Sonhei que eu passei o dia passeando com a minha família. Em certo momento, decidi ver uma amiga muito próxima minha (que, na última vez em que nos vimos, antes do início do isolamento social, já estava muito preocupada com o coronavírus, de uma forma que me impressionou por destoar tanto da m...Continuar leitura
Sonhei que eu passei o dia passeando com a minha família. Em certo momento, decidi ver uma amiga muito próxima minha (que, na última vez em que nos vimos, antes do início do isolamento social, já estava muito preocupada com o coronavírus, de uma forma que me impressionou por destoar tanto da minha relativa despreocupação naquele momento, e que, ao longo de todo esse período, me pareceu mais preocupada do que a média das pessoas que conheço). Decido ir ao cinema com ela, embora eu não devesse estar fazendo isso, por causa do coronavírus. Entretanto, insisto para meus pais (com quem eu moro) e eles acabam por me deixar ir. O cinema está quase vazio. No intervalo do filme, eu saio para o estacionamento do cinema, onde o meu namorado está dentro de um carro, sob a luz da lua, me esperando. Beijo um pouco ele é volto para o cinema; mas me sinto mal por isso, pois corro o risco de contaminar a minha amiga (que pensa que eu só fui ao banheiro) e os meus pais (que também não sabem que eu vi meu namorado). Ter visto ele é mais grave do que ter visto minha amiga pois ele está trabalhando no SUS e continua pegando transporte público. Passa-se algum tempo no sonho. Em certo momento, percebo que é hora de atender uma paciente minha (sou psicóloga). No entanto, esse não será um atendimento regular. Será semelhante a um acompanhamento terapêutico (que não é como eu costumo atendê-la). Encontro ela do lado de fora de um hospital e entramos para conhecer o local. Fomos andando, e a minha sensação era de que parecia que estávamos em um tour. Entre andar, apresentar os espaços e coisas assim, eu acabo praticamente não conseguindo falar com ela- algo que me parecia especialmente importante, uma vez que, na semana que vem, ela seria internada em um hospital psiquiátrico por escolha própria (isso não ocorreu fora do sonho). Eu achava que essa parecia uma péssima decisão; me preocupava com os efeitos que isso poderia ter para a saúde mental e as formas de relação dela. Entretanto, eu não podia dizer isso diretamente a ela, pois eu suspeitava que a minha supervisora concordava que ela deveria ser internada. Minha supervisora era uma mulher para quem eu trabalhava, e eu sabia que, de alguma forma, ela estava me observando durante todo o atendimento. Creio que eu conseguia me comunicar telepaticamente com ela; no entanto, não estávamos conversando. Quando eu pensava nela, eu conseguia “ver”, meio na minha mente (mas eu sabia que era real) o rosto dela. Na maior parte do tempo, minha atenção estava focada em outra coisa, mas, ao fundo, estava ela lá. A jovem de quem sou psicóloga parecia animada para a internação, o que me incomodava, pois parecia que ela só queria ficar isolada, e estava lidando com a questão como se se tratasse de férias de uma semana. O lugar por onde estávamos andando era um hospital que me lembrava o Albert Einstein. Ao final de nosso tempo de sessão, ela foi embora, me deixando com o desconforto de o tempo não ter sido o suficiente, pois ela, ao invés de falar sobre o que era importante, usara o hospital como “desculpa” para justificar o fato de que não queria pensar sobre si mesma.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
O temor e a culpa associados à possibilidade de contaminar os outros são parte importante dos temas desse sonho. Estar isolada de meus amigos e meu namorado, para proteger os meus pais, está sendo difícil pra mim, e creio que alimenta uma boa dose de ressentimento em relação à minha família. Ao mesmo tempo, esse contato excessivamente próximo a eles parece estar me fazendo entrar em funcionamentos dos quais eu não gosto, de me desresponsabilizar por minha vida (a internação voluntária me parece um símbolo disso; essa paciente em específico recentemente tinha me falado sobre como sente que se desresponsabiliza por sua vida, e eu conheço uma pessoa que está trabalhando em uma enfermaria psiquiátrica onde ocorrem internações e estava me contando sobre o quanto se angustia com a desautonomização a que são submetidos os pacientes). A imagem da supervisora telepática me impressionou; não lembro de imagens equivalentes terem estado presentes em outros sonhos meus, o que me faz achar que, de uma forma ou de outra, essa imagem está associada a efeitos da pandemia em minha subjetividade.Recolher