Eu morava lá no Sodré, que eu fui empregada, babá lá...(...) Sou ??01’45?? dos Campos, mas vim pra cá com doze anos... Aí trabalhava de babá, trabalhava na casa do pessoal pra ganhar dinheiro... Aí conheci o rapaz que morava lá... casei com dezesseis anos.. Casei com dezesseis e morava lá no Sodré... depois vim pra cá e construí meu barraco em cima da maré... Quando vim pra cá já tinha dois filhos.. Mas aqui, aí no fim de linha, tudo era mangue... Não tinha essas casas não... Era pé de manga, coqueiro, jaqueira, e tinha umas plantinhas assim... cavava, furava, pegava água... pegava marisco, fazia moqueca de marisco... tudo ali era maré, era praia... E sempre aquela luta: lavar roupa de ganho dos outros. Fazia faxina nas casas dos outros... Na Ribeira, nesses lugares... Tinha uma casa em que fiquei doze anos.. Todo mundo tendo filho... Com uma barrigona... A gente vinha na rua, quando quebrava uma ponte, a pessoa caía, com barriga, com tudo, a pessoa... Caía dentro da maré... Tudo aqui era maré... (...) ... Uma vez meu filho quase morre, caiu na maré, quando vi (imita ofegante)... Vim descendo, larguei a roupa quando enterrei na ponte assim... Puxei ele pra dentro do barraco.. Foi sofrimento demais, viu? E a gente lavava roupa... E aí os rapazes jogavam castelo de lixo... Esses lixos eu pegava aqui... Eles jogavam na maré... Quando o lixo ficava alto, a gente botava arenoso... areia, cascalho pra vir a caçamba entulhando o que estava na água ainda... Aí quando a gente ia entulhando, quando entulhava a rua, pegava arenoso pra puxar pra debaixo da casa... (...) ... Aí, depois que terminasse de entulhar a rua, a gente ia entulhando o barraco, pra depois fazer, construir a casa... A gente sofreu, viu? E eu buscava água lá na ?? de Barros... Faltava água, a gente ficava por aí, todos carregando água...Procurando, com lata de água na cabeça...(...) procurando nas casas dos outros quando aqui não tinha água... nem água aqui...
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Eu morava lá no Sodré, que eu fui empregada, babá lá...(...) Sou ??01’45?? dos Campos, mas vim pra cá com doze anos... Aí trabalhava de babá, trabalhava na casa do pessoal pra ganhar dinheiro... Aí conheci o rapaz que morava lá... casei com dezesseis anos.. Casei com dezesseis e morava lá no Sodré... depois vim pra cá e construí meu barraco em cima da maré... Quando vim pra cá já tinha dois filhos.. Mas aqui, aí no fim de linha, tudo era mangue... Não tinha essas casas não... Era pé de manga, coqueiro, jaqueira, e tinha umas plantinhas assim... cavava, furava, pegava água... pegava marisco, fazia moqueca de marisco... tudo ali era maré, era praia... E sempre aquela luta: lavar roupa de ganho dos outros. Fazia faxina nas casas dos outros... Na Ribeira, nesses lugares... Tinha uma casa em que fiquei doze anos.. Todo mundo tendo filho... Com uma barrigona... A gente vinha na rua, quando quebrava uma ponte, a pessoa caía, com barriga, com tudo, a pessoa... Caía dentro da maré... Tudo aqui era maré... (...) ... Uma vez meu filho quase morre, caiu na maré, quando vi (imita ofegante)... Vim descendo, larguei a roupa quando enterrei na ponte assim... Puxei ele pra dentro do barraco.. Foi sofrimento demais, viu? E a gente lavava roupa... E aí os rapazes jogavam castelo de lixo... Esses lixos eu pegava aqui... Eles jogavam na maré... Quando o lixo ficava alto, a gente botava arenoso... areia, cascalho pra vir a caçamba entulhando o que estava na água ainda... Aí quando a gente ia entulhando, quando entulhava a rua, pegava arenoso pra puxar pra debaixo da casa... (...) ... Aí, depois que terminasse de entulhar a rua, a gente ia entulhando o barraco, pra depois fazer, construir a casa... A gente sofreu, viu? E eu buscava água lá na ?? de Barros... Faltava água, a gente ficava por aí, todos carregando água...Procurando, com lata de água na cabeça...(...) procurando nas casas dos outros quando aqui não tinha água... nem água aqui tinha... essas casas aqui do lado... Não tem um Shopping Center? A gente ia buscar água pra lá do Shopping Center... E às vezes, chegava em casa, a ponte quebrava e a gente caia na maré com lata de água, com tudo... (...) Perdia todo trabalho... Mas não podia desistir não... Ficava a noite toda puxando lixo pra entulhar a rua... De noite eram os maridos, de dia eram as mulheres... Puxando lixo... E tive vinte e cinco filhos nessa luta... (...) Vinte e cinco filhos. No dia de natal, interou vinte e cinco filhos. Meu caçula vai fazer trinta e um anos agora (...) Estão cada um em sua casa... Uma filha que morava aqui faleceu com vinte e quatro anos de leucemia... Ela não morou aqui, morou com o marido... Quando chegou aqui foi pra ter um menino.... Ela deixou um com cinco anos, um com três anos e um com um mês e quinze dias de nascido... Aí eu criei e hoje já está com vinte e um anos... Eu criei dando mingau, dando mamadeira... Fora os netos, que eu ainda criei quinze netos... Porque teve um tempo em que eu morei em São Cristóvão e trabalhava com faxina, todo mundo trabalhava com faxina, ia vender jornal, o menino ia vender picolé... Eu, quando chegava da faxina, ia cuidar dos netos, cuidar dos filhos e todo ano... cada mês, dois, três fazem aniversário... Um faz ano no mês onde o outro nasceu... Aqui nesse mês de setembro.. (quer dizer) de junho teve um dia dez, um no dia cinco, outro no dia mesmo.. Esse dia mesmo, quer ver... (pausa, lembrando) um no dia vinte e cinco, outro no dia doze, outro é no dia onze... E agora nasceu um bisneto na semana desse que vai fazer dia vinte e cinco... (...) Quando meu marido faleceu em janeiro, tem catorze anos que meu marido faleceu... Aí meu filho teve uma dor nas pernas e faleceu também... Antes de um mês... Depois faleceu outro filho meu... E aí só tem dezenove vivos... Netos tem cinquenta e ... esses meses eu estava fazendo as contas... Vivos, né? Cinquenta e seis netos. Bisnetos, trinta e cinco. (...) E a luta... Lutando, trabalhando... Agora que eu estou tendo um pouquinho de paz porque meu marido faleceu e deixou uma pensãozinha pra eu receber e eu deixei de trabalhar... Mas mesmo dentro de casa eu tô lavando, e... eu não fico parada não... (...) E o Divino Espírito Santo, a força que ele me deu... Não tinha aquela alimentação certa, né? Às vezes tinha pra dar pros meninos, não tinha pra me alimentar... Mas fazia uma farofinha, comia uma bananinha... Porque Deus vai me sustentar, sabe o que ele faz, viu? Deus é minha luz.. Eu sempre digo aos meus filhos, aos meus netos, eu digo: Ô, meu filho... Eu não sei como eu tenho força até hoje, graças a Deus... Graças ao Pai, a Nossa Senhora...A vida que eu vivia, viu? Passava horas engomando com aquele ferro pesado (...) Quatro roupas de ganho...Toda semana... E ainda fazia faxina nas casas dos outros, de sexta, sábado...
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