Projeto Unimed Brasil 40 anos
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Orestes Barrozo Medeiros Pullin
Entrevistado por Maria e Maurício
São Paulo, 27 de fevereiro de 2007
Código: UMBR_HV003
Transcrito por Suely Aguilar Branquilho Montenegro
Revisado por Gustavo Meneses
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Projeto Unimed Brasil 40 anos
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Orestes Barrozo Medeiros Pullin
Entrevistado por Maria e Maurício
São Paulo, 27 de fevereiro de 2007
Código: UMBR_HV003
Transcrito por Suely Aguilar Branquilho Montenegro
Revisado por Gustavo Meneses
P/1 – Bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Vamos começar perguntando seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Orestes Barrozo Medeiros Pullin. Nasci em Londrina, em 27 de junho de 1953.
P/1 – Qual a sua atividade atual na Unimed?
R – Atualmente, eu sou o presidente da Federação das Unimeds do Estado do Paraná.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Orestes Medeiros Pullin e Rita de Cássia Barrozo Pullin.
P/1 – Qual é/foi a atividade profissional dos seus pais?
R – Meu pai era farmacêutico e a minha mãe foi professora.
P/1 – A origem da sua família?
R – Bom, a origem do meu pai, ele é catarinense, do Sul do estado de Santa Catarina, da região de Criciúma, Nova Veneza. Ele é filho de um imigrante italiano que foi pra aquela região pra trabalhar como contador nas minas de carvão. Ali, meu pai nasceu, e, posteriormente, a família se mudou pra São Paulo. Então, meu pai teve a formação dele como farmacêutico em Niterói, no Rio de Janeiro; mas fixou-se em São Paulo, trabalhando no ramo de farmácia. Até que em 1900, entre 1938, ele foi pra região Norte do Paraná, que estava sendo aberta, e lá fixou a residência e conheceu a minha mãe. Lá eles se casaram e eu nasci. Minha mãe veio de Minas Gerais, a família dela é de Minas. Houve uma forte colonização da região Norte do Paraná de mineiros na década, comecinho da década de 40. E a minha mãe foi pra lá, nessa região, nessa época também.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho uma irmã.
P/1 – Na sua infância, o senhor se lembra um pouco da sua infância, da sua casa, onde o senhor morava?
R – Eu nasci, me formei e fiz o começo da minha vida, minha vida profissional, basicamente em Londrina, né, e Londrina, na época que eu nasci, era uma cidade ainda pequena, uma cidade de Interior; hoje, já é uma cidade grande. Mas eu tive uma, vamos dizer, a minha adolescência foi no final da década de 70, onde havia muito problema político, então eu tenho uma adolescência marcada pelo Regime Militar. Depois, quando eu entrei na faculdade, em 1972, nós também sofremos muito, mas já estava havendo algum sinal de abertura. Então, até a minha formatura, em 78, nós tivemos ainda alguma influência dessa, vamos dizer, da Ditadura na nossa adolescência e na nossa formação, mas foi normal como…
P/1 – O senhor se lembra de alguma brincadeira de criança, alguma coisa que o senhor possa nos contar?
R – Quando criança? Ah, nós tínhamos um… nós nos mudamos em 1962 pra uma região que é perto de um lago, lá em Londrina, que, na época, tinha bastante, mas era quase uma chácara. Nós criamos um grupo de amizades ali na região e tinha um grupinho que ficou famoso. Havia um local que se chamava Balãozinho. Balãozinho é onde confluíam algumas ruas e tinha uma pracinha no meio, e nós, a vida nossa como criança, era o pessoal; vivia ali. Nós tínhamos aquela região, aquela pracinha ali, como nosso ponto de referência, e nós fomos crescendo e todas as brincadeiras, desde criança, de primeiro de andar de bicicleta, os primeiros namorinhos, tudo aconteceu ali, naquela região, na turma do Balãozinho. Nós criamos um grupo e esse grupo até hoje se dá muito bem, que é o grupo do Balãozinho. A gente, de vez em quando, faz algumas reuniões. Alguns já morreram, uma parte se extraviou, mas uma parte ainda tá firme lá, e a gente consegue um relacionamento bom com esse grupo, né? Essa é a lembrança minha de infância mesmo.
P/1 – Ah, que legal. E a sua escola? O senhor tem alguma lembrança da escola, onde o senhor estudou?
R – A escola, seja no grupo escolar, seja na formação, na faculdade, eu fiz toda em Londrina, então as pessoas com quem eu convivi naquela época, eu ainda convivo. A minha filha vai se casar agora, dia 27, 28 de julho, e o tio do futuro marido dela, do noivo dela, foi meu colega de grupo escolar. Então, eu vou na casa dele às vezes, tem almoço e a gente conversa; ou seja, foi meu colega de grupo escolar e a gente tem toda uma ligação. Então, eu fiz vários amigos que eu mantenho até hoje, dentro daquela época.
P/1 – E o senhor se lembra de qual matéria que o senhor mais gostava na escola, naquele tempo, da professora, alguma coisa, uma imagem daquela época de escola?
R – Ah, eu lembro que eu tinha uma professora de Português, chamava Dona Paulina, e eu gostava muito dela. Eu até era namoradinho da filha dela [RISOS], por isso que eu lembrava bem. Eu tinha interesse na matéria em razão disso, mas ela formou um grupinho de teatro e a gente fazia um teatrinho. Eu fui Dom Pedro I no teatrinho, né, então eu tenho várias lembranças daquela ocasião.
P/1 – O senhor tinha alguma matéria que o senhor gostava mais?
R – Eu gostava menos.
P/1 – Menos.
R – Matemática.
P/1 – Matemática, ah…
R – Menos. Sempre eu gostei menos, mas a matéria que me fez passar no vestibular foi Matemática. Mas era a que eu gostava menos na época.
P/1 – E o que influenciou o senhor pra sua carreira profissional hoje?
R – Olha, meu pai era farmacêutico formado. Ele tinha uma farmácia, uma das primeiras farmácias de Londrina. Ele sempre mexia com remédio a vida inteira. Ele trabalhou com remédio, e eu, desde pequeno, “pus” na cabeça que eu queria ser médico; eu não sei bem por quê. Talvez por tá dentro, vamos dizer assim, sentia o cheiro de remédio. Eu achava que ser médico, e isso, vamos dizer, nunca me passou pela cabeça não ser médico. Eu não tinha, nunca me passou. Aí, em razão disso, eu fiz vestibular, passei e…
P/1 – O senhor estudou onde?
R – Eu estudei faculdade em Londrina, na Universidade Estadual de Londrina.
P/1 – E se formou também lá?
R – Me formei lá, fiz minha Residência Médica lá, na área de Cirurgia, e sempre fiz a formação lá. Então, eu, desde pequeno, nunca me passou na cabeça ser outra coisa que não fosse fazer Medicina.
P/1 – E o senhor tem alguma lembrança da sua formatura, dos colegas?
R – Ah, tenho! Nós éramos um grupo grande. Nós éramos em 80 e a gente era um grupo bem unido, e a gente mantém até hoje. Pelo menos uma boa parte mantém ainda um relacionamento, um contato e, periodicamente, a gente tem alguns encontros de turma; a gente tem mantido esse contato. Mas era um grupo bom. Hoje tem vários deles no Sistema Unimed. Alguns colegas continuam colegas, né? Muitos fixaram-se na região lá de Londrina, então a gente tem bastante…
P/1 – Com quantos anos o senhor começou a trabalhar? O senhor deve ter feito Residência, né, o primeiro…
R – Pois é, eu fiz dois anos de Residência. Me formei em 1977, é, 78, e no ano de 79 eu fiz Residência. Eu comecei a trabalhar em 1980. Então, eu sou de 53, eu estava com 20 e…
P/2 – 27 anos.
R – Não, é, 27 anos. É, 26 pra 27 anos, né? Foi quando eu comecei a trabalhar realmente.
P/1 – E o seu primeiro trabalho foi onde?
R – Eu comecei a trabalhar como médico. Existe uma cidade que faz parte da Grande Londrina que é ao lado, que se chama Ibiporã. Eu fui chamado pra ser cirurgião em um hospital lá de Ibiporã, que é um hospital de caridade que tinha lá, e eu fiquei. Comecei a minha vida, então, lá em Ibiporã, no Hospital Cristo Rei.
P/1 – O senhor falou qual a sua especialidade?
R – Sou cirurgião; Aparelho Digestivo. Faço cirurgia geral, né, e depois a gente se fixou mais na área de Aparelho Digestivo. Depois, eu fiz Terapia Intensiva; trabalhei muito tempo também em Terapia Intensiva. Mas, é, minha formação, basicamente, é cirurgião.
P/1 – Como foi seu ingresso na Unimed?
R – Eu estava quietinho. Bom, a partir disso, deixa eu só completar um pouquinho a mais. Então, fui trabalhar em Ibiporã. De Ibiporã, eu também trabalhava em Londrina. Aí, o volume de serviço em Londrina aumentou a tal ponto, que eu tive que deixar o hospital em Ibiporã e me fixei em Londrina, trabalhando mais na Santa Casa. E eu, a partir daí, também comecei a trabalhar com Terapia Intensiva. Começou a se criar as Unidades de Terapia Intensiva. Eu fui um dos médicos que ajudou a criar isso em Londrina, a instalar as Unidades de Terapia Intensiva. Depois disso, eu também fui ser professor. Fiz concurso pra universidade em Terapia Intensiva; montamos um departamento de Terapia Intensiva na Universidade Estadual de Londrina, criamos todo o curso de Residência Médica, e eu estava quietinho no meu canto, em 1979. Não, desculpa, 1989. É, mês de fevereiro, mais ou menos. Estava quietinho lá na Terapia Intensiva da Santa Casa e passou um colega, um grande amigo meu, cirurgião também, que a gente trabalhava junto, o Weber, e o Weber falou: “Escuta, você não quer fazer parte? Eu tô montando um grupo pra Unimed, pra administrar a Unimed. Você não quer fazer parte?”, eu falei: “Ah, Weber, eu tô bem aqui na Unidade de Terapia Intensiva”. Na época, eu era até o coordenador da unidade lá, e ele falou: “Não, você é bom de administração, você administra bem aqui a unidade. Você não quer ir ajudar a gente?”, eu falei: “Ah, vamos, né?”. A partir daí, nós fizemos algumas reuniões, montamos um grupo e ganhamos a eleição pra Unimed de Londrina, em 1989. O Weber, esse meu colega, foi ser o presidente. Aliás, devo a minha entrada na Unimed a ele, que me chamou. Eu estava em um cantinho, ali, e eu passei a ser o diretor administrativo, e que, depois, virou superintendente da Unimed Londrina. E eu fui ficando. O Weber depois saiu, e eu, a partir daí é que eu continuei no sistema; ou seja, acharam que eu tinha jeito pra coisa, e eu fui ficando.
P/1 – E quais as dificuldades que o senhor encontrou nessa implantação quando o senhor começou na Unimed?
R – Em 1989, quando nós começamos, as cooperativas, elas, a Unimed de Londrina foi a quinta cooperativa a ser criada no país. Ela é a 005, criada em 1971. Então, a Unimed de Londrina, assim como todas as outras, elas estavam engatinhando. Pra você ter uma ideia do que era a Unimed de Londrina naquela época, ela tinha 23 funcionários. A Unimed tinha um faturamento que girava algo em torno, vou transformar em dólar, hoje, pra gente ter uma ideia, mas ela chegava algo em torno de, no máximo, uns 80 mil dólares por mês. Tô “pondo” em dólar, porque, naquela época, eram outros dinheiros, outra moeda, e a gente precisa começar a entender, né? Então, isso não representava quase nada; tinha pouca importância dentro da atividade médica. Mas já havia todo um caminho que estava sendo direcionado pra que a medicina privada, que era aquela que a gente exercia, ela efetivamente teria uma, ela estava ficando muito cara. As pessoas não conseguiam pagar, e os médicos já sentiam isso no seu consultório. A atividade pública de saúde passou por um boom de desenvolvimento naquela ocasião, então todo mundo achava que haveria possibilidade do setor público, dos recursos públicos, poderem dar uma atividade médica razoável. Havia uma briga aí de setor público com setor privado, e nesse caminho a gente começou a enxergar que nem o setor público poderia, eventualmente, dar substância à atividade médica e à atividade médica puramente particular que se entendia naquele momento; ou seja, financiada pelas pessoas, ela também não poderia existir, porque estava ficando cara. As pessoas não conseguiam pagar sua assistência médica. Então, a gente, eu entrei nesse momento, eu comecei a minha atividade dentro da cooperativa nesse momento em que a gente enxergava que as cooperativas iriam ter um caminho grande pela frente; mas elas, na ocasião, não representavam ganho. Pelo menos no nosso estado, no caso do Paraná, elas não representavam um ganho significativo. E foi a partir daí que nós começamos a empreender o sistema, a trabalhar em conjunto com outros estados, outras cooperativas. A própria Entidade Federativa no Estado do Paraná nós começamos a mexer, e o sistema começou a crescer a partir daquele momento. Quando, em 1900 e… nove anos depois que eu saí da Unimed de Londrina, já tendo assumido um cargo na Federação, a Unimed de Londrina tinha um faturamento em torno de 2 a 3 milhões de dólares e ela já possuía em torno de 200 funcionários na ocasião. Então, é pra você enxergar o que nós pegamos a cooperativa e isso, mas esse processo, nesse período, não aconteceu só com a gente, aconteceu com todas as outras unidades; com todas as outras, as outras cooperativas, aconteceram assim. No Paraná, a gente tinha 24 cooperativas, várias só existiam no papel, e elas passaram, nesse momento, também a terem que operar, a criar uma operação, a contratar funcionários. Elas só existiam no papel, e não existiam de fato; elas passaram a se desenvolver nesse período. Esse foi o grande, vamos dizer assim, eu acompanhei a fase em que as cooperativas estavam prontas na hora certa e no momento certo.
P/1 – O que o senhor considera como a sua principal realização na Unimed durante esse período aí?
R – Eu sempre tenho dito o seguinte: O Sistema Unimed não é feito por uma gestão, por uma diretoria. Eu falo isso até porque eu já passei por diversas; ou seja, eu, na Unimed de Londrina, nós tivemos três gestões. Na Federação, eu já tô, eu tô entrando nesse; entrei em 2006 como presidente, mas eu fiquei durante oito anos como diretor executivo da Federação. Então, eu passei também por mais, posso dizer que eu tô na terceira gestão da Federação, agora como presidente; mas tô na terceira gestão, passei mais. Já são, se você somar isso, três gestões de três anos na Unimed de Londrina. São nove anos e mais três gestões de quatro anos: são mais 12 anos. Lógico que não deu ainda 20 anos, porque eu tô no começo, no segundo ano; então, eu posso dizer: São 18 anos acompanhando o processo desde que nós começamos a engatinhar. Até hoje, a gente tem essa estrutura que a gente tem. A Unimed não é feita por uma gestão, a Unimed é feita, ela foi realizada, está sendo construída por diversas gestões. Alguns acertam mais, erram menos;
outros, erram mais, mas todos constroem um pedacinho daquilo que a gente vai… Então, eu, se você me perguntar assim: O que eu fiz que eu posso... eu vou falar assim: Eu ajudei a construir esse processo ao longo do tempo. Então, eu posso dizer o seguinte: Enquanto ninguém falava em ISO 9000, por exemplo, eu implantei um sistema e fui certificado em Londrina em sistema ISO 9000; enquanto ninguém falava em sistema de informática, não se colocava, nós construímos no Paraná um sistema de informática, evoluímos esse sistema. Então, foi todo um processo, eu posso falar assim, vamos dizer: Ah, implantar ISO 9000 em Londrina foi uma coisa boa? Sim, mas ela foi parte de um processo, porque depois eu fui pra Federação e implantamos na Federação. Começar a construir um sistema de informática em Londrina foi importante? Foi, mas depois foi mais importante a gente fazer um pro estado inteiro e implantar em todas as Unimeds do estado. Eu, mudar esse banco de dados, na época, que era um banco muito frágil, pra um banco mais consistente, construir esse sistema em um outro banco, foi importante? Foi importante. Custou dinheiro. Foi difícil? Foi, mas nós construímos. Implantar um sistema centralizado, um data center, com todas as informações no estado do Paraná, foi importante? Foi importante. Então, eu não saberia dizer, assim: O que você fez que te marcou? Eu acho que foram várias pessoas que participaram disso. Talvez seja por isso que eles, ao longo desse tempo, o pessoal acha que eu tenho jeito pra coisa, mas não é o jeito pra coisa, eu acho que é um trabalho de todos e a gente trabalhando.
P1 – E como que o senhor acha que é compatibilizar a carreira de médico com as atividades executivas que hoje o senhor tem lá na Unimed?
R – A minha carreira na Unimed eu divido em duas fases: uma fase enquanto eu estava em Londrina; a outra, enquanto eu fui pra Federação. Enquanto eu estava em Londrina, eu tinha o meu consultório perto da Unimed, e eu fazia, eu sempre falo assim: A gente faz pião na Unimed. Então, você vai na Unimed, mas você tá indo pro seu consultório, você tá indo pro teu hospital, você tá dando um plantão à noite, acordando do plantão e vindo pra Unimed. É assim que se faz nas cidades onde o dirigente tá junto da sua cooperativa, uma cooperativa de primeiro grau. Quando você vai pra uma cooperativa de segundo grau ou terceiro grau, o que acontece? Você se desloca do teu local. Então, eu saí de Londrina e fui pra Curitiba, que fica a 400 quilômetros de Londrina. Em um primeiro momento, como diretor e com algumas tarefas, eu ficava alguns dias por semana em Curitiba; voltava pra minha cidade e, naqueles dias que eu estava em Londrina, eu conseguia ter uma atividade, que eu chamo “atividade clínica”, e tinha uma atividade executiva, no outro período. No momento em que você passa a assumir compromissos maiores, a atividade clínica, praticamente, desaparece. Por quê? Os clientes não ficam esperando a tua boa vontade, as responsabilidades de você. Eu não vou operar um paciente, largar esse paciente e me deslocar 400 quilômetros pra um outro local, deixando por conta de um outro colega, às vezes, bem cuidado; mas a família não aceita isso, então você passa a não ter essa oportunidade de trabalhar quando você tá em segundo ou terceiro grau na tua área clínica, e, aí, eu criei um modo, que a pessoa fala assim: Mas, você largou de ser médico? Eu não larguei de ser médico, eu mudei de especialidade. Porque pra administrar cooperativa médica, só sendo médico, tá? Ninguém que não é médico vai administrar tão bem as nossas cooperativas se nós passarmos isso só pra profissionais não médicos; eles não vão entender a miudeza da coisa. E eu acho que o Sistema Unimed hoje é grande. Nós somos o que nós somos exatamente porque nós sabemos administrar. Uns talvez tenham um pouquinho mais de feeling pra isso; outros, menos, mas são médicos que estão administrando. Então, eu faço Medicina hoje, só que eu tô fazendo uma outra especialidade.
P1 – Dentro desse tempo na Unimed, o senhor tem algum colega especial, os amigos do trabalho que o senhor gostaria de mencionar?
R – Olha, eu tenho inúmeros amigos, né, eu posso falar o seguinte:
Eu não conheço inimigo. Pode ser que tenha alguém que não goste de mim, mas eu não tenho; eu não conheço. Eu tenho grandes pessoas, que é a quem eu respeito, e eu falo assim: Quando eu, na minha fase inicial do Sistema Unimed, eu tive pessoas que foram fantásticas, em que eu era superintendente, eles foram presidentes. É o caso desse colega que eu falei, que é o Weber. O Weber, pra
mim, nessa primeira fase, foi uma pessoa que me marcou muito e que me colocou dentro do sistema. Depois, eu tive um outro colega, que convive junto com ele desde a primeira fase; depois, ele se tornou presidente. Eu fui seu superintendente e que hoje tá aqui na seguradora, que é o Amauri Rafaeli, um grande amigo; meu irmão. Considero o Amauri um irmão meu, até pelo tempo que nós convivemos juntos, né? Aí, depois, eu tenho a fase em que eu fui pra Federação, e, na fase que eu fui pra Federação, eu posso, com grande acerto, dizer: O meu grande mestre foi o Pomequiste, que ele foi o presidente. Eu fui seu diretor durante esses oito anos, e que agora eu substituí o Pomequiste em um processo tranquilo dentro da Federação, e que o Pomequiste veio pra Unimed do Brasil, e que eu assumi lá. Então, eu tenho grandes companheiros aí. Eu não posso, talvez até se os outros colegas, se eu não, se eu mencionar um, eu posso deixar o outro. Eu tive lá em Londrina inúmeros colegas que me marcaram muito. Tem o Amauri, tem o Cury, tem o próprio Issao, que foram colegas nossos lá da Diretoria; tem na Federação, eu tive o Nelson, vice-presidente, que foi um grande pai pra mim. Eu tenho um colega que, na Unimed de Londrina, também me marcou muito. Nós começamos juntos, mas ele teve um problema e faleceu, que é o Cristiano, uma pessoa que me marcou muito também, que me ajudou muito. Então, são vários amigos que passaram que a gente tem o maior orgulho de ter trabalhado com essas pessoas.
P1 – Na sua região na Federação, né, qual é o número, não sei se talvez eu tenho, de singulares atuais. Quais as mais importantes?
R – Nós somos hoje, na Federação do Paraná, hoje nós somos 22 cooperativas singulares. Tem desde a maior cooperativa, que é a Unimed de Curitiba, até a menor cooperativa, que é a Unimed Vale do Piqueri, na cidade de Palotina. Então, eu tenho também, nós temos lá, na região, duas cooperativas que não são operadoras de plano de saúde, são prestadoras, que também são pequenas; ou seja, a gente tem uma variedade de unidades, cada uma com a sua característica dentro do conjunto de cooperativas do Paraná.
P2 – Quando começou a Federação?
R – A Federação no Paraná foi fundada em 18 de agosto de 1979. Ela foi criada com cinco, quatro, por quatro cooperativas na ocasião, que foi a Unimed de Londrina, que já falei, foi a quinta cooperativa do Brasil a ser criada, a Unimed de Londrina, a Unimed de Curitiba, a Unimed de Ponta Grossa e a Unimed de Guarapuava. Então, foram essas quatro singulares, na ocasião, que existiam em 79, que criaram a Unimed do Estado do Paraná, Federação das Unimeds do Estado.
P1 – Existe alguma peculiaridade que a torna, que torne distinta as singulares do estado com outras regiões? Algum diferencial entre o Paraná e outra região?
R – Não, tem. Veja bem: do ponto de vista do nosso estado, a gente, nós tivemos uma, talvez até por uma, nós tivemos um “facilitador”, eu vou chamar assim. No estado do Paraná, nós em mil… Eu te falei que eu entrei na Unimed em 1989. A partir de 1990, nós começamos a trabalhar em um software que fosse implantado, que fosse igual e implantado em todas as cooperativas do estado, e, a partir daí, o que aconteceu: o que aconteceu é que nós, além de criarmos esse software, nós conseguimos fazer uma rede de comunicação um pouco pra frente. Na ocasião, não tinha tecnologia, mas logo pra frente nós criamos uma rede de comunicação. Isso criou um diferencial no estado do Paraná em relação aos outros estados, porque nos facilitou a gente obter dados de todas as cooperativas, nos facilitou a ter padrões, nos facilitou o processo de intercâmbio entre essas cooperativas; enquanto, hoje, 2007, nós estamos buscando fazer um intercâmbio nacional de forma eletrônica, nós já fazíamos isso desde o final da década de 90. Final, não, desde 95 nós já estávamos integrados no estado inteiro fazendo troca eletrônica. Então, eu digo assim: eu acho que esse foi o grande diferencial do estado do Paraná. Isso nos permitiu sair na frente em algumas ideias que hoje estão sendo consolidadas a nível nacional. É um data center centralizado, é um projeto de guiar centralizado, onde hoje, no estado do Paraná, eu tenho um banco de dados com informação de todas as singulares; todas entram lá pra buscar suas informações, fazer de forma organizada, e isso tá sendo agora, vamos dizer, tentado em outros estados, até porque viram que dá certo. Então, eu acho que isso foi o grande diferencial nosso: foi a área de Tecnologia ter conseguido se integrar, uniformizar no estado inteiro. Acho que isso criou uma vantagem pra gente, né? Não que a gente seja melhor que os outros, nada, mas criou uma possibilidade de que a gente tivesse ferramentas melhores ou, não melhores, ferramentas mais evoluídas.
P/1 – E na área de projeto social, responsabilidade social, a região do Paraná, vocês têm algum projeto?
R – Hoje, nós somos das 22 cooperativas. Eu fechei o balanço até agora. O ano de 2006 nós fechamos com 14 cooperativas com selo de responsabilidade social; das 22, 14 com selo de responsabilidade social nos seus diversos níveis ali. Eu tenho um setor hoje, na Federação, que tá trabalhando de forma forte pra que essas outras unidades que hoje ainda não estão, não têm o seu programa, ou seja, não estão com o selo de qualidade social, que obtenham. E várias outras dessas cooperativas estão tentando se enquadrar, fazendo seus projetos pra que se enquadre dentro e obtenham o selo de responsabilidade social. São inúmeros projetos que as cooperativas estão fazendo.
P/1 – E na área de Educação, o senhor tem algum projeto?
R – É, área de Educação. Nós temos, hoje, uma diretoria que se chama Diretoria de Projetos, que é responsável, além de outros setores, pela área de, vamos chamar assim, “de educação dentro do Sistema Unimed paranaense”. Nós temos uma forte parceria com o Sescoop Paraná e o Sescoop [Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo]. Nós estamos criando agentes de desenvolvimento. Hoje, várias cooperativas, várias singulares, têm agentes de desenvolvimento próprios. Fora isso, a Federação age como um agente de desenvolvimento pras outras cooperativas, e, no ano de 2005, nós, 2006, desculpa, é que eu fechei o balanço agora e a gente até vai divulgar isso aí, nós treinamos entre colaboradores, cooperados, dirigentes, nas mais diversas áreas, seja na área de Qualificação Profissional, seja na área técnica de Auditoria, seja na área técnica de Tecnologia, ou seja, nós treinamos em torno, em torno não, 3,8 mil pessoas no ano de 2005. Então, nós estamos com um trabalho muito forte nessa área, em uma parceria.
P/1 – Vocês têm parceria com a Unimed do Brasil?
R – Nós temos. Então, boa parte disso é feito com a parceria do Sescoop e com a Fundação Unimed. Através da Fundação Unimed, nós temos hoje, se eu não me engano, nós estamos com dois MBA [Master of Business Administration] andando: um em Cascavel e um em Curitiba, com um pessoal da Fundação Unimed e os recursos do Sescoop que a gente tem obtido. Nós, o ano passado, de recurso do Sescoop, o Sistema Unimed do Estado, só com recursos, utilizou em torno de 500 mil reais em treinamentos. Só com recurso do Sescoop, que é muito importante. Fora o recurso que cada cooperativa em si faz, né?
P/2 – Como que foi, como está sendo, a receptividade dos paranaenses em relação ao cooperativismo da Unimed? Em relação disso, qual é o nível de concorrência com medicina de grupo, com pagamento?
R – O Paraná tem uma, vamos dizer assim, uma cultura cooperativista muito forte, principalmente porque isso já vem das cooperativas agrícolas. Então, existe um forte aculturamento do cooperativismo. O cooperativismo médico, de uma forma geral, ele foi bem que, vamos dizer, eu falei: Nesse processo de que teria que ter um mecanismo que pudesse dar uma atividade médica ou um suporte à atividade médica, o cooperativismo médico cresceu muito. E, no interior, isso não é um fenômeno só no Paraná, mas no interior, principalmente, isso ficou muito forte, ficou muito enraizado na cultura dos próprios médicos. Tanto que, quando a gente fala em concorrência da Unimed no interior em algumas cidades maiores, você tem algum movimento, e é óbvio que isso tenha, que exista, mas ele é desprezível em relação à concorrência. Eu vou dar um número pra vocês entenderem isso. Nós temos hoje, no estado do Paraná, 10 milhões de habitantes. Em torno de dez por cento tá na Unimed, então nós temos em torno de 1 milhão de pessoas usuárias do sistema Unimed, clientes das cooperativas do estado; o segundo concorrente, o concorrente que vem em seguida do Sistema Unimed, hoje, deve tá com em torno de 130 mil usuários, que é o concorrente mais próximo da Unimed.
P/1 – Tá muito além, né?
R – Tá muito além. É óbvio que isso tá mais focado em algumas grandes cidades. Curitiba, por ser uma cidade de grande porte, tem uma concorrência maior; mas, mesmo assim, ela é líder de mercado absoluto. Nós temos um share muito importante no estado e, vamos dizer, nós somos líderes realmente. Longe do segundo lugar e distanciando. Talvez, por esse aculturamento. Esse aculturamento no estado é muito forte, né?
P/1 – Nós vamos fazer algumas perguntas sobre a sua família. Qual o seu estado civil?
R – Sou casado.
P/1 – Qual o nome da sua esposa?
R – Com a mesma, sou casado com a mesma.
P/1 – Que bom! [RISOS]. Qual o nome da sua esposa e como o senhor a conheceu?
R – Terezinha. Ela é farmacêutica, e eu conheci a Terezinha naquela época do Balãozinho, quando a gente começava com os namorinhos ali. A Terezinha morava ali perto; ela veio de uma cidadezinha pequena ali pra estudar em Londrina. Eu tinha uma amizade com os primos dela, que faziam parte ali do Balãozinho, e eu conheci ela naquela ocasião. Então, já é um relacionamento antigo desde a adolescência.
P/1 – Que bonito, né? O senhor tem filhos?
R – Tenho. Tenho dois filhos: o Lucas e a Camila. A Camila é advogada, é tributarista. Tá fazendo mestrado. Vai se casar agora. Eu já falei, né?
E eu tenho o Lucas, que é jornalista, é casado. Ele trabalha em Londrina, na rádio CBN; é jornalista da CBN. E eu tenho uma netinha, a Maria Luiza.
P/1 – E o que o senhor mais gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R – Descansar [RISOS]. Não, a gente fala assim: O que você gosta de fazer na hora, em um sábado e domingo? Eu quero saber de descansar, às vezes, né? Trabalho muito...
P/1 – Não tem nenhum hobby?
R – Ah, eu tenho. Eu tô de bicicleta; faço um pouco de atividade física. Gosto de pescar, mas pescar a gente faz uma pescaria por ano só, até porque a esposa não gosta de pescar. Então, o fim de semana é descansar ou ir pra praia, e a gente, uma vez por ano, eu vou pescar, e isso é o meu hobby, vamos chamar assim.
P/2 – Doutor, só retomando um pouquinho, qual que foi a influência da criação da ANS pra Unimed Paraná?
R – Olha, todos nós sabíamos que, em um determinado momento, esse mercado, até porque ele vinha crescendo, vinha tendo uma importância cada vez maior na sociedade, que o governo, de alguma forma, iria estabelecer regras pra que haja, pra
que o sistema funcionasse. Então, eu posso dizer o seguinte: Por um lado, a agência, eu acho que ela vem em boa hora, no sentido de normatizar, de estabelecer regras, de cobrar profissionalismo das empresas, das operadoras que trabalham nesse meio de campo; por outro lado, a gente há de convir, também, que, quando essas regras foram implantadas, estão sendo implantadas, não se conhecia muito, ou quem fez o processo não conhecia as cooperativas. Não conhecia a figura jurídica de cooperativas, não conhecia a forma de atuar das cooperativas, e isso, efetivamente, trouxe e está trazendo, ainda, alguns transtornos pras cooperativas. Não no sentido de que as cooperativas não queiram se enquadrar nas normas, mas no sentido de que as autoridades, ou aqueles que estão criando as regras, criando as leis, precisariam dar um tratamento diferenciado para as cooperativas, em razão da função social que elas têm, e entendo que isso faltou. Acho que a Unimed Brasil fez um bom trabalho nesse processo de conscientização, mas ainda acho que falta muito pra que haja uma sensibilização pra importância da cooperativa nesse processo, porque a cooperativa vai ser o elo entre uma empresa de mercado que busca lucro com aquilo que se chama de, não é com a filantropia, não, ela o que, o social e coloca no meio termo, e acho que isso que precisa. As pessoas ou os órgãos governamentais ainda precisam enxergar. Então, isso nos trouxe problemas, mas, hoje, todas as cooperativas estão enquadradas dentro das suas, das normas da ANS [Agência Nacional de Saúde Suplementar]. Todas tiveram registro definitivo, todas tiveram seu IDSS [Índice de Desempenho da Saúde Suplementar] entre cinco e entre zero cinco e zero 75; quer dizer, todas estão muito bem do ponto de vista de qualificação pela ANS, e acredito que o que acontece hoje, o grande problema, é a tributação ainda em cima da gente, mas acho que todos se adequaram dentro do que a legislação e a agência vêm exigindo da gente. A única ressalva que a gente faz é isso: precisam enxergar a gente mais com a função social que as cooperativas têm, não nos enquadrar igual a qualquer empresa do mercado.
P/1 – Nós vamos a uma parte de avaliação, uma coisa talvez o senhor já tenha respondido, como o senhor vê a atuação da Unimed do Brasil?
R – Olha, então, eu já tô acompanhando o Sistema Unimed já há algum tempo. Nós convivemos esses anos todos com as diretorias da Unimed Brasil, os seus diretores, e a gente tem, vamos dizer, a gente tem uma convivência muito boa com todos. Acho que a Unimed Brasil tenha um papel fundamental de integrar as cooperativas do sistema, o que não é fácil; até porque o próprio sistema cooperativista é um sistema democrático. Ele é um sistema que cuida, ele nasce das bases, ele é administrado nas bases. Então, pra você organizar isso em uma estrutura nacional, não é um trabalho fácil, e eu acho que a Unimed Brasil tem desenvolvido esse trabalho de forma brilhante. Nós tivemos um processo de cisma no sistema, causado até por essa diversidade que é o Sistema Unimed, por essa democracia que é o sistema cooperativista; mas acho que isso tá sendo superado, isso tá sendo refeito, tá sendo construído novamente esse arcabouço do sistema de forma muito adequada. Acho que, hoje, há uma sensibilidade muito grande dos dirigentes do Sistema Unimed com relação à importância ou à responsabilidade com que cada um de nós temos nesse processo; então, acho que a Unimed do Brasil, hoje, com certeza, conta, que ela tem essas, destes dirigentes, todo apoio e todo apreço pelo trabalho que ela vem fazendo dentro da ideia de consolidar o sistema cooperativista Unimed.
P/1 – Qual o principal diferencial da Unimed em relação aos outros planos de saúde?
R – Olha, vamos falar assim: O principal diferencial é que o sistema é dos médicos. Esse é o principal diferencial. Quando você fala que o sistema é dos médicos, eu tô falando assim: É a capilaridade. Não existe nenhuma empresa nesse país capaz de ter, e vou mais, em qualquer segmento, a capilaridade e ter a penetração na comunidade que as nossas cooperativas têm. Você não pode imaginar uma empresa que tenha um diretor de uma cooperativa lá em Toledo, no Sudoeste do estado do Paraná, que tem vereador, prefeito, na sua diretoria. Tem lá em Toledo, mas também tem lá no Nordeste. É a mesma coisa. Qual empresa de qualquer segmento que tem no seu corpo de colaboradores pessoas tão enraizadas na estrutura, na cultura de cada uma da sua localidade? Não existe. Então, acho que esse é o maior diferencial do Sistema Unimed. Esse é imbatível. Eu acho que isso é que nós temos que manter. É essa, vamos dizer, esse enraizamento na sociedade. E por que isso acontece? Acontece, eu lembro quando eu estava me formando, um professor, não lembro de que matéria, chegou como médico e falou assim: “Olha, vocês são líderes da sociedade, vocês estão saindo daqui, da faculdade, e amanhã você vai ser prefeito da sua cidade, você vai ser vereador, você vai ser ministro”, e é isso que acontece, é isso exatamente. O médico tem uma participação na sociedade de forma muito ativa, muito forte. Qual empresa que tem, entre seus colaboradores, eu vou dizer colaboradores, porque são os sócios da empresa, tanto enraizamento na empresa? Não existe no Brasil, não existe no mundo. Por isso que o Sistema Unimed é forte.
P/1 – Qual é o fato mais marcante que presenciou ao longo desses anos na Unimed?
R – Olha [PAUSA]. Eu, talvez, pra mim, eu pessoal, foi minha entrada. Não é entrada, porque, como diretor, você faz uma série de composições pra entrar; mas foi eu me tornar presidente da Federação do Estado do Paraná.
Foi com muita alegria, muito orgulho, realmente, que eu entendi aquele momento com muita responsabilidade. Talvez, tenha sido o fato mais marcante da minha vida profissional, dentro do Sistema Unimed, tenha sido aquele momento.
P/2 – O senhor acha que pode galgar ainda nível nacional?
R – Não, não penso nada. Eu penso no momento, né?
P/1 – Deixa a coisa acontecer.
R – Eu acho que é. Eu acho que eu não sei. Eu sempre falo assim: As coisas acontecem se tiverem que acontecer; se não tiverem que acontecer, você não pode forçar, porque, quando você força uma situação, não é uma situação natural. Eu, hoje, sou presidente da Federação do Estado do Paraná, trabalho pra Federação do Estado do Paraná e cumpro minhas obrigações como presidente da Federação do Estado do Paraná. O futuro a Deus pertence. Eu não sei se eu vou estar vivo amanhã. Eu tenho que fazer o melhor no momento.
P/1 – Na sua opinião, qual é a importância da Unimed para a história do cooperativismo brasileiro?
R – O Sistema Unimed é uma grife pro cooperativismo. Por quê? É o sistema cooperativista mais organizado que tem nesse país. Se você pegar as cooperativas, vamo pegar, digo, hoje tem um outro sistema que também tá bem, que é o sistema de crédito. O sistema de crédito hoje tá muito. Ele evoluiu de forma muito rápida nesses últimos anos e ele tá também atingindo uma capilaridade do Sistema Unimed que é o sistema de crédito. Então, existem algumas marcas, a marca Sicredi [Sistema de Crédito Cooperativo], a marca Unicred, são marcas que estão crescendo muito e que têm essa capilaridade. Mas o Sistema Unimed, ele é a grife, tá? Então, eu vejo lá no Paraná: Eu sou convidado a participar de uma reunião através da Organização das Cooperativas do Paraná junto com os demais segmentos: um segmento agrícola, segmento de eletrificação rural. Eles são unidades isoladas. Vou pegar a maior cooperativa do Brasil, é a Coamo. Ela é lá do Paraná, mas é a Coamo. É uma empresa, ela não tem várias empresas que utilizam a marca Coamo distribuídas por esse Brasil, não. Ela tem a Coamo. É uma empresa, tá? O Sistema Unimed tem essa, ele tem, por exemplo, várias Coamos na mão. Todas elas com a mesma marca, todos trabalhando de maneira conjunta e todos de forma uniforme. Então, eu acho que nós somos uma grife pro sistema cooperativista brasileiro. Os outros segmentos, apesar de serem muito fortes, têm inveja, talvez, da nossa organização. Nós não ocupamos a área de ação das nossas cooperativas, elas são sempre; não existe coincidência de área de ação, é diferente. As cooperativas agrícolas trabalham na mesma área de ação, e uma concorrendo com a outra; nós, não, nós respeitamos o limite de cada uma. Nós usamos uma mesma linguagem, somos cooperativas isoladas, mas usamos a mesma linguagem, usamos a mesma marca. Então, efetivamente, eles têm inveja de nós. Eu me sinto muito orgulhoso disso. Eu brinco com o pessoal dos outros segmentos. Eu falo assim: Vocês não tiveram a capacidade de se unir aí.
P/1 – Porque realmente é bem diferente. Qual a sua visão de futuro da Unimed do Brasil? Como o senhor vê a Unimed daqui a uns dez anos?
R – O Sistema Unimed você quer dizer?
P/1 – É.
R – Olha, eu sou um otimista. Eu acho que o mercado onde o Sistema Unimed trafega, que é o mercado de planos de saúde, vai crescendo no país, mas ele tem um limite, né? Por outro lado, então, esse é o mercado que nós vamos buscar recursos pra oferecer aos nossos médicos. Por outro lado, existe um outro, uma outra preocupação, que é a quantidade de médico que tá chegando no mercado. Então, o mercado vai ser finito. Por quê? Existe a questão de que o Brasil é um país de livre concorrência, então vão existir concorrentes no mercado, concorrentes, às vezes, competentes. Existe o limite do poder aquisitivo da população, e acho que o Estado brasileiro vai ser responsável por dar saúde pra um segmento importante da sociedade também. Então, acho que o sistema privado, formado pelas operadoras, vai ter um mercado, e o sistema público vai ter outro mercado. O mercado do sistema privado não é um mercado que possa se expandir demais. Hoje, calcula-se, dos 180 milhões de brasileiros, que seja um mercado possível até 65 milhões de brasileiros. Seria esse o tamanho atual de mercado. Então, vai existir esse segmento, e o Sistema Unimed vai continuar sendo líder até por essa característica que eu disse, que é de tá enraizado dentro da sociedade de uma forma muito forte. É mais no interior, menos nas capitais, mas de forma muito forte; e menos nas capitais até pela questão de concorrência, então o Sistema Unimed vai estar. O entrava que tá tendo é a formação de médicos, e o Sistema Unimed é feito por médico, pra médico e pra dar
mercado de trabalho ao médico. No momento em que você tem uma oferta de mão-de-obra muito grande, vai haver uma deformação no mercado. O que já tá ocorrendo, porque as cooperativas não conseguem absorver toda essa mão-de-obra. Então, nós ficamos com uma mão-de-obra, e essa mão-de-obra vai envelhecendo. Então, nós vamos ter que criar um mecanismo pra poder renovar essa mão-de-obra; mas, de certa forma, esse mercado, nós vamos ter que criar um mecanismo que haja uma divisão do Sistema Unimed com o outro mercado que, eventualmente, não vai conseguir entrar dentro das cooperativas por falta, por excesso de mão-de-obra. Não vai ser uma culpa nossa, eu acho. O sistema educacional médico vai ter que resolver esse problema. Não há espaço pra tanto médico. Hoje, nós já temos um médico pra cada 650 habitantes. Se a organização de saúde pede que haja um médico pra cada mil habitantes, você imagina continuar formando médico: nós vamos ter um médico pra cada 300 habitantes. Onde que esses médicos vão estar? Então, vai ter que ser resolvida essa questão junto às escolas, às universidades, ao Ministério da Educação. Tem que ser contido isso daí. Então, nós temos um enorme trabalho, mas acho que o Sistema Unimed vai achar formas pra, de alguma forma, tá navegando dentro desse cenário, que é um cenário pros próximos dez anos, que é um cenário de atingir uma população alvo possível e que dá pra dar serviço pra um número de médicos possíveis de serem absorvidos pelo sistema.
P/1 – Eu acho que o senhor já respondeu essa, mas quais foram os maiores aprendizados de vida que obteve trabalhando na Unimed?
R – Olha, talvez, o maior aprendizado que eu possa dar é o seguinte: É que a gente não pode, a vida da gente, ela é feita de, vamos dizer assim, de etapas, e a gente não pode definir uma etapa futura dizendo assim: Olha, eu vou fazer isso e vai acontecer e fazer uma previsão. Eu acho que não. Acho que as coisas, a vida da gente vai direcionando pra vários caminhos, né? E caminhos que, às vezes, você não esperava; seja no desenvolvimento da sociedade, e eu falo isso, se eu, quando comecei a trabalhar na Unimed, se eu falar assim: Olha, eu vou trabalhar com máquina de escrever o resto da vida, eu tinha morrido, porque máquina de escrever não existe mais, então a gente foi acompanhando isso e foi vendo que existem coisas acontecendo que vão ter que ser incorporadas no dia a dia. Então, eu falo assim: Esse sentimento de que você, tudo vai acontecendo e não existe um momento estanque. A segunda coisa, assim: Você não pode ter medo de criar situações. Eu falo assim: Se eu tivesse ficado como médico de consultório, eu talvez nunca tivesse entrado pra administrar a Unimed, e, às vezes, eu escuto um colega falar: “Ah, eu nunca vou entrar porque eu tenho medo do que vai acontecer no meu futuro”. Se eu tivesse pensado isso, hoje eu não estaria aqui. Então, a vida da gente, vamos dizer, as coisas vão acontecendo, e a gente vai acompanhando a evolução. O que a gente tem que imaginar é assim: Tudo muda. A nossa vida, as coisas que acontecem, a nossa empresa, a sociedade, a nossa família e a gente vai mudando. Esse, talvez, tenha sido o maior aprendizado: a mudança. É a gente não querer ficar sossegado; não é não querer, não, é não poder ficar sossegado. No momento em que você sossegou, que você achou o mundo que achou, ah, aí, tá certo? Não, isso pode tá certo hoje; amanhã, ele pode tá errado. Você tem que aprender a mudar. Eu acho que esse é o maior aprendizado. Aprendizado da mudança. De que o mundo é uma mudança, e que a gente tem que tá acompanhando isso até pra fazer as coisas acontecerem.
P/1 – O que o senhor acha da Unimed comemorar os seus 40 anos de vida por meio de um projeto de memória?
R – Ah, eu acho isso fundamental. Como eu disse no começo pra vocês: A Unimed não foi feita por uma gestão. Eu sou um crítico ferrenho quando eu vejo um sujeito fazer um caderninho e falar: “Na minha gestão...”, na tua gestão não fez nada, na tua gestão fez alguma coisa, mas as coisas foram feitas ao longo do tempo. Começou lá em Santos, começou lá com o Doutor Castilho, com o seu grupo; tá hoje, aqui, com o Celso e o seu grupo na Unimed Brasil; tá comigo no Paraná, com outro em São Paulo, outro lá em Londrina. Hoje tem eleição; tá indo um outro presidente lá, cada um de nós fez o seu papel. Se você não conseguir resgatar isso e mostrar pras pessoas que o sistema é feito desse conjunto de pessoas que passaram ao longo do tempo, e que não é um fato isolado que faz o sistema, são coisas que vão acontecendo ao longo do tempo, você não vai conseguir mostrar, talvez as pessoas não vão conseguir entender, e as pessoas vão achar que elas são o centro do Universo, o centro do saber e o centro da coisa certa. Eu acho que o resgate que vocês estão fazendo, pra mim, a importância é essa: mostrar que as coisas não acontecem por acaso, de uma vez, não, elas são construídas ao longo do tempo por todos, com seus erros, com seus acertos, e eu acho que isso é que é importante no resgate da história.
P/1 – O que o senhor achou de ter participado desta entrevista?
R – Eu achei muito bom.
P/1 – O senhor gostaria de falar mais alguma coisa?
R – Não, só agradecer a oportunidade que a Unimed Brasil tá dando pra gente nesse projeto. De poder tá se expressando e poder tá dizendo aquilo que pensa.
P/1 – Então, em nome da Unimed e do Museu da Pessoa, agradecemos a sua entrevista.
R – Eu é que agradeço.
P/1 – Obrigada.
R – Obrigado, gente.Recolher