Maria Aparecida Cândido Victorino de França
Entrevistadora: Lila Schnaider (P1) e Cristina Santos (P2)
11/11/2021
00:00:10
P/1 - Bom dia Cidinha, tudo bom? Queria que você começasse falando o teu nome completo, local e data de nascimento?
R - Bom dia Lila, tudo bem? Meu nome completo é Mari...Continuar leitura
Maria Aparecida Cândido Victorino de França
Entrevistadora: Lila Schnaider (P1) e Cristina Santos (P2)
11/11/2021
00:00:10
P/1 - Bom dia Cidinha, tudo bom? Queria que você começasse falando o teu nome completo, local e data de nascimento?
R - Bom dia Lila, tudo bem? Meu nome completo é Maria Aparecida Cândido Victorino de França. Minha data de nascimento é 28/09/1965.
00:00:38
P/1 - E como é o nome dos teus pais?
R - O nome dos meus pais é Antônio Candido e Josefa Magri Cândido
00:00:49
P/1 - E o que eles faziam?
R - O meu pai infelizmente hoje não está mais com a gente já há quinze anos, mas ele trabalhava com piscicultura, ele cuidava da parte de piscicultura na CESPE, e a minha mãe é do lar, mas foi uma mulher que trabalhou a vida inteira, cortou cana, doméstica, hoje ela é do lar, mas uma guerreira.
00:01:25
P/1 - E quais eram os costumes da família quando vocês eram pequenos?
R - A família sempre foi muito unida, eu tenho muitas lembranças boas dos meus irmãos e foi sempre assim uma família que como a maioria dos brasileiros teve aí suas dificuldades, uma família muito humilde, mas de muita união. Então eu tenho muitas memórias dos irmãos, eu seria não a caçula, a penúltima aí e dos irmãos que cuidavam de mim. Então apesar de uma infância muito simples foi uma infância feliz.
00:02:12
P/1 7- Quantos irmãos você tem?
R - Nossa, hoje somos em cinco, mas éramos seis, infelizmente esse ano eu perdi a nossa caçula, minha irmã mais nova e éramos três homens e três mulheres.
00:02:31
P/1 - O que aconteceu com ela?
R - Ela lutou com o câncer durante quatro anos e esse ano a gente perdeu.
00:02:43
P/1 - Vocês quando eram pequenos gostavam de brincar de quê?
R - Aquelas brincadeiras que eu insisto em fazer até hoje com a molecada sempre que eu tenho oportunidade numa gincana, num evento, que seria uma amarelinha, pega-pega, queimada, boneca, são esse tipo de brincadeira que eu falo que a criançada hoje a maioria não sabe o que é, e o quanto era feliz o pique piques, o esconde esconde, eram brincadeiras muito diferentes das de hoje devido a tecnologia, e sempre que eu tenho oportunidade mesmo durante as minhas aulas de uma maneira lúdica, nós estamos sempre trazendo de volta essas brincadeiras.
00:03:37
P/1 - E seus pais contavam histórias?
R - Sim, meu pai era brincalhão, meus irmãos mais velhos dizem que ele era mais bravo, que eu e a Cris que seria outra irmã já pegamos uma fase, e nós até entendemos porque foi a criação deles, o mundo vem mudou, vem mudando e nós pegamos uma outra fase. Com a gente eu tenho lembranças dele brincar com a gente de fazer pegadinha, são memórias muito boas, minha mãe sempre foi um pouco mais ocupada em relação a isso. Pelo trabalho a mulher acaba tendo muito mais atividades, faz mil coisas, fazia mil coisas ao mesmo tempo, os dois trabalhavam muito, mas os momentos que era possível eu tenho lembrança de brincadeira e de contar muitas histórias, ele contava muitas histórias de quando ele morava num sítio de espíritos, era aquela coisa que ele adorava, a gente assustar, arregalar os olhos e depois ele dava risada, mas ele contava as histórias da família dele, dos meus avós, meu avô não cheguei a conhecer e como era na época deles, então nós ouvimos muitas histórias em relação a isso.
00:05:05
P/1 - Que história que te chama mais atenção?
R - Eu sempre prestei muita atenção o quanto foi difícil, então por mais que ele relatasse de
uma maneira leve, sempre foi muito difícil para eles, as histórias eram boas, a gente acabava rindo, mas quando eu observava o fundo era a época, do quanto eles sofreram. Ele trazia aquilo de uma maneira muito alegre. Então são relatos de dificuldades, de tratamento antigo dos pais que eram muito rigorosos. Eu sempre comparei muito a grandeza deles, pela vida que eles tiveram, o que eles conseguiram nos proporcionar perto do que eles vivenciaram.
00:06:11
P/1 - Qual é a origem deles? De onde eles vieram? De seus avós?
R - Meu pai é descendente de caboclo, meu avô era caboclo, mas eu não tive contato com ele, e a minha mãe era de italianos. Meu avô eu lembro, mas morreu também muito cedo, eu era muito pequena, mas eu consigo ainda lembrar dele, inclusive de cenas assim dele tirando tipo um saquinho de Bombril do bolso que ele guardava as moedinhas, e ele sempre dava pra gente. são muitas poucas porque eu convivi muito pouco com ele. Agora as minhas avós não, porque as duas moraram com a gente, as duas faleceram em casa e minha mãe cuidou, então eu tive um contato maior.
00:07:07
P/1 - E com a suas avós, você lembra de alguma história específica com elas?
R - A mãe do meu pai, ela era um pouco mais reservada assim, era aquela avó que a gente respeitava, mas tinha menos intimidade. A mãe da minha mãe era pra gente uma santa, acho que na parte dos meus 09 anos minha mãe trabalhava e eu ficava com ela, e ela cuidava da gente, e a gente cuidava dela, que era eu e minha irmã. Ela era muito brincalhona, ela estava o tempo inteiro com a gente, preocupada, chamando, tanto corrigindo quanto olhando se estava tudo bem, e nós temos algumas lembranças até engraçadas, porque ela teve no final...ela tinha uns acessos que a gente nunca conseguiu identificar, mas do nada ela gritava, eu e minha irmã assustávamos muito as vezes porque estava um silêncio, todo mundo na sala e ela dava aquele berro, saímos as duas correndo, aí a gente voltava, já abraçava e já tinha passado e ela também ria porque ela percebia que a gente assustava, mas ela também não sabia explicar. Às vezes chamávamos os vizinhos porque falava “ai meu Deus”, hoje ela não vai parar de gritar, e aí ela voltava ao normal, depois daquilo a gente conseguia fazer virar uma piada porque a gente falava, “vó, você quase nos matou do coração”, ela ria porque não sabia explicar. Aí vinha a pergunta. Se a gente estava bem? Se tinha acontecido alguma coisa a mais? Não, aí ela voltava ao normal, mas a gente ficava quando voltava da escola a tarde toda juntas até minha mãe chegar. Uma servia a outra, uma ajudava a outra, uma cuidava da outra, e
ela também contava muitas histórias, sempre voltadas para educação. Do que fazer, do que não fazer, na questão de caráter, de como se comportar, e também em auxiliar a minha mãe em casa. A gente foi muito criada com essa coisa de ajudar um ao outro.
00:09:38
P/1 - E onde você morou na infância?
R - Olha, morar, sair de viagem, devido ao meu trabalho, mas eu nunca morei em outra cidade, eu sempre morei em Barra Bonita, nasci e fui criada aqui, e eu nasci..minha mãe sempre me conta em casa com uma parteira, ela sempre fala, é uma casa muito simples, dormia todo mundo junto e aí chegou eu, que não deu tempo nem de correr e aí a parteira que me trouxe a luz no bairro que eu acho que era chamada de Água Brava, hoje tem outro nome a vila, faz acho que uma semana que nós passamos em frente a farmácia e ela me falou, - olha a casa que você nasceu, onde era esse portão, me desenhou a casa assim, então nós moramos, óbvio que eu não lembro, sei da história porque ela me contou, mas depois a gente mudou várias vezes até meu pai conseguir entrar na CESPE que era esse trabalho de piscicultura. Eu lembro muitos flashes, de vários bairros da cidade e era muito diferente, quando ele conseguiu esse trabalho a gente se fixou um pouco mais, bairro da Vila Operária era chamado, que pertencia a CESPE antigamente, então os funcionários tinham a casa para morar, nós mudamos nessa casa até que foi permitido pela empresa ter as mudanças e tudo mais. Em uma fase adolescente eu mudei na Cohab que foi a quando eles conseguiram a casa no bairro da Cohab, e tenho histórias assim incríveis porque não tinha nem asfalto, era terra mesmo, chão vermelho, e o pessoal chamava quem morava no bairro da Cohab tinha pé vermelho, e a gente nunca se importou muito com isso, a gente fazia piada disso e mais um monte de gente muito feliz porque tinha conseguido a casa própria, mas eu lembro que quando nós saíamos a gente amarrava um saquinho plástico no pé para não sujar, para poder chegar ao clube, e quando chegava lá ou mesmo na escola quando chovia a gente tirava o saquinho plástico. O que eu posso dizer! Que nós éramos muito felizes. Eu tenho uma memória específica disso quando era a minha formatura, porque na época era muito difícil ir ao cabeleireiro, ter essa condição de se arrumar. E foi a minha formatura na época, a oitava série que chamava e então minha mãe falou, - não, você vai ao cabeleireiro, vai fazer o cabelo, toda feliz, eu sei que com a maior dificuldade porque ela fazia faxina para ajudar a gente a estudar, e nós fomos, na volta choveu, não tinha ônibus, que o circular era muito raro. E se nós não subíssemos a gente ia perder todo horário da formatura. Nós viemos, eu, minha mãe e mais uma amiga, não adiantou nada o cabelo, ter ido ao cabeleireiro porque a chuva molhou, e a gente para compensar, para ajudar, a gente escorregou no barro e nós caímos sentadas, é uma cena que a gente lembra até hoje, tem outra minha amiga, se chama Leonor, e as duas ficaram assim totalmente embarreada, a gente levantou e continuamos a andar porque nós íamos perder a formatura, chegamos em casa tivemos que tomar banho, mexer no cabelo novamente e a roupa era toda branca. Nós fomos nos arrumar, uma ajudando a outra, fui subir o zíper do vestido dela, o vestido arrebentou o zíper, nós tivemos que improvisar tudo, mas conseguimos chegar na formatura, no horário, cabelo natural mesmo, do jeito que sempre foi porque o penteado já tinha ido embora, mas eu falo que era uma época muito feliz. E o que se precisava, até hoje precisa de muito pouco, mas o mundo mudou muito. E a gente precisava de muito pouco para ser feliz. Até hoje quando eu olho as fotos, que eu até procurei, não achei porque tinha essa mania de algum tempo atrás, porque ninguém podia ver foto que roubava uma da outra. E eu falei, onde foi parar essa foto? Eu preciso achar, porque a gente registrou o momento, tiramos a foto lá que era chamado de as quatro escoteiras, e cada um com a sua dificuldade para conseguir chegar. Eu fui a oradora da turma. Eu tenho momentos muito felizes da nossa festa de formatura. Mas a nossa mudança ali para o bairro era isso, tanto para o trabalho, quanto para a escola, quanto para a educação física, colocava um saquinho plástico no pé porque chovia muito e a gente ia para todos os lugares.
00:15:07
P/1 - O que mais você se lembra do bairro, do que vocês faziam?
R - Eu acho que é uma coisa que eu tenho muita saudade. Existia vizinhos. Hoje eu por exemplo, passo meses sem ver a cara do meu vizinho, porque todo mundo chega, sai de manhã, volta à noite, e a gente se mudar, a gente nem fica sabendo. E lá no bairro não, era muito diferente, aquela coisa desde criança, eu lembro muito disso, de os vizinhos trocarem, minha mãe fazia pão de casa e fazia um para cada vizinho, o vizinho fazia a manteiga trazia para todo mundo, existia muito essa união e qualquer comemoração que fosse uma festa junina, abriu-se as portas e colocava na calçada e todo mundo participava junto, então é incrível essa sensação de que por mais que houvesse dificuldade as pessoas passavam menos necessidade, porque havia essa divisão, essa doação do que todo mundo tinha, o que cada um tinha era para todo mundo. E essa questão de poder brincar com os vizinhos aqui no bairro. Na rua antes de morar aqui no bairro, na faixa dos 10, 11 anos, nós jogávamos queimada todas as noites com todos os vizinhos, muita criançada, até os pais dizerem “chega, vamos entrar”. Era uma vez só. Saía todo mundo correndo, eu lembro muito que a minha mãe fazia limonada, ou batia o abacate, era uma coisa que a gente tomava antes de dormir. Tomava banho e ia dormir, mas totalmente feliz. Então, chegava da escola e tinha aquele momento, não era de ir para uma televisão, para o computador, era de encontrar os amigos na frente de casa e jogar queimada. Eu amava jogar queimada. O chamado era uma única vez, todo mundo obedecia e entrava. E aqui no bairro era a mesma coisa. Eu já era um pouquinho mais velha, já queria sair, já tinha as amigas mais mocinhas, uma ajudava a outra. Vai lá pedir pra sua mãe que a minha deixou pra você poder sair, a outra ia lá contar a mesma história, “olha, minha mãe deixou, mas eu só vou se ela for”, e assim a gente foi construindo amizades sólidas. Que por mais que a gente não se cruze devido aos compromissos hoje, mas na oportunidade parece que a gente se vê todo dia. Então criou-se um vínculo que é eterno, e a gente quase não vê mais isso hoje em dia.
00:18:00
P/1 - Fala um pouquinho desse teu grupo de amigas. Como era essa convivência? O que vocês gostavam de fazer? Lugar para ir?
R - Eu gostava muito de dançar, então cada amigo tem ali a sua peculiaridade, é de um jeito, mas eu ficava muito feliz quando eu podia ir para algum lugar onde tivesse música. Elas sempre falavam, que eu já com 15 anos, por exemplo, “nós vamos enganar a Cidinha qualquer dia”, porque a gente saia e falava dos paqueras, e o que era interessante, procurando saber se estava lá, eu saía e ficava dançando a noite inteira, mas era muito diferente, porque se a gente desse uma volta na avenida, ia em um clube da cidade, não tinha, não são os costumes de hoje, tinham poucas opções, porém todo mundo se encontrava, os clubes da cidade que era o Vila Nova eu fui menos porque só quando a minha irmã deixava, ela era mais velha, e eu tinha que chorar, então minha mãe falava, “se você não levar você não vai”. E ela ficava muito brava, mas era obrigada a me levar, mas até por questão de idade eu fui menos. Mas aí no Clube da ABB já foram momentos muito bons porque eu já tinha a idade, 15, 16 que eu podia então ir aos domingos ao clube com horário marcado, e chegando lá todo mundo tinha o seu paquera, o que chamava na época, e eu muito que não queria saber não, dançava a noite inteira até cansar, mas era muito diferente porque todo mundo ia a pé, passava um na casa do outro, te chamando, combinava, quem morava mais longe, e na hora de voltar também aquele apoio de um acompanhar o outro, ninguém ficar sozinho e era tudo, tudo a pé e muito diferente.
00:20:07
P/1 - Tem alguma memória dessas idas ao clube de dança? Tem alguma memória tua, algum caso?
R - Olha, tem um que é engraçado, eu acho que antigamente eu não contaria, teve na época uma discoteca que era Pagalei, o pessoal aqui lembra da Pagalei, e eu para variar só ia porque eu fazia chantagem com a minha irmã mais velha porque eu não tinha muita idade, eles acabavam me levando, ela e o grupo de amigo delas, acabavam meio que me adotando e me levava. Teve um concurso de dança no qual eu falei, quero dançar, e eles “tudo bem, vamos inscrever você”. Nós estávamos lá ensaiando eu com meu parceiro, toda empolgada lá, ainda bem que foi antes de entrar para a pista, na época usava-se um tomara que caia, toda bonita, elas me prepararam porque a gente não tinha condições, então emprestava roupa, era o que as amigas faziam, a minha irmã emprestou da amiga dela de acordo com o tema do concurso, me prepararam bonitinha, eu fui. Eu estava lá toda me aquecendo, ensaiando com o meu parceiro e de repente a minha irmã chegou e falou assim: - O que é isso em você? Eu falei,
isso o que? Minha roupa era tomara que caia, a roupa desceu e eu nem percebi, ainda bem que tinha um topzinho que era o sutiã tomara que caia, mas quando eu vi aquilo com o grupo todo, não apareceu nada porque eu estava com o tomara que caia que era o sutiã, mas o vestido já estava aqui na cintura, eu saí correndo para o banheiro, não queria dançar de jeito nenhum. Foi assim, muito riso, muita piada, o pessoal todo tentando me animar, me levar de volta para a pista, depois de muito tentar me convencer, eu me arrumei e fui. Óbvio que eu já travei, porque aí o medo que o vestido fosse escorregar novamente era muito grande, mas fiz a minha participação, ganhei minha medalha em terceiro lugar, fui pra casa feliz, mas fiquei um bom tempo traumatizada, não queria mais voltar ao clube, e só viu quem estava em volta, mas aquilo para mim foi terrível.
00:22:48
P/1 - E a sua primeira escola você lembra?
R - Sim, foi no SESI. O SESI hoje era onde é o Banco do Brasil, e era um lugar que eu amava muito, foi lá que eu acho tive professores que eu jamais vou esquecer, alguns deles ainda estão conosco, outros não mais, o SESI era a minha segunda casa. A minha mãe sempre trabalhou, então nós íamos sozinhos, combinava com os amigos, horário de ir, horário de voltar, íamos e voltávamos a pé, e eu sempre participei de tudo, era basquete, da parte tanto esportiva que eu amava, quanto o vôlei, quanto as gincanas, quanto festa junina, teatro, jogral, eu sempre gostei muito e eu falo que lá eles despertaram tudo isso, e eu lembro muito quando nós íamos para educação física, hoje eu penso, eu falo gente que loucura né? E nem existia pole dance, não sabia o que era, mas o SESI tinha as arquibancadas e nós chegávamos para educação física antes, porque a gente gostava muito, então íamos uma hora antes e ficava brincando, e a gente se pendurava naquele cano que ficava nas arquibancadas que eram 03, 04 degraus e a gente rodava, fazia quem dava mais voltas, hoje eu penso se escapasse uma mão, alguma coisa, ninguém tinha culpa, porque a gente chegava antes e ia para o pátio e brincávamos horrores naquela arquibancada e competia quantas voltas cada um dava mais, a hora que chegava o professor ia todo mundo para quadra e tinha os jogos, as brincadeiras, as gincanas. Lá eu tive o professor Bi que hoje já faleceu, mas ele me marcou muito, eu gosto muito de escrever e ele descobria os talentos pra tudo na sala, de pintura, da parte de reeducação, e ele começou a fazer competição, então nós ficamos vários meses, toda semana todo mundo levava a sua redação e escolhia uma e o vencedor...a gente escreveu um livro que eu gostaria muito de achar, mas na época a gente fazia tão assim, não tenho livro, mas tenho lembrança das histórias que a gente escrevia, porque toda redação vencedora ia para aquele livro, e como eu gostava muito de escrever, toda semana quase eu tinha uma redação no livro, a gente escrevia no livro e aquilo ficava na secretaria da escola, mas despertou muito, eu gosto de escrever histórias, crio festivais, os espetáculos, todo o contexto até hoje é uma coisa que me marcou, porque ele despertou. Assim também, como ele ensinou a pintar, às sextas-feiras, ele conseguia material, saco, tecido de pano, ele levava as tintas, nós tínhamos sempre um dia diferente, e eu aprendi a pintar guardanapos, toalha de mesa que ele fazia todo mundo pintar junto e a contornar. Quando a gente olhava. Nossa, fomos nós que fizemos! O letreiro, como escrever as letras. Além de ser muito carinhoso, muito acolhedor enquanto professor na sua matéria, ele trazia um outro mundo pra gente que eu guardo comigo até hoje, e mesmo inconsciente eu sempre tento levar para todo mundo que está ao meu redor, que é a oportunidade de você conhecer, de você vivenciar e despertar neles tudo isso, porque a maioria não tinha isso em casa, os pais não tinham condições, então jamais iria aprender a pintar porque não teria material, e tudo que ele nos proporcionava ali na escola. Nós tínhamos a outra professora Maria José Saposo que era mais rígida, mas também aprendi, aprendemos muito, eram 02 professores diferentes, e o Tavinho Bola que também não está mais com a gente, mas que tinha um jeito todo especial de ensinar. E uma frase dele também me marcou eternamente, ele tinha uma mania de apertar as bochechas, quando chegava brincava assim com todo mundo, até doía, mas todo mundo gostava, era um carinho dele, mas ele disse para mim uma vez, para mim não, para sala, falando sobre política, que nós tínhamos que entender que o político tinha sim que cuidar. Eu falo que a política ela é para ser uma coisa linda porque é para liderar, é para o povo, é para servir, ele nos ensinou que nós não podíamos esperar que eles dessem, que nós tínhamos que conquistar, o político só seria bom o dia que ele ensinasse, que ele desse condições de nós conquistarmos e não de depender do que nos fosse dado. Eu trago isso para minha vida toda, que eu aprendi, eu não espero nada de ninguém, eu vou à luta, o que vier me acrescenta, o que não vier eu não acho que ninguém é obrigado. E isso eu passo para os meus alunos eternamente, porque é muito bom você aprender a conquistar suas coisas, mesmo que você consiga ou não, é claro que nós precisamos de pessoas, nós precisamos de apoio, mas é muito importante que a gente não fique esperando somente que nos ofereça, mas que a gente vá à luta para conquistar, isso foi uma frase do professor Otavinho Bola que me marcou muito. A gente tem que ensinar as pessoas a conquistar, e não a simplesmente receber, e aí você fica à mercê, porque você está sempre esperando que alguém te doe, que alguém te dê. Eu falo que o SESI foi uma época maravilhosa na minha vida, foi toda a base do meu aprendizado que eu utilizei e uso até hoje. Eu sempre brinco que a educação e a cultura elas estão ali juntas porque elas proporcionaram a minha vivência em várias manifestações culturais junto com a educação. Então, isso é uma coisa, né, que a gente vai falar, acho que lá na frente, mas que é um sonho, porque aí tem a frase que eu não lembro de quem é, mas é muito verdadeira que
“a educação forma e a cultura transforma”, e para mim foi válido. Eu acho que o que eu sou hoje, isso eu pude vivenciar.
00:30:06
P/1 - E na tua juventude como você começou a sair sozinha? Com que idade? Como foram
as primeiras saídas?
R - Eu acho que sair sozinha mesmo foi aos meus 15, 16 anos. Na época era o colegial que nós falávamos e eu estudei no Verdão que também era uma escola que eu fiquei apaixonada, eu sempre gostei muito de estudar, gostei muito de estar no meio junto com as pessoas, eu gostava muito de ir para a escola, e o Verdão também, lá eu aprendi com a Marizete, uma outra professora, toda a parte de MPB, a parte de escritas, ela era professora de português, nós fazíamos também teatro, escrevemos peça, tudo isso foi muito marcante porque eu gostava muito e eles me davam essa oportunidade de estar fazendo isso, e foi aí que eu tive meu primeiro namorado, o primeiro beijo, que eu comecei a sair sozinha, foi na parte do colegial.
00:31:26
P/1 - Conta um pouquinho do teu primeiro namorado. Como vocês se conheceram? Como que começou?
R- O meu primeiro namorado, nós trabalhávamos juntos na verdade, e depois a gente se encontrava a noite no Verdão, e como era uma época muito diferente, a gente tinha primeiro meses se olhando de longe, meses dando sorriso, amigo dando recado para poder se aproximar e chegar perto. Eu falo que a juventude de hoje não conhece o sabor disso, porque a primeira vez que pegou na mão era assim muito mágico, era uma coisa muito diferente, e ele eu conheci porque eu comecei a trabalhar muito cedo, comecei já não era meu primeiro emprego, eu já estava na época colegial, eu comecei a trabalhar com 07 anos. Quando eu fui trabalhar nessa fábrica era uma fábrica de calçados e ele também trabalhava que era dos pais dele que vieram a falecer, depois ele trabalhava com o tio. A gente ficou meses assim, eu na minha máquina de costura e ele trabalhava lá no fundo da fábrica, um outro serviço, porém era de frente para mim, então a gente se olhava o dia inteiro, dava um sorrisinho, dava uma piscadinha, mas era só isso, ficou por muito tempo até a gente conseguir se aproximar, depois quando nós estudávamos na mesma escola à noite, no intervalo a gente se encontrava para conversar, trocava ideia, começou a conversar, até marcamos no clube, mas isso foi uma longa data, foi uma paixão muito bonita que durou pouco, mas ela foi assim bonita, durou acho que o tempo necessário.
00:33:37
P/1 - Você falou que você tinha que idade no seu primeiro trabalho?
R - 07 anos.
P/1 - Quanto?
R - 07.
P/1 - 07 ou 17?
R - Não, 07 anos. Era assim, meus irmãos sempre foram para roça com os meus pais, eu já peguei uma outra época, mas na rua em que eu morava tinha uma, eu lembro que lá, acho que é na rua Thomas Buzzo a gente morava no fundo em uma casinha, e na mesma rua tinha uma senhora de idade que precisava de companhia, quando eu chegava da escola e eu sempre fui muito assim de querer as minhas coisas e também porque eu tinha muito dó da minha mãe e do meu pai porque eu sempre via, eu já era a quinta filha, e a vida inteira eles tinham que trabalhar muito para pôr o arroz na mesa. Então quando eu ouvi ela falando, a vizinha que era dona da casa conversando com minha mãe, eu falei que eu poderia cuidar, e aí ficamos todos meio assim, mas meus pais também foram criados de que, eu acredito nisso, que o trabalho enobrece, não ia fazer nada de errado, então queríamos fazer um teste e eu fiquei muitos meses cuidando dela, depois eu fui trabalhar de pajem e a criança que eu cuidava era maior que eu, mas a idade era menor e eu fiquei muito tempo cuidando, eu chegava da escola e também para a época minha mãe pensava, eu acho que ela vai oferecer até coisas melhores do que a gente deixa aqui na casa para os 05 filhos, porque eu chegava da escola e ia direto para a casa dessa senhora, tinha o almoço, tinha o café da tarde, tinha a janta, era uma coisa não que tivesse na minha casa, mas era limitado e na visão da minha mãe, ela vai ter melhores condições. Eu chegava da escola ia direto para a casa dessa senhora, ajudava ela com a parte de pegar as coisas, pôr a mesa, era meio que companhia, lavava os pratos para ela, eu ficava com ela até o final da tarde, a noitinha eu ia para a minha casa, e depois disso nunca mais eu parei de trabalhar, então fui ser pajem, até em casa de família, porque na época você dormia na casa das famílias, era diferente e eu fui descobrindo, e eu nunca gostei, nem é questão de gostar, mas é questão que eu tinha dó, quando eu queria alguma coisa e eu fosse pedir para os meus pais, então eu procurava trazer aquilo pra casa, porque a gente também não comprava sozinho, a gente dava o pagamento para eles e eles faziam as necessidades que tinha que ser feito, mas eu achava que era uma forma de contribuir e não de exigir deles por tudo que eles passavam.
00:36:58
P/1 - Você guardava alguma coisa pra você?
R - Eu não guardava, eu entregava para eles e eles devolviam para mim, se eu fosse precisar de um calçado, eles tinham esse controle, também era muito diferente porque a gente comprava um calçado por ano, a gente lembra de certas coisas, de o pé crescer e só tinha que esperar para poder comprar o outro ano, ou então a gente ganhava. Tinha minha irmã mais velha, dificilmente comprava porque tinha que passar da irmã mais velha, então tinha que comprar para ela porque a gente usava o dela, e a minha irmã que era mais nova usaria o meu, quando se ganhava alguma roupa que é outra coisa que eu prezei muito, a gente viu o quanto foi importante que é fazer as doações, sempre que a gente pode, a gente faz e ensina todo mundo que está a minha volta que eu incluo no meu projeto, o que não usa doe, vai ser necessário para alguém, porque nós recebemos muitas doações. Então, era entregue na mão dos pais e eles sabiam o que fazer com o dinheiro.
00:38:24
P/1 - Quais escolas você estudou?
R - Eu estudei nas escolas do SESI, aqui lembrando foram duas escolas do SESI, porque nós tínhamos uma lá na rua Ville Frida que foi onde eu comecei, depois nós tivemos o SESI que trocou de ponto a escola, mas continuava sendo SESI, então continuei estudando no SESI que foi para um outro endereço e depois eu fui para o Verdão que foi onde vem a fase, nós chamávamos o colegial, que foi onde eu finalizei o estudo, e após esse estudo eu fui para São Paulo morar um ano com a minha irmã.
00:39:15
P/1 - Conta um pouco dessa fase de São Paulo.
R - Essa fase de São Paulo aconteceu de uma maneira assim porque eu queria muito fazer dança, e como meus pais não tinham condições, eu acho que quando eu tinha 09 anos foi a primeira vez que eu assisti, eu sempre participei de todas as danças da escola, todos os teatros, tudo que tinha e eu tive acesso a uma aula de dança. Eu lembro que eu fiquei sentada olhando e fiquei apaixonada por aquilo, na época a minha mãe cortava cana, eu fiquei olhando, e eu fiquei para pagar os estudos do meu irmão que estudava em uma escola agrícola em Jaú, como tinha a falta da verba, da parte financeira dele que ele não trabalhava porque era integral, e ela para que o meu pai não ficasse bravo, ela trabalhava para cobrir a parte financeira que ele iria colaborar, e nessa época eu falei, como é que eu vou pedir para ela pagar um curso de dança conhecendo toda situação! Então aquilo me encantou, me marcou muito, quando eu terminei o colegial a minha irmã já havia casado
e estava morando em São Paulo, então eu falei, eu posso ir pra lá, trabalho e vou fazer dança, foi quando ela me acolheu, é uma irmã muito querida, a gente se dá muito bem, sempre fiquei muito no calcanhar dela, como ela diz, me chamava de rato branco, porque ela falava que eu não dava sossego. A minha mãe sempre foi assim, uma mente que eu admiro muito, porque pra época...hoje ela tem 86 anos, a vida dela foi muito sofrida, mas ela sempre retribuiu isso ao contrário, ela sempre retribuiu em forma de amor e de dar oportunidade de tudo que ela não teve, ela em nenhum momento me segurou e me apoiou nessa decisão com minha irmã, concordou com meu cunhado e eu fiquei em São Paulo durante 01 ano lá eles arrumaram um trabalho. Eu fiquei morando em São Paulo,
trabalhando e a noite eu ia fazer o curso de dança. Foi uma experiência muito boa, de grande aprendizado, porque a gente sai do interior e vai para uma cidade daquela, que hoje eu penso que a gente vai ficando depois de uma certa faixa etária mais medrosa ou mais cautelosa. Eu falo, gente acho que hoje eu ia ter medo de fazer o que eu fiz, teria medo não sei, mas as coisas aconteciam de uma maneira muito louca, e eu consegui trabalhar 01 ano lá e dar início nessa parte da dança no qual faz parte até hoje da minha vida. Eu precisei voltar porque as minhas avós foram morar com a minha mãe e a minha mãe trabalhava, não dava para deixar sozinha, minha irmã era mais nova e eu precisei voltar. Então, quando eu voltei eu arrumei um trabalho na cidade e fui fazer educação física, porque eu sempre tive certeza do que eu queria fazer. Falei, a educação física vai me possibilitar trabalhar na área que eu gosto. Eu dei continuidade aqui em Barra Bonita.
00:42:58
P/1 - Conta um pouco mais desse ano em São Paulo, do curso de dança, de que trabalho você fez?
R - Lá em São Paulo eu trabalhei em uma confecção. Em São Paulo eu trabalhei nessa confecção que tinha, eu fazia a parte de selecionar as peças boas e as que estavam com problema, tinha eu e uma outra amiga e nós cuidávamos do produto final antes de ser embalado, tinha toda essa conferência, eles faziam muito modinha e a gente às vezes até acabava provando as roupas, a gente achava muito importante porque era meio modelo, mas só ali internamente na fábrica para saber o código, se estava legal, a gente tinha esse serviço de fazer a seleção final das peças prontas antes de serem embaladas. Eu sempre fiz muita coisa ao mesmo tempo, inventei de fazer um curso de enfermagem e fazer o curso de dança à noite. E o curso de enfermagem foi quando eu tive a certeza de que eu gosto de trabalhar com a parte de saúde, mas manutenção da saúde, prevenção com as pessoas saudáveis, as pessoas que precisam de um cuidado médico não é para mim, mas eu queria aprender a teoria, se eu vou trabalhar com físico, eu tenho que entender mais. Eram cursos gratuitos e eu fui fazer. Esse ano que eu morei em São Paulo, lá eu conheci outras pessoas e uma moça
ngela que já era enfermeira e eu fiquei sendo parceira, porque éramos em dupla que fazia o curso, ela estava fazendo a teoria porque ela precisava do certificado porque ela já trabalhava na prática, e eu fui fazer a teoria porque queria ter esse conhecimento. Quando chegou a pratica, final do curso que tinha que fazer os estágios eu descobri que não era para mim porque a gente tinha que fazer estágio dentro de um hospital e eu sou assim até hoje, se começar a falar muito que está com dor de cabeça, está com dor na barriga, eu vou começar, daqui a pouco eu estou sentindo a dor junto. Quando eu cheguei em São no hospital, eu me deparei com senhores idosos na cama e a gente tinha que fazer desde o banho dos acamados até aplicar uma injeção. Eu entrava, abria a porta do quarto, fechava e chorava. Ela falava, “vamos Cidinha, você tem que fazer”. Eu falei - não, essa parte eu não faço, e ela não gostava muito de fazer prova da teoria, era aos sábados e domingo que era o único dia que eu tinha para fazer esse estágio. Nossa, era uma tortura porque eu sentia muita dó de ver aquele pessoal acamado sem poder sair da cama com problema de pele, eu jamais esqueci, eu ia até onde eu conseguia, ajudava a trocar o lençol, mas eu tinha medo de machucar, eu não queria ver a pessoa ali naquele sofrimento, injeção no hospital eu nunca apliquei. Essa minha parceira falou, “olha, como eu sei que você não vai ser enfermeira mesmo e você quer ter esse conhecimento, você trabalha comigo na parte do trabalho, você faz toda a parte da teoria e eu faço a parte prática”. Nossa, eu fiquei super feliz, falei - combinadíssimo, até em sala de aula quando nós tínhamos que fazer a parte prática e aplicar a injeção, ela dava o braço para eu aplicar para ver se eu estava fazendo certo, eu - você está louca, imagina eu não vou aplicar de jeito nenhum, ela aplicava tudo que era a parte prática, ela fazia por mim e eu fazia todos os trabalhos, consciente porque eu falei fique tranquila porque eu jamais vou fazer isso, eu vou pedir socorro, vou tentar entender um pouquinho da situação, mas eu não, eu jamais vou fazer isso. Tanto que eu vou tomar uma injeção eu não consigo olhar. Eu viro ao contrário. As duas terminaram o curso com nota 10, foi perfeito, eu peguei toda a teoria que eu precisava e ela também porque ela já conhecia a prática, mas ela era meio preguiçosa com a parte de escrita, documento, mas tinha conhecimento. Então, eu fazia todos os trabalhos dela. Essa parte em São Paulo foi também de muito aprendizado. A noite, quando eu ia para o meu curso de dança eu me realizava, comecei tarde, passei dificuldades porque, geralmente hoje começa com 02 anos, já tem o pré-school e as crianças estão fazendo balé, eu tive muito o que correr atrás, tive que estudar muito para conseguir trabalhar, mas deu certo, porque quando eu voltei eu prestei vestibular para Educação Física, não passei no primeiro, depois teve desistência eu fiquei lá de suplente é uma outra etapa que depois ali teve sequência.
00:48:48
P/1 - Acho que você pode continuar falando dessa história da tua formação de educação física.
R - A parte da minha formação. Quando eu consegui entrar na faculdade eu fiquei acho que 08 meses, e aí eu comecei a namorar, eu engravidei, na época não dava para continuar a faculdade e eu tive que parar. Casei, só que antes de casar, porque eu precisei parar, comunicamos aos meus pais, família toda, pela visão deles da época não tinha nem outra opção, tinha que casar, nós marcamos o casamento acho que 01 mês antes do casamento, que foram 02 meses, as coisa foram muito rápidas, eu perdi a criança e falei e agora? Mas para os meus pais tinha que casar do mesmo jeito. Eu não consegui voltar à faculdade. Tive que casar, casamento bem difícil, porque eu supernova, nós tivemos as nossas dificuldades, muitas, depois de 03 anos eu engravidei aí veio a minha filha que é meu maior tesouro, antes dela completar 02 anos nós nos separamos, foi bem tumultuado, bem difícil, mas veio a separação. Quando a gente separou, eu falei agora eu vou fazer minha faculdade, eu já estava com 28 anos, era final de ano e quando eu me dei por conta estava encerrando as inscrições da faculdade e eu consegui chegar lá no último dia, no final do segundo tempo e eu consegui fazer a minha inscrição, eu realmente me formei, estudei, também muito difícil porque eu tinha a neném pequena e era uma tortura, minha mãe sempre me ajudou muito, mas eu não achava justo dar esse trabalho para ela, só quando eu não tinha como, mas para eu trabalhar ela já cuidava da Tamires para mim, e a noite eu chamava uma vizinha que ficava com ela até eu voltar da faculdade. Nesse período eu já dava aula, eu nunca parei de estar envolvida com a dança, eu me trocava para ir pra faculdade e eram duas torturas. Uma era deixar Tamires porque ela chorava muito e ela grudava no meu pescoço, então a menina pegava, agradava, era bem triste porque quando eu voltava ela já estava dormindo e eu terminava a aula 19:30, quando eu terminava a aula começava a aula na faculdade, eu saia me trocando no corredor e botava a camiseta de uniforme, corria para faculdade. E lá tinha o professor Seu Nelson, que eram as primeiras aulas, como ele me conhecia, porque ele era muito rígido e ele falava se chegasse atrasado não entrava na aula dele, e ele abriu essa exceção pra mim, ele falou em tom alto que ele sabia que eu estava trabalhando então que eu poderia chegar e entrar. Foi assim com bastante sacrifício e a gente teve momentos que eu tinha que escolher, pelos problemas familiares ou eu pagava a minha faculdade ou eu pagava a escola da minha filha, então eu preferia pagar a escola dela para ela não ter constrangimento, e a minha faculdade foi ficando. Depois eu consegui um projeto na faculdade onde eu dava aula para terceira idade e esse projeto se tornou a minha bolsa. Eu consegui pôr em dia porque eu não precisava mais pagar a faculdade. Eu consegui me formar e manter as coisas da minha filha em dia. Eu falo que tudo valeu a pena. Foram momentos bem difíceis, mas que eu não pensaria para fazer novamente. Eu só tenho que agradecer muito, muito a muitos anjos que eu tive também por perto, apesar de todas as dificuldade a gente teve muitas pessoas boas e a Deus, as coisas iam acontecendo, como em várias etapas da vida, aquele momento que você fala não, chega, vem algo ou alguém e a coisa muda e a gente tem força para continuar.
00:53:57
P/1 - Fala um pouquinho dessa tua trajetória profissional na dança.
R - A trajetória da dança eu nunca tive dúvida do que eu gostaria de fazer por nenhum segundo, nunca me imaginei fazendo outra coisa, eu sempre vi a dança como arte de uma maneira geral, eu gosto muito dessa área, a gente fala cultura, arte de uma maneira geral pelo poder que ela teve de transformação mesmo, de me dar forças, de fazer eu me sentir realizada, de poder fazer isso pelas pessoas, desde que eu comecei a dar aula, trabalhei com a minha ex-cunhada quando me casei, quando me separei eles não permitiram mais que eu continuasse o trabalho junto porque acharam melhor cortar todos os vínculos. Então vamos seguir. Eu fui para o bairro da Cohab e lá eu dei aula no salão da Cohab, a gente também tem memórias, o telhado era todo esburacado, eu tinha turma de dança, turma de ginástica para todas as idades e quando nós fazíamos alguns exercício, ou deitava no chão para fazer um abdominal, a gente olhava para o teto via os buraco e caía muito carvão na época por causa das usinas, o corte de cana queima, a gente fazia aula comendo carvão, mas todo mundo feliz ninguém ligava, até que fecharam o salão, quando trocou a administração eles não permitiram mais que se dessem os cursos porque também havia bordado, tinha outros cursos no salão, cada dia cada um tinha o seu horário e era organizado com várias oficinas, vários cursos lá. Eu falei, e agora, né? Então, trocou, não vai abrir mais. Isso foi no final do ano, e falei para - onde nós vamos! Nessa época foi a
separação e eu estava com uma casinha na Cohab onde eu fui morar com a minha filha e eu falei, eu vou construir uma sala aqui no fundo, foi pai, irmão, tio, sobrinho, fez um mutirão e a gente conseguiu construir uma sala de aula no fundo. Tinha um portão lá que separava e eu comecei a dar aula lá. Eu consegui iniciar meus projetos. Minha filha sempre esteve do meu lado, porque eu estava do lado de casa, ela acordava, deixava a mamadeira dela pronta, ela vinha com a mamadeira lá para a sala de aula e as alunas me ajudavam a trocar. Eu consegui ficar mais próxima dela e dar sequência. A gente começou a trabalhar ali e eu comecei a projetar. Eu falei, eu quero fazer mais uma sala. Estudando e fazendo as coisas ali. Todo mundo falou, “você é doida, na casa da Cohab não cabe mais nada aqui”, eu comecei a derrubar em volta. Eram 02 cômodos, tinha a frente, derrubei a parede do meio, virou uma musculação. Eu precisei ter um banheirinho fora que era para as pessoas, eu fiquei só com um lá dentro e fui quebrando em volta da minha sala, da minha casa. Quando eu vi eu estava com a Tamires morando em 02 cômodos. Era assim no meio da escola, a gente abaixava o colchão à noite para dormir, porque era a sala, eu subia e tinha a cozinha e o banheiro. Eu falei, meu Deus, agora eu tenho que sair daqui! É porque graças a Deus estava dando certo. Então eu podia pagar um aluguel, foi quando eu procurei uma casa no bairro próximo, já tinha conhecido também hoje o meu atual marido e a gente conseguiu, eu consegui alugar essa casa. Eu acabei de quebrar a salinha que estava no meio e aumentei o espaço lá da academia. A gente foi aumentando os cursos também, e eu fui morar na Nova Barra. Eu sempre colocava muito de mentalizar e correr atrás, porque eu falo se tiver que ser vai ser, se não tiver, mas eu vou tentar. Eu imaginei uma piscina. Mais uma vez me chamaram de loucona, “que você vai pôr numa piscina aqui”. Eu falei, vou por uma oficina. Comecei a construir no fundo onde tinha a sala, chamei um engenheiro lá, é tudo muito amigo eles nunca me cobraram, na real eu pagava sempre o serviço de uma maneira muito camarada e parcelado aí milhões de vezes, eu consegui aumentar a sala, fazer outra sala em cima, e a sala onde eu dava aula eu falei aqui vai ser a piscina, enfim, a piscina aconteceu. Está lá até hoje. A gente conseguiu fazer a piscina e ampliamos o nosso espaço. Então eu tinha sala de dança, tinha a parte da musculação e tinha a parte hepática. A minha realização e a minha vida foi dentro da academia. Eu consegui ter meus próprios projetos, de poder atender os alunos gratuitamente, aí vem aquela história. Eu sempre tive muita ajuda, então é a minha maneira de retribuir. Eu comecei o meu projeto Novos Talentos que ele dura até hoje, e os meus primeiros alunos que foram meus alunos bolsistas, 80% deles estão na área, e a gente tem um vínculo até hoje vai fazer 33 anos, praticamente a idade da minha filha, eu consegui começar lá na casinha da Cohab e a gente tem até hoje esse projeto que forma bailarinos que atende com formação profissional, a maioria deles que continuam na área tem sua remuneração artística, conseguem no Brasil e ainda hoje com essa pandemia com dificuldade de sobreviver da arte, nunca foi diferente, mas conseguem trabalhar naquilo que gostam, porque eu falo, a nossa dificuldade foi tanta e quando a gente identifica o talento de alguém e sabe que a pessoa nasceu para fazer aquilo e ela não tem apoio para fazer aquilo como a vida inteira eu tive que provar a importância disso. Meu pai teve uma outra educação, para ele como é até hoje para a
maioria, isso não é dança, não é serviço, poderia trabalhar em qualquer área, mas não nisso, e a minha mãe com todo o jeitinho dela, brigar, eu lembro quando o primeiro curso que teve em Poços, tinha uma convenção e eu queria muito ir, ela emprestou dinheiro escondido da vizinha, ela falou, ‘para estudar vai”, e me ajudava, para o bem a omitir um pouquinho as coisas do meu pai, porque se não ele não ia permitir mesmo emprestar dinheiro para isso, mas a gente conseguiu por mais difícil que tenha sido a gente sempre aparecia ali um socorro na hora e a gente conseguiu fazer. Então quando eu consegui ter meu próprio projeto e atender também às crianças que tinham dificuldade e muito talentosas eu agradeci a Deus e agradeço até hoje os que tiveram essa oportunidade, e a gente tem um vínculo com a maioria, hoje eles fazem a mesma coisa, e se eu precisar de ajuda. “Tal aluno não tem isso, o que nós podemos fazer para arrecadar para aquele?” Eles estão comigo até hoje. Então, eu falo que é muito gratificante, e tudo valeu a pena, porque eu não sei como teria sido, eu não me imagino fazendo outra coisa, então quando a gente identifica uma criança assim que sabe que às vezes nem tudo a gente consegue, de repente tem 10 a gente consegue fazer por 01, mas não por todos né, mas esse 01 já faz a diferença dele e em volta dele, porque se 01 vai levar para frente toda oportunidade que ele teve. Então é meio um dos compromissos que ele assume. Eu recebi, eu tive a oportunidade, então eu vou proporcionar isso para alguém, e assim a gente conseguiu continuar com esse trabalho de apoio, de parceria, e de pessoas realmente comprometidas e apaixonadas pela arte. A gente conseguiu atravessar o oceano, levar os bailarinos para o exterior, para Croácia, para Alemanha, tem bailarinos formados lá, temos bailarinos no Brasil, trabalhando na TV, ministrando cursos em grandes companhias de São Paulo, e quando a gente olha isso, é quando eu acredito valeu a pena. Durante todo esse processo muitas vezes eu pensei em desistir, porque até hoje eu acho que a Cris está aqui, ela sabe bem disso. Quando a gente fala em arte, em cultura as pessoas riem, você tem que provar todo momento a importância disso. Acho que no mundo inteiro, no mundo inteiro não, no Brasil. Quando eu tive a oportunidade de ir para Alemanha, eu vi o quanto a arte é valorizada lá. O quanto eles são respeitados. E meu sonho é trazer um pouco disso para o Brasil. A gente não pode fazer por todos, mas aqueles que estão à minha volta e querem fazer, a gente vai lutar. Por vários momentos eu pensei em desistir, porque eu falei, é uma opção de vida que judia muito, por mais que você faça, você tem que provar, e 01 dos últimos eventos que a gente conseguiu realizar tem um menino, ele se chama Willian e ele mora na cidade vizinha em Igarassu. Ele apareceu na academia, eu estava dando aula em uma sexta-feira para o grupo e ele estava sentadinho lá no canto com o sorriso na orelha olhando todo mundo fazer aula. Eu mudei o aquecimento, brinquei, começamos o ensaio aí eu falei para um dos meninos que hoje é o professor também. Eu falei quem é? Ele falou assim para mim, - tia, ele é de Igarassu, ele perguntou se podia vir assistir, eu falei é claro, só que o olhinho dele brilhava quando eu estava no meio da aula eu falei assim, você quer fazer aula? Ele falou assim, mas tem que pagar dona? Falei, não, se você se comportar bem não tem que pagar, eu só preciso que você respeite as regras e se comporte. Ele abriu o sorriso e foi para o meio da sala. Bom, de lá para cá nunca mais ele parou de ir para academia. E aí a gente foi descobrindo todos os problemas familiares, o irmão que mexia com droga, mãe separada, tinham 02 irmãos menores que era ele que cuidava, ele que limpava a casa para mãe poder trabalhar e ele tinha seus 09 anos acho que na época, ele vinha a pé de Igarassu, de carona que é distante, e aí a mãe começou a implicar então ele chorava para mim, que às vezes ele faltava então eu falava, William você tem seu espaço mas você tem responsabilidade, comprometimento, você não pode faltar e vir o dia que você quer, não dar satisfação, a gente se preocupa muito para que eles tenham esse comprometimento, essa responsabilidade. Ele começou a contar que a mãe dele não deixava porque ele tinha que cuidar dos irmãos dele e o padrasto às vezes ficava bravo, batia que ele não podia sair porque aí brigava com a mãe dele. A gente começou a entender a história. Aí eu fui falar com a mãe, tinha talento, eu não queria interferir na vida da família, mas ela precisava concordar, porque senão também não poderia dar bolsa para ele. Aí a gente começou a arrecadar as coisas na escola, que eu também fiquei emocionada, porque sempre tem os anjos que ajudam, porque a gente viu a necessidade. Vamos fazer uma campanha aqui na academia, vamos? A gente deu start e elas continuaram me ajudando. Eu estava dando aula no dia de levar, o pessoal falou, “olha a gente já colocou no seu carro tudo que trouxeram”, falei, que ótimo, então quando acabar a aula vocês vão comigo para levar porque é um bairro que não dá para ir sozinha à noite. Foi a mãe, que a filha é minha aluna que hoje está na Alemanha também, e uma outra que é bailarina começou comigo pequenininha. Não, a gente vai com você! Eu falei Willian...e ele estava de bicicleta, falei - então a gente vai seguindo você que eu não lembro direito onde é para deixar as coisas. Quando eu abri o porta-malas do carro eu fiquei emocionada porque tinham levado tanta coisa, eu falei por um tempo eles vão ser felizes, todo mundo ajudou ele descarregar e ele com medo, porque ele falou, “meu irmão está no sofá”, e acho que tinha ido com a bicicleta escondida do irmão. Falei - não, está tudo bem, se você quiser, a gente não entra, coloca a bicicleta aqui no portão e depois você leva para dentro. Estou antecipando isso porque no dia do festival...ele está com a gente até hoje, aí no dia do festival, que foi a primeira apresentação dele, foi um evento internacional que a gente conseguiu dar sequência por causa dos projetos e nós conseguimos trazer o júri da Alemanha. E ele estava no palco dançando, eu olhei para aquele menino, o jurado analisando e a minha filha que estava coordenando, que veio junto com o júri, eu falei - meu Deus o que eu vou fazer agora! Eu não sei se eu estou certa de dar tanta esperança para esse menino, porque começou passar um filme na cabeça, eu falei, - eu estou indo até aqui, e se eu não conseguir o que vai ser da vida dele! Vai ser mais frustrante! Então enquanto ele dançava eu comecei a me questionar se era correto porque não é uma vez só, a pessoa precisa de assistência sempre, por mais que você ajude e aquilo ajude ela a seguir em frente. Enquanto eu estava pensando acabou a dança dele, o pessoal estava aplaudindo, eu fiquei sabendo depois que ele desceu do palco aos prantos de tanta emoção que precisaram acalmar ele, minha filha vira e fala, “a Catarina acabou de falar que o William tem futuro garantido. Que ela iria levá-lo para primeira oportunidade, que se ele continuasse desse jeito, e nós continuássemos trabalhando com ele daquela maneira, que ela iria garantir o restante”. Então todas as vezes que eu pensei em parar eu tive respostas assim, e ele está até hoje, só não está na Alemanha ainda por causa da pandemia, que no ano seguinte ele foi um dos selecionados, porque o que a gente faz é levá los por 15 dias
para um intercâmbio para realmente nos chocar, ver se eles tem condições, se realmente gosta para saber um pouquinho o que é aquilo, a gente conseguiu patrocínio, juntamos de muitas pessoas boas que me ajudaram a arrecadar dinheiro para pagar passagem dele, a minha filha conseguiu lá na Alemanha a alimentação dele toda gratuita, ele ficou na casa dela lá, a gente conseguiu os cursos gratuitos, porque por mais que todo mundo tinha que pagar uma taxinha para ele, a gente sabia que era difícil, ele fez o intercâmbio, fez aula junto com a companhia profissional, e fazendo aula junto com a companhia, uma professora de lá que tem uma escola e por acaso estava aí dançando no espetáculo com a minha filha, porque uma bailarina teve problema então ela foi convidada eu nem conhecia, e ela perguntou para minha filha quem era aquele menino, a gente contou, ela dá aula para ele até hoje online, se apaixonou por ele e só não levou ele ainda por causa da pandemia, a gente continua o contato e na época ela queria adotá-lo, ela falou, “eu cuido de visto, eu adoto ele”, mas eu também fiquei com medo porque ele era muito novinho tem todo o histórico da família, falei, - filha, vamos prepará-lo mais um ano para ver se a gente consegue um curso de inglês para ele. Se ela tivesse interesse para ele não vir assim no shopping, uma que tem que falar com a mãe. Então a gente combinou. Só que na nossa volta, nós voltamos em janeiro, comecinho de fevereiro e março logo entrou a pandemia, nós estamos aguardando e continuamos a prepará-lo, ele era desse tamanho, agora ele está enorme, e assim a gente vai seguindo em relação a arte no Brasil que infelizmente as pessoas lá fora dão um valor muito grande e aqui é meio que...eles não consideram como trabalho, não como profissão é sempre último plano, tanto que quando a gente prepara a maioria das vezes quando tem condição e a gente fala “nossa estaria brilhando lá fora”, mas a gente ouve agora chega de brincar, de dançar, vai estudar, vai fazer uma faculdade, pra gente que é do meio é ruim ouvir, mas quando você olha para aqueles que valeu a pena enquanto Deus der força a gente fala, vamos seguir!
01:13:20
P/1 - E como você vê a sua contribuição para a cultura de Barra Bonita?
R - Para a cultura de Barra Bonita eu gostaria de estar fazendo muito mais. A gente tem muitos projetos, são muitas ações culturais que eu gostaria de estar aplicando na cidade,
Infelizmente eu acho que não estou fazendo nem um terço do que eu gostaria de fazer. Até porque muitas coisas mudam muito e o sistema ainda não permite. Então falo que às vezes é mais fácil a gente fazer sozinha quando você pode chegar para uma pessoa, porque é muito difícil eles não confundirem a gente, você fazendo parte da administração eles já te colocam como uma pessoa política, e não pelo trabalho que você quer realizar, então a gente consegue menos apoio porque muitas pessoas misturam. Eu penso que a maior contribuição para tudo, as ações que eu realizo, pretendo realizar, enquanto eu estiver realmente
não deixar que eles desistam, e por mais difícil que seja provar o tempo todo no poder de transformação que essas futuras gerações podem ter se realmente acontecer as ações como devem ser na cidade. Eu acho que junto com a educação que a gente tem uma equipe maravilhosa aqui na cidade, conheço a maioria dos professores, conheço o secretário que dá para fazer ações maravilhosas, porque eu falo que a cultura e educação caminham juntas, não tem como uma sem a outra, que a cultura é a identidade de um povo
e eles precisam, então que a maioria dos problemas seja que a gente tem hoje que ficar consertando, vamos dar exemplo de vandalismo, nós não teríamos no futuro se eles tivessem todo o processo cultural junto com a educação e a oportunidade, todo evento que a gente realiza eu procuro estar trabalhando e dando ênfase a isso, estar valorizando, envolvendo a comunidade que dá trabalho. Às vezes nem todo mundo gosta, porque eu vou fazer um evento, mas eu quero que o esporte, a saúde e a educação esteja presente porque é uma forma da gente envolver as famílias, de comprometê-los, de fazer com que eles se sintam importante, de que eles fazem parte de tudo aquilo e que o artista local seja valorizado. Então nós temos como exemplo Barra Magia que está para acontecer, o primeiro ano eu liguei de um por um convidando e pedindo para que eles participassem. E no segundo ano eu já consegui com que eles recebessem um cachê porque viram a diferença e o quanto é importante a participação deles e que a comunidade, a população tem que ter o seu devido valor, dentro do que eu posso trazer e agregar, tudo que é investimento pessoal importante eles tem que ter, todos tem que entender que nós precisamos de investimento pessoal. Se você está bem, você vai produzir, você vai viver bem, independente do que você tenha, a questão do ser e não ter. Eu ainda sonho em realizar de uma forma, é uma luta.
01:17:14
P/1 - Como chama, é um festival?
R - É um festival de dança, você diz?
P/1 - É, eu não entendi o nome do festival.
R - O festival começou com um projeto cultural e artístico. Era festival da escola primeiro, primeiro que eu fiz convidando as pessoas chamava Encontro de Danças. Nós tivemos 04 cidades participando e 50 bailarinos, a gente foi dando sequência, depois eu participei de um projeto e nós nos tornamos ponto de cultura. Então, quando nós nos tornamos pontos de cultura, o projeto era Projeto Cultural e Artístico que englobava dança, música e teatro. Então, a gente conseguiu fazer por 03 anos com recursos do governo, foi quando a gente teve contato com o exterior, conseguimos trazer o júri internacional que era um dos sonhos porque para minha filha ir também não foi fácil. Eu pensava, se eu trouxer eles para cá, muito mais pessoas terão acesso e mais oportunidade, porque levar 01 é difícil, imagina levar 02, 10, então, se eu trouxer eles para cá nós conseguiremos realizar de maneira diferente. Quando eu consegui esse projeto, a gente conseguiu fazer, nós tivemos, foram 08 anos até chegar nesse processo, 08 anos não, 12 anos do primeiro para o Projeto Cultural e Artístico. Aí eu consegui reunir um espaço dança, música, teatro, feira de artesanato, gastronomia, a gente teve 1.600 artistas fora os shows a parte que eram convidados, um público de 7.500 pessoas durante os 03 dias de evento junto com as feiras, e nós tivemos o nosso primeiro convite para intercâmbio no exterior. Então a coisa começou a tomar outro formato e as portas começaram a se abrir, porque inclusive quando eu falei não dá, eu vou parar, porque fazer, trabalhar sem verba, tirar dinheiro de onde não tem era muito sofrimento, quando eu estava quase desistindo eu consegui o ponto de cultura, quando acabou o ponto de cultura, eu falei eu não vou mais conseguir passar por tudo aquilo que nós passamos, nós não temos mais recurso, esse é meu último, quando acabou, no último ano que tinha uma jurada da Alemanha ela falou, “após o evento eu quero uma reunião com você”, até achei que era para dar o feedback geral do evento que eles gostam muito de fazer isso e pra gente é importante, não, ela falou assim, “eu quero saber de você se há interesse, qual a possibilidade de nós fazermos uma parceria e de linkarmos esse evento com o festival da Croácia? Eu fiquei sem resposta, porque eu não sabia o que falar, eu falei - meu Deus, que oportunidade é essa! porque foi a coisa mais linda que eu vi em relação a um festival de dança. É a nossa copa do mundo aqui. Eles foram me mandando como teria que fazer, deram apoio então eu continuei. A gente foi para a Croácia, eles voltaram no ano seguinte, fizeram a seleção dos trabalhos, nós fomos para Croácia com uma caravana de 75 pessoas, brasileiros que dançaram, arrasaram e eu recebi o título de embaixatriz no Brasil, no festival que eram 36 países e as delegações era como Copa do Mundo. Eles tiveram um desfile, uma abertura que eu nunca vi no mundo. Ainda sonho em trazer aquilo para o Brasil. No ano seguinte nós voltamos para a Croácia e fomos convidados a abrir o evento. Aquele povo reverenciava os brasileiros no palco quando eles desceram do palco, tinha fila que queria autógrafo, e nós entendemos nessa viagem o quanto é difícil para nós nessas duas viagens, foi com rifa, foi show, foi vender tudo que tinha, o que não tinha para conseguir fazer essa viagem, mas que eu tenho certeza, teve uma influência na vida de todo mundo, nunca ninguém esqueceu, e de lá saíram excelentes profissionais porque abriu a mente. No primeiro ano nós fomos passear lá pela feira do evento, e um responsável por uma das vendas falou para minha filha, porque todo mundo tinha que ter um guia, a gente fazia mímica, inclusive eu, ele perguntou para minha filha, tinha 36 países, todo mundo falava mais línguas, e o brasileiro nada, porque é muito caro para o Brasil pagar o curso de inglês, a gente era na mímica, e ele perguntou para minha filha, “por que é que só os brasileiros não se comunicam em inglês?” Eu falei, - esta é uma questão que nós vamos ter que melhorar. Quando nós voltamos eu reuni professores, consegui desconto e vi os alunos que tinham interesse dentro da academia, nós começamos a ter curso de inglês. Hoje a maioria deles melhorou muito, aprendemos isso da Croácia já faz acho que uns 06 anos o quanto é importante outra língua, seja na escola, aproveite o máximo, estude, tem internet, mas não fique sem aprender. Então, para o segundo ano não falávamos, como não falo fluentemente até hoje, mas a gente já conseguiu se virar um pouquinho melhor e assim foi acontecendo, a cada momento que a gente falava não vou fazer mais, acontecia alguma coisa e vai nos impulsionando.
01:23:48
P/1 - Que história bacana hein! Muito legal. E desses 75 participantes, eram de vários lugares do Brasil, quantos eram de Barra Bonita?
R - De Barra Bonita nós éramos em 45, e aos 35 foram mais 05 escolas que foram selecionadas, todo mundo ralando, fizemos uniforme do Brasil, e o primeiro ano que nós fomos era a Copa do Mundo e nosso uniforme era verde é amarelo, então no aeroporto todo mundo perguntava se tinha alguma coisa haver com a Copa, e nós, “não, nós estamos indo dançar, representar o Brasil”, foi uma experiência, porque nunca tinha andado de avião, a maioria nunca tinha entrado em um hotel, é incrível como com pouco lá...o difícil para nós foi sair do Brasil, porque lá as coisas eram muito baratas, o que o evento oferecia, pelo preço oferecido foi o menor problema, o que eu fico feliz é a experiência, foi incrível, agregou na vida de todo mundo para melhor. Eu tenho um professor hoje que me é um talento, é um dos melhores que eu tenho, todos são bons, mas é que realmente eu falo assim porque cada um tem a sua especialidade ali, naquilo que ele é é melhor, cada um tem o seu dom nato, até em relação às áreas, na modalidade, clássico, jazz, danças urbanas, sapateado, então são maravilhosos. É que esse a vida inteira me deu trabalho
no bom sentido, porque eu também conheci ele há 15 anos atrás, quando eu bati o olho falei -
quem é? Que talento esse menino né? E comecei a trabalhar com ele, mas bichinho foge então eu brincava, eu falava - usa esse dom, esse talento para o bem, isso não foi dado a toa, mas era danado, então quando ele foi para a Croácia na 2ª vez, também porque ele venceu o prêmio e ele conseguiu entender e enxergar o mundo de uma maneira diferente o quanto ele poderia fazer, ele voltou outra pessoa, eu falo - que água você bebeu lá esse ano! Porque eu só tenho que agradecer a Deus, é um dos meus braços direito hoje, dançou, ganharam o primeiro lugar, é muito bom a gente saber que alguém vai continuar, porque eu brinco com eles, eu falo - ó, daqui a pouco eu não aguento mais, eu preciso de alguém que continue, mas é muito gratificante porque eles trazem isso no coração e quando entra um aluno, se ele sabe que não tem condição de pagar eu não preciso nem questionar, o aluno vai fazer aula do mesmo jeito.
01:26:47
P/1 - Então só rememorando aqui. Você organiza esse festival, a feira também de artesanato?
R -
A gente está misturando ou eu estou misturando os dois. O festival é algo que eu já trabalhava. Hoje como eu estou secretária de cultura a gente organiza os eventos da cidade por exemplo, agora estamos organizando o Barra Magia que é onde a gente envolve os artistas da cidade também, então são eventos paralelos. Na verdade desde que eu assumi a secretaria eu passei a coordenação do evento para um professor que está comigo desde o início que é o profissional de São Paulo o Francisco Ribeiro, me acompanha desde o meu primeiro evento e para os professores que hoje assumiram a academia, mas eu não consigo ficar longe, então eu fico de voluntária, ajudando de todas as maneiras que eu posso e a gente continua. Que o último evento que nós realizamos antes da pandemia foram mais 03 bolsistas, uma está com contrato de trabalho na Alemanha, ela conseguiu ir, a outra está fazendo a faculdade de dança em Berlim, e o Caio que é o outro bailarino que também conseguiu contrato de trabalho, está lá trabalhando. A gente está esses 02 anos trabalhando aqui na cidade, na esperança de que a hora que isso acabar o William também vá, e tem mais 02 bailarinos que nós fizemos o festival online que também receberam bolsa para Alemanha, assim que tudo melhorar de intercâmbio e outros de trabalho, então quando eu faço o festival eu organizo, eu gosto de um espaço divergente, que eu falo que um aprecia a arte do outro e acaba agregando, eu gosto de pôr a feira, eu gosto de pôr artesanato, produtos artísticos, eu gosto que tenha música, tenha teatro, mesmo que o evento seja de dança, a gente procura encaixar todo mundo ali para criar esse espaço. Então, aí a gente acaba organizando.
01:29:03
P/1 - Por que essa história toda com a Alemanha? Como que começou isso?
R - A história da Alemanha é mais voltada para minha filha, quando ela tinha 10 anos, eu já fazia meus eventos aqui, eu recebi um fôlder de um concurso internacional em Brasília. Eu falei - nossa! Bati o olho e falei - que legal isso. Como funciona ? Comecei a estudar aquilo, liguei em Brasília e descobri que ela não poderia participar porque era acima de 12 anos e era uma coisa muito cara e eu também não tinha condição de levar os meus alunos. A história da minha filha começou na barriga, vou resumir rapidinho, quando fui fazer o ultrassom logo antes do nascimento dela, a moça que fez, a atendente disse para mim que ela tinha as pernas muito longas em comparação aos braços, eu travei. fui pra casa, chorei a noite inteira falei - o que minha filha tem, e liguei para o médico, ele falou “você vem aqui amanhã”, no outro dia cedo fui conversar com o médico ele ligou para enfermeira lá na minha frente e ele deu bronca nela porque eu fiquei desesperada e ele brincou comigo e falou assim, “talvez as pernas longas sejam porque ela é uma bailarina, mas não existe nada de anormal com sua filha, ela é linda, perfeitinha”, e eu fui embora pra casa meio tranquila, mas fiquei lá na expectativa. Ela sempre esteve comigo dentro da academia, porque eu trabalhava ela ia no cesto comigo desde bebê quando minha mãe não podia ficar, e as alunas que ajudavam a cuidar da mamadeira, trocar fralda. Quando eu vi esse seminário de Brasília que oferecia bolsa para o exterior eu falei - que interessante esse evento, mas ela não tinha idade. Então quando ela teve idade para ir...depois demorou muito porque nós não tínhamos condições financeiras. Eu passei uns 04 anos namorando esse concurso em Brasília. Quando ela teve um pouquinho mais de idade, que a gente sentou para conversar, quando eu vi ela tinha feito um livro que chamava de livro ouro, e ela foi pegar patrocínio a ceia da escola, ela ia nas oficinas, ela passava em tudo quanto é lugar com o caderninho dela, pedindo patrocínio para ir a Brasília. E você tinha que ficar lá 1 mês. Existe uma série de regras, e eu não conhecia. Eu falei - como que eu vou mandar essa menina para lá! Eu sei que demorou alguns anos, ela foi para São Paulo antes, ficou, voltou antes dela ir para Brasília. Quando a gente conseguiu que ela fosse para Brasília, a gente conseguiu tudo através de patrocínio, estávamos indo para Jaú que ela ia pegar o ônibus para Brasília, e eu falei: - Meu Deus, eu fui rezando, eu falei essa menina, não posso ir junto, não conheço Brasília, não sei onde ela vai ficar, é um alojamento que eu não sei como é, ou roubar, mas assim desesperada e indo para rodoviária. Quando nós chegamos na rodoviária eu rezei a viagem inteira, nós paramos, um pouco antes do ônibus encostar, chegou uma senhora com um senhor, era a Cris que conhece aqui, era um político Tófano que eu não conhecia de Jaú, e ele começou a conversar com meu marido, a gente começou a conversar com a senhora, ela falou: - não, estou indo para cuidar do apartamento do Tófano, porque semana que vem ele vai com a família, não sei o que ele começou a perguntar, o que a gente ia fazer. Eu falei, minha filha está indo para o concurso do seminário internacional de dança. “Que legal onde ela vai ficar?” Ele começou a conversar comigo, eu falei, - na verdade eu não sei porque é um alojamento, eu estou aqui tentando ter informação. “Que bom saber que tem alguém assim, eu vou ficar lá, você pode me ligar?” Ele me vira e fala assim, “não, ela não vai ficar no alojamento. Meu apartamento é enorme, eu só vou com minha família semana que vem”, virou para moça que era funcionária dele, e falou assim, “ela vai com você, sentada do seu lado no ônibus, o carro vai buscá-las”, porque eu não sabia nem como ela ia para o apartamento, para o alojamento com aquelas malas, nem a distância.. Ela ficou no apartamento dele, teve condição de carro para levar, buscar, passou o mês todo lá, quando chegou a fazer 15 dias que ela estava, era o penúltimo concurso. Ela me ligou e falou: - mãe, eu não sei se eu entendi direito, mas eu acho que eu fui selecionada. Eu não entendi, me explica isso !? E
ela começou contar, ela falou, eu só sei que o Hans Joaquim Tappendorff, que é o diretor da Alemanha, quer falar com vocês. Eu falei, Tamires como que nós vamos fazer? Ela, não sei o que eu falo para eles, porque ela falou, acho que ela estava tão emocionada, que ela não conseguiu entender, e ela não falava alemão, muito pouco o inglês, ela não conseguia entender. Ela foi se informar com a direção do evento, e eles disseram que realmente precisariam da assinatura dos pais. A gente se virou em mil, demos um jeito, eles ficaram sabendo que a gente ia, falou que a gente poderia, a gente ia fazer, tipo bate volta. Não que a gente poderia ficar no apartamento, então nós deixamos para ir mais para o final que foi a gala, ficamos no apartamento, e já trouxemos ela de volta.
Tivemos a reunião, que foi traumatizante, porque Tappendorff
ele foi maravilhoso, foi um pai para ela, ele com a Juny, e minha filha também faz isso com as pessoas que ela leva, porque fala que ela teve tudo isso, e eu fico muito feliz, ele realmente adotou ela, só que o primeiro encontro a gente se perdeu em Brasília, e nós atrasamos 15 minutos e os alemães são muito pontuais, já estávamos nervosos, levamos uma pessoa de lá que podia ser o intérprete pra gente. Nós chegamos já ansiosos, nervosos. Primeira coisa, nós levamos uma bronca que ele mostrou a hora, já travamos, nós fomos justificar que a gente havia se perdido em Brasília. Ele disse que então nós deveríamos ter saído mais cedo. Esse foi o primeiro encontro, se não conhecemos o caminho. Ela já não falava mais nada, só começamos a ouvir. Mas enfim, ele foi depois muito educado, é deles, eles são assim mesmo, por isso que lá tudo funciona, aprendemos muito já desde o primeiro encontro, e eles disseram que o que eu estava fazendo para minha filha nenhuma faculdade faria. A oportunidade que eu estava dando. Então que se eu conseguisse quebrar o cordão umbilical, eu estaria fazendo um bem enorme para ela porque não tem mãe, não tem pai, a gente não ia estar tendo esse contato a todo momento, e que ele viu nela um grande talento. E começou a conversar com a gente como iria funcionar, qual seria a nossa parte, qual seria a parte deles e qual seria a parte dela. Ela foi, ficou 03, 04 meses, foi um choque de realidade por isso que hoje a gente faz o intercâmbio. Primeiro a gente leva para pessoa ter essa parte, esse primeiro acesso ali,
01:37:07
P/1 - Ela foi para onde?
R - Para Alemanha, ela foi para Viena, primeiro para Áustria, que era onde Tappendorff morava, só que foi um choque de realidade. E ela não estava preparada, então hoje a gente toma muito cuidado quando a gente manda alguém. Ele explicou para gente que ela estaria voltando, que ela se preparasse para poder retornar. Ela voltou daquele choque, ela falou, eu vou fazer fisioterapia que é meu segundo plano. Falei, okay.
Não pode ficar sem fazer nada, vai ser isso que você quer, mas coração de mãe. Eu falei, meu Deus, será que ela vai ser feliz fazendo fisioterapia, porque a gente começa a sentir, mas eu não podia influenciar. Ela fez um ano e meio de fisioterapia e veio ao concurso de Brasília novamente. Ela chegou para mim e falou, mãe, eu quero ir para Brasília. Falei, mas você está fazendo fisioterapia? O que você quer fazer em Brasília? Eu preciso da minha vida. É nesse meio tempo que ela voltou, ela passou por transtornos de namorado, casou, descasou, ela chegou e falou, eu quero a minha vida de volta. Mas ela sempre teve seus problemas de adolescente, mas sempre foi uma pessoa e uma filha muito boa. Então, eu falei, bom, se você está ciente disso.Vamos trabalhar para isso. Ela foi, trancou a faculdade, voltou para Brasília, chegou lá, estava Tappendorff de novo. Antes do concurso, quando ele a viu lá, falou, chamou ela, e falou assim, eu vou ver como você está no palco, vou analisar porque tem que seguir as regras, mas eu vou te dizer algo e não se bate duas vezes na mesma porta. Então você decida. Ela não entendeu se isso era bom ou ruim. Porque se ele ia dar outra oportunidade ou não. E a gente ficou sabendo depois que ele nunca fez isso com ninguém, nunca deu segunda oportunidade, da mesma maneira que ele levava, ele mandava de volta e que seria o último ano dele em Brasília. Nunca mais ele voltou, e nunca mais ele levou ninguém. Quando acabou o concurso, ele com a esposa Juny que também é professora chamou ela, disse para ela, eu não vou te dar a terceira oportunidade, essa é a segunda, você vê o que você quer fazer, você tem ainda esse resto de ano para se preparar, que você só vai no outro, porque eu quero isso, isso e isso, aí ele exigiu tudo. Ela voltou, fomos correr atrás de curso de alemão, curso de inglês, ela foi focada. Tivemos anjos da guarda que deu curso de alemão de graça, outros que ajudavam com aquilo porque se não a gente não ia conseguir, essa professora de alemão, que a gente morava, morou, casou com alemão, morava na Alemanha, veio morar na cidade de Jaú e a gente conheceu sem saber quem era, foi quem abriu todas as portas porque senão a gente não ia conseguir, facilitou para gente conseguir no tempo hábil. Já vai fazer 12 anos que ela está lá. Então ela meio que está conseguindo graças a Deus, com a ajuda deles de lá, inclusive do Tappendorff a fazer a mesma coisa para outros bailarinos. Foi difícil, não foi fácil, ela no começo, para gente conseguir mantê-la porque ganha muita coisa, mas muita coisa, eles são muito assim, você tem que fazer por merecer. Então, você tem que se virar. E ganhar em reais já era pouco, ter que pagar em alemão, em euro, não em alemão era mais difícil ainda. Então ela chegou a panfletar evento na porta de evento à noite, dava aula quando ele conseguia também ajudava, abria as portas para ela. De pingado em pingado, ele conseguiu a bolsa da faculdade para ela lá, mas a gente tinha o custo da moradia porque se você ganha uma coisa ou outra, ela fez a faculdade de dança em Viena, e hoje ela está em Flensburg, e foi contratada por um teatro depois de 04 anos, porque eles exigem que se forme, que conheça a cultura da Alemanha. Então não é fácil. Você tem muito o que fazer por merecer. Lá como eles valorizam muito, tem muita gente boa. Então você é mais um, você tem que ralar dobrado além dos alemães. Mas o brasileiro como Tappendorff diz, eles falam, vocês tem a alma, a paixão, então quando está no palco faz toda a diferença, e toda exigência que as vezes eu brigava com ela, no bom sentido é porque eu gosto de trabalhar, quem faz clássico, jazz clássico, sapateado, danças urbanas, porque eu falo você vai descobrir onde você é melhor, mas conheça tudo e ela nunca gostou de sapateado. Então ela fazia assim meio de bico. E eu fingia que eu não via porque estava na sala com todo mundo, sou mãe, então a gente conversa em casa. Só passa. E ela sempre fala, mãe, eu consegui a minha vaga no teatro justamente por fazer um pouco de cada coisa porque foi um teatro, e no fim ela ganhou contrato de trabalho de sapateado pelo lado artístico, ela chegou a coreografar, tem outros convites lá, além de ser bailarina e esse teatro que ela foi contratada foi justamente porque você pega uma ópera de Viena, tem que ser todo mundo igual, magrinho, fininho, e a Tamires é baixinha tem todas as linhas clássicas, mas é baixinha e esse teatro abriu as portas porque era justamente o que eles precisavam. Então isso também já serviu de experiência para os outros aprenderem tudo, você não sabe o que você vai precisar se quer viver, sobreviver da arte. Hoje graças a Deus ela está conseguindo abrir esse caminho, ela está tentando abrir uma agência lá de intercâmbio para legalizar e a gente ter mais apoio para poder levar nossos bailarinos para lá. Mas eu ainda falo que é um sonho ainda distante, mas que o Brasil também tivesse esse olhar, valorizar, porque a gente prepara e manda embora para que eles possam ter uma vida melhor, porque se eles ficarem aqui eles não vão sobreviver da arte. Então são vários filhos que a gente tem que mandar embora, e você fica feliz porque o que eu pergunto para ela até hoje, você está feliz? Quando ela diz que sim é o meu consolo. A gente tem o preço da distância de se ver só uma vez ao ano. Mas nós acreditamos que vale a pena, que eu não sei o que nós estaríamos fazendo se não fosse isso.
01:44:32
P/1 - Hoje, quais são suas funções? O que você está fazendo?
R - Hoje eu continuo atuando na área da arte da dança, estou na secretaria de cultura, trabalho também com a parte fitness, mais voltada para a parte de condicionamento, porque acaba agregando toda a parte para o bailarino. Eu desenvolvi dois métodos próprios, são registrados de atividade física que é o TR, 48 horas, que é um trabalho de alta intensidade para condicionamento físico, e desenvolvi o RAM que é um trabalho oposto, que é de relaxamento, alongamento e automassagem. Então, eu aplico na área fitness e ele é adaptado para todas as idades e também aplico na dança. Para preparar os bailarinos. Enquanto secretária eu também trabalho com eventos, busco o máximo, e todas essas questões de manifestações e ações culturais porque é de extrema importância, vivencio isso, tenho a experiência com todos a nossa volta ali nos nossos projetos e também tenho, continuo com o serviço de aula da academia e estou casada, não sendo um do casamento, que na verdade eu conheci o Paulinho quando a Tamires não tinha 03 anos ainda, ela considera ele o pai porque foi ele que conviveu e que criou. É muito engraçado que eles têm uma relação afetiva muito boa, e são muito parecidos. Nas qualidades e nas não qualidades também, mas parecidíssimos, e eu continuo, não sei ficar parada, eu cada ano que eu digo eu vou diminuir um pouco as minhas atividades, acabo dobrando, mas tenho ainda sonhos, objetivos de alcançar ou deixar aí para que essa nova geração continue buscando e trabalhando também para que esse intercâmbio com o exterior continue. Eu gostaria também de trazer o que tem lá para o Brasil e não só mandar nossos brasileiros para lá, mas por uma questão de benefícios para eles próprios e tem toda uma vantagem, mas a luta é para que a gente consiga trazer um pouquinho daquilo para cá também. Então, eu continuo nessa empreitada com a minha filha e com todos os os professores, bailarinos que estão ainda trabalhando comigo na área, para que a gente fortaleça ainda mais esse vínculo. Temos alguns planos que estão em andamento, a pandemia acabou parando um pouquinho, mas eles continuam. Esperar também o momento certo, a vontade de Deus.
01:47:50
P/1 - Você está na secretaria de cultura de quando a quando o teu mandato?
R - Esse é o segundo. Primeiro ano do segundo mandato.
01:48:02
P/1 - Esse é 2017 ?
R - É, desde 2017.
01:48:06
P/1 - Até ?
R - 2020? Estamos em 2021?
Até 2024!
01:48:20
P/1 - Como é ser secretária da cultura em Barra Bonita?
R - Olha como eu disse no início, o processo cultural é bem complexo, porque não é em Barra Bonita, é no Brasil. É uma luta diária para provar o valor de tudo. E é muito louco, porque tudo que vai fazer você precisa do lado cultural. Mas é difícil enxergar dessa forma. Então, por mais que eu sempre digo, toda atração cultural, ela é uma atração turística, mas para você fazer o evento você precisa dessa cultura, que seja de música, que seja de dança, de teatro, de artesanato, eles estão presentes em tudo. Eu brigo muito por esse lado da valorização, a gente faz o máximo para que as ações possam acontecer, venho buscando parceiros também para que a gente consiga ter muita coisa, o sistema não permite, já não tem como dizer que é culpa de alguém, que ele funciona assim a gente tem que seguir que é a lei. A gente esbarra em muita burocracia que às vezes eu tenho vontade de fazer, e é muito diferente eu fazer algo pelo setor privado, e fazer pelo setor público, é pelo público, na verdade, a gente vai aprendendo dia a dia o que é possível, buscando desviar, buscando caminhos e não desistir.
01:50:24
P/1 - Quais são as coisas mais importantes para você hoje ?
R - Sempre foi, mas eu acho que a pandemia nos mostrou ainda mais os verdadeiros valores, que na verdade eles são intangíveis, eles são invisíveis e o ser humano tem que se voltar para isso, a gente vê que muita coisa mudou, mas que muita coisa ainda continua-se uma guerra por algo que realmente não vale a pena. Eu vejo, para mim a grande importância hoje que nós temos que nos preocupar de uma maneira geral, é um investimento pessoal, no emocional, espiritual, físico, para que a gente tenha saúde emocional e física também para poder melhorar tudo isso, para poder enfrentar tudo isso, e ter um olhar mais leve, porque a gente percebe que está todo mundo, todo mundo não, mas grande parte emocionalmente estão adoecidos. Todo mundo está abalado emocionalmente. Eu falo, que mais ainda nós temos que nos voltar para o interior, para o nosso eu e olhar para o próximo e se preocupar com esse investimento pessoal, porque se nós não estivermos equilibrados, tudo tende a piorar, tem coisas que cabe a nós, depende de nós, está em nossas mãos, mas tem coisa que não depende, vai depender das nossas ações, e tem consequências.
É muito importante para mim hoje esse investimento pessoal, físico, emocional, espiritual.
01:52:35
P/1 - Quais são os lugares que você gosta de ir na cidade?
R - Eu sou meio suspeita. Porque eu sou apaixonada por Barra Bonita. Às vezes quando eu brinco com a minha filha, falo, - bom, você não vai voltar mesmo? Então vou ser obrigada a ir, porque começa a criar raízes, e ela fala, “olha, eu ficaria muito feliz, mas eu ainda não vi você saindo de Barra Bonita”. Eu gosto muito da minha cidade, e eu torço muito para que as coisas aconteçam aqui. E eu sou muito da natureza. Eu gosto muito de movimento, de estar com as pessoas, mas eu não preciso de um lugar específico, às vezes é uma caminhada na nossa orla que eu acho linda, já me faz muito bem. Mas eu adoro os eventos, eu adoro estar com as pessoas.
01:53:41
P/1 - Tem alguma história que te marcou e que você não tenha contado? O que você gostaria de contar?
R - Eu acho que de uma forma geral, a minha vida foi feita de superações a todo momento, de grande provação, mas eu sou muito grata, eu sou muito feliz por tudo e eu acredito muito que nada acontece por acaso, que Deus não dá nem a mais, nem a menos o que a gente precisa, é exatamente o que a gente precisa naquele momento. Então eu sempre procurei
fazer disso o melhor, todo mundo tem altos e baixos, nos piores momentos que você fala não, não estou aguentando mais, a gente encontra forças para se reerguer ou com anjos visíveis, aqui ao nosso lado ou invisíveis, mas a mensagem chega. Teria até bastante histórias, não teria uma específica, porque se eu parar para analisar nada foi fácil, tudo foi com muita luta, nada me veio de mão beijada, e às vezes eu também não entendia porque em momentos a gente fala, porque eu insisto, eu posso simplesmente parar, mas eu também não conseguia parar. Eu acho que eu não teria uma história, toda a trajetória até esse momento, apesar de eu ter muitas pessoas ao meu redor, em muitos momentos pelo meu ideal eu me senti sozinha, porque eu era muito, ter que provar de N maneiras. Então eu me sentia sozinha tendo que provar até conseguir provar. Quando eu provava ok, as coisas aconteciam. Foram lutas. A história que eu contei da minha filha mesmo na rodoviária, é uma coisa que hoje a gente consegue rir, mas por exemplo vem o preconceito com a arte, e eu tinha isso dentro da minha própria casa, eu falava - como pode, eu vivo disso! Estão convivendo comigo. Eu sempre tive admiradores, os que acham que é brincadeira, os que a gente não tem trabalho que só se diverte, e aquele dia na rodoviária o meu atual marido que sempre foi um paizão para Tamires. Eu respeito cada um do seu jeito de ser e de pensar que somos diferentes. Mas eu lá toda preocupada com ela e ele virou para ela e falou assim, ele trabalhava na época, ele tinha uma fábrica e fazia sola de calçados e nós lá, eu preocupava com o que poderia acontecer antes de resolver a questão, que Deus mandou ali na hora. Ele falou assim: - não sei porquê tudo isso, porque você não vai dançar na esquina não precisa ir para Brasília! Ela virou e falou assim, “porque que você não faz essa sua sola lá na esquina? Aí eu falei - parem vocês dois, porque se é uma coisa que eu pago...não gosto que fale alto, não gosto de violência, fale o que quiser, mas saiba falar, eu já estava muito tensa e hoje a gente ri. Porque na primeira oportunidade a Tamires me levou para Alemanha, que eu não tinha como pagar a passagem, e na segunda oportunidade ela pagou uma passagem para ele. Então a gente conseguiu pagar uma, e ela pagou a passagem dele, e assistindo ela no palco lá da Alemanha ele chorou e disse, “ainda bem que você não ouviu o pai”. São detalhes que também me faz pensar, eu sei o que certos alunos passam dentro de casa. Estava ali, acompanho toda luta, essa questão do preconceito com a arte, tem pessoas que fazem piadas sem graça. Que respiram, deixam digerir, que nem sempre vale a pena responder. Eu só respondo no meu pensamento, e isso é muito triste, porque a gente vê a diferença que se fez, e que se faz na vida das pessoas. Eu tive uma outra aluna, não pedi a permissão, uma história também interessante, não posso citar o nome sem autorização dela, mas foi uma aluna bolsista que a mãe chegou segurando na mão quando era pequenininha, disse que não poderia pagar a mensalidade, a menina é até hoje um talento, eu falei, tem 15 na sala se tiver 16 não vai fazer diferença, fez aula lá até se formar quando terminou. A gente ouve aquilo. Dançou até agora, já brincou, agora você vai escolher, você vai estudar que você vai fazer uma faculdade. A menina foi embora, voltou 01 ano depois que ela foi fazer fora, assim totalmente desestruturada, e eu estava na sala ensaiando um pessoal que teríamos uma apresentação. Quando ela viu todo mundo ensaiando ela despencou na janela e começou a chorar. Acabou o ensaio eu fui até ela, eu falei, o que que está acontecendo? Você não está feliz ou está com algum problema? Ela falou a falta que ela sentia de dançar, que ela não era mais ela, tinha engordado, percebia que ela estava emocionalmente, fisicamente desestruturada. Falei, mas onde você está fazendo faculdade não tem como você achar algum lugar que você possa fazer aula, de repente você pode fazer os dois? Você pode dar aula, você pode dançar, vai agregando ao seu tempo livre se isso te preenche. Assim ela fez. Bom, ela se tornou professora, eu acabei sendo coordenadora de uma escola lá através dela, porque perguntaram quem era a professora dela. Ela acabou a faculdade, se formou, chegou para mim, e falou assim, eu já fiz o que meus pais queriam, agora eles vão lá buscar o certificado porque eu estou indo embora fazer o que eu amo. Não voltou nem para pegar o certificado na faculdade, e fez o maior sucesso, faz ainda, é um talento e tem um grande trabalho. Quando eu me deparo com essas coisas, que às vezes a gente consegue enxergar que está lá na alma da pessoa e você vê que ela tem que passar por aquilo, eu sei o quanto dói e a gente às vezes fica de mão, as vezes não, na maioria das vezes, porque com a minha filha eu pude interferir, com uma outra família eu não posso interferir, a gente vai até onde pode. Mesmo com a minha filha eu interferi sem influenciar, porque ajudei quando ela decidiu, porque a gente tem que tomar esse cuidado e não influenciar, deixar que eles decidam por eles mesmos. É muito difícil essa questão de preconceito. Infelizmente no Brasil é um processo cultural que eu acho que não é um sonho, mas ainda está longe de acontecer, porque o próprio governo não valoriza o artista de uma forma geral, não dá estrutura para que ele se forme. Tudo que ele aprende é na raça, a gente tem que estar sempre pedindo apoio, patrocínio, que para muitas pessoas parece que a gente está pedindo favor. E eu acho que isso devia ser a oportunidade, tinha que ser dada a todos. Eu falo que a saúde, a cultura e a educação teriam que ser oportunidade de todos, mas infelizmente não é. E lá fora na Europa o que eu pude ver, os alunos que se destacam na escola ganham bolsa na arte ou no esporte. Ou eu vou para uma escola de música, ou de dança, eu vou jogar futebol, e então eles tem esse estímulo.
Isso para mim é muito triste, saber que aqui é o contrário, a gente tem que fazer de tudo para que eles não desestimulem, e mesmo assim quando eles vão para algum evento grandioso seja no esporte, na dança, ou na música, são talentos natos do Brasil é um celeiro de talentos, e eles acabam ganhando na raça. Você vai ver o histórico de vida, muitas vezes mal se alimenta, mora em lugares que não favorece, passam suas necessidades, e a gente não consegue mudar isso. Eu me acalmo e falo, bom, deixa eu fazer aquilo que está ao meu redor, se eu conseguir fazer para uma pessoa, e essa pessoa conseguir fazer para outra, nós já estamos fazendo alguma coisa, melhor do que fechar os olhos e não fazer nada, mas muitas vezes essa caminhada é sozinha. Então, eu falo que o socorro vem, mas poucos olham, é meio complicado essa questão, mas é algo que eu gosto muito, que fez toda a diferença na minha vida, que fez a diferença na vida da minha filha, que fez ela ser quem ela é. Eu acredito que existem muitos talentos por aí que precisam, enquanto a gente puder pegar na mão, orientar e tiver autorização da família, e ter pessoas boas ao nosso lado porque sozinha a gente também não consegue, como eu tenho aqui no Brasil, e como ela encontrou lá na Alemanha. A gente consegue fazer um pouquinho a história caminhar.
02:03:57
P/1 - Como foi contar a sua história aqui hoje?
R - Foi bem forte, porque eu acho que eu sempre procurei fazer dos problemas assim degraus pra a gente crescer, eu nunca fiquei focada no problema, eu foco na solução. Problema já está lá, já derrubou, já judiou, agora o que nós vamos fazer com ele! Eu penso em uma solução, e meio que eu não sei se eu anulo, ou eu deleto, sou meio seletiva, eu tiro mesmo da minha memória. Hoje foi muito forte porque eu tive que reviver certos sentimentos que às vezes a gente bloqueia. É melhor bloquear e olhar o lado bonito, o lado positivo. A gente percebe que pode bloquear, mas que ele está aí. Foram muitas imagens que vieram, e até alguns acontecimentos também muito forte que fizeram parte do que eu falei. Foi muito bom, com certeza, falar da gente mesmo é muito difícil, se eu fosse contar a história de todos os bailarinos eu passaria besteira aqui, tenho muitas, mas falar da gente mesmo é muito difícil, mas foi muito bom reviver certas coisas, realmente no dia a dia, a gente não para fazer isso.
02:05:44
P/1 - Tá bom Cidinha, queria te agradecer muito, pelo tempo aqui, toda sua história, você contar para gente um exemplo de história de vida.
R - Eu que agradeço.
02:06:06
P/1 - Muito obrigada.
R - Eu agradeço a oportunidade, foi um prazer, agradeço a (...) imensamente porque foi uma surpresa e eu acho que isso é uma demonstração de carinho. Muito obrigada. E obrigada a vocês que é um projeto maravilhoso, eu sempre quis fazer isso aqui também na cidade, porque eu falo que a Barra tem tantas histórias para contar, e as pessoas estão lá escondidinhas, no seu cantinho que fizeram muito, uns já se foram, outros continuam, mas é muito importante porque a nova geração está ficando sem referência, tem muita gente boa, eu falo - vamos aproveitar enquanto elas estão aqui. Então, achei um projeto maravilhoso.
Parabéns!Recolher