Projeto Memórias do Comércio de São José do Rio Preto - 2020-2021
Entrevista de Deise Cristina Donizete de Souza
Entrevistada por Luís Paulo Domingues e Claudia Leonor Oliveira
São José do Rio Preto, 10 de junho de 2021
Entrevista MC_HV086
Transcrita por Selma Paiva
(00:28) P1- Deise, pra começar eu gostaria que você falasse o seu nome completo, a data de nascimento e o local que você nasceu.
R- Vamos lá. Bom, o meu nome completo é Deise Cristina Donizete de Souza. Eu tenho trinta e dois anos de idade. Eu nasci em Piá, Minas Gerais, uma cidade que tinha quinze mil habitantes, aproximadamente, no ano de 1988. No dia quatro de julho de 1988.
(00:58) P1- Muito bom. E qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R- A minha mãe se chama Maria Aparecida Donizete. Eu não tenho o sobrenome do meu pai. O nome do meu pai é Adenilson Conceição Brás. Como eu vim de uma família de pessoas negras e é, historicamente, muito comum, essa estrutura da base familiar da pessoa negra, ser uma mulher preta, né? Os meus pais foram um casamento que não deu certo. O meu pai é alcoólatra. E a minha mãe se separou dele quando eu era muito pequena, eu tinha uns quatro anos de idade, por conta da questão do alcoolismo, né? E isso é muito comum, né? É muito comum que pessoas negras tenham uma base familiar com mulheres muito fortes. Então, eu já cresci de um lar aonde a minha mãe era mãe e pai, era “pãe”.
(01:51) P1- Sim. Muito bom. Você chegou a conhecer os seus avós, pelo menos de parte de mãe?
R- Eu conheci os meus avós paternos. Eu tive pouquíssimo contato com eles, até os cinco anos de idade. Hoje ambos já são falecidos. Os meus avós maternos, a minha mãe ficou órfã com doze anos de idade. A história da minha mãe também daria um livro. Então, eu não conheci os meus avós maternos. Ela foi criada por tios. Então, eu não conheço.
(02:23) P1- Está certo. Deise, a sua mãe, qual é a profissão dela?
R- A minha mãe não se formou. Ela sempre trabalhou como empregada doméstica e cozinheira. Ela sempre foi empregada doméstica, babá, cozinheira. Sempre trabalhou na informalidade. Nunca teve um registro em CLT.
(02:43) P1- Certo. Deise, você já contou sobre como é a estrutura familiar numa família de origem africana, afro-brasileira, negra, né? Você lembra, na sua infância, de alguma tradição, assim, de comida, de música, de dança, de alguma festa, que seja específico do pessoal da...
R- Bom. Minas Gerais, Uberaba, é muito forte a presença da família afro-brasileira. E também é muito forte a presença da fé católica. Então, eu sou católica de berço. As festas que eu me lembro, são sempre festas, assim, de São João, de padroeiros, né? Festa de Nossa Senhora de Aparecida, Nossa Senhora da Abadia. Inclusive, a minha mãe é Maria Aparecida, por conta de Nossa Senhora. Ela nasceu em outubro. Então, o que tenho muito forte das tradições famiiares é essa questão da fé, né? E nós nascemos em berço, como eu disse, eu nasci em berço católico. Então, as festas que eu me lembro são sempre relacionadas a isso. Eu tive uma infância muito, muito pobre, muito, muito difícil. Eu nasci num contexto que eu tinha tudo pra não dar certo, né? Pai alcoólatra, uma cidade muito pequena, onde o pessoal trabalhava na roça. A minha mãe já catou algodão, plantou batata, colheu café. Eu me lembro quando eu era, assim, muito pequenininha, eu tinha uns quatro anos, a minha mãe tinha que me levar pra lavoura, com ela, porque ela não tinha com quem deixar em alguns períodos do ano, né? E pra mim era super divertido. Ela me colocava num saco de estopa. E, enquanto ela trabalhava na lavoura, eu comia café maduro, pra matar a fome. Então, assim, eu não tive muitas festas na minha infância. A minha infância foi muito difícil. A gente passou muita necessidade. A gente chegou a não ter roupa, calçado, a não ter comida. A minha mãe chegou a precisar de caridade, né? Então, eu me lembro de que a gente fazia, às vezes, uma refeição por dia, né? E sentia fome antes de dormir, né? E aí a mãe falava: “Vamos dormir, né? Amanhã a gente come”. Então, isso foi muito positivo, por um lado, porque hoje eu sou uma pessoa que como de tudo, não desperdiço nada, porque na minha infância, muitas vezes, a minha mãe fez broto de chuchu, broto de abóbora, broto de bambu. O meu irmão pescava pra gente comer, comia aqueles peixinhos pequenininhos, que ainda não tinha criado, nos córregos. Foi uma infância bastante difícil. E eu tenho boas memórias, a gente comia passarinho. Hoje eu não comeria, “tadinho”. Eu já comi capivara, preá. Mas o meu irmão matava, caçava rolinha com estilingue, assim, pra gente matar a fome, né, pra comer com arroz. Então, assim, festas, abundancia, é uma coisa que eu não tenho muita lembrança. Eu lembro de festas em sítios, nessas épocas, sempre relacionada à religião, sempre assim. Do restante, foi assim, uma infância bem complicada, né? A gente não tinha Natal, presente de Natal, Páscoa com chocolate. É bem difícil, né? Estruturalmente, a gente, como o racismo é uma questão estrutural, então a gente já vem com várias, várias disparidades, né? Então, é muito difícil. As minhas memórias, eu tenho memórias muito tristes da infância, mas eu tenho memórias afetivas muito boas, né? A minha mãe sempre foi uma mãe muito carinhosa, muito afetuosa. Então, amor, a gente não faltava, na infância. Então, tinha muito amor. O meu irmão acabava tendo que cuidar muito de mim. Como a minha mãe trabalhava, às vezes, em dois empregos, pra poder conseguir nos sustentar, o meu irmão, com seis anos de idade, eu tinha só um ano de idade, ele que me levava pra creche. Ele que cuidava de mim, penteava meu cabelo. A memória mais afetiva, relacionada à cultura, que pra mim é sensacional, é a questão do cabelo, né? O cabelo. Eu me lembro de sentar no meio das pernas da minha mãe e ela trançar o meu cabelo. Então, era o momento ali, meu e da minha mãe. Então, assim, o cabelo, infelizmente, era motivo de bullying na escola, né, o cabelo de pessoas pretas, então: “O teu cabelo é ruim. Teu cabelo é duro. Teu cabelo é de Bombril”. E aí, a minha mãe, até pra eu passar menos constrangimento, né, a trança é um símbolo de resistência na nossa família, né? Então, era pro cabelo ficar arrumadinho, né? Aquela coisa da gente é pobre, mas é limpinho, né, pra não pegar piolho. Então, a minha mãe trançava o meu cabelo. Eu lembro que ela me colocava no meio das pernas dela e ali eu passava duas horas, com a minha mãe trançando o meu cabelo. E aquilo me traz muita ancestralidade, né? A mãe dela fazia com ela, a avó dela fazia com ela, né? A gente tem, historicamente, a gente sabe que tranças datam de 3000 antes de Cristo, né? É lá do Egito, dos primeiros africanos do continente, né? Símbolo de tribo, de guerra, de resistência, né? Os escravos brasileiros usavam pra guardar semente, pra plantar nos quilombos. Então, é uma coisa que eu carrego até hoje, a questão das tranças. Então, não é uma comemoração. Não sei se eu respondi. Mas é algo que me traz muito essa questão da ancestralidade.
(08:14) P2- Agora, o trançar o cabelo, assim, você falou da sua mãe, né? Dessa força da sua mãe de trançar o cabelo, né? Qual é a memória afetiva que você tem, desse momento com a sua mãe?
R- Eu me lembro que era um momento que era só nosso. Era uma coisa muito peculiar e muito particular. Naquela hora, ela contava as histórias dela, que ela lembrava da infância. Ela dizia que o meu avô deitava na rede, que ele tinha um radinho de pilha. E aí ela contava que a avó dela era negra com índio e que a avó dela também fazia essas tranças. E aí eu viajava, naquele momento, pra períodos onde não podia saber, se ela não contasse, né? Era ali que ela cantava pra mim. Era ali que ela colocava as expectativas, que ela dizia que eu ia ter um futuro próspero, brilhante, que eu era especial. Então, era um momento, eu não sei nem explicar, era muito lúdico pra mim, trançar o cabelo.
(09:16) P1- Sim.
(09:17) P2- Era um momento de vocês duas?
R- Era bem íntimo, sabe?
(09:22) P2- Aham.
(09:23) P1- Mas isso que você disse de trançar o cabelo, já é uma parte da resposta da pergunta que eu fiz, porque qualquer coisa cultural, que eu perguntei, né, de comida, de música. Essa parte do cabelo é exatamente isso, né? É a herança cultural que você tinha, não é?
R- E era um ritual.
(09:46) P2- Era um ritual.
R- Era um ritual semanal.
(09:48) P1- Sim.
(09:49) P2- Ô, Deise e, assim, você está falando assim, dessa infância, primeiro, dentro de um ambiente rural. Onde que vocês moravam, assim? Como vocês tinham esse acesso, assim, ao rio pra pescar, ao lugar pra tirar esse alimento da terra?
(10:07) P1- Você tem essa imagem?
R- Tenho.
(10:10) P1- Desculpa, eu te cortei.
R- Era uma cidade muito pequena, minúscula. Pra vocês terem uma ideia, quando eu era bem criança, não tinha nem transporte público, porque não tinha necessidade, todo mundo andava a pé, a cavalo ou de charrete. E, assim, a estruturas, as imagens... a gente morou em várias casas, porque a gente morou de favor, a gente morou em troca de cuidar do lugar. E toda casa parecia uma chácara, porque a rua era asfaltada ou de paralelepípedo, em Minas tem muito paralelepípedo. Mas o quintal sempre era de terra, então a minha mãe plantava chuchu, cebolinha, plantava as coisas pra consumo. E sempre perto da nossa casa, parecia uma chacarazinha, tinha córrego. A gente tinha fogão a lenha. As casas lá em Minas, ainda, nessa cidade, ainda são muito, a estrutura física delas é muito antiga, assim: as janelas de tramela, de madeira. Não sei, sabe tramela, assim? Não tinha tranca, não tinha fechadura na porta, né? Eu me lembro que, quando eu tinha uns cinco anos de idade, na casa da minha madrinha, eu acordava e, ao invés de eu sair pela porta, eu pulava a janela e já ia brincar. Já ia descalça pro quintal, sem escovar dente, sem nada. Eu acordava, pulava a janela e ia brincar. Quando a minha madrinha via, eu já estava brincando. Eu fui cuidada por muitas pessoas. Por isso que eu falo do meu irmão, da minha madrinha, porque a minha mãe tinha que trabalhar. Então, ela tinha que deixar os filhos, pra cuidar dos filhos de outras pessoas, pra que ela tivesse dinheiro. Então, ela foi babá, foi cozinheira em restaurante, trabalhou na lavoura, também e foi empregada doméstica. E ela tinha que fazer isso em tempo integral, porque senão não dava. Não dava. Aluguel sempre foi muito caro, né? A gente já morou em vários lugares. Mas eu me lembro especialmente desse lugar que parecia uma chacarazinha, onde a gente tinha um fogão a lenha. Onde o meu irmão saía pra soltar pipa, ia pescar no córrego. Mas era um ambiente bem ruralzinho, mesmo.
(12:08) P1- Sim.
(12:090 P2- Como é que chama o teu irmão?
R- É até hoje, tá? Oi?
(12:13) P2- O seu irmão, como ele chama?
R- O meu irmão chama Douglas. Douglas Fabiano Donizete. Ele é cinco anos mais velho que eu. E ele foi a figura masculina presente na minha vida, desde sempre, assim. Ele foi o mais próximo de um pai que eu tive.
(12:32) P1- Sim. Sim. Ô, Deise e na escola, como foi? Você, primeiro, ia na creche, né? Depois você começou a frequentar a escola? Era longe? Você ia a pé até a cidade? Como _______ (12:46)?
R- É. Aí a gente tem que entrar, ali, na questão da mudança de estado, né? Quando eu era bem pequenininha, eu ia pra creche. O meu irmão levava pra creche. Eu sempre fiquei em creche e escolinha. E eu sempre fui uma criança muito comunicativa. E eu gostava muito de ler. Eu andava nas ruas lendo placas, o tempo todo. Eu perguntava pra minha mãe o que estava escrito ali, o que está escrito aqui. E eu tenho lembrança de que, na escola, a minha mãe, por ter tanta dificuldade, sempre foi muito exigente, né, com relação a escola. E ela sempre conversou comigo, que eu precisava estudar muito, né? E que, por conta da minha condição, eu não podia ser menos do que a melhor aluna que tivesse na escola. E eu levei a ferro e fogo. E aí, quando eu tinha sete anos de idade, eu ganhei um prêmio por uma história que eu escrevi, né, um livro, uma ilustração que eu fiz sobre um livro. E aí eu me mudei. Nós nos mudamos pra Rio Preto, em 1996. A gente veio na boleia de um caminhão. A minha mãe conheceu um caminhoneiro. Ela cozinhava nessas obras de empreita, ficou conhecendo um caminhoneiro, trinta anos mais velho que ela, chamado Silvério. E aí ele resolveu trazer a gente embora, né? Se apaixonou pela minha mãe, viu a condição que a gente vivia, também e trouxe a gente pra São José do Rio Preto. A gente chegou aqui de caminhão. Nunca vou me esquecer. Eu era bem pequena, mas eu me lembro. O primeiro bairro que a gente morou aqui foi o Solo Sagrado. Então, eu estudava numa escola chamada Doutor Oscar de Barros Serra Dória. Então, foi ali que eu comecei a minha jornada acadêmica, né? Eu fiz segunda série, terceira série, ali. Eu sempre fui muito, muito dedicada, muito aplicada, né? Por todos esses motivos que eu falei. Ali na Oscar de Barros Serra Dória eu ganhei, inclusive, um prêmio entregue pelas mãos do prefeito Liberato Caboclo, como aluna exemplar, honra ao mérito. Eu tenho tudo isso documentado, né? Eu tenho lá o certificado. Então, aí eu comecei a minha jornada. E eu me lembro que eu era muito boa aluna, muitíssimo boa aluna. Amicíssima de todos os professores. Mas eu sempre estudei muito, eu estudava bastante. Eu coloquei estudar, como a minha, assim, tábua de salvação. O meu irmão, não, viu? O meu irmão foi o meu oposto. (risos)
(15:15) P1- Foi o oposto?
R- É. Mas aí eu me dedicava muito. Sempre tive excelentes notas. Era a melhor aluna da escola, assim.
(15:26) P1- E o que você gostava mais, das disciplinas?
R- Ah, com certeza, Português, História. Porque eu sempre gostei muito de ler. Muito novinha, eu já inventava poemas, poesias, sonetos. Então, eu lia muito, muito, muito, muito, sempre, dois, três livros por semana, na minha infância. O que não era nada comum, né? Então, eu li a série Vagalume quase inteira, antes dos doze anos de idade. Então, assim, Português e História eram as minhas matérias favoritas.
(16:03) P1- Certo. E como foi essa mudança pra São José do Rio Preto? Deve ter sido um choque, né? Mesmo sendo um lugar simples, né? O Solo Sagrado eu cheguei a conhecer, é um bairro muito bom, eu achei, aí em São José do Rio Preto. Eu fui na Padaria Pão Sagrado, que tem lá, né?
R- É.
(16:26) P1- Mas pra você, foi uma mudança muito grande? Porque era um lugar praticamente rural e você foram pra um lugar urbano, né? Como foi na sua cabeça, isso aí?
R- É verdade. Eu estava num sonho, num paraíso. Porque a gente veio de uma pobreza extrema. E aqui no estado de São Paulo isso é muito diferente, vocês não têm noção. Lá onde eu morava, faltava tudo, né? Faltava comida, faltava o mínimo pra se viver. E aí, quando chegou aqui, o meu padrasto era registrado numa empresa. Então, ele tinha salário e CLT. Isso, pra nós, era novidade, né? E a minha mãe começou a trabalhar de doméstica, aqui, também. Então, tinha dois salários. Então, assim, pra mim foi fantástico. Era muito grande, claro que a gente ficou assustado. Teve a questão cultural, porque o mineiro puxa o R. Então, quando eu entrei na escola, as pessoas falavam que eu era baiana, porque eu falava verde, porta, né? E o mineiro fala meio cantado, também, né? Então, eu cheguei falando: “Uai, sô. Como é que esse negócio aqui chama? Ué, onde que eu tô? Pra onde que eu vou?”. Então, eu sofri um pouco essa questão: “Ah, você é de onde?”, né? Hoje eu não tenho mais sotaque. Eu vivo aqui, a vida inteira. Mas na verdade foi uma mudança muito positiva. Muito positiva, Luís Paulo. A gente saiu de uma pobreza muito extrema. Então, quando eu cheguei aqui, eu achei que a gente estava rico, porque tinha comida todo mês, a geladeira cheia, né? Por mais que... tinha dificuldade? Tinha. Mas em vista do que a gente passou, a gente passou fome, né? Então, assim, quem passou fome, gente, é muito difícil. É muito duro você passar fome. Então, a hora que chegou aqui, pra nós estava tudo certo. A família do meu padrasto era muito grande, ele tinha sete filhos, um monte de netos. Então, era aquela alegria, né? O paulista faz churrasco, confraterniza, né? Lá em Minas, a gente confraternizava com comida de panela, de tacho, né? Então você perguntou as festas, era assim: frango com quiabo, peixada, feijoada. A culinária, eu cozinho muito bem, porque a minha mãe cozinha muito bem e ela passou isso pra mim. Então, feijoada, rabada, peixada. Aqui, não, aqui tinha churrasco.
(18:40) P2- Canjiquinha.
R- É, isso. Canjica, que delícia! Aqui tinha churrasco. E aí a gente achava o máximo, que o pessoal assava carne quase todo final de semana. “Meu Deus, que delícia!”, né? A gente comia carne uma vez no ano, quase. (risos)
(18:57) P1- Está certo.
(18:58) P2- Ô, Deise, ainda dessa passagem de Piá pra São José do Rio Preto, o que você se lembra da viagem, né? Assim, é um mundo, né?
(19:08) P1- Sim.
R- É. Eu me lembro que o caminhão balançava muito. Se fosse hoje, não seria possível a gente vir de caminhão. Acho que não pode, né? Mas, assim, há quase trinta anos, podia-se tudo, né? Então, a gente viajou no caminhão. E eu lembro que a gente parou em Fronteira, pra almoçar. E eu nunca tinha ido a um restaurante na minha vida toda, né? Na minha vida toda de seis anos. E a gente foi num pesqueiro, uma espécie de pesqueiro em Fronteira. Um restaurante chamado Peixe Vivo. E ali, eu assim, não acreditava. Foi, assim, uma coisa muito prazerosa, né? Parecia que eu estava mudando de mundo, de universo. E aí o meu padrasto parou o caminhão pra gente comer e tudo o mais. Eu me lembro que tinha um rio, ali em Fronteira. A paisagem era muito bonita. E eu lembro que eu sentei num restaurante, assim, pela primeira vez, nessa viagem.
(20:05) P1- Que legal! Ô, Deise e em Rio Preto, quais são as suas memórias, assim? Porque a vida melhorou, né, como você contou pra gente, né? E o que você fazia pra se divertir, assim? O que você lembra de Rio Preto? Vocês faziam algum passeio pela cidade? Rio Preto tem um monte de lugar pra ir, né? E o que você lembra, assim, dessa novidade de Rio Preto?
R- Então, aí a gente morou dois anos no Solo Sagrado. Os passeios que a gente fazia eram muito passeio da escola, né? Aí eu conheci o bosque, isso na minha cidade não existia, né? Então, a escola levava a gente no bosque, levava a gente não sei onde, na represa, na biblioteca. Ah, e uma coisa que em Rio Preto, eu sou apaixonada: a Biblioteca Municipal. Quando eu fazia - eu já não morava mais no Solo - curso, eu fiz curso de espanhol lá no Monsenhor. E aí, pra eu não ter que pagar duas passagens, a minha mãe, eu tinha que esperar um tempão no Centro da cidade, até dar a hora de ir pro curso, sabe? E aí eu entrava na Biblioteca Municipal. E, de verdade, é lá o lugar que eu mais me divertia em Rio Preto. Eu ficava horas sentada ali, lendo. E eu achava o máximo que a gente podia pegar o livro emprestado e levar pra casa e depois a gente podia devolver. Então, assim, o que eu mais me divertia era isso. E aí, no final de semana, era com a família, com a família do meu padrasto. A gente não fazia grandes passeios. Os grandes passeios que eu fiz, foi trabalhando, né? A minha mãe continuou trabalhando de doméstica, aqui. A gente não tinha uma vida, assim, boa, ainda. É que a gente veio de uma miséria, de uma pobreza extrema. Mas aí eu comecei, nas minhas férias, eu ia com a minha mãe pro trabalho dela, né? A ajudava nas faxinas e tal. E foi assim que eu acabei trabalhando de babá. Com treze anos, eu já comecei a ser babá, no trabalho dela, que tinha duas crianças e eu olhava. Aí foi de babá que eu comecei a passear. Eu conheci o Palestra Esporte Clube. Eu conheci o Thermas. Porque aí, eu trabalhando de babá, tinha que ir junto com essas duas crianças, né, com essa família. E aí, foi onde eu mais passeava. Mas a gente ainda batalhava muito, né? O meu irmão fez Arprom. Família tradicional rio-pretense, né? O meu irmão fez Arprom. E eu, trabalhando de babá, foi onde eu mais passeei. A gente não teve, eu não tive uma infância de grandes passeios. Praia, eu só fui conhecer com quinze anos, quinze anos de idade. Então, assim, a gente não tinha condições pra isso, tá? Mas eu fiz alguns... aqui, pra mim, já era tudo ótimo. Represa, gente, a represa, pra quem não é de Rio Preto, é sensacional. É uma atração turística, né? Tomar água de coco na represa, eu achava o máximo, né? Andar na represa, pra mim era passeio. E shopping, que era uma coisa que também não tinha. Lá em Piá não tem Mc Donald's, não tem Habib’s. Então, assim, eu fui teletransportada. Então, os nossos passeios eram isso.
(23:00) P1- Sim.
(23:01) P2- Ô, Deise, você falou que o seu irmão fez Arprom. O que é Arprom?
R- Arprom é uma instituição de menor aprendiz, aqui em Rio Preto, muito tradicional, onde você faz um curso pra ser inserido no mercado de trabalho, né? E foi aí que ele conseguiu o primeiro emprego. Então, você faz um curso e aí, desse curso, eles te encaminham pro mercado de trabalho. E antigamente eles tinham um uniformezinho que era muito conhecido como guardinhas da Arprom, né? Aí coloca esses meninos pra aprendiz. Colocava muito em supermercado, né, pra embalar, pra empacotar. Então, o meu irmão conseguiu, assim, o primeiro emprego dele, por conta dessa instituição, Arprom, que é uma instituição forte aqui em Rio Preto.
(23:43) P1- Deise, e como você foi se desenvolvendo, tanto profissionalmente, quanto na escola, né? O primeiro emprego, você lembra do seu primeiro salário nesse emprego aí, de babá?
R- Lembro, sim. O primeiro salário. Na verdade, não era um salário. Como era bem informal, eu ganhava cinquenta reais pra ficar o final de semana com as meninas. Era muito dinheiro pra mim. Nossa, era um dinheirão. E foi o que me ajudou a pagar o transporte, pra eu começar esse curso de espanhol, né? Eu me lembro, sim. Bom, como foi? A gente se mudou pra Talhado, que é um distrito de Rio Preto, que é uma zona rural. Aí nós voltamos pra chácara. Lá, meu padrasto se aposentou, ele quis comprar uma chácara. Então, aí foi a parte que eu mais me dediquei assim, por exemplo, pra estudar. Eu andava dois quilômetros, todos os dias, a pé, pra pegar um ônibus, pra ir pra escola. Todos os dias. No comecinho, quando eu estava no ensino fundamental, eles tinham uma perua da prefeitura, que pega a gente na porta de casa, o pessoal do sítio, né? Então, o pessoal do sítio pegava essa perua. E tem uma escolinha lá na cidade, lá em Talhado, no distrito. Chama João Deoclecio da Silva Ramos, eu estudei lá. E eu sempre ________ (25:03) pra ficar muito a frente, acima da média dos outros alunos. E, por conta disso, eu consegui conquistar alguns espaços, né? Esse curso de espanhol que me ajudou muito, lá no Monsenhor. Na época, fazia-se um vestibulinho, né? Depois, eu fui pra uma escola, já no ensino médio isso, chamada Alberto Andaló, que é uma escola muito boa, aqui em Rio Preto, excelente. E lá também eu fui conquistando alguns espaços: Olimpíadas de Matemática, Olimpíadas de Português. Tudo o que tinha, eu participava, né? E aí ficava numa colocação boa, nível estadual. Então aí, os professores são fundamentais nessa jornada, porque eles sempre me apoiaram muito, eles sempre acreditaram muito em mim. Até por eu ser de origem humilde, eu era uma pessoa que tinha apoio de todos os lados, na questão de professores. E aí, depois, nessa casa que eu fui babá, os donos, os meus patrões, tinham um posto de gasolina. E como eu era muito inteligente, muito, assim, comunicativa, muito espertinha, eles me contrataram pra esse posto, na sequência. E aí, eu já fui de babá, para Auxiliar do Comércio I. Comecei a minha jornada do comércio, com dezessete anos. Já tive o meu primeiro registro. Eu trabalhava numa loja de conveniência, no posto de gasolina, ali perto do Schmitt. Mas, na verdade, eu fazia de tudo. Eu era auxiliar administrativo, eu fazia cobrança, se precisasse trabalhar de frentista, eu abastecia, também, os carros. Foi ali que tive contato com clientes, né, que eu comecei a minha jornada profissional, com dezessete anos. E aí o meu primeiro salário, mesmo, nossa! Eu me lembro que eu fui no Centro da cidade – aqui, quando a gente vai no comércio, a gente fala que vai na cidade, né? - e eu comprei, pra mim, um tênis de plástico da moda, que estava na moda, né, que era da Melissa. E era um sonho de consumo, pra mim. Aí eu fui e comprei, com esse primeiro salário. E, na verdade, desde o início, o meu salário, eu sempre ajudei em casa, né? Aí meu padrasto se aposentou, né, recebia só o salário da aposentadoria. A minha mãe continuou trabalhando de doméstica. E aí ficou um pouco mais difícil a questão do transporte. Como a gente morava em chácara, a gente sofria um pouco mais. Era tudo mais difícil, né? Quando chovia, eu lembro de ir pra escola, com sacolinha amarrada no pé. Porque senão, chegava na escola, o pessoal zoava: “Ah! Pé vermelho, do sítio, né? Está com o pé sujo”. Então, eu colocava uma sacolinha amarrada no meu pé e ia no barro. Chegava lá no asfalto, eu tirava a sacolinha e ia pra escola com o pé bem limpinho. (risos)
(27:43) P1- Legal. Ô, Deise, e a partir desse emprego no posto, você já começou a focar que você queria trabalhar no comércio, ou você tinha outros sonhos? Você era uma excelente aluna. Você não pensou, teve algum sonho de ir pra algum caminho? De uma faculdade, alguma coisa assim?
R- Sim. Eu prestei Letras na Unesp. E aí eu fiz Enem. E o que aconteceu? Eu tirei – em 2005 foi o meu Enem – a nota máxima, assim. Eu tive cem, a pontuação cem, na redação.
(28:20) P2- Nossa!
R- E aí, o que aconteceu? Eu tinha que escolher entre fazer Letras na universidade pública, ou cursar Comunicação Social no particular, cem por cento financiado pelo Prouni. E, na verdade, eu prestei Letras porque, assim: “Unesp. Você é inteligente, faz que você vai passar”. Mas eu queria ser jornalista, gente. Eu queria ser jornalista, publicitária, algo relacionado a comunicação. E aí eu resolvi ir pra Unirp, pelo Prouni. Ao invés da faculdade pública, eu optei pela particular. Eu trabalhava, então, lá no posto, lá na conveniência, no comércio. Porém eu fazia faculdade na Unirp. Entrei lá em 2007, cem por cento. Pela minha pontuação no Enem, eu fui a aluna bolsista de cem por cento, não pagava nada. Só pagava o transporte e pagava meia, né, lógico. E aí, em 2007, eu comecei a fazer Comunicação Social. Naquela época, Publicidade e Jornalismo era junto, no primeiro ano. Você fazia Comunicação Social e depois pegava habilitação em Publicidade ou em Jornalismo. Só que aí, no meu primeiro ano de faculdade, que eu achava que queria ser jornalista, eu decidi que eu queria ser publicitária. Aí eu falei: “Não. Não é Jornalismo que eu quero. Eu quero a Publicidade”. A questão do Jornalismo foi muito por conta da escrita, né? Eu era uma ótima redatora. Inclusive, na faculdade, eu fazia trabalho pra ganhar dinheiro, viu, gente? Ai, meu Deus! (riso) Eu fazia o meu trabalho e fazia o trabalho de outras pessoas. Trabalho escrito. Naquela época, tinha que entregar em papel almaço, gente, tudo manuscrito. Ainda mais faculdade de Jornalismo, né, de Publicidade. E aí eu fazia o meu trabalho e fazia o trabalho dos outros. Até que um dia eu tirei uma nota maior no trabalho que tinha feito pro outro aluno, do que no meu. Aí eu parei. Eu sou muito competitiva. Aí eu falei: “Isso não é justo. Eu estou competindo comigo mesmo e perdi, né?” Mas eu fiz, eu fui bolsista na Unirp, em 2007, 2008 e 2009, eu estudei lá. Não terminei a faculdade. Aí eu não sei se a gente vai voltar na minha jornada profissional...
(30:31) P2- Vai.
R- ... mas eu não terminei, por conta que em 2009 eu fiquei grávida e tive o meu primeiro filho. E aí eu fiquei de licença da faculdade. Mas quando foi pra voltar, eu tinha um bebezinho, aí eu tinha a faculdade e eu tinha que trabalhar, porque eu não tinha condições de eu não trabalhar. E aí eu optei em não voltar pra faculdade, trabalhar e cuidar do meu filho, do meu primeiro filho, então foi por isso que eu larguei a publicidade. Porém, depois eu fiz, em 2018, eu comecei a fazer... 2017, 2018, 2019. Em 2017 eu comecei a fazer EAD, né? E aí eu fiz tecnólogo em Marketing, pela Unopar. Então, eu consegui concluir. Hoje, eu sou analista de marketing. Eu fiz à distância, que era como me permitia a situação aí dos meus dois filhos. Mas o sonho da publicidade não morreu, não. Eu consegui, eu estou na área, de um jeito ou de outro, né? Questão de Mmarketing, Publicidade, comércio, gente, vendas, o que me ajudou em vendas a minha vida toda, foi a questão de gostar de Marketing e Publicidade.
(31:41) P1- Sim. Sim.
(31:42) P2- Maravilha. Vamos voltar um pouquinho na questão do posto, ali, que você falou, assim, que foi lidar com o público, lidar com clientes. Assim, você falou que teve várias funções, né? Mas, assim, tem uma coisa específica? Como funciona a loja de conveniência em posto, assim? É um comércio muito específico, né, Deise?
R- É. Muito, muito específico. Era assim: eu tinha que atender no balcão da loja de conveniência. Só que, como ele é um posto na beira da vicinal, o movimento na conveniência era muito pontual, era na hora do almoço. Porque aí o pessoal das empresas locais vinha, pra poder tomar um sorvete. Era o horário do almoço deles, vinham comprar um cigarro e tal. Então, eu ficava no administrativo do posto, atendendo telefone, fazendo cobrança. E na hora do almoço, eu ficava na loja de conveniência. E era uma loja, também, que vendia, que vende produtos artesanais, por ser de beira de estrada, né? Posto de beira de estrada é diferente, então a gente vendia plaquinha decorativa, né? Além de bebidas. O movimento maior, ali, era sempre depois das seis, o pessoal quer tomar uma cervejinha, a hora que saía do expediente, principalmente na sexta-feira. Então, ali eu tive contato, o primeiro contato meu de comércio, da pessoa, de atendimento ao público, de atender cliente, foi ali no posto. Eu gostava bastante. Eu sempre conversei muito e aí eu ficava ouvindo as histórias das pessoas. Eu achava incrível. O que eu mais achava incrível no comércio, o que eu mais acho, é poder conhecer tanta gente, tantas histórias. E eu descobri que, às vezes, o ser humano só quer ser ouvido, ele quer que você escute a história dele. E aí eu parada, ali no balcão, ficava ouvindo as histórias das pessoas. Era sobre relacionamentos; eram mães falando dos seus filhos; eram pais falando das suas carreiras, dos seus carros, dos seus filhos. E eu só tinha que ouvir, responder, sorrir. E eu ouvia, eu sempre ouvia com presença, né? Eu ouvia, realmente, aquilo que a pessoa estava me dizendo. Eu aprendi muita coisa, ouvindo conversas de pessoas mais velhas, comigo. Porque no comércio é multigeracional, você escuta, ali, pessoas de todas as idades. Então, eu escutava e aprendia com aquelas pessoas. Isso é fantástico no comércio, você conhecer gente. É muito incrível.
(34:06) P2- Você lembra de alguma dessas histórias, assim, que te marcaram?
R- Ah, são muitas, muitas histórias. Eu lembro, sim. Eu lembro de uma história de uma moça que chegou lá na conveniência, muito, muito triste, né? Dizendo que ela, o relacionamento dela não estava legal e tudo o mais. E ela era mais velha que eu, assim, eu tinha dezessete anos, ela devia ter uns trinta anos. E aí eu lembro que eu conversei com ela, na imaturidade dos meus dezessete anos, eu falei: “Olha, eu acho que você precisa cuidar um pouco mais de você, né? Você precisa se priorizar um pouco mais, né?”. E aí ela falou: “Nossa! Você não sabe o bem que fez você falar isso pra mim. Porque eu acho que era tudo o que eu precisava ouvir hoje, né? Que eu quero ser protagonista da minha história”. Isso me marcou profundamente, isso que ela falou pra mim, naquele dia: ser protagonista da própria história, né? Foi uma troca que a gente teve. Eu não lembro nem o nome, gente, da pessoa. Mas é uma coisa que eu carreguei pro resto da minha vida: seja protagonista da sua história. Não deixe que as pessoas vivam a sua vida, por você, né? E uma coisa, ainda, que ela saiu dali e falou pra mim, ela falou: “Olha, nunca mais eu vou cobrar dos outros a felicidade que eu quero pra mim, né? Porque é um peso muito grande pro outro, te fazer feliz. Então, agora, eu vou cuidar de me fazer feliz”. E eu juro, eu carrego isso, assim, pra minha vida. É muita responsabilidade a gente depositar a nossa felicidade no outro. E depois eu a vi algumas vezes, mas eu também não perguntei que fim levou o relacionamento. Eu acho que se ela se sentisse à vontade, ela teria dito. Mas ela não sabe, até hoje, que eu guardei esse diálogo, assim, pra vida, carreguei isso comigo, pra sempre.
(35:58) P1- Que legal!
(35:59) P2- Bacana. E histórias engraçadas, você tem?
R- Ah, histórias engraçadas de comércio, tem muitas, gente. Assim, principalmente depois, né? Porque aí eu fui pra Tintas Brenda, que era do lado. Porque, conversando, eu conheci o dono da Tintas Brenda, que era do lado do posto. E aí, num dado momento, o meu patrão não podia mais arcar com o meu salário, o posto passou por uma crise. E aí o dono da Tintas Brenda falou: “Não. Essa menina, se você for dispensá-la, eu a quero pra mim”. E aí foi o meu primeiro trabalho como vendedora, mesmo. Ah, histórias engraçadas? Ai, gente, deixa eu tentar lembrar que, assim, na hora, a gente esquece. Porque tem sim, tem bastante história engraçada, né? É que é difícil a gente lembrar, assim, no momento. Mas eu vou lembrar e aí eu falo pra vocês.
(36:51) P2- Tá bom. Mas aí você foi, então, pra Tintas Brenda? Era do lado?
R- É, aí eu fui vender tintas. Era do lado, do lado do posto. Eu não fiquei desempregada nem sete dias. O meu patrão me dispensou e aí o dono da Tintas Brenda me contratou. Aí eu fui vendedora lá, de tintas. Aprendi tudo sobre tinta. Aprendi lidar com representante comercial, porque aí a gente que é vendedora, tinha que lançar pedido. Mas eu fique pouquíssimo tempo ali, também. Depois eu fui ser vendedora porta a porta, que foi o meu grande aprendizado. Fui trabalhar pra vender plano corporativo de celular. Então, ali teve muito... o porta a porta, no comércio, é a verdadeira escola, né? São José do Rio Preto é uma cidade muito, muito quente. É muito calor. Faz muito calor, aqui. E aí eu tinha que vender nas empresas, porta a porta, de maletinha. Vendedora mesmo, clássica, né? De chegar, pedir pro cliente pra gente ser atendido e tudo o mais. Então, aí eu fiquei três anos trabalhando porta a porta. E foi, para mim, a grande escola de vendas.
(38:02) P1- Sei.
(38:03) P2- Era plano de celular pra empresas?
R- Isso. Plano corporativo de celular. Quando lançou isso no mercado. Os celulares eram em regime de comodato. Então, o cliente fazia um plano e aí ele podia escolher os celulares. Naquela época, celular era... bom, até hoje, a questão do consumo, a questão da tecnologia... gente, aquela época, o celular moderno era V8, era Blackberry, celular desse tamanhozão, assim. Então, a gente tinha que oferecer pra empresa, como forma de economia, né? Porque a empresa utilizava uma linha telefônica, pra fazer chamadas pra telefone móvel. E eu ganhei grandes prêmios, trabalhando como vendedora de plano corporativo. Ganhei um prêmio como melhor vendedora regional, fui lá em Itu, receber esse prêmio. Competia com vendedores muito bons, mais velhos que eu. Mas a questão minha sempre foi a dedicação ali, o foco na pessoa, no cliente, ouvir o que ele tinha pra dizer, procurar resolver o problema dele, compreendê-lo. Então, eu sempre vendi, no comércio eu sempre trabalhei muito como uma boa ouvinte. Porque o cliente sempre tem a resposta. Então, eu ouvia com bastante atenção e aí eu conseguia chegar numa boa negociação com ele.
(39:29) P1- Sim. Ô, Deise, aí, nessa fase da venda de planos corporativos, financeiramente você teve um salto, né? Você começou a ganhar bem?
R- Comecei a ganhar bem. Eu tive um salto, mesmo. Eu era comissionada. E, naquela época, como eu vendia muito bem, sempre cumpria as metas, eu tive um salto grande, né? Bem grande mesmo. Foi bem bacana essa parte, essa questão financeira.
(40:00) P1- Está certo. A gente pode voltar um pouquinho? Você falou que você foi mãe, né?
R- Isso.
(40:10) P1- E como foi? Foi um choque pra você? Você estava namorando? Você conheceu o seu namorado? Como é que foi? Se você quiser contar, né?
R- Foi, foi assim: eu conheci o meu esposo quando eu tinha quinze anos, ele tinha dezoito. E aí a gente não teve nada sério, porque eu era muito nova, morava lá em Talhado, na época, né? Menininha da zona rural. (risos) E ele, com dezoito anos, já tinha um filho. E isso me assustou um pouco. Principalmente porque a minha família é mineira, tradicional, né? Bem assim, com relação a questões, mesmo, tradicionais, uma família mais sistemática, né? Então, não deu certo por conta disso. E aí, depois eu o reencontrei, eu já estava na faculdade, né? Então, o que aconteceu? Na faculdade, eu o reencontrei, a gente começou a namorar. E aí, sem que houvesse planejamento da nossa parte, eu acabei engravidando. A gente foi morar junto. E eu fiquei grávida. Nós fomos morar junto. Porque nessa época, Talhado, lembra que eu falei que o transporte era muito difícil, ônibus e eu morava numa chácara e tudo o mais?
(41:30) P2- Aham.
(41:31) P1- Sim.
R- Então, quando eu fui pra faculdade, eu fui morar com uma amiga, porque senão, tinha um ônibus pra Talhado que me deixaria meia-noite lá na cidade e eu teria que ir andando até a minha casa no sítio. Então, a minha mãe concordou. Eu saí de casa com dezessete anos, quando eu fui pra faculdade. Tem esse detalhe. (risos) Aí eu fui morar com uma amiga minha, com a família dela e com ela, né? Que é a minha segunda família, inclusive. E aí eu conheci o meu namorado e saí da casa da minha amiga e fui morar com ele. E ai eu fiquei grávida. Assim, foi um choque, porque eu sempre achei que eu ia fazer tudo conforme mandava o figurino, né? Termina a faculdade. Depois, casa. Depois tem filhos, né? A gente tem essa... é tudo programado, mentalmente, pra gente ter essa sequência, né? Socialmente, a gente é educado assim. Então, aconteceu que eu pulei etapas, fui morar junto. E aí, jovem, hormônio à flor da pele, num deslize, engravidei. Acontece.
(42:37) P1- Está certo.
R- Foi difícil, pra mim, abandonar a faculdade. Foi muito difícil. Porque eu tinha dezenove anos. Era o meu sonho, né? E eu não pagava nada na faculdade. Eu consegui ser bolsista, né? Então, o plano estava tudo dando certo, até então. Mas ser mãe foi um divisor de águas na minha vida, porque eu sempre gostei muito de criança, né? Eu fui babá, antes de ir pro comércio. Eu sempre tive muita paciência. E eu sempre tive um exemplo muito bom em casa, que sempre foi a minha mãe. Então, eu falei: “Não. Eu tive um filho. Ele não pediu pra nascer. E eu vou me dedicar a essa criança, porque eu tenho essa responsabilidade e eu quero ser mãe na questão ampla da palavra. Eu não quero que meu filho seja cuidado pelos outros”. Eu fui muito cuidada pelos outros, mas a minha mãe não tinha opção. Então, eu resolvi priorizar, acima da minha carreira e do meu sonho, um outro sonho, que era o sonho de ser mãe, que eu mesma antecipei. E, nessa época, o meu esposo, nesse meio tempo que a gente ficou separado, lá dos meus quinze anos até os meus dezoitos anos, ele teve mais dois filhos. Então, assim, ele tinha três filhos, né? E aí a gente teve mais um. Ele teve um filho por ano, nesse meio tempo que a gente ficou afastado. E aí eu não quis ficar com ele, porque ele tinha um. Aí depois, quando a gente se reencontrou, ele tinha três. (risos) E aí a gente criou uma família incrível, enorme, cheia de meninos. E eu fui mãe na questão bem integral da palavra, assim, bem ampla. Eu era comerciária, né, durante o dia, mas eu era mãe tempo integral. Sempre me dediquei muito ao meu filho, à noite. Final de semana eu era aquela mãezona, né? E foi um divisor de águas, pra mim. Eu amadureci muito cedo, por ser mãe cedo, né? Então, eu não sei nem descrever. Existe a vida antes e depois de ser mãe, né? Todo mundo fala isso pra gente, mas a gente só vai saber quando for mãe, mesmo. Porque não tem como colocar a criança de volta no útero. Não tem jeito. Depois que você teve, você tem que cuidar, amar, educar. E aí você estava falando que eu dei um grande salto em termos de salário, quando eu estava vendendo plano corporativo de celular. Mas aí, como eu tive um filho, esse salto não significou muito, ali, pra mim. Porque aí veio a fase das fraldas, convênio, mamadeira, leite. Então, eu acabei ficando na mesma.
(45:16) P1- Sei. E como ele chama?
R- O meu primeiro filho tem o nome do avô dele. Ele chama Osvail de Oliveira Souza Neto. É o avô paterno dele. Então, o nome dele é Osvail. Lá em casa, todo mundo conhece como Neto. Hoje ele tem onze anos. Ele nasceu no dia quinze de agosto de 2009.
(45:39) P1 – Sim.
(45:39) P2- Ô, Deise, como é que você conciliava esse trabalho na venda dos planos com a maternidade, assim? Porque você _______ (45:50), né?
R- Era muito difícil. Nessa época, eu saí, eu fiquei três anos vendendo plano corporativo. E aí eu saí, fui pra uma empresa de comércio de cursos, cursos de idiomas, que é ali no Centro, na XV de Novembro, chamada Microcamp. É uma empresa grande. E aí eu fui pra lá, com o meu filho pequenininho. Ele tinha quatro meses de vida, eu fui pra Microcamp. E fiquei lá, também, de 2010, finalzinho de 2009, né, 2010, janeiro de 2010 eu comecei. Acho que ele tinha sete meses, já. 2010 até 2013, eu fiquei no comércio de informática, comércio de cursos. Eu entrei pra essa área.
(46:40) P1- Legal.
(46:40) P2- E aí você conciliava, né, o cuidar dele? Ele ia pra escolinha, pra creche também? Como era?
R- Aí eu tive o auxílio da minha mãe. Porque, nesse meio tempo, em dezembro de 2009... tudo é permissão de Deus e do universo, né? Meu filho nasceu e meu padrasto faleceu em dezembro. Meu filho nasceu em agosto, meu padrasto faleceu em dezembro. E aí a minha mãe acabou ficando viúva, ali. E aí o meu primeiro filho nasceu. Meu irmão já tinha um filho. Ela já tinha o primeiro neto. E ela começou, ela me auxiliou. Ela foi, assim, fundamental, pra que eu não perdesse a minha jornada profissional, ali. Porque o meu filho nasceu com ALPV, alergia à proteína do leite de vaca. Então, ele não podia ir pra creche, porque o alergologista dele falou: “Olha, se você levá-lo pra escolinha, você vai matar o seu filho, porque ele não pode ter contato nenhum com nenhum derivado de leite”, né? Ele era alérgico. Então, dava choque anafilático nele. Fechava a glote se ele tivesse contato com leite.
(47:45) P2- Nossa!
R- É. Eu descobri isso da pior forma possível, tentando tirá-lo da amamentação, eu dei pra ele aquelas fórmulas, né? E aí ele teve o primeiro choque anafilático dele. E aí ele tinha quatro meses de vida. E aí eu quase perdi o meu filho. Então, ele nasceu com uma alergia. Não é intolerância. Ele é alérgico. Então, a minha mãe cuidou dele em tempo integral. Nesse período, como a minha mãe ficou viúva, ela resolveu ficar lá na minha casa, se mudou pra minha casa, pra cuidar do meu filho durante o dia. Então, durante dois anos, ele não foi pra escolinha. Ele ficava com a minha mãe, no conforto da minha casa. Eu trabalhava tranquilamente, porque minha mãe que estava cuidando dele. Quando precisava levar ao médico, eu levava, aí depois eu deixava com a minha mãe. Então, uma coisa que eu marco, pra mim, na minha jornada no comércio, é que eu sempre fui muito assídua, né? Igual na escola. Então, assim, eu não tive essa questão de faltar no trabalho por conta dos filhos, porque a minha mãe me apoiou muito nisso, né, demais da conta. Então, eu conseguia conciliar. Aí, à noite, era o período que eu ficava juntinho dele. Final de semana, a minha mãe descansava, ia pra casa dela. E eu ficava ali, juntinho dele.
(49:01) P2- Ela continuou morando no sítio?
R- Não. Ela continuou, ela tem a chácara lá, mas aí ela ficou morando comigo. Só ia pra lá final de semana.
(49:09) P2 – Sim. Final de semana. Passar o final de semana. Maravilha.
(49:15) P1- Deise e aí, como foi o desenvolvimento depois dessa parte, depois desse serviço?
R- Bom, aí eu entrei na Microcamp pra ser telemarketing, né, televendedora. Só que aí eu me desempenhei muito bem e aí eu fiquei dois meses no telemarketing, eles me colocaram pra vendedora, mesmo, que é a divulgadora, a pessoa que vendo o curso ali, enfim, pro cliente. Só que aí eu fiquei como divulgadora um ano e meio e fui pra supervisão de vendas, porque eu também me dei muito bem, né? Eu me dedicava muito. O comércio sempre foi a minha paixão. Ali na Microcamp que tem muitas histórias, muitas histórias do comércio. Ali eu vivi situações muito dramáticas, vendendo o curso, porque os pais iam com a criança, conhecer a escola, desejando muito que o filho fizesse um curso de informática, de inglês. E às vezes, chegava na hora, a gente passava o valor, a pessoa não tinha condição. E aí a criança estava ali junto, sabe? E aí você via a decepção dos pais. Foi ali que eu conheci, também, histórias de vida muito bacanas e pessoas que deixavam de pagar uma conta, pra fazer a matrícula do seu filho, pra dar um futuro melhor. E aí era o meu espelho, porque eu via a minha infância difícil. E eu via ali, às vezes, um pai pedreiro, uma mãe doméstica, querendo que o seu filho não tivesse o mesmo futuro: “Não. O meu filho vai fazer um curso de informática, né, pra que ele tenha uma chance melhor no mercado de trabalho”. Então, foi uma vivência bem intensa, pra mim, vender curso pra adolescentes. E o que acontece? Eu sempre fui uma vendedora muito versátil. Eu me especializava naquilo. Então, quando eu fui vender curso, eu sentava com os professores e pedia pra eles me explicarem todos os módulos do curso, o que o aluno ia aprender. Eu lembro que eu vendia curso de inglês e eu não falo inglês. Eu nunca fiz um curso de inglês, a minha mãe nunca teve condição de pagar, né? Só que quando eu vendia o curso, a maioria dos pais achava que eu falava inglês, por conta dessa minha desenvoltura, na hora de explicar o curso, né? Aí eu decorava lá, eu aprendia cinco ou seis frases e, na hora de vender, eu falava essas frases e tudo o mais e aí a pessoa olhava pra mim e falava: “Nossa, eu quero que o meu filho seja desse jeito”, né? Então, foi muito bacana. E aí eu fui pra supervisão. Me desempenhei muito bem como divulgadora. Só que eu fui pra supervisão, foi bem difícil, porque os meus filhos... aí eu tive o meu outro filho. Quando o meu primeiro filho tinha onze meses, eu descobri que eu estava grávida de novo. Ai, meu Deus, foi um caos. Eu fiquei desesperada. Desesperada. Primeiro porque eu achava que ia ser mandada embora, porque eu falei: “Eu acabei de entrar nessa empresa. Estou grávida, tenho um filho pequeno. Estou grávida”. Mas não. Eles me apoiaram, né? Como eu falei, eu era uma ótima profissional, né? Muito dedicada. Então, eu tive o meu segundo filho, o Davi. Hoje ele tem dez anos. A diferença dos dois é um ano e sete meses. E aí eu acabei sendo promovida. No nascimento do Davi, quando eu voltei de licença-maternidade, eu voltei com essa promoção. E virei supervisora de vendas. E aí eu comecei, além de orientar a equipe e desenvolver estratégias ali pra aquele comércio, eu tinha que contratar também as minhas vendedoras, eu que escolhia e contratava. Aí eu contratava os telemarketings, as vendedoras. Então, a Microcamp é uma grande escola de vendas também, né? Aí ali foi aonde eu me desenvolvi mais, assim, em termos de curso de vendas, eu ia pra Campinas, fui pras minhas primeiras convenções de venda, onde você via as pessoas receberam prêmios, viagens, né? Aqueles prêmios mirabolantes, assim. Então, eu comecei a ter uma maturação profissional, porque aí eu já não era mais o time de vendas, a equipe. Eu integrava a parte de gestão de vendas, gestão do comércio. Então, eu tinha que pensar as estratégias. E eu, gente, era muito nova, ainda, né? Eu estava com vinte e dois, vinte e três anos.
(53:36) P2- Nossa!
R- Então, assim, isso foi também um desafio pra mim. Como eu comecei no comércio com dezessete anos, até hoje, é desafiante. Muitas vezes, as pessoas não me davam a devida credibilidade, porque olhavam: “Ah. Essa pessoa tem vinte e três anos, né? Ela é supervisora de vendas?” Então, às vezes, um cliente, por exemplo, pedia pra vendedora: “Chama a sua supervisora aí, o seu superior”. Aí ia eu. (risos) E aí a pessoa olhava, assim, pra mim, às vezes até pessoas, clientes que eram bem mais velhos que eu. Então, eu tinha essa dificuldade no comércio, né, de talvez não passar tanta credibilidade. Mas aí, a hora que eu abria a boca, a pessoa me dava mais crédito, né, entendia que eu sabia o que eu estava fazendo, que eu sabia o que eu estava falando. A Microcamp, eu tenho muita gratidão, pelo período que eu passei lá. Eu tive um diretor que era muito exigente, muito mesmo. Porém, por conta disso, por ser muito severo com relação a metas e vendas, ele acabou me ensinado muita coisa, né? Então, teve muitos pontos positivos, ali.
(54:45) P1- Sim. Ô, Deise, na sua opinião, qual é o segredo da venda, hein? Porque você vendia bem, né?
R- Vendia bem.
(54:54) P1- Como é que você convence?
R- Pra mim, o segredo sempre é focar no cliente. Eu sempre foquei em ser uma solução. Se você focar em vender: “Ah. Eu preciso vender pra esse cliente. Eu preciso bater meta a qualquer custo”, você não vai conseguir. Porque ninguém quer comprar. Você não acorda de manhã e fala: “Hoje eu acordei com a vontade de comprar um negócio. Vou comprar”, né? Então, não. Você compra ou por necessidade, ou porque realmente você fala: “Cara, isso vai me ajudar. Esse produto é bacana”, né? A não ser, assim, tem bens de consumo, coisas como sapato, roupa que, às vezes, a gente vê, acha bonito e compra, né? Mas, assim, quando você fala em serviços, por exemplo, que eu trabalhei bastante no comércio de serviços, né? Lá era cursos de informática. E depois eu fui pra odontologia. Então, assim, a pessoa quer ter um custo-benefício, também tem que ser um bônus pra ela, a venda. Então, sempre, o segredo da venda pra mim, é ouvir o cliente e solucionar o problema dele. E eu sempre fui muito honesta. Se eu percebia que o meu produto não vai solucionar o problema do meu cliente... isso desde lá trás, quando eu vendia porta a porta, plano corporativo: “Olha, “seu” João, o meu produto, infelizmente, não vai solucionar o seu problema, realmente. Eu fiz aqui um diagnostico”. É uma venda mais consultiva e mais humana. As pessoas querem ser ouvidas, querem ter as suas histórias contadas, né? Então, eu sempre fui muito humana, eu sempre criei uma identidade com o cliente. Então, se eu estava atendendo uma mãe, se eu estou atendendo uma mãe e eu falo: “Ah, eu também sou mãe. Tenho dois filhos. Eu sei como é que é, sabe?” Então, se eu estou atendendo uma pessoa que, sei lá: “É que eu estou fazendo faculdade” “Olha, eu também já passei por isso. Na minha época de faculdade foi difícil”. Então, é a pessoa olhar pra você e ver que você é um igual também, né? Que você é uma pessoa. Então, eu acho que esse é o segredo. É você ouvir o cliente, ter a percepção de solucionar o problema dele, colocá-lo como protagonista e colocar os interesses do cliente acima dos seus. E aí sempre dá certo. Nunca são só negócios.
(57:10) P1- Sim. Sim. Deise, e depois? Como é que você deu essa mudança da Microcamp pra... você falou odontologia que você foi vender, né?
R- Isso. Aí eu fui pra odontologia. Pra parte de plano odontológico. Aí já foi a questão de proposta. Aí você... as pessoas te conhecem, falam de você. Nessa época, eu também estava muito forte na gestão de time, gestão de equipe de vendas. Eu fiz um curso chamado Na Medida Gestão de Pessoas, no Sebrae, com a Cristiane Viude. E eu comecei a estudar sobre time, motivação de equipe de vendas, premiação e tudo o mais. E aí eu recebi proposta. Então, aí foi por indicação, eu fui pra odontologia, que foi um desafio muito grande, né? Eu cheguei na clínica pequenininha, não tinha time, eu que tive que contratar as minhas primeiras vendedoras. A dona da clínica me chamou e falou: “Olha, só que você tem que montar a equipe comercial”. Então, imagina que eu saí de uma empresa, onde eu tinha vinte pessoas trabalhando na equipe comercial, pra mim, né? E aí, pra mim, assim, eu era supervisora. E aí eu fui pra uma clínica onde eu tinha que começar do zero, tudo de novo. Montar o time pra começar a vender, ali. E comércio de serviços, que também é difícil. Tudo o que é intangível, é complicado de você vender, né? Você não tem como mostrar, falar: “Ó, é dessa cor. Faz isso”, não. Então, tudo é expectativa que você tem que gerar no cliente. E foi muito legal. Na época, era uma empresa, uma franquia. Quando eu entrei, era franquia. E a sede era em Araçatuba. Eu fui pra Araçatuba fazer curso, aprender. Montei o time e comecei. Depois que eu já estava lá há dois anos, ela se desvencilhou da franquia e virou uma marca própria. E cresceu, depois abriu uma segunda unidade. O time foi crescendo, crescendo , crescendo. E eu fui ficando lá, muito feliz lá, profissionalmente. Ali, eu conheci, a odontologia me trouxe, me colocou perto da questão de saúde, né? Saúde e comércio, né? Coisas que, talvez, eu nunca colocaria juntas. Mas ali eu conheci, também, histórias de vida e percebi o quanto é importante a importância do sorriso na nossa vida. Eu só entendi quando eu estava no comércio de odontologia. O sorriso abre portas, né? O sorriso é motivo de autoestima das pessoas. Então, a pessoa chegava ali com o dente quebrado ou sem o dente da frente. Nossa, o sorriso transformava a vida da pessoa, depois que ela terminava o tratamento, ela era outra pessoa. A gratidão que um paciente sente, depois que ele termina um tratamento odontológico, onde você sanou uma questão, principalmente, de autoestima, de estética, é algo assim... tinha paciente que mandava flor pros dentistas, mandava cesta. Eles tinham um carinho, um amor tão grande por nós, que eles, todo dia, chegavam com uma guloseima: bolo, chocolate. Eu ganhava presente de perfumaria, de paciente. Porque eles colocavam a gente como responsável por aquilo estar acontecendo na vida dele, sendo que ele mesmo era o responsável, ele comprou, mas aquilo fazia muito bem pra eles, como pessoa, como ser humano, né? Então, foi muito bacana, fui muito feliz ali. Fiquei cinco anos e sete meses nessa área. E aí a minha maturação, também, profissional. Comecei a faculdade à distância. Meus filhos já estavam grandinhos. A empresa apostou em mim e financiou essa faculdade, né? Então, isso também era pago pela empresa. Então, era um benefício que eu tinha, devido também à minha dedicação e tudo o mais. Então, foi muita felicidade ali. Fui muito feliz ali.
(01:01:13) P1- Deise, aí você fez EAD. Você é formada em tecnólogo do que, mesmo?
R- Tecnólogo em Marketing, pela Unopar.
(01:01:23) P1- Sim. Era bem a área que você estava trabalhando a odontologia, né? E que você, na verdade, sempre trabalhou. E depois, o que aconteceu, depois dos cinco anos e meio?
R- Aí eu recebi, também, proposta. Por indicação, né? Era um momento que eu estava aberta ao mercado. Porque eu estava um pouco saturada da venda em si, sabe, do atendimento em si. Eu cheguei um momento no comércio... que é muito intenso você vender, né? Era uma venda muito complexa. Cada venda, às vezes, demora, você fica uma hora com o cliente, ali, quarenta minutos, né? E aí eu estava um pouco saturada de ficar no operacional, né? Vendendo, vendendo, vendendo, vendendo _______ (1:02:09). E um outro momento profissional, também. Eu estava fazendo a faculdade, me interessando mais pela questão do Marketing, também. O meu contato maior com agencia, com rede social, uma outra linha da minha profissão, né, que é a parte mais de análise de marketing, de branding. Então, eu me encantei. Eu sou apaixonada por duas coisas: gestão de pessoas, por gente mesmo. Por fazer com que as pessoas, os talentos, não se percam dentro das empresas, que as pessoas encontrem um propósito dentro da empresa. E também pelo Marketing, né? Pra mim, a ideia de que você é que fez o cliente comprar, é sensacional, você mudou o mindset do cliente, você conquistou aquele cliente, seduziu o cliente pra uma coisa que é boa pra ele também. Então, aí eu fiquei aberta, assim, ao mercado. Apesar de estar muito feliz e muito bem lá na clínica. E aí eu acabei recebendo indicação de estar na Benitez & Ramos, na parte de gestão de pessoas. Num primeiro momento como Recursos Humanos, como RH. E aí, quando eu vim conversar e eles viram essa minha formação em Marketing, eu acabei ficando com as duas demandas aqui, nesse comércio. Então, eu sou gestão em gente e também analista de marketing aqui na empresa.
(01:03:27) P1- Sim. E como é que é essa...
(01:03:28) P2- Em que a Benitez & Ramos trabalha? Desculpa, Lu.
(01:03:31) P1 – É a mesma pergunta que eu ia fazer.
R- A Benitez & Ramos é um comércio de ferragens, parafusos, ferramentas. Não tem nada a ver, eu nunca tinha trabalhado com isso, né, de jeito nenhum. É uma empresa que está há vinte e quatro anos em São José do Rio Preto, no mesmo local. E a história da Benitez me conquistou desde o início, né? Começou com cem metros quadrados. Hoje a gente tem mil metros quadrados. Começou com dois colaboradores, a própria família que trabalhava aqui. E hoje é um comércio tradicional. Nós temos trinta e seis colaboradores. No mesmo lugar, aqui na Avenida Potirendaba, há vinte e quatro anos. E é uma empresa de família, né? E eu estava num momento muito família. Tanto que, quando eu me abri pro mercado foi, principalmente, a questão de que eu sempre trabalhei muito aos fins de semana. Tanto lá na parte de cursos de informática, eu trabalhava sábado, eu trabalhava, às vezes, dois domingos por mês. E na clínica também, eu trabalhava sábado até no meio da tarde, né, até uma hora da tarde. E aí, isso me tirava um pouco de qualidade de vida e foco dos meus filhos, da minha família. Era muito cansativo, né? E aí eu comecei a pensar num comércio mais tradicional, num horário mais comercial, né? Lá na clínica eu trabalhava até às oito e meia da noite, né? E aí, aqui na Benitez, eu trabalho das oito às dezoito, que é o comércio mesmo, o tradicional. E a Benitez tem uma coisa que me encanta, que é um comércio, gente, de interior. Você entra aqui dentro, parece que você está entrando dentro de casa, os clientes são nossos amigos, né? A gente sabe o nome dos clientes. Eles tomavam cafezinho com a gente. Agora, eu estou impossibilitada de deixar o cafezinho e o chá, por conta da pandemia, né? Mas, assim, tinha cliente que vinha aqui só pra tomar café, ele não ia comprar nada, ele: “Ah. Vou passar lá na Benitez, pra tomar um café lá na loja”. Sabe aquele comércio aconchegante, que a pessoa se sente bem? Eu tenho cliente que vinha aqui, porque a gente atende bastante construção civil, pra encher o garrafão de água, pra levar pra obra. E isso me encantou: como a Benitez trata as pessoas, como ela inspira o comércio local, né? Em 2012, foi eleito o melhor comércio de Rio Preto, pela Acirp. E eu fiquei encantada, assim. Quando eu entrei, que eu cheguei, eu falei: “Eu acho que é aqui”. Eu me apaixonei pelo projeto, né, que eles me apresentaram um, também, da parte de gestão. E aqui é aquele comércio tradicional, mesmo. É o comercião”. (risos)
(01:06:10) P1- Sei. Muito bom.
(01:16:11) P2- Deise, você falou que a Benitez & Ramos está na Avenida Potirendaba, né?
R- Isso.
(01:06:17) P2- Caracteriza pra gente como é a avenida em termos de comércio, de prestação de serviço, de público. Qual área da cidade ela atende mais?
R- A Avenida Potirendaba tem muito comércio. É bem tradicional o comércio. Tem assim, nossa, é muito diversificado. Tem todo tipo de comércio: lubrificante, móveis, tem supermercado, tem lojinha desde o lojista de brindes, de utilidades, até o lojista de ferragens. Tem aquelas lojas que têm de tudo, sabe, que tem pesca, acessório pra casa. Tem material de construção. Então, assim, tem loja de roupa. É uma avenida bastante, comercialmente, bem caracterizada pelo comércio, mesmo.
(01:07:16) P2- É bem movimentada?
R- Muito movimentada. É um trânsito bem intenso. Tem restaurante. E a principal característica dessa avenida é comércio, mesmo. Não tem, assim, indústrias grandes, empresas de outros segmentos. É tudo comércio, a avenida inteira, dos dois lados.
(01:07:35) P2- Ô, Deise, agora você falou de um momento importante, né? Eu queria que você falasse como vocês foram percebendo, assim, a chegada da pandemia? Na loja, assim, como é que foi? Vocês foram se adaptando? Quais foram os desafios e aprendizados, aí?
(01:07:52) P1- Se tem delivery, por exemplo.
R- Ah, sim. Foi aquele susto geral, né? Aquele choque. Eu me lembro que o último evento aberto ao público que eu fui, foi no dia seis de março do ano passado. Eu fui receber uma homenagem na Câmara, até por ser mês da mulher, reconhecida como mulher comerciária de destaque na cidade. Foi lindo. Os diretores aqui, foram, o diretor com a esposa. Foi o último momento que eu lembro, assim, de público. E aí foi um cenário, assim, muito hostil, a gente também levou aquele choque. A gente não sabia, de verdade... eu acordei naquele dia, acho que foi vinte e três de março que a gente tinha que ficar fechado, eu acordei com aquele pensamento, assim: “Só sei que nada sei”, sabe? “Eu não sei o que fazer. Eu não sei o que está acontecendo. E eu não sei o que vai ser”. Só que a nossa primeira preocupação, desde o início, sempre foi as pessoas, né? Então, a primeira coisa que a direção fez, foi reunir os gestores e dizer: “Olha, nós não vamos demitir ninguém. As pessoas precisam do emprego, pra cuidar das suas famílias. Então, assim, a última coisa que a gente vai fazer, é demitir. Se vocês não demitiram até agora, agora vocês não vão demitir ninguém”. Foi a primeira postura da empresa. E aí a gente foi entendendo aquele cenário de caos na saúde mundial e a gente foi buscando informação, aprendizado. Foi aí que eu comecei a participar de muita webinar, me interar do assunto, entender como que o mercado ia funcionar, o que a gente ia fazer, porque a gente é um comércio. A gente já tinha o delivery. Ainda bem, a gente já tinha essa questão de entregas. Nós temos, hoje, um time de entrega. A entrega acontece em Rio Preto e região. Então, isso, pra gente, facilitou. Porque a gente, mesmo com a loja fechada, enquanto as indústrias, os clientes ainda estavam fazendo pedido, a gente podia vender e entregar. Mas uma coisa muito bacana na pandemia da Benitez & Ramos, é que a gente se reinventou. A gente falou: “Bom, então...”. A gente foi obrigado a sair da caixa. A questão da inovação na Benitez & Ramos sempre foi muito forte, está no DNA da empresa. E aí, a gente criou formas de vender pros clientes, né, de outras formas. Quando a gente percebeu que a loja ia ter que ficar fechada, nasceu a ideia do e-commerce, porque a gente não tinha loja virtual. Então, a gente começou a estudar esse projeto. E eu comecei a desenhar o projeto, pra gente ter uma loja virtual. Então, o e-commerce, por exemplo, que a gente tem hoje, nasceu na pandemia, ele é oriundo da pandemia. Outra coisa: a gente criou um serviço de aluguel de máquinas e ferramentas, locação. Porque a gente é um comércio, a gente vende parafusadeira, furadeira. E aí a gente começou a pensar: “Espera aí, mas e aquela pessoa que não tem a ferramenta, mas ela não quer comprar?”. Às vezes ela vai usar pontualmente, ali. E hoje em dia... antigamente os nossos pais, os nossos avós, tinham aquele quartinho de ferramenta, onde ele guarda as coisas dele e tal. Mas, gente, isso não é mais funcional, né? Não é sustentável. Isso acabou. Os casais jovens, as novas famílias não têm esse quartinho de ferramentas. Então, quando a pessoa precisa de uma furadeira, ela tem que comprar a furadeira ou pedir emprestada. Aí a gente criou o serviço de aluguel, durante a pandemia, em setembro do ano passado, nós lançamos. Então, hoje a pessoa pode, além de comprar, alugar uma ferramenta, pagar um valor diário, depois ela devolve pra gente. A gente faz um contrato de locação. Isso tudo surgiu como adequação do cenário de pandemia, porque a gente começou a perceber, aquela coisa de focar no cliente: “Que solução eu posso oferecer quando eu estou fechado, o meu comércio está fechado, além do delivery? E-commerce, a loja virtual. Além do e-commerce, surgiu o aluguel de ferramentas. Então, assim, criamos bastante durante a crise. E aí teve a questão da gestão da emoção, a questão do time. O time se sentiu, o tempo todo, a gente passou muita segurança pra eles, de que eles não iam perder o emprego, de que nós íamos lutar muito pra que isso não acontecesse. Então, isso trouxe um engajamento fantástico por parte da equipe, né? E com todos os cuidados, desde o início. Eu fiz o curso, né, do comércio lá, da Covid 19, o curso que a prefeitura de Rio Preto oferece. E a gente se inteirou de tudo o que a gente podia fazer, pra proteger o nosso colaborador e o nosso cliente. Um marco da pandemia, que é um marco muito triste: nós temos um evento tradicional chamado Saldão das Grandes Marcas da Benitez & Ramos. Ele é um saldão de aniversário. Ele acontecia sempre em junho e dezembro. Em junho, a gente faz esse saldão, a gente colocava todos os produtos pra fora da loja, pra que o cliente pudesse manusear, né? E a loja toda em promoção. E a gente colocava bandeirinha, carrinho de pipoca, pé de moleque, paçoca, fazia aquele feirão, aquele auê. Por conta da pandemia, já é o segundo ano que a gente não tem saldão.Nós tomamos essa decisão, lógico, por conta da fase que a gente está. Então, a gente entendeu que não dava mais pra fazer saldão. Uma coisa que nunca a empresa pensou que isso não ia ter, né? Era inimaginável. Saldão era aquela coisa, é o grande evento do ano. E a gente optou, em junho do ano passado a gente não podia fazer, de todo jeito, né? Não teria como, na fase que a gente estava. Mas a gente também não fez em dezembro e não fez em junho, agora. Pela questão de muita gente circulando, de pessoas pegando nos produtos lá fora, né, a gente não poder controlar quantas pessoas vão passar. Então, esse foi um grande marco: não ter saldão.
(01:14:06) P1- Certo. Ô, Deise, mas não sei se eu estou enganado, mas a construção civil, que vocês vendem pra construção civil, né, também?
R- Também.
(01:14:20) P1- Ela não parou, né, na pandemia?
R- Não. Não parou.
(01:14:22) P1- Continuou os prédios.
R- Continuou.
(01:14:24) P1- Isso foi um alivio pra vocês, né?
R- Foi um grande alívio. E nós somos muito privilegiados, porque nós somos um comércio, porém os nossos clientes, em sua maioria, não pararam: indústria, construção civil, metalúrgicas, né? Lá no comecinho, não sei se vocês se lembram de algumas fases, mas a indústria podia funcionar com alguns critérios e tudo o mais, enfim. Bom, 2020, pra empresa Benitez & Ramos, foi o melhor ano dos últimos três anos. Então, assim, pra nós da Benitez & Ramos foi uma coisa, assim, eu não sei nem o que te dizer da pandemia, nós crescemos durante a pandemia: 2020 foi um ano que a gente conseguiu cumprir metas, né, apesar do cenário da pandemia. A gente teve alguns meses de déficit? Tivemos, principalmente os meses iniciais, né: março, abril, maio de 2020. Mas no segundo semestre, nós cumprimos meta e crescemos. 2020 foi um ano incrível pra nós. Então, assim, nós não sentimos esse desespero aí em termos de faturamento.
(01:15:33) P1- Que legal!
(01:15:33) P2- Maravilha. Ô, Deise, o seu nome surgiu nas conversas que a gente teve lá com o Sindicato dos Comerciários, né? Eu queria que você falasse, assim, um pouco, da sua relação com o sindicato, o Sincomerciários.
R- Tá. O que acontece? Eu sempre fui focada e apaixonada por pessoas. Pra mim, pessoas felizes transformam o mundo e é o que eu levo pra mim. O meu propósito de vida, eu aprendi com a Madre Teresa de Calcutá: que nenhuma pessoa passe por nós sem que a gente faça o dia dela melhor e mais feliz. Então, se eu puder ajudar de alguma forma, eu vou ajudar, esse é o meu propósito de vida. E, pensando nisso, eu sempre fui uma empresa, a gente sempre foi pró sindicato, né? Porque existe aquela hostilidade entre empresário e sindicato, que é desnecessária. Então, se eu quero o melhor pro meu colaborador, eu quero que ele tenha acesso a benefícios, à informação, eu quero que ele tenha acesso a tudo que ele puder ter acesso. Então, enquanto empresa, nós sempre fomos parceiros do sindicato. E eu, quando faço recrutamento e seleção, eu falo pro meu colaborador, pro meu comerciário: “Olha, sindicalize-se, sim. Você precisa estar informado. Você tem esse e esse benefício. O Sindicato do Comércio em Rio Preto é muito legal, é muito forte. Ele oferecem várias vantagens, fazem campanhas muito legais”. Então, eu sempre tive muita parceria com eles, sempre levei os meus colaboradores a todas as ações que eles propõem. Esse mês passado, a gente fez uma ação de doação de sangue, eu consegui engajar o time pra doar sangue. Cada comerciário que doasse sangue, ganhava uma cesta básica, né? Que foi uma ação que o sindicato propôs e que a gente apoiou, né? Eu apoiei. Porque eu acredito que é unir forças, né? Então, a gente tem que estar junto ali, lado a lado, pelo comerciário, né? Então, a gente só vai crescer, se a gente crescer junto. Então, é o meu modo de pensar. A minha relação com o sindicato sempre foi essa, sempre abertos ao que eles trazem, né? Sempre transparente, muito transparente a nossa relação. Às vezes eu ligo lá no jurídico do sindicato, falo: “A empresa está pensando em fazer isso e isso. O que vocês acham?” Antes de passar, às vezes, pra diretoria, eu passo pro sindicato, vejo a opinião deles. Então, a gente sempre foi muito unido. Nós temos uma relação muito bacana.
(01:18:05) P2- Maravilha.
(01:18:06) P1- Você frequenta lá, o clube do sindicato? O sindicato tem um clube _____ (1:18:12).
R- É. Eu frequentava, né? (risos) Frequentava. A gente, aqui, é um comércio, como eu te falei, os meninos são muito animados. Eu tenho a maioria, noventa e cinco por cento dos meus colaboradores são homens, muito por causa do segmento. Então, eu levo os meninos lá no clube pra jogar bola, eles têm um time e aí eles participam. Eles têm um time de futsal. E aí a gente... eu organizo torcidas, levo as esposas deles lá no sindicato, pra que eles façam esses campeonatos. A gente participa de tudo. Confraternização, nossa! A gente já fez lá no clube social, no clube de campo. Viagem, quando o sindicato vai fazer. Tudo eu levo o pessoal. Tudo. Eu estou em todas, assim. Tudo o que tiver oportunidade de interação, né, de a gente ter aquele momento mais lúdico, de confraternização, eu sempre estou levando-os. Frequento o clube social. Frequento o clube de campo. Levei, sempre levava a minha família lá. É muito gostoso. O Sincomerciários é muito bem estruturado aqui, né? Eles têm academia, salão de beleza, clube de campo com piscina. Tem quadra de futsal, tem campo de futebol. Então, o comerciário se sente acolhido, ali. E eu sempre levei a galera.
(01:19:35) P1- Sim. Muito bom.
(01:19:36) P2- Maravilha. Ô, Deise, pra gente começar a encerrar a entrevista, né, que você já tem outro compromisso, né, que eu sei. Você falou, assim, da sua trajetória toda, desde menina lá em Piá, até os dias de hoje, né? E é uma entrevista que não é jornalística. É uma entrevista de história de vida, assim. O que você achou desse processo de deixar registrada a sua história, a sua trajetória, pro Museu da Pessoa e pro Memórias do Comércio?
R- Gente, é o seguinte: eu acho uma honra tremenda. Eu me sinto muito honrada em poder deixar aqui registrada a minha história, porque é a minha marca no mundo, né? Foi uma jornada, eu sempre agradeço muito, eu sou muito grata ao universo, pelas pessoas que eu consigo atrair pra perto de mim, que vão me levando a caminhos como esse. Pra mim está sendo uma experiência, assim, de legado, sabe? Eu não acredito na morte enquanto tiverem projetos como o Museu da Pessoa. Por quê? Porque, se você pode deixar a sua marca no mundo, seja uma arte que você faz, seja a sua história, seja a sua música, você não vai morrer, né? Você deixou a sua marca no mundo. Contar a minha história, além de me trazer, de ter me levado pra essa viagem aí no tempo, né... eu sempre falo isso pros meus filhos: “Eu tinha tudo pra não dar certo. Eu tinha todos os ambientes pra falar assim: “Ah, essa menina não vai conseguir”, né? A pobreza, a própria questão do racismo, a questão do alcoolismo do meu pai. E eu sou prova que a gente consegue dar certo, sim. Com muita dedicação, empenho e através de pessoas, né? É aquilo que eu disse: pessoas transformam o mundo. Então, deixar o meu depoimento, pra mim, aqui, é uma questão de legado. É como se um pedacinho de mim nunca mais fosse morrer, porque está registrado. Então, o meu existir acaba se transferindo pra quem vai ouvir essa história. A pessoa vai conhecer um pouquinho de mim. Isso me deixa tão feliz. É tão gratificante. É uma sementinha, assim. E enche o meu coração de alegria, de verdade. Eu fiquei com o coração aquecido. Eu não sabia o teor da entrevista, como seria, né? A gente imagina, mas não sabe. Mas eu estou sentindo, assim, como se um pedacinho de mim nunca fosse morrer, mesmo. Um pedacinho da minha alma, eu vou deixar registrada aqui. E que isso vai ficar pra sempre na minha lembrança, né? Eu sou muito grata pelo convite. Estou me sentindo muito honrada.
(01:22:32) P1- Que legal!
(01:22:33) P2- Maravilha. Deise, você falou uma coisa que tangenciou a sua entrevista o tempo todo, né, da questão do racismo, da pobreza. Que momento você vai tomando consciência disso tudo? E vai mudando essa tua história tão linda, assim?
R- É isso mesmo. Principalmente, no momento que eu fui mãe, eu comecei a ter uma consciência maior do meu lugar no mundo e da condição social que eu venho. Tomar posse da minha história, né? Entender que, pra mim, foi difícil por N fatores. Então, eu comecei a lutar. Eu sou militante antirracista, tá? E assumo isso, publicamente. Quando eu vi meu filho, eu olhei pra ele, eu decidi que eu queria um mundo melhor, que ele merecia um mundo melhor. E que não pode ser tão difícil pra ele, quanto foi pra mim, porque não é justo que seja. E aí, quando eu olhei pro meu filho, eu não quis transferir toda essa história de preconceito, de sofrimento, pra ele. Só quem tem um filho, sabe, né? Eu comecei a ser uma pessoa melhor, por conta dos meus filhos. E eu decidi que eu quero deixar pra ele um mundo melhor. É a única ambição que eu tenho, né? Porque ele merece. E a gente não está criando os nossos filhos pra serem empregados domésticos, babás de ninguém. Pessoas negras, eu estou dizendo, né? Porque a vida toda da minha família foi servir. Se você pegar a minha árvore genealógica, eu não consigo chegar até o fim dela. Uma pessoa de origem européia consegue saber quem foi o seu ancestral, até no tataravô, né? Ela consegue: “O meu avô veio da Espanha, meu bisavô de Portugal”. A pessoa negra, no Brasil, não consegue. Porque a escravidão mudou isso. Eu não sei quem foram os meus ancestrais. Eu não sei qual era o nome do meu tataravô, né? Porque nós fomos assassinados em massa, foi um genocídio. E eu decidi que eu preciso fazer algo, pra que meu filho não tenha que servir o tempo todo, pra que ele tenha outras opções, né? Eu, ainda, eu já quebrei... uma quebra de paradigma na minha família foi a minha formatura. O momento da minha formatura no EAD, eu fui a primeira pessoa da minha família, né, família considerando mão, pai, né, a me formar. O meu irmão também não se formou. E foi como se eu tivesse quebrando a roda, né? A roda vai girando: a minha família sempre serviu, sempre serviu, sempre serviu. E aí, eu consegui quebrar essa roda. E, pra mim, o meu orgulho maior, quando chamaram o meu nome completo, foi saber que o meu filho estava ali pra assistir e pra entender que é possível pra uma pessoa negra, no Brasil, com tudo que existe de diferença, de preconceito, é possível que a gente consiga mudar essa história, virar essa chave, né? Mas foi isso: a minha consciência de luta, principalmente antirracismo, aceitação de quem eu sou, foi principalmente em função de um mundo melhor pros meus filhos. É meio clichê, mas foi só quando eu vi a certidão de nascimento do meu filho, que eu tomei consciência de que ele também faz parte, ele era minha marca no mundo, de alguma forma, né? Ele é uma extensão de mim. E que eu queria muito mudar essa história. Porque o meu filho, com oito anos de idade, perguntou pra mim por que na certidão dele não tinha o nome do avô, do avô materno. E aí eu falei pra ele: “Eu não tenho o nome do seu avô. Ele não me registrou”. E quando você vai procurar, historicamente, isso é muito comum pra pessoas negras, é muito comum. No Brasil, eu não me lembro agora o número exato, mas a gente tem muitos filhos de mães sem pai, né, ainda. Então, eu quis mudar isso, de alguma forma. Eu quis deixar um legado, algo melhor. E, principalmente, que o meu filho não passasse todas as dores que eu passei desde a infância, né? É que eu, a gente não... eu não sei se eu posso entrar nesse mérito. Mas, assim, o racismo é uma coisa que precisa ser entendida estruturalmente, né? Eu já sofri muito racismo. O meu irmão sofreu muito racismo. A minha mãe sofreu muito racismo. E a gente sofre até hoje. E não falar sobre isso, ou fingir que o racismo não existe, não vai melhorar. As pessoas não querem falar, porque é um assunto desagradável, né?
(01:27:20) P2- É. É.
R- Não é legal, né? Não é legal existir racismo. O racismo existe pra justificar as atrocidades que foram cometidas com a escravidão. E muita gente acha que, quando a gente fala de racismo, a gente está falando lá da escravidão. Não, gente. Isso é atemporal. Eu estou falando de agora. Eu estou falando de quando as pessoas me olham aqui dentro do comércio e não entendem por que eu trabalho na gestão, né? Como que uma mulher negra pode ser gestora de um comércio como esse, né? Eu estou falando de eventos onde eu já estava patrocinando o evento e eu fui confundida com uma garçonete, né? Eu estou falando de gente que não senta do seu lado no ônibus. Existe a questão das micro-agressões que nós, pessoas pretas, temos que lidar todos os dias, né: “Ai, por que você não alisa o seu cabelo? Ai, porque o preto fede, né? Fedor de nego. Ai, serviço de preto”.
(01:28:15) P2- Por questões cotidianas de racismo.
R- Cotidianas. É micro-agressão, né? O nosso nariz é feio. A nossa pela é feia. O nosso cabelo é feio. O padrão de beleza é euro-centrado, né? Você tem que ser loiro, dos olhos azuis, nariz fino, né? Então, são coisas que eu gostaria muito de construir uma história diferente, a partir dos meus filhos. E é pra isso que eu luto, também, todos os dias, nessa militância aí antirracista.
(01:28:46) P2- De onde vem essa militância? Assim, você lê? Você faz parte de grupos? Como é que vem essa militância?
R- Faço. Eu faço parte de vários grupos e várias frentes. E, principalmente, eu milito onde eu atuo. Eu atuo na gestão de pessoas. Então, como eu milito, por exemplo, num comércio como essa empresa? A questão da diversidade e inclusão, né? Incluir as minorias. Trazer a pessoa negra pro mercado de trabalho, né, de uma forma mais justa. Porque, como eu disse, sem equidade não há meritocracia. Não adianta você divulgar numa vaga... se você, num perfil de vaga, está dizendo que o seu candidato tem que ter inglês completo, tem que ter um curso de informática avançado, ou um nível superior, você já está ceifando uma parte enorme, você já está expulsando uma parte enorme da população, que não tem acesso a esses privilégios, né? Então, eu faço parte, sim, de vários grupos. Inclusive, junto a Acirp, eu estou atuando como líder de um projeto de diversidade e inclusão, no núcleo Gestão de Pessoas, aqui da cidade. A diretora do núcleo Gestão de Pessoas da Acirp é a Juliana Ferrari, que é uma pessoa muito atuante. Então, eu estou começando, assim, onde eu posso. E, principalmente, eu atuo em grupos de questões raciais, né? É o meu lugar de fala. O meu cabelo é resistência. A forma como a gente educa os nossos filhos, como eu falei. Então, a gente não está educando os nossos filhos pra serem coitados, pra serem serviçais. Então, o mundo precisa mudar, né? Então, isso está muito presente socialmente, profissionalmente. Eu milito em tudo, na verdade. É todo o universo da minha vivência. Ganhei o prêmio “Mulher Negra Destaque”, que foi um prêmio que foi feito aqui na cidade. Porque o Dia da Mulher, o dia oito de março, o Dia Internacional da Mulher, eu costumo dizer que é o dia da mulher branca, né? Porque o dia da mulher negra latino-americana é o dia vinte e cinco de julho. “Ah, mas por que isso?” Porque o oito de março é baseado num evento que ocorreu quando as mulheres negras ainda, então, eram escravas, né? Então, nós não tínhamos nada pra comemorar ainda, né? A mulher preta é o pilar, é a base da sociedade. Então, quando você dá emprego pra uma mulher preta, você muito provavelmente, está ajudando a eliminar a miséria no mundo.
(01:31:29) P2- Alavanca.
R- Você está alavancando isso. Porque uma mulher, quando vai pra debaixo da ponte, não vai sozinha. Ela, provavelmente, leva os filhos, os netos, né? Uma mulher preta. Então, eu participo muito ativamente. Até, nesse ano passado, eu recebi um prêmio como Mulher Negra Destaque aqui da cidade, também, por atuar fortemente aí nessa frente, né, antirracista, de inclusão, da gente levar o assunto, levar essa pauta. Porque o que eu preciso, o que é preciso? É preciso que as pessoas sintam falta das pessoas negras nos ambientes corporativos. Se você vai num evento de empresários e só tem empresário branco, está tudo bem, ninguém vai achar nada de mais, ninguém sente falta. Mas cadê os empresários negros? Mas se você for convidada pra um evento de empresário, chega lá, só tiver homens negros ou mulheres negras, enfim, a pessoa vai falar: “Ué, mas onde eu estou? Está estranho”, né? Então, assim, você precisa sentir a ausência da pessoa preta, da pessoa com deficiência, da mulher na gestão. É preciso que essa ausência seja sentida. Eu sonho com um dia em que a pessoa chega aqui na loja e fala: “Mas não tem nenhum vendedor homossexual pra me atender? Mas não tem nenhuma mulher pra me atender? Nossa, mas não tem nenhuma pessoa negra, aqui?” Porque a gente não sente falta, né? Os gerentes de Bancos, médicos, cadê a pessoa negra nesses ambientes? É só na parte de limpeza, na parte de serviços? Não. Eu preciso que, se nós somos cinquenta e quatro por cento da população, por regra, a gente tinha que ser mais da metade, em qualquer ambiente, né?
(01:33:07) P2- Sim.
R- Mas isso, historicamente, não foi possível. Então, eu sempre eu levo essa discussão, né, com várias frentes de atuação, pra que um dia a gente consiga uma igualdade racial, pelo menos. No futuro, né? Está longe disso, mas que a gente consiga chegar o mais próximo possível da igualdade racial. Eu sou gestora de pessoas, eu participo de treinamentos, muitos treinamentos durante o ano. E, assim, eu estou cansada de ser a única negra nesses lugares. Muitas vezes. Eu participei do Empreende RH, onde tinham quatrocentos profissionais de RH. Sabe quantas pessoas negras tinham lá? Só tinha eu. Então, assim, é uma questão, até, de pertencimento, né? Tem lugares que você não frequenta, que eu não frequento, porque eu sei que lá não tem pessoas negras. Tem clubes da própria cidade, que você sabe que a pessoa negra não tem acesso a aquele local, né? Então, pra haver uma igualdade, a gente está muito longe. Precisa ter políticas de reparação. Se você pegar aí o jogador de futebol, né? Aonde os olheiros vão buscar? Eles vão até na favela, eles querem saber de talento. Eles não querem saber se a pessoa é branca, preta, homossexual. Eles querem que a pessoa saiba jogar bola. Então, o mercado de trabalho precisa olhar também dessa forma, o comércio também precisa olhar. Porque perde-se muito, quando você não tem diversidade nas empresas. Perde talento, perde criatividade. Você vai ter mais do mesmo, né? O que é o mais do mesmo? A maioria: homem, mulher cis, hetero, branco. Então, assim, é um padrão, né? Então, a gente precisa desconstruir isso.
(01:34:56) P2- Abrir esses espaços. Deise, a gente deixou de perguntar alguma coisa que você queira deixar registrado? Você quer falar alguma coisa que não perguntamos, que você passou, assim, por cima? Ficou faltando?
R- Ai, acho que não. Perguntou tanta coisa!
(01:35:15) P1- Perguntamos tudo da sua vida, né? A vida inteira.
(01:35:18) P2- O Luís Paulo gosta de fazer uma pergunta, que é assim: o que você faz, quando você não está trabalhando? O que você faz nas horas vagas de lazer?
(01:35:27) P1- É.
R- Nas horas vagas eu gosto muito de estar perto da natureza. Eu, junto com a minha família, os meus filhos, a gente gosta muito de estar em beira de rio, né? Mas assim, no dia a dia, a gente fica com a família, faz assim. Eu sou muito caseira, gente, muito caseira, demais da conta mesmo. Então, eu procuro estar sempre perto da minha família. Eu não tenho, assim, um hobby, algo muito que acrescente muito, assim. Eu sou muito família, a gente é muito caseiro. A gente gosta de ir pra rancho, pra praia, pra lugares perto da natureza.
(01:36:10) P1- Aí tem bastante rio, né?
R- Tem bastante.
(01:36:12) P1- O pessoal gosta de pescar aí em Rio Preto, né?
R- É. Eu gosto de comer peixe. (risos) Eu gosto de comer peixe, mas não gosto de pescar, não. Eu estava, semana passada, final de semana passado a gente estava num rancho. A gente gosta de estar ali na beira do rio, na natureza, sem celular, sem internet, conversar, subir em árvore, sabe? Mas não, especificamente pescar não é a minha praia, não. Eu gosto, sabe o que eu gosto muito de fazer? Eu gosto muito de cozinhar, né? É uma herança que eu tenho, materna, também, cultural. Eu amo cozinhar pras pessoas, pra outras pessoas comerem. E é uma coisa que a pandemia tirou um pouco de mim, é fazer comida pra bastante gente, né? Fazer reuniões com uma grande quantidade de pessoas, reunir a família. Mas eu gosto. Cozinhar, pra mim, é terapia. Eu amo cozinhar. Eu gosto muito de ver as pessoas comendo, reunidas, ali. Então, é uma coisa que eu gosto muito de fazer: Cozinhar.
(01:37:13) P1 – Muito legal.
(01:37:14) P2- Maravilha!
(01:37:15) P1- Deise, eu gostaria de agradecer a entrevista, foi espetacular. Eu achei a sua história incrível. Todos nós achamos. E agradecer em nome do Sesc São Paulo, do Sesc São José do Rio Preto e do Museu da Pessoa, né? Agora você é uma peça de museu. A sua história de vida estará no Museu. E, além disso, o nosso fotógrafo aí de Rio Preto, na verdade, é o Fabrício, né, Claudia, que vai?
(01:37:41) P2- É o Fabrício. Ele é daqui de Bauru. Semana que vem ele vai estar em Rio Preto. Aí a gente vai combinar um horário contigo, aí na loja, pra ele fazer umas fotos suas.
R- Combinado.
(01:37:51) P1- É pra compor ________ (1:37:53) sair o livro, tudo________ (1:37:58).
(01:37:53) P2- Tá? (risos) Aí a gente vê que horas é melhor ele passar aí, a gente faz uma agenda de trabalho com ele, tá bom?
R- Tá joia. Chiquérrimo.
(01:38:04) P1- Legal. Então, muito obrigado, viu, Deise? Beijo. Foi ________ (1:38:10).
(01:38:09) P2- Deise, obrigada, viu? De coração. Foi lindo.
(01:38:12) P1- Foi ótimo.
R- Gratidão, gente. Obrigada por ouvirem. Desculpa por falar tanto.
(01:38:16) P2- Ah, eu fiquei emocionada. Foi lindo.
(01:38:19) P1 – Foi ótimo!
R- Foi importante demais pra mim, viu? Muito importante, mesmo.
(01:38:23) P1- Pra nós também. Um beijão. Um abraço.
(01:38:26) P2- Obrigada, Deise. Bom dia. Tchau.
R- Se cuidem, viu? Tchau.
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