Cleri Terezinha Gonçalves Martins tem 64 anos e nasceu na cidade de Passo Fundo, na serra gaúcha.
Sua família era grande, mas muito unida e feliz. São entre dez irmãos e quando crianças passaram muitas dificuldades. Não tinham água encanada, usavam água de poço e para tirá-la puxavam um...Continuar leitura
Cleri Terezinha Gonçalves Martins tem 64 anos e nasceu na cidade de Passo Fundo, na serra gaúcha.
Sua família era grande, mas muito unida e feliz. São entre dez irmãos e quando crianças passaram muitas dificuldades. Não tinham água encanada, usavam água de poço e para tirá-la puxavam uma manivela e isso dava um trabalho!
Sua infância foi repleta de brincadeira. Seus irmãos inventavam brinquedos de lata, ela fazia suas próprias bonecas para poder brincar, pois não tinham como comprá-las. Ela brincou muito de boneca, mas moleca adorava jogar futebol. Sua família não tinha televisão e iam assistir em uma vizinha, mas antes de ir precisavam realizar muitas tarefas em casa, como: fazer os temas da escola, arrumar a casa, lavar a louça, deixar tudo organizado para poder sair. Só que quando terminavam a vizinha já estava dormindo, que pena!
Sua adolescência foi um pouco melhor que a sua infância, pois se mudou para Porto Alegre. Seu pai era ferroviário e eles moravam numa vila que só moravam funcionários da Ferroviária.
Uma lembrança que vem a sua memória é que os trens passavam bem próximos a sua casa e quando ia para a escola pegava carona com eles, ela era bem sapeca.
Estudou numa escola ferroviária em que a diretora era freira e ela também pretendia ser freira. Imaginem! E quando descobriu que freira não podia casar, ela logo desistiu desta ideia. Não concluiu seus estudos, foi até a 6ª série e depois parou, pois ela estava mais para brincadeiras, não gostava de estudar e mais tarde sentiu muita falta dos estudos e se arrependeu de não ter aproveitado a oportunidade. Ela conta que tinha castigo para os alunos que não se comportavam, ficavam de frente para o quadro.
Começou a trabalhar cedo, entre 13 e 14 anos, cuidava de crianças e fazia serviços domésticos, porque era a mais velha de todos os irmãos, mas mesmo assim ela não passou tantas dificuldades como na sua infância.
Atualmente ela é aposentada, mas a profissão que mais tempo exerceu foi merendeira da nossa Escola Darcy Berbigier.
Conheceu o seu marido em Porto Alegre, no mercado da casa em que trabalhava. Casou-se com 24 anos e deste relacionamento nasceram seus três filhos. Ela é viúva, faz sete anos. Tem seis netos, sendo que dois ela relata muito emocionada que faleceram.
Sempre morou em casa alugada, até que um dia conseguiram comprar um terreno, mas não tiveram dinheiro para construir uma casa. Sendo assim, montaram uma barraca com lona e taquaras para viver com seus filhos.
Um episódio em sua vida que marcou bastante, que aconteceu no período da Páscoa! Certa noite veio uma chuvarada e quando ela foi segurar a lona, esta veio abaixo, partiu-se em quatro, molhando tudo o que tinha dentro: cobertas, colchão, roupas... Foi uma tristeza só! Depois construíram uma cozinha e um banheiro, mas ainda não tinham quartos.
Certo dia, Cleri encontrou um conhecido no centro de Guaíba e lhe contou sua história, o marido e ela estavam desempregados e passando por muitas dificuldades. E o homem comentou que tinha uma vaga na Prefeitura de Guaíba, no setor de obras e seu esposo foi até lá e conseguiu emprego.
Logo depois apareceu uma vaga como merendeira na Escola Municipal Anita Garibaldi e trabalhou por aproximadamente um ano nesta escola. Como surgiu uma vaga de merendeira em nossa escola, que ficava próxima a sua casa e onde seus filhos também estudavam, começou a trabalhar na escola e ficou até se aposentar. Relembra que suas colegas de trabalho eram unidas, havia uma amizade, principalmente com a Dona Rosinha e a Dona Eva. A escola era bem diferente de hoje em dia, era um prédio de madeira, lembra-se de um incêndio que aconteceu no prédio da escola, mas ainda não trabalha na escola. Em seguida comprou uma casinha que estava sendo desmanchada para morar com a sua família e logo após seu marido morreu.
Mora aproximadamente há trinta e cinco anos no bairro Alvorada, onde está localizada nossa escola, mas era bem diferente, sua casa não tinha rua de acesso, era em frente ao lago. O Lago Guaíba não tinha poluição e eles podiam tomar banho nas suas águas limpas. O bairro tinha poucas ruas e era mais seguro.
Em sua vida enfrentou muitos momentos difíceis e perdas de pessoas queridas em que tem muita emoção ao lembrar. Mas tem a certeza de que a vida vale a pena por que ama sua família e é muito amada e tudo que conquistou por ela. Segue firme com sua fé e sempre com esperança de sonhos para realizar.Recolher