Projeto Memória dos Brasileiros
Entrevistado por Otan Rodrigues e Claudia Leonor
Depoimento de Antonio Crispim Veríssimo
Serro, Distrito de Ausente, 04/08/2007
Realização Museu da Pessoa
Entrevista MB_HV037
Transcrito Ana Lucia Vasconcellos Queiroz
Revisor por Paulo Ricardo Gomides Abe
P/1 –...Continuar leitura
Projeto Memória dos Brasileiros
Entrevistado por Otan Rodrigues e Claudia Leonor
Depoimento de Antonio Crispim Veríssimo
Serro, Distrito de Ausente, 04/08/2007
Realização Museu da Pessoa
Entrevista MB_HV037
Transcrito Ana Lucia Vasconcellos Queiroz
Revisor por Paulo Ricardo Gomides Abe
P/1 – Senhor Crispim, o senhor poderia dizer seu nome, o local de nascimento e a data, por favor.
R – O nome é Antoni Crispim Veríssimo. Nascido dia 25 de outubro de 1943. Está bom?
P/1 – E o senhor nasceu?
R – Dia 25 de outubro de 1943
P/1 – Mas o senhor nasceu em Ausente?
R – Nascido em Ausente. Nasci aqui em Ausente.
P/1 – Aqui nesta mesma casa?
R – Não. Não é nesta, não. Eu nasci numa outra casa lá em baixo. Depois nós fizemos uma outra pequena ali. Mas há certos anos nós tivemos problemas. É que eu fui... A vida agora também é mais difícil. Eu fui mudando pra cá. E a de lá também era pequena. Quatro cômodos. Eu estava querendo fazer uma de seis cômodos. Mas quanto é que eu vou gastar com essa casa aqui? Nesse ____ sem água. Eu passo ela pra baixo. Porque nós buscávamos água na mina lá adiante. Na cabeça, certo? Então eu vi aqui, a localidade, a água vinha, ela vinha até em riba da casa aqui! E a caixa está ali. ____ em cima e ó! ______________.
P/1 – E os pais do senhor? A mãe e o pai?
R – Já são falecidos.
P/1 – Qual eram os nomes deles?
R – O nome de meu pai: Francisco Sérgio Veríssimo.
P/1 – E da sua mãe?
R – [Prazer Ave?] dos Reis.
P/1 – Com o quê eles trabalhavam?
R – Ah, eles trabalhavam de trabalhador rural. Mexiam com lavoura, essas coisas.
P/1 – Como que era essa lavoura? Onde que era?
R – Na lavoura plantando mandioca, plantando cana, milho, feijão. Na época em que eles viviam, fazia isso. Agora, quando estava em época da seca, que não tinha esse serviço de roça, meu pai ia pro garimpo. Entendeu? Ele ia pro garimpo. Garimpava, tirava a socata dele, apurava, tirava o ourozinho, o diamante. Era assim. O ramo dele era esse. O ramo dele era esse.
Não tinha outra coisa a fazer, não. Não tinha indústria nenhuma, não. Sabe disso? De nada. Isso é que o povo mais velho e tudo, encontrou essa dificuldade. Porque vocês são novos. Não havia salário, não. Viu? Nada de ter um salário, não. O pessoal, quando dava na época, passava a época de roça, o pessoal ia pras fazendas, trabalhar nas fazendas. Nos fazendeiros, trabalhando. Limpando planta. Aquela coisa. Troperando. Tinha até pessoa da mata aqui, tocando lote de burro. Transportando as coisas. _____. Lembro quando rasgava saco de feijão. _________ de feijão na estrada. Lembro muito disso! Hoje, você sabe quem melhorou o nosso Estado, o Brasil? Getúlio Vargas. Você sabe, Getúlio foi um homem muito bom, gente. Eu era garoto quando ele morreu. Se ele estivesse vivo, estava com 105 anos agora. Justamente, ele nasceu em 1902. Getúlio Vargas. Eu tenho aí anotação do nascimento dele. Bom, mas acontece que ele assinou o salário. Ele assinou. Ele deixou ele assinado. Mas não sei o quê, ele viu que ele, dizem, que ele se suicidou. Ele morreu ainda novo. Porque se ele estivesse aí, estava com 105 anos agora. Ele morreu novo, não é? Mas aconteceu. Veio o Juscelino. Juscelino decretou o salário. Entendeu? Mas estava assinado. Ele decretou. Ele foi fazer barraco de três Marias, aquele mundo de barraco __________. Meus irmãos estavam lá. Construíram Brasília. Foi feita pelo Juscelino. Juscelino _____ tarde demais. Foi muito ótimo presidente. E vem melhorando. Entrou um também que não trabalhou direito. Mas é assim mesmo. Mas ele trabalhou bonito. Juscelino foi um homem muito bom. Presidente bom mesmo. Agora nós estamos gostando muito do Lula. O Lula está sendo um presidente bom também, demais da conta. Bom mesmo! ____ de que falar de Lula, não sei por quê. O homem está trabalhando bem mesmo. O administrativo muito bom. Ele não subiu a inflação. Por que a inflação! Nossa Senhora! A inflação acabava com o povo! Se você estava devendo uma conta de dez conto – não falava real, não –, em poucos dias tinha que pagar 20. Entendeu? E o comércio ____ pra pessoa assim: é preço do dia. Preço do dia. Você punha o dinheiro guardado na caixa, quando poucos dias aquele dinheiro desvalorizava. Não adiantava guardar dinheiro dentro de casa, não. Você tinha que comprar, comprar. Porque quando fosse amanhã você não comprava aquilo mais! Então, são as coisas que a inflação acaba muito com o pessoal. É. Portanto eu gostei muito de Fernando Henrique, foi um bom presidente também. Foi bom porque baixou a inflação. Fernando Henrique. Foi bom.
P/1 – Dessa época que o pai do senhor garimpava. Como era esse garimpo? Onde ele garimpava? Que rio? Que pedras ele encontrava?
R – Que rio? Nesse rio que tem aqui. Ele trabalhava aqui. Outra vez outro colega chamava pra ele trabalhar lá pro Baú. Trabalhou na Raiz, um lugar que chama Raiz, aqui. Lado de cá de Diamantina. É. Não é longe, não. Esse aí é perto. ____, garimpando. Tomava conta do serviço pro Moisés. Garimpava demais, meu pai. Era garimpeiro. Aquilo é assim: o pessoal tirava aquela cata e fazia o _____. E passava o _____ na fervura. Lá fazia, o fervedor. Fervedor. Então o diamante que sai dessa caía na outra. Na hora você vai lavar, lavar em peneira. Batia, o diamantinho vinha no meio da (forma?). É a maneira de garimpar. Nem isso mais, o Vitinho me chamou mais os meninos, para mostrar como que era o garimpo. Tem a maneira de garimpar também que chama baco: pega o minério, põe lá na areia, e agora você pega água do poço também. A batinha de Baco. O lugar tem pouca água e o diamante cai tudo no aterro do baco. Depois você rapa o Baco, pega o diamante e ouro. É! Eu vejo que o povo hoje não sabe nada disso mais, não é? Acabou, sabe?
P/1 – Quando o senhor achava um diamante. O que o senhor sentia?
R – Ficava satisfeito, ué. Porque se você achou o diamante, o dinheiro está no bolso. É uma coisa que nunca perdeu valor: foi o diamante. Ouro e diamante nunca perdeu o valor. Quando o dólar baixa, ele também baixa. Entendeu? Como agora, agora não está bom de preço porque o dólar está baixo. Mas depois o dólar sobe, você põe pra vender. O povo só tinha de viver disso. Porque não tinha outro ramo. É.
P/1 – E por que aqui chama Ausente?
R – Ora, essa pregunta é o seguinte: quem me faz essa pregunta aqui. Eu achei um senhor mais velho, mais velho. Falava que foi o homem, ele representou aqui. Entendeu? Ele não é daqui, não. Então, diz que eles falaram que eles ficou ausente da terra dele, ausentado da terra dele. Então, esse homem morou aqui. Diz que morou aqui em _______. Então, é um dos primeiros habitantes que teve. Ficou o nome de Ausente. Tanto que aqui o nome da fazenda: Fazenda do Ausente. Entendeu? É o nome do terreno todo aqui – é falado, não sei se é verdade – 400 alqueires de terra. É 400 a fazenda, ao total. Então ficou em nome: Fazenda do Ausente. Aqui toda terra aqui, pra passar um documento é na Fazenda do Ausente. Fazenda do Ausente. Assim que eu achei. A história foi essa. É. Porque aqui não tinha muitos habitantes, não. Essa comunidade aqui é mais nova. A comunidade mais velha, de morar aqui, é a Baú. O Baú é mais velho do que o Ausente. Porque o Baú, a geração anterior do Baú, é que mais formou Ausente. A maioria dos habitantes daqui é de lá do Baú. Veio pra cá. Minha mãe não é daqui, não. Minha mãe não é nascida aqui. Minha mãe é nascida no Baú. Minha mãe. Ela é nascida é lá. Meu pai era viúvo, casou com ela e trouxe ela pra cá. Meu pai também não é daqui. Meu pai é de Milho Verde, nasceu dentro de Milho Verde, foi criado lá. Mas casou com uma moça. Aí não sei o que ele arrumou lá, essa mulher morreu. Depois ele casou com a minha mãe. ____ ficou morando ___ dele morrer. Aqui. Mas meu pai também não é daqui, não. Dizer que ele é original daqui de dentro de Ausente, não é. Não. E a origem do meu pai vem tudo do Serro. O avô dele é do Serro, o Doutor Veríssimo. É lá do Serro. Ele era advogado, ele não é doutor de saúde, não. É doutor de lei. Tanto que o nome dele, Doutor Veríssimo. E a mãe do meu pai é daqui da ___ do Cunha. Ouviu falar no Cunha? Ou você já passou por lá? Porque lá é. ____. Ponta do Cunha é. Minha avó é nascida lá. É isso aí. Eu sei a história toda.
P/1 – E qual a história do Baú?
R – O Baú, dizendo o que os velhos falavam. Que foi um dos velhos que plantou. Um plantou a roça. Diz que a roça ficou muito bonita. Um falou com o outro assim: “Ih, mas ___ está um baú!” Ele ficou apoiado com o nome Baú. Diz que é o ____ da roça. Assim é falado. Bão. E aí tem muitas coisas que o povo ___ cabeça, fala, e aquele nome fica. É isso aí. Agora lá o Baú, é que é isso. O Baú foi formado pelo escravo. O Baú, a habitação do Baú formada pelos escravos. Porque eles vinham da África, e então se sofria muito nas senzalas do sinhô. Aí eles fugiam e barravam lá. Eles fugiam dessas áreas. E ficavam no Baú. Portanto o pessoal todo do Baú, eles tem origem na África. Eles são africanos. Não é pessoal brasileiro, não. É africano, viu? Ah, tinha um tal Serafim, não conheci, esse daí não cheguei a ver, não. Vi foi o filho dele. O filho dele chamava Firmiano. Mas o Serafim pai não conheci. Ficou em nome de Serafim (Candambe?). Ele veio da África. Serafim (Candambe?). Então por que que puseram Serafim (Candambe?)? Porque dizem que ele gostava muito de feijão. Entendeu? Gostava demais de feijão, comia feijão. Ele foi apelidado de Serafim (Candambe?). O nome dele não é Serafim (Candambe?), é Serafim da Costa. Tanto é que a família lá, toda lá, assina por Costa. Agora há pouco chegou um neto dele aqui. O neto dele até é meu compadre, chama Roque. Eu fui distribuir com ele, como é que é? Tudo direitinho. Fizemos um encontro lá em Belo Horizonte, lá. Estavam três ___. Então eu representando do Ausente e Baú. Vão dois representantes no encontro. Foram fazer pra mim a pergunta aqui do Ausente. Eu expliquei. Está o representante lá do Baú: “Oh, Crispim, quero saber quais eram os primeiros habitantes do Baú”. Falei, ah, ____. O primeiro habitante meu bisavô Francisco dos Santos, e Maria Mutuca. Serafim e João de Virgínia. Fui dando os dados tudo assim, é, eu falei, eu sei tudo. ____ e Maria Mutuca. Havia Maria Mutuca. Uma das primeiras moradoras do Baú. Entendeu? É.
P/1 – E tem alguma história que o pai do senhor conta da comunidade do Baú? Como é que era? O que eles faziam?
R – Pai? Pai não contava. Meu pai, não. Ele não contava porque ele não era de lá. Não, meu pai não. Ele não contava nada de lá. Pai era um homem engraçado que nem pra conversar no dialeto ele não conversava. Não, nem o dialeto. Pai não conversava no dialeto, não. O dialeto é pra só lá do Baú. É só o povo do Baú. Mesmo. Meu pai não conversava. Nunca vi meu pai falar uma palavra do dialeto. Entendeu?
P/1 – Que dialeto é esse?
R – O dialeto é cultura.
É cultura, entendeu? Ele é cultura mesmo, o dialeto. Dialeto, por exemplo, nós então: ________________________. O que eu falei pra você? [risos]. Isso que é dialeto. Não, e se nós trabalharmos juntos num setor só? Igual estão vocês, veja. Vocês trabalham num setor só, vocês são ____ e parceiro. Parceiro. Por que vocês são parceiros? Porque trabalham num setor só. Então, companheiro de serviço é parceiro. Eles falam: ____. E a casa, como é que chamam? ____ é que é a história que vocês vieram saber de mim aqui, e tudo mais. Jó, casa chama Jó. E cavalo? Entendeu? Você está a cavalo. Eu estou a pé. Lá no Milho Verde, e você está a cavalo, eu já bebi uma pinga, eu não aguento mais vir em casa a pé. Isso é ____. Ah, bom. Eu vou fala então: “Você pode arrumar um ___________?” Você entende a língua dos outros. _______________. Pega seu cavalo na estaca, passa a perna nele, vem embora. Pronto. Mas aqui, não, sabe? Mas aqui quem falou com ela? __________! E isso aqui, como é que chama? ______. Aqui. Bom, isso aqui é um boné, não é? Não é lugar de chapéu. Entendeu? Por que o chapéu chama ____. É feijão: pipoque, arroz: _____; passarinho: ____. Cachaça: ______. Cachaça, ________. É, _____. Galinha: _______. Boi, ______. Carne de boi chama _________. A carne de porco: ____________. E o toicinho? _____________. E a estrada? _________. Ah, entendeu? Isso, do lado do meu pai, não trouxe essa língua. Isso está pra o lado da minha mãe. Porque eles já são um outro ____. Eu sei isso aí. E a coisa é mesmo assim. Não é tirar a cabeça, não. Falar o que está escrito. Entendeu? Está escrita essa palavra. __________. _________. Se chama ________.
Sim, tanto que chama dialeto. Não é, moça nova? _________. Mulher velha? __________. (risos)
P/1 – Com quem o senhor aprendeu?
R – Eu aprendi. Vê uma menina nova lá, ______. Menino? Criancinha. _______. É ______. E o frio, como é que chama o frio? Igual está agora esses dias. ____. Frio chama é _____. Isso é dialeto. É. Isso é dialeto africano. Isso é língua africana. É. Aprendi muitas coisas. Eu aprendi.
P/1 – E a mãe do senhor falava o tempo inteiro?
R – A minha mãe não falava. Quem falava assim mesmo, explicava, era o irmão dela. Os irmãos dela falavam. Mas a minha mãe mesmo, não. Mas os irmãos dela falavam essa língua. Falavam tudo, tudo.
P/1 – E era lá no Baú? Todo mundo falava? Quem morava no Baú?
R – Entendia a língua. ___ acabou. Lá hoje não tem quem entende língua, não. Porque lá não está tendo velho mais, não. Baú não tem velho mais, não. Gente mais velha lá? Você não acha quem tenha mais de 60 anos lá, não. Baú não tem. Gente de 50, 50 e poucos, mas acabou. Os velhos iguais ___, acabou tudo. Tem não.
P/1 – E os filhos do senhor. Eles sabem um pouco do dialeto?
R – O Geraldo está aprendendo, o dialeto. O Geraldo está aprendendo. Os outros por enquanto não ________ pra aprender. O pessoal fala: não deixa os meninos sem aprender. Eu ensino. Depende de querer aprender. Mas não estão aprendendo.
P/1 – Tem alguma história, assim, tinha festa lá no Baú?
R – Tinha! Festa. A festa mais é assim: festa de, por exemplo, agora, festança do Rosário, tinha o ensaio. O ensaio de dança. Quem quisesse o _____ na casa dele, então falava pro patrão da dança: “Sábado vai ser lá em casa!”. Sábado. O gajeiro tudo sabia. Sábado é na casa lá por exemplo. _____. Pronto. Ia ensaiar lá pra dançar. Ensaiar, não é? Pra quando for o dia da festa não dar mancada. E tinha também aniversário. Isso tinha. Fazia ____, biscoito, broa. Isso tinha muito. O pessoal desuniu. Não está aquela união igual era. Não está sendo, não.
P/1 – E o que é o catope?
R – O catope é uma dança de Nossa Senhora do Rosário. Porque só o catope tirou ela da ____, onde ela se ____. Porque o caboclo não tirou, marujada não tirou. Era só acompanhou o catope. Entendeu? É o catope. Por isso é que toda festa, __________, tem o catope. Esse é a ________ de Nossa Senhora do Rosário.
P/1 – Tem algum significado, esse nome, catopé?
R – Não, significado eu não encontrei. Não falaram pra mim, não. Mas eu não sei onde é que eles aprendeu isso tudo. Porque assim Nossa Senhora apresentou e ele soube cantar música pra ela. ___ o mistério dela. O mistério de Nossa Senhora do Rosário mesmo.
P/1 – E essas músicas, o catopé, elas são todas no dialeto?
R – Cai no dialeto. Não todas, não. Mas tem umas que cai no dialeto. Tem sim.
P/1 – E do que elas falam? Essas músicas.
R – Ah, de muita língua que falam. No dialeto cai. Isso aí não sei. Mas é muita coisa. É muita.
P/1 – São muitas cantigas diferentes?
R – É, sim, sim. Isso tem.
P/1 – E os (vissungos?)? Os (vissungos?) de cantar, quando as pessoas morrem. Carregam.
R – Ah, na reza, menina. Hoje o povo não está usando mais. O pessoal novo hoje não está sabendo fazer um velório. Não está sabendo mais, não. Eu achei, achei e sei tudo. Todas as rezas também. Mas só que hoje morre. O pessoal não está querendo fazer aquilo. E também está com problema de _____. ___ leva pra cidade. Lá morre, vem de carro não tem o que fazer. Como disse o ___. ___ isso é a pé. Um litro de pinga na garupa. O copozinho ali. Ah, minha Nossa Senhora, ____. Toma um gole e vamos embora. Ah, isso aí, o vissungo,está acabado também. Está acabado. Baú não tem ninguém mais que tira vissungo. No Ausente, ____, preservam ainda o vissungo. Fazem ____, velório. Veio tirar. Porque quando a dona ____, tira o ofício. Terminou o ofício agora tira as excelências. Da noite. Vai até o dia amanhecer, rezando. Quando põe no caixão, fala: “ ______________, cobertor de Deus, ________, como está no céu, _______”. Isso é um bom momento, isso eu aprendi tudo. É, essas coisas eu aprendi. E fazia velório. Eu faço velório à noite inteira, sem repetir uma reza. Ainda faço ainda.
P/1 – E as pessoas chamam o senhor pra rezar quando alguém morre?
R – Vou, de vez em quando eu faço quarto. Isso eu faço. E é cultura. Está acabando essa cultura. Já veio muita gente aqui me ____ sobre vissungo. Dialeto, tudo. Não, o que eu sei. Aprendi. Original, não é? A gente achou na comunidade. A gente ainda está aí pra explicar. É isso.
P/1 – E como era antigamente essas rezas? O enterro que hoje está acabando, como era antes?
R – O enterro?
P/1 – É, o velório?
R – Ah. Na hora do enterro. Mas isso aí é depois... Já passou de... Ele levou pra estrada a fora.
P/1 – É, isso, desde que a pessoa morre. Como é que era?
R – Pois é, morreu, então reza essa reza. Na hora da saída: “Bendito, louvado seja, bendito, _____. Olha o santíssimo sacramento. Os anjos, todos os anjos, louvam a Deus para sempre amém”. Mas a dona só de reza é isso. Os homens ____. Mas acabou de rezar. _____. E fala: “Vai com Deus e Nossa Senhora, ___ mais ninguém”. Entendeu? Agora já os homens tiram o vissungo. ____ recebe das bocas das damas. E eles fazem assim: “Bendito é louvado, e que para sempre seja louvado, ____, _______________________________________”.
Depois: “____________________________________________”. Aí estava chegando. “______________________________”. Tinha vezes que ia passar por uma turma que às vezes tem gente no garimpo, na ___. Carregador está pouco. Como é que grita por ajudante. Como é que chama? Na língua. Como é que convida ele pra ajudar? Não tem que chamar nome de ninguém. “O meu braço me dói, ah, mamãe quer _____, minha cabeça me dói, ah, meu corpo todo me dói, pai, mamãe quer ___”. Quer ter companhia pra ajudar? Quem tava na roça escutou essa música larga a roça já. “Está pesado, vamos ajudar ele”. Paravam a roça, o garimpo lá, e junta a turma e de repente _____. Isso é convidando um companheiro pra ____. É, essa música tudo aprendi. É, isso a gente aprendeu. É coisa. E é da cultura. Quando chega aqui o morto: “_________________________________”. Quando acabou aquilo pegou ________. Aí chega lá e desamarra o caixão, pega e fala assim: “_____________________________”. Depois chega a _________, pra chegar no cemitério: “________, vai embora com Deus, ___________”. Quando chega na porta da igreja, o pessoal todo na porta da igreja, faz assim: “________________________________”. Na entrada da igreja. Quando for para enterrar tem a outra que canta na hora do enterro: “Lá no céu tem uma santa, Santa Maria mãe de Deus, rogai a Deus por ele lá no céu quando chegar”. Até fazer o enterro. Hoje não estão fazendo. Eu tirei na mão do moço, porque o povo novo não sabe. Veio até um pessoal lá do ____, acompanhar o enterro, e eu tirei pra o povo saber como era a cultura. Porque o povo não está sabendo mais como é que é a cultura mais. Não, é da obrigação. Então: lá no céu tem uma santa, Santa Maria mãe de Deus. Rogar a Deus por ele lá no céu quando chegar. Na hora do enterro. Porque fica perguntando: na hora do enterro com é que faz? Ah, o povo não está sabendo, mas eu sei isso aí. Eu sei. Agora, e quando o rio está cheio. Por exemplo, eu moro aqui, Arlita mora ali, numa primeira casa. Morre uma pessoa da banda de cá e o rio está cheio. Não posso passar pra falar com ela! Como é que eu aviso? Na língua? É tipo dialeto, mesmo. Como é que você ___ a pessoa comunicando que morreu uma pessoa. Como é que faz? Isso é que o povo não está sabendo mais. Entendeu? Você chega, por exemplo, em fronte aquela casa, e grita assim: [canta] “________________________________”. O pessoal da banda de lá. Opa, morreu! Tingo, tingo, _________________. E está vivo, você ta chamando o outro e avisando que a morte. Mas, hoje está cheio. Está, isso tudo era cultura, coisa que a gente aprendeu. É. Eu aprendi muita coisa. Aprendi.
P/1 – Seu Crispim, conta um pouco pra gente como foi que o senhor aprendeu os vissungos, os cantos.
R – Eu aprendi foi com o velho, que eu achei. É, Firmiano da Costa, Gazinho, Maué de _____, Bastião de Lia. Mais o pessoal do Baú. Que aqui o pessoal não sabe vissungo, não. Tanto que quando morria gente aqui, antigo tempo, mandavam bater no Baú lá, falar com o pessoal de lá. João Veríssimo dos Santos, o apelido era João Cuco, porque ele era baixinho. ______ você teve na pousada da neta dele. Jacira, o nome da pessoal. A Jacira é minha prima segunda. Ela é neta do João Cuco. O que acontece? _____ tirava o vissungo, ____. Era ele, Firmiano, __, Bastião de Lia, mais ________. Eram mestres no vissungo. E o vissungo é isso. Você tem que saber tirar ele. Um tira, o outro responde. Um tira e o outro responde. E o meu tio sabia tirar e o compadre dele, respondia. Firmiano. Era o Firmiano. Era _____ no vissungo. Eu aprendi foi com ele. Porque sempre estava mandando carregar rede de lá, não é? Porque morrendo gente lá eles mandavam falar aqui em casa. Mandavam falar, nós íamos pra lá. Ele levava até o enterro. Nisso eu fui aprendendo. Entendeu?
P/1 – Quantos anos o senhor tinha nessa época que o senhor aprendeu?
R – Não sei falar. Idade de novo. Me lembro quando eu comecei a aguentar pegar peso, eu já ajudava. Eu de novo. Ajudando carregar. É. E hoje está acabando. Ah, porque também ficou assim, que o povo fala: não está usando. E aqui, a cultura está acabando. É a mesma coisa igual existia nas comunidades – engraçado, eu achei que isso estava por esquecido e não está – eu fui num encontro de quilombola em Belo Horizonte e estavam umas folhas que vem de Brasília, lá para os quilombolas assinar. Tudo certinho: o que tem na comunidade, o que não tem. Então nós, nisso quando pensa que não. _______. Se tiver, tem um quadrinho em frente a pergunta, se tiver faz um x, provando que tem. Se não tiver, não pode riscar dentro do quadrinho.
Então, _____________. Coisas que usadas, canta nas portas, eles falam serenata. Então, acontece isso. Eles lá ___ na folha se tem muitos ____. Se tem muitos _____ na comunidade. Aí pode riscar. O que o povo cria na comunidade. O que tem, risca. O que não tem não pode riscar, deixa em branco. De repente eu enchi a folha toda. Ainda me deu o representante do Baú, para eu encher a folha dele. Porque muitas coisas que ele não sabe do Baú eu sei ___ todo. O morador da comunidade, o nome dele. E eu sabendo o nome do povo de lá, e sabendo o nome do povo daqui, nós sentamos juntos, de repente eu fiquei: é fulano de tal, é fulano de tal. Ele chama Zé Preto. “O seu Crispim, e lá no Baú, qual é que foi o primeiro morador?”. Eu falei: “Maria Mutuca. Meu bisavô”. Fui dando os nomes de todos, todos lá. Ele foi pondo. Porque tem que por o nome. Quais são os primeiros habitantes? Como é que chamava. Aqui também eu dei os nomes tudo certinho, sem faltar nada. É pra gente guardar na cabeça. É, os velhos falando e a gente tem que levar isso pra frente. Tem de levar. Pra não caducar a história.
P/1 – O senhor já conhecia alguma outra comunidade quilombola?
R – Se eu já fui conhecer?
P/1 – É, já conheceu, já teve algum encontro?
R – Fui em março. Final de março, dia 30 de março. Mas era longe demais. É chamado São João da Ponte. Nossa Senhora! Eu cansei de viajar de ônibus. (risos). Nossa Senhora! Mas cansei! Passava dentro da cidade ____, chegado a ____: é aqui! É aqui o quê? Aquele ônibus cortou por dentro da cidade, chegou ___. É Bocaiúva, outro nome lá do outro lugar. Então, lá vamos. Lá vamos. Chegamos na parte da manhã em São João da Ponte. É comunidade quilombola. Encontro lá.
P/1 – Como é lá? É muito diferente do Baú?
R – Eu não entendo. Não, diferente é. Porque lá é cidade. Lá é cidade. Então, um pessoal muito bom. Nos tratou muito bem. Nós fomos bem recebidos, lá. Não podemos falar de lá, não. Só que o clima de lá – lá é tudo diferente. A água é meio salobra, não é aquela água igual a essa água aqui que _______. Sabe? Tem que ____ suave. Não, não. É salobra a água. Mas também já está. Me falaram que lá já é Norte de Bahia. É norte. Diz que é. Não sei, na primeira vez que eu fui. Mas ____ . Até gostei de lá, o pessoal tratava bem a gente. De noite lá teve um meio enjoado que não deixava a gente dormir. Aquela cantarola, e batendo violão. E eu já cheguei tarde. ____. Estava ____, levei os homens pra dormir e falei: Nossa Senhora! ____. Acredita, menina! Desde cedo pra dormir. Que tem o horário de dormir, então tem que respeitar aquele horário. Não, não, Nossa Senhora! Mas tudo passa. É.
P/1 – Mas o senhor chegou a conversar. Ver se tinha vissungo lá também?
R – Uma dona me chamou, lá particular. Três. Então, na parte da manhã _______. Ela já me conhece, que ela tem um comércio aqui e ela me conhece. Eu aguardei a ___ dela. “Vem cá, vem cá ver um negócio aqui”. Eu falei o que ela queria. “Ah, canta uma parte do vissungo pra gravar, pra ti ti ti. Fui lá e cantei pra ela lá. Ela gravou tudo.
P/1 – Mas lá eles não conhecem o vissungo, o dialeto?
R – Conhecem, não. Não vi ninguém lá conversar em dialeto. Não, também não deu tempo. Não deu tempo, não. Não deu tempo da gente trocar ideia com o povo. Não deu, não.
P/1 – E a festa? Como é a festa aqui, do Rosário? Quando começou? Já tinha lá no Baú?
R – A festa do rosário. A festa é o seguinte. A festa do rosário tem a dança, o catope é do Baú. Porque esse catope vem da África. Catope não é daqui, não. Catope é da África. Vissungo é da África. É africano. O dialeto é da África, entendeu? Isso tudo pode perguntar pra quem vocês quiserem. ____. O catope é do Baú. O pessoal do Baú que trouxe essa tradição. Veio da África.
P/1 – Mas na festa é junto com os marujos?
R – É junto. ___ não pode ser abandonado, não. É comemorado a mesma coisa. Eles são do mesmo grupo. É do grupo é a mesma coisa, né? Só que na ocasião da ___ da Nossa Senhora, Nossa Senhora acompanhou foi o catope. Marujo não tirou, caboclo não tirou ela. Ela acompanhou o catope. É. Mas tem razão. Porque a música do catope pra Nossa Senhora faz doer o coração. Ele quer cantar assim:
“________. Ainda hoje nesse dia, da Senhora, mãe de Deus ________. _____ Nossa Senhora, nós viemos pra pedir. Me da aí hoje, nesse dia, da Senhora, mãe de Deus”. Ela não aguentou aquilo. Foi só acompanhando eles. Só foi acompanhando eles. Não teve jeito. Cantando, que a música, comemorando ela. As músicas tudo. Tanto que agora eles inventaram outra dança, eles tão admitindo o catope. O catope não é de outra dança. Ele não é de São Sebastião, festa de São Sebastião não tem o catope. Aqui eles estão traduzindo isso aí. Senhora dos prazeres, não tem catope. Mas que o pessoal turista, chega e gosta. Nunca ouviu isso aí. Mas eu estou falando: eles não podiam aceitar. Porque essas músicas, isso é só do rosário. Entendeu? Só cai na palavra do rosário. Então tem isso aí. Catope é do rosário. Não tem nada de outro santo, não. Não pode. Mas eles querem por Nossa Senhora de Aparecida junto com o catope. Não. Festa de Nossa Senhora Aparecida não tem nem o catope. Festa de ___ não tem catope. Bom, o que quiser. Leva o grupo, o grupo dança. Mas não falar que o catope é das outras posições. Não. Não é mesmo.
P/1 – Seu Crispim, tem alguma história de por que a Nossa Senhora só acompanhou o catope?
R – Uai, não sei. Mas acompanhou o catope. Foi só o catope. Tanto que a dança, quando tem a festa aí do catope, ela não fica localizada. Está faltando esse grupo. O catope. Isso aí é verdade mesmo!
P/1 – E tem instrumento?
R – Tem. O reco reco ____. Tamborim, meio quadradinho assim, com uma haste assim pra pessoa segurar. Dim dim dim. O tamborim. A caixa, não é? Então isso aí é do catope.
P/1 – Essas festas o senhor também aprendeu com alguém? Era no Baú? O senhor aprendeu no Baú os cantos do catope?
R – Não, aprendi aqui mesmo. Porque eles vinham de lá pra dançar aqui. Quase sempre eles chamavam, eu convidava eles pra dar um ensaio lá em casa. Eles vinham e formavam o grupo. Tinha o João Candido que morava ali, era patrão da dança. Então, tirava a dança. E se aproximando a festa. Que eu estou falando com essa gente. Tem uns moços lá, de fora, que faz festa do cruzeirinho, tal e coisa, quer o catope. Eu falei: não, nós não achou isso, não. Isso é um catope temporão. Não é, não. O catope é do rosário, gente. Toda vida pode me chamar que eu não vou. Porque estou sabendo que está fora da, sabe, ele não está na cultura. Tem que acompanhar o que está na cultura. Ele é da cultura de Nossa Senhora do Rosário. Ele não é de outras festas, não. Eu sei disso, que não é. Não, o catope, não.
P/1 – E como que vocês se vestem pra dançar catope? Qual a roupa pra dançar o catope?
R – Depende do patrão da dança. Por exemplo, um veste verde, o outro veste vermelho. Entendeu? É contramestre e patrão. O patrão veste vermelho, o contramestre veste verde. Fardamento dele é verde. E o patrão é vermelho. Agora o embaixador veste a roupa dele normal e uma capa nas costas. Uma capa vermelha nas costas, aqui assim. Amarradinha aqui assim. Esse é o embaixador da festa. Eu trabalho de embaixador lá, todo ano. Aqui que ____ com uma corda muito comprida, ela desceu aqui. Na hora o moço foi tirar a corda de lá. Mas ela não cai aqui, não. Porque ela era muito comprida, aí desceu. Mas a capa é vermelha. Olha a espada aí, aí em pé. Essa é a espada.
P/1 – Qual a função do embaixador?
R – A função do embaixador é assim: formar a ala da procissão. Ele vai no meio, o “andor” vem atrás aqui, e ele vai no meio assim. Riscando, tirando cisco da rua. Daqui vai lá, volta pra cá. E o pessoal tudo de lado. E tem o halo da coroa, que vai dentro do quadro com o rei e a rainha. O halo da coroa. Outra espada. Duas espadas, em Milho Verdes tem duas. Então, isso é histórico, isso é patrimônio, muita coisa. Antigo demais. O guarda coroa, esses não fazem nada, eles só andam junto com o rei e a rainha, dentro do quadro. Agora embaixador tem que trabalhar. Entendeu, fazendo a ala de povo. O pessoal de lado e ele lá vai no meio, entendeu? É embaixada. Agora na hora de encontro de rei com rainha, ele vai buscar o rei, ou vai buscar a rainha, na porta da ____. O guarda coroa, põe o embaixador, cruza a espada na porta pro rei passar. É isso aí! Então, cruza as espadas, o rei e a rainha passam lá. A função deles é essa. Isso é da cultura antiga. Coisas que a gente achou. A espada, a folha dela é de aço, é desse tamanho assim. A folha dela é de aço. A bainha dela é de prata. A bainha dela é prata pura. O cabo dela, a volta do cabo dela, tudo é prata purinha. E aqui é emblema de Dom Pedro II. Fala emblema de Dom Pedro II. Emblema. É. É um problema sério.
P/1 – E a luta?
R – Ah, é de marujá com catope. Tem essa luta. Quatro bengalinhas. Vai o menininho descendo com os pauzinhos. Bem ali é luta do encontro. Do grupo. Muito bonito. Até gosto, eu gosto. É isso mesmo.
P/1 – E é sempre o catope que ganha?
R – Nada, é coisa assim. Aquilo acaba tudo por igual. Elas por elas, é. É uma coisa engraçada. Mas tudo é da cultura, é da cultura mesmo. Eu vou representar de rei esse ano agora, ué.
P/1 – Ah, é?
R – Em setembro. Eu estou lá. A festa ficou sem rei e sem rainha. Foi o que aconteceu. A dona veio ____, a tal Cristina, mais Vitão. Vitão dá aula aí ¬¬¬_____. Saiu o assunto da festa, que não tinha rei, não tinha rainha. "O Crispim, você não anima a ___ a festa, não?” Sem vontade você não me acha, não. Sem vontade você não me acha. Então ficou. E nós já vamos fazer uma em setembro. Pra não ficar enterrada a festa, sabe? ___, nós fazemos. Não tem disso, não. Comer nós comemos, beber nós bebemos. Não tem mais jeito, tem que dar comida, que isso aí é bobagem. A festa do rosário tem que ter comida. Comida, cachaça, um vinho. Essas coisas, um suco ali pro povo. Isso aí nós sabemos que tem que ter isso. Isso aí tem que ver. Já estamos organizando, estamos com as coisas encaminhadas pra fazer a festa, se Deus quiser. Não arrependi, não, que ela é milagrosa, Nossa Senhora do Rosário é muito milagrosa. Bobagem.
P/1 – Que comidas tem na festa, seu Crispim?
R – Carne em primeiro lugar, essa não pode faltar. Arroz, macarrão, batata. Se quiserem a cebola também, a cebola. É isso só. Não tem de outro jeito, não. A comida da festa é isso. Agora a carne é indispensável, a carne é em primeiro lugar. Porque aí fica um prato mais saboroso. Isso aí. E uma cachacinha. Põe na mesa lá, quem quiser beber bebe, quem não quiser não bebe. É da obrigação de ter a cachaça. Da obrigação. O padre falou, a menina minha foi mais a Cristina, conversar com o padre, que eu não pude, ao... Mas a menina ____ a resposta do padre como é que pode ser. Se dá pra ele fazer a festa, agora marca com ele. Então ele foi e falou: “Não pode ter cachaça, não!”. Falou bobagem. Eu nunca vi festa sem cachaça! Nunca vi. Você não pode beber demais, mas todo mundo ali bebe um golinho, não mata ninguém, não, viu? Isso é bobageira. Bobagem. Ele não pode mandar na boca do povo. Ele tem que ver o dele. A gente está ganhando.
P/1 – E quem faz a comida?
R – Lá no ____. Muitas lá fazem. Fazem a comida.
P/1 – E tem uma casa que é...
R – Tem, pegaram pra fazer. É lá na creche. A dona que toma conta lá. Domingo eu já fui lá e conversei com ela. A creche é da comunidade, vou deixar a chave com Jacira, viu? Jacira também é juíza, não, ela é mordomo. É, primeira juíza é Maria Fernandes, e ela é mordomo. A Jacira. Então ela deixa a chave com ela, libera tudo e pronto. E as pingas encostam lá no quarto lá, deixa lá, bobagem. Isso é do tempo antigo. Todo dançante bebe. Porque sabe, gente, sabe o que é? Se não beber um tantinho a pessoa fica até com vergonha. E não tem aquilo? O pessoal está meio acanhado, vontade de tirar uma música. Libera um gole? _____________. Ó, aí ó. Porque também. ____. Todo mundo fica tudo “choco”. “Chamango”. Eu não sou contra ninguém que bebe. Eu, não, não sou contra nada, não. Bobagem. Deus deixou. Eu estou com 50 litros lá pra buscar. Já está pronta. 50 litros! Pra festa, está guardado no alambique, lá embaixo. Quando chegar o dia da festa, pronto. Dá ____ pra Milho Verde. Guarda lá. Vou deixar perto da festa. Acabou aqui, vai lá, enche lá de novo, põe na mesa. Não tem essa coisa não vai beber, não. Que nada!
P/1 – E o alambique é do senhor?
R – Não, é de um amigo meu. Não é que eu dei um cana pra moer. Aquele que estava ali em cima. E ele moeu pra mim. Então, já separei 50 litros. Pra beber os 50 litros, viu? Pra festa do rosário. É preciso. Como é que come uma carninha e não tem uma pinga pra beber? Isso aí não pode, não.
P/1 – E tem ensaio pra festa? Como é que é o ensaio?
R – Tem ensaio. Pros meninos ficarem mais treinados. Tem ensaio. Precisa. Dá pra gente agitar a comunidade. Senão o pessoal vai tudo de branco. Aquelas coisas da cultura da comunidade, do pessoal não ter aquela união pra preservar aquilo. E aquilo vai acabando. Não pode, não.
P/1 – Tem muita criança pequena?
R – Tem muita criança. Vai muita criança.
P/1 – Mas tocando no catope tem criança?
R – Não, não. Ah, menino muito pequeno não serve. É menino (risos). Muito pequeno dá mão de obra. Ele não sabe nem defender o corpo dele. É isso.
P/1 – As mulheres participam do catope?
R – Não, mulher não dança catope, não. Elas só vão pra olhar. Mas elas não dançam catope, não. Onde é catope e vissungo, não, mulher não. Pra cantar, essas coisas. Não, não. Isso aí, não.
P/1 – Por que o senhor acha que é importante a comunidade sempre aprender o que os mais antigos sabiam?
R – Acho bom porque sabe, porque fica a preservação da cultura. Aquelas coisas originais que teve, que havia, não é? E se o pessoal novo não aprender, isso acaba. Eu acho de acordo. Que sempre deve preservar essas culturas. Eu acho que deve preservar. Não deixa acabar, não.
P/1 – Tem mais alguma coisa que o senhor gostaria de falar?
P/2 – Posso fazer uma pergunta?
P/1 – O senhor tem ido lá na cidade pra ensinar os meninos mais novos pra preservar a cultura. Eu queria que o senhor falasse um pouquinho dessas aulas que o senhor está dando.
R – Isso. É isso mesmo. Eu estava indo lá, então, sobre isso. Pra ensinar como é que garimpa, como é que é a cultura. Então, fui convidado pra fazer isso lá.
P/2 – Conta como foi o convite. O senhor contou quando chegou aqui. Como é que foi o convite? Quem veio chamar o senhor?
R – Não, quem veio chamar foi o Vitor. Porque lá tem dois Vitor: tem um Vitor mais gordo e um mais magro. Nós vamos e falamos, Vitor magro. E tem o Vitão, certo? O Vitão e o Vitinho. Então o Vitinho é que fez o convite. E aquela dona também. Cristina. Essa até Cristinona. Porque ela é alta. Também fez o convite. Então quando nós vamos na fazenda onde eles trabalham, ela está lá sempre. Ela não sai de lá. Ela está só segurando. Outro dia, há pouco, ela veio aqui. Vai dar umas três semanas e meia pra nós começarmos o trabalho mês de agosto, de novo. Agora em agosto. Tornar a continuar o mesmo trabalho. Gostaram muito das explicação que a gente está passando pros meninos jovens, não é? É preciso. É uma preservação. Porque aqui nessa comunidade, entre Milho Verde, isso que é Ausente, e Baú. Nunca tem mais ninguém que sabe mais nada dessa vida. Somos eu e Ivo, ali. Somos nós dois que ainda preservamos. Mas o pessoal de arriba, ali, ninguém sabe nada. Pronto. Sabe, não. É.
P/1 – Tem mais alguma coisa que o senhor gostaria de falar?
R – Não, não. Eu não estou tendo. A história que eu sei é essa aí. É.
P/1 – A gente gostaria de agradecer muito o senhor ter dado essa entrevista pra gente. Foi muito legal. Muito obrigado. Obrigada, seu Crispim.
R – Nada. Nada.Recolher