Morador do conjunto Palmital, Elias dos Santos nunca se esqueceu da data em que se mudou para Santa Luzia: 3 de março de 1983. Ele morava no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, junto com outras 1.100 famílias. Porém, após intensas chuvas, o ribeirão Arrudas transbordou. Devido a obras inaca...Continuar leitura
Morador do conjunto Palmital, Elias dos Santos nunca se esqueceu da data em que se mudou para Santa Luzia: 3 de março de 1983. Ele morava no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, junto com outras 1.100 famílias. Porém, após intensas chuvas, o ribeirão Arrudas transbordou. Devido a obras inacabadas de canalização do rio, a enchente destruiu muitos barracos das favelas nos arredores da Avenida do Contorno. Os moradores das vilas União, Perrela e Santa Terezinha (Vila da Baiana) tiveram suas vidas completamente modificadas por tais desmandos da natureza. Muita gente perdeu totalmente suas casas. Essas pessoas foram indenizadas pela Prefeitura e, muito tristes, tiveram que deixar o local onde viviam. Os moradores dessas vilas tinham um enorme vínculo com suas casas e os que restaram não aceitaram sair do local onde haviam construído suas histórias de vida. No entanto, um ano depois, por meio de um acordo entre eles e os governantes, cerca de 1.000 famílias concordaram em se mudar para o conjunto Palmital em Santa Luzia.
Tal mudança não ocorreu de forma fácil, no novo bairro havia muitos problemas de saneamento básico, de transporte público, de abastecimento de água, de rede elétrica e de ensino. Os empregos eram escassos e muitos moradores não tinham documentos, pois foram perdidos nas águas do Arrudas. Elias, com ajuda de amigos, conseguiu fundar e inaugurar a Associação dos Moradores do Palmital em novembro de 1983. O espaço destinado para a associação era um pasto, porém ele enxergava o futuro. Para conseguir realizar a 1a missa no local, com a ajuda dos moradores, o pasto foi limpo em dois dias e, após 21 dias, para espanto do padre, as dependências já estavam sendo construídas com doações dos moradores. Nesse local, eram exibidos filmes educativos, para muitos o primeiro contato com o cinema. Muito havia de se fazer pelo Palmital e seus moradores que sofriam diversas formas de preconceito.
Os moradores tinham que ir para o bairro vizinho, Cristina, para conseguir sair do bairro para trabalhar e estudar. A única linha de ônibus que existia na época passava pela avenida Antônio Carlos e chegava ao Cristina. No entanto, os moradores do Cristina não gostavam que as pessoas do Palmital usassem o coletivo, pois eram julgados como favelados. Mas o cenário virou, a associação uniu a população do Palmital e conseguiu uma linha de ônibus para atender o bairro, a 5516, que passava pela avenida Cristiano Machado. O sucesso da linha foi instantâneo e até os moradores do Cristina passaram a usá-la.
Texto a partir do relato de Elias dos Santos em entrevista realizada em maio de 2017.Recolher