Projeto Museu em Rede
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Ronaldo José Ribeiro
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 20 de fevereiro 2011
Código: MRSB_CB023
Transcrito por Gabriele Mayara Silva Araujo
Revisado por Sofia Tapajós
P/1 - Ronaldo, você vai começar repetindo ...Continuar leitura
Projeto Museu em Rede
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Ronaldo José Ribeiro
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 20 de fevereiro 2011
Código: MRSB_CB023
Transcrito por Gabriele Mayara Silva Araujo
Revisado por Sofia Tapajós
P/1 - Ronaldo, você vai começar repetindo tudo que a gente estava conversando um pouco lá, só que ai eu vou pontuando. Você pode falar seu nome completo, local e data de nascimento?
R - Meu nome completo é Ronaldo José Ribeiro, eu nasci em 24 de agosto de 1964, na cidade de Assis, São Paulo.
P/1 - Seus pais são de Assis?
R - Na verdade a cidade original dos meus pais era Maracaí, muito próxima de Assis, e meus pais são naturais desta cidade.
P/1 - E você passou sua infância... até quanto tempo você ficou em Assis?
R - Então, na verdade, a minha cidade de nascimento é Assis, mas a minha família realmente morava na cidade de Maracaí, distante 30km. Nessa cidade eu passei até os meus 7 anos e, depois disso, fiz lá o primeiro ano de escola e depois nós nos mudamos para Londrina no Paraná.
P/1 - Que atividade que seus pais exerciam?
R - O meu pai nessa época trabalhou um pouco no banco, num banco... Numa agência bancária da cidade, e depois ele estava trabalhando numa empresa de venda de adubos, de produtos para agricultura. Foi inclusive esse o motivo da nossa mudança para Londrina no Paraná, ele foi transferido por essa empresa.
P/1 - Vou voltar só um pouquinho, como é que era a sua infância nessa cidade?
R - Ah, Maracaí era uma cidade muito pequena, né? Ainda hoje é uma cidade muito pequena, e nós morávamos numa casa bem grande, a minha família, nessa época, era meu pai, minha mãe, eu e mais um irmão que morávamos em Maracaí, mas os meus primos, os meus tios, tanto por parte de mãe como por parte de pai, meu avô paterno, meu avô materno eu não conheci, mas minha avó materna morava junto com a gente, foi uma figura muito importante na minha infância, na minha primeira infância. Eu me lembro dela me levar a igreja, eu me lembro dela... Essas coisas assim. Eu me lembro muito da igreja da cidade, me lembro do quintal, apesar de ser uma cidade, mas era uma casa com um quintal, muito grande, com pés de jabuticabeira, com pés de goiaba, era uma casa muito gostosa.
P/1 - A igreja, como é que era, fala como...
R - A igreja, ela ficava... Nós morávamos na rua principal da cidade, a igreja ficava mais ou menos umas três quadras de casa e eu me lembro de ir com a minha avó pra igreja, foi ela inclusive que... minhas primeiras aulas de catequese foram dadas pela minha avó e eu me lembro que a igreja ficava no centro de uma grande praça e é lá que a gente, quando era criança, corria, se divertia naquela praça. Depois de muito anos eu voltei lá, vi que a praça não era tão grande assim [risos], mas quando eu era pequeno, tinha 5 ou 6 anos, a praça era enorme. A igreja também era enorme, agora que eu voltei lá depois de adulto vi que não era tão grande assim, mas na minha memória continua muito grande, né?
P/1 - Com quantos anos você entrou na escola, Ronaldo?
R - Eu entrei com 7 anos, eu fiz o primeiro ano e a metade do segundo ano lá em Maracaí na escola... Uma escola estadual lá de Maracaí, a escola tem até hoje lá, junto com meus primos, né, minha família toda. Meu pai tinha seis irmãos, minha mãe também tinha uns seis irmãos, todos os primos moravam lá,;a grande maioria mora até hoje. E eu me lembro de ter estudado lá o primeiro e o segundo ano, metade do segundo ano naquela cidade, entrei na idade normal com 7 anos!
P/1 - Aí depois vocês se mudaram?
R - Aí depois nós nos mudamos pra Londrina, no Paraná.
P/1 - Por que vocês foram para Londrina, seu pai resolveu mudar para Londrina?
R - Porque, na verdade, ele trabalhava numa empresa, meu pai trabalhava numa empresa, que vendia produtos agrícolas. E ele foi transferido por essa empresa da região ali para a cidade de Londrina. Isso foi uma boa oportunidade para nós, nossa família, e aí a gente se mudou né? Londrina não fica tão longe assim da cidade de Maracaí. Fica a cerca de 100, 120 km, então...
P/1 - Quantos anos você tinha quando vocês mudaram para Londrina?
R - Eu estava para completar 8 anos.
P/1 - Você lembra como foi sua chegada, essa mudança [risos do entrevistado]?
R - Lembro, lembro. Londrina era uma cidade muito grande né, muito grande! Eu me lembro do cheiro do café, porque lá tinha uma empresa de café solúvel, na hora que a gente ia chegando na cidade, aquele cheiro da fábrica de café solúvel invadia a cidade toda. Me lembro, foi uma novidade para mim, leite em saquinho, porque lá na cidade de Maracaí era sempre leite que o pessoal vinha entregar em casa, aí eu comecei a ter contato com leite em saquinho.
P/1 - Era em vidro antes?
R - Era em vidro, ou, às vezes... É, em vidro. Meus tios, meus avós traziam pra gente em casa, né? Lá no sítio do meu avô mesmo, que era perto da cidade de Maracaí. Pra mim leite em saquinho nessa época foi uma novidade. E a cidade era muito grande! Éramos eu, meu pai, meu irmão, minha mãe estava grávida da minha primeira irmã que já nasceu em Londrina. E aí fomos morar em uma casa alugada; logo em seguida nós construímos nossa própria casa lá. E aí foi assim que chegamos.
P/1 - Esse foi um momento específico, assim, que as pessoas foram para Londrina, foram descobrir a cidade. O que estava acontecendo?
R - Eu imagino assim, começo dos anos 1970, claro que isso é... eu lembro de fatos da minha infância, mas, eu me lembro que a minha família era uma busca de progresso, de melhoria, muita gente realmente se mudava para outra cidade, assim, saiam das cidades pequenas e iam para a cidades grandes. Foi a época que acho que nós compramos... nossa família comprou o primeiro carro. Agora olhando, a gente sabe que foi a época do milagre econômico ali naquele começo dos anos 1970, mas... Mas eu acho que procurar uma cidade grande tinha muito a ver com essa possibilidade de estudar numa faculdade, de estudar numa boa escola. Meu pai tinha uma preocupação em relação a isso. Ir para Londrina, já naquela época, sair de Maracaí que era uma cidade muito pequena, foi muito significativo, né? Muito...
P/1 - E ele eve alguma influência na sua escolha profissional?
R - Ah, esse fato de eu vir de uma cidade pequena, do meu avô ser agricultor, do meu pai trabalhar nessa área, isso teve sim. Quando eu escolhi a faculdade, Agronomia, lá em Londrina, meu pai ainda trabalhava nessa área. Então, certamente teve sim essa influência no curso de agronomia, como também meu pai me incentivou, já naquela época, a fazer um segundo curso, sugeriu para mim que eu fizesse. Entre as várias oportunidades, eu acabei fazendo Ciências Sociais. Então, quando eu fiz faculdade em Londrina eu fiz o curso de Agronomia e também o de Ciências Sociais, tudo ao mesmo tempo...
P/1 - Tudo na federal?
R - É, era uma escola estadual: a
Universidade Estadual de Londrina.
P/1 - Você fez os dois cursos?
R - Fazia [risos]! Estudava de manhã, de tarde e de noite na faculdade de Londrina.
P/1 - E você não trabalhava?
R - Não, não trabalhava. Como eu morava com a minha família, era muito simples, era muito fácil, era uma escola estadual. Naquela época era uma escola paga, apesar de ser uma escola estadual, uma universidade estadual. A gente pagava uma mensalidade, para estudar. Nós inclusive... foi a nossa geração inclusive que lutou pela gratuidade do ensino na universidade de Londrina. Foi uma luta que demorou aí, três, quatro anos. E a universidade se tornou gratuita, a partir de 1986, 1987, nós conquistamos a gratuidade do ensino nas universidades estaduais do Paraná, essa foi a minha...a nossa contribuição...
P/1 - Ronaldo, você iniciou a militância política com esse movimento na faculdade, ou você já tinha algum tipo de participação antes?
R - É, na verdade, a minha participação política começa nas comunidades de igreja. As comunidades eclesiais de base nos grupos de jovem da igreja, nos primeiros contatos com a ideia da teologia da libertação e da Pastoral da Juventude. Eu comecei na Pastoral da Juventude e, logo em seguida, entrei na universidade. Foi quase que automático participar do movimento estudantil e entrar também no PT [Partido dos Trabalhadores]. As coisas estavam se formando tudo naquela época, no começo dos anos 1980. Eu entrei na faculdade em 1982, o PT estava recém criado em Londrina, no Paraná, e o movimento estudantil estava passando também pela sua reorganização [barulho de tráfego ao fundo]. O que em São Paulo aconteceu alguns anos antes, em Londrina no Paraná começou logo no início dos anos 1980 e nós somos quem recriamos os centros acadêmicos, organizamos o diretório central dos estudantes que estava... Que era que estava fechado até então.
P/1 - Alguém na sua família tinha algum tipo de militância política, como é que você foi para esse lado?
R - Não, eu acho que foi mais essa influência dentro da participação nos movimentos de igreja. E aí, minha família era uma família de classe média, nunca ninguém teve... Não me lembro de um tio, de um parente que tivesse, assim, uma militância política. Foi mais mesmo essa participação na Pastoral da Juventude, que me levou à participação política. É claro que, nessa época, conversava muito sobre isso com meu pai, na maioria das vezes para brigar [risos] com ele, por causa desses assuntos. A gente tinha divergências muito grandes na época, sobre... O que é natural também!
P/1 - Foi nessa época da faculdade que você conheceu sua mulher?
R - Foi. Nós éramos do movimento estudantil, a Sandra fazia Serviço Social na faculdade, ela era presidente do Centro Acadêmico de Serviço Social, eu era do Centro Acadêmico de Ciências Sociais, aí nós... Eu participei de uma chapa pro diretório central dos estudantes, fui eleito vice-presidente do primeiro diretório reorganizado, no ano de 1983. E aí logo em seguida veio a campanha das diretas. Nós, em Londrina, tivemos uma participação muito ativa nas campanhas das diretas. Eu e Sandra começamos a namorar nessa época.
P/1 - Você lembra do primeiro dia que você viu a Sandra?
R - Meu Deus do céu!
P/1 - Você se interessou, assim, por ela?
R - Pois é, eu me lembro de ter visto a Sandra pela primeira vez anos antes, num encontro de grupos de jovens de toda a igreja de Londrina. Eu participava e ela participava também. Depois de algum tempo eu me lembrei que era ela mesmo, uma menina que estava lá. Foi a primeira vez que eu a vi que chamou a atenção e tudo mais, mas a gente foi se reencontrar só um ano, dois anos depois, na faculdade, na militância do movimento estudantil. A gente se conheceu e depois de quase um ano e meio que a gente começou a namorar, naquela época.
P/1 - Aí acabou a faculdade...
R - Então, Sandra se formou antes de mim. Nessa época a família dela já estava morando em Goiânia. Ela passou uma temporada muito curta morando com os pais em Goiânia, ao mesmo tempo prestou um concurso e veio trabalhar no Vale do Ribeira, na cidade de Eldorado. Eu fiquei porque tinha que terminar meu curso de Agronomia. Diferença de tempo: quatro anos Serviço Social e cinco anos o curso de Agronomia. Eu fiquei mais um tempo para terminar e logo que terminei o curso de Agronomia, eu acabei também vindo para o Vale do Ribeira. Eu consegui um emprego como agrônomo numa cidade aqui próxima, Miracatu.
P/1 - Foi seu primeiro trabalho?
R - Foi meu primeiro trabalho como profissional.
P/1 - Como que foi? Que empresa que era?
R - Eu vim pra cá e acabei vindo trabalhar na Prefeitura Municipal de Miracatu. Fui contratado para um projeto ligado à área de aproveitamento de várzeas, que são as áreas úmidas próximas do rio que você pode fazer um trabalho de drenagem e de ocupação delas para uso da agricultura. Logo em seguida eu conheci uma pessoa que teve uma influência na minha carreira profissional muito grande, que trabalhava na Secretaria da Agricultura nessa época, que foi o Sérgio Vassimon, que me levou para trabalhar...
P/1 - Sérgio Vassimon?
R - É, o Sérgio Vassimon, muita gente o conhece. Me levou para trabalhar no Cedaval, que é o Centro de Desenvolvimento Agricultura do Vale do Ribeira. E eu tive uma convivência com ele durante muitos anos, por mais de dez anos nós trabalhamos juntos, ele me ensinou muita coisa. Sérgio Vassimon foi uma pessoa muito importante pra nós aqui do Vale do Ribeira, para mim, em particular, porque eu aprendi muito com ele, tive a oportunidade de trabalhar com ele na Secretaria da Agricultura, no Cedaval e depois na Secretaria de Meio-Ambiente do Estado de São Paulo, na Fundação Florestal. É um amigo até hoje, né?
P/1 - Deixa eu voltar um pouquinho atrás. O que você sabia do Vale do Ribeira quando você chegou aqui?
R - Então, é engraçado isso, né? Quando eu ainda morava em Londrina, e eu tinha meus 10, 11, 12 anos, mais ou menos nessa época, a minha família já vinha passar as férias aqui no Vale do Ribeira, na Ilha Comprida. Nós vínhamos... vinha muita gente, primos, amigos e tudo mais. Nós saíamos de Londrina e vinhamos para cá, para passar 15 dias, 20 dias na Ilha Comprida. E eu conheci Registro, conheci Ilha Comprida, conheci Iguape, conheci o Bom Jesus de Iguape já nessa época, em 1974, 1975, 1976, 1977. Eu me lembro muito disso na minha adolescência, na minha... aí com 12, 13 anos. Depois disso, quando eu estava quase para entrar na faculdade...ainda antes de entrar na faculdade, eu e mais três amigos também fizemos uma viagem, daquelas viagens de estudantes. Viemos acampar nessa região, passamos na Ilha Comprida, passamos no Marujá, na Ilha do Cardoso, fomos até a Ilha do Mel, no Paraná. Descemos de Paranaguá para Ilha do Mel de trem, foi uma viagem bacana naquela época. Todo mundo de mochila nas costas, e viajando. E nós naquela viagem, nós perdemos uma conexão de ônibus e tivemos que dormir aqui em Registro. Chegamos aqui, nessa praça onde era a antiga rodoviária de Registro, perguntamos, indicaram pra gente um hotel, que era o hotel Guanabara. Ainda o prédio tem aqui, já não é mais hotel, mas ainda existe o prédio. Era um calor infernal, naquela época já. Nós, em quatro, dormindo num pequeno quarto num hotel era um calor infernal. Foi a primeira vez que eu dormi em Registro, nunca imaginava que, dez anos depois, eu ia me mudar para a cidade e viver aqui como eu vivo há quase 25 anos já.
P/1 - Aí você fez esse projeto, quanto tempo? Você fazia o projeto na cidade, mas morava aonde?
R - Quando isso?
P/1 - Quando você veio trabalhar como agrônomo, pra cá?
R - Ah, eu morava um pouco em Miracatu, um pouco em Eldorado junto com a Sandra, viajava logo em seguida... Isso durou um ano. Logo em seguida nós acabamos nos mudando para Registro, tanto eu quanto Sandra. Eu já trabalhava no Cedaval, e a Sandra já tinha prestado um concurso e já tinha entrado na área de saúde.
P/1 - No Cedaval ocê trabalhava como agrônomo?
R - Como agrônomo, é!
P/1 - O que você fazia?
R - Ah, foi um projeto muito bacana. Eu comecei como engenheiro agrônomo, fazendo assistência técnica pros agricultores; logo em seguida o Vassimon me deu a responsabilidade de cuidar desse departamento, desse centro. Eu era muito jovem ainda, 24, 25 anos, com uma responsabilidade enorme porque o Cedaval tinha quase 100 funcionários naquela época, com uma estrutura muito grande. E nós fizemos de tudo um pouco lá, fazemos capacitação de agricultores, introdução de novas tecnologias, nós fomos os primeiros a começar a trabalhar com agricultura orgânica aqui no Vale do Ribeiro, com plantas medicinais. Nós tínhamos projetos para trabalhar com plantas medicinais, nós fazíamos fomento de novas tecnologias, junto às associações de agricultores. Conseguimos ampliar a equipe: tinha uma equipe grande, quase 20, entre agrônomos, técnicos e outras pessoas, montamos uma equipe grande. Durante quatro, cinco anos, a gente fez o Cedaval mesmo um centro de apoio - era o desejo do Vassimon -, um centro de apoio à pequena agricultura. Foi aí que nós nos aproximamos das comunidades indígenas. Naquela época, não tinham tantas comunidades indígenas assim, mas dos Caiçaras de Cananéia, Iguape, dos pescadores, dos pequenos agricultores da Barra do Turvo, dos quilombolas de Eldorado. Foi nessa época que a gente - eu pelo menos-, teve a oportunidade de conhecer todo esse povo, todas essas, naquela época, lideranças que depois inclusive vieram a se tornar lideranças sociais importantes aqui na região. Esse foi o meu trabalho lá no Cedaval.
P/1 - Aí depois do Cedaval?
R - Aí eu fui trabalhar na Secretaria do Meio-ambiente. A Fundação Florestal tem ainda uma unidade na região que é a Fazenda Intervales, hoje o Parque Estadual Intervales. E eu comecei a trabalhar nesse departamento, nessa unidade, e foi lá que eu comecei a desenvolver mais meus trabalhos na área de meio ambiente. Trabalhei também um bom período na Fundação Florestal, e foi onde a gente desenvolveu o trabalho com o palmito, com manejo de palmito nativo, palmito aqui do Vale do Ribeira, palmito de jussara. A gente desenvolveu muitas pesquisas e muitos trabalhos de como é que esse palmito poderia ser explorado de maneira sustentável. Isso depois virou lei no Estado de São Paulo e até hoje as pessoas podem, dentro de determinadas regras, fazer o manejo do palmito, como a gente chama. Isso foi até 1995, 1996, mais ou menos, esse trabalho na Fundação Florestal. Depois eu saí, fui trabalhar na iniciativa privada como consultor de projetos na área do meio-ambiente. E passei um bom tempo na iniciativa privada. Só fui voltar pro serviço público quando fui trabalhar na Secretaria do Meio-Ambiente da cidade de São Paulo.
P/1 - Mas aí você ficava lá em São Paulo, morava aqui...
R - Isso! Em 2002, eu morava em São Paulo, vinha pra cá no final de semana... Isso durou quase um ano, né? Depois fui trabalhar em Brasília...
P/1 - Vamos voltar um pouquinho. Você foi candidato a deputado aqui, como é que foi, como é que você decidiu?
R - Não, eu fui candidato a prefeito...
P/1 - A prefeito, desculpa!
R -... Em 1996! Eu fui candidato a prefeito da cidade de Registro. Na verdade, não sei se foi muita falta de opção naquela época. Era importante ter um candidato, nós tínhamos tido um em 1992, mas aí quando chegou as eleições de 1996, ele não quis mais ser candidato, mas a gente achava que era importante ter um aqui. O Lula tinha passado pelo Vale do Ribeira em 1995, tinha feito a caravana da cidadania aqui, eu tive a oportunidade de acompanhar o Lula na caravana por 15 dias. Andando por todas as cidades do Vale do Ribeira. Eu lembro de ter ajudado muito nessa caravana, junto com o Lula, junto com o Pacu que teve por aqui, Devanir, junto com o Professor...
P/1 - Devanir Ribeiro...
R - ... É. Então nós fomos o grupo que assessorou o Lula naquela caravana, então, talvez por estar muito - foi em dezembro de 1995 - envolvido naquela época, eu acabei sendo estimulado, acabei ficando com vontade de ser candidato a prefeito em 1996. Foram oito candidatos naquela época, eu terminei a eleição em 4° lugar. Não foi um mau desempenho, não, foi bom. O PT a partir daquela época começou a crescer muito aqui na cidade, eleger o primeiro vereador na cidade de Registro. O PT nunca antes tinha eleito um vereador, foi nessa campanha que nosso amigo Miura se elegeu vereador, e a partir disso o PT foi crescendo, foi crescendo aqui na cidade. Hoje a Sandra é prefeita pelo PT, é um pouco resultado dessa história.
P/1 - Ronaldo, fala um pouco, o que vocês fazem aqui na cidade, no cotidiano. Você disse que tem muitas festas bonitas aqui.
R - É, durante o ano, a cidade de Registro tem muitas festas. As festas da colônia japonesa são muito importantes para a cidade. Tem a festa de Bon Odori, que é uma festa de dança japonesa, uma dança circular muito bacana. Tem a festa do... A colônia japonesa é muito importante na história da cidade de Registro. Ela tem uma influência social, econômica e cultural muito grande aqui na nossa cidade, por isso as festas têm essa característica. Tem a festa do sushi, que também é uma festa muito bacana, muita gente participa, e, em novembro, no dia de finados, os japoneses fazem a comemoração, uma referência aos mortos. Eles cultivam muito essa ancestralidade e fazem uma referência aos seus próprios antepassados. Então aqui tem a festa do Tooro Nagashi, que são barquinhos de madeira com velas, que cada família dedica a um membro, a uma pessoa da família, falecida. Qualquer pessoa pode fazer isso, inclusive, ir lá e adquirir um barquinho. E aí no dia 02 de novembro, no dia de finados à noite, esses barquinhos, que giram em torno de cinco mil, eles são colocados, são soltos no rio. E descem o rio Ribeira aqui, e é muito comum as pessoas falarem que eles chegam até o oceano, porque vão descendo o rio, a correnteza do rio. E é uma festa, uma imagem muito bonita. Vale a pena vir participar dessa festa, uma festa muito bonita, colorida, muito simbólica. Eu nunca vi uma festa parecida com essa. Dizem que no Brasil, em outras cidades, as pessoas costumam fazer isso, mas são em lagos. Aqui é a única festa que...
P/1 - No rio...
R - ...Em que eles descem o rio. É muito bonito, vale a pena. E de modo geral, claro, sempre tem um show, uma festa, tem um aniversário de um amigo. E quando não tem aniversário a gente acaba inventando um motivo para se reunir, fazer um jantar, fazer um churrasco. Como aqui é muito quente, faz muito calor, a pessoa se dedica muito ao ofício de tomar cerveja, porque não tem muita saída, né [risos]?!
P/1 - Ronaldo, desde o tempo que você está aqui, tem algum fato que te marcou, qual foi a coisa que mais... Um causo, alguma coisa marcante? Sessão causos agora, deve ter vários, né?
R - Tem muitas coisas né? Tem muitos...
P/1 - É que nosso tempo é tão [risos]...
R - É. Olha, não sei, aqui em Registro tem fatos marcantes. Foi aqui que meus filhos nasceram, eu e a Sandra nos casamos aqui também, apesar das famílias serem totalmente de fora. Minha família metade em Maracaí, metade em Londrina. Família da Sandra metade em Minas, metade em Goiás. Mas a gente acabou se casando aqui. Um causo engraçado, um causo diferente vai ser difícil puxar assim pela memória, mas...
P/1 - Nascimento dos filhos!
R - É! Eu cheguei atrasado! Pro nascimento da minha filha...
P/1 - É mesmo?
R - ...Isso foi um causo marcante. Eu estava em uma reunião e quando eu cheguei a Sandra já estava no hospital. Isso foi, talvez, um causo marcante da nossa vida sempre atribulada. A rodovia sempre traz várias histórias aqui para a cidade. A gente já perdeu vários amigos aqui para a Rodovia. Em outras épocas, isso também é marcante nas histórias das pessoas. Ah, não sei, não saberia te dizer não, são muitas coisas, se eu fosse ficar aqui... Mas acho que tem muita coisa, a cidade onde eu vivo há mais tempo é onde... eu já me sinto registrense. Apesar de não ter nascido aqui, é onde a gente já passou a maior parte do tempo. Mas eu não saberia te dizer não, eu vou ficar devendo.
P/1 - Ronaldo, qual é o seu maior sonho hoje?
R - Ah meu Deus do céu... Olha, eu acho que tem muitos trabalhos pela frente, muita coisa sendo feita, mas eu não considero que eu não tenha grandes sonhos. Meus filhos tão na faculdade, a Sandra está na administração da Prefeitura, eu tenho dedicado os últimos dois anos a ajudá-la, espero que a gente consiga alcançar nossos objetivos aqui na administração municipal. Já tivemos a oportunidade de fazer boas viagens pelo mundo, pelo fato de estar aqui em registro, ou de ser militante da área ambiental, eu tive a oportunidade de fazer parte de um grupo de um curso de formação de liderança em meio ambiente e com isso eu pude conhecer vários países do mundo. Então eu não tenho mais grandes aspirações, não. Acho que tem muita coisa para fazer, acho que a gente continua trabalhando aqui na cidade de Registro, melhorando a vida das pessoas aqui hoje. Eu costumo brincar junto com a Sandra e dizer assim "É, pois é, a nossa família cresceu né? Antes éramos eu, você e dois filhos, agora somos pelo menos 50 mil pessoas na nossa família, todo mundo agora é primo, tio, filho... A gente tem que cuidar de todo mundo, e cuidar das pessoas é uma tarefa difícil, porque cada pessoa tem suas dificuldades e seus problemas. Mais do que isso, antes a nossa casa que era uma casa simples de dois, três quartos, agora virou uma cidade inteira. Então a gente tem que cuidar da limpeza, da beleza, do jardim da cidade". A gente está dedicado a isso agora. A Sandra com a maior dedicação, pela responsabilidade de ser prefeita, mas eu me considero corresponsável nessa tarefa. Então tudo preocupa a gente, desde a enchente que deixa 50 famílias desabrigadas, até o pai que está precisando de um exame médico para o filho, a criança que está sem creche, como a rua que está suja, a praça que está suja. A gente está muito dedicado a isso, terminar essa tarefa, temos mais dois anos pela frente. Terminar essa tarefa hoje é nosso maior sonho, e claro, fazer isso bem feito. É isso.
P/1 - Ah, obrigada Ronaldo, obrigada... Dá para ficar horas né? Falando e falando...
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