Rio Grande do Sul, eu vejo na TV muitas vezes assim, ah, você, está certo que o pessoal pode chamar de pão duro, mas não é pão duro. Você vai ficar pagando uma viagem em dez vezes, vamos supor, pro Rio de Janeiro, que é mais baratinho pro Rio de Janeiro, mas Natal, que é um pouco mais longe, Fortaleza, você vai ficar pagando uma prestação de 500 paus, sabendo que daqui a um ano você vai viajar de novo, vai acumular outra prestação de dez meses, 12 meses pra você ficar pagando. Eu gostaria de pelo menos ter um dinheiro pra você ir fazer o que você tem que fazer e voltar sem dívida, eu compro minhas coisas, compro TV, compro um negócio assim, eu pago à vista, porque você pode até negociar. Você chega, negocia, fala assim: “Se eu pagar tanto, você tem como abaixar isso aqui?”, eu fiz isso daí com uma TV e vídeo, há muito tempo atrás, o meu filho viu isso daí. Eu comecei a brigar na FastShop, lá dentro da zona norte mesmo, no Center Norte, tem acho que quatro ou cinco lojas, Bahia, Extra, Fast, não sei mais o que, a Centauro e mais, aí comecei a brigar por preço, fui lá, não sei o que, tal, tal. Eu chegava, eu ia com o cartãozinho, aí diminui cem pau, o outro diminuiu 200, o outro 300, não sei mais o que, chegou na Fast, o cara falou pra mim assim: “Pra você não sair daqui eu vou diminuir 500 paus”, pronto, aí chegou ao que eu queria, aí eu fui lá e comprei. Eu estava com o dinheiro, mas é uma lição de vida que eu aprendi com a minha mãe, se você tiver dinheiro, você gasta, se você não tiver, não gasta, porque você ficar pagando prestaçãozinha aí, empréstimo, você tá perdido, é uma lição de vida dela.
P/1 – A última pergunta. Como foi contar a sua história?
R – Foi ótimo pra mim, porque eu queria escrever um livro, como acho que eu não tive a possibilidade de escrever um livro ou eu não tive contatos suficiente pra mim escrever um livro, eu quero pelo menos deixar isso registrado em algum lugar. E eu sempre passando aqui, eu vi, não sabia o que que era, gostei do trabalho de vocês e pelo menos esse registro vai ter.
P/1 – Tá bom, Reinaldo, muito obrigada.
R – De nada.
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