Meu nome é Gerulina Antônia dos Reis. Nasci em Monte Alto, na Bahia, no dia cinco de maio de 1935.
Meu pai se separou da minha mãe. Ela estava grávida de mim; quando eu tinha quatro meses de idade, ela morreu. Eu fui criada pelas mãos de gente desconhecida, eles não me botaram na escola. Eu não tive condições de aprender, o meu sentimento é não saber ler e nem escrever. Fui criada na mão dos outros.
Eu apanhava muito nas mãos deles, sabe? Com dezesseis anos de idade, eu conheci o meu esposo, Arnaldo; com dezessete anos eu casei com ele. Nós nos mudamos para Jussara, na Bahia. Tive dezessete filhos, oito morreram por falta de assistência médica. E criei nove, com muita saúde.
A gente morava numa roça, o milho grande. A mãe dele me deu um purgante, aí eles foram limpar um feijão em outra roça. Cá eu senti as dores da primeira menina, sem saber que era dor de ganhar neném. Eu me deitei e as dores vieram mesmo, aquelas dores de bucho. Tive a menina sozinha, eu e Deus. Quando a menina foi acabando de nascer, chegou uma tia dele: “Minha Nossa Senhora, meu Deus! Mas como foi que você teve essa menina, minha filha, sozinha?” Eu disse: “Deus me ajudou e eu tive!” Aí ela cortou o umbigo da menina, me ajeitou. Quando saiu a conversa para lá, para as casas, todo mundo admirou e foi lá olhar, me visitar, olhar a menina. Mas a primeira eu tive sozinha.
Depois, nos mudamos para Mimoso do Oeste - nesse tempo era Mimoso do Oeste. Era no [bairro] Santa Cruz, o povo chamava Iraque. Não tinha luz, não tinha água; a gente iluminava com vela, ia para o rio lavar roupa. Aí depois o Antônio Carlos Magalhães chegou e passou o nome para Luís Eduardo Magalhães. Ficamos morando ali, nós fomos trabalhar numa firma, meu marido era guarda e eu cozinheira. Compramos um terreno e fizemos uma casa.
Chegamos aqui em 1981. Era só mato, não tinha ninguém, não tinha carro, não tinha nada.
Uma comadre minha estava grávida, aí ela e o marido...
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Meu nome é Gerulina Antônia dos Reis. Nasci em Monte Alto, na Bahia, no dia cinco de maio de 1935.
Meu pai se separou da minha mãe. Ela estava grávida de mim; quando eu tinha quatro meses de idade, ela morreu. Eu fui criada pelas mãos de gente desconhecida, eles não me botaram na escola. Eu não tive condições de aprender, o meu sentimento é não saber ler e nem escrever. Fui criada na mão dos outros.
Eu apanhava muito nas mãos deles, sabe? Com dezesseis anos de idade, eu conheci o meu esposo, Arnaldo; com dezessete anos eu casei com ele. Nós nos mudamos para Jussara, na Bahia. Tive dezessete filhos, oito morreram por falta de assistência médica. E criei nove, com muita saúde.
A gente morava numa roça, o milho grande. A mãe dele me deu um purgante, aí eles foram limpar um feijão em outra roça. Cá eu senti as dores da primeira menina, sem saber que era dor de ganhar neném. Eu me deitei e as dores vieram mesmo, aquelas dores de bucho. Tive a menina sozinha, eu e Deus. Quando a menina foi acabando de nascer, chegou uma tia dele: “Minha Nossa Senhora, meu Deus! Mas como foi que você teve essa menina, minha filha, sozinha?” Eu disse: “Deus me ajudou e eu tive!” Aí ela cortou o umbigo da menina, me ajeitou. Quando saiu a conversa para lá, para as casas, todo mundo admirou e foi lá olhar, me visitar, olhar a menina. Mas a primeira eu tive sozinha.
Depois, nos mudamos para Mimoso do Oeste - nesse tempo era Mimoso do Oeste. Era no [bairro] Santa Cruz, o povo chamava Iraque. Não tinha luz, não tinha água; a gente iluminava com vela, ia para o rio lavar roupa. Aí depois o Antônio Carlos Magalhães chegou e passou o nome para Luís Eduardo Magalhães. Ficamos morando ali, nós fomos trabalhar numa firma, meu marido era guarda e eu cozinheira. Compramos um terreno e fizemos uma casa.
Chegamos aqui em 1981. Era só mato, não tinha ninguém, não tinha carro, não tinha nada.
Uma comadre minha estava grávida, aí ela e o marido dela…. Tudo era em Barreiras. Aí o marido dela dizia: “Meu Deus, o que eu vou fazer? Maria vai ganhar neném e eu não sei como eu vou fazer para levar para Barreiras.” Aí eu falei: “Olha, Maria, eu sou parteira. Não queria nem dizer, mas eu sou parteira.”
Quando ela sentiu dor para nascer o neném, mandaram me chamar. Eu fui e fiz o parto dela. Aí as outras todas me chamavam quando era para ganhar neném.
Eu já tinha o vidrinho cheio de linha, todo esterilizado, a minha tesoura esterilizada, tinha as luvas, chegava lá e fazia o parto das mulheres e voltava para casa.
Fiz muitos partos. Tinha escrito o tanto de criança que eu peguei, mas eu botei o papel no bolso da saia e aí molhou, aí não sei a quantidade de menino que eu peguei aqui em Luís Eduardo.
Eu me sinto muito feliz, Graças a Deus. Nunca me separei do meu marido, nunca brigamos para dizer assim: “Vamos separar.” É sempre no amor. Adoeci, passei um ano deitada, doente, e ele foi quem cuidou de mim.
Eu gosto de tomar meu banho, vestir minha roupa, e quando você chegar na minha casa me achar arrumada. E gosto de ver o meu marido arrumado também.
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