Projeto: Mercado Livre - Biomas que Transformam
Entrevista de Vanda Alves de Souza
Entrevistada por Grazielle Pellicel
Local: São Paulo (SP) e Mogi das Cruzes (SP)
Data: 17/06/2022
Realização: Museu da Pessoa
Código da entrevista: PCSH_HV1208
Transcrita por Monica Alves
Revisada por Grazielle Pellicel
00:00:20
P/1 - Oi Vanda, tudo bem com você?
R - Oi Grazi, tudo bem.
00:00:25
P/1 - Que bom. Para começar, você poderia falar o seu nome completo, a sua data e local de nascimento?
R - É Vanda Alves de Souza, eu nasci em 20 de julho de 1961, na cidade de Mogi das Cruzes (SP).
00:00:46
P/1 - Seus familiares te contam como foi o dia do seu nascimento?
R - Bom, eu nunca tive essa curiosidade, mas, assim, eu sei que eu sou a quinta filha de nove irmãos. A quinta não, a quarta, de sete irmãos. Dois faleceram. Eu sou a do meio. E, na época, a maioria dos meus irmãos, com exceção do caçula, nascemos todos em casa, com a parteira que vinha atender as mulheres da região. Não tive muita curiosidade, o que eu sei é isso.
00:01:30
P/1 - Qual é o nome da sua mãe? Você pode falar um pouco da família dela?
R - O nome da minha mãe é Lidia Souza Lima, ela é da família de antigos moradores do bairro de Jundiapeba, que é no município de Mogi das Cruzes, e o meu avô é descendente de portugueses. A minha mãe tem toda a história de vida dela dentro dessa região, já o pai dela que veio de outra cultura.
00:02:10
P/1 - E seu pai, a família dele?
R - O meu pai é mineiro, veio de Minas para São Paulo com três anos de idade. Quase abandonou as características de mineiro; então, ele assumiu o lugar, a região que o acolheu. Como ele chegou muito pequeno, ele não tem esses traços. Minha avó é de Minas, já tem mais [características], assim, de outro lugar, mas menos o meu pai, ele parece mais paulista do que mineiro.
00:02:48
P/1 - E qual é o nome dele?
R - José Alves de Souza.
00:02:54
P/1 - Você sabe como é que os seus pais se...
Continuar leituraProjeto: Mercado Livre - Biomas que Transformam
Entrevista de Vanda Alves de Souza
Entrevistada por Grazielle Pellicel
Local: São Paulo (SP) e Mogi das Cruzes (SP)
Data: 17/06/2022
Realização: Museu da Pessoa
Código da entrevista: PCSH_HV1208
Transcrita por Monica Alves
Revisada por Grazielle Pellicel
00:00:20
P/1 - Oi Vanda, tudo bem com você?
R - Oi Grazi, tudo bem.
00:00:25
P/1 - Que bom. Para começar, você poderia falar o seu nome completo, a sua data e local de nascimento?
R - É Vanda Alves de Souza, eu nasci em 20 de julho de 1961, na cidade de Mogi das Cruzes (SP).
00:00:46
P/1 - Seus familiares te contam como foi o dia do seu nascimento?
R - Bom, eu nunca tive essa curiosidade, mas, assim, eu sei que eu sou a quinta filha de nove irmãos. A quinta não, a quarta, de sete irmãos. Dois faleceram. Eu sou a do meio. E, na época, a maioria dos meus irmãos, com exceção do caçula, nascemos todos em casa, com a parteira que vinha atender as mulheres da região. Não tive muita curiosidade, o que eu sei é isso.
00:01:30
P/1 - Qual é o nome da sua mãe? Você pode falar um pouco da família dela?
R - O nome da minha mãe é Lidia Souza Lima, ela é da família de antigos moradores do bairro de Jundiapeba, que é no município de Mogi das Cruzes, e o meu avô é descendente de portugueses. A minha mãe tem toda a história de vida dela dentro dessa região, já o pai dela que veio de outra cultura.
00:02:10
P/1 - E seu pai, a família dele?
R - O meu pai é mineiro, veio de Minas para São Paulo com três anos de idade. Quase abandonou as características de mineiro; então, ele assumiu o lugar, a região que o acolheu. Como ele chegou muito pequeno, ele não tem esses traços. Minha avó é de Minas, já tem mais [características], assim, de outro lugar, mas menos o meu pai, ele parece mais paulista do que mineiro.
00:02:48
P/1 - E qual é o nome dele?
R - José Alves de Souza.
00:02:54
P/1 - Você sabe como é que os seus pais se conheceram?
R - Eu acho que eles se conheceram… Assim, o que eles me contavam é que o meu pai passou um dia em frente à janela da minha avó, na segunda vez já chamaram para entrar, e: “O que você está querendo?", daí já começou o pedido de permissão para namorá-la. Mais detalhes assim eu não… Eu sou uma pessoa muito acomodada, não tinha muita, nunca fazia muita pergunta, então quando ela comentava alguma coisa é que a gente ficava sabendo, quando outros irmãos comentavam. Inclusive, eu nunca questionei meus pais se eles queriam ou não que eu nascesse. A minha mãe, e como ela teve uma filha depois de cinco anos de casada, e depois de cinco anos teve todos os outros filhos quase que em sequência, então na minha mente era normal um monte de filhos, e sempre achei que todos os filhos foram [os] que ela queria ter, nunca me passou pela cabeça que ela não quisesse ter. Aí ela falou que só queria ter a primeira filha, e que os outros tinham vindo acidentalmente, mas nunca me senti rejeitada por isso, porque eu também nunca me preocupei com essa questão.
00:04:28
P/1 - Vanda, você gostava de ouvir histórias? Quem te contava?
R - A minha mãe contava histórias e a minha irmã mais velha, mas eu nunca fui uma criança de ficar mais em casa. Eu sempre fui dos amigos da rua, de ficar na vizinhança, então, às vezes, eu estava mais próxima dos vizinhos, das casas vizinhas, do que da minha própria casa. A minha infância, digamos assim, foi mais na comunidade do que dentro da própria casa.
00:05:06
P/1 - Vanda, qual é a atividade dos seus pais?
R - A minha mãe trabalhava em casa, e depois ela trabalhou um período no comércio, mas ela não continuou, ela ficava mais em casa. O meu pai sempre foi um comerciante nato, desde criança ele dizia que já vendia pipa, fazia pequenos serviços, e depois ele foi trabalhar no serviço que o pai dele trabalhava, na estrada de rodagem, mas acabou voltando para o comércio, assumindo o comércio do meu avô - do meu avô [materno], sogro dele -, onde ele ficou por mais de quarenta anos. Então o meu pai, para mim, sempre foi comerciante, é o que eu me lembro dele.
00:06:00
P/1 - Tem algum outro familiar, além dos seus pais, irmãos, que você gostava muito?
R - Não sei te dizer, não estou entendendo a pergunta.
P/1 - Por exemplo: tem algum tio, ou tia, favorito que você lembra, assim, com carinho?
R - Eu tenho muito carinho pelos meus tios, padrinhos, digamos assim, porque eles tinham sítio, todo aquele trabalho com os animais, vinham da roça ali para a vila e passeavam com a gente, mas não chega a ser uma pessoa que eu ficava sentada ouvindo histórias, eu não tive esse tipo de contato com meus parentes. Eu tenho assim algumas histórias, como o meu pai é comerciante, a gente ia entregar compras no sítio, nas casas que eram afastadas, então eu tenho muitas memórias dessas pessoas, da recepção, de como elas preparavam a casa para receber uma compra que elas tinham feito, tinham pago, então eu achava muito acolhedor eles receberem o entregador da compra. Às vezes, eu ia com quem estava entregando, porque eles eram tão corteses, colocavam vasos de flores na mesa para receber, e sempre tinham algo para oferecer: às vezes era um café ou um copo de leite tirado da vaca, às vezes eles tinham uma batata ou uma mandioca. Então todo lugar que você ia, era muito raro as pessoas não tratarem bem o comerciante, que hoje em dia você vê que é uma coisa mais difícil. Eu fui criada nesse ambiente de muita cortesia. Eu acho, assim, que tanto na vizinhança, tanto depois quando eu participava da entrega dos alimentos também, sempre fui muito bem recebida.
00:08:25
P/1 - O sítio dos seus tios também era assim?
R - Eu acho que a vida da minha família… No geral, tinha os meus avós, eu vivia lá [na casa dos] meus avós paternos, [que] eram extremamente simples, tinham uma casa muito simples, mas muita acolhedora. A minha avó teve só três filhos, e cada filho teve onze, sete, oito filhos, então ela dividia o horário, cada horário era a família de um filho que podia visitá-la, porque ela queria atender todos muito bem. Então ela queria que não tumultuasse para ela poder dar atenção necessária para cada um, para garantir que cada um comesse uma fatiazinha fina de bolo e tomasse o seu cafézinho, era onde, assim, era o meu lugar, o meu refúgio. A casa dos meus avós sempre foi um lugar sagrado: eles eram muito religiosos, e o meu avô sempre pedia para que a gente lesse uma folha da Revista “Ecos Marianos”, que era o livro de Maria, então a gente sempre lia um trechinho. É como se fosse uma revista mensal, mas ela era grossa, e tinha algumas informações que eram corriqueiras e algumas mensagens de vida, algumas histórias de vida, e o meu avô pedia pra gente ler um trechinho. Isso quando a gente ia durante a semana, dava uma fugida e ia até lá sem ser nos horários que a minha avó estipulava.
00:10:11
P/1 - E como é que é que sua avó recebia vocês, com bastante comida?
R - Não, a minha avó tinha uma renda muito pequena, mas ela era aquelas pessoas, assim, muito orgulhosas, então a comida tinha que dar para o mês inteiro. Eles tinham uma renda muito pouca, meu avô teve problema de saúde e ficou sem… Meu avô paterno ficou com uma renda pequena, então a minha avó fazia a compra do mês e tinha que durar o mês todo. Não faltava nada, mas era aquela comidinha bem simples, sempre as mesmas coisas. Não tinha muita variação, mas ela tinha… Assim, quando a gente saía, ela dava uma bolacha na mão de cada criança. Então a gente ia pedir a bença e já recebia a sua bolacha.
00:11:11
P/1 - E a relação com seus irmãos, como é que era?
R - Olha, Grazi, eu sempre fui a ovelha negra, sempre fui uma pessoa muito, não revoltada, mas eu achava que o ensinamento… O ensinamento, não. Como eram muitos filhos, a minha mãe tinha problema de saúde, ela tinha muita anemia, e eu sempre fui de comer muito, então eu comia, almoçava na casa de várias pessoas, eu ia sempre na casa dos vizinhos, na casa da minha avó, na casa da outra avó, e o convívio com os meus irmãos era algo muito tenso, porque eles eram todos certinhos e eu me sentia uma pessoa muito fora da comunidade da minha casa. Eu me sentia muito incompetente, porque todo mundo fazia tudo, até na escola as diretoras, as professoras falavam: “Nossa, você não parece ser filha do José Alves, você não parece ser irmã da Rosa”, porque eram todas, assim, excelentes alunas, bem comportadas. Eu era meio que fora da linha, então recebia muita bronca da minha irmã mais velha; [ela] era quase que nossa mãe, que era quem nos passava informações,e conversava mais com a gente. Então, para fugir dela, eu sempre ficava na rua, porque eu sabia que ia vir uma bronca.
00:12:53
P/1 - Onde você mora, morava quando criança, tinha alguma festa da própria região, que vocês participavam, algum evento?
R - Sim, tinha o aniversário do distrito, era algo assim muito bem preparado. Eu toquei durante quatro anos na fanfarra, e isso para nós que não saíamos muito da região, era uma glória. Então a gente participava de campeonatos, saía da nossa região, ia para a cidade de Mogi, e o nosso instrutor era um professor muito dedicado, muito exigente também. Aí a gente conseguia participar de festas, de concursos, como, micareta, de concursos da Record, bandas de fanfarras da Record, em São Paulo (SP). Então a gente teve, eu tive muito gosto participando da fanfarra da escola estadual. E as festas da região eram os desfiles do aniversário do distrito, que também eu participava junto com a fanfarra. E sempre gostei muito do desfile, então mesmo depois, quando eu não estudava mais, já eram os meus filhos que participavam. Teve várias festas muito bem elaboradas e bem bonitas mesmo, de atrair muitas pessoas do nosso distrito, mas foi se perdendo, as coisa vão se perdendo.
00:14:39
P/1 - Hoje em dia não tem mais essas festas?
R - Não, não, eu acho que é questão de vida. Quando entram professores que têm esse tempo… Hoje em dia, eu acho que até tem professores que têm essa vontade, mas são tantos empecilhos, muitos não acompanham, então não querem trabalhar [aos] finais de semana sem receber, sábado, domingo. Se é uma festa que sai fora daquele dia [em] que eles trabalham, muitos não participam. Eu acho que a questão maior é liderança também, quando tem um líder super forte as coisas acontecem.
00:15:20
P/1 - E a casa da sua infância, você lembra dela? Consegue descrevê-la?
R - Lembro sim. Era uma casa que tinha uma sala grande e depois foi dividida em sala e quarto, que a família foi aumentando. E nesse quarto que era o quarto dos meus pais, a gente se reunia em volta da cama para rezar o terço todo dia de manhã quando a gente era menorzinho. Aí depois o meu pai foi aumentando a casa, ficou uma sala maior, tinha mais um quarto, uma cozinha, um banheiro, e ela acabou virando “trem”, como a gente brinca, porque o meu pai foi aumentando, aumentando, e ficou um correrdorzão, uma casa bem comprida. Mas lembranças, assim, de festa… Eu não sei se isso interessa. Festas comemorativas dentro da minha casa eram legais, porque era Páscoa, Natal, dia das mães, dia dos pais, eram dias que a gente tinha direito de um guaraná para cada criança, era uma garrafinha de guaraná para cada criança, e isso era, [dava] muita alegria para nós ter isso aí, e o almoço especial dessas datas. Nós morávamos do lado dos meus avós. Aliás, a mãe da minha mãe morreu quando ela tinha quatro anos, aí ela morou com uma madrinha dela, e cada irmão foi morar com um parente. A minha mãe, como a mãe dela morreu, ela era muito nova, então todo mundo tinha muito melindre com a minha mãe, não ensinava muita coisa, não deixava ela sair, não deixava fazer muita coisa, então ela não tem, assim, essa característica das pessoas da roça, ela nunca participou desses eventos. E meu avô ficava… Normalmente, a madrasta da minha mãe gostava de fazer pamonha, de fazer grandes eventos, de matar porco e fazer todas aquelas guloseimas gostosas, linguiça, muita coisa. A minha mãe tinha um pouco de ciúmes dessa nova vida do meu avô, mas eu adorava, gostava muito de estar na casa do meu avô, ou junto, com todo aquele movimento. Eu me sentia muito culpada pela minha mãe, ela nunca participou, então ficou assim uma coisa meio quebrada. Mas como eu era a que tinha rodinhas nos pés, a que não parava quieta, então eu estava sempre junto nessas festas também, nesses momentos de fazer, de ir lá no galinheiro pegar os ovos, fazer aquela fritada, encher de farinha, fazer farofa de ovo, enfim, coisas que lembra bastante essa fase interiorana.
00:18:37
P/1 - Você comentou que vocês ganhavam bastante [refrigerante de] guaraná. Por que é que era o guaraná?
R - Então, o guaraná era dia de festa, era diferente. Depois que eu fui conhecendo outras coisas, que eu vi [que] eram dias de comemoração, então Natal, Páscoa, ano novo… Ano novo nem tanto, mas Natal, Páscoa, dia dos pais, dia das mães. Meu pai depois que já estava em uma situação um pouco melhor - isso a gente já tinha nossos doze, treze anos -, então foi quando a gente conheceu refrigerante e tinha direito de ganhar um guaraná, cada filho. Era o presente que o meu pai dava pra gente.
00:19:27
P/1 - E tem alguma comida, assim, da sua infância, que você lembra até hoje com carinho?
R - A sopa de ervilha da minha mãe, a sopa de ervilha que ela fazia. Ela sempre cozinhou muito bem, embora não variasse muito o cardápio, o tempero dela era muito bom. Mas é como eu falei, minha mãe não é uma pessoa muito presente na minha vida, porque eu acho que eu nunca soube dar muito valor com o que ela tinha a oferecer. A minha mãe gostava muito de ler; eu não gostava de ler, gostava de ir para a rua, e ela gostava de contar história. Então, as minhas irmãs têm essa ligação mais forte com a minha mãe, e eu só fui ter alguns anos antes dela morrer, dela falecer. Eu consegui conversar com ela sobre isso e até ter um pouco mais de carinho, de afeição. Eu acho que foi uma perda, mas, infelizmente, foi assim. Eu sempre fui muito apegada com meu pai; eu ia cedo com ele para o comércio e já ficava o dia todo ajudando ele no armazém.
00:20:48
P/1 - Como é que era o dia a dia no armazém [com] você ajudando o seu pai?
R - Ah, era fantástico! Eu sempre gostei muito de pessoas, então eu estava o tempo todo em contato [com elas]. Naquela época, a gente vendia tecido, então trabalhava um pouco no setor de miudezas de lojas, e tudo era manual. A gente vendia óleo, as pessoas traziam os vasilhames para colocar o óleo. Café, a gente torrava na hora. Era tudo a granel, não tinha nada de pacote. Então a minha doce vida foi no comércio, foi ao lado do meu pai, ao lado das pessoas que trabalhavam com o público. Eu gostava muito daquela vida, daquele entra e sai das pessoas, da vida das pessoas, e ali eu pude ter um pouco, receber as pessoas. Às vezes, elas chegavam, assim, meio agressivas [e] eu era muito moleca, não queriam que eu atendesse, porque falavam que eu ia errar na conta. Vinham com aquelas listas e a gente ia servindo, e eram cinco quilos de milho, vinte quilos de arroz, tudo pesado. E, às vezes, as pessoas mais antigas tinham um pouco de receio com a garotada, principalmente eu, que era mais brincalhona, eu brincava muito, acabava me perdendo na pesagem, e aí falava: “Vê se você acerta, hein?”. Era legal, porque sempre tinha um momento de desconfiança e aos poucos as pessoas iam se afeiçoando a minha forma de atender, e acabavam me chamando para atendê-las. No começo, quando tinha aquele medo, aquela cisma, depois eu ia quebrando essa barreira e acabava sendo chamada, [me tornava] a atendente predileta.
00:23:09
P/1 - Você falou que era muita moleca na infância, você tinha alguma brincadeira favorita com seus amigos?
R - Brincadeira de rua, de pega pega, jogar queimada, garrafão, essas brincadeiras de apostar corrida com aqueles carrinhos de carretel. Não sei se já ouviu falar de carretel? Que a gente amarrava elástico e colocava um pauzinho, dava voltas e o pessoal apostava corrida. A minha mãe costurava, então eu pegava os carretéis que ela usava. Mas brincadeiras normais, roda, esconde esconde, pular corda era uma coisa que juntava quase quarenta crianças na rua, ali, brincando, então era muito divertido ficar na rua.
00:24:06
P/1 - E o que mais você gostava de fazer quando criança, assim, para se divertir?
R - Lá nós não tínhamos muita opção. A gente saía, eu comecei a sair com o grupo da fanfarra, isso eu já tinha doze anos, então a gente ia até o centro, era 22, 23 quilômetros de estrada de terra, e também por falta de recurso, as pessoas que tinham mais recursos, eles tinham uma casa em Taiaçupeba, no distrito, e uma casa em Mogi, onde os filhos ficavam para estudar. E aí a gente ficava só no bairro mesmo, ou eram as festas da igreja, a gente fazia quermesse, tinha muitas rezas nas casas das pessoas, a gente ia às vezes até de trator, naquela carretinha do trator, aquilo cabia todo mundo junto, então eu falo, na minha região tinha muita cachaça, carvão e festa, que lá tinha muito forno de carvão na redondeza.
00:25:16
P/1 - E a religião foi e é muito importante para você?
R - Ela sempre foi muito importante para os meus pais, mas para mim ela tornou-se um período obrigatório. Eu sempre fui… Eu nunca fui muito de estudar a religião, mas eu sempre respeitava. Hoje ela é muito forte na minha vida. Para mim, hoje, eu procuro aprender muito mais do que… Eu sempre participei muito de eventos, grupo de jovens, eventos, tudo que é oração, tudo que era curso de catequese, eu sempre participei, eu sempre fui catequista, mas aí eu acabei me envolvendo com um rapaz que já era casado e eu tive que me afastar da igreja por não corresponder ao que a gente tinha que… Não era orientação, assim, meu pai era ministro da eucaristia, ele fazia parte de tudo na igreja, então eu meio que fui excomungada, digamos assim, não podia mais participar de nada. Então foi um período, uma escolha que eu fiz que trouxe muitas coisas boas e coisas ruins também, eu tenho três filhos que são o meu alicerce. [O homem que eu me envolvi] hoje já é falecido, mas eu tive que romper com a minha religião, e depois fui voltando aos poucos. Hoje, eu sou mais atuante e tenho como o meu primeiro amor a minha comunidade religiosa, então, as pessoas que eu encontro sempre que eu participo desses eventos e essa fé que eu acho que nunca perdi, mas que hoje ela é bem forte.
00:27:18
P/1 - Indo agora para o período escolar, você tem alguma lembrança da escola, dos professores?
R - Eu não sei se é relevante. Tenho muitas lembranças, claro, mas nunca fui uma boa aluna, então eu tento apagar essa parte escolar. Eu sempre fui muito rebelde e, talvez, muito preguiçosa, folgada. Não sei, a escola para mim era o local de encontrar os amigos, de trocar brincadeiras. Enfim, o estudo… Não sei se [foi] também o tempo ou a região que eu estava, a gente tinha, na época das (cinco?), de não poder falar nada, então os professores… Foi um período que a gente era muito bobinho. E como eu já era muito alienada, eu fiquei, assim, mais, bem acomodada. Então, a parte escolar, a única coisa que eu mais gostei na minha vida foi quando voltei a fazer pedagogia, já com 36 anos. Eu fiz na época que eu era jovem até dois semestres de administração de empresas, mas eu nunca levei [o] estudo muito a sério. E aí depois que eu já tive os filhos, que eles já eram adultos, eu quis voltar a estudar. Minhas irmãs são todas professoras, diretoras, e elas sempre ficavam querendo que eu fosse pelo mesmo caminho e eu sempre fugia. Mais velha, eu tentei escapar, mas acabei voltando. E foi assim: dois semestres que foram os melhores da minha vida na época escolar, que eu consegui entender e aprender muita coisa, mas não tive muito recurso várias vezes. Fiz química, várias coisas e sempre fui aquela aluna que passa porque o diretor fala: “Olha, esse passa e esse não”, nunca fui um destaque. Ganhei uma vez uma redação na quarta série, mas não me lembro do tema direito; foi a única vez que eu fui premiada por questões de trabalho escolar.
00:29:41
P/1 - Você comentou que era uma aluna rebelde, era só por causa das notas ou você fazia mais alguma coisa?
R - Não. Na verdade, a minha família era, assim, muito… Meu avô era administrador da região, administrador do bairro e por isso que eu falo assim que eu era rebelde. Eu não era rica, tinha fama de rica, mas eu era pobre. A gente sabia direito o que era, mas… É mais por causa das notas, falta de compromisso. Eu acho que eu sempre fui, tive muitas oportunidades [e] eu deixava as coisas seguirem sem me preocupar.
00:30:33
P/1 - E assim que você terminou a escola, você já pensou o que você ia fazer em seguida?
R - Eu sempre quis ser… Quando eu estava no colégio, terminei o curso de química e cheguei a trabalhar em empresas, mas o meu pai era comerciante e ele tinha o supermercado. Na época, já era supermercado. Eu trabalhei dez anos com ele, aí ele falou que era melhor eu ficar trabalhando com ele do que continuar, seguir carreira fora. E nós, da nossa região, o que a gente mais queria era ir para trabalhar na cidade, trabalhar em fábrica, tanto é que foi um dos motivos de eu escolher o curso de química, porque eu gostava muito de indústria. Eu achava muito bacana, administração e tal. Enfim, eu estava trabalhando, estava bem contente com aquilo, mas meu pai falou: “O que você ganha, eu posso te pagar mais. Você não tem que ter muitos gastos, você tem muitos gastos”, e eu bem acomodada, fiquei trabalhando com ele. Aí mudei de curso de novo, voltei a fazer magistério, por pressão da minha irmã. Quando eu estava no terceiro ano, eu fui morar com o Mário e a, eu parei toda essa vontade de ir buscar alguma coisa a mais, aí fiquei só em casa.
00:32:14
P/1 - Mário é aquele homem que você falou antes, que era casado?
R - Sim.
P/1 - Ele é o pai dos seus filhos?
R - Ele é. Com ele eu tive muita história, porque o Mário ele é de São Paulo (SP) e era um ativista do meio ambiente, ele ajudou muito o bairro a não acabar com toda a mata, que é uma região de muita Mata Atlântica e lá também existia um sitiante que foi jornalista, que é o Heródoto Barbeiro, e o Mário aproveitou dessa proximidade e conseguiu trazer muitas coisas, como a lei que você não pode desmatar. É uma lei que já existia. O Mário é aquela pessoa que não conseguia fazer as coisas diretamente, mas ele buscava as pessoas, então, com quem que você tem que falar, com fulano… Ele ia atrás de pessoas que pudessem acertar com o Ministério Público, essas pessoas, para conseguir com que essas leis entrassem em vigor dentro do distrito. E ele foi jurado de morte. Meus filhos iam para a escola, eram ameaçados. Depois ele fez, entre mil coisas, uma das festas de Taiaçupeba também. Ele foi o líder e conseguiu trazer várias coisas para o distrito, e sempre foi um ativista local muito grande, mas ele era uma pessoa assim que tinha uma forma de falar muito arrogante, então as pessoas não gostavam. Então, tinha pessoas que ou amavam muito, ou odiavam muito [ele], e minha família era dessas que odiava muito essa forma dele ser. Gostavam pelas coisas boas [que ele fez], mas ele sempre questionava muito, então acabaram entrando em um atrito muito grande. Uma das coisas também bacanas que ele fez [foi] um projeto com a escola infantil, ensinando as crianças - quando começou o voto eletrônico - a votarem: então ele mobilizou, conseguiu até urna eletrônica, As crianças, tem até uma matéria da TV Cultura que mostra as crianças votando. E ele não fez só esse trabalho, ele fez um concurso de acho que era a Rainha da Primavera, que as crianças, para votar nas candidatas, usavam urna eletrônica. Ele conseguiu até que disponibilizassem as urnas. Foi uma coisa, assim, bem bacana, muito eventos assim, e foi um dos motivos que eu fiquei encantada por ele, que ele tinha essa facilidade em trazer muita coisa nova para quem sempre viu coisinhas, coisas pequenas. Mas ele acabou sendo ameaçado, e quando ele faleceu, ele infartou; não foi vítima de nenhum, de uma coisa… Ele estava indo buscar um dos meus filhos à noite e faleceu no caminho. Eu já estava separada dele nesse momento, já fazia um ano e meio que a gente tinha se separado, mas foi uma pessoa que a minha vida tem antes do Mário, depois do Mário, e depois da separação [também], que foram, assim, estágios bem diferentes.
00:36:06
P/1 - Foi ele quem te inspirou a criar a Natural da Mata?
R - Foi, porque… Não foi ele. Eu já estava separada, tinha me separado. Na verdade, o Parque das Neblinas, eu tinha uma sociedade que a gente chamava “O Sabor da Capela”. Quando eu me separei, fiquei sem emprego, sem renda, sem casa, sem nada, aí comecei tudo de novo, e eu fui convidada, fiz alguns trabalhos com o Mário dentro do Parque, ele fazia pizza, fazia coisas muito boas, de massas, enfim, e eu trabalhava junto com ele no Parque em alguns eventos esporádicos, um ou outro. E aí, quando eu fui convidada para trabalhar lá por uma sócia, a Anita, e aí nós, “O Sabor da Capela”, que foi uma empresa que deu muito certo durante sete anos, nós duas dividimos as duas tarefas: limpeza e alimentação, da cozinha. Aí eu saí dessa sociedade, e o Parque me deu a possibilidade de trabalhar só com a limpeza e os frutos da Mata Atlântica, que é o jussara e o cambuci, e eu quando trabalhava com a Anita, a gente tinha muitas pessoas trabalhando com a gente. Mas o que eu sentia [era] muita necessidade de reverenciar as pessoas que trabalhavam com a gente, as pessoas naturais da Mata, que são as pessoas que eu te contei que eu ia entregar compras e elas me recebiam com tanto carinho. Então o nome “Natural da Mata” surgiu mesmo para prestigiar as pessoas naturais da Mata, o qual acho que a minha história está muito dentro.
00:38:00
P/1 - Só voltando um pouquinho, os seus filhos também [participam]? Qual a importância deles no seu trabalho?
R - Os meus filhos criaram, meus filhos materializaram o espaço físico chamado “Natural da Mata”. Então, eles criaram uma matriz, porque eu sempre trabalhei dentro da reserva e eu não tinha um espaço meu. Era dentro [de] lá, e aí meus filhos… Eu comecei a trabalhar, eu e as [minhas] meninas trabalhavam comigo. A minha filha mais velha é engenheira florestal por conta do pai; a minha filha mais nova fez Biologia, fez gestão ambiental e por causa do “Natural da Mata” ela fez gastronomia; o meu filho, ele trabalhou em T.I. e depois ele veio trabalhar comigo. Mas primeiro veio a Renata, [que] fez gastronomia, aí a Helena terminou [o] doutorado e veio trabalhar na empresa com a gente. Quando a Helena veio, o Rafael e a Renata estavam com essa ideia - que foi mais do Rafael -: o meu pai me deixou uma herança, umas casinhas de aluguel e uma inquilina, não sei se usuária de droga, ou de algum tipo de medicamento, ela pôs fogo nas casas e queimaram duas casas, e ficou um espaço, assim, aberto no meio das casinhas; e aí o meu filho viu que passava muito ciclista por ali, que era o caminho do sol, ele resolveu ter essa ideia de fazer um barracãozinho, vender suco de cambuci e pastel. Mas aí ele fez um barracão muito grande e acabou virando um restaurante, que hoje é o “Natural da Mata”; que era bistrô, e hoje a gente chama de “Fit Natural da Mata”. É uma coisa assim que é mais a nossa cara. E os meus filhos vieram trabalhar comigo, porque eu participei de uma palestra no Sesc Bertioga, e aí que eu fui entender direito o meu trabalho. Eu sempre criticava: “Isso está errado”. A minha filha que é engenheira falava: “Mãe, você precisa ter uma coisa mais científica, um lastro, uma coisa mais elaborada”, e fez uma palestra pra eu falar e eu não conseguia lembrar uma palavra daquilo que ela tinha escrito. Aí eu fui nessa palestra e os meus três filhos estavam lá, e eu não conseguia falar; era eu e o chefe da alta gastronomia. E tinha mais um, acho que é um engenheiro florestal. Enfim, eu fiquei muito acuada nessa palestra, e eu não conseguia lembrar nenhuma parte dessa fala que a minha filha tinha decorado comigo. Aí a pessoa que me contratou me fez uma pergunta e eu comecei a contar, deslanchar, contar as coisas, e foi onde meus filhos entenderam o valor do trabalho. Então foi. Eu pensei assim: “Nossa, eles vão falar que está tudo errado”. Quando eu encontrei com eles, estava todo mundo com os olhos cheios de lágrimas: “Nossa mãe, agora eu entendo o que você faz”, aí começaram a trabalhar comigo e a tocar esse projeto, que foi se tornando muito maior com a participação deles. Hoje, infelizmente, o Rafael teve que voltar para área de T.I., teve que voltar a trabalhar em São Paulo, e a Helena também tem outras funções, é professora do SENAI, tem várias atividades, pesquisa, faz várias outras coisas, e a Renata continua segurando o restaurante. Eu fico lá no Parque mais com a área da limpeza. Mas, mesmo assim, a gente continua, o Rafael sempre que pode dá apoio para a Renata, a Helena também, e a gente continua nessa missão. Então é muito do Mário que despertou isso. Essa sensibilidade com pessoas eu sempre tive, esse carinho, mas o Mário se preocupava em trazer qualidade de vida para as pessoas, ele se preocupava muito com as pessoas pobres, com as pessoas que viviam à margem dos grandes centros. Então essa é um pouco da gente… Então, o fato da minha filha se formar em engenharia florestal, escolher a parte dos não madeireiros; ela começou a me mostrar: “Mãe, olha isso aqui, a gente pode fazer isso e isso”. A Renata, com a gastronomia, com o talento da culinária, ela desenvolvia os pratos, e aí aquele encantamento foi crescendo assim da minha parte, porque a gente começou a olhar o quintal das pessoas e a ver quanto valor tinha. Eu sempre quis ir para a cidade, quando eu aprendi que a verdadeira riqueza estava no mato, que é como a gente brinca, transformar mato em mata. Então, a mata tem valor, o mato não tem, aí eu entendi que eu não estava no mato, eu estava na mata, e ela é cheia de possibilidades. Eu me confundi toda, não sei se você conseguiu entender.
00:44:16
P/1 - [Aproveitando] por tudo que nós estávamos falando dos seus filhos, como é que foi a experiência de ser mãe pela primeira vez?
R - Eu como [era] muito rebelde, nunca quis me casar e nem ter filhos. Eu tinha minhas tias que eram professoras, eram bem de vida e eram sozinhas, demoraram para casar, então eram meu modelo de vida: casar nunca, ter filhos jamais. Aí a gente se pega apaixonada, querendo ser mãe, diante de uma vida que depende da gente. Foi o entendimento. Eu passei a entender mais a minha mãe, passei a procurá-la e a ouvir seus conselhos, coisa que nós não admitia, talvez também porque a minha geração foi aquela que a minha irmã mais velha foi criada, que não podia nada. A gente naquela confusão de “pode, mas não pode” ficou muito confuso. E quando eu fui mãe, tudo aquilo que eu nunca olhei para a minha mãe, que tudo era o meu pai, a pessoa mais forte na minha vida, deixou de ser [e] passou a ser a minha mãe. Foi quando eu entendi o valor, que às vezes a gente se perde achando que sabe muita coisa, e a mãe sempre nos castiga ou nos repreende por amor, nunca é outra coisa. Eu quando tive a minha filha, peguei e falei assim: “Então, é esse amor incondicional, essa coisa de sou eu melhorada”. Os meus filhos, eu enxergo muito isso neles, enxergo os meus pais [e] a minha história toda. Parece que eu fico vendo tudo o que eu já vivi, mas de uma forma dolorosa, porque a gente também tem problemas, mas uma benção, uma graça que não tem limite, uma coisa, assim, fora dos meus pedidos. Eu nunca pedi tanto, nunca pedi e recebo isso. Então, às vezes, nem me sinto merecedora disso, de ter tudo isso. É isso, filho é isso.
00:47:21
P/1 - Você pode contar um pouquinho sobre a parte da empresa do Parque? Qual é o parque mesmo?
R - Parque das Neblinas. Ele faz parte da… Ele é administrado por uma ONG da Companhia Suzano. E a limpeza caiu na nossa mão por acaso: eu e Anita, a gente tocava a cozinha, com a alimentação, mais para fogão mesmo, de incluir. Ela morou muito tempo em São Paulo, então ela trouxe muita novidade para a região, inclusive, para mim também. Mas, eu trabalhei muito com frutos do juçá do cambuci, que era mais a minha função, e a linha de frente da alimentação, aí o Parque queria que a gente administrasse também a limpeza. E, no começo, a minha sócia não queria de jeito nenhum, ela falava que era só encrenca, e eu já tinha mais facilidade com as pessoas, falei: “Deixa que eu administro. É só colocar a menina na empresa, tal, e comprar as coisas”. Enfim, mas aí foi vindo o encantamento, porque tem a decoração, a gente é responsável [por] manter aquela linha que eles propuseram. E meu pai sempre foi uma pessoa muito ligada à limpeza, ele era muito exigente, cobrava muito da gente. Ele era muito chato e eu não sabia que eu era igual, que eu fiquei [igual a ele]. Talvez eu me encanto tanto porque eu lembro dele. E a minha avó também, a mãe do meu pai, com oitenta anos era aquela senhorinha que ainda passava óleo de peroba nas cadeiras. e até hoje eu sou a que passa óleo de peroba em tudo, [deixando] tudo bem limpo, bem higienizado. O parque, lá é um lugar muito frio, então a gente tem as mantas. Por isso que eu falo que a limpeza me possibilita também ter esse cuidado com as pessoas, então eu deixo tudo aconchegante para elas. Eu acho que a “limpeza finalizada”, que eu chamo, é você limpar e passar alguma coisa ali que bate na mesa, então eu comecei a conviver com as meninas e comecei a ver o quanto eu gostava. A gente também administra lá a parte da cozinha do escritório, então o espaço de visitação, tem oficina mecânica, tem o espaço da despolpadeira que a gente mantém a limpeza, tem a casa dos pesquisadores, tem a casa também de pesquisadores, mas é uma coisa assim que é um escalão maior, é um lugar assim de muitos detalhes, muitos ambientes diferentes. Então, se eles renovam comigo todo ano…, a cada dois anos, é porque a gente está fazendo um trabalho diferente.
00:51:05
P/1 - E você só administra? Porque eu vi que é em Bertioga mais ou menos, meio longe de Mogi.
R - Então, é no alto da serra, só que o Parque das Neblinas, o acesso dele é por Taiaçupeba, é pelo nosso distrito, então a gente está - no espaço onde a gente trabalha - a doze quilômetros em estrada de terra… Quer dizer: a oito quilômetros da sede do escritório das oficinas e a doze quilômetros do centro de visitação, onde tem vários espaços lá que nós administramos, como camping, como área de atendimento de alimentação. Agora a gente oferta alimentação, mas, [e] todo o espaço que [é] servido [a] alimentação é de nossa responsabilidade manter organizado e limpo.
00:51:57
P/1 - E o Parque também é importante para a preservação da Mata Atlântica? Como é que é?
R - Com certeza! Eles tem um trabalho com educação ambiental extremamente forte, e é uma coisa assim que está muito ligado a mim e a minha família também, que a gente tem muito essa linha. Eles têm uma área de reflorestamento permanente que não pode mexer, e tem a parte que eles podem fazer o plano de manejo, então é uma área que eles conseguem mexer e continuam mantendo a floresta. Eles têm uma área muito grande. Acho que de 24 anos para cá, mais ou menos, pararam de tirar o eucalipto e está reflorestando sozinha. Então, você via primeiro era carvão, não tinha nada, que era da Consig, uma mineradora. Depois veio o Parque, a Companhia Suzano plantando eucalipto. Depois veio essa ONG do [Instituto] Ecofuturo, que faz esse trabalho de conservação do local.
00:53:23
P/1 - Voltando para o material da Mata Atlântica, vocês tiram a matéria prima da mata atlântica para fazer as comidas, etc.?
R - É assim: a gente trabalha muito com o araçá vermelho; o araçá roxo; o araçá branco; trabalhamos com a maria cabeludinha, que a gente chama; nós trabalhamos com cambuci, que é o carro chefe, que ele é imprescindível na Mata Atlântica, tem muito; nós trabalhamos com juçara também; nós trabalhamos com outras sementes também, como a semente baru, que é do cerrado, como ela tem muito aqui na região de Mogi; a gente também trabalha com taioba. Nosso pastel de caipira… Nós trabalhamos com o resgate da cultura local, então a gente trabalha com o que as pessoas tem em torno, que é aquilo: valorizar e tentar fazer renda também para as pessoas locais. Então a gente também trabalha muito com o shimeji, que tem uma plantação grande lá; e o produtor eu conheço há vinte anos, ele é uma pessoa, assim: sempre que você vai entrar para comprar, ele te recebe com um sorriso. Então eu sempre falo que eu escolho as pessoas as quais vão me fornecer, esse que tem esse perfil de acolhimento, onde eu sou bem acolhida, eu fico. E isso aí a minha filha traz tudo para dentro do restaurante. É o trabalho que a gente começou no Parque das Neblinas de incluir a cultura local, e na Natural da Mata é quase cem porcento. A gente tem o trabalho com outras coisas também, mas a nossa filosofia, assim, o nosso maior empenho é trazer o que as pessoas têm de melhor em Taiaçupeba. Então a gente compra o shimeji do Seu Longui, a gente compra os pães da Adriana, a gente compra o pastel caipira que é o resgate da cultura local, que é o pastel de reza, da Dona Margarida. Eu já compro dela há quinze anos, eu trouxe para dentro do Parque e outras coisas também que a gente consegue trazer da região, que a gente trabalha com muitas flores, primavera. A minha filha chama de flor de pirim pim pim, que é a flor seca, e depois ela peneira, aí fica aquele pozinho que ela coloca em cima da comida pra dar uma decorada e incluir também, e também picão branco, várias coisas que a gente tem também. Andando pela rua, a gente encontra muito em Taiaçupeba.
00:56:24
P/1 - Vocês chegaram a fazer algum tipo de capacitação para melhorar o trabalho de vocês?
R - Nós fizemos pelo Ecofuturo. Eu fiz estágio, eu e Anita, a minha sócia, com o Alex Atala em São Paulo; ele tem um trabalho muito forte de [gastronomia] amazônica com produtos naturais que ele inclui no cardápio dele. Nós fizemos duas [aulas]. A minha sócia chegou a fazer mais tempo, mas eu fiz uma semana de curso com ele. E eu via mais assim o lado administrativo de como funciona o restaurante em si, a Anita já foi mais nas receitas. É a forma de incluir a cultura dentro da culinária, e isso foi um divisor de águas para mim e Anita, mas o maior divisor, a coisa maior mesmo foi a Mazzô, que é uma banqueteira de São Paulo também. O Parque das Neblinas nos deu essa consultoria com ela, e ela foi importante porque ela trouxe a qualidade administrativa de um restaurante: como se administra; e você entender a começar por baixo, a começar pequeno.
00:58:03
P/1 - Você considera que o seu trabalho gera um impacto positivo para o bioma da Mata Atlântica?
R - É assim: a gente tem que ter dados mais científicos para chegar a um indicativo maior, mas eu acredito que nós impactamos em várias linhas. Eu acho que o nosso trabalho chega a ser quase fundamental para esse resgate da cultura local. Quando a gente começou a trabalhar com o cambuci… Eu conheço cambuci desde criança, eu fui criada embaixo do pé de cambuci, sempre comi, mas era como fruto: a gente 'punha' o fruto no copo com açúcar e comia Quando eu comecei a trabalhar na cozinha, a fazer 'n' coisas… Como é um fruto muito versátil, encolhida dentro da cozinha, ele era doce, é salgado, ele é suco. Ele é tudo. Eu me apaixonei tanto pelo valor nutricional do cambuci, pela riqueza de vitamina c, [que é] vinte vezes maior [do] que na laranja. Eu nunca mais quis chupar laranja, só quero cambuci. Eu levei para comunidade… Em Taiaçupeba, o pessoal plantava muito cambuci por causa da caça, para atrair a paca, a anta, então todo quintal tem. Assim, na rua é muito comum você encontrar, só que as pessoas foram derrubando, foram desmatando, e como cai fruto, suja tudo, as pessoas acham muito trabalhoso ter o cambuci, então tiraram dos seus quintais. E com esse trabalho que eu comecei dentro do Parque, essa paixão em falar para todo mundo: "Não joga fora. Dá aqui que eu compro, eu congelo". Eu comecei a comprar das pessoas, então as pessoas, ninguém mais quis cortar o pé de cambuci. O cambuci é um lastro dentro da região, e ele era assim bem desprezado, ninguém dava valor. O araçá também é outro fruto que ninguém dava valor e hoje as pessoas estão cuidando mais. E também tem o Seu Canela, um outro produtor que a gente faz questão de comprar os frutos dele, ele vende o araçá, o cambuci. A gente tem em casa, a gente tem no entorno, mas eu compro muito do Seu Canela que ele já fornece pra gente em bom tempo, e ele sempre traz novidade: “Olha, tem esse fruto aqui também, vocês conhecem?”, aí a gente começa a comprar também e já incluí no nosso cardápio.
01:00:45
P/1 - Para uma pessoa que não conhece o cambuci, você conseguiria descrever o sabor dele mais ou menos?
R - O cambuci é um frutinho verde, parece um disco voador. Ele é bem ácido, ele é azedo, mas tem várias qualidades. Então, tem o mais adocicado, o mais cítrico, uns dizem que ele lembra muito o limão, o sabor dele lembra muito o limão. Inclusive, as receitas que você faz também vai usando nessas duas linhas. Eu como não entendia muito de culinária quando comecei a trabalhar com os frutos do cambuci [e a] juçara. Juçara é uma palmeira, não sei se você sabe, e no trabalho a gente desenvolve o uso do fruto. Então, o palmito, a gente não dá as receitas, damos só o fruto. E aí eu fazia o brigadeiro de juçara, que foi algo assim que alavancou a minha vida, a minha parte profissional, foi o carro chefe durante muito tempo do meu trabalho. E foi por acaso. Eu gostava muito de brigadeiro, beijinho, então eu coloquei o beijinho de cambuci e o brigadeiro de juçara, e durante muito tempo, no Sesc, eu fiz vários eventos usando esses dois itens.
01:02:12
P/1 - Você faz eventos também? Você comentou agora.
R - Nós fazemos sim. A Renata, minha filha, faz café da manhã temático. A gente já fez trabalho para várias empresas. Inclusive, tem… Eu não me lembro o nome, eu sou péssima para guardar. A gente trabalhou para o Legado das Águas, a gente foi convidado para modificar a cozinha deles… Modificar não, para levar um pouco do nosso trabalho, para mostrar a diferença do nosso trabalho: e não é em receitas, é em cuidados. A gente faz café da manhã em empresas. Na Companhia Suzano, a gente fez vários. A gente já levou até São Paulo: na Faria Lima, a gente fez cafés da manhã; em escritórios. As pessoas não tem assim uma aceitação muito boa de cara, porque [quando se fala em] café da manhã, todo mundo pensa: suco de laranja, mamão… Aí chega suco de juçara com banana, suco de cambuci; as pessoas têm uma certa dificuldade em entender. Mas depois que elas entendem, a gente faz vários trabalhos temáticos em São Paulo, no Legado das Águas também. Isso já é mais a minha filha, meus filhos é quem vêm fazendo. Eu fiz alguns cafés temáticos antes deles, mas agora eles têm um trabalho, assim, muito maior, de trazer um pouco do jeito interiorano, das plantas da mata, e do que a natureza oferece pra gente sem a gente nem perceber. Então, a percepção da natureza, esse cuidado das pessoas que estão próximas da mata, eu acho que para todo lugar que você olha dentro da mata, ela é exuberante em vida, e eu vejo muito isso nas pessoas. Hoje, eu tenho mais sensibilidade com os pássaros, com os animais. Eu acho que sem o homem, não é que não existe nada disso, mas acho que o homem é muito completo: ele quando olha o passarinho, chama o passarinho; quando ele vai cuidar do cachorro, vai cuidar do porco, ele é muito amoroso. Eu acho fantástico a minha ligação com as pessoas da roça, que é muito forte, com os produtores. Eu acho, assim, um trabalho extremamente…, não injusto, mas porquê as pessoas da roça, as pessoas que estão à margem, as pessoas que tem ali o seu quintal, não cultivam, porque elas não têm o mesmo valor das pessoas que estão no grande centro, e a gente bate muito nessa tecla, as pessoas não entendem, mas o meu filho sente muito ter voltado para o T.I: não [se tem] o valor merecido [ao] trabalhar dentro de um grande centro. Então o nosso trabalho é mostrar um pouco desse valor, para que as pessoas consigam ir no restaurante como o nosso e entender, identificar no prato ali, cada coisa ali, [que] ele tem uma história, tem uma pessoa, tem um personagem. Cada prato que eu monto tem uma pessoa por trás, ou que a gente reverencia. Mas é isso, entende, esse trabalho duro. Eu sempre sou muito criticada por meu trabalho na limpeza, as pessoas que dentro do Parque das Neblinas, tem as outras empresas trabalhando, e às vezes eu recebo muitas críticas que eu faço muito pelas pessoas que trabalham comigo, mas muito do que eles falam é ciuminho para mim. Eu quero dar o melhor calçado, quero dar a melhor roupa porque lá é muito frio. Eu quero trazer um transporte melhor para eles, e as pessoas que são contratadas dentro da Suzano Parque, eles têm um patamar muito alto, [então] eu quero meio que igualar, mas eu quero que eles se sintam, não protegidos, mas, assim, temos que dar valor. Hoje eu não tenho, financeiramente, dinheiro, eu tenho muitos resultados positivos do que eu fiz, [mas] eu nunca tive dinheiro. Eu quis trazer essas pessoas que estão comigo desde o começo, fazer com que a vida delas melhore. Eu, aos 46 anos, tive a possibilidade de começar um trabalho novo, de conhecer pessoas incríveis, pessoas, tanto os pesquisadores, os engenheiros, como as pessoas dos sítios, as pessoas com as quais eu trabalho, e aí eu quero trazer para elas a mesma possibilidade que eu tive. A Dona Margarida, essa senhora que me fornece o pastel, esse ano, depois de quinze anos, de tanto a gente falar dela, reverenciar, ela foi chamada para uma matéria pela TV Globo, saber regional da TV Diário. O pastel da Dona Margarida, um pastel de reza. A revista Veja de São Paulo fez uma matéria sobre ela há doze anos atras, e pela primeira vez o pastel da Dona Margarida se materializou. Ela foi chamada até pelo Sesc de Mogi para fazer uma reportagem. Então é isso que eu quero: que todas as pessoas que trabalham comigo tenham suas histórias contadas também de uma forma valiosa.
01:08:51
P/1 - E o quanto o Natural da Mata mudou do início até agora?
R - Como?
P/1 - A Natural da Mata mudou desde que você começou até agora?
R - Como ela mudou?
P/1 - O quanto, se ela mudou alguma coisa? Para melhor?
R - A gente muda sempre, muda o tempo todo, os meus filhos mudam [ela] o tempo todo. E hoje, assim, quando eles criaram… Eles criaram um bistrô Natural da Mata, e a Natural da Mata - Parque das Neblinas. E a Natural da Mata [que tem o] espaço próprio, já teve uma grande mudança, uma mutação muito grande, que a gente pode incluir mais itens, mais coisas da região, mais coisas da natureza, mas ela vem se modificando para que as pessoas… O nosso foco, realmente, é o cuidado, entende? É alimentar a história de cada um, o cuidado com cada pessoa. Nosso trabalho vem evoluindo sempre nessa linha de valorizar cada dia mais as pessoas que para nós são importantes, e que cada pessoa que vá até lá consiga resgatar a sua melhor parte, a sua história, por isso que a gente usa esse slogan “Alimente sua história”, foram meus filhos que chegaram nesse contexto. E a gente quase fechou… Já fechamos duas vezes, abrimos novamente, porque a gente ainda tem essa garra, essa vontade de…, porque também, apesar de muitos feedbacks, que a gente chama, muitos retornos positivos, é difícil, sabe? É muito difícil manter uma coisa assim que depende de tanta gente, então você tem um gasto muito grande. Mas a gente tem vários retornos positivos, isso que vai fazendo com que a gente melhore, que a gente siga cada vez mais nessa linha desse trabalho.
01:11:12
P/1 - E a comunidade Taiaçupeba, mudou bastante desde que você era criança para agora?
R - Mudou muito. Sim, mudou muito. Ela mudou. Hoje é uma periferia, antes era uma zona rural. Ela era o cinturão verde, hoje ela é cercada de represas. Muitos japoneses que vieram, muitos imigrantes japoneses que vieram para a nossa região, hoje já não estão mais, então ela deixou de ser esse foco de fornecer verduras. Ainda tem um pouco. Hoje ela é uma área procurada para as pessoas que querem um ambiente mais natural. Então Taiaçupeba, por conta do Parque das Neblinas, Natural da Mata atrai muitas pessoas que vão para a região, que vê no Instagram, que tem curiosidade [sobre o lugar]. É um local mais para turismo. Hoje, a vocação maior de Taiaçupeba é o turismo, e ela é uma cidade dormitório, tem muitas pessoas que moram lá e trabalham na cidade, trabalham em Mogi, então o turismo está fazendo com que alguns jovens continuem permanecendo no bairro, que era um dos nossos objetivos, que [com] a gente não deu muito certo, era atrair os jovens para o trabalho no bairro, no distrito, promover de alguma forma com que eles desenvolvessem algum talento para contribuir com o lugar.
01:13:21
P/1 - E além do trabalho, você tem algum hobby, alguma coisa que você goste de fazer no tempo livre?
R - Ah, eu tenho a minha neta. É vir atrás da neta. Tenho uma netinha de dois anos e meio que é o meu maior hobby. Fora a igreja, que eu tenho pouco tempo, porque dentro da reserva do Parque a gente trabalha de domingo a domingo. Eu tenho uma equipe que trabalha comigo, então eu estou sempre lá. Mas, normalmente, a gente passa muito tempo lá dentro, ou cuidando um pouquinho da Rafinha, [minha neta], ou na Natural da Mata, que também é um lugar que acaba ficando, ou no Parque. Ou na Natural, ou com a Rafa.
01:14:10
P/1 - E quais são as coisas mais importantes para você hoje?
R - É Deus. Eu acho que começa por ele e termina por ele. Não tem nada que justifique tantas mudanças na minha vida e eu ainda continuar conseguindo voltar para o lado certo. Eu tive assim muitos momentos de dificuldade, que a gente pensa que só alguém segurando mesmo para você continuar.
01:14:58
P/1 - E qual o seu maior sonho hoje? Pode ser mais de um também.
R - Meu maior sonho é abrir a Natural da Mata novamente, desenvolvendo esse papel com essa atuação assim, com aceitação maior no nosso distrito, que as pessoas entendam o nosso trabalho, porque muitas pessoas… A gente não consegue atingir muitas pessoas, embora já tenha melhorado. Mas que o nosso distrito reconheça o nosso trabalho e que comece a copiar, comece a fazer igual, comece a investir em pessoas, a investir no comércio local, a investir na inovação.
01:15:47
P/1 - Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de acrescentar?
R - Eu acho que já falei demais. Eu não me lembro, não sei… Acho que não. Talvez da família, mais dos meus filhos, do empenho que eles sempre tiveram. Eles sempre me ajudaram, antes em off, quando eles não trabalhavam comigo, e depois eles voltaram também a trabalhar em outros lugares, mas eles continuam sempre dando esse suporte. Eu acho que o trabalho deles é muito grande. Ficou no passado: eu não reconheci o valor da minha mãe, [também] demorei muito para reconhecer o valor dos meus filhos. Acho que eles têm… Eu sou o que sou hoje, assim, na bronca, eu sou o que sou hoje espiritualmente falando, e profissionalmente falando graças ao apoio desses três, que são os pilares dessa [minha] vida.
01:17:05
P/1 - Qual é o nome dos seus filhos?
R - É Rafael, Renata e Helena. Na verdade, Helena é a mais velha, Renata e Rafael. Eles têm na faixa de trinta anos, 33 para 32 e são muito lindos. Eu acho que eles tem essa força, assim, que me faz continuar.
01:17:35
P/1 - Que ótimo! E qual você acha que é o seu legado para as próximas gerações?
R - Difícil, né? Eu acho que pessoas cuidando de pessoas, acho que eu tento fazer isso. Eu espero que as pessoas continuem. Eu tenho algumas meninas que trabalharam comigo, que falam: “Você é uma chefe que eu dou valor, muitas de nós se inspiram em você”. Quando eu fui convidada para fazer parte do plano de manejo do Sesc Bertioga, eu, a princípio, não queria ir para a entrevista, porque acho que nunca tenho nada para falar. Depois eu aceitei, porque quero inspirar pessoas. Uma das histórias, assim, é acreditar, que você siga a sua intuição. Se a sua intuição fala para fazer: faz. Então não se acanhe.
01:18:50
P/1 - E, por fim, o que você achou de contar a sua história pra gente?
R - Morrendo de vergonha. Acho que é uma oportunidade para eu mesma ficar de frente com a minha história. E é difícil, viu, a gente contar a história da gente. Eu fiquei com muito medo quando os meus filhos falaram, não queria participar, mas é uma oportunidade [e] a gente tem que aproveitar as oportunidades. E se não for para nós, é para alguém: talvez alguém se beneficie das nossas experiências.
01:19:38
P/1 - É verdade. Então, Vanda, em meu nome e do Museu da Pessoa, a gente agradece [a] você pela entrevista. Ela foi incrível!
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