Projeto Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Rosa Rama Nakai
Entrevistado por Heloísa Gestera
Rio de Janeiro, 08 de março de 2005
Código: EDIHB 03
Transcrito por Susy Ramos
Revisado por Rebecca de Almeida Santana Silva
P/1 – Boa tarde! Eu queria que você me...Continuar leitura
Projeto Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Rosa Rama Nakai
Entrevistado por Heloísa Gestera
Rio de Janeiro, 08 de março de 2005
Código: EDIHB 03
Transcrito por Susy Ramos
Revisado por Rebecca de Almeida Santana Silva
P/1 – Boa tarde! Eu queria que você me falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Rosa Rama Nakai, eu sou de São José dos Campos e nasci no dia 30 de junho de 1954.
P/1 – Eu queria que você contasse para a gente como se deu o seu ingresso na Petrobras e quando.
R – Eu ingressei na Petrobras através de um concurso que eu prestei. Eu sou de São Paulo e, nesse concurso que eu prestei, eu fui aprovada e fui fazer o curso de especialização em refino de petróleo, em 1978, e me formei em 1979 pela Federal do Rio de Janeiro.
P/1 – E você já se formou depois de concursada?
R – Não, eu fiz o último ano na Federal do Rio de Janeiro junto com essa especialização em refino de petróleo.
P/1 – E você se formou em que?
R – A minha formação é engenharia química.
P/1 – Quando você ingressou na empresa foi 1900 e?
R – Como engenheira, 1979.
P/1 – Tá, e como foi sua trajetória dentro da empresa, os principais locais que você trabalhou?
R – Eu comecei na Refinaria de Capuava e fiquei lá até 1982, em julho. Em julho eu me casei e fui para São José dos Campos. Meu marido também é da Petrobras, ele veio do Xisto, também passou para São José dos Campos, na Revap [Refinaria Henrique Lage]. Em julho nós casamos e estamos lá desde então.
P/1 – E você conheceu o seu marido já dentro da Petrobras?
R – Dentro da Petrobras. Nós nos conhecemos através de uma amiga que hoje está na Replan [Refinaria de Paulínia].
P/1 – Também de lá?
R – (Eliana Rossato?). Hum, hum.
P/1 – E dentro da Petrobras, quais foram os principais trabalhos que você participou, a sua trajetória mesmo dentro da empresa?
R – Como atividade, eu comecei na parte de acompanhamento e análise de processos. Enquanto eu estive em Capuava eu estava nessa atividade. A gente vê todo o acompanhamento de como é refinado o petróleo e nós fazemos o controle. Depois, quando eu passei para São José dos Campos, eu comecei lá na área de programação da produção, onde a gente faz o planejamento da produção, que é o ponto de partida dentro da refinaria. A partir do momento que a gente planeja nossa produção, o que a gente define para quem vai operá-la dentro da unidade, que tipo de matéria-prima que nós vamos processar, é o tipo de produto que nós vamos gerar, que volume está sendo demandado. O ponto de partida da refinaria é a parte do planejamento da produção. E depois desse momento, eu também voltei pouco tempo para a análise de processo novamente, por um ano, dois anos, retornei para programação de produção e gerenciei a área de programação da produção. Nos últimos tempos eu passei para a Gerência de Otimização, que em uma nova estrutura foi criada essa gerência justamente para a gente buscar a parte de otimizar a produção. Dentro dessa gerência eu tenho uma equipe que faz a parte de planejamento da produção, uma equipe que faz análise e controle da produção, uma equipe de engenheiros trabalha com a parte de controle avançado, sistemas de controle avançado, controle da qualidade também, que é a parte de laboratório, desenvolvimento de produtos, e a última, uma das etapas que nós chamamos de apropriação da produção. Então todas essas atividades é que compõem a Gerência de Otimização.
P/1 – Explica, situa um pouquinho, você entrou na refinaria de Capuava. Em que momento você foi para a Revap?
R – Em 1982, julho de 1982.
P/1 – Eu queria saber porque nessa época estava crescendo a parte de produção na Bacia de Campos, era mais ou menos o início.
R – Isso, mais ou menos o início.
P/1 – Queria que você contasse para a gente, antes da chegada do óleo da Bacia de Campos
na refinaria, de onde vinha o óleo que alimentava essa refinaria? E os principais produtos que eram feitos, para depois passar para depois do momento da chegada do óleo da Bacia, quais foram as principais transformações?
R – No caso, eu vou contar da Revap que foi onde aconteceu essa mudança. Essa refinaria, inclusive, foi projetada para processar petróleo importado, petróleo do Kuwait, petróleo da Arábia Saudita, e nós vínhamos processando esses petróleos. Depois, o primeiro petróleo nacional que nós começamos a processar foi o cabiúnas. Esse petróleo, na época, a gente tinha até um temor porque era um petróleo mais pesado que o nosso importado, ele tinha uma preocupação do tipo de acidez naftênica que é um tipo de característica que acaba danificando mais os equipamentos. Tinha que ter um material compatível com esse petróleo. Mas depois a Revap se adequou para processar mais e mais petróleo nacional porque nós já tínhamos uma sinalização de que a produção de petróleo nacional ia crescer muito, e a Revap foi uma das pioneiras nesse processamento de petróleo cabiúnas com volume bastante grande, porque nós também já tínhamos, na época, uma unidade chamada hidrotratamento, que era uma unidade que permitia a gente processar mais petróleo nacional, tratar o derivado, basicamente querosene e diesel, que já naquela época tinha uma demanda bastante forte desses derivados. Isso permitiu que a gente processasse cada vez mais o petróleo nacional e a gente hoje, por exemplo, já processamos em média 85% de petróleo nacional. E com esse petróleo nacional, eu tenho bastante orgulho de dizer isso, porque com esse petróleo nacional nós produzimos o melhor querosene, que é reconhecido internacionalmente, somos o maior produtor de querosene de aviação, e posso dizer, com qualquer petróleo nacional, que hoje a gente conhece, nós conseguimos produzir o melhor querosene reconhecido. Somos o maior produtor de asfalto também. Antigamente, para produzir esse asfalto tinha que ser um petróleo bastante específico, mas no caso da Revap, que já tinha uma outra unidade que nós chamamos unidade de ________, com essa unidade nós conseguimos pegar uma corrente de petróleo nacional e fazer o asfalto com ótima qualidade. Então hoje eu digo o seguinte: a gente não tem nenhuma restrição de processar o petróleo nacional e nós estamos prevendo para 2008 um empreendimento bastante grande dentro da refinaria para a gente poder aumentar o processamento de petróleo nacional, ir a 100% e gerar produtos mais nobres.
P/1 – Que são? Quais são esses produtos mais nobres?
R – Produtos mais nobres? Na verdade é o seguinte, hoje, sem ter essa unidade de (coque?), por exemplo, nós precisamos produzir um óleo combustível que tem uma sobra muito grande no mercado, pela questão de ter entrado gás natural, que também é um produto Petrobras. O gás natural foi substituindo nas indústrias o que a gente chama de óleo combustível, que é a parte mais pesada do petróleo. À medida que o gás natural foi entrando, esse óleo combustível começou a sobrar, então agora estamos fazendo a unidade de (coque?) que vai pegar essa parte do óleo combustível e vai gerar (coque?), e desse outro pesado a gente vai gerar outros nobres: querosene, diesel. Então na conversão, na mudança realmente da gente poder pegar alguma coisa que ia ser um produto muito inferior, que está sendo hoje inferior, e transformar em (coque?), em querosene, em diesel.
P/1 – Rosa, deixa eu voltar um pouquinho para entender melhor essa história. Você falou que a refinaria recebia óleo basicamente do Oriente Médio, e produzia o que? Por que o que a refinaria produz? Porque são várias possibilidades, então vocês já eram equipados para produzir o que?
R – Uma refinaria de petróleo tem o básico, que é gás de cozinha, que nós chamamos GLP [Gás Liquefeito de Petróleo], a nafta petroquímica, que vão para as petroquímicas, a gente tem o querosene de aviação, que é ______, o diesel, a gasolina e óleo combustível. Quer dizer, mesmo com o petróleo nacional, com o petróleo importado, nós produzíamos exatamente essas correntes. Com o petróleo nacional, que é um petróleo mais pesado, a tendência é a gente gerar produto mais pesado e menos nobre, mas são os mesmos derivados.
P/1 – Você comentou na sua fala que essa refinaria foi pioneira no recebimento de uma grande quantidade de óleo nacional.
R – Na época foi o cabiúnas.
P/1 – Fala para a gente, o que foi esse pioneirismo? Quais foram os desafios que vocês tiveram que enfrentar, as principais transformações no processamento desse óleo?
R – No processamento desse óleo, por naquela época ele já ter essa característica de acidez naftênica, nós tivemos em várias fases adaptação da nossa unidade com mudança do material dos nossos equipamentos e tubulações. Uma coisa boa também, o petróleo nacional tem baixo teor de enxofre, coisa que o petróleo importado não tem. Isso permitiu que a gente conseguisse gerar produto com menos teor de enxofre e mais valorizado no mercado internacional, inclusive. A parte, por exemplo, de óleo combustível, naquela época, tá, de óleo combustível com baixo teor de enxofre, ele vale mais do que o de alto teor de enxofre. A mudança na refinaria foi que no início a gente tinha um temor natural porque era uma matéria-prima não conhecida, era mais pesado e tinha mais acidez naftênica, e nós tínhamos que processar justamente porque já havia a sinalização de que esse petróleo nacional ia vim com um volume maior. Muda um pouco o perfil de rendimento também, a gente acaba gerando produtos mais pesados, então a gente também tem que adequar mais a nossa logística de armazenamento, a logística de transporte desses produtos mais pesados, então mudou nesse aspecto. Nós tivemos paradas programadas para manutenção que ao invés de você só chegar para limpar equipamento, teve que mudar o material. O grande desafio foi a gente fazer à medida que a produção nacional ia aumentando, a gente ter unidade adequada para processar esse petróleo nacional.
P/1 – Vocês então passaram por várias reformas?
R – Em etapas. Em várias etapas partes de cada equipamento foi sendo substituído o material do equipamento. Nós tínhamos um temor, por exemplo, que a gente não pudesse produzir querosene de aviação.
P/1 – Vocês não sabiam?
R – Com o petróleo importado, a gente às vezes produz querosene de aviação sem precisar de hidrotratamento. Nós já tínhamos umas unidades de hidrotratamento, mas não sabíamos se aquela unidade de hidrotratamento já era totalmente suficiente para gerar um produto acabado. Pelo Cenpes [Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello] já tínhamos uma indicação que sim, mas entre uma pesquisa e outra, na fase industrial é um fator preocupante. O trabalho com o Cenpes é realmente na fase de pesquisa, então na fase de pesquisa a gente tem muita troca de experiência, ____ piloto. Nessa fase, os engenheiros têm uma participação bastante grande para estar pesquisando junto.Quando nós tivemos essa constatação: “Vai dar para fazer querosene de aviação”, nós passamos e comprovamos a nível industrial que realmente dava para fazer o querosene de aviação.
P/1 – Me conta um pouco disso. Você falou que no começo não sabiam nem se iam conseguir fazer o querosene de aviação e você comentou que hoje em dia é um produto premiado, de alta qualidade. Como foi, vocês foram desenvolvendo?
R - ________. A gente começa dessa forma, a gente começa pequenininho. A gente fala muito em querosene e diesel porque a Petrobras importa esse produto e nós temos uma missão bastante forte de diminuir a importação desses produtos, para ser menos oneroso para o país.
P/1 – Hum, hum. Isso está relacionado à densidade do óleo?
R – Bem mais denso, bem mais denso.
P/1 – E aí vocês têm que novamente tentar se adequar?
R – Se adequar porque cada vez que o petróleo está mais ácido...
P/1 – Explica para a gente!
R – ...a gente tem que mudar de novo o material. Hoje o cabiúnas é bem menos ácido do que o que está para vir e bem mais leve do que está para vir ainda. Além da gente mexer em torres, em fornos, também tem que substituir o material da tubulação. Das tubulações, dos equipamentos, das bombas, permutadores, então tem que adequar porque se a gente não adequa, ele, em um certo tempo, ele fura. A acidez naftênica vai comendo o material e a hora que ele começa a comer o material, ele começa a ficar como se fosse uma casquinha de ovo. Com a alta pressão que a gente tem lá, aquilo lá fura e pode vazar. Hoje como a Petrobras, o nosso maior valor é a segurança dentro da Petrobras, então a gente sempre tem que estar com isso trabalhando antecipadamente antes de chegar esse petróleo ultrapesado.
P/1 – Ao mesmo tempo que vocês comemoram essas descobertas, a Petrobras está parece que perto de atingir 100% da produção...
R – Auto-suficiência.
P/1 - ...da sua auto-suficiência, para vocês isso é um desafio pelo óleo que está chegando, pela missão de diminuir cada vez mais as importações?
R – Hã, hã.
P/1 – É muita pressão?
R – É. Na realidade mais do que pressão, é que quando a gente... nesse sentido a Petrobras trabalha muito antecipadamente tanto para atender a especificação futura que está por vir, assim como para os novos petróleos que estão para chegar para a gente refinar. Então eu digo assim, é um desafio para nós, dá mais ânimo até da gente pensar que não é uma coisa parada, que a gente quer buscar coisas diferentes, e isso daí mobiliza uma equipe bastante grande dentro da Petrobras também, desde o Cenpes até a refinaria. Tanto o pessoal de pesquisa, o pessoal de inspeção de equipamento, então é um trabalho que não se realiza só uma pessoa ou uma equipe isolada da refinaria, ele envolve a Petrobras como um todo para esse projeto. Para nós, eu digo o seguinte, como a gente no passado já tem um histórico de que tudo que a gente entrou, recebeu como desafio e a gente comprou a ideia, foi implementando e foi sempre um sucesso, a gente acredita muito que com esse petróleo ultrapesado nós vamos ter o mesmo final de história. Outra coisa que eu vejo também é que como o petróleo nacional está aqui dentro do Brasil, é um petróleo mais barato. Você não tem custo de frete, no fim a matéria-prima é mais barata. A gente que acompanha a margem de refino na refinaria, a margem de lucro na refinaria, quando a gente põe petróleo importado porque faltou algum petróleo nacional, a nossa margem cai. Por mais que seja um petróleo mais leve, a gente paga muito mais caro, tem o custo de frete, tem o custo de importação.
P/1 – Como o petróleo chega na refinaria?
R - ______.
P/1 – Sempre foi?
R – Como São Paulo sempre tem essa indicação de melhor mercado, era o lugar onde mais podia refinar petróleo nacional, vamos dizer. São Sebastião também teve que se adaptar. A vinda do petróleo nacional também São Sebastião teve que se adaptar, por que? Porque era um petróleo pesado, tinha mais água e mais sal também. O petróleo de produção marítima vem com bastante sal e água também, então São Sebastião também teve que se adequar, tanto para preparar o petróleo antes de bombear,porque o petróleo depois que vem do navio, ele tem sal, tem água, tem que dar um repouso, tirar esse fundo para não ter que ficar bombeando água e sal em cima das refinarias...
P/1 – De alguma forma ele começa a ser processado no terminal?
R – Não, ele fica dentro do tanque, fica em repouso, e cada vez que o petróleo fica em repouso, ele gera uma quantidade de água no fundo. A água é mais pesada que o petróleo, então fica no fundo, e à medida que vai decantando, vai dando o tempo de repouso, ele vai decantando. Esse volume de água depois é “tirado” desse tanque, colocado em um outro tanque, para depois só bombear petróleo com menos sal e água para as refinarias. Em capacidade de bombeio também, porque é um petróleo mais pesado, então ele requer bombas com capacidades maiores. Só para vocês terem uma ideia, a Revap processa 40 mil metros cúbicos por dia, 40 milhões de litros, a Replan, por exemplo, processa acho que 57 mil metros cúbicos de petróleo, então só aí São Sebastião tem que movimentar 90 mil metros cúbicos de petróleo por dia, 90 milhões de litros de petróleo por dia, é muito volume! Fora também, depois tem Santos e tem Capuava. São Sebastião realmente é um terminal de muita capacidade de envio de petróleo.
P/1 – Ele vai para a refinaria como?
R – Ele vem para a refinaria por tubulação. No caso da Revap, a gente consegue receber direto, no caso da Replan, eles colocam uma parte em um terminal que a gente chama de Guararema e de lá é “rebombeado” para a Replan, porque a Replan fica mais para o norte, mais distante de São Sebastião. Para Santos também, tudo é bombeamento por tubulação de alta capacidade. E a gente recebe, nos tanques nós temos ali, há mais ou menos sete tanques de petróleo, de capacidade de 60 mil metros cúbicos. A gente recebe nesses tanques de petróleo, dá outro repouso, analisa, a gente acompanha enquanto o recebimento acompanha, faz uma amostragem durante o recebimento para ver a qualidade, depois que recebe no tanque dá o repouso, tira o fundo de novo. Às vezes pode ter ainda água, porque a unidade de processo não pode receber água, porque a gente esquenta o petróleo e acima de 200 graus, se tiver água nele, muita água, ele acaba criando muita pressão dentro da unidade e tem problema de acidente, inclusive. Uma característica do petróleo nacional que tem bastante água, a gente tem que remover essa água antes de entrar na unidade de processo.
P/1 – Esse óleo que sai da Bacia de Campos, ele é refinado em várias refinarias do país? Como é essa distribuição?
R – Hoje sim, em todas as refinarias do Brasil.
P/1 – Todas?
R – Todas. Umas com um percentual maior e outras menos, mas as refinarias como _____, Replan e Revap, e hoje Recap [Refinaria de Capuava] também, em São Paulo, são as que mais processam percentualmente o petróleo, o petróleo nacional.
P/1 – O petróleo da Bacia de Campos?
R – Da Bacia de Campos.
P/1 – Rosa, os produtos, você falou que trabalhou na parte de planejamento, e isso é o que? É ver a qualidade do óleo, ver quais são os produtos que esse óleo vai gerar?
R – Na verdade, mensalmente a gente faz um planejamento da nossa produção para os próximos dois meses e isso coordenado pela sede, na área de logística da sede. Então a logística também tem um simulador que faz a melhor distribuição de petróleo. Ele vê aonde que o tal petróleo é mais rentável ou não e também é obedecida algumas características do tipo: tem que ser aquele petróleo para alguma determinada refinaria? Porque senão aquela refinaria não consegue produzir algum determinado produto, por exemplo. Tem que ter uma mistura também, às vezes uma refinaria tem essa característica. Não é qualquer refinaria que recebe qualquer petróleo nacional.
P/1 – Quais são as características da refinaria que você trabalha?
R – Na nossa agora hoje a gente processa qualquer petróleo nacional, hoje processamos qualquer petróleo nacional. Principalmente nós temos essa unidade de hidrotratamento, que faz o tratamento das correntes de querosene e diesel, então nós processamos qualquer petróleo nacional.
P/1 – Qual o tipo de óleo oriundo de Campos e em que ele difere do resto do óleo do país?
R – Da Bacia de Campos?
P/1 – É.
R – Na realidade, a maior parte do petróleo da Bacia de Campos é um petróleo mais pesado do que norte e nordeste do país, mas só que os petróleos do norte e nordeste não chegam aqui para o sul porque tem o frete, fica mais caro trazer o petróleo lá do norte e nordeste, que é mais leve, e trazer aqui para sudeste. Eles ficam mais entre Rlam [Refinaria Landulpho Alves], na Bahia, acho que a _____ também processa, Manaus também processa esse petróleo que está lá no norte. Lá em São Paulo nós processamos petróleos mais pesados, que no caso é o marlin.O marlin é o mais pesado que a gente tem e nós processamos, principalmente, o marlin. Qualquer refinaria de São Paulo.
(Pausa)
P/1 – Pode retomar falando desse planejamento.
R – Planejamento. Então, mensalmente a gente faz um planejamento junto com a sede, que a sede fornece para a gente os petróleos disponíveis para a gente processar. Por outro lado, nós temos essa demanda, os derivados e os volumes que a gente precisa para atender ao mercado, tanto interno como também para exportação. Com essas duas informações, ou seja, de petróleo disponível e mais o mercado, nós também estamos utilizando para a gente fazer um planejamento mais otimizado ou mais rentável. Através do simulador a gente consegue ver, com esse petróleo, quando sair processado, que tipo de derivado nós vamos gerar. Depois nós fazemos um fechamento mensalmente com a logística: “Nós temos esses derivados aqui, nós vamos ofertar com esse petróleo que vocês passaram para a gente”, e nós fechamos um planejamento dentro da área São Paulo. Como são quatro refinarias, nós fechamos esse planejamento de produção dentro da área de São Paulo e também fazemos o planejamento de abastecimento de derivados para diversos terminais, diversas distribuidoras, e com isso a gente tem um planejamento fechado para o mês. E com esse planejamento, a gente processa dentro da refinaria conforme foi planejado no início do mês.
P/1 – Explica para a gente, o que é o processamento do óleo? Quais são as etapas?
R – Quais são as etapas? É o seguinte, depois que nós recebemos o petróleo, nós recebemos dentro de um tanque e nós preparamos, que é dar o repouso, tirar a água desse tanque e assim que ele estiver preparado, nós temos outras análises, tipo teor de enxofre, acidez naftênica, então tem uma qualidade do petróleo que a gente recebeu. Depois a gente tem um dia que esse tanque vai entrar na unidade, então ele passa, ele é enviado para a unidade, passa por um processo de dessalgação, que é tirar sal e água desse petróleo, passa por uma fase de aquecimento, que a gente chama trocador de calor e fornos, e depois ele vai para uma torre. Nessa torre, que é uma torre mesmo de destilação que a gente chama, e que é separado o que é gás de cozinha, o que é nafta, o que é querosene, o que é diesel. E a gente tem outros processos que a gente chama de destilação à vácuo, nós temos craqueamento catalítico, nós temos desasfaltação, hidrotratamento. Essas várias outras unidades vão estar separando a parte mais pesada, de cozinha, e a parte do tratamento que faz a remoção de enxofre e deixa o produto mais estável. Porque o petróleo nacional tem uma característica assim: se você não hidrohidrata o produto, por mais que ele tenha teor de enxofre baixo, a gente não consegue especificar dentro da especificação da Agência Nacional de Petróleo, então precisa passar por hidrotratamento para remover enxofre. E outra, à medida que você remove enxofre e passa por esse hidrotratamento, a gente deixa o produto mais estável. O que é produto mais estável? É aquele produto que você gera e mesmo você deixando ele estocado, ele não degrada, ele não fica escuro, por exemplo. A gente vê, alimento também, tem alimento que se você deixar exposto recebendo oxigênio, ele começa a ficar escuro. O querosene e o diesel também é assim, então a gente passa por hidrotratamento. Esses são os principais processos de uma refinaria, que é o normal, é o básico.
P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho das tecnologias desenvolvidas nesses últimos anos. Tecnologias relacionadas ao refino, ao processamento do óleo.
R – Tá.
P/1 – Quais foram? Se essa questão ambiental também levou...
R – (Pesa?) muito.
P/1 - ...se isso levou também à missão de desenvolver melhores formas de processamento de óleo, tratamento dos resíduos.
R – Nos últimos tempos o maior desafio, um dos desafios para a Petrobras, para nós, é que nós temos uma cobrança ambiental muito forte. Fora a cobrança ambiental, tem a cobrança de segurança, principalmente a Revap, que é uma refinaria que está no meio da cidade, na verdade a refinaria chegou lá e a cidade foi crescendo em torno da refinaria. Antigamente a gente podia drenar produto e gerar: “O que é esse cheiro? Por que esse barulho?”, até barulho eles começaram a reclamar. E a parte de segurança também, hoje a gente não pode ter explosão, incêndio, como antigamente tinha mais. Mas agora com esse trabalho assim, tornando esse (MS?) como valor da empresa, uma parte, acho que 1/3 dos nossos investimentos, ou até metade dos nossos investimentos quando a gente vai fazer uma parada programada, é voltado para essa questão de preservação do meio ambiente e de segurança. A última parada nossa, uma boa parte do dinheiro envolvido nessa parada para adequação das unidades, foi mais gastos em (MS?). Outra coisa, emissões de gases, de componentes de enxofre, também nós tivemos que investir para reduzir esse teor, essas emissões para a comunidade. Outra coisa que foi importante também com a vinda do petróleo nacional, que no caso a Revap, por exemplo, a nossa unidade, a capacidade nominal dessa unidade era de 24 mil metros cúbicos por dia, e desde que a gente começou a refinar petróleo nacional, nós chegamos a 40 mil metros cúbicos por dia. Foi um salto, de 24 para 40 mil, 16 mil metros cúbicos por dia a mais de capacidade de refino.
P/1 – Quase o dobro!
R – Quase o dobro, é isso mesmo. Agora o nosso foco não é mais aumentar a capacidade de refino, o nosso foco é investir para melhorar a qualidade dos produtos, por que? Está vindo umas especificações mais rigorosas, principalmente voltadas para a preservação do meio ambiente, que são teores de enxofre nos derivados, são muito mais rigorosos, e também para a preservação ambiental, para a gente não emitir.
P/1 – ________ o desafio é um pouco maior do que o desafio da qualidade do óleo nacional.
R – Ah, sem dúvida! Nossa, sem dúvida! Hoje a gente tem a nossa vizinhança sabendo o que acontece com a refinaria. Coisa que antes nós éramos uma caixa preta para a população. Hoje a população sabe, sabe por que? Porque a gente também abriu as portas para eles conhecerem nosso processo de refino, a proximidade com a comunidade a gente foi forçado a ter, para a comunidade não ficar mais temerosa. O temor vem por desconhecimento, então além da gente ter habilidade para refinar o petróleo, a gente também teve que ter a habilidade de tratar isso junto à comunidade, com os órgãos ambientais, com a Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo]. Acho que o maior desafio, você tem razão, foi isso mesmo.
P/1 – Rosa, para encaminhar para o final da nossa conversa, eu queria que você contasse para a gente alguma história interessante em relação ao seu trabalho. Pode ser engraçada, pode ter sido um momento de perigo na refinaria, algo que tenha te marcado.
R – Para mim me marcou quando eu cheguei na Petrobras, porque eu sou da primeira turma de mulheres, de engenheiros, da turma de 1979. Quando eu cheguei em Capuava?, uma refinariazinha bastante pequena, a refinaria já era de 1954, e ali os operadores já eram operadores assim bastante veteranos. Eu cheguei com certo receio nessa refinaria porque eu falei: “Nossa, primeiro que não tem engenheiro mulher, vou ser a primeira, e outra, como será que os homens vão me receber?”. Eu fui recebida, aquilo lá me deixou muito feliz, foi o meu início profissional e eu tive muita felicidade de ter entrado em uma refinaria pequena, antiga, onde tantos os meus colegas engenheiros, me receberam muito bem, mas os operadores, já senhores, tinha até senhores de bastante idade, me receberam como até filha mesmo. Eles fizeram questão de me ajudar a entender aquele processo, eu tive todo o apoio. Por exemplo, na unidade de processo, não tinha banheiro para mulher. Hoje tem. Eram algumas dificuldades, mas eu digo como desafio, pelo fato de ser mulher, foi tudo facilitado. Eu só saí de lá porque realmente o meu marido era ______. Em São José eu também tenho muita satisfação em trabalhar lá, por que a refinaria, por mais que tenha mais de 20 anos, é uma refinaria mais nova da Petrobras, a Revap, e eu tenho uma satisfação muito grande de trabalhar lá porque o pessoal é muito bom, nós trabalhamos bastante integrados também. Eu digo assim, a minha história dentro da Petrobras, eu me considero uma mulher, uma profissional, uma esposa muito feliz, e a Petrobras ter me aceitado dentro da empresa.
P/1 – O que achou de ter participado dessa entrevista? E o que você acha do Projeto Memória dentro de uma empresa como a Petrobras?
R – Quando eu recebi o convite fiquei super contente, eu fico emocionada porque eu entendo que esse trabalho que está sendo realizado aqui é para ficar dentro da história da Petrobras. Eu estou tendo oportunidade que poucos estão tendo. Quando eu recebi o convite eu fiquei, nossa, eu fiquei realmente muito feliz, fiquei emocionada. Como vai ficar dentro da história da Petrobras, pode se passar 100 anos, eu considero que eu vou ter pelo menos a gravação, pelo menos essa entrevista aqui. Já fiz entrevista em outros trabalhos, mas eu considero esse trabalho bastante importante, eu sei que eu faço parte da história da Petrobras e esse momento está registrando isso. Me deixa muito contente, eu tenho que agradecer muito às pessoas que me indicaram para estar aqui falando com vocês. Agradeço muito!
--- FIM DA ENTREVISTA ---Recolher