Anesio Biancon, senhor de 79 anos, baixinho, invocado, inteligente e curioso, tem uma história de vida parecida com muitos de sua idade. Nasceu na Fazenda União em Santa Cruz do Rio Pardo-SP. Sua infância foi difícil, morava na fazenda onde ajudava os pais tirando leite e na lavoura de café. ...Continuar leitura
Anesio Biancon, senhor de 79 anos, baixinho, invocado, inteligente e curioso, tem uma história de vida parecida com muitos de sua idade. Nasceu na Fazenda União em Santa Cruz do Rio Pardo-SP.
Sua infância foi difícil, morava na fazenda onde ajudava os pais tirando leite e na lavoura de café. Teve três irmãos, dois homens e uma mulher, só a caçula está viva. Brincava com os irmãos nadando no ribeirão, jogando bola e caçando com estilingue. Estudou até o terceiro ano da “escola do sítio”, andava uns dois quilômetros para chegar, não gostava de estudar e não se considerava inteligente. Na juventude teve algumas namoradas, umas foi ele quem largou, outras largaram dele. Gostava muito de bailes,
não dançava muito bem, sempre iam á bailes, os irmãos, os primos e ele que era o mais novo, quando chovia, eles moravam em uma fazenda e os bailes aconteciam em outra, tiravam a roupa colocavam em um saquinho, atravessavam o cafezal pelados só com o “botinão”, quando chegavam perto do baile, se lavavam no cocho dos animais e se trocavam, colocavam o saquinho na cobertura do cocho e iam para o baile. Quando acabava o baile, passava pelo cocho tiravam a roupa e voltavam pelados para casa. Seu Anesio desde pequeno queria aprender dirigir, enquanto trabalhava na lavoura de café ficava observando o vizinho trabalhar com o trator, fez amizade com ele e pediu para que o ensinasse, assim que aprendeu, passou a trabalhar com trator fazendo transporte de milho de um sítio para outro.
Depois trabalhou como motorista de caminhão transportando material de construção e cana de açúcar. Decidiu ir embora para São Paulo, ficou na casa de uns primos em Guarulhos, lá dormia em uma cama desmontável embaixo de uma mesa. Foi para São Paulo com o pensamento de que lá ninguém o conhecia e por isso podia até ser varredor de rua.
Conseguiu um emprego de ajudante geral em uma empresa de móveis, um dia na falta do motorista o patrão sabendo que ele dirigia pediu que ele fosse fazer entrega de móveis por São Paulo, ficou com medo, pois não conhecia a cidade, foi parar lá na Avenida Paulista. Quando voltou para a empresa
“tremia como vara verde.” Trabalhou também em Angra dos Reis- RJ em uma pedreira com caminhão basculante que o primo havia comprado. Voltou para São Paulo, pois o primo vendeu o caminhão. De volta para São Paulo, trabalhou com perua escolar, transportando crianças pequenas que o chamavam de tio ou avô, e ele gostava. Conseguiu outro emprego que ganhava mais, entregador de marmitas no aeroporto de Guarulhos, ficou nesse emprego por dez anos. Deixou esse trabalho por pressão da família que dizia que São Paulo era muito perigoso, que para comer ele fazia em sua cidade mesmo.
Na volta, em Santa Cruz trabalhou com panfletagem para um político que havia prometido que se ganhasse a eleição lhe daria um emprego, o político perdeu e ele ficou sem emprego. Depois trabalhou em uma empresa que dirigia para engenheiros, “andava como gente”, arrumadinho e limpinho, mas a empresa foi para outro estado e ele não quis acompanhar. Aposentou-se como ajudante geral de um auto posto de rodovia, mas se lamenta de não ter aposentado como motorista. Seu Anesio não se casou oficialmente, teve uma companheira que pegava muito no seu pé e o relacionamento não deu certo, e ainda ela queria ficar com a casa que ele tinha comprado com “inquilino dentro”, quando ainda morava em São Paulo. Ficou sozinho por dez anos, limpava, cozinhava, lavava algumas roupas, pois as de domingo sua irmã fazia questão de lavar. Além da paixão por dirigir, Seu Anesio tem outra paixão que é tocar pandeiro, aprendeu nos bailes que ia, pedia para tocar e foi se aperfeiçoando fazendo até performances, tocou em bailes, carnavais e folias de Reis. Também toca triângulo, que aprendeu com os nordestinos que tocavam na Praça da Sé. Hoje Seu Anesio mora com a Maria José há cinco anos, eles frequentam o centro de convivência para idosos - Reviver, ele há muito tempo e ela recentemente. No Reviver ele gosta dos passeios, de jogar dominó com os amigos, tocar triângulo e pandeiro nas festas e nos eventos para idosos.Recolher