Projeto Vale Memória
Depoimento de Olinta Cardoso Costa
Entrevistada por Karen Worcman e Rosana Miziara
Rio de Janeiro 17 de Novembro 2003
Realização Museu da Pessoa
Entrevista CVRD_HV146
Transcrita por Ruth Siqueira
Revisada por Bruna Ghirardello
P1 – Então, Olinta, eu ia começar pedind...Continuar leitura
Projeto Vale Memória
Depoimento de Olinta Cardoso Costa
Entrevistada por Karen Worcman e Rosana Miziara
Rio de Janeiro 17 de Novembro 2003
Realização Museu da Pessoa
Entrevista CVRD_HV146
Transcrita por Ruth Siqueira
Revisada por Bruna Ghirardello
P1 – Então, Olinta, eu ia começar pedindo para você falar seu nome, local e data de nascimento, tudo de novo.
R – A data inteira? (risos) Bom, Olinta Cardoso Costa, nasci em 18 de fevereiro de 1985, em Nepomuceno, sul de Minas.
P1 – E o nome e a atividade de seus pais?
R – O meu pai, ele... meu pai e minha mãe, eles também são de Nepomuceno. Meu pai foi a vida inteira fazendeiro e tinha alguns outros negócios na cidade, mas trabalhava com café, corretagem de café. Teve serraria e a fazenda que foi o que nos sustentou a vida inteira. Minha mãe nunca trabalhou, sempre foi do lar. Eu morei sempre numa casa grande, casa tipo casas antigas. Muito grande. Vim de uma família grande. Tanto a família do meu pai quanto a da minha mãe são grandes e eu tenho muitos irmãos.
P1 – Quantos?
R – Tenho seis irmãos. Duas irmãs e quatro irmãos, mas a minha mãe ainda criou dois irmãos dela, mais novos. Os pais dela morreram e ela criou. E a diferença desses
caçulas, irmãos dela, com o primeiro filho é pequena; criou mais uns três sobrinhos, nessa casa todo mundo junto e também depois adotou uma outra criança. Então, sempre com família muito grande, muito movimento dentro de casa e tudo o mais. Na casa dos meus avós sempre foi assim, ele era um político, na casa dele sempre tinha as portas abertas. Político naquela maneira tradicional, antiga. Então ele sempre exigia que comida na casa dele sempre fosse feita para muito mais pessoas do que tinha em casa porque todas as pessoas que passavam ou que chegavam na casa dele, sempre tinham almoço ou jantar.
P1 – Esse é seu avô materno?
R – Paterno.
P1 – Paterno. Qual é a origem? Eles foram sempre de Minas?
R – Sempre.
P1 – De origem portuguesa?
R – Bom, a descendência do meu avô paterno é português. Tanto do meu avô, quanto da minha avó. Dos meus avós maternos, ela era descendente de africano e meu avô de franceses. Aliás, do lado do meu pai eram descendentes de portugueses e de índio porque o meu bisavô, ele “laçou” uma índia e levou e que foi a mulher dele, que vieram os filhos e tudo o mais.
P1 – Mas também já estavam aqui há um tempão, todos?
R – Já. Esse meu avô foi a segunda geração no Brasil.
P1 – Esse avô político, seu, ele era paterno?
R – Era paterno.
P1 – E essa fazenda era dele?
R – Não, era do meu pai. Meu pai, ele herdou da minha mãe. O meu avô, o pai dele, ele também mexia com café, mas ele era corretor de café e ele era político. Foi prefeito, vice-prefeito, vereador, ele resolvia todas as questões da cidade e recebeu muita coisa do Getúlio Vargas, por exemplo. A Pampulha, ele recebeu vários lotes naquela região que ele perdeu porque não tomou posse. Ele tomou posse na época e depois abandonou porque era muito distante. Na época era muito difícil de sair de Nepomuceno e ir até Belo Horizonte.
P1 –
É quanto tempo de Nepomuceno?
R – São 250 quilômetros, mas naquela época que não tinha asfalto e tal era mais complicado chegar. O meu avô, pai da minha mãe, ele tinha torrefação de café, toda a minha vida está ligada ao café porque hoje eu produzo café também. Então ele tinha torrefação de café, ele tinha máquina de descascar arroz e ele comprava toda a produção da região. Fazia a torrefação do café, fazia a limpeza do arroz e revendia para aquela região ali do sul de Minas. Distribuía para o sul de Minas.
P1 – Então ele é que tinha também a fazenda?
R – Ele que tinha uma grande terra, que era uma fazenda dentro da cidade que tinha todos os tipos de frutas que você imaginar, desde maçã a laranja, manga, uva tudo no quintal, no quintal da gente.
P1 – E nessa casa morava, então, toda essa família?
R – Não. Meu avô morreu logo que minha mãe casou e ela continuou morando na casa. Ela já não tinha mãe e os irmãos dela já tinham todos casados; ficaram só esses dois caçulas que ela tomou conta. Nessa casa eu fiquei até mais ou menos meus oito anos. Aí, quando foi feita a partilha dos bens do meu avô, nós mudamos porque a casa ficou com os dois caçulas e aí meu pai já tinha casa e foi para que eles pudessem alugar e também ter uma renda no interior, mas essa casa, por ser uma grande chácara no centro da cidade, era a segunda rua da cidade, todas as pessoas vinham brincar na nossa casa. Nossos amigos todos, centralizavam tudo lá e então, era assim, minha mãe além de cuidar desse monte de filhos, ela ainda cuidava de muitos outros porque lá era ponto da gente, tanto dos meus irmãos mais velhos e o meu ponto também. E um grande legal, assim, é que a minha casa nunca foi fechada, porta sempre aberta dia e noite, e nunca a gente chegava em casa de noite que não tivesse meu pai e minha mãe porque meu pai trabalhava praticamente em casa e quando ia para a roça, ele ia cedo e voltava de tarde, mas, muitas vezes, a gente ia junto e época de férias que coincide com a colheita de café, a gente ia para a roça, também. Então o convívio dentro de casa sempre foi muito, muito intenso grande. Até a gente, normalmente, fazer 17 anos, que todos os filhos, eu sou a sexta, a gente com 16, 17 anos ia para Belo Horizonte porque na minha cidade só tinha o segundo grau e curso só de magistério. Então, a gente ia para fazer o terceiro ano em Belo Horizonte integrado com cursinho para fazer vestibular e tal.
P1 – Mas era assim na sua casa, comum, as mulheres iam fazer vestibular?Não tinha assim uma coisa de mulheres, mulheres fazem magistério?
R – Não sou antiga, não! Né?
P1 – Eu! Mas...
R – Não. Meu pai sempre achou que... ele sempre brincava com a gente, que a gente tinha que ter uma profissão. Eu tenho uma tia, tinha uma tia que também era política, vereadora em Nepomuceno, foi 16 anos vereadora e naquele tempo que mulher não tinha esse tipo de profissão e ela era casada, tinha três filhos, resolvia também os problemas de todo mundo da cidade, de doença, de casamento, de imposto de renda, de empréstimos e tal, resolver as questões junto ao governo e tal, ela resolvia isso para todo mundo, mas era casada e tinha filhos. E uma excelente dona de casa, assim. É tradicional em Nepomuceno, a comida que a minha família faz, muito saborosa, muito gostosa. E todas as mulheres cozinhavam muito bem. Meu pai, inclusive, cozinhava muito bem. E essas minhas tias falavam assim: "Poxa, mas as suas filhas não sabem fazer nada". E a gente realmente não sabia e ele falava assim: "Não, mas eu não quero que elas saibam, porque se elas aprenderem a fazer isso, elas podem não ter outro tipo de opção!" Então, eu fiz Comunicação. Minha irmã, a mais velha, que é a terceira filha fez Direito, a outra fez Medicina e eu fiz Comunicação. Então, não tinha hipótese da gente não ter um curso superior e mais do que isso uma profissão que realmente a gente gostasse porque se a gente não gostasse, sabia que não seria bem sucedido.
P1 – E por que você acabou decidindo fazer Comunicação?
R – Não tinha nada a ver. Até porque em Comunicação não tem nada em Nepomuceno. Nem empresa, não tem até hoje. Imagina quando eu morava lá? Eu saí de lá há quase 20 anos. Não tinha empresa, o jornal da cidade era um semanário. Não tinha nada. Mas até foi por acaso que eu fui fazer Comunicação. Primeiro eu fui fazer Fisioterapia, como eu não passei e eu tinha uma amiga também do sul de Minas, ela falou assim: "Olha, eu vou fazer vestibular para Comunicação. Vamos?" Eu falei assim: “Então vamos”. E eu fui e passei. “Ah, então, esse semestre eu vou fazer Comunicação junto com o cursinho para tentar”. E fui fazer e gostei. Gostei e passou a ser uma opção.
P2 – Em Belo Horizonte. E você morava com quem lá?
R – Quando eu cheguei, moravam dois irmãos num apartamento que meu pai mantinha lá durante anos e eu morava com eles. Eu e dois irmãos. Eu era extremamente dependente porque eu detestava dormir sozinha, então minha mãe ficava comigo no quarto até eu dormir. Eu podia sair, mas quando eu chegava, ela me esperava para poder esperar eu dormir. Eu fui para Belo Horizonte e meus irmãos saiam na sexta e voltavam segunda e nem me diziam para onde eles tinham ido. Então eu tive que aprender a ficar sozinha, em casa, sem medo e foi assim sem traumas. Rapidinho eu me acostumei.
P1 – Você não ficou com vontade voltar para...?
R – Nunca passou pela minha cabeça voltar para Nepomuceno porque, por alguma dificuldade, porque eu até acho que não tive dificuldade nenhuma em Belo Horizonte. Eu já tinha família lá, eu cresci sabendo que iria para Belo Horizonte. Minha referência era Belo Horizonte, não era Rio, São Paulo, então não teve nenhum impacto assim: "Ah! Vou voltar, não vou estudar porque eu não quero ficar aqui sozinha”. Nunca passou pela minha cabeça que isso pudesse acontecer. Só que, dois anos depois, meu irmão mais velho casou, o outro voltou para Nepomuceno, eu fiquei sozinha e fui morar com minha irmã, casada, e fiquei com ela seis meses até achar outro apartamento que, meu irmão caçula foi para Belo Horizonte e morávamos eu, ele, uma prima e o irmão. Dois primos. Então a gente morava, tipo uma república e... Muito legal, foi um bom tempo, lá. E aí depois...".
P1 – O que mudou Olinta, basicamente?
R – Eu mudei para Mariana.
P1 – O que mudou de Belo Horizonte para sua casa, você já conhecia muito, uma cidade maior, alguma coisa mudou, assim, na sua vida, você caiu na vida, foi para bar?
R – Não, porque o fato de ir para Belo Horizonte, de morar sozinha e tal, não foi assim uma liberdade conquistada porque eu sempre tive muita liberdade. Então, eu nunca encarei assim: "Nossa eu vou para Belo Horizonte, vou cair na vida." Não porque, cair na vida, numa casa onde você tem tanta gente, tem tantas oportunidades e num lugar pequeno, mas que a gente... muitos primos e tal, a gente sempre teve muita liberdade. Então, ir para Belo Horizonte não foi um acontecimento: "Ah, agora é a minha liberdade." Não, foi uma coisa tão normal que eu fiquei muito mais certinha em Belo Horizonte do que eu era em Nepomuceno. Tinha muito mais compromisso, assim, com a escola. Em Nepomuceno eu matava aula, adorava fazer isso. Eu fui para Belo Horizonte, nunca mais eu fiz isso porque era eu cuidando de mim. Então foi muito natural, assim.
P2 – Aí você foi fazendo o curso e foi gostando dele?
R – Aí eu fui fazendo Comunicação...
P2 – O que foi que fez você ir gostando do curso?
R – Acho que a facilidade de relacionamento, de criar redes e tal. Eu fiz o curso e durante esse tempo, quatro anos de faculdade eu fui a todos os congressos. Como que ia? Eu organizava a turma da escola para que a gente fosse. Então fui congresso em Gramados, de Relações Públicas, Intercom que é de estudantes, ia para todo lado. Isso agitava muito e então, o pessoal da faculdade sempre acreditou muito e me fazia acreditar que eu seria uma boa profissional. Então foi um curso bem feito, assim, com muito estímulo do próprio pessoal da faculdade onde eu estava. Aí formei. E estava trabalhando no Bradesco, antes de formar. Fui para um congresso em Santa Catarina e na volta eu falei assim: "Eu vou pedir demissão amanhã. Segunda-feira, quando eu chegar lá vou pedir demissão." Eu ia me formar em dezembro, isso foi em outubro. Eu vou pedir demissão para quando eu formar eu já estar disponível no mercado porque se eu não começar a trabalhar com Comunicação, eu vou perder essa referência. Quero trabalhar com Comunicação. Aí pedi. Me formei. Fiquei nove meses depois de formada, até novembro do ano seguinte sem trabalhar. E assim, só ia trabalhar se fosse em Comunicação, isso estava muito claro para mim. Se eu não conseguisse nada, vou voltar para Nepomuceno, mas eu não vou fazer outra coisa. E aí quando eu estava assim: "Bom, agora acho que não tem jeito mais." Aí eu...
P1 – Você acha que ia voltar para...(risos)
R – É, agora não vai ter jeito. Aí, uma das diretoras da escola, encontrei com ela num evento, evento de Comunicação, disse: "Olha, não vou esperar mais. Não consigo emprego na área de Comunicação e tal." Era uma deputada, Maria Elvira, ela falou assim: "Então você me procura e você vai trabalhar comigo." "Mas eu não vou fazer comunicação." "Vai você vai fazer comunicação para mim, para o meu... para mim mesmo e tal. Como deputada, eu tenho outros objetivos e você vai me ajudar nisso." "Então está bom." Quando eu fui conversar com ela, ela foi me explicar o que era e tal. Nisso tinha a Mesbla, você lembra? E abriu um processo de trainee para a Mesbla e eu peguei e falei assim: “Ah, eu vou entrar”. E fui lá conversar e eles falaram assim: "Você pode ir para Comunicação depois em outro estado e tal." Aí passei. Aí voltei na Maria Elvira e falei assim: "Não, eu acho que eu vou tentar trabalhar na Mesbla, que eles falaram que eu posso ir para comunicação e tal." Aí a Samarco, (risos) empresa de mineração, no dia em que eu entreguei meus documentos na Mesbla, a Samarco me chamou.
P1 – Você tinha deixado lá também?
R – Não. Para entrar no processo, para se iniciar. Eu fui lá na Mesbla e disse: “Eu não quero mais não”. Aí entrei na Samarco. Eram 12 pessoas lá, eles estavam pedindo mínimo de três anos de formado. Eu tinha um ano, não tinha ainda um ano completo ainda de formada. “Ah, vou entrar e tal”. Aí, o pessoal da ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas) me deu uma declaração de que, mesmo sem ser formada, eu já estava trabalhando na área e tal e coisa. E eu levei e ficaram três pessoas no processo final. Eu, um colega que era radialista e tal e mais uma outra menina que tinha experiência da Andrade Gutierrez, que na época tinha um importante case de comunicação. Falei bom: “Tô fora né?” Recolhi meus documentos e estou fora. Aí chamaram o Eugênio, tinha anos de experiência e tal. Aí, o Eugênio levou a esposa dele na vila da Samarco, ela pegou e disse assim: "Acha que eu moro aqui? Mas nem..." Ela era arquiteta. "Não vou morar aqui." (risos) Aí ele me ligou e disse: "Olinta, eu não vou ficar porque a minha esposa não quer e tal”. Então, vamos ver, agora eles devem chamar a outra menina, chamava Nina, por causa da experiência. E aí me chamaram. Me chamaram, eu fui para lá, fiquei um tempão, aprendi a trabalhar lá.
P1 – Você entrou direto para a área de comunicação?
R – Eu fui, entrei direto para a área de Comunicação, para estruturar uma área que não tinha. Tinha tido uma pessoa de comunicação, que é a Lara que vocês conheceram, um ano antes. Ela ficou um ano e ela foi para Ubu e aí, eu pude fazer tudo e pude errar, acertar, experimentar. Então, foi uma excelente escola porque tinha um padrão muito legal, um modelo de gestão muito interessante e que eu pude construir porque eu entrei, logo em seguida mudou o presidente. Entrou o Penido, foi assim, no mês seguinte que eu tinha entrado. Então ele entrou com uma oportunidade de usar a comunicação como ferramenta de gestão para ele. E aí respondendo a esse tipo de demanda, eu tive uma excelente escola para poder...
P1 – Mas lá você tinha com quem aprender ou você foi aprendendo na...
R – Eu aprendi, não com profissionais de comunicação, mas com gestores efetivos de processos operacionais, que são as pessoas que realmente usam a comunicação e que tem que fazer comunicação. Então foi uma escola muito legal porque eu passei a olhar para os processos de comunicação não com o olhar como uma produtora de jornal, como uma produtora de recursos de comunicação, mas como alguém que sentava junto com quem precisa, quem tem demanda e estruturava com eles processos que respondiam à demanda específica que eles tinham. Então, para a época era um trato diferente de comunicação, né? E na empresa também não tinha esse histórico de você fazer assim, eu pude exercitar um novo jeito de fazer. Aí, entrei como auxiliar de comunicação. Só que era auxiliar de quem?
P2 – De você própria.
R – Aí, eu deixei passar 40 dias, fui no gerente de... na época chama-se chefe do
Departamento de Recursos Humanos, falei com ele assim: "Olha, você tem auxiliar de cozinha, auxiliar de enfermagem e auxiliar de limpeza e auxiliar de comunicação. É justo? Eu tenho uma faculdade, fiquei um tempão e tal me preparando. Não é justo. Precisa mudar esse nome, não precisa mudar salário, mas o nome do cargo não é justo." No mês seguinte o nome do meu cargo passou para Assistente de Comunicação. (risos) Aí um tempinho depois a gente foi construindo em equipe em Belo Horizonte, que hoje trabalha comigo como gerente da Vale, foi minha primeira chefe e aí ela tinha uma assistente lá e tinha eu e Lara. Uma em cada unidade industrial. O processo foi crescendo, né? Aí eu me tornei coordenadora, depois gerente, depois gerente corporativo. Então, assim, praticamente de dois em dois anos eu tinha um crescimento lá dentro, né? Acho que era até uma cenourinha que eles colocavam, assim, para eu ficar.
P1 – Quanto tempo você ficou ao todo?
R – Dez anos.
P2 – Quer dizer, praticamente você ingressou na carreira lá.
R – Eu fiz a minha carreira lá. E nesse tempo a gente conseguiu muita coisa. Muita coisa. Primeiro a empresa ficou durante todo esse tempo como benchmarking pelo ambiente interno, pela Rai. Saiu esse ano do primeiro lugar. Foram vários reconhecimentos. Ainda em Mariana eu recebi a medalha de Minas. Em Mariana. Vários reconhecimentos, assim, da comunidade local e dos meios de comunicação, assim, também. Vários prêmios da Aberje. Quando eu saí de lá, foi... saí num momento muito legal porque nós tínhamos conseguido o prêmio Opinião Pública, o prêmio ABC nos Estados Unidos e aí eu ganhei o, como é que fala? Profissional do Ano da Aberje , em Minas. E aí em seguida eu saí. Saí de Minas.
P1 – E o que você acha que foi o seu maior aprendizado assim, da Samarco. O que, que é assim, você hoje é uma profissional que já saiu de lá?
R – O maior aprendizado foi lidar com gestão. Eu não faço comunicação desassociada do processo de gestão e esse aprendizado que eu trouxe para a Vale, porque nesse um ano que a gente está aqui, a gente tem um modelo de gestão, de comunicação, que toda a referência é o que foi feito na Samarco, né? É um planejamento estratégico, que hoje a Vale quer e pediu, a gente já tinha pronto. E eu acho que a Vale me trouxe para cá não foi nem por causa disso, foi por causa de relacionamento com a comunidade. Porque a Samarco não tinha dinheiro nenhum, a gente tinha uma verba irrisória, irrisória mesmo e você pega os resultados de pesquisa de imagem da Samarco nas unidades que ela atua, a imagem era bárbara. Então, acho que foi isso que fez a Vale me convidar para cá.
P2 – Como é que era esse relacionamento com a comunidade, quer dizer na...?
R – Próximo. Qual era o referencial que tinha e que foi feito na Samarco? Não era por causa da comunicação que eu respondia por ela. Não era. Era pelo estilo da empresa lidar com os processos. Todos. Era o estilo da empresa lidar com o empregado. E aí o que é que a gente fazia? A gente evidenciava isso, criava significados para isso dentro da comunicação e isso é um valor muito grande. Você fazer as pessoas lembrarem o que a empresa está fazendo no decorrer do tempo, né? E com a comunidade idem. As pessoas me identificavam pelo nome, não tinham vergonha de falar não e nem de falar sim. E não identificavam só a mim, identificavam também o gestor local pelo nome, pelo acesso, pela receptividade que tinham e que têm até hoje essas pessoas, pelo estilo do presidente de ser próximo das pessoas, de reconhecer. Você consegue as coisas através das pessoas. Esse foi o maior aprendizado que eu tirei da Samarco porque foi lá que eu fiz essa minha carreira, mas tem muitas outras empresas que eu admiro, que têm esse jeito de gerenciar.
P1 – Quer dizer, aí você veio e trouxe um pouco dessa idéia de comunicação junto com gestão? Que se traduz em quê, Olinta? Que quer dizer comunicação e gestão integradas?
R – A diferença é tratar a comunicação como um processo integrado. È tratar a comunicação como oportunidade de oferecer soluções em comunicação e não oferecer produto, que era o que é mais comum. "Ah, eu quero um convite, porque nós estamos fazendo um evento e quero que você produza um convite para mim." "Quero que você faça camisetas, quero que crie uma marca." Não é isso. É entender o que está por trás disso, retratar isso através dos produtos de comunicação que a gente produz, mas mais do que isso é entender
para onde a Vale quer ir, o que a Vale quer fazer, quais são os valores que tem aqui dentro que a gente precisa o tempo todo estar relembrando as pessoas. O que a gente precisa carimbar o tempo inteiro para que as pessoas reconheçam que isso é importante para a Vale? Como a gente vai re-alinhar as pessoas para elas saberem que, para essa empresa valer 25 milhões, 32 milhões ela não está fazendo isso só para ganhar dinheiro, ela está fazendo isso para não ser engolida pelas outras empresas porque senão acaba a Vale, né? Então foi esse tipo de tratamento e que foi muito legal porque eu cheguei no mesmo dia que a Márcia. Nós fomos contratadas no mesmo dia, sem conhecer.
P2 – Quem te convidou para vir para cá?
R – A Carla, mas quem me indicou foi o, eu fiquei sabendo depois, foi o Rogêzinho, o Rogê do RH que eu não conheci.
P2 – Não conhecia de Minas? Ele é de lá.
R – Não conhecia ninguém. Não conhecia absolutamente ninguém na Vale a não ser Paulo Henrique, de encontros da Aberje. Não conhecia mais ninguém na Vale. Conhecia o pessoal de Mariana, da Vale lá e tal. Mas aí, a Cristina Rosas que trabalhava com a Carla me ligou falando que a Carla queria uma reunião comigo aqui no Rio. Eu estava na hora com o presidente da Samarco porque ela me ligou no celular, eu estava no carro, junto com ele, indo para um evento. Eu disse: “Carla? Conheço a Carla só de nome. Não conheço a Carla! O que será que ela quer?” (risos) Aí falei para o Penido: “Olha, a Carla está marcando uma reunião comigo no Rio”. Ele falou assim: "Ela está querendo te levar para lá." Eu falei: “Não, deve ser o resultado da pesquisa que estava fazendo, LMS e vai apresentar, está querendo apresentar. Realmente eu achei que fosse. Está querendo apresentar para as empresas do grupo Vale e vêm aí, com certeza, diretrizes para a gente seguir. Ele disse: "É, pode ser." Aí eu vim e conversei, ela perguntou como é que eu trabalhava na Samarco, o que eu fazia lá, se eu estava feliz. E eu disse assim: “Isso aí não é coisa para pesquisa”. Aí voltei. Eu vim aqui na quarta, na quarta o Penido foi para o México. Aí na sexta, ela me ligou confirmando: "Olha, é um convite, queria que você voltasse aqui." Voltei no Rio e ela pegou disse: "Olha, abriu o organograma. Tem uma vaga aqui, essa aqui. Pensamos em você. Resposta." Falei: “Não posso dar, agora não. Enquanto o Penido não voltar. E até não quero que fale com ninguém. Poxa! Trabalho há dez anos com ele, né? Como é que eu vou, simplesmente o homem está lá fora, falar tchau para ele? Enquanto ele não voltar eu não posso dar resposta.” Mas eu já tinha dado o meu sim, para mim. (risos) Estava muito claro! Na Samarco, eu não tinha mais oportunidade de crescer em comunicação, mas a empresa já tinha me sinalizado com outras possibilidades. Para ir para RH, como Gerente Geral de Recursos Humanos e uma vez o Penido falou comigo que pensava em me colocar como Gerente do Porto. Não tem nada há ver com comunicação, nem nada há ver com nada.
P2 – Era uma maneira de você expandir, lá.
R – Mas era uma maneira que ele via de eu continuar crescendo. Né? Aí ele... Bom, aí ficaram me pressionando: "Resposta, resposta." Falei: Não dou, não dou.” Aí um dia ela ligou e falou: "Olha, você tem que dar uma resposta, porque eu não posso mais esperar." Aí eu chamei os dois diretores, um agora é o atual presidente porque o Penido saiu, os dois diretores que estavam lá, comercial e industrial. Sentei com eles e disse: “Olha, a Vale me chamou.” "Você já decidiu?" Eu falei: “Não.” "Então você vai ter que ligar para o Penido porque nós não vamos poder segurar isso e coisa e tal." Nisso, o Penido tinha emendado a viagem dele de trabalho, a férias com a esposa. Eu falei: “Mas como é que eu vou ligar?” "Olha, se você não ligar, nós vamos ligar." Eu falei: “Ah, meu Deus!” Aí, liguei. Liguei e falei: “Olha, estou te ligando porque a Vale me convidou, está me pressionando por causa de tempo.” "Você já decidiu?" Eu falei: “Não.” "Então, me espera eu chegar." “Então, tá”. Aí eu esperei ele chegar. Ele chegou na semana seguinte e nós saímos para almoçar e ele disse: "Olha, se você não quiser aceitar, eu digo, eu assumo para a Vale." Aí, tinha uma relação de trabalho muito legal entre a gente e aí ele me falou uma coisa muito legal. Ele disse: "Olha, você nunca vai saber se fez a escolha certa, você pode ir para lá e se tornar uma grande executiva em comunicação e isso é muito legal. Pode ficar aqui e se tornar uma grande executiva, não em comunicação, mas para qualquer negócio, porque você indo para o porto você vai lidar com tudo e pode dar certo. Você pode se tornar uma grande executiva." “Pois é! Mas é muito mais confortável, eu estar no meu negócio do que reiniciar tudo de novo, num lugar como o porto, que eu vou ter que lidar com tudo. Então eu vou.” E vim, uma semana depois. Eu vim e foi muito legal porque, o estilo do Paulo que estava na época e o estilo da Márcia também, fizeram com que o grupo me recebesse muito bem. Eu fui muito bem recebida aqui na Vale. Eu não imaginava que eu fosse ser tão bem recebida porque, acredito que outras pessoas do grupo tivessem expectativas. E vem uma pessoa de fora? Mas receberam muito bem e o João é, assim, uma descoberta, uma pessoa maravilhosa. O Paulo Henrique, encantador. E a Márcia é, assim, dá toda condição de trabalho para a gente. Então eu pude fazer aqui, sem nenhuma dificuldade, tudo que eu imagino que a gente tem que fazer em comunicação. E o fato de lidar com todos esses jornais, isso é muito legal porque eu gosto de estar na área. Por que? Porque eu comecei na área. Então eu não consigo ver a comunicação, você fazendo aqui do centro corporativo, sem considerar a ponta lá, a necessidade real que tem ali, né? Então, eu estou podendo conciliar essas duas coisas.
P2 – Quer dizer, proporcionalmente a Vale e a Samarco...
R – Não tem nem comparação.
P2 – Qual foi o impacto assim, quando você chegou na Vale?
R – Primeiro, assim, de orçamento, né? Que eu olhava o orçamento da Vale, meu olho fazia assim, cifrões rodavam. (risos) Gente, mais tem dinheiro demais para fazer comunicação aqui, né?! E tem, assim, o orçamento aqui, eu ainda acho que... Pô! Eu que estou cuidando do orçamento esse ano, o pessoal ficou até preocupado.
P2- Vai cortar tudo.
R – Pode cortar que dá para cortar. Dá para fazer com menos. É essa a experiência que eu tenho. Então isso, a dimensão da Vale, as características, a complexidade é completamente diferente. Não tem o que comparar. Não tem absolutamente nada que dê para você
comparar uma coisa com a outra, mas tem uma forma de fazer, que eu acho que a gente ainda está em busca, nós ainda não achamos e eu acho que também, no geral, a Vale tem um jeito de administrar, jeito Vale de administrar, que não foi encontrado ainda, que é muito diferente e não pode ser justificado pela complexidade da Vale, sabe? E é isso que a gente ouve muito aqui na Vale: "Ah! a Vale é assim porque a Vale é grande." E não é. Não é por causa disso.
P1 – Mas você diz o quê? Você acha que a Vale tem uma crise de identidade, o que você diria que é?
R – Não, a Vale não tem uma crise de identidade. Ela não tem uma identidade. Por que? Porque ela está vivendo um processo de transição. Como é que pode uma empresa que há cinco anos, 1997, ela foi privatizada, 55 anos de história, está num processo de transição e tendo em cinco anos, três presidentes. O presidente é que dá a linha, que dá o norte, entendeu? Então, um começa, saí e outro entra e sai, cadê a identidade dessa empresa que já foi forte no passado? Ela não pode ser a mesma do passado e nem pode ser uma nova porque você não deu tempo de construir. Você não constrói uma identidade em cinco anos, ainda mais mudando pessoas chaves como a Vale mudou. Então está nesse processo e isso foi o grande desafio que eu vi na Vale para vir para cá. Não é?
P1 – Você não encarou como um problema?
R – Não, pelo contrário, isso é uma situação que não tem jeito de não viver. Você não sai de um estilo e passa para outro sem um processo de transição aqui no meio. Então, é supernatural isso. Supernatural. Então, agora o que eu acho que a gente precisa achar esse norte, esse jeito de fazer é porque nós não conhecemos, com fatos e dados, a cultura da Vale de passado. Você tem um feeling de como é que era essa cultura e você não tem os principais pontos ou os drives para essa cultura que a Vale precisa de futuro. Isso também não é feeling, você tem fatos e dados para identificar o tipo de cultura que a Vale precisa para sustentar uma empresa de 25, 32 milhões, que está entre a três maiores do mundo. Não posso identificar, não posso achar o que é bom para a Vale. Preciso de fatos e dados e isso aqui ainda você não percebe tanto valor para a Vale ainda. Trabalhar com o ferramental certo, sabe? Eu acho que a gente vai muito... A Vale ainda está um pouquinho distante da tecnologia de gestão que o mercado disponibiliza para todo mundo.
P1 – Quer dizer, você acha que aqui a comunicação não está literalmente integrada?
R – Não estou falando de comunicação. Estou falando, de tudo.
P1 – A própria Vale. Mas mesmo na comunicação, quer dizer, a gestão de processo não está integrada numa cultura? É isso?
R – Estou falando que a gestão da Vale, ela ainda não é integrada. Vale do Rio Doce. Esse é o jeito da Vale administrar porque tem um jeito no norte, tem um jeito no sul, entendeu? A gente está conseguindo no processo de comunicação, criar uma identidade para trabalhar a comunicação. Identidade de tratamento para a comunicação. Não identidade Vale. Eu preciso sim, de diretrizes para identidade Vale que não sou eu, não é a comunicação que cria. Isso é uma decisão política da Vale, né? Então a gente precisa desse instrumental que a gente ainda não tem, mas a forma de fazer comunicação, isso sim, está muito mais integrado que muitos outros processos que deveriam estar também. Mas não é só isso gestão, isso é uma parte da gestão. Mas o tratamento de... não é só também. Você fala assim: "Ah! Mas na Vale as pessoas têm os mesmos benefícios, o mesmo padrão salarial." Não é só isso gestão também. Os processos da Vale de... os sistemas da Vale de fazer gestão ambiental tem que ter um padrão. Mesmo que você diga: "Ah, o padrão ISO." Não todas as nossas unidades certificadas, né? Como é o padrão de resíduo da Vale. É comum a todas as unidades? Como é que eu trato a questão de comunidade na Vale como um todo? É comum? Não. Vai mais do perfil do gestor da Vale do que de fazer esse tipo de gestão.
P1 – E você acha que esse tipo de gestão é um processo que está em andamento ou está ainda rodando?
R – Não. Isso está em andamento. Tanto está que a comunicação mudou toda.
P2 – Ele está sendo puxado pela comunicação?
R – Não. Isso é um processo que está sendo puxado pela própria diretoria executiva porque essas áreas de apoio são as áreas que mais ajudam a evidenciar esse tipo de gestão. Você vê que a Vale reestruturou toda a comunicação ano passado. Reestruturou todo o Recursos Humanos, toda a área de suprimentos, toda a área de, quer dizer, as grandes áreas de apoio num processo de mudança foram reestruturadas. Aliás, eu vim em conseqüência disso, né? Eu lembro que o ano passado, eu vim para cá já tem um ano, vim o ano passado, né? O ano passado, no início do ano, o balanço que foi publicado da Vale, eu nem estava aqui, mas eu li no jornal, lá nas considerações estava escrito lá que a Vale iria ter um plano diretor de comunicação, uma política de comunicação definida. Eu falei: "Porra, que legal, hein!" Eu nem sonhava que viria para cá e aquilo já estava complicado, lá. Não tinha, nem a nova diretoria de comunicação, e aquilo já estava publicado como uma necessidade da Vale. Então isso é anterior. A Vale contratou a MNS, fez um estudo da imagem dela, identificou onde estão as fragilidades e reestruturou a comunicação que, no caso de trabalhar a imagem, é a área que mais pode apoiar para que desse condições de sustentar isso. Agora, não é de uma hora para outra. Não tem jeito de ser. É um processo demorado porque mudança cultural, vocês que trabalham com gente devem saber melhor do que eu, é um processo que as pessoas vão experimentando, testando, validando ou não e recomeça o tempo todo e essa empresa tem muitos anos rodados. Então, não vai ser de uma hora para outra que a gente vai fazer, assim, e mudar a cara dessa empresa. Nem o jeito de ela ser, nem o jeito de administrar. Mas eu acho que a gente está bem ancorada porque hoje a Vale sabe o que é crescer. Porque o norte está muito claro, né? Hoje a Vale sabe o que é crescer e está fazendo tudo para crescer, né? Tem muita clareza no crescimento da Vale e os resultados estão aí. Agora, a gente precisa muito desassociar o processo de crescimento da Vale que, entre aspas, parece muito fácil porque a Vale é uma empresa que tem a faca e o queijo, o pão e manteiga. Tem tudo nas mãos. Tem uma competência técnica invejável. Ela tem tudo muito mais fácil. Uma empresa que não tem tudo quanto a Vale tem ela cuida mais os processos intangíveis e isso falta para a gente cuidar. Por que? Porque a gente não tem necessidade para associar os resultados. Só que agora a gente vai ser pressionada a fazer isso pelo próprio mercado. Quando você fala de responsabilidade social, não é uma iniciativa de querer fazer à toa. Do jeito que nós fizemos Carajás, não se faz mais hoje, né? Os valores da sociedade mudaram. Então a gente tem que mudar o nosso jeito de fazer as coisas. E o turnover na Vale eu acho que é baixo então, você tem pessoas que estão aqui há muitos anos, ainda têm aquela referência do passado da Vale. E aqui, às vezes, eu tenho essa sensação, como pessoa que está há pouco tempo, que a gente olha muito pouco para fora e como a Vale é muito grande e muito expressiva para Brasil a gente esquece de olhar para o mercado de fora que você concorre. Está entre as cinco ou as quatro, poxa! A distância é muito grande para o primeiro ou o segundo. Então tem muito que fazer.
P1 – Qual você acha agora, assim, que são os principais desafios? Vamos voltar para você. Agora vamos começar um novo ano, dentro da comunicação, dentro desse norte o que você...?
R – O principal desafio, é o que eu tenho trabalhado com os gerentes, muito, é conciliar a demanda corporativa com as demandas locais. Por que? O plano corporativo da Vale, da comunicação, ele é muito intenso, é grande, é pesado. Só que a demanda também é muito intensa, né? Então, pela primeira vez, o nosso pessoal das regionais, eles estão tendo acesso ao plano corporativo, Planejamento Corporativo da Vale. Comunicação é óbvio, que eles até construíram juntos, mas da Vale e ao mesmo tempo, pegar o plano estratégico da diretoria local onde eles estão inseridos e fazer o cruzamento. E aí, você já ouviu falar assim, no “toró” de informação que chega para o povo? Está chegando desse jeito. Então, nós vamos ter que administrar isso. Filtrar as coisas para as pessoas porque ninguém está dando conta de responder ao volume de informação que está chegando para eles. Isso para mim é o maior desafio que a gente tem agora. E, antes de entrar, eu falei isso com a Carla também. Não sabia que eu estaria lidando diretamente com esse desafio, né? Pois foi na primeira reunião. Mas lidar diretamente com o corporativo e a demanda local, é o grande desafio. E você tem que exercitar o tempo todo porque agora, comunicação é centralizada. Diretor que está lá, que tem a demanda local, ele não pode achar que tudo vai pronto do Rio para ele senão vai ter resistência. Ele tem que ter segurança que a equipe que está ali, local, entende a realidade dele, está disposta a trabalhar dentro da realidade dele e ao mesmo tempo tem as orientações corporativas que a equipe tem que cumprir. Não pode sair fazendo as coisas sem as diretrizes que a gente traça para a comunicação. Então, é medir a água e o fubá. O tempo inteiro.
P1 – E na relação da Vale com a comunidade, o que você acha que... quer dizer, como você viu, você entrou e viu de um jeito, né? O que você acha que está se transformando ou para onde deveria se transformar?
R – Está. Está se transformando e eu acho muito interessante porque esse projeto está comigo também. Tem um nome que foi dado para ele que é Desenvolvimento Social. Acho que o nome nem bate muito com ele, pelo objetivo que a gente tem, porque no meu entendimento, isso é um processo novo para mim, para a Vale, porque na Samarco eu fazia tudo. Fazia o relacionamento com a comunidade. Aqui na Vale você tem uma Fundação que faz projeto social com a comunidade. Você tem o gestor local que faz e que é responsável institucionalmente pela Vale que tem de fazer o relacionamento com a comunidade. E o que a comunicação tem que fazer nesse processo, então? É aí que nós estamos achando o gancho da nossa atuação. No meu entendimento é a comunicação com a comunidade que é fundamental para eles perceberem os projetos sociais porque senão eu faço, faço e ninguém percebe e é fundamental para estabelecer o relacionamento entre o institucional local com a Vale. Então, nós estamos com um plano agora de montar um modelo de fazer comunicação com a comunidade. É isso que a gente está fazendo agora na Vale. O que é desafio para a Vale? A Vale investe, como eu falei, muito. Muito. Não tem o retorno porque ninguém associa a Vale a uma empresa que investe no social, Ninguém sabe, Né? Na pesquisa que nós fizemos ninguém sabe que a Vale é socialmente responsável. Por que que não percebe? Não comunico bem os meus projetos ou, de repente, eu estou dando picolé para esquimó. Eu estou dando um projeto aqui que não é a necessidade que eles tem, que a comunidade tem. Segundo, a comunidade não tem acesso a Vale. Ela não percebe a Vale como uma empresa próxima que ela tem acesso. E a gente quer mudar isso e a gente vai. Vai mudar isso, num processo de transição também. Então, é a forma de tratar. Então, eu vejo a Vale nessa complexibilidade toda, mas eu vejo como um quebra cabeças em que o papel, desse pequeno negócio aqui, lá de fábrica que fica em Congonhas o trato dessa unidade, desse pequeno site com a comunidade local é que na hora de montar o quebra-cabeças, vai dar essa imagem da Vale. Então, é o cara ali, da comunidade local, que tem que ser responsável por criar esse vínculo com a comunidade e a gente vai assessorar nesse sentido. Tremenda oportunidade, também.
P2 – E você sente que essas lideranças já começaram a mudar a percepção que elas tinham da Vale no diálogo?
R - Começaram. Itabira é um exemplo disso. Itabira começou há dois anos um processo de receber a comunidade, presidente de Associações de Bairros e tal, dentro da Vale, coisa que não existia. Paulo Henrique começou esse processo lá, quando ele era gerente de Belo Horizonte, e mudou porque as pessoas não tinham acesso a Vale e era uma situação extremamente conflituosa, a relação de Itabira com a Vale, do povo de Itabira com a Vale. É uma relação de amor e ódio. E eles com esse processo, eles percebem a Vale mais disponível, mais próxima. O gestor local lá, o Vicente, que é o responsável institucionalmente pela Vale é uma pessoa ótima, sabe, que a comunidade confia. Outro exemplo, que a gente tem... dois exemplos, assim, fantásticos: um é em Mariana, que é o local que eu conheci bem a realidade Vale, que era distante e tal e hoje o gestor local me procurou, agora no primeiro semestre e falou assim: "Olha, tem novas minas sendo abertas aqui no distrito...alguns distritos em Mariana, e eu estou preocupado porque eu não quero herdar um passivo, eu quero cuidar do relacionamento desde agora. Então me ajuda aí. Então a gente está com um projeto, junto com a Vanessa, lá nas minas. De rede. Criação de rede cultural. Então, você vê, o gestor local teve a iniciativa de:"Olha, vamos evitar futuros problemas." O que não existia antes. E outro exemplo porque aí é postura do gestor mudando, é o cobre lá em Carajás, que você tem desde o diretor executivo do projeto, porque ainda é um projeto, cuidando do relacionamento com a comunidade, nos mínimos detalhes. Então, outro dia eu estava conversando com a minha equipe lá, e eles estavam mostrando a diferença de perfil, de um dos gerentes geral lá, antes de começar a trabalhar a comunidade depois. O cara se lapidou. Mudou completamente, assim, o jeito de tratar as pessoas depois que ele começou a considerar também no processo dele a comunidade.
P1 – Mas isso é uma diretriz ou um processo que se está fazendo numa insistência diária ou, vamos dizer, já se tornou uma política de relacionamento?
R – Não é uma política de relacionamento que a Vale ainda não tem, não é uma diretriz explícita, mas é uma diretriz implícita porque não faz, você não monta se você não tiver a comunidade do seu lado porque ela lhe impede. Então, se você não vai por iniciativa, você vai pela força, né? As leis, audiência pública e tudo o mais, dá à comunidade a condição de querer ou não você ali perto dela. Então, se você não tratar dessa comunidade desde que você chega, você inviabiliza o seu negócio. Agora o que falta? Uma avaliação de impacto, uma metodologia de avaliar o impacto do seu negócio naquela comunidade. Porque você tem o impacto ambiental, isso o Brasil todo, não é Vale. O impacto ambiental você tem uma lei extremamente exigente, né? Dentro do impacto ambiental eles dão uma cláusula deste tamanhinho assim para avaliar o impacto social. Só que agora a gente tem que sair na frente e criar um método de avaliação do impacto social do nosso negócio e tratar com o mesmo peso e com a mesma medida que você trata o impacto ambiental. Porque, o nosso negócio é impactante? Muito. Impacta o meio ambiente? Demais. Então, a Vale, é muito cuidadosa na questão ambiental de avaliação de impacto e tudo o mais. E no social? Não tem nenhuma lei ainda, mas vai ter. Então, a gente precisa sair na frente e criar uma forma do gestor que está conduzindo os projetos, que não sou eu, não é a minha equipe de comunicação é o gestor local que está desenvolvendo novos projetos, que cuida do orçamento aqui dos novos projetos, que ele cuide também do impacto daquele negócio, Nova Minas, seja lá o que for, na vida da comunidade local.
P1 – E isso está sendo criado ou é um...?
R Está sendo desenvolvido com a fundação, junto com a fundação.
P1 – Esse método?
R – Criar ferramentas...
P2 – Tem parceiros...
R – Tem. Agência 21 aqui do Rio.
P1 – E você acha que isso vai gerar uma política?
R – Isso vai forçar uma política, mas vai forçar porque nós estamos fazendo isso? Não. Vai forçar porque daqui a pouco isso vai ser uma lei, né? É aquilo que eu falei antes, como a Vale é uma empresa muito feliz com o tipo de produto que ela tem, com a infraestrutura que ela tem, com a integração do... todo o processo logístico e tudo o mais. Então, ao mesmo tempo que isso favorece muito, também dificulta porque você não precisa garantir a sustentabilidade dessa empresa. Sem fazer muita força ela se sustenta, né?
P1 – Olinta, daqui para a frente, vamos voltar, assim, o que você acha que é um sonho profissional aqui dentro e até a sua vida que mudou muito de Belo Horizonte para cá?
R – A minha vida ainda não mudou muito não porque eu ainda não acostumei aqui no Rio. Ainda sou muito dependente de BH.
(risos)
P1 – Mudar mesmo, ainda não mudou.
R – É. O Rio é uma cidade maravilhosa, nunca pensei que eu moraria aqui.
P2 – Nossa! Tudo isso só tem um ano?
R – É. Tudo isso só tem um ano.
P1 – O seu cotidiano aqui, é como?
R – Trabalho. Eu não consegui fazer amigos aqui no Rio, nem ficar muito o pé. Até porque eu não fico muito aqui no Rio, né? Então, minha ligação afetiva ainda é muito ligada a Belo Horizonte, quase todos os finais de semana eu estou em Belo Horizonte, né? Então, eu também passo muito rápido, um ano que eu estou aqui, mas eu tenho a sensação que eu estou na Vale há muito mais tempo. Muito mais tempo. Porque eu conheço a Vale hoje, até uma Analista de Comunicação lá de Itabira estava falando comigo assim: "Nossa! Você está aqui há um ano, você conhece muito mais de Vale do que muita gente que está aqui na Vale." Pela oportunidade que tive de estar circulando, de estar viajando. Então, isso eu mesma sinto: “Poxa, não parece que tem só um ano que eu estou aqui.” Mas nunca pensei que eu moraria aqui e nunca fiz planos para morar aqui. Eu acho que o que vier é muita consequência daquilo que você está fazendo, né? Eu não fico muito fazendo planos e tal, como é que vai ser depois. Quero fazer bem feito o que eu estou fazendo agora e quero ficar feliz com o que eu estou fazendo. Se tiver desafios, eu vou ficando feliz. Quando os desafios acabarem com certeza eu não vou estar aqui também que não combina comigo ficar num lugar que não seja movida pelos desafios. Por grandes desafios. E até agora está valendo muito a pena. Está muito legal o trabalho.
P1 – E em respeito ao trabalho, quer dizer, ele é
muito absorvente, né? Você...
R – É, pela própria condição que dou. Por estar sozinha aqui. Então, você deixa que isso absorva você muito mais. Mas, o que eu quero fazer..., quero me adaptar melhor ao Rio. Criar vínculos aqui, então, estou ficando. Quero ficar mais aqui este ano que vai começar, me programar para ter uma agenda no Rio garantida. Então, para eu poder entrar numa academia, fazer coisas que te deem condições de criar laços, né? Fazer amigos e tal. Porque eu não estou numa academia, não faço nada, né? Então, você não tem condições. Porque hoje eu estou viajando segunda, terça, qualquer dia da semana. A partir do ano que vem, eu quero viajar só quinta e sexta. Então, segunda, terça e quarta eu vou estar aqui no Rio e vou ter condições de fazer mais coisas aqui para mim, fora empresa. Estou investindo nisso. Você viu o que eu comentei ali fora, né? (risos)
P1 – De uma maneira geral, você não faz muito planejamento, mas você tem um sonho de futuro ou é o que...?
R – Sonho de futuro a gente sempre tem. É...a minha carreira é um sonho que está sendo concretizado. Quando eu fiz comunicação, apesar de eu ter escolhido de imediato essa profissão, fiz muito consciente de que o que eu gosto de fazer é isso, o que eu sei fazer é isso, o que eu estou aprendendo a fazer é isso. Então, tem mais facilidade para isso. Então, eu quero continuar. Agora está sendo uma tremenda oportunidade pela dimensão, pela condição que a Vale propõe de trabalho, mas eu acredito que ainda tem aí muita coisa para eu aprender, para eu fazer e que pode mudar meu norte daqui para frente.
P2 – Você falou que plantava café?
R – Planto.
P2 – Planta? E como é que é isso?
R – Eu tenho, não podia ser diferente da minha família, da minha história. Eu tenho um sítio em Nepomuceno que eu planto café, mas além de café, tem outras coisas que toda roça tem. Pomar, lindo, tem vaquinha, tem essas coisas de roça.
P2 – E tem alguém que administra para você, você vai lá?
R – Tem. Quem administra para mim é meu irmão mais novo, que já mexe com isso também, mas eu cuido, mesmo que a distância. Eu tenho prazer em fazer isso. Eu invisto nisso, não faço isso por curtição. Não. É um investimento. Eu sou de uma cooperativa de café do sul de Minas, Três Pontas, né? Então, estou produzindo, estou guardando e ver um pé de meia, também, para o futuro. E mais do que isso, também, eu fico identificando oportunidades para fazer do café, na minha região, no sul de Minas, uma oportunidade diferente o que tem agora, do que meu pai fez a vida inteira que só produzia café. Só que agora só produzir café com o preço do café como está, não tem jeito, você tem que ter algum diferencial. Eu fico imaginando que diferencial o café do sul de Minas, o café de Nepomuceno pode ter. Então, isso é uma coisa também que nas horas vagas eu fico exercitando para descobrir. (risos) Por que? Muito tempo.
P1 – Que horas?
R – (risos) O tempo todo, né? Eu acho assim, que você não faz as coisas isoladas e nem produzir café. Muita coisa que eu faço aqui na Vale me ajuda, mas, ás vezes, irrita, no caso, meu irmão. Eu fico assim, na época da colheita: “O pessoal está trabalhando com IPI.” "Existe isso na roça?" Eles estão trabalhando de botina? Ai meu irmão fica muito bravo comigo. "Ah, estão pagando tanto por litro de café colhido." Está muito pouco, vamos aumentar um pouquinho que aumenta a produtividade. Mas é legal. É até relaxante para mim. Sei lá. É uma coisa que eu curto, gosto. Eu vou para lá, no mínimo, uma vez por mês, acompanho o livro de caixa, faço isso tudo.
P1 – Tem mais uma coisa que você ache importante dizer, Olinta?
P2 – Deixar registrado? Certamente a gente não deve ter perguntado um monte de coisa, mas que é importante deixar?
R – Não. Acho que perguntaram tudo.
P2 – Sabe, quando desliga a gente pensa: Ah, devia ter falado aquilo, assim.
R – Ah, acho que não tem, não.
P1 – Então, ótimo. Acho que é isso.
[Fim da entrevista]Recolher