Projeto Memórias do Comércio 2020-2021 - Módulo Bauru
Entrevista de Leonardo Saralegui Balbino
Entrevistado por Cláudia Leonor e Guilherme Foganholo
Bauru, 22 de janeiro de 2021
Entrevista HV005
Transcrita por Selma Paiva
P1 – Então, Leonardo, bom dia!
R1 – Bom dia!
P1 - Obrigada oficialmente por você ter aceito o nosso convite, eu agradeço muito e a gente vai começar a nossa entrevista, eu vou pedir pra você falar o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R1 – Leonardo Saralegui Balbino, eu sou natural de São Paulo, eu nasci no dia 25 de julho de 1978, 42 anos.
P1 – Maravilha! O nome dos seus pais e o que eles trabalhavam, Leonardo?
R1 – Meu pai é José Salete Balbino e minha mãe é ZenêSaralegui Balbino. Meu pai, hoje, é aposentado e ele trabalha aqui naEmpadas comigo, ele aposentou na Telesp e minha mãe aposentou no Banco do Brasil. Hoje ela não trabalha mais. Quem toca o negócio aqui somos eu, meu pai e meu filho.
P1 – Maravilha! Você cresceu em São Paulo? Que bairro?
R1 – Eu nasci em São Paulo. Meus pais, quando eu era pequeno, um ano de idade, nasci em 1978, em 1979 já estava em Bauru, mas era na zona norte ali, na Vila Sabrina, Jardim Brasil.
P1 – Que você nasceu?
R1 – Isso. Eu nasci lá e vim pra Bauru com um ano de idade.
P1- E você tem irmãos, Leonardo?
R1 – Tenho uma irmã de 41 anos, que é advogada, já nascida em Bauru.
P1 – Ela é mais nova?
R1 – Um ano mais nova.
P1 – E aqui em Bauru, vocês foram morar em que bairro, Leonardo?
R1 – Lá na Nova Esperança, zona oeste da cidade. A mãe da minha mãe, a minha avó, a gente morou na casa dela ali, já em 1979, o bairro que nós moramos até hoje.
P1 – Descreve pra gente como é que é Nova Esperança.
R1 – É a periferia da cidade. É um bairro bem distante do Centro. Pessoas humildes, muito carentes, porém muito acolhedoras. Gosto muito de lá, meus pais têm a casa lá, moram lá até hoje. Eu saí de lá, moro em outro bairro hoje, mas eu tenho lá como a minha casa, meus amigos de infância, onde eu cresci, conheci tudo ali. Muito feliz, muito grato por Bauru ter aceitado a gente e em especial a Nova Esperança, um bairro ali bem simples. Gostamos muito dali.
P1 – É bastante residencial ali né?
R1 – Sim, é bem residencial. Agora, com os mercados, as grandes redes indo para os bairros, então acaba criando pequenos centros de compra. Mas ali é um bairro 100% residencial, é casa da antiga Cohab que se falava, é um bairro de Cohab. Hoje já totalmente mudado, com avenidas e casas modernas.
P1 – Onde está localizado esse pequeno comércio, assim, que você fala? Em torno de qual supermercado? Como é que se organiza esse comércio local, ali?
R1 – Ali tem uma avenida principal, que chama Avenida Plínio Machado, que vai desde o bairro Bela Vista e termina ali na Nova Esperança, no Jardim Prudência. É bem cruzando essa avenida que nós moramos. Então, a avenida se tornou hoje uma rota comercial. Essa avenida inteira é uma rota comercial e ali, entre a quadra 18 e 19, mais ou menos, é uma travessa que nós moramos ali. E o mercado que tem, hoje, grande, ali, é da rede Panelão, que é de Bauru, aqui mesmo, são fundadores aqui em Bauru e tem um mercado lá pra cima, que também se tornou um polo comercial bem atraente ali.
P1 – Chega o supermercado e em torno do supermercado, organiza um comércio local?
R1 – Isso, ajuda bastante. Os grandes mercados, as grandes redes têm essa visão e o comércio pequeno também consegue trabalhar dessa forma, aproveitando o movimento que tem em torno das grandes redes.
P1 – Interessante! Agora, assim, da sua época de menino, o que vocês faziam, ali, de lazer? Jogava bola, ia pra praça? O que vocês faziam? Quem era sua turma de traquinagem? Conta um pouco esse lado.
R1 – Jogava bola todo dia, jogava bets todo dia, brincava de esconde-esconde o dia inteiro. Quando chegava da escola ia brincar de esconde-esconde, corria com carrinho de lata, que não tinha carrinho igual hoje. Estamos falando de 35 anos atrás. Trinta anos atrás. Jogava bola de gude. Então, essa era a nossa diversão. Subia em árvores pra chupar frutas na árvore: manga, jabuticaba. Então, era uma infância bem divertida, bem legal mesmo. Fui criado ali nas escolas, frequentamos os parques ali, que hoje são as Emeis. Então, muito legal essa lembrança de infância. Muito bacana.
P2 – E onde você estudou, Leonardo? Você lembra das escolas? Frequentou várias em Bauru? Como foi isso?
R1 – Lembro. É Vera Lúcia Cury Savi. Era uma escolinha, um parquinho que está, até, fechado e eu tenho amigos até hoje que vêm aqui na loja, que é dessa época, cara! E depois, atravessando a rua, já era a escola de primeiro e segundo grau Irmã Arminda Sbrissia, tem lá a escola até hoje, me formei lá no colegial. Então, pô, é uma lembrança muito legal, onde era obrigatório usar uniforme e você tinha que comprar, não era nada doado e, se não tivesse bem arrumado, não entrava nas escolas. Coisa que hoje em dia já não é tão assim. Cantar o Hino Nacional, praticar atividade física duas vezes por semana. Era muito legal.
P1 – Quem era sua turma de amigos dessa época?
R1 – Olha, eu tenho alguns... posso falar nomes aqui?
P1 – Pode.
R1 – Tem o Fábio, que é um grande amigo meu. Ele mora lá no bairro até hoje. Foi embora pra Cuiabá e hoje ele voltou, já tem uns cinco anos que ele voltou pra Bauru. Tem o Sullivan, que veio aqui na loja essa semana, também amigo de infância, veio consumir empadas aqui. Ih, tem vários. Tem o outro Fábio também, que eram três Fábios, né? Cada um tinha um sobrenome diferente. E essa turma aí, meu Deus! Fantásticos. São amigos até hoje. O Everton também, que hoje é tatuador, muito renomado aqui na cidade, também amigo meu de infância. Muita gente, muita gente. Muito legal, mesmo.
P1 – Maravilha! E você estudou até o quê? Colegial, ensino médio? Fez todo...
R1 – Isso, ali na escola eu terminei o ensino médio, depois eu ingressei na faculdade de Direito, na ITE e não terminei. O meu pai é formado em Direito na ITE, minha irmã é formada, os dois advogados e eu optei por trabalhar, né? Deveria ter continuado estudando Direito, mas enfim, depois eu me formei em Marketing, na FIB, em Bauru e também fiz curso técnico, também de Marketing, com atualização agora, não muito tempo atrás, uns cinco, seis anos atrás, que aí veio a Etec, me formei em Marketing também e estou pra me formar em Sistemas Biomédicos, na Fatec de Bauru. Só não continuei, por conta das empadas, que aí a empresa virou prioridade, né? Mas falta pouco, falta um semestre só, entregar o TCC e se formar.
P1 – Que beleza!
P2 – Você voltou, então, a estudar, depois desse tempo só trabalhando? Foi isso?
R1 – Isso. Sim. Na verdade, eu nunca deixei de estudar, sempre fazendo alguma coisa. Eu fiz curso técnico do CTI também, mesmo tendo terminado o segundo grau em escola estadual, no Arminda Sbrissia, eu também fiz o técnico do CTI e fiz o técnico da Etec e agora na Fatec. Então, estudar eu vejo que nunca é demais, a gente está sempre aprendendo, não importa a idade. Importa o que você quer conhecer. Então, eu estou sempre procurando fazer algum curso, nunca ficar parado, paralelo à vida de casado, de filho, a vida de empresário e vamos estudando também.
P1 – Continua, né? Vamos voltar um pouquinho lá pra trás, nos seus primeiros trabalhos. O que você começou fazendo, Leonardo?
R1 – O meu primeiro emprego foi numa empresa que hoje não tem mais no Brasil, chamada Arby’s. Ela era uma rede que fazia hamburguer de rosbife. Era uma carne fatiada e, por fim, montava o hamburguer e fazia. Hoje existe, é uma rede texana, existe nos Estados Unidos ainda, até hoje e esse foi o meu primeiro emprego. Foi aí onde eu conheci o meu primeiro gerente, chamado Eraldo. Eu não sei nem onde ele se encontra mais, mas ele era de São Paulo, era gerente e foi ele que me deu o know how todo de franquia, de atendimento ao cliente, de atender bem e não saiba a quem. Então, foi onde eu aprendi a trabalhar com o público, aprendi a cuidar de uma loja, aprendi a ter amizade, a ter um time que faça por você e com você e não pelo salário, né?
P1 – Tinha loja aqui em Bauru?
R1 – Tinha. Era no Walmart, assim que abriu, em 1997. Agora fechou, agora é o BIG lá, mas foi logo que abriu, a primeira franquia que teve dentro do Walmart. Eu entrei lá muito simples, limpando o chão, a mesa, meu primeiro emprego registrado. Então, muito grato, mesmo, trabalhei por mais de um ano lá e saí de lá como gerente.
P1 – Olha! Descreve um pouco a personalidade do Eraldo, porque parece que ele foi uma pessoa importante pra você, na sua formação.
R1 – Foi. O Eraldo era um cara de família, né? Os filhos. Sempre prezando, em primeiro lugar, ali, a unidade, todo mundo junto. E ele me ensinou, me passou isso aí: “Leonardo, você tem que trabalhar alegre e feliz e gostar do que você faz, independente do emprego que você tenha. Você tem que trabalhar feliz”. E ele me ensinou isso aí, que a gente tem que ter um ambiente limpo, arrumado, organizado, sempre procurando procurar qualquer defeito, pra resolver antes que seu cliente chega. Ele me ensinava isso aí: “Nunca você fica parado, sempre vai ter alguma coisa pra fazer. Leonardo, nunca está bom, sempre tem alguma coisa pra fazer”. Isso eu lembro do Eraldo e eu tento colocar em prática hoje e sou muito grato. Nunca mais o vi, não sei onde ele se encontra, mas foi uma pessoa ímpar na minha vida.
P1 – Maravilha! E fala um pouquinho dessa estrutura do Walmart. Foi muito diferente aqui em Bauru, quando o Walmart chegou, em 1997.
R1 – Sim. Isso. Na época veio como hipermercado, já era conceituado fora do Brasil como uma empresa que vende de tudo num lugar só. E o bauruense não estava acostumado com isso. Ainda mais quem não tinha muito acesso a viagens, ir pra São Paulo, conhecer grandes centros comerciais, né? Então, vindo isso para o interior, pra Bauru, que é uma das cidades maiores do interior, o pessoal teve uma noção macro do negócio, como é que isso aí e foi muito legal você chegar lá e poder comprar um pneu, arroz e feijão. Isso era o máximo! E tinha a parte de jardinagem, você comprava tudo pra um jardim, entendeu? E aliado a isso um centro automotivo, que não só trocava o pneu que se comprava lá dentro, como também já arrumava seu carro, enquanto você estava ali almoçando, depois de ter feito a sua compra do mês. Então, foi um divisor de águas o Walmart aqui em Bauru, pra nós. Foi muito bom, todo mundo lembra com saudade dessa época e foi um mercado que vendeu muito, teve um faturamento muito legal. Foi muito bom.
P1 – De onde vinha a clientela? Não era só bauruense também?
R1 – Não. Nós abrangemos aqui bastante pequenas cidades, que até então não tinha pedágio e então você tinha um polo comercial muito grande. Bauru é conhecido pelo seu polo comercial e universitário. Não tem muitas indústrias. Então, o pessoal vinha sempre de Agudos, Pederneiras, Pirajuí, Tatuí, Jaú, do entorno, fazer compra e conhecer o Walmart. Era muito bom. Fiz muitos amigos ali, até hoje.
P1 - E ali o Walmart está do lado do Bauru Shopping, né?
R1 – Isso. Bauru Shopping tem uma história linda em Bauru, se não me engano, há mais de trinta anos também está ali e sempre renovando, ampliando, vindo com novas propostas de mercadoe aquela região prosperou muito, junto com o Bauru Shopping. Nós temos ali a parte residencial de prédios, que na época não tinha nenhum. Então, todo mundo acreditou ali e aquilo ali está muito bom hoje. Ao lado do aeroclube, que não tem mais grandes aviões, mas continua com os aviões pequenos, de pequenos empresários ali. Então, é uma região muito bacana, muito próspera. Que é, por sinal, próximo de onde é a nossa loja.
P1 – Sim, a gente vai chegar na sua loja ainda. Depois dessa empresa, como se desenvolveu sua carreira?
R1 – Sim. Aí eu tive muitos empregos. E eu tinha algumas certezas: era que eu não queria ser funcionário público, empresário e vendedor. Essas foram as três certezas da minha vida. Eu queria, sempre, trabalhar com uma grande empresa. Empresa de renome, pra poder criar raiz e acontecer lá. E foi tudo ao contrário: eu acabei sendo um vendedor, eu falo muito, (risos) uso as mãos pra falar, então eu tenho um poder de persuasão muito grande naquilo que eu acredito. Eu acredito num produto e eu vou vender esse produto. Então, eu sou um grande vendedor. Pelo destino, eu virei empresário. E também, por um outro destino da economia, eu fiz um concurso e sou funcionário público. Então, eu sou as três coisas que eu não queria ser na vida. E deu certo. Estou legal, estou feliz.
P2 – Eu lembro até que você chegou a comentar comigo que você chegou a ser motorista, que você estava insatisfeito com isso, né?
R1 – Exatamente. Foi, eu fui fazer concurso da prefeitura, acredita? Pra motorista. E eu entrei, passei num concurso e foi por conta disso, do salário estressante, que aí eu comecei a ver o lado das empadas da minha avó. Então,eu trabalhei como motorista, sim; como vendedor de uma antena chamada DirecTV, que também não tem mais aqui no Brasil, foi vendida pro concorrente que hoje atua aqui e eu fui muito feliz também, andando na rua porta a porta, que eu não queria ser vendedor e acabei sendo, a empresa muito boa, foi muito bacana também.
P1 – Mas era uma época de expansão da DirecTV?
R1 – Exatamente esse o nome: era um plano de expansão da DirecTV. Ela estava entrando no Brasil e a gente tinha a equipe de vendas, mas era uma equipe muito diferenciada. Tinha van, aquelas topics tinham acabado de chegar no Brasil. Tinha aqueles pagers, que não eram nem celulares. Eles ofereciam isso pra gente. Tínhamos treinamento em São Paulo, que íamos de avião até lá. Então, apesar de ser um vendedor de porta a porta na rua, tinha todos esses benefícios que agregavam, né, deixava a gente feliz com a profissão.
P1 – Que época é isso, Leonardo?
R1 – 2000.
P1 – Mas como que é essa questão de você ser um vendedor de porta em porta, ser recebido na casa da pessoa? Que bairro você andou? Conta um pouquinho desse período, mais.
R1 – Eu trabalhava na equipe avançadade vendas, mas era fora de Bauru, era na região de Campinas. A equipe era aqui do interior, todo mundo, mas tinha um plano de ação lá na região de Campinas, que o pessoal tinha a cabeça um pouco mais aberta pra TV paga. Antigamente não tinha muito isso, né? Era só ligar a TV, você tinha os canais abertos. Ninguém se preocupava com os fechados. Quando a gente tinha que vender essa ideia do canal fechado: você assistir o que você quer, na hora que você quiser. Um jornalismo 24 horas, um filme, um desenho 24 horas. Então, era legal a gente visitar os estabelecimentos comerciais na região de Campinas, Indaiatuba, Americana, Nova Odessa, Rio Claro. Essas eram as cidades que nós trabalhávamos. Apesar de estarmos locados em Bauru. Então, nós saíamos daqui na segunda-feira e voltávamos no sábado, trabalhando a pé.
R1 – E ficava hospedado lá em Campinas? Como é que era?
R1 – Ficava hospedado em hotel, que a empresa mesmo designava, já era preestabelecido. Era muito bom. Um emprego muito, muito bom mesmo.
P1 – Uma estrutura, né?
R1 – Bacanérrima. Muito bacana. Então, eu não queria ser vendedor, mas acabei sendo vendedor da melhor empresa que eu poderia ser. (risos)
P1 – E aí, como é que você sai da DirecTV e como isso se desenvolve na sua carreira?
R1 – Aí eu saí da DirecTV e fui pro concorrente, que comprou hoje a DirecTV. Trabalhei, mas não teve o mesmo sucesso, porque não tinha a mesma estrutura, porque a DirecTV queria crescer e o concorrente já era grande no Brasil.
P1 – Quem era o concorrente?
R1 – É a Sky. E aí não precisava de tantos investimentos, igual a DirecTV fazia, na questão do funcionário. E acabou que depois eles vieram a comprar a DirecTV, que se extinguiu aqui no Brasil. Na América Latina ainda tem. E foi assim a minha vida de vendedor. Vamos dizer que mais ou menos começou por aí e depois eu fui vender colchão. Fui pra Ribeirão Preto, morar e lá eu fui vender colchão. De novo como vendedor. Que foi onde eu comecei a estudar também Administração, na Unaerp lá, mas como eu fiquei pouco tempo lá em Ribeirão, acabei não concluindo o curso e voltei pra Bauru, pra vender colchão de novo. Isso a gente já está falando de 2005, 2006, quando eu voltei pra Bauru.
P1 – Mas é uma loja específica ou como que é?
R1 – Tinha. Era uma loja específica, uma grande rede de colchão, não sei se posso falar o nome aí, mas...
P1 – Pode falar.
R1 – Colchões Ortobom. Também foi um divisor de águas na minha vida, que eu entrei como vendedor de colchão lá em Ribeirão Preto e conseguimos nos destacar, eu e minha equipe lá, o pessoal muito ‘dez’, me ensinou a vender colchão e chegamos a ser uma referência como vendedores, né, de colchão lá em Ribeirão Preto, no Novo Shopping ali em Ribeirão. E aí eu vim pra Bauru, voltei de novo e comecei como colchão de novo, a mesma coisa, como vendedor. Mas aí, em pouco tempo, eu já fui ser gerente da loja, coisa que lá eu não consegui, porque já tinha pessoas muito mais graduadas que eu lá em Ribeirão. E aqui eu consegui ser gerente de loja. E fiquei por um bom tempo, né, como vendedor de colchão e é o que eu sei fazer, muito, até hoje. Depois eu entrei na prefeitura, que fui ser motorista. Aí, dentro da prefeitura, já trabalhando, eu recebi uma proposta pra voltar pra Ortobom, mas pra fábrica e não pra uma loja de franquia, tendo um dono, pra ser direto da fábrica. Eu já tinha feito curso de Marketing. Então, eu fui ser gestor de Ações de Venda de Franquia da Ortobom. Então, juntou a experiência de colchão, com mais o curso que eu fiz, de Marketing. Então, a gente trabalhava com grandes feirões, grandes eventos e a empresa era lá de Arapongas, no Paraná, a fábrica. Registrado lá, só que atuava aqui no estado de São Paulo. E é assim até hoje, é assim que funciona até hoje, tirando litoral, Vale do Paraíba e a grande São Paulo.
P1 – Maravilha! Qual a particularidade, especificidade de trabalhar no ramo de colchões?
R1 – É ímpar. A pergunta é simples, é só perguntar quando foi a última vez que vocês trocaram colchão. Só que eu penso sempre ao contrário.
P1 – É por isso que eu perguntei, porque não é um consumo exacerbado, né?
R1 – Não. Ninguém compra colchão constantemente. Só que as pessoas nascem todos os dias, as pessoas se casam todos os dias e as pessoas separam todos os dias. (risos) Então, o consumo de colchão é grande, é enorme, é um mercado absurdo, vocês não têm noção!
P1 – Mesmo?
R1 – É. Aqui em Bauru acho que tem mais loja de colchão do que farmácia, (risos) que também tem em todo lugar, né?
P1 – Ai!
R1 – Farmácia é praga. Então, o colchão eu vejo dessa forma: todo mundo nasce, todo mundo casa e todo mundo se separa. E aí é onde entra eu: especialista em vender colchão. (risos)
P1 – Ai, que ótimo! (risos)
R1 – Tem até uma historinha simples, bem legal de colchão: você primeiro é um colchão de solteiro, seu pai e sua mãe te deram, você nem sabe o que é, mas você dorme em um colchão de solteiro e a primeira coisa que você quer é um colchão de casal. Ou você junta dinheiro e compra ou você ganha de alguém quando você casa, um colchão de casal simples. Aquilo vai durar uns cinco anos, no máximo. Recém casado, um colchão barato que você ganhou, não vai longe. Aí você começa a trabalhar e compra um colchão melhor. Passou uns dez anos de casado. Aí você ganhou um pouquinho mais, você vai comprar um colchão maior, um king, aí você já está com uns trinta anos de casado, porque você vai demorar vinte pra trocar esse colchão. Aí, com trinta anos de casado, qual é o próximo colchão seu, sendo que o maior é o king? Dois de solteiro, cada um num canto, não é? (risos) É assim. Todo mundo está nessa vida aí. É bem legal.
P1 – E quando separa, você não fica com o mesmo colchão. A primeira coisa que você faz é jogar o colchão fora.
R1 – É. Separou, largou, mudou de casa, o colchão é a primeira coisa que vai embora. E é aí onde a gente entra. E vende muito, viu? Parece que não, mas é um mercado (24:01).
P1 – Genial! (risos) E você ficou com a Ortobom até quando, Leonardo?
R1 – Então, eu fiquei na Ortobom até 2010, que aí eu entrei na prefeitura, que eu saí da franquia...
P1 – Aí teve a passagem pela prefeitura aqui em Bauru.
R1 – Aí eu voltei pra Ortobom. Foi até 2012. Aí eu fui ser gerente. Foi o meu melhor emprego da minha vida! Eu fui ser o que eu imaginei que eu nunca fosse ser: vendedor. Mas aí eu fui ser gerente dos vendedores. Porque eu aprendi a ser vendedor, podia ensinar vender colchão. Então, aqui em Bauru, muita gente me conhece mais por causa do colchão, que eu vendia, então o pessoal me conhece muito.
P1 – Maravilha! E como foi direcionando a questão da empada?
P2 – Só que antes eu queria fazer uma pergunta: aí que foi essa questão de você ser o gerente dos outros vendedores, como foi pra você isso? Você aprendeu bastante também como lidar com as outras pessoas ou não?
R1 – Pra mim foi, assim, muito legal, porque eu era o vendedor antes, então eu sabia a necessidade do vendedor, a dificuldade que é de você ficar lá o dia inteiro na loja e não vir um cliente. A dificuldade, às vezes, de preço. Então, tudo isso aí eu já sabia quando eu fui ser gerente deles. Então, eu tinha como conversar com eles, explicar pra eles que era assim, que tinha que esperar e que o dinheiro vem e que a venda acontece, que não pode se desesperar. Então, pra mim foi muito tranquilo e são meus amigos, alguns, a maioria deles hoje são donos de lojas. Eram vendedores __________ (25:54), hoje aqui em Bauru, pelo menos uns quatro ou cinco são donos, cada um, de duas lojas de colchão. Começaram ali, como vendedor e eu sendo gerente deles. Então, foi muito tranquilo.
P2 – Todo mundo, ali, cresceu, né?
R1 – Todos. Eu acho que eu não conheço um que não foi pra frente.
P2 – Olha!
R1 – Eles eram bons. Os ruins eu nem lembro do nome deles, mas os que eram bons hoje são donos de loja e continuam com colchão, todos eles.
P1 – Maravilha! E é um setor que, assim, desenvolveu muito também, de qualidade, de tipos, de tamanhos...
R1 – Sim, mudou bastante, porque antes era um monopólio: você tinha duas marcas conhecidas e eles ditavam o que era bom e o que era ruim. Hoje não, aí veio a globalização, vieram as marcas estrangeiras e isso ensinou as pessoas o que realmente é bom, como é certificado, o que é um selo de qualidade, o que é uma mola, como é que é um suporte de peso, uma estrutura de caixa box, coisa que o brasileiro não estava acostumado. Estava acostumado com aquela cama convencionalzinha e o colchão por cima, com estrado fazendo barulho. Aí veio esse conceito box aí, que diminui o espaço, mas mantém a área útil do colchão e mais moderno, não é? Mais barato, mais fácil de transportar e tudo, né? E as marcas que vieram de fora, diminuindo o custo disso aí e aí tornou acessível à maior parte da população. Porque hoje Bauru é referência também em venda de box. Então, tem muitos ex vendedores de colchão que hoje têm a fábrica de box. Os caras produzem o box. Então, você compra hoje em uma loja em Bauru o box produzido em Bauru, de um colchão produzido no nordeste, no sul, entendeu? E a qualidade está ali, bem próxima.
P1 – Impressionante! Então conta um pouquinho como surgiu o negócio das empadas.
R1 – A minha avó, a Dona Paula, sempre fez essas empadas e foi ela que sustentou os oito filhos, que é o meu pai e mais sete. Meu pai é o primeiro homem mais velho, tem uma irmã que é mais velha do que ele. Então, a minha avó veio de Minas pra São Paulo, na expansão lá de São Paulo, que São Paulo estava crescendo. E sem emprego, costureira, fazia oficina de costura, ela e meu avô e meu avô motorista de praça, táxi. Antigamente falava motorista de praça, mas é táxi.
P2 – (28:41) carro, né?
R1 – Isso. E o meu pai ajudava o meu avô nessa parte de entrega aí das oficinas de costura que a minha avó costurava e às vezes dirigia o carro do meu avô também. E a minha avó sempre fazendo as empadas, pra tentar manter a família, os filhos. Eram oito, né? Então, ela sempre fez essas empadas, sempre de frango, sempre a mesma coisinha: empada de frango e recheio caseiro, feito em casa, ali e por muitos anos eu cresci comendo essas empadas.
P1 – E ela vendia onde, Leonardo?
R1 – Vendia ali na zona norte mesmo. Na verdade, eles moravam, nessa época, mais próximo do Rio Tietê ali, onde hoje fechou, é a fábrica da Nadir Figueiredo, de copos. O pessoal conhece muito Nadir Figueiredo. Eles moravam ali, do lado do Rio Tietê, mas na época o rio era limpo. Então, eles vendiam ali no entorno, pro pessoal dali, não muito distante, porque o recurso pra ir longe, não dava. Então, foi aí que começou. Minha vó tinha uma receita, começou a fazer a empada e vendendo ali pras vizinhas e isso veio vindo, aliado a costura, ao meu avô taxista e foi vindo, até o dia de hoje. Aí, o que demorou, o que ficou mais tempo foram as empadas, que meu avô se aposentou, a oficina de costura veio o pessoal da China e começou a costurar, então o que ficou foram as empadas. Aí eles se aposentaram e aí eu tive a ideia de profissionalizar o negócio, entendeu? Aí que entra todo o meu estudo de Marketing, planejamento mercadológico, pra poder fazer as empadas e montar a empresa.
P1 – Mas ela estava em São Paulo, né?
R1 – Isso, sempre em São Paulo. Minha vó sempre morando em São Paulo, nunca saiu de lá. Ela veio de Minas e sempre...
P1 – A sua vó paterna, né?
R1 – Isso, paterna. E a materna sempre em Bauru.
P2 – Ela não chegou a vir pra cá? Sempre ficou lá em São Paulo?
R1 – Sempre ficou em São Paulo. Ela nunca veio pra Bauru. Pra vender empada, não. Veio a passeio, conhecer aqui e tudo. Mas nunca veio pra cá, não. E sempre foi vendendo...
P2 – Queria perguntar pra você como é que foi esse primeiro contato, vendendo algo que tinha um valor, assim, pra você, que você sabia, que nem você falou, que você acreditava. Hoje que você é um cara que vende coisas bem, porque você acredita no que você vende. E como foi esse começo, de você ter que convencer as pessoas, apresentar uma empada, um negócio de comer, algo novo pra você, que trabalhava com colchão, outro tipo de venda? Como foi esse começo pra você? O que você se deparou, as dificuldades? O que você aprendeu, também, nesse novo ramo?
R1 – Isso. Essa é a parte mais bonita da minha história. Num momento de dificuldade, trabalhando, ganhando meu salário já, no final do mês eu fiz as contas e não me sobrou dinheiro. Me sobrou trinta e três centavos. Paguei todas as minhas contas e sobrou trinta e três centavos. Aí eu falei: “E se eu precisar comprar um remédio pra dor de cabeça?” Claro, eu tinha um cartão de crédito, valor muito pequeno, coisa e tal, falei: “E aí? Eu não tenho dinheiro”. E aí veio a ideia das empadas. Falei: “Pô, minha vó sempre faz empadas, vou conversar com a minha vó. Vou pedir a receita pra minha vó”. E ela falou: “Não, eu te ensino a fazer”. E eu sem dinheiro, com aqueles trinta e três centavos, o que eu fiz? Eu comprei, eu tenho até hoje isso. Não está aqui agora, mas eu tenho o extrato do cartão de crédito, que eu comprei 12 forminhas de empada, por quinze reais, no cartão de crédito. Então, eu comecei um negócio com quinze reais, no cartão de crédito. Aí eu fui pra casa... quer dizer: fui mostrar pra minha mulher que eu tive uma ideia de fazer empada e eu tinha comprado as forminhas. Ela ficou doida que eu gastei os quinze reais, falou: “Mas você não tem dinheiro, onde você arrumou quinze reais pra gastar?” Eu falei: “Tinha um cartão de crédito de trezentos, ainda tem duzentos e pouco”. (risos) Ela falou: “Você vai pagar, você não tem dinheiro”. Eu falei: “Não, fica tranquila. Eu não tinha nada, agora eu tenho trezentos e mais forminhas de empada”. Aí eu peguei as coisinhas dela lá: farinha, essas coisas lá e comecei a fazer as empadas. Eu peguei essas fôrmas, fui pra casa e peguei a farinha que tinha lá, peguei o frango que estava na geladeira e fiz a receita que a minha vó me ensinou, mas não deu certo. Eu falei: “E agora? Vó, passa de novo o passo a passo”. Fizemos no outro dia de novo, agora beleza. Fiz e ohhhhh, não deu certo de novo, entendeu? Perdi todas as minhas coisas. Aí eu só tinha mais um quilo de farinha, eu falei: “Vó, não deu certo de novo”. E ela lá em São Paulo, falou: “Filho, faz assim, faz assado”. Aí eu falei: “E agora?” “Deu certo?” Não deu certo de novo. E aí acabaram as coisas, não tinha mais. Enfim, consegui arrumar mais dinheiro e consegui fazer empadas, então tinha 12 forminhas, eu fazia 12, comia duas e vendia dez, entendeu, porque eu saía pra vender pra rua, então o primeiro que comprava era o motorista de ônibus e aí já vendia algumas ali dentro do ônibus e ia no Centro vender o restante. Então, foi assim que eu comecei. Eu fiz isso acho que por uns 15 dias, vendendo 12 empadinhas. E aí eu já comecei a vender 24, que aí eu já fui e comprei mais 12 forminhas, entendeu? E aí já vendia vinte, vinte e duas empadas todo dia. E durou uns dois, três meses assim e aí foi crescendo. Então, tudo começou aí, mas quando eu comecei, eu criei esse logo aqui. Antes de tudo eu já fiz esse logo, eu já estruturei, eu já sabia que um dia eu ia chegar em algum lugar. Quando eu comecei a vender a minha primeira empada eu falei: “Eu preciso montar um negócio que vá pra frente”. Então, eu fiz um uniforme, fiz o logo, arrumei uma maquininha de cartão de crédito, comprei a maquininha, uma caixinha de isopor que eu tenho até hoje, está guardada aqui, devia ter pegado pra mostrar pra vocês, mas está aqui. Eu não vou sair, pra não deixar sozinho aqui. Enfim, foi ali que eu acreditei e eu falei: “Não, o negócio vai dar certo e isso vai mudar a minha vida. Eu vou ser alguém fazendo e vendendo empada”. E comecei aí, do zero. Parei a faculdade de Sistemas Biomédicos. Eu estava na faculdade e meus amigos ficaram loucos, falaram: “Leonardo, você vai largar a faculdade pra fazer empada?” Eu falei: “Cara, eu vou e eu vou vender pra você quando eu estiver aqui”. E hoje os professores são meus clientes lá na Fatec. O pessoal fala: “Leo, que legal! Ainda bem que você parou a faculdade, senão a gente não ia conhecer as suas empadas”, coisa e tal. Então, eu comecei assim: literalmente com quinze reais no cartão de crédito que eu tenho o extrato guardado até hoje.
P1 – Leonardo, e você indo pro Centro, onde você vendia? Era Centrão, mesmo?
R1 – No calçadão da Batista. Então, eu comecei ali. Eu tenho um metro e noventa, não sei se dá pra ver, eu peso cem quilos e é difícil você, com essa altura, tendo que sair num calçadão, com isopor e tendo que oferecer as empadinhas e a mulher, na época, que eu era casado, também trabalhando no calçadão, eu não aceitava isso e eu falei: “Não, eu vou ter que vencer, porque eu não estou roubando, eu não estou fazendo nada de errado, eu estou vendendo o que eu fiz com a minha mão. Eu fiz com carinho, com prazer, com amor e quem comer vai sentir essa diferença e vai comprar amanhã de novo, porque eu tenho poucas, eu tenho dez só, quinze. Amanhã ele vai querer de novo”. Então, era assim, andando no Centro, no calçadão, o gerente não deixava você entrar, o segurança não deixava você entrar, o segurança da rua não deixava você vender na rua, mas foi dando tudo certo: “Eu não posso vender?” “Não” “Então come essa daqui, só pra você ver o que eu vendo. É de graça, tá?” “Tem aí hoje?” “Tem, mas hoje eu tenho que vender pra você” “Não, eu vou pagar, eu quero, eu vou pagar”. Aí você fez amizade com o segurança, com o gerente, o pessoal da Danger. Nossa, não tem nem o que falar deles. Desculpa falar o nome da loja, mas...
P1 – Não tem problema.
R1 - ... cinquenta funcionários lá, o gerente lá me deixava num canto, falava: “Leo, vem cá, fica nesse canto aqui, eu vou falar pra todo mundo que você chegou”. Aí ele ia lá, avisava, fazia fila pra comprar as empadas, eu falei: “Meu Deus, olha que legal! O gerente da loja, dentro da loja, arrumava um cantinho pra mim”. Aí eu comprava refrigerante de dois litros, levava copo: “Pode beber, refrigerante é de graça. Compra empada e toma refrigerante”. Só de sábado, não era todo dia, não. Era só de sábado.
P1 – Então, já era uma promoção, né, que você fazia?
R1 – Sim. Já era um negócio que eles já ficavam aguardando. Não precisava comprar o refrigerante e sabia que eu ia vender as empadas. Então, o pessoal da Tanger, da Marisa, da Riachuelo, Loja Cem, todas essas lojas que têm bastante gente, Magazine Luiza, Casas Bahia, que tem bastante funcionário, eu chegava lá e conseguia atender todos eles. Isso depois, né, que eu comecei a fazer mais empadas, né? No começo era uma ou outra, só.
P2 – Leonardo, você sempre foi esse tipo de cara, assim, que não se importava muito com o que os outros falam e sempre foi na sua ideia ou você foi moldado, digamos assim, com o tempo? Sempre acreditou nos seus pensamentos e nas suas ideias e seguiu seu caminho? Foi assim?
R1 – Guilherme, eu acredito até hoje e eu sou assim: eu quebro a cabeça por causa disso. Às vezes eu tenho que ouvir as pessoas. Mas eu sempre acreditei em mim. Eu falei isso ontem pra uma pessoa: “Todos os meus empregos foi eu que consegui, ninguém nunca me colocou em lugar nenhum. Então, se eu decepcionei alguém, foi a mim mesmo, não foi alguém que me colocou lá”. E a questão das empadas a mesma coisa: eu sempre acreditei, eu não tinha chance de errar. Sabe por quê? Porque depois que deu dois meses que eu estava vendendo as empadas eu fui e fiz um empréstimo grande no Banco, pra poder iniciar o negócio das empadas. Aí eu arrumei uma conta por cinco anos, entendeu? Então, dando certo ou não, eu tinha que pagar essa conta, que eu estou terminando de pagar agora, no mês sete. Faltam quatro parcelas. Ou eu pagava a conta, ou eu ficava com o nome sujo, entendeu? Nunca mais eu ia ter dinheiro pra pagar essa conta, que era dinheiro pra comprar forno, freezer. Inclusive esse freezer que está aqui atrás, foi o primeiro freezer que eu comprei. Comprei zero, novo, então o mantenho até hoje. E aí eu acreditei, falei: “Não, agora eu tenho que vender, tenho que fazer dar certo”. E deu, graças a Deus. Não cheguei onde eu quero ainda, mas eu já estou na metade do caminho.
P1 – Mas, Leonardo, com esse empréstimo, você alugou um espaço? Como que você estruturou o negócio? Porque você tem essa experiência de Marketing, de gestão, já tinha toda uma experiência profissional. Como você estruturou o negócio, em si? O business.
R1 – Isso é legal falar: com esse empréstimo eu não aluguei, eu fui pra casa do meu pai. Falei: “Pai, eu tive uma ideia das empadas e agora eu preciso de um lugar pra fazer. Lá em casa a mulher não vai deixar mais, não quer. E, além dela não querer, ela não vai deixar, não vai ter jeito e eu preciso fazer aqui. Tem outro lugar?” Ele falou: “Não, você pode fazer aqui em casa, mas não pega nem um quilo de sal da sua mãe. Você vai comprar tudo que você tiver pra fazer as suas empadas”. Então eu fui lá pra casa dele, comprei forno, freezer, fiz a primeira compra de material. Isso já depois de estar vendendo na rua, já estar conhecido, entendeu? Uma primeira coisa que eu comprei com esse empréstimo, foi um celular. Eu falei: “Eu preciso ter um celular bom, um plano de celular bom, pros meus clientes me ligarem e uma câmera boa, pra fazer umas fotos e enviar pros meus clientes”. Foi a primeira coisa. Que é o meu celular até hoje, está até aqui. É o primeiro celular que eu tenho esse aqui, está até hoje comigo, porque quando eu comprei ele era bom, então se mantém bom até hoje. Foi aí que eu comecei com o empréstimo. Aí eu fiz um uniforme, fiz o boné, que é esse boné aqui. Hoje o meu logo não é mais esse, mas eu estou usando esse, que foi quando começou. Então, eu fiz esse boné, eu fiz uniforme, fiz aquele logo lá atrás da caixinha, está vendo? Então, foi tudo onde começou, dessa forma aí.
P1 – Mas daí você estruturou a empresa, mesmo, com CNPJ, essas coisas? Ou ainda demorou mais um pouquinho, pra sair da informalidade?
R1 – Isso. Esqueci de falar isso aí. Também fui no Sebrae, tive uma orientação lá, administrativa que eles falam e financeira, de como cuidar do seu dinheiro. Então, eu fui no Sebrae e aí eles me orientaram a fazer a MEI. Então, eu saí do Sebrae e já fui abrir a MEI. Eu fiquei muito impressionado, porque abrir MEI, na época, era muito fácil. Hoje deve ser ainda. Difícil é fechar. Mas eu fui lá, levei meus documentos e abri uma MEI, falei: “Meu Deus, agora estou com CNPJ. Vou fazer uma coisa: vou ao Banco”. Aí eu fui no Banco e falei: “Tenho CNPJ e eu queria abrir uma empresa” “O senhor tem? Vamos consultar aqui. Nós podemos abrir uma conta pro senhor”. Abriram uma conta pra mim, empresarial. Falei: “Agora sim, tem uma conta empresarial com cartão de débito” – não tinha nem crédito, né? – “mais um talão de cheque, uma conta empresarial e a gerente do Banco começou a me chamar de empresário. Meu Deus, eu estou gostando disso”. (risos) Falou: “Está aqui, você é um empresário, com essa conta empresarial”. Aí, com essa conta, eu consegui fazer, emitir boleto com CNPJ. Aí eu comecei a vender pros postos de gasolina, pras faculdades, pras escolas. Então, eu dava um prazo de pagamento e emitia um boleto com nota fiscal, que aí eu descobri que, com o CNPJ, poderia ter uma nota fiscal. E aí era o que eles precisavam: boleto e nota fiscal. Aí eu comecei a distribuir pra Bauru todo. Todo lugar aí. Eu comecei a fazer umas empadas menores e entregar. Então, foi onde começou esse lance de crescer, entendeu? Eu falei: “Eu vejo que tem um mercado muito promissor aí pela frente”. E foi onde a gente começou, eu e meu pai, trabalhando dia e noite, fazendo aí quase mil empadas por dia, só pra atender esse povo aí.
P1 – Seu pai entrou junto, na sociedade, no trabalho?
R1 – Sim. O meu pai hoje tem 73 anos. Ele está se recuperando da covid 19, então ele não está trabalhando aqui na loja. Tem uns 15 dias que ele não vem. Mas desde quando eu fui pra casa dele, que eu fiz o empréstimo, que ele está comigo, até hoje. Ele nunca parou. Ele e a minha mãe. Só que a minha mãe tem alguns problemas lá de saúde, que a impossibilitam de estar trabalhando junto. Mas ela está sempre do lado: “Vamos”, ajudando meu pai, vem com ele aqui, mas não consegue mais trabalhar, em si, mas o meu pai, sim.
P1 – Agora, essa estrutura que você montou na casa dele, você começou na cozinha dele ou tinha um espaço pra você começar a montar uma cozinha?
R1 – Na edícula dele, lá. Tinha uma edícula que eu já tinha reformado, que eu morava lá. Aí eu falei: “Queria fazer na edícula lá do fundo”. E aí, com três meses que a gente estava fazendo, já foi necessário readaptar a edícula, porque tinha que colocar azulejo até no teto, balcão, tudo com o padrão da Vigilância Sanitária, que o meu maior medo era alguém denunciar a gente. Então, aí a gente teve que fazer essas adequações aí e montamos uma cozinha industrial. Com noventa dias. Eu batia a foto da cozinha e mostrava pros meus clientes, falava: “Aqui. A sua empada e feita aqui, olha. Era desse jeito, agora eu mudei, cresci, melhorei a minha cozinha”. E isso ajudava os clientes a comprar mais.
P2 – Eu ia te perguntar isso, essa questão de você tirar as fotos, de você mandar as fotos pros seus clientes, numa época que não era tão difundido assim, ainda, rede social e não era da maneira que é hoje em dia. Essa questão, também, do boleto que você falou que gerava e acredito que eles pagavam depois, como você falou: você gerava o boleto ali, na hora e dava a possibilidade deles pagarem depois, isso surgiu de você, foram ideias que você foi pegando aí com os anos e você colocou em prática ali na hora? O que você pode falar dessas coisas, assim?
R1 – Isso. Hoje é muito fácil você criar um aplicativo. É gratuito, rápido e fácil. Mas antes não tinha. Então, o que eu fazia? Eu anotava tudo num caderno, o que eu vendia no fiado e aí eu batia uma foto e guardava no meu celular. Eu fazia isso todos os dias. Colocava o nome da pessoa, a loja que a pessoa trabalhava e a quantidade de empada e o valor e batia uma foto. Quando eu vendia na rua. Aí, chegava o dia de pagar, eu juntava todas as fotos e mostrava pra pessoa: “Olha, está aqui. Tem essa foto desse dia, desse dia, desse dia”. Hoje é aplicativo, que você vai lá, põe mais um, manda pra pessoa e acabou. Então, foi assim que eu comecei com a história das fotos. E também as fotos das empadas. Se você entrar e digitar Dona Paula Empadas no Google aí, você vai ver algumas fotos minhas e do meu pai, de quando nós começamos, na casa dele, que está perdida no Google aí, que eu não tenho mais a senha do Facebook, que era aberto, então eu não consigo mudar isso aí. Então estão lá as fotos: um carrinho comprando lá dois quilos de farinha, cinco quilos de farinha. Hoje eu compro uma tonelada por semana, duas toneladas. Então, está lá o carrinho, com um pacotinho de queijo, entendeu? Hoje é diferente. Então, foi assim que tudo começou. Batia a foto daquilo ali, dos ingredientes e mandava pros clientes e falava: “Agora eu estou fazendo a sua empada”, com aqueles ingredientes. Aí, depois, a empada pronta, com os ingredientes do lado. E mandava e mostrava: “Está aqui o jeito que eu faço as empadas aqui”. Botava no Facebook. “Entra no meu Facebook e olha lá a foto”. E aí a questão, também, das notas fiscais dos postos, eles só compram com nota fiscal e eu, microempreendedor, sem conhecimento nenhum disso aí, aí eu fiz as notas fiscais e ele falou: “Essa nota fiscal aqui serve”. E aí eu fazia um boleto pra eles de 15 dias. Então, do dia um ao dia quinze, eles pagavam no dia 17. Do dia 15 ao dia 31, pagavam no dia dois. É assim até hoje. Todos os postos. Hoje eu já trabalhei. Cinco horas da manhã já estava aqui, já fiz as entregas todas e é assim que eu entrego: simplesmente anoto e depois eu faço o boleto e envio por e-mail, aqui mesmo, que agora eu sei mexer nisso aqui, tenho computador e é feito pagamento e é assim que funciona.
P1 – Maravilha! Como que, aos poucos, a sua mãe foi se integrando ao negócio? Porque seu pai avisou: “Não pega um quilo de sal”, né? Como é que, aos poucos, ela foi se integrando?
R1 – Isso é bem legal. Minha mãe começou a entrar no negócio, porque eu comecei comprando só filé de peito de frango. Então, não desossa o frango, é só o filé do peito de frango. E vem nuns pacotinhos de um quilo, tudo separadinho. Lá no meu pai eu já comprava bastante, pra colocar nesse freezer aqui. Então, minha mãe entrou no negócio pegando meus filés de peito no domingo, pra fazer almoço. E aí, eu chegando na segunda-feira, falei: “Mãe, cadê meu filé que estava aqui?” (risos) Aí ela entrou assim: pegando meus filés e depois ajudava: “Eu te ajudo a cozinhar aí amanhã, eu peguei um quilo aqui ontem, mas amanhã eu te ajudo a desfiar o frango, a picar a cebolinha”, que era o papel dela, até há pouco tempo, esse: picar a cebolinha. Que uma paciência tem que ter, né? Bem fininha, delicada. É vó, é mãe, é tudo, né? Então, foi assim que ela entrou no negócio. Agora o meu pai, não. Meu pai já foi pondo a mão na massa. Eu já precisava de alguém, né? Pesado, trocar o gás, mexer no forno, bater a massa. Então, meu pai, até hoje, é assim. Até hoje.
P1 – Maravilha!
P2 – Deve significar bastante pra você ter seu pai aí trabalhando com você e topou desde o começo, não te desencorajou ou algo do tipo, não falou pra você buscar um emprego, nada. Ele sempre esteve junto com você, trabalhando.
R1 – Desde a primeira ideia, da primeira conversa, ele nunca falou não. Meu pai é um cara que nunca falou não pra mim, entendeu? Depois de dar errado, ele fala: “Não, você precisava fazer, pra ver se dava errado. Se não fizesse, você não ia aprender”. Mas tudo ele falou sim na minha vida e principalmente na questão das empadas, que é da mãe dele, que é a Dona Paula, minha vó, né? Ele falou: “Não, então vamos”. E desde o começo ele abraçou a ideia, aposentado, o pessoal fala pra ele até hoje. Ele chama José Salete, nós o chamamos de Salete: “Senhor Salete, mas o senhor está com setenta e tantos anos, o senhor está trabalhando, ajudando seu filho?” Ele fala: “Se for pra eu morrer trabalhando, eu vou morrer do jeito que eu estou. Não vou parar de trabalhar, ainda mais porque é o meu filho, fazendo alguma coisa pra minha mãe”. Então, ele sempre esteve junto, em todas as etapas, me ajudou, a gente vendia na rua, parava com o carro na rua e ficava com o carro esperando cliente chegar e ele ali do lado, comigo. Vinha, ficava dentro do carro, guardando a vaga, pra quando eu chegasse com o outro carro com as empadas, a vaga está lá, porque não tinha ponto comercial, vendia assim na rua, né? Então, depois que ia embora, ele fechava todo o carro, guardava, aí que ele ia embora. Então, sempre teve junto. Meu pai é fantástico. É um capítulo à parte da história.
P1 – Leonardo, você falou que você tinha um trabalho antes, né? Você estava lá com trinta e três centavos. Como você, durante um tempo, foi agregando coisas? Em que momento você virou só empresário das empadas?
R1 – Esse trabalho era justamente de motorista. E funcionário público. Então, não ganhava-se muito bem. Não ganha-se muito bem, dependendo do cargo. Como motorista, não. Livre. Então, aí eu comecei a fazer os dois, só que aí eu direcionei pro meu pai. Eu parei de vender na rua, parei de vender as empadas grandes no calçadão e aí começamos a vender só nos postos e faculdade. Foi onde só o meu pai fazia. Então, no período da tarde eu ia lá e fazia as empadas com ele; no período da manhã, ele assava e sozinho fazia todas as entregas.
P2 – Mas, Leonardo, vocês ainda não vendiam internamente, né? Vocês iam na porta e do lado de fora dos locais, correto?
R1 – Não. Eu vendia pra dentro, pros postos de gasolina. O dono do posto comprava e ele coloca na loja de conveniência dele. Faculdade também, a Odonto aí, essas empresas de cobrança aqui em Bauru, a gente entregava direto pra eles e eles vendiam dentro da lanchonete. Só que quem fazia todas essas entregas era o meu pai. Ele que fazia tudo. E eu fazia as empadas à tarde, junto com ele. Então, nesse momento, eu parei de vender na rua e fiquei só fazendo as entregas. E aí eu tive a ideia de abrir a loja, porque os meus clientes eram todos aqui perto. Eu falei: “Eu vou abrir uma loja, eu tiro tudo da casa do meu pai, coloco tudo nessa loja, centralizo a cozinha na loja e a gente vai, logisticamente, entregar tudo aqui próximo. Não vai precisar se deslocar lá da Nova Esperança até a zona sul da cidade”. Tinha cliente que pegava duas vezes por dia. Eu falei: “Pai, vamos concentrar num lugar só e a gente sai dali,tiro rápido. Precisou, está tudo ali, pronto, na mão, nós estamos próximos dos clientes”. Aí foi a ideia de abrir a loja, entendeu? Foi por isso que a gente abriu a loja: pra ficar próximo dos clientes. Não era nem pra atender muito os clientes aqui na loja.
P1 – Onde que a loja está localizada?
R1 – Hoje está na Getúlio Vargas, quadra quatro, número 28. Fica na quadra de cima do Confiança Max. É bem fácil. Meio escondido, porque veja bem: sem recurso, sem conhecimento nenhum, sem saber o que era uma empresa, nem nada, a gente veio pra cá porque era o que tinha, entendeu? E estava estruturado, porque a gente precisava uma cozinha, câmara fria, balcão de atendimento, um layout bacana, uma vitrine, ar-condicionado. Beleza. Era o que a gente precisava e estamos aqui. Tomara que nunca mais saia daqui!
P1 – Mas é muito bem localizada. A Getúlio Vargas é um corredor comercial também, né?
R1 – Sim. Favoreceu muito, muito, muito. Nós saímos do anonimato e ficamos conhecidos. Hoje eu tenho uma placa que está escrito assim: “A melhor empada de Bauru”. E por quê? Porque eu recebi o prêmio Top ofMind 2020 como a empresa mais lembrada, de empada, em Bauru. Então, não sou eu que me intitulei, né? Reconheceram isso por mim. E essa era a visão da nossa empresa: se tornar conhecida em Bauru com a melhor empada de frango e frango com catupiry. Então, essa era a nossa visão. Nós tínhamos essa missão, de entregar com excelência o melhor produto. Isso eu defini lá na frente, antes do empréstimo. Então, tem a visão e a missão que foram feitas antes da empresa começar, entendeu? Então, foi isso aí. E se mantém. Agora mudou, porque a visão vai mudando, de acordo com que você vai atingindo seus objetivos. Então, nós já nos tornamos conhecidos em Bauru. Agora, a gente tem que se fidelizar. E depois, regionalizar. Esse é um próximo passo.
P1 – Maravilha! Você falou a referência: empada de frango e frango com catupiry. Vocês trabalham com outros sabores ou esse é o seu carro-chefe?
R1 – Nós trabalhamos com esses sabores também, é o que mais vende. E hoje também vende muito de camarão. Quem gosta de camarão, fica aí, vem aqui: se comer e não gostar, não precisa pagar, entendeu? (risos)
P2 – Elas são muito boas, as empadas. Eu posso confirmar. (risos)
R1 – Já conhece. O Guilherme experimentou. (risos)
P2 – Isso. Eu queria te perguntarsobre quando vocês colocaram em prática a ideia aí na Getúlio e vocês tiveram aí a primeira loja, você já tinha na sua cabeça assim... a gente bateu umas fotos pra ilustrar, mas descrevendo um pouco pra quem nunca foi na loja, eu tive uma sensação, muito, de que já era quase que uma franquia mesmo que você falou, que já era como se fosse um conglomerado de informações das empadas e da Dona Paula Empadas e tudo tem essa identidade visual vermelha, como vocês têm aí no boné, na caixa térmica, atrás. Tem uma placa contando a história da Dona Paula, que é muito legal também, assim, como centro nessa ideia das empadas. Você a chamou pra pegar a receita, né? Eu queria te perguntar isso: você já tinha essas ideias? Você se inspirou em alguma coisa da parte desses cursos que você fez ou da parte de Marketing? Como nasceu essa ideia, esse planejamento de ter um restaurante, pode-se dizer assim, de um local de comida, bem voltado pra fast food, como se fosse um projeto de franquia, mesmo sendo a primeira loja? Já começou assim. Você já tinha isso em mente?
R1 – Sim. Lá, antes de eu fazer o empréstimo. Quando eu comprei aquelas 12 forminhas, eu já visualizava isso que eu estou hoje. Eu já pensava nisso aqui, porque eu sempre quis fazer uma coisa de qualidade. Um produto bom, num ambiente agradável. A ideia do Eraldo. Lembra do Eraldo? Lá o meu gerente, lá atrás? Ele colocou isso em mim e eu achei isso legal e trouxe pra minha vida. E aí eu fiz o curso de técnico em Marketing na Etec, no Christino Cabral. E aí isso, na verdade, me ensinou a chegar onde eu estou hoje. Meus professores vieram aqui e eu falei: “Tudo que vocês estão vendo aqui é graças a vocês”. Tem o Márcio, tem a Nirav, tem a Michele. Então, todos eles que vieram, falaram: “Leo, parabéns, você aprendeu”. Eu não fui o melhor aluno do curso, mas eu consegui colocar em prática o que eu aprendi. E eu acho que isso é gratificante pra eles. Então, a ideia da franquia é exatamente essa: como eu já tinha trabalhado na Arby’s e eu já conhecia o conceito de franquia, trabalhei na Ortobom, que é franquia, então, na minha cabeça, tudo tem que ser esse padrão de franquia. Você pode pensar numa casa de empada, que é uma coisa da vovó, uma roupinha mais rendadinha, uma mulher atendendo, com um chapeuzinho mais rendado, umas cores mais neutras. Não. Eu já criei essa identidade visual de fast food, né, que é onde eu quero chegar. Eu quero crescer e distribuir, mantendo essa qualidade de empada e ser uma rede. Pelo menos aqui no interior.
P2 – E sobre os logos antigos, você sempre foi uma pessoa inventiva, assim? Você que desenhou os logos ou foi contratando pessoas, foram amigos, ajuda? Como nasceu esse logo, esse nome também, Dona Paula Empadas? Você sempre acreditou que seria um nome forte? O que você pode falar dessa parte, assim?
R1 – Dona Paula é o nome da minha vó, realmente. Ela chama Dona Paula. E não tinha como ser diferente. O que eu pensei? Um nome e uma foto de uma senhora que vai remeter a infância de qualquer um que teve uma mãe ou uma vó próxima, né?
P2 – E casa muito, né? Você lê o nome e meio que já vem um negócio, assim, na cabeça.
R1 – Isso. Remete a sua infância de vó, de maternidade, essas coisas. Então, foi pensando nisso que eu coloquei o nome. O logo eu fiz na internet. Eu digitei lá: logotipo. E apareceu uns caras lá que fazem de graça o negócio. Só que pra você fazer o cartão, fazer o boné, as coisas, tinha que pagar pra eles mandarem a arte. Aí, o que eu fiz? Eu dei um print na tela lá atrás e levei pra um cara, falei: “Meu, desenha isso aqui pra mim no computador” “Ah, Leo, isso eu faço de graça. Só um ovalzinho escrito __________ (01:02:02)?” “É. Só isso que eu quero, mais nada. É de graça?” “É, eu faço pra você. Espera aí”. Fez, me deu, falou: “Vou mandar no seu e-mail aí, você faz o que você quiser”. Falei: “Não acredito, cara! De graça, véio!” Aí eu criei esse logo dessa forma, o cara me fez de graça, mandei pra gráfica, aí eu fiz os papeizinhos, escrevi todos os sabores que eu tinha, que eram: frango, frango com catupiry, só (risos) e aí eu fiz os panfletos todos e foi onde começou, né? Coloquei lá o número do celular, que é o mesmo até hoje e aí teve essa marca, essa primeira identidade. Depois que a gente abriu a loja, aí eu contratei uma empresa de marketing, aí os caras desenvolveram outro logo, que aí é esse daqui, olha. Dá pra ver a diferença? Então, mudou um pouco, ficou mais estilizado. Esse logo novo ficou conhecida, então essa aí é a marca nossa, que hoje ela é registrada pela ABM Associação de Marca e Patentes, entendeu? A gente já pode usar o errezinho de marca registrada. Então, hoje é esse aqui que a gente trabalha. Essa marca aqui não está registrada, está em desuso, mas a outra é nossa, agora. Olha onde nós chegamos! Uma marca registrada, lá com os quinze reais! Olha onde a gente chegou!
P1 – Leonardo, fala um pouquinho: você está na Getúlio, né? Getúlio é um corredor comercial, assim. Descreve um pouco. Já que a gente está fazendo uma entrevista histórica, descreve um pouco como é a Getúlio hoje, como você vê como potencialidade de negócios, de comércio. Vai crescer muito atrás, agora, vai ter um empreendimento gigante, né?
R1 – Isso. É o City Towers, é um baita de um empreendimento de alto padrão, muito legal, eu já estive visitando ali a planta deles. E vai ser muito legal. E é atrás da minha loja. Você acredita nisso? Eu só preciso de mais alguns anos aqui, pra ver esse negócio funcionar. E essa parte da Getúlio onde vai ser o City Towers eu tenho uma memória muito boa, porque eu fui atleta da Luso de Bauru. Eu joguei basquete, tenho um metro e noventa. Com 14 anos eu já era isso aqui. Eu parei de crescer com 14 anos.
P1 – Quem era o técnico seu?
R1 – Infelizmente o Caetano, que faleceu agora. Nossa! Um dos técnicos, teve o Sargento, que é um outro cara também muito ‘dez’, teve um outro que o apelido dele é Bonito, ele gosta que o chama de Bonito, que foi técnico nosso também. Teve o Biro, que faleceu também, que era do Bauru Basquete, entendeu? Então, esses caras foram os meus técnicos. Mas tudo começou com o Caetano.
P1 – Fala um pouquinho. Você pode falar um pouquinho do Caetano, da importância dele?
R1 – O Caetano é ícone em Bauru, no basquete. Ele é um atleta que foi pra Seleção Brasileira. Acho que muita gente sabe isso hoje, mas ele é um cara simples, é paizão, ele morava aqui na mesma quadra que eu estou, só que na rua de trás, algumas casas ao lado aqui, então ele era uma figura constante na frente da loja, fazendo caminhada aqui. E ele colocou o nome de Bauru na Seleção Brasileira masculina, porque a gente teve o Barbosa, que foi com a feminina, como técnico. E ele escreveu e foi um cara vencedor, campeão, pelos títulos que ele disputou, do interior, vários estaduais e, na época dele, foi divisor, né? Imagina! Estava, com a idade que ele tem, com dois metros de altura. Quem era tão alto antigamente? Hoje é normal, mas na época dele... e eu tenho muito carinho, mesmo, por ele, que foi uma perda irreparável pra Bauru.
P1 – Mas a gente deixa registrada a homenagem, né?
R1 – Sim. Fica aqui um abraço aí pro filho dele, Daniel, meu amigo, jogamos juntos. A irmã dele não era tão próxima de nós assim, de mim, né? Mas o Daniel aí, sinta-se abraçado.
P1 – Então, por conta do basquete, você já conhecia essa região toda, né? A Luso era uma referência. Saiu, agora está ali no Clube de Campo, né?
R1 – Isso.
P1 – Mas a Luso era uma referência aí da região, né? Associação Luso Brasileira.
R1 – Isso. E eu nunca imaginava que eu ia ter um empreendimento ao lado da Luso. Quem diria? Não importa que agora vai ser um prédio comercial. Mas eu nunca imaginava ser empresário, muito menos aqui, nessa região da Getúlio. E a Getúlio, há muitos anos, acabava aqui na frente, umas três, quatro quadras na frente, agora que ela se estendeu, de uns dez, quinze anos pra frente que ela é bem valorizada lá pra frente. Mas aqui era o centro comercial da Getúlio, essa parte, em volta do Super Box, eu acho que era isso aqui, que hoje é o Confiança, alguma coisa nesse sentido aí. Eu não me lembro muito bem. Mas hoje o que nós temos aqui? Nós temos o Subway, que vende um lanche mais barato que a minha empada. Nós temos um Burger King, que vende um lanche mais barato do que a minha empada. Nos temos aqui outras redes de lanchonetes, que é o Nomad, o Brooks. Então, tudo aqui em volta de mim, que todos vendem o lanche mais em conta do que a minha empada. E quem sou eu no meio de um Burger King, no meio de um Subway, né? E conseguir - com qualidade, muito esforço, muita humildade – se manter ao lado deles aqui. Então, essa região é muito boa, muito próspera, muito legal. Estão abrindo outros empreendimentos aqui, alimentícios também. O pessoal está gostando muito.
P1 – Maravilha! Guilherme, o que falta a gente perguntar pro Leonardo?
P2 – Leonardo, acho que você podia falar um pouco mais da Dona Paula, né? Não sei se você gostaria de falar mais sobre ela, da influência toda que ela teve, né, no negócio, mesmo estando longe? A importância que ela deve ter tido, em te passar a receita e se ela comemorou com você as suas subidas. O que você pode falar?
R1 – Sim. A minha avó, a Dona Paula, quando a gente fez a placa em homenagem aqui pra ela, ela estava com 91 anos. Uma pessoa íntegra, guerreira. Só pra vocês terem uma ideia: foram 72 anos de casados ela e meu avô. Setenta e dois anos. Então, foi o primeiro namorado dos dois e se mantiveram juntos até o final. E ela veio a falecer com 93 anos. Então, tem uns seis meses, mais ou menos. Quando nós conversamos, ela ainda estava viva. Hoje a minha vó já não está mais entre nós e ela viu tudo isso com muito carinho. Temos vídeos, temos fotos dela degustando as empadas. Então, se não fosse por ela ter pensado nisso lá há quarenta, cinquenta anos atrás, jamais eu teria tido essa ideia de fazer hoje e conseguir prestar essa homenagem pra ela. O pessoal, os irmãos do meu pai, meus primos, todos eles falam: “Pô, Leonardo, que legal que você conseguiu fazer isso em vida, que ela conseguiu ver isso aí e estar lúcida pra ver”, porque também tem essa, né?E ela conseguiu ver e degustar e parabenizar e foi demais. Minha vó é sensacional, sensacional.
P1 – Ela chegou a vir pra Bauru, pra ver o negócio?
R1 – Ela não chegou a vir pra Bauru, porque os médicos não a permitiram vir agora, né? Depois, já no final, não permitiram vir, mas levamos empada pra ela, fomos uniformizados lá, eu pus o bonezinho nela, assamos as empadas lá, fresquinhas, pra ela. Então, ela só não esteve aqui pra fazer a foto, porque realmente não dava, não permitiram.
P1 – Mas ela provou sua empada? Aprovou?
R1 – Sim. Provou e aprovou. Com certeza. E temos vídeos, muito bons.
P1 – Tem foto?
R1 – Tem foto e tem vídeo. Sim, sim, sim, sim, sim.
P1 – Maravilha! Como é que o pessoal costuma pagar: cartão, dinheiro? Você falou das encomendas, que é mais boleto, mas e o dia a dia ali?
R1 – O dia a dia hoje estamos aí com 75 a 80% de cartão de crédito. Ou débito. Excluindo dinheiro. Transferência, o pix veio com tudo, então tem muita gente que chega e já faz um pix na hora, ali, está pago, acabou. Não precisa nem de cartão, nem de dinheiro.
P1 – Já que é uma entrevista histórica, explica assim o que é o pix. Define o que é o pix, que é tão recente.
R1 – (risos) É, eu também não sabia o que era isso aí, mas é muito legal, cara, fazer um pix. Assim: no Banco você cria um código pra você. Pode ser teu CPF, qualquer número, seu número de celular e você atrela toda a sua informação bancária nesse único número, entendeu? Então, você pega o seu número de celular, ele vai ser o seu número. Você não tem mais conta em Banco, você tem um número de celular. Então, onde você for, você vai passar esse número, que é atrelado à sua conta bancária e a pessoa que também fez a mesma coisa com o outro número dela, faz uma transferência imediata, sem custo, pra o seu número. Cai na sua conta a qualquer hora do dia e da semana. Então, não tem TED, não tem DOC, não tem taxa. É um pagamento à vista, sem dinheiro, entendeu? Então, não fica dinheiro físico na carteira, não paga taxa de cartão de crédito e o dinheiro está lá no Banco, que ele só serve pra pagar conta, então ele já está lá, pra pagar as contas. Você não precisa ir até o Banco depositar o dinheiro ou aguardar o cartão de crédito depositar na sua conta com uma taxa, que eles têm que viver disso, né? Então, o pix é isso: moderno, novo pra mim, eu aprendi agora porque eu estou no meio, mas utilizem, é bem tranquilo, é bem seguro.
P1 – Maravilha! Leonardo, vamos falar um pouquinho como você organizou sua vida pessoal. Você falou que você estava casado, tinha esposa, ela não deixaria fazer na cozinha dela, né? Como é que você conheceu a sua esposa, o nome dela... pode falar um pouquinho?
R1 – Sim. Hoje nós não estamos mais juntos, mas o nome dela é Mireli Renata. Ela nunca acreditou em mim. (risos) Ainda mais em vender empada no calçadão da Batista de Carvalho, em Bauru. Imagina o marido dela vendendo empada! Então, ela nunca acreditou. Mas depois que o negócio começou a dar certo, aí ela passou a acreditar. Já agora, depois da loja estruturada. Até pra montar, quando a gente montou a loja, aí ela já falou: “Não, Leonardo, vai, que vai dar certo”. E aí a gente entrou de cabeça nesse negócio aqui, mas ela sempre teve o lugar de trabalho dela, faz mais de 23 anos que ela trabalha na mesma empresa. Então, foi assim. Hoje nós não estamos mais juntos, exatamente por causa da empada, entendeu? Porque eu falei: “Eu preciso de você aqui”. Ela é muito bonita, simpaticíssima, sabe atender cliente como poucas pessoas, é ímpar no que ela faz, ela é número um no que ela faz. Na empresa dela, ela é a pessoa a ser seguida, entendeu? De postura e de atendimento. Tanto em relacionamento interpessoal, quanto com os clientes. Então todo mundo gosta dela. Ímpar e sem contar que é mãe do meu filho, né? A coisa mais linda que tem, né? Então, não posso falar mal da mãe do meu filho. Mas ela optou por não estar nessa empreitada junto comigo e eu falei: “Eu não consegui desvencilhar, não consegui aceitar que a minha esposa não estivesse junto na minha empresa”. Fiz tratamento psicológico pra isso, tudo. Hoje eu aceito, hoje eu entendo, mas nós não estamos mais juntos, mas ela é ímpar no que faz, se ela tivesse aqui, a gente estaria muito melhor. Mas vida que segue, estou feliz, ela também está feliz com o que está acontecendo, com o rumo que a empresa está tomando aqui.
P1 – Que bom! Então fala um pouquinho do seu filho.
R1 – Meu filho, tenho dois. Três. Tenho três filhos. Eu tenho o filho com ela, chama Lorenzo. Hoje o Lorenzo está com cinco anos e meio, faz seis em julho. Ele foi um menino planejado, a gente decidiu até o dia que ele ia nascer, bem atrás, época do ano, tudo. Então, foi tudo bem legal. Por isso que nós conseguimos ter uma criança na data de hoje. Fica com ela. E eu amo incondicionalmente os meus três filhos. Eu tenho o Lucas. O Lucas, hoje, tem vinte anos. Então, já é bem lá de trás, da minha época da DirecTV, lembra? Foi exatamente no ano 2000. O Lucas nasceu no ano 2000. E hoje o meu pai, eu falei que ele está retornando do corona vírus, né, que ele está doente, está em casa, de quarentena e é ele quem sempre fez as empadas. A minha mãe tem as doenças dela, não pode trabalhar também. Então, quem faz as empadas hoje? O Lucas. Entendeu? Sou eu e o Lucas, só, hoje, na loja. Porque teve uns motoqueiros que agora começou, a partir da pandemia, muita entrega e eles estão indo pra lugares que pagam melhor, porque o pessoal não está saindo de casa, né, pra comer, tudo delivery. Então, está muito difícil arrumar entregador. E a minha atendente recebeu uma proposta irrecusável, eu falei: “Meu, vai embora. Vai trabalhar, que você vai ganhar dinheiro. Aqui eu te ajudei a chegar onde você chegou. Então, daqui pra frente eu quero que você seja minha cliente agora”. Então, essa semana que passou, nós estamos meio assim desestruturados com o quadro de colaboradores. Então, estamos eu e o Lucas, pra manter o negócio. O que eu acho fantástico, porque sou eu e meu filho, entendeu? Uma coisa que meu pai aprendeu com a minha vó. Então, pra mim, isso é muito gratificante. As pessoas vêm aqui: “Quem é que faz?” Lê a história toda: “É seu pai?” “É, mas hoje, quem faz, é meu filho” “Cadê ele, está aí?” Falo: “Está. Lucas, dá um oi aí”. E ele está lá fazendo todas as empadas. E eu aqui, na parte do atendimento.
P1 – Fantástico! Você falou que aumentou agora, por conta da pandemia, muito, as entregas, né? A pandemia pegou todo mundo de surpresa, acho que ninguém esperava tanto tempo, tão difícil. Pro comércio, principalmente, né? Então, fala assim um pouco quais foram os aprendizados, os desafios da pandemia, que você percebe.
R1 – Sim. Nós ficamos 45 dias fechados, sem entrar um real. E isso foi do nada. Foi um dia após todo mundo ir dormir tranquilamente, como se nada tivesse acontecido, ter comprado estoque, ter fechado a loja, se programado pra uma segunda-feira, aí veio a pandemia. Quer dizer: institui-se a pandemia. E aí fecha-se tudo. Então, de primeiro momento, é aquele baque: “O que eu vou fazer? Pra onde que eu vou?” E nós, aqui, a Dona Paula Empadas, não retomamos ainda essa parte, por quê? Porque as escolas não voltaram, as faculdades não voltaram, os bares não podem ter lotação máxima e com restrição de funcionamento. Então, quer dizer: todos esses clientes que eram o que sustentavam nossa base, da nossa pirâmide, acabou, assim, plift. Então, eu abri a loja por causa deles e agora eu não os tenho mais. Então, hoje eu dependo exclusivamente do atendimento no balcão. Dependo do cliente que vem aqui, que liga, do delivery e dos pedidos. Então, agora a gente liga pras plataformas de delivery. E a gente melhora um pouco a qualidade das fotos, coloca mais nos aplicativos de redes sociais, contando um pouco mais da história, como que é feita a empada, faz uma foto um pouco mais elaborada, um pequeno vídeo mostrando o interior das empadas e isso aguça a vontade de degustar nossos produtos, entendeu? É isso que a pandemia nos ensinou: que a gente precisa mostrar realidade pros clientes, o produto que você tem a oferecer. Então, se você faz uma foto, um vídeo exatamente do produto que vai chegar pro cliente e, na hora que chega lá, ele vê que é exatamente aquilo que ele viu, isso faz ele comprar de novo. Então, não são fotos editadas, não são vídeos editados, não é produto feito pra fazer a foto. É exatamente o produto da vitrine, colocado numa forma de vídeo, pro cliente ver e comprar aquilo ali. Então, isso fez a gente mudar e investir em embalagens, que antigamente não precisava. Entregava ali na mão e acabou. Agora você precisa. Imagina você entregar empada, que é extremamente sensível, de moto, na caixinha, como tem que ser as embalagens, pra chegar inteira. Então, houve investimento nessa parte aí. Foi isso.
P1 – É um desafio, né? A empada é aquela massa podre, que desmonta, né? É um desafio.
R1 – Isso. E aí é que está o segredo: aquela massa que derrete na boca e aquele recheio que dá a combinação, a explosão de sabores, um recheio especial, inigualável. Tem que vir aqui pra conhecer.
P2 - Aproveitando isso, Leonardo, o que você pode falar? É muito difícil fazer empada? Tem um ingrediente secreto, que você não pode divulgar? Como é que é esse negócio, assim?
P1 – O segredo.
R1 – Todo mundo fala, cara, que eu sou cozinheiro. Todo mundo gosta, fala: “Leo, me convida pra almoçar na sua casa, me convida pra jantar na sua casa”. Vamos fazer um churrasco, você vai ser o churrasqueiro”, coisa e tal. Eu falo: “Gente, eu não sei cozinhar. Eu só sei fazer empada. Eu não sei fazer coxinha, eu não sei fazer comida, eu não sei fazer churrasco. Eu sei fazer empada”. Então, eu falo: “Quando você se dedica 100% a uma coisa, você fica bom em uma coisa, que é fazer empada”. Então, sim, tem os detalhes específicos, não é nada bicho de sete cabeças, mas tem detalhe de temperatura, detalhe de marca de alguns produtos que você usa. Então, é isso, juntando ao ambiente limpo, adequado, que tem que ter e organizado, você consegue ter um produto excelente. Bom ele era quando eu comecei. Agora a gente tem um produto excelente. Só retornando a questões de sabores, desculpa, veio na mente agora, a gente falou do frango e frango com catupiry, mas nós temos camarão; calabresa; brócolis com bacon; antepasto, que é berinjela; quatro queijos; frango com catupiry e bacon; palmito; palmito com catupiry... enfim, salmão grelhado com cream cheese; ricota com azeitona e cream cheese; banana com canela; romeu e julieta; doce de leite...
P1 – Nossa!
R1 - ... doce de leite com nozes. Temos hoje, aí, acho que 18. Escondidinho de carne seca; escondidinho de calabresa, que é com massa de mandioquinha e queijo gratinado por cima. Deve ter umas vinte qualidades, mais ou menos. Tá bom, né? Tinha duas, só. Aumentou um pouquinho.
P2 – Aumentou um pouquinho. Cresceu mais de 100%, né? (risos)
R – Isso. Deu uma pequena alavancada aí.
P1 – Leonardo, e planos pro futuro? A hora que melhorar essa questão do isolamento, da pandemia, como é que você vê o seu negócio? A expansão, manutenção...
R1 – Já era pra estarmos... nós já estruturamos o negócio em franquia. Nós já temos o modelo de operação de franquia pronto. Só que aí precisa adequar a empresa, a loja, a esse modelo. Isso era pra ter sido feito antes do começo da pandemia. Quando a pessoa queria adentrar o modelo, fez negócio conosco. Só que aí fechou-se a pandemia e eu falei: “Vamos parar um pouco, vamos esperar um pouco, porque eu não vou te vender um negócio que você vai...”, porque a ideia era montar um quiosque nos shoppings. Então, eu estava vendendo a marca pra pessoa, pra ela montar o quiosque no shopping. Só que o shopping fechou, entendeu? Falei: “Como eu vou vender, dar seguimento, continuidade numa negociação que você não vai poder vender? Vamos esperar o shopping abrir, voltar, pra aí, depois, a gente fazer de novo”. E não voltou. Está há quase um ano aí e agora que voltou o shopping, mas com essa de abre e fecha. Então, nós estamos esperando um pouco mais esses parceiros aí, talvez até o meio do ano, pra dar sequência e começar a abrir esses quiosques aqui em Bauru, pra daí, sim, termos um know how de poder crescer um pouco mais.
P1 – Mas, assim, num balanço geral em relação a pandemia, está empatando, assim? Você inovou de um lado, né?
R1 – Está melhor, porque a gente vivia só dos clientes das __________ (01:25:00) que era pra revenda. Nós vivíamos desse cliente. Do boleto lá, como há 15 anos. Hoje eu não os tenho mais, eu tenho só a loja. Então, quer dizer: está dez. Porque eu não tinha a loja, eu não sabia o que era esse público. Quando eu abri, eles não vinham, eles não me conheciam. Eu não fiz propaganda: “Eu vou abrir uma loja”. Não. Eu simplesmente abri a porta e falei: “Estou atendendo, a partir de hoje”. Quem é que veio? Quem passou e viu que tinha uma porta aberta. E é assim até hoje. Agora, as propagandas são em redes sociais. Então, o pessoal já conhece. Mas não fizemos, não soltamos nenhuma bexiga lá fora, nem nada. O pessoal passou a vir, conhecer e conseguimos nos manter. Então, está bom? Está dez. A pandemia resolveu minha vida, porque eu perdi de um lado e consegui estruturar minha loja.
P1 – Perdeu mais no varejo, né?
R1 – Isso. Que funciona mais.
P2 - _________ (01:25:59) daquele conforto que você tinha ali, de certo modo, né?
R – Sim. Saí da zona de conforto. Exatamente. Eu estava parado, né? Eu não saía mais pra vender pra rua, eu só fazia as empadas à tarde e meu pai entregava de manhã. Estava bom. Aí eu saí dessa zona de conforto e botei a mão na massa. E agora eu não sou mais funcionário público, eu pedi licença, então eu estou 100% na loja, né? Em plena pandemia, foi o ano passado que eu saí, eu pedi pra sair, né? Então, agora eu estou 100% na loja, porque eu ainda acredito muito nesse negócio.
P1 – Nossa e vai dar.
R1 - Vai dar certo.
P1 - Já deu, né, Leonardo? (risos)
R1 – Sim. A gente fala que vai dar certo, porque a gente sempre quer um algo mais. Já deu certo. É o que eu falo, também, do colchão, igual eu falei pra vocês: “Quanto tempo vocês não trocam o colchão?” E aqui em Bauru, quem vocês conhecem de casa de empadas? Então, é isso que eu fico feliz: em criar um produto, ter uma empresa, criar um negócio que veio do nada, que não tem concorrência. É mais fácil você seguir. Se vierem outros, as pessoas vão lembrar do primeiro. Então, isso ajuda a gente também. Se vierem outros, vão só fazer com que a gente fique ainda melhor, porque se você não tem concorrência, você está meio ali: “Estou bem”. Agora, quando vem a concorrência, você tem que ser melhor ainda. Então, a concorrência é boa também. Tomara que venham outros aí e consigam ter o mesmo sucesso que a gente. Se quiser vir junto com a gente, melhor ainda!
P1 - É. A gente está quase acabando a entrevista, a gente está quase a duas horas conversando.
R1 - Nossa, já?
P1 – Você acha que ficou faltando alguma coisa pra falar, Leonardo?
R1 – Ah, eu acho que a gente conseguiu falar legal da minha vida, né? Conseguimos falar legal da empresa, onde tudo começou e eu queria, um dia, poder criar um canal, alguma coisa e falar com essas pessoas, todas. Não empresários, mas as pessoas que querem começar um negócio: “Acredita, não precisa de dinheiro. Precisa de vontade e coragem, só. Isso todo mundo tem”. Eu estava na minha zona de conforto, parado, funcionário público e aí eu me vi sem dinheiro e comecei a me mexer. Comecei do zero, do nada. E meus amigos falam: “Leonardo, como que você começou?” Eu falei: “Está aqui. Vem junto comigo”. Quantos não ficaram lá pra trás, que não quiseram estar junto comigo. E hoje eles falam: “Pô, Leo, legal, era pra eu estar junto com você. Você deu sorte”. Porque eu os chamei, porque eu também não acreditava 100% assim, né? Acreditava 99%. Eu precisava de alguém, mas não veio ninguém. Então, eu tive que fazer tudo sozinho. Então, é isso que eu falo pra todo mundo: “Acredita no seu sonho, vá atrás e coloque em prática”. Isso que eu queria deixar pra todo mundo aí.
P1 – Maravilha! Nossa, não tem nem o que falar, mais. (risos) A última pergunta, já que a gente está fazendo uma entrevista pra ficar pra História, pra ir pro Museu da Pessoa: o que você achou de ter passado esse período, ainda que seja on line, uma estrutura completamente diferente do que a gente está acostumado também, mas o que você achou de ter contado e deixado pro Museu a sua trajetória de vida profissional, pessoal? Como é que você vê esse momento de fazer esse olhar pra sua trajetória?
R1 – Realização pessoal. Sabe o que é isso? É o que vocês estão me proporcionando. Eu vou deixar pras pessoas um sonho, um legado, de acreditar em você e saber que você, sozinho, tem o potencial de chegar onde você quer, sem depender dos outros. Então, pra mim, é um sonho. O que eu queria deixar pros meus filhos. Eu não sei se eles vão tocar isso aqui, se vão vender essa empresa, mas eu vou conseguir deixar registrado que um dia alguém começou do nada e chegou lá, entendeu? Eu cheguei e eu estou registrando que eu cheguei lá, através de vocês. Mesmo estando distante, mesmo sendo dessa forma de internet. Pra mim é a primeira vez que eu estou fazendo isso aqui também. Sempre converso com o pessoal no balcão aqui. Eu estou muito feliz, mas muito. Eu vim correndo, eu me atrasei todo, eu parei tudo, o Guilherme falou: “É tal dia, tal horário”. Eu falei: “É. Não pode ser agora?” Ele falou: “Não, tem que ser amanhã”. Eu falei: “Então, beleza”. Vimos aqui a parte de comunicação de áudio e vídeo. Eu estou muito alegre, muito feliz, muito obrigado! Eu agradeço vocês, por vocês terem conversado comigo essa manhã!
P1 - Maravilha! Então, eu que agradeço você ter dispensado esse tempo, que é precioso, pro Projeto Memórias do Comércio de Bauru. Agradeço em nome do Sesc Bauru, Sesc São Paulo e do Museu da Pessoa, que a gente é representante. Foi muito importante e a gente teve muitas lições de vida. Agradeço, mesmo, de coração, viu, Leonardo?
R1 – Obrigado!
P2 – Também foi muito legal conversar com você, queria te dar parabéns pela sua história, Leonardo. O momento que eu entrei aí, eu vi que era um lugar diferente. Tinha uma ideia, um sentimento. Era diferente, mesmo. E você realmente acredita no seu produto, valoriza sua história, fala bastante da Dona Paula também, de como ela te influenciou tudo isso, como sua família participou do negócio, então parabéns, sua história é inspiradora, muito legal ver alguém de sucesso, que acreditou. Você acreditou em você mesmo. Parabéns!
R1 – Valeu! Obrigado por você ter vindo até aqui, ter me escolhido, cara. Foi um prazer atender você aqui e agora, falando com você. Espero que esse momento passe e você possa vir de novo aqui, pra eu poder te dar um abraço. (risos)
P2 – Com certeza.
P1 – Leonardo, fala alguma coisa. Eu vou tirar um print da tela. Pode ser?
R1 – Sim, claro!
P1 – Fala alguma coisa, pra você voltar pro principal. Isso. Vou tirar.
R1 – Tá.
P1 – Deixa eu ver como ficou, espera aí. Que a gente tem que ficar bem na foto, né?
R1 – Sem dúvida.
P1 – Deixa eu tirar mais uma, pra garantir. Opa! Ficar o registro aqui.
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